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Distúrbios pigmentares e calcificações Este conteúdo trata dos distúrbios pigmentares endógenos e exógenos, abordando seus aspectos patológicos e clínicos, e explora os princípios da calcificação, suas características e formas mais importantes, a fim de compreender os processos que levam a essas alterações e seus impactos histopatológicos. Além disso, são discutidas as implicações da calcificação no organismo e sua relevância na saúde. Curadoria de saúde 1. Itens iniciais Objetivos Identificar as propriedades gerais dos pigmentos endógenos e as patologias relacionadas. Reconhecer as principais características dos distúrbios de pigmentação exógena. Descrever o conceito de calcificação patológica, seus aspectos gerais e clínicos. Introdução Pigmentos são substâncias que possuem cor própria e estão presentes na natureza e no nosso corpo. Alguns exemplos são a clorofila, que dá a cor verde às plantas, a hemoglobina, que dá a cor vermelha ao sangue, e a melanina, que define a cor da pele. No organismo, os pigmentos aparecem como pequenos grãos e podem ter duas origens: Endógenos: Produzidos pelo próprio corpo, como a hemoglobina e a melanina. Exógenos: Vêm de fora do corpo, como partículas de poeira ou tinta de tatuagem. O acúmulo de pigmentos pode ser algo normal ou indicar um problema no corpo. Além disso, outras substâncias também se acumulam nos tecidos, como o cálcio, tornando-os mais rígidos. Esse processo é chamado de calcificação patológica e afeta órgãos como vasos sanguíneos e válvulas do coração. Neste conteúdo, vamos estudar os diferentes tipos de pigmentação e calcificação, como eles acontecem e quais efeitos causam no corpo. Também falaremos sobre os cálculos, que são pedras formadas em órgãos como rins e vesícula biliar, e seu impacto na saúde. • • • • • 1. Pigmentos endógenos e patologias relacionadas Pigmentos endógenos Neste vídeo, abordaremos a hemoglobina, a melanina e seu papel na coloração da pele, fotoproteção e distúrbios pigmentares. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Os pigmentos endógenos são aqueles que o próprio corpo produz. Dois exemplos importantes são a hemoglobina, que transporta oxigênio no sangue, e a melanina, que dá cor à pele e protege contra os raios solares. Se o corpo produzir pigmentos em excesso ou em pouca quantidade, ou se eles se acumularem de forma errada nos tecidos, pode haver problemas. Esse acúmulo indica alterações no funcionamento normal do organismo e leva a doenças ou mudanças na coloração dos tecidos. Pigmentos relacionados à melanina A melanina, principal pigmento biológico, é responsável pela pigmentação cutânea e por diferenças na coloração da pele. Ela apresenta uma coloração que varia do marrom ao preto e é produzida pelos melanócitos (células presentes na epiderme e na matriz dos folículos pilosos). Tem como principal função a proteção da pele contra a radiação ultravioleta (UV). As propriedades de fotoproteção da melanina ocorrem pela absorção e dispersão da luz UV e visível. A síntese de melanina ocorre no interior dos melanossomos, organelas elípticas, altamente especializadas, a partir do aminoácido essencial tirosina, pela ação do complexo enzimático tirosidase. Na presença de oxigênio molecular, a tirosina é oxidada a dopamina (dioxifenilalanina) e, em seguida, em dopaquinona. A partir desse momento, a presença ou ausência de cisteína (glutationa) determina o rumo da síntese em eumelanina ou feomelanina. Na presença de cisteína, a feomelanina é produzida, e consiste em um pigmento alcalino, solúvel e amarelado com função antioxidante. A eumelanina, produzida na ausência de glutationa, apresenta cor marrom à preta, com ação antioxidante e fotoprotetora. Além disso, primeiro é formada a feomelanina e, por último, a eumelanina. A melanina total da pele resulta de uma mistura desses dois pigmentos. Ao final do processo, os melanossomos repletos de pigmentos são transferidos para os queratinócitos (células presentes na epiderme com função de produção de queratina, que age como uma barreira protetora da pele) e se distribuem no citoplasma acima do núcleo da célula, protegendo o núcleo dos efeitos nocivos dos raios ultravioletas. Lâmina basal da epiderme e matriz de um pelo com melanócitos ricos em grânulos de melanina (em marrom). Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. Produção de melanina por melanócitos, na pele com e sem exposição aos raios ultravioletas. Indivíduos com uma maior concentração de eumelanina são mais pigmentados, e indivíduos com mais feomelanina são menos pigmentados e mais suscetíveis aos efeitos dos raios UV. Além disso, a diferença fenotípica fundamental entre os grupos étnicos não reside na produção de melanina ou no número de melanócitos, mas, principalmente, na qualidade de seus melanossomas. Os distúrbios pigmentares relacionados à melanina podem acontecer devido ao seu aumento ou diminuição, de maneira localizada ou generalizada. Atividade conceitual 1 A melanina protege a pele contra os efeitos da radiação ultravioleta. No entanto, diferentes fatores influenciam sua produção e sua distribuição no organismo. Como as variações na síntese de melanina afetam a resposta do organismo à exposição solar? A Modificam a quantidade de melanócitos na epiderme, alterando a capacidade de regeneração da pele. B Influenciam a proporção entre eumelanina e feomelanina, afetando a proteção contra os danos causados pelos raios UV. C Aumentam a produção de queratinócitos, tornando a epiderme mais resistente à radiação ultravioleta. D Regulam a espessura da epiderme, alterando a quantidade de radiação que atinge as camadas mais profundas da pele. E Alteram o metabolismo celular das glândulas sebáceas, influenciando a resposta inflamatória após a exposição solar. A alternativa B está correta. As variações na síntese de melanina determinam a proporção entre eumelanina e feomelanina, influenciando diretamente a capacidade de fotoproteção da pele. A eumelanina confere maior proteção contra os danos da radiação UV, enquanto a feomelanina, mais solúvel e amarelada, é menos eficiente nessa função. A quantidade e a qualidade dos melanossomos também impactam a resistência da pele à radiação. As demais alternativas estão incorretas porque a melanina não altera a quantidade de melanócitos, não afeta diretamente a produção de queratinócitos, não regula a espessura da epiderme nem interfere no metabolismo das glândulas sebáceas. Distúrbios de aumento de melanina de forma localizada Neste vídeo, trataremos de nevos, melanomas, fatores de risco, diagnóstico e condições cutâneas. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Nevos melanocíticos Nevos melanocíticos são neoplasias de natureza benigna que se apresentam como pequenas lesões (normalmente menores que 6 mm) bem delineadas, de coloração mais escura que o restante da pele, e podem ser ásperas, planas, achatadas ou na forma de pápulas elevadas. Nevos É o termo médico que descreve uma lesão na pele popularmente conhecida como mancha, pinta ou sinal. A maioria surge em decorrência de alterações genéticas e da exposição solar, mas podem ser congênitos, ou seja, presentes desde o nascimento ou que se desenvolvem durante a infância a partir de células névicas (aglomerados de melanócitos) preexistentes. É importante destacar que congênito não quer dizer hereditário. Falamos em neoplasias, você sabe o que é? Neoplasia é uma massa de tecido anormal originado pela multiplicação excessiva e descontrolada de células, que persiste mesmo depois da retirada do estímulo que originou essas alterações. Nevo melanócito congênito. As neoplasias podem ser benignas ou malignas. Vamos conhecer mais a seguir. 1 Benignas Massa de células bem diferenciadas parecidas com o tecido de origem, coesa, bem delimitada, com crescimento progressivo e que não apresenta capacidade invasiva e infiltrativa. 