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1. DOENÇA AUTOIMUNE DA TIREOIDE HIPERTIREOIDISMO Etiologia • Principal = Primária → Doença de Graves (autoimune) • Outras = Primária → Hashitoxicose/Tireoidites Subagudas/Bócio Nodular Tóxico • Secundária → Adenoma hipofisário produtor de TSH Quadro Clínico • Taquicardia, palpitações, tremores, insônia, irritabilidade, hiperdefecação, sudorese excessiva, PA divergente, IC de alto débito, arritmias cardíacas, osteoporose e irregularidade menstrual • Doença de Graves → Oftalmopatia e Dermatopatia Diagnóstico • Primário → TSH baixo e T4L elevado • Secundário → TSH e T4L altos Tratamento • Tionamidas (Metimazol ou Propiltiuracil) • Beta-bloqueadores (Propranolol/Metoprolol) • Crise Tireotóxica → Corticoide EV e Lugol • Tratamento Definitivo → Doença de Graves e Bócio Nodular Tóxico = Iodoterapia • Tireoidectomia → refratariedade e contraindicações a iodoterapia e câncer de tireoide 1.1 Conceitos iniciais (são duas coisas diferentes) • Tireotoxicose: Síndrome clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos independentemente de suas origens; Exógena, produção tumoral, produção excessiva pela própria glândula, liberação de hormônio pré- formado após dano celular; • Hipertireoidismo: Estado de tireotoxicose em que a origem do excesso de hormônio tireoidiano é a própria glândula tireoide. 1.2 Quadro clínico (sinais de aceleração do metabolismo) • Perda de peso; • Redução dos níveis de colesterol; • Osteoporose; • Aumento da frequência cardíaca e palpitações; • Taquiarritmias, fibrilação atrial (FA); • Aumento de PAS e redução da PAD – Pressão divergente; • Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) de alto débito; • Aumento de eventos tromboembólicos; • Sudorese, intolerância ao calor; • Tremores de extremidades; • Fraqueza muscular proximal, hiperreflexia; • Dermopatia infiltrativa; • Ansiedade, agitação, irritabilidade, labilidade emocional; • Hiperdefecação; • Hipermenorragia ou irregularidade menstrual. • Em idosos, quadro é atípico, não têm sinais de hiperativação adrenérgica. Observa-se astenia, fraqueza, prostração, depressão grave, FA e/ ou ICC refratárias ao tratamento usual: Quadro contrário! Paciente idoso, previamente hígido, que começa apresentar FA = investigar hipertireoidismo! 1.3 Etiologias Primária – glândula produzindo hormônio em excesso! • Autoimune: Doença de Graves (80% de todas as causas de hipertireoidismo) – anticorpo TRAB (Anticorpo anti-receptor de TSH); Esse anticorpo atua na glândula (onde o TSH atuaria) e acelera as funções do TSH de síntese e secreção de hormônios (inclusive, aumenta a conversão de T4 em T3); • Bócio Nodular Tóxico (nódulos que produzem hormônios): Uninodular (um único nódulo) e multinodular (2 ou mais nódulos produtores); • Hashitoxicose: Tireoidite de Hashimoto (inflamação e consequente destruição de folículos e coloides, então ocorre a liberação na corrente sanguínea de hormônios pré-formados), vale a pena reforçar que isso irá ocorrer apenas na fase inicial da doença; • Tireoidite subaguda: Inflamação e consequente destruição de folículos e coloides de uma região da tireoide, com liberação na corrente sanguínea de hormônios pré-formados → hipertireoidismo costuma ser transitório evoluindo para eutireoidismo e depois para hipotireoidismo OU manutenção do eutireoidismo; Medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina, bluesky @medicinalivre2 ENDÓCRINOLOGIA2 • Secundária/Terciária (Central) – hipófise ou hipotálamo estimulando a produção de hormônio: Tireotropinomas: Tumores hipofisários produtores de TSH; • Produção ectópica: Struma ovarii, Tumor ovariano que sintetiza T4; • Factícia: Paciente induz por ingestão exógena de hormônios (toma medicação para emagrecer, por exemplo). 2. DOENÇAS DE GRAVES • Principal causa de hipertireoidismo (80% dos casos) • Doença autoimune. • TRAb - Anticorpo anti-receptor de TSH. 2.1 Suspeição clínica • Suspeita vem sempre que há presença de hipertireoidismo + bócio (em idosos, o bócio pode ser discreto), podendo haver frêmito e sopro na topografia da tireoide; A glândula aumenta de tamanho devido ao aumento na produção hormonal. 2.2 Oftalmopatia de Graves • Há substâncias presentes na região posterior aos olhos que também são estimuladas pelo TRAb, ocorrendo a exoftalmia. • Visão geral: Pode preceder hipertireoidismo (20%), sucedê-lo (40%) ou surgir concomitantemente a ele (40%); Oftalmopatia transitória ou permanente sem hipertireoidismo; Presente em 50% casos de doença de graves. • Sinais e sintomas: Hiperatividade adrenérgica: Retração palpebral; Olhar fixo; Sinal de Lid Lag (dificuldade em fechar o olho ao olhar para baixo). Fonte: Pina, Susana [et al] . Orbitopatia Tiroideia: Diferentes Formas de Apresentação, Diferentes Abordagens Terapêuticas. Oftalmologia - Vol. 37: pp.51-58. 2013. • Típicos: Edema periorbital; Exoftalmia. Fonte: Vilar, Lucio [et al] . Endocrinologia Clínica. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016 • Lesão de musculatura extrínseca – devido à inflamação retro-ocular importante; Diplopia; Oftalmoplegia; Ptose palpebral; • Casos graves: Disfunção do nervo óptico; Defeitos nos campos visuais. 2.3 Estratificação da oftalmopatia de Graves (atividade de doença): Escore CAS Sinais e sintomas Escores Dor 1 Dor retrobulbar espontânea 2 Dor à movimentação dos olhos Hiperemia 3 Hiperemia palpebral 4 Injeção conjuntival Edema 5 Edema palpebral 6 Quemose 7 Edema de carúncula • Se CAS > ou igual a 3 critérios (atividade da doença), é contraindicação a realizar radioterapia. 2.4 Tratamento para a oftalmopatia de Graves são: • Corticoterapia; • Radioterapia ocular; • Imunoterapia; • Cirurgia. 2.5 Dermatopatia de Graves • O TRAb reage com os fibroblastos presentes no subcutâneo da pele, principalmente em região pré-tibial; • 5-10% dos casos; • Costuma estar associado à oftalmopatia e níveis elevados de TRAb; • Espessamento da pele (área pré-tibial) devido ao acúmulo de glicosaminoglicanos; • Também pode ocorrer edema periférico (pé), devido ao prejuízo ao retorno venoso. Fonte: Vilar, Lucio [et al] . Endocrinologia Clínica. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina, bluesky @medicinalivre2 HIPERTIREOIDISMO 3 3. BÓCIO UNI OU MULTINODULAR • Bócio Uni ou Multinodular – não vai ocorrer uma grande produção como ocorre na doença de Graves, porque o aumento ocorre apenas no local do nódulo. • Quadro clínico em geral mais brando e arrastado; • Acomete pessoas de idade mais avançada. 3.1 Bócio Uninodular Tóxico (sinônimo de doença de Plummer) Fonte: Vilar, Lucio [et al] . Endocrinologia Clínica. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. • Jovens, por volta de 40 anos; • Hipertireoidismo quando nódulo é grande, > ou = 3 cm; • Indolente. 3.2 Bócio Multinodular Tóxico • Acomete pessoas mais idosas, aproximadamente aos 60 anos; • Hipertireoidismo quando a produção folicular é maior que a da glândula; • Evolução indolente. 