2Malignas SãoQual das condições descritas a seguir está corretamente associada à calcificação metastática? A Acúmulo de cálcio em tecidos previamente lesados, independentemente da calcemia. B Presença de hipercalcemia secundária a distúrbios hormonais ou renais. C Deposição de sais de cálcio exclusivamente em tecidos ósseos em remodelação. D Formação de psamomas em tecidos necrosados, como nas valvas cardíacas envelhecidas. E Presença de depósitos de cálcio restritos ao espaço extracelular sem alterações metabólicas. A alternativa B está correta. A calcificação metastática ocorre em tecidos normais quando há hipercalcemia, podendo ser causada por hiperparatireoidismo, destruição óssea excessiva, distúrbios da vitamina D ou insuficiência renal. Esse tipo de calcificação ocorre sistemicamente, afetando pulmões, rins, estômago e artérias, onde o ambiente alcalino favorece a precipitação dos sais de cálcio. Cálculos ou concreções ou litíases Neste vídeo, abordaremos a formação de cálculos, causas, sintomas e complicações em rins, vesícula e glândulas salivares. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Os cálculos, também chamados de pedras, são pequenas massas sólidas que se formam dentro de órgãos do corpo. Apresentam-se sob diferentes formas, como redondas ou irregulares, e aparecem principalmente nos rins e na vesícula biliar. Quando isso acontece, as pessoas costumam chamar de pedra nos rins ou pedra na vesícula. O nome científico dessas pedras é litíase, que muda de acordo com o lugar em que aparecem. Exemplo Se estiverem na vesícula biliar, chamamos de colelitíase; nos rins, chamamos de nefrolitíase; e nas glândulas salivares, sialolitíase. Tais pedras se formam dentro do corpo e sua composição depende do local em que surgem. Na vesícula, são formadas por colesterol ou outras substâncias. Nos rins, costumam ser feitas de sais minerais como cálcio. Observe as imagens a seguir. Cálculos de colesterol na vesícula biliar com colecistite. Cálculos ou pedras presentes no tecido renal. Atividade conceitual 3 Os cálculos são formações sólidas em órgãos ocos e causam complicações clínicas diversas. Sua composição e local de formação determinam sua classificação e seus impactos na saúde do indivíduo. Qual dos fatores apresentados a seguir contribui para a formação de cálculos biliares? A Excesso de ácido úrico na urina, favorecendo a precipitação de sais. B Aderência de cristais à papila renal, formando massas mineralizadas. C Obstrução das glândulas salivares, causando o acúmulo de restos orgânicos. D Produção aumentada de bile, levando à precipitação de substâncias insolúveis. E Redução da excreção renal de cálcio, promovendo agregação de partículas. A alternativa D está correta. A colelitíase ocorre quando há produção excessiva de bile, favorecendo a precipitação de sais de cálcio, bilirrubina e colesterol. Esses componentes formam cálculos biliares, que causam obstrução das vias biliares, dor e inflamação. Os cálculos biliares podem ser assintomáticos ou gerar complicações como colecistite e pancreatite. Aplicando o conhecimento João, um senhor de 65 anos com pressão alta e diabetes, foi encaminhado para o nefrologista porque seus rins estavam funcionando cada vez pior. Ele sentia muito cansaço, câimbras frequentes e coceira no corpo. Além disso, notou que sua pele estava ficando mais endurecida em algumas áreas e sentia um leve desconforto no peito. No exame, o médico percebeu que João estava mais pálido, tinha um leve aumento da gengiva e pequenas placas endurecidas na pele das pernas. Ao ouvir o coração, notou um sopro fraco. Os exames mostraram que João tinha níveis altos de creatinina e ureia, indicando insuficiência renal. O cálcio no sangue também estava elevado, assim como o fósforo e um hormônio chamado PTH, que regula esses minerais no corpo. A radiografia do tórax revelou depósitos de cálcio nos vasos sanguíneos dos pulmões e em outros tecidos. O médico diagnosticou João com calcificação metastática, que acontece quando o excesso de cálcio e fósforo no sangue se deposita em órgãos e vasos sanguíneos. Isso ocorreu porque seus rins não estavam conseguindo eliminar esses minerais corretamente, levando a um problema chamado hiperparatireoidismo secundário. Para tratar o problema, João recebeu orientações para reduzir o consumo de fósforo na alimentação e passou a tomar remédios a fim de controlar os níveis de cálcio, fósforo e PTH. O médico explicou que o controle rigoroso da função renal e do equilíbrio dos minerais no sangue era necessário para evitar complicações graves, como o endurecimento dos vasos sanguíneos e problemas no coração. Questão 1 O diagnóstico de calcificação metastática em João está relacionado a um desequilíbrio mineral provocado pela insuficiência renal. Qual dos seguintes fatores contribui diretamente para esse processo? A Baixa filtração renal levando à retenção de fósforo e aumento do PTH. B Deficiência de vitamina D, levando à hipocalcemia e menor absorção intestinal de cálcio. C Deposição de sódio nos tecidos, levando à hipernatremia e sobrecarga cardíaca. D Redução do nível de bicarbonato, causando acidose metabólica e reabsorção óssea. E Diminuição do volume plasmático, aumentando a viscosidade sanguínea e dificultando a eliminação de cálcio. A alternativa A está correta. A calcificação metastática ocorre devido à hipercalcemia crônica, comum na insuficiência renal. A retenção de fósforo estimula o aumento da concentração de PTH, que mobiliza o cálcio dos ossos, aumentando sua concentração sérica. Com a excreção renal comprometida, o excesso de cálcio precipita nos tecidos, afetando órgãos como rins e vasos sanguíneos. O controle envolve dieta, quelantes de fósforo e terapia para reduzir os níveis de PTH. Questão 2 O que é a calcificação metastática diagnosticadas em João e por que ela ocorre em pacientes com insuficiência renal crônica? Chave de resposta A calcificação metastática é o acúmulo anormal de cálcio e fósforo nos tecidos do corpo, como vasos sanguíneos, pulmões e pele. Em pacientes com insuficiência renal crônica, essa condição ocorre porque os rins não conseguem eliminar o excesso de fósforo, levando ao aumento do PTH. Esse hormônio retira cálcio dos ossos para compensar o desequilíbrio, elevando sua concentração no sangue. O excesso de cálcio e fósforo se deposita nos tecidos, causando endurecimento e podendo levar a complicações cardiovasculares e problemas de circulação. O controle adequado da dieta e o uso de medicamentos são indicados para evitar essa complicação. Questão 3 Quais são as principais estratégias terapêuticas para controlar a calcificação metastática em pacientes com insuficiência renal crônica, e qual a importância do manejo adequado dessa condição? Chave de resposta O controle da calcificação metastática em pacientes com insuficiência renal crônica envolve a restrição da ingestão de fósforo na dieta, o uso de quelantes de fósforo para reduzir sua absorção intestinal e a administração de calcimiméticos para diminuir a secreção de PTH. Além disso, o equilíbrio dos níveis de cálcio e fósforo no sangue evita a progressão da calcificação. O manejo adequado dessa condição previne complicações como o endurecimento dos vasos sanguíneos, que leva a doenças cardiovasculares graves. Sem o tratamento correto, o paciente tem maior risco de eventos cardíacos, como infarto e insuficiência cardíaca, além de maior mortalidade. Caso prático Neste vídeo, discutiremos o caso de João, 65 anos, com insuficiência renal, hiperparatireoidismo e calcificação metastática. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. 4. Conclusão Considerações finais O que você aprendeu neste conteúdo? Os pigmentos são endógenos, como a melanina e a hemoglobina, ou exógenos, oriundos do ambiente. Seu acúmulo indica processos fisiológicos ou patológicos. Alterações na produção, distribuição ou eliminação de pigmentos resultam em patologias, como vitiligo,melanoma, icterícia e antracose, impactando diretamente a saúde e qualidade de vida dos indivíduos. Exposições ambientais e ocupacionais levam ao acúmulo de substâncias nocivas nos tecidos, como no caso de plumbismo, silicose e pneumoconioses, exigindo medidas preventivas. A deposição anormal de sais de cálcio nos tecidos ocorre devido a danos celulares (calcificação distrófica) ou a alterações no metabolismo do cálcio (calcificação metastática), resultando em prejuízos funcionais. O acúmulo de cálcio compromete órgãos vitais, como pulmões e rins, dificultando sua função. No caso das valvas cardíacas, leva a complicações cardiovasculares severas. Cálculos renais e biliares são formações sólidas que resultam da precipitação de substâncias como cálcio, colesterol e bilirrubina, causando dor intensa e obstrução de ductos. É preciso compreender os processos de pigmentação e calcificação para o diagnóstico e o tratamento de diversas condições, permitindo intervenções médicas eficazes. Medidas como monitoramento da exposição a agentes exógenos, hábitos saudáveis e acompanhamento médico minimizam os riscos de distúrbios pigmentares e calcificações. A relação entre pigmentação, metabolismo e processos patológicos evidencia a importância de uma abordagem multidisciplinar no cuidado com a saúde. O conhecimento adquirido permite a identificação precoce e o manejo adequado dessas condições, contribuindo para melhores prognósticos e qualidade de vida dos pacientes. • • • • • • • • • • Podcast Neste podcast, confira um breve resumo, por meio de perguntas, que permeiam os principais tópicos abordados neste conteúdo. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Para saber mais sobre os assuntos tratados nesta aula, assista: Ao vídeo Os melanócitos e as manchas na pele, no YouTube, indicado para revisar como funcionam os melanócitos e as principais manchas na pele. Ao vídeo sobre hemoglobina, no canal Khan Academy Brasil, que revisa a estrutura e como a hemoglobina age na oxigenação. Veja a cartilha sobre pneumoconioses, elaborada pelo Ministério da Saúde para obter mais detalhes sobre elas. Para conhecer melhor os padrões radiográficos das calcificações, o artigo Calcificação de partes moles: ensaio iconográfico, de Faria et al., 2020. Para relembrar o tecido ósseo e a ação da vitamina D, o artigo Tecido ósseo: aspectos morfológicos e histofisiológicos, dos autores Andia, Cerri, Spolidorio (2006) e a revisão O sistema endocrinológico vitamina D, de Castro (2011). No site do Grupo Brasileiro de Melanoma estão destacados aspectos importantes sobre o melanoma. Referências AZULAY, R. D. et al. Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. INCA. Câncer de pele melanoma. 2021. BRASIL, Ministério da Saúde. INCA. Tabagismo. 2021. BRASILEIRO FILHO, B. Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2016. HUANG, F. W. et al. Highly recurrent TERT promoter mutations in human melanoma. Science, v. 339, n. 6122, p. 957-959, 2013. • • KUMAR, V. et al. Patologia - Bases Patológicas das Doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2016. Distúrbios pigmentares e calcificações 1. Itens iniciais Objetivos Introdução 1. Pigmentos endógenos e patologias relacionadas Pigmentos endógenos Conteúdo interativo Pigmentos relacionados à melanina Conteúdo interativo Atividade conceitual 1 Distúrbios de aumento de melanina de forma localizada Conteúdo interativo Nevos melanocíticos Benignas Malignas Corte histológico da pele e a pele, mostrando um nevo juncional. Corte histológico da pele e pele com presença de nevos compostos. Esta imagem indica a localização dos nevos juncionais, compostos e intradérmicos na pele. Melanomas Gene CDKN2A Genes BRAF e NRAS Gene TERT Atividade conceitual 2 Distúrbios de aumento de melanina de forma generalizada Conteúdo interativo Curiosidade Vitiligo Albinismo Curiosidade Atividade conceitual 3 Pigmentos relacionados à lipofuscina e hemoglobina Conteúdo interativo Em neurônios Em cardiomiócitos Atenção Pigmentos relacionados à hemoglobina Conteúdo interativo Principais distúrbios relacionados a pigmentos derivados da hemoglobina Atenção Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Conteúdo interativo Pré-hepática Hepática Pós-hepática Atividade conceitual 4 Aplicando o conhecimento Caso prático Conteúdo interativo 2. Distúrbios de pigmentação exógena Pigmentações patológicas exógenas: via inoculação – tatuagem Conteúdo interativo Pigmentações patológicas exógenas: via inoculação – tatuagem Atenção Atividade conceitual 1 Pigmentações patológicas exógenas: ingestão oral Conteúdo interativo Argirismo Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3 Atenção Plumbismo ou saturnismo Atenção Etapa I Etapa II Etapa III Plumbismo agudo Plumbismo crônico Pigmentação bismútica Carotenose Atenção Atividade conceitual 2 Pigmentações patológicas exógenas: via inalação Conteúdo interativo Estrutura físico-química e solubilidade da partícula inalada Tamanho e forma Quantidade Fatores secundários Silicose Atenção Asbestose Atividade conceitual 3 Aplicando o conhecimento Caso prático Conteúdo interativo 3. Calcificação patológica Tecido ósseo e remodelamento ósseo Conteúdo interativo Conteúdo interativo Osteócitos Osteoprogenitoras Osteoblastos Osteoclastos Reabsorção óssea Formação óssea Manutenção e maturação Conteúdo interativo Atividade conceitual 1 Calcificação patológica Conteúdo interativo Nucleação primária Nucleação secundária Atenção Calcificação distrófica Atenção Calcificação metastática Atividade conceitual 2 Cálculos ou concreções ou litíases Conteúdo interativo Exemplo Atividade conceitual 3 Aplicando o conhecimento Caso prático Conteúdo interativo 4. Conclusão Considerações finais O que você aprendeu neste conteúdo? Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciaschamadas de cânceres. Massa de células com contornos irregulares, invasiva e infiltrativa. De crescimento rápido, são células normalmente indiferenciadas e com possibilidade de metástases (é o nome do processo no qual células de um tumor primário migram pela circulação sanguínea ou linfática, gerando uma nova lesão tumoral) para outros órgãos. Os nevos melanocíticos são classificados histopatologicamente em relação às células névicas, o epitélio de superfície e o tecido conjuntivo subjacente. Há diversos subtipos de nevos e a classificação depende da localização das células névicas. Um exemplo são os nevos intradérmicos, que são formados por células névicas que se diferenciam em tamanho e podem conter ou não grande quantidade de melanina. Essas células se agrupam em ninhos ao longo da parte superior da derme. Nevo intradérmico sem e com hiperpigmentação. Quando o nevo se inicia na junção entre a derme e a epiderme são chamados de nevos juncionais. As células dos nevos juncionais costumam exibir pouca ou nenhuma atividade mitótica. À medida que crescem, os nevos juncionais se aprofundam na pele, atingindo a camada chamada derme. Quando isso acontece, passam a ser chamados de nevos compostos, pois combinam características dos nevos juncionais (mais superficiais) e dos nevos intradérmicos (mais profundos). Na prática, é difícil diferenciar um nevo composto de um nevo intradérmico, pois ambos formam pequenas elevações na pele. Já os nevos juncionais continuam sendo planos e mais escuros. Mitótica Atividade mitótica se refere à capacidade da célula de se dividir gerando duas células-filhas idênticas. Corte histológico da pele e a pele, mostrando um nevo juncional. Corte histológico da pele e pele com presença de nevos compostos. Esta imagem indica a localização dos nevos juncionais, compostos e intradérmicos na pele. Além dessas classificações, temos também o nevo intramucoso, tipo mais comum na boca, com acúmulo de células névicas no tecido conjuntivo, e o nevo azul, que apresenta as células com um formato fusiforme, localizado no tecido conjuntivo, de coloração azul. Melanomas Os melanomas são neoplasias malignas que afetam a mucosa oral, esôfago, meninges, olhos, e especialmente a pele. Quando detectado em seus estágios iniciais, o melanoma pode ser tratado e curado cirurgicamente. A exposição excessiva à radiação UV é o principal fator de risco para o desenvolvimento do melanoma por seu potencial de causar danos ao DNA. Dessa maneira, indivíduos de pele clara têm maior suscetibilidade à doença, já que possuem menor quantidade de melanina protegendo a pele dos raios UV. Algumas alterações nos genes causam o crescimento descontrolado das células da pele, contribuindo para o desenvolvimento do melanoma. Vamos conhecer algumas delas. Gene CDKN2A Produz proteínas que funcionam como um freio no ciclo celular, impedindo que as células se multipliquem sem controle e promovendo sua destruição se necessário. Quando esse gene sofre mutação, as células continuam se dividindo sem parar, favorecendo o surgimento