4. AVALIAÇÃO LABORATORIAL E DE IMAGEM • Avaliação laboratorial conforme etiologias • Algumas dicas diagnósticas • Relação T3/T4 > 20 = hipertireoidismo por produção aumentada de hormônios tireoidianos; • Relação T3/T4antecedente de DG pelo risco de tireotoxicose fetal; Diferenciar hipertireoidismo gestacional fisiológico no 1º trimestre versus DG na gestação; Pacientes eutireoideos com suspeita de oftalmopatia de Graves; • Dosagem de outros anticorpos: Anti-TPO é antitireoperoxidase, bastante comum no Hashimoto; Anti-TPO e Anti-TG (anti tireoglobulina) podem estar presentes na população normal, mas o TRAb (TSH Receptor Antibody) não. Medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina, bluesky @medicinalivre2 ENDÓCRINOLOGIA4 Fonte: Arquivo Pessoal • Cintilografia da tireoide: O exame se baseia na administração de iodo radioativo e a tireoide capta esses átomos, cuja radiação emitida é o que compõe a imagem; Onde o iodo é muito utilizado é mais hipercaptante. Importante para avaliar se a tireoidopatia é devido a um nódulo, tireoidite, doença de Graves, entre outras. Doença de Graves – captação de iodo de forma bem exacerbada e difusa (imagem superior esquerda); Tireoidites – supressão (diminuição) da captação de iodo (imagem superior direita) → mecanismo por destruição de folículos pré-formados e não por hiperprodução; Bócio Multinodular Tóxico (imagem inferior esquerda e Uninodular Tòxico (imagem inferior direita) – áreas nodulares específicas na tireoide que estão captando mais o iodo, e o resto da glândula suprimida. Anti-TPO (%) Anti-TG (%) TRAb (%) Tireoidite de Hashimoto 90 – 100 80 – 90 10 – 20 Doença de Graves 50 – 80 50 – 70 80 – 95 População Geral 8 - 27 5 - 20 0 4.2 Exames de imagem • USG de tireoide: Ecotextura heterogênea (imagem inferior esquerda) – infiltração crônica, comum em tireoidites; Aumento de vascularização (imagem inferior direita – Doppler) – hiperfunção da glândula, comum na DG. Medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina, bluesky @medicinalivre2 HIPERTIREOIDISMO 5 • Tratamento definitivos – principalmente para doença de Graves e do Bócio nodular tóxico: Radioiodoterapia (RIT): 1ª escolha nos casos de bócio nodular tóxico, idosos, comorbidades cardiovasculares e pacientes muito sintomáticos; Também é a opção nos casos de recidiva de Doença de Graves após uso de tionamidas; Resolução em 80-90% dos casos; Contraindicado em gestantes, lactantes, mulheres que desejam engravidar em 1 ano, bócios muito volumosos ou oftalmopatia grave; Evolução natural após RIT (30-50% dos casos vão para o hipotireoidismo permanente, e é mais fácil tratar hipotireoidismo que manter o paciente em hipertireoidismo). • Cirurgia: É a remoção da glândula (tireoidectomia; Indicações: Hipertireoidismo + câncer de tireoide ou suspeita); Casos refratários a droga e RIT ou contraindicações; Bócio volumoso + sintomas compressivos; Nem sempre é realizada a cirurgia, pelo risco de hipoparatireoidismo devido à vascularização aumentada da glândula e lesão de nervo laríngeo recorrente. 4.3 TRATAMENTO • Tionamidas (drogas antitireoidianas, reduzem síntese de hormônio tireoidiano): Úteis quando a causa do hipertireoidismo é devido a uma produção excessiva de hormônio tireoidiano: Metimazol (MMI): É a droga de escolha; Efeito imunomodulador sobre o TRAB, induzindo remissão em 30-50% dos casos de DG. Propiltiouracil (PTU): Segunda linha de tratamento – causa mais efeitos colaterais e não tem efeito imunomodulador; É a escolha no 1º trimestre da gestação ou nos casos de intolerância/alergia ao metimazol. • Reavaliação laboratorial: Quando se inicia uma tionamida é necessário aguardar 4-6 semanas de tratamento para avaliar a eficácia; Através do T4L e T3 total. Não TSH. • Efeitos colaterais: São dose-dependentes; Graves, como hepatotoxicidade e agranulocitose; Leves, como rash cutâneo e urticária. • Tempo de tratamento: Doença de Graves = 12-18 meses; Bócio nodular tóxico = indeterminado; Avaliação de terapia definitiva em casos que não remitem. • Betabloqueadores: Indicações – Rápido efeito para alívio de sintomas adrenérgicos enquanto as tionamidas não fazem o efeito desejado (por exemplo); Idosos sintomáticos; FC de repouso > 90 bpm ou doença cardiovascular coexistente. Contraindicações: Asma, DPOC, Bloqueio cardíaco; Quando suspender: Início do efeito das tionamidas. Alternativas: Diltiazem ou verapamil; Posologia: Propranolol 40-120 mg/dia, 2-3x/dia (melhor opção); Atenolol 50-100 mg/dia. 5. CRISE TIREOTÓXICA 5.1 Visão geral • Emergência médica de alta mortalidade; • Principal causa é Doença de Graves (DG); • Incidência 0,2 casos/100.000 pacientes/ano; • Mortalidade 16-30%. 5.2 Fatores precipitantes • Paciente já é hipertireoideo e passa por fator de estresse ao organismo; • Infecção (principal), cirurgias, oferta excessiva de iodo, radioterapia, interrupção abrupta de antitireoidianos exógenos, parto, trauma etc. 5.3 Manifestações clínicas • Febre, sudorese, desidratação e insuficiência renal aguda pré-renal, taquicardia, TSV (taquicardia supraventricular) e FA, ICC, disfunção do SNC, (agitação, delirium, labilidade emocional, confusão, psicose, coma), sinais e sintomas gastrintestinais, lesão hepática e icterícia. 5.4 Diagnóstico – Critérios de Burch e Wartofsky • Critérios (não precisa decorar, só ter uma ideia): Disfunção termorregulatória (37,2-40ºC) – 5-30 pontos; Efeitos no SNC – 0-30 pontos; Disfunção TGI e hepática – 0-20 pontos; Taquicardia – 5-25 pontos; ICC – 0-15 pontos; FA – 10 pontos; Fator precipitante – 10 pontos; • Interpretação: 45 pontos ou mais = crise tireotóxica; Entre 25 e 40 pontos = crise iminente; Menos que 25 pontos = pouco provável. Medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina, bluesky @medicinalivre2 ENDÓCRINOLOGIA6 • Monitorização da função tireoidiana: Tempo 0, 1 e 6 meses do início do tratamento; A cada 3-6 meses durante seguimento; • Há dois tipos de quadro clínico, um que parece um hipertireoidismo e outro que parece uma tireoidite. Na tabela a seguir, atente-se para os exames e tratamento: 5.5 Tratamento INTERVENÇÃO OBJETIVO EFEITO Beta-bloqueador EV Se taquicardia sem IC franca Bloquear conversar periférica Reduzir FC, tremores e melhorar enchimento cardíaco PTU/Metimazol Controle na produção hormonal Parar produção Inibição da síntese e conversão periférica (PTU) Iodeto de potássio/Lugol Controle hormonal Lítio se alérgicos Inibir liberação hormonal Inibe secreção 2h após PTU/MMI Corticosteroides Hidrocortisona Dexametasona Bloquear conversão periférica IA relativa Inibe conversão 6. TIREOTOXICOSE INDUZIDA POR AMIODARONA 6.1 Amiodarona • É uma medicação que contém átomos de iodo; • Excesso de iodo pode levar ao aumento da função tireoidiana, e ação tóxica da droga pode levar a dano ao tecido glandular; • É droga que acumula no organismo, tem meia-vida longa (40-100 dias); Sempre monitorizar função tireoidiana; TIPO 1 (“hipertireoidismo-like”) TIPO 2 (“tireoidite – like”) FISIOPATOLOGIA Excesso de oferta de iodo Aumento da produção de HT Ação tóxica da medicação Tireoidite Hipertireoidismo 🡪 hipotireoidismo EXAMES USG de tireoide 🡪 aumento vascularização Cintilografia da tireoide 🡪 captação reduzida USG de tireoide 🡪 redução da vascularização Cintilografia da tireoide 🡪 captação reduzida TRATAMENTO Tionamidas Tireoidectomia total Prednisona Betabloqueadores Medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina, bluesky @medicinalivre2