do câncer. Genes BRAF e NRAS Estão ligados ao crescimento celular. Ao sofrer mutações, ativam sinais que possibilitam que as células do melanoma se multipliquem com mais rapidez e sobrevivam por mais tempo. Gene TERT Controla a telomerase, uma enzima que impede o envelhecimento das células. Em cerca de 70% dos melanomas, esse gene sofre mutação, permitindo que as células cancerosas continuem se replicando sem limite. Atividade conceitual 2 Os distúrbios pigmentares se manifestam de diferentes formas e origens. Considerando essas variações, qual das seguintes afirmações explica um fator determinante na distinção entre uma neoplasia benigna e uma maligna? A A capacidade de metástase diferencia neoplasias benignas das malignas. B A presença de células pigmentadas indica malignidade. C Neoplasias benignas caracterizam-se por crescimento descontrolado. D As neoplasias benignas sempre originam neoplasias malignas ao longo do tempo. E Apenas neoplasias malignas apresentam coloração alterada em relação ao tecido normal. A alternativa A está correta. A principal característica que diferencia neoplasias benignas e malignas é a capacidade de metástase, ou seja, a disseminação de células tumorais para outros tecidos através da circulação sanguínea ou linfática. Enquanto as neoplasias benignas permanecem localizadas e não invadem outros órgãos, as malignas migram e formam novos tumores a distância. A presença de pigmentação alterada não é um critério absoluto para determinar malignidade, pois lesões benignas também apresentam variações de coloração. O diagnóstico preciso depende da avaliação histológica, considerando fatores como a atividade mitótica, a diferenciação celular e a agressividade da proliferação tumoral. Distúrbios de aumento de melanina de forma generalizada Neste vídeo, trataremos de melanodermias secundárias, vitiligo e albinismo, abordando causas, clínica, histologia e fatores envolvidos. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Os principais casos de aumento generalizado da melanina na pele são chamados de melanodermias secundárias, pois acontecem como consequência de outros fatores. Isso pode ocorrer, por exemplo, durante a gravidez, devido a alterações hormonais, em doenças como o hipoadrenalismo (quando as glândulas suprarrenais produzem menos hormônios) ou por exposição à radiação, como a luz solar intensa. Histologicamente, é possível verificar um aumento na presença de melanina nos queratinócitos por toda a epiderme e aumento no número de melanossomas. Essas alterações levam à formação de manchas agrupadas ou dispersas, com coloração castanho-clara à escura, e bordas irregulares. Essas manchas podem ser chamadas também de cloasmas ou melasmas, e são mais comuns em áreas da pele com maior exposição solar e em mulheres, por ação de fatores hormonais, principalmente na gravidez, que apresenta uma maior alteração nos níveis de hormônios. Pele com melasmas. Curiosidade As manchas são chamadas de cloasmas gravídicos quando acometem mulheres durante ou logo após o fim da gestação. As manchas presentes somente na face são chamadas de melasmas. E, quando acometem outra região que não a face, são chamadas de melanodermias. Você já deve ter ouvido falar em vitiligo e albinismo. Essas condições, diferentes das que já estudamos até aqui, são distúrbios de pigmentação causadas pela diminuição ou ausência de melanina. Vitiligo O vitiligo é um dos quadros de acromia (termo dado à ausência de formação do pigmento melanina na epiderme) adquirida mais conhecidos. Embora a patogênese dessa condição não seja muito bem compreendida, sabe-se que ela acontece pela diminuição progressiva ou ausência dos melanócitos no local, sendo essa a principal característica histológica. Com isso, a produção de melanina fica comprometida. Na pele de um indivíduo com vitiligo, podemos observar a presença de manchas simétricas, irregulares, de cor branca (pela falta de melanina), com hipercromia (pigmentação excessiva causada pela produção exagerada de melanina) ao redor das áreas afetadas. Pele com vitiligo. O vitiligo é classificado como uma condição multifatorial, e algumas teorias para a ausência dos melanócitos são a destruição das células por estresse oxidativo, autoimunidade e autodestruição dos melanócitos. O vitiligo de origem genética (familiar) representa aproximadamente 20% dos casos. Albinismo O albinismo é uma doença genética que afeta 1 a cada 20 mil pessoas. O indivíduo com albinismo pode ter um quadro de acromia parcial, quando envolve ausência de pigmentação somente na retina, condição conhecida como albinismo ocular (AO), ou acromia generalizada, quando afeta a pele, cabelos e olhos no albinismo oculocutâneo (AOC). O AOC é uma condição de caráter autossômico recessivo (ao herdar genes de dois alelos anormais dos pais) que envolve mutações em genes relacionados à tirosinase, que resulta na coloração branca da pele enos cabelos devido à ausência de pigmentação. Os indivíduos que sofrem de albinismo devem evitar ao máximo a exposição solar, pois são deficientes na principal forma orgânica de proteção contra os raios UV, que é feita pela melanina. Criança com albinismo oculocutâneo. A acromia cicatricial ocorre quando a pele perde pigmentação depois de um processo inflamatório. Isso acontece porque, durante a inflamação, substâncias chamadas mediadores inflamatórios interferem na atividade das células que produzem melanina, os melanócitos. Dependendo da intensidade da inflamação, os melanócitos são destruídos ou ficam inativos, resultando em áreas mais claras na pele. Ao fim do processo inflamatório, em alguns casos, os melanócitos ficam em estado de esgotamento pelo estímulo e atividade exagerada. Sendo assim, eles perdem sua função, gerando a acromia no local da cicatrização. Curiosidade Acromotriquia é o nome dado ao processo de perda de pigmentação dos cabelos resultante do envelhecimento. Com o passar dos anos, os melanócitos vão perdendo sua funcionalidade e diminuindo sua atividade. Esse processo tem como consequência a redução na quantidade de pigmentos de melanina produzidos, o que faz com que os cabelos apresentem uma cor branca pela ausência de pigmentos. Atividade conceitual 3 Distúrbios que afetam a produção ou distribuição de melanina podem ter causas genéticas, ambientais ou inflamatórias, resultando em hiperpigmentação ou hipopigmentação da pele. Como esses fatores influenciam as características dessas alterações? A O aumento da melanina sempre indica um distúrbio patológico e deve ser tratado. B A hipopigmentação ocorre exclusivamente por fatores genéticos, sem influência ambiental. C A hiperpigmentação pode resultar de estímulos hormonais ou exposição à radiação. D O albinismo é uma condição adquirida devido à perda progressiva de melanócitos. E O vitiligo se desenvolve apenas em indivíduos com predisposição genética hereditária. A alternativa C está correta. A hiperpigmentação pode ser desencadeada por fatores hormonais, como no melasma, e pela exposição à radiação ultravioleta, que estimula a produção de melanina. Além disso, algumas inflamações e o uso de certos medicamentos influenciam esse processo. Essas alterações pigmentares resultam da interação entre fatores genéticos e ambientais, exigindo avaliação criteriosa para distinguir respostas fisiológicas normais de condições patológicas. Pigmentos relacionados à lipofuscina e hemoglobina Neste vídeo, trataremos da lipofuscina, pigmentos hemoglobínicos e distúrbios como hemocromatose e icterícia. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A lipofuscina é um pigmento produzido naturalmente pelo corpo e aparece dentro das células quando há danos nas membranas celulares. Isso acontece porque as gorduras (lipídios) que fazem parte dessas membranas sofrem um processo chamado peroxidação, uma forma de degradação causada pelo estresse oxidativo, ou seja, pelo excesso de radicais livres. Com o tempo, as moléculas danificadas se unem, formando estruturas maiores que não são facilmente eliminadas pelo organismo. Essas partículas se acumulam dentro das células, especialmente nos lisossomos, responsáveis por digerir partes desgastadas da célula. Esse acúmulo é visível como pequenos grãos de cor amarelo-acastanhada no citoplasma. A lipofuscina é mais comum em células que envelhecem ou que passam por muito estresse oxidativo, sendo um marcador do desgaste celular ao longo do tempo. O acúmulo da lipofuscina acontece de maneira gradual, especialmente em células pós-mitóticas, e é comum no tecido muscular cardíaco e esquelético, no fígado, na retina e em neurônios de indivíduos mais velhos, ou em pacientes com desnutrição grave. No entanto, esse pigmento não é nocivo à célula. Observe a seguir. Em neurônios Presença de grânulos de pigmento lipofuscina (em marrom). Em cardiomiócitos Presença de grânulos de pigmento lipofuscina. Em células com alta taxa de divisão como as células-tronco, as organelas e macromoléculas danificadas são divididas entre as células-filhas, evitando, assim, o acúmulo de lipofuscina após o processo de autofagia. O acúmulo de lipofuscina causa um processo chamado de atrofia parda, que é caracterizado pela redução de volume e peso do órgão, com presença de uma coloração parda. No coração, o acúmulo de lipofuscina parece não afetar tanto a capacidade funcional do órgão. Nos neurônios, o acúmulo excessivo de lipofuscina causa sérios problemas. Isso acontece em um grupo de doenças genéticas raras chamadas lipofuscinose ceroide neuronal: o organismo não consegue eliminar a lipofuscina corretamente, fazendo com que se acumule nos neurônios. Esse acúmulo atrapalha o funcionamento das células nervosas, levando a sintomas graves como perda progressiva das habilidades motoras e cognitivas, cegueira e convulsões. Com o tempo, os danos aos neurônios se agravam, causando deterioração neurológica severa. Atenção Vale acrescentar que, na retina, o acúmulo do pigmento lipofuscina é associado à degeneração da mácula (parte central da retina), e essa degeneração é a principal causa de alteração da visão e cegueira em idosos. Pigmentos relacionados à hemoglobina A hemoglobina é uma proteína encontrada nas hemácias, células do sangue responsáveis pelo transporte de oxigênio. Ela tem duas partes principais: Globina, que é a parte proteica e formada por quatro subunidades: duas chamadas alfa (α) e duas chamadas beta (β). Heme, que é a parte não proteica e contém ferro no centro. Presente na fração heme, o ferro é altamente importante porque se liga ao oxigênio. Dessa forma, a hemoglobina possibilita que o sangue transporte oxigênio dos pulmões para o resto do corpo. Além disso, é a fração heme que dá a cor vermelha ao sangue. Observe a imagem a seguir. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. • • Estrutura da hemácia, da molécula de hemoglobina (a) e do heme (B). Os pigmentos endógenos derivados da degradação da hemoglobina são as hemossiderinas, hematinas, bilirrubinas, porfirinas, entre outros. Tais pigmentos podem ser ferruginosos, quando há a presença de íon ferro na molécula, ou não ferruginosos. Principais distúrbios relacionados a pigmentos derivados da hemoglobina A hemossiderose é o quadro de aumento de hemossiderina, um produto da degradação da hemoglobina capaz de formar agregados, normalmente presente nos hepatócitos e em macrófagos do fígado, pulmão, linfonodos, baço e medula óssea. Ele é um pigmento de cor amarelo-ouro a marrom e representa a principal forma de armazenamento do ferro, principalmente quando este está em excesso e há saturação da ferritina. A hemossiderose local acontece geralmente como resultado de hemorragias teciduais, em que as hemácias extravasadas são fagocitadas por macrófagos de 24 a 48 horas depois do início do sangramento. Histologicamente, é possível observar a presença de hemossiderina como grânulos amarelados a amarronzados nos tecidos. O processo de hemossiderose local pode ser observado na pele pela presença de coloração amarelada nas áreas das lesões. Hemorragia pulmonar com presença de hemossiderose local. Os casos de aumento sistêmico de ferro acontecem devido a defeitos na absorção intestinal de ferro, anemias hemolíticas e transfusão de sangue. Atenção A hemossiderose não costuma causar sintomas. Porém, indivíduos com quadros avançados podem desenvolver anemia e fibrose pulmonar. A hemocromatose é uma doença hereditária rara, que acomete mais facilmente os homens, causada por mutações em genes relacionados à absorção de ferro. As mutações favorecem o aumento da absorção intestinal de ferro proveniente da dieta, e com isso aumenta-se também a deposição de hemossiderina nos macrófagos e no parênquima de órgãos como fígado, pele, pâncreas, coração e em algumas glândulas. A hemocromatose costuma causar hipotrofia e fibrose do parênquima tecidual, e emalguns casos leva à cirrose hepática, diabetes e insuficiência cardíaca. Com o avanço do quadro, a coloração natural dos órgãos é alterada para um tom amarronzado. Indivíduos que passaram por transfusão sanguínea, com quadros de talassemia e síndromes mielodisplásicas, podem desenvolver a hemocromatose secundária (ou adquirida) pelo aumento na quantidade de hemácias degradadas e de ferro livre. As hematinoses são mudanças na coloração dos tecidos que ocorrem quando a hemoglobina do sangue é quebrada e forma um pigmento escuro chamado hematina. Esse pigmento contém ferro e aparece em forma de pequenos grãos de cor preta ou preto-azulada. Essas alterações ocorrem em diferentes situações, como: Ambientes ácidos, como no estômago, quando o ácido clorídrico reage com o sangue em úlceras. Malária, pois o parasita que causa a doença destrói a hemoglobina do sangue. Esquistossomose, quando o parasita se alimenta do sangue do hospedeiro e degrada a hemoglobina no seu intestino. Exames laboratoriais, quando o tecido coletado em biópsias é tratado com formol ácido, formando a hematina. Esse pigmento não tem função útil no corpo, mas sua presença indica processos inflamatórios ou infecções.Fígado de indivíduo com hemocromatose. Depósitos de hemossiderina em marrom. As porfirias são distúrbios causados por alterações no processo de síntese do heme, de etiologia não totalmente esclarecida, que levam ao aumento de porfirinas. As porfirinas são moléculas precursoras do heme, geradas pelo sistema eritropoético e pelo fígado, e são o sítio de ligação para o íon ferro na hemoglobina. As porfirias podem ser classificadas de acordo com sua origem (em congênita ou adquirida), propriedades bioquímicas e pelo local em que se encontram. A porfiria eritropoética congênita e a protoporfiria eritropoética, como os nomes sugerem, são causadas por alterações durante a síntese do heme na medula óssea. Estrutura química das porfirinas. A porfiria cutânea tardia, porfiria intermitente aguda e a eritro-hepática são causadas por alterações no fígado. O principal sinal clínico dessas doenças é o aparecimento de lesões bolhosas na pele, que regridem e deixam manchas com alteração de pigmentação e sensibilidade à luz solar, pela capacidade de absorção de luz visível e UV pelas porfirinas. Reação de hipersensibilidade à luz em indivíduo com protoporfiria eritropoética. • • • • A hematoidina é um pigmento que aparece algumas semanas depois de um sangramento ou dentro de coágulos de sangue nos tecidos. Esse pigmento se forma quando macrófagos degradam as hemácias no local do sangramento. Diferentemente de outros pigmentos derivados do sangue, a hematoidina não contém ferro. Ela é composta por uma mistura de lipídios e uma substância semelhante à bilirrubina. No tecido, a hematoidina pode ser vista na forma de pequenos cristais com coloração que varia entre amarelo-ouro e marrom-dourado. A presença desse pigmento nos tecidos indica um sangramento antigo ou um coágulo em processo de reabsorção. A icterícia é uma condição clínica gerada pelo aumento plasmático de um pigmento biliar chamado de bilirrubina. A bilirrubina é um produto da degradação da fração heme da hemoglobina. Esse pigmento é visto como grânulos castanho-esverdeados a negros, e se encontra principalmente nos hepatócitos e nos canais biliares. O aumento plasmático de bilirrubina faz com que ela se acumule na pele, mucosas, tecidos e órgãos, em especial no fígado e rins, resultando em uma coloração amarelada. Vamos acompanhar a seguir o processo de degradação do heme e formação da bilirrubina. Pele amarelada de indivíduo com icterícia em comparação à pele de indivíduo sem icterícia. 1 Etapa 1 A hemoglobina se divide em duas partes: a globina, que vira aminoácidos para reaproveitamento, e o heme, que é degradado. Essa degradação libera ferro, monóxido de carbono e biliverdina, um pigmento verde. 2 Etapa 2 A biliverdina se transforma em bilirrubina, que se liga a uma proteína chamada albumina no sangue. Nessa fase, é chamada de bilirrubina indireta e precisa ser transportada até o fígado. 3 Etapa 3 No fígado, a bilirrubina passa por uma modificação química chamada conjugação, tornando-se solúvel em água. Assim, vira bilirrubina direta, que pode ser eliminada pelo organismo. 4 Etapa 4 A bilirrubina direta é liberada na bile, um líquido produzido pelo fígado, ou segue para o intestino, onde é transformada pela microbiota intestinal em urobilinogênio. 5 Etapa 5 O urobilinogênio pode seguir três caminhos: Voltar ao fígado para ser reaproveitado. Ir para os rins, onde se transforma em urobilina, pigmento que dá a cor amarela à urina. Ser degradado no intestino, formando estercobilina, que dá a cor marrom às fezes. Observe na imagem a seguir todas as etapas que acabamos de ver. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. Degradação do heme e formação da bilirrubina. Vamos conhecer as causas de icterícia a seguir. • • • Pré-hepática Ocorre antes do fígado, devido à destruição excessiva de hemácias, como em anemias hemolíticas, aumentando a bilirrubina indireta. Hepática Ocorre no fígado, quando ele não consegue processar a bilirrubina corretamente, causada por infecções, intoxicações e câncer. Em recém-nascidos, pode ser temporária devido à imaturidade do fígado. Pós-hepática Acontece após o fígado, por obstrução dos canais biliares (cálculos ou tumores), aumentando a bilirrubina direta, que pode ser eliminada na urina. Algumas doenças causadas por parasitas geram pigmentos no corpo devido à degradação da hemoglobina. Na esquistossomose, o parasita Schistosoma mansoni vive nos vasos sanguíneos do intestino e se alimenta de sangue. Dentro do parasita, a hemoglobina é quebrada por uma enzima, separando a globina, que ele usa para se nutrir, e o heme, que não é aproveitado. O verme então libera esse heme na circulação do hospedeiro, formando o pigmento esquistossomótico, de cor castanho-escura, que se acumula no fígado, principalmente nas células de Kupffer. Na malária, o parasita Plasmodium spp. também quebra a hemoglobina dentro das hemácias. Quando se rompem, essas células liberam o pigmento malárico, que tem a mesma cor escura e se espalha pelos tecidos do hospedeiro. Menino de 11 anos com fluido abdominal e hipertensão portal devido à esquisstossomose. Atividade conceitual 4 O acúmulo de determinados pigmentos celulares pode estar associado a diferentes processos biológicos e patológicos. Quais fatores influenciam a deposição desses pigmentos nos tecidos? A O aumento da atividade autofágica e a degradação eficiente das organelas celulares. B A ausência de processos oxidativos e a manutenção da integridade das membranas celulares. C A renovação contínua das células e a eliminação rápida de resíduos metabólicos. D O transporte ativo de pigmentos para fora da célula e sua excreção eficiente. E A redução da taxa de divisão celular e a exposição a radicais livres. A alternativa E está correta. A deposição de pigmentos celulares ocorre quando há degradação ineficaz de estruturas celulares, especialmente em células pós-mitóticas, que não se dividem para diluir os resíduos acumulados. Além disso, o estresse oxidativo intensifica a formação desses pigmentos, favorecendo sua permanência nos tecidos. Aplicando o conhecimento Mariana, 22 anos, compareceu ao consultório dermatológico para avaliar uma lesão pigmentada na perna esquerda. Ela relatou ter notado a lesão desde a infância, mas percebeu um aumento no tamanho nos últimos anos. A lesão tem cerca de 8 mm, bordas bem-delimitadas e superfície levemente elevada. Mariana não sente dor nem coceira na área e não tem histórico de lesões semelhantes na família. Durante o exame físico, o dermatologista observou que a lesão apresentava coloração homogênea, variando de marrom-claro a marrom-escuro, com uma superfície ligeiramente rugosa. Não havia sinais inflamatórios nem ulceração. O exame dermatoscópicorevelou a presença de um padrão reticulado uniforme, sem estruturas atípicas. Ao revisar a história clínica da paciente, foi identificado que Mariana tem pele clara, histórico de queimaduras solares na infância e exposição solar frequente sem uso de protetor solar. Ela também apresenta múltiplas pintas pelo corpo, sem histórico de crescimento acelerado nem mudanças significativas recentes. Com base nos achados clínicos e dermatoscópicos, o dermatologista diagnosticou a lesão como um nevo melanocítico congênito, orientando a paciente sobre a importância do acompanhamento regular e da proteção solar para evitar complicações futuras. Questão 1 Com base no caso clínico de Mariana, qual fator pode representar um risco aumentado para a transformação maligna da lesão pigmentada observada? A Histórico de queimaduras solares na infância e exposição solar frequente sem proteção. B Presença de múltiplos nevos pelo corpo, independentemente do padrão de crescimento. C Aumento gradual da lesão ao longo dos anos, sem alterações estruturais. D Ausência de histórico familiar de lesões pigmentadas malignas. E Presença de um padrão reticulado uniforme na dermatoscopia. A alternativa A está correta. A exposição solar excessiva, especialmente com queimaduras na infância, é um dos principais fatores de risco para a transformação maligna de lesões pigmentadas. A radiação ultravioleta (UV) pode induzir mutações nos melanócitos, aumentando o risco de melanoma. A fotoproteção e o monitoramento dermatológico previnem e detectam precocemente alterações suspeitas. Questão 2 Mariana recebeu um diagnóstico e algumas orientações. Por que é tão importante orientar pacientes com nevos congênitos sobre a necessidade de acompanhamento regular e proteção solar? Chave de resposta Os nevos melanocíticos congênitos apresentam um risco variável de transformação maligna, sendo o acompanhamento de grande importância para detectar alterações precoces. A proteção solar reduz a exposição aos raios UV, um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do melanoma. Pacientes com histórico de queimaduras solares ou exposição excessiva devem ser instruídos a utilizar protetor solar regularmente e evitar longos períodos ao sol, especialmente em horários de pico. O exame clínico periódico permite avaliar modificações na lesão, como crescimento acelerado, mudanças na coloração e irregularidade nas bordas, sinais sugestivos de malignização. Dessa forma, a prevenção e o diagnóstico precoce minimizam os riscos e garantem a saúde da pele. Questão 3 A dermatoscopia de Mariana apontou um padrão reticulado uniforme, sem estruturas atípicas. Como a dermatoscopia auxilia no diagnóstico diferencial entre um nevo melanocítico congênito e um melanoma incipiente? Chave de resposta A dermatoscopia é uma ferramenta de avaliação de lesões pigmentadas e permite visualizar padrões estruturais não perceptíveis a olho nu. No caso dos nevos melanocíticos congênitos, padrões reticulados homogêneos e sem áreas de regressão são comuns, indicando benignidade. Já o melanoma inicial apresenta características como bordas irregulares, pigmentação assimétrica, presença de áreas de coloração branca ou azulada (indicando regressão) e estruturas atípicas. Além disso, crescimento rápido e mudanças súbitas na coloração são sinais de alerta. Dessa forma, a dermatoscopia auxilia no diagnóstico precoce e na definição da conduta clínica, evitando biópsias desnecessárias e identificando lesões suspeitas precocemente. Caso prático Neste vídeo, discutiremos o caso de Mariana, 22 anos, com nevo melanocítico congênito, abordando diagnóstico, características e acompanhamento. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. 2. Distúrbios de pigmentação exógena Pigmentações patológicas exógenas: via inoculação – tatuagem Neste vídeo, trataremos dos pigmentos exógenos, sua absorção, efeitos nos tecidos e inflamação, destacando a tatuagem como exceção. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Os pigmentos exógenos são substâncias que vêm de fora do corpo e podem entrar por inalação (pelo ar), ingestão (por via oral) ou inoculação (como em tatuagens ou ferimentos). Quando esses pigmentos se acumulam nos tecidos, o corpo os reconhece como corpos estranhos. Isso ativa o sistema imunológico, fazendo com que macrófagos fagocitem e tentem eliminar essas substâncias. Esse processo gera uma inflamação inicial, que desaparece ou se torna crônica, levando à formação de fibrose (tecido endurecido no local da inflamação). Diferentemente dos pigmentos endógenos que indicam dano ou uma patologia, os pigmentos exógenos são, na sua maioria, os responsáveis pelo desenvolvimento das doenças. Várias dessas doenças são resultados da exposição ocupacional, como ocorre com os mineradores, trabalhadores de indústrias e joalheiros. Como uma exceção à regra, temos a tatuagem, um exemplo de pigmento exógeno. Ao serem inoculadas na nossa pele, as partículas de tinta são fagocitadas por macrófagos, mas sem causar uma doença. Pigmentações patológicas exógenas: via inoculação – tatuagem A tatuagem é a forma de pigmentação exógena mais comum de encontrarmos nos seres humanos. Ela é realizada pela inoculação de pigmentos insolúveis (como os sais de enxofre, carvão, nanquim, mercúrio, ferro, entre outros corantes) na pele, utilizando-se agulhas para meios estéticos e de identificação de animais. Em geral, as tatuagens são permanentes devido à introdução do pigmento na derme. Caso ele seja introduzido em camadas mais superficiais da pele, como o estrato córneo da epiderme, a tatuagem se torna temporária. Processo de inoculação dos pigmentos de tatuagem na derme e a fagocitose dos pigmentos por macrófagos. Após a inoculação, os pigmentos são fagocitados principalmente por macrófagos presentes na derme, permanecendo ali pelo resto da vida. Esses pigmentos podem ser levados em menor quantidade para os linfonodos regionais. Quando observado histologicamente, a pigmentação presente no local da tatuagem é vista como grânulos de tamanho pequeno no interior de macrófagos ou pigmentos retidos no tecido conjuntivo fibroso. Atenção Os pigmentos geralmente não despertam nenhuma resposta inflamatória. Atividade conceitual 1 Os pigmentos exógenos se acumulam nos tecidos do organismo, sendo fagocitados pelos macrófagos, podendo desencadear uma resposta inflamatória ou permanecer inertes no local. Como a presença de pigmentos exógenos nos tecidos influencia a resposta imunológica e a evolução de um processo inflamatório? A O acúmulo de pigmentos leva a uma inflamação crônica, desencadeando fibrose tecidual. B Todos os pigmentos exógenos desencadeiam uma reação imune intensa e geram doença. C Os macrófagos sempre eliminam os pigmentos exógenos, evitando acúmulo nos tecidos. D A resposta imune aos pigmentos exógenos ocorre apenas na presença de infecção associada. E A fagocitose pelos macrófagos impede o processo inflamatório local. A alternativa A está correta. A presença de pigmentos exógenos nos tecidos causa inflamação crônica quando os macrófagos não os eliminam, levando à ativação prolongada do sistema imunológico, resultando em fibrose tecidual. A resposta inflamatória varia conforme o tipo de pigmento, podendo ser mínima ou evoluir para danos teciduais persistentes. Pigmentações patológicas exógenas: ingestão oral Neste vídeo, trataremos de pigmentações exógenas por metais e caroteno, seus efeitos clínicos, intoxicações e tratamento. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Argirismo É uma patologia causada pela intoxicação por sais de prata e pela deposição dessas partículas nos tecidos. As principais formas de intoxicação são pela utilização de medicamentos (soluções e colírios) que contêm na sua formulação nitrato de prata, muito utilizados no passado, a partir de suplementos alimentares e da penetração mecânica de partículas muito pequenas por meio das glândulas sudoríparase inalação pelos joalheiros e trabalhadores de minas de prata. Observe os exemplos a seguir. Exemplo 1 Cristais de nitrato de prata usados pela indústria farmacêutica. Exemplo 2 Prata utilizada em joalherias. Exemplo 3 Pó de minério de prata na mão de um minerador. A principal alteração patológica gerada pelo acúmulo de prata é a visível alteração de pigmentação dos tecidos, principalmente nas áreas da pele expostas ao sol e nas unhas, mas pode aparecer nos macrófagos dos linfonodos, na membrana basal dos glomérulos renais e no globo ocular. Clinicamente, a pele do indivíduo afetado exibe coloração cinza-azulada de forma irreversível. Essa condição pode ocasionar depressão, afastamento social e problemas de integração com a sociedade. Pele de indivíduo com argirismo. Histologicamente, a presença de grânulos de prata é vista em maior quantidade na borda externa da membrana basal e na porção glandular das glândulas sudoríparas. Essa distribuição pode sugerir que as partículas de prata são levadas para as glândulas sudoríparas pelo líquido intersticial e assim se acumulam na membrana basal. Atenção Quando a intoxicação se dá por ingestão crônica de compostos de prata solúveis, como o nitrato de prata, ela pode afetar o indivíduo de maneira disseminada, sendo chamada de argiria sistêmica. Vale ressaltar que quando afeta os olhos essa condição é chamada de argirose. Plumbismo ou saturnismo Outra forma de intoxicação causada por pigmentos exógenos é o plumbismo ou saturnismo, que ocorre pela ingestão do chumbo. Além da via gastrointestinal, o chumbo pode entrar no organismo por via inalatória. Os indivíduos mais suscetíveis à contaminação com o chumbo são trabalhadores das áreas de mineração e indústria, que pela sua ocupação apresentam contato periódico com esse metal. Esse quadro acomete também crianças, especialmente pelo contato com brinquedos que contenham tintas à base de chumbo. Atenção O chumbo não apresenta nenhuma função fisiológica e tem efeito nocivo em quase todos os órgãos e sistemas. Vamos entender então como o chumbo afeta o indivíduo. Etapa I Assim que o chumbo atinge a circulação sanguínea, ele se deposita no sangue, nos tecidos moles e os ossos, mas o sítio primário de armazenamento são os ossos. Etapa II Essa molécula forma complexos estáveis com enxofre, fósforo, nitrogênio, oxigênio (grupamentos - SH, -H2PO3, -NH2, -OH) e conseguem imitar ou inibir o cálcio e interagir com aminas e aminoácidos livres, alterando o funcionamento de membranas plasmáticas, de enzimas e proteínas. Etapa III A toxicidade está normalmente relacionada ao sistema hematopoiético e nervoso, sendo o sistema nervoso central (SNC) o mais sensível. No sistema hematopoiético, a presença de chumbo costuma alterar a síntese de hemoglobina, a membrana do eritrócito e diminuir o tempo de vida da hemácia, causando anemia e estimulando a eritropoiese (síntese de novos eritrócitos). No sangue periférico de indivíduos intoxicados, os eritrócitos apresentam inclusões de ferro (siderócitos), sendo revelados em lâminas de distensão sanguínea como pigmentações basofílicas, ou seja, pontos azuis dentro das hemácias. No entanto, a anemia não aparece de forma precoce, ela ocorre após exposição prolongada e com altas concentrações de chumbo. Distensão sanguínea de indivíduo intoxicado por partículas de chumbo (setas). No SNC, o chumbo deposita-se nos astrócitos, células que mantêm a integridade da barreira hematoencefálica e, assim, protegem o SNC. Além disso, há a alteração do metabolismo de carboidratos, com diminuição da glicose circulante no cérebro e aumento da síntese de neurotransmissores como dopamina, acetilcolina e do ácido aminobutírico (GABA), o que pode ocasionar um quadro de defeitos cognitivos. O plumbismo pode afetar também o intestino, onde causa enrijecimento da parede abdominal, além de nefropatia tubular nos rins e reações na pele como dermatite e úlceras. Os metais também podem se acumular na parede do vaso causando aterosclerose (acúmulo de gordura ou outras moléculas na parede do vaso dificultando a passagem sanguínea). A intoxicação por chumbo, chamada de plumbismo, pode ocorrer de duas formas: 1 Plumbismo agudo Acontece rapidamente e afeta principalmente crianças. Causa inchaço no cérebro, dilatação dos vasos sanguíneos e pequenos sangramentos. Os sintomas incluem náuseas, irritabilidade, dores de cabeça, convulsões e aumento da pressão dentro do crânio. 2 Plumbismo crônico Ocorre quando há exposição prolongada ao chumbo. Esse metal danifica os nervos, acarretando fraqueza muscular, dificuldades de visão e convulsões. Também pode afetar o cérebro, causando atrofia em algumas áreas. Além disso, o chumbo se acumula nos ossos e na gengiva, formando uma linha escura característica. O tratamento é feito com terapia quelante, que utiliza medicamentos para se ligar ao chumbo e ajudar o corpo a eliminá-lo pela urina. Pigmentação bismútica Rara de ser encontrada, a pigmentação bismútica acontece pela intoxicação com sais de bismuto. O bismuto costumava ser muito usado no passado para o tratamento de sífilis. A pigmentação bismútica leva ao aparecimento de linhas gengivais de coloração azul ou preto-azulada. Sua capacidade de intoxicação é baixa quando comparada a outros metais pesados, como o chumbo. Carotenose O caroteno é um pigmento vegetal, ou seja, não sintetizado pelo organismo, no formato de cristais encapsulados de coloração amarelada. É facilmente identificado devido à coloração dos alimentos vegetais ricos em caroteno, como laranja, cenoura, abóbora, entre outros). O caroteno é a molécula precursora da vitamina A, importante para a visão, diferenciação celular e regulação do metabolismo de lipídios. A conversão do caroteno em vitamina A acontece no intestino, e o organismo realiza a excreção via cólon e epiderme, principalmente pelas glândulas sudoríparas. Alimentos ricos em caroteno. Portanto, a carotenodermia ocorre quando há acúmulo excessivo de caroteno no corpo, substância presente em alimentos como cenoura, abóbora e laranja. Isso acontece porque o organismo não consegue eliminar todo o excesso, e o estrato córneo da pele absorve essa substância, causando uma coloração amarelada. Essa condição é mais comum em crianças e não causa problemas de saúde, sendo apenas uma alteração estética. Fatores como problemas intestinais, baixa produção de ácidos biliares e dificuldades no transporte do caroteno pelo sangue podem aumentar esse acúmulo. Atenção É importante diferenciar a carotenodermia da icterícia, que também deixa a pele amarelada, mas está relacionada ao acúmulo de bilirrubina no sangue. Atividade conceitual 2 A exposição ocupacional a metais pesados pode levar ao acúmulo de pigmentos exógenos no organismo, resultando em diversas alterações fisiológicas e patológicas. Dependendo do metal envolvido, os efeitos podem ser irreversíveis. Ao avaliar um paciente com histórico de exposição prolongada a metais pesados, um profissional de saúde deve considerar que A a toxicidade dos metais ocorre exclusivamente por ingestão direta de partículas. B o acúmulo de metais no organismo altera processos celulares fundamentais. C a intoxicação por chumbo afeta apenas o sistema hematológico. D a deposição de prata no organismo pode ser revertida com fototerapia. E os metais acumulados nos ossos são rapidamente eliminados pelo organismo. A alternativa B está correta. O acúmulo de metais pesados no organismo compromete importantes processos celulares ao se ligar a biomoléculas, como proteínas e enzimas, interferindo na atividade enzimática, na sinalização celular e no metabolismo energético. Essas alterações levam ao estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e danos ao DNA, contribuindo para inflamação crônica e doenças degenerativas. Dependendo do metal envolvido, os efeitos podem ser irreversíveis, afetando órgãos como o sistema nervoso central, os rins e o fígado. Pigmentações patológicas exógenas: via inalação Neste vídeo, abordaremospigmentações exógenas por inalação de partículas, pneumoconioses, inflamação, fibrose e diagnóstico. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. As pneumoconioses são pneumonias causadas pela inalação de partículas inorgânicas que afetam o interstício pulmonar. Costumam ser causadas pela inalação de partículas de dióxido de silício, carvão ou amianto. As pneumoconioses são doenças causadas pela inalação de poeira ao longo do tempo, principalmente em ambientes de trabalho. Ocorrem com mais frequência em pessoas que trabalham em minas de carvão, onde há exposição constante a partículas de carvão e sílica. Essas partículas entram nos pulmões e, com o tempo, causam inflamação e acúmulo de pigmentos nos tecidos pulmonares, levando a problemas respiratórios. Como acontece com outros tipos de pigmentação patológica, essas doenças são causadas pelo acúmulo de substâncias externas no organismo, dificultando sua eliminação e gerando graves complicações. Os fatores que favorecem o desenvolvimento das pneumoconioses são: Pulmão com pigmentação escura e fibrose em um minerador de carvão. Estrutura físico-química e solubilidade da partícula inalada Partículas menos densas e com alta solubilidade tendem a provocar efeitos de maneira aguda, enquanto as mais densas e com menor solubilidade podem se instalar no parênquima pulmonar por anos. Tamanho e forma Quanto menor a partícula (1 – 5 µm de diâmetro), mais facilidade ela tem de alcançar os bronquíolos, ductos alveolares e os alvéolos, e, por consequência, são mais perigosas. Quantidade Varia de acordo com o tempo de exposição, quantidade de partículas presentes no ar e capacidade do organismo de eliminar as partículas inaladas. Fatores secundários O tabagismo, por exemplo, facilita a deposição de partículas no pulmão por lesionar o aparelho mucociliar. O tabagismo facilita o desenvolvimento de infecções pulmonares pelo impacto que causa na atividade dos macrófagos alveolares. Ainda, o calor provocado pela fumaça do cigarro é deletério para a mucosa pulmonar. Associada a isso, a ação de outros produtos presentes na fumaça, como a nicotina, que tem capacidade de inibir os movimentos ciliares, aumenta a produção de muco, que acaba ficando retido no pulmão pela inibição do sistema mucociliar. A pneumoconiose dos mineradores de carvão ocorre quando uma pessoa inala poeira de carvão por muitos anos. Isso faz com que pequenas partículas se acumulem nos pulmões, formando máculas de carvão e nódulos de colágeno nos bronquíolos, que são as pequenas vias respiratórias. Se piorar, a doença pode levar a um enfisema centrolobular, quando os alvéolos, responsáveis pela troca de oxigênio, ficam dilatados e menos eficientes. Nos casos mais graves, pode surgir a fibrose maciça progressiva, quando grandes áreas do pulmão ficam endurecidas e perdem a função. Essas lesões costumam ter de 1 a 10 cm, sendo compostas por pigmento de carvão, colágeno e até necrose (morte celular). Com o tempo, essa condição causa dificuldade respiratória severa e limitações permanentes. Histologia de pulmão com pneumoconiose de mineradores de carvão (pigmentos em preto). Fibrose pulmonar. Silicose Doença pulmonar provocada pela inalação prolongada de sílica, uma substância encontrada na areia e em materiais de construção. A sílica causa muita irritação e ativa o sistema imunológico, gerando uma inflamação intensa nos pulmões. Com o tempo, essa inflamação pode levar à formação de cicatrizes (fibrose) no tecido pulmonar, dificultando a respiração. Areia de sílica. No início, a silicose não apresenta sintomas, mas pequenas lesões aparecem nos pulmões e linfonodos. Se a exposição à sílica continuar, essas lesões podem crescer, se juntar e causar fibrose maciça, tornando o pulmão rígido e incapaz de funcionar corretamente. O diagnóstico é feito pelo histórico do paciente e por exames de imagem, que mostram nódulos nas partes superiores dos pulmões. Atenção A silicose também aumenta o risco de câncer de pulmão e tuberculose, pois enfraquece as defesas do organismo contra infecções. Mesmo que a pessoa pare de inalar sílica, a doença pode continuar a piorar. Asbestose Doença pulmonar causada pela inalação de fibras de amianto, um material usado no passado na construção civil por ser barato e resistente. A exposição ao amianto ocorre principalmente em trabalhadores de mineração, indústrias e construção. Devido aos riscos à saúde, esse material está proibido no Brasil desde 2017. As fibras de amianto são tóxicas para os pulmões. Algumas são eliminadas do corpo, mas as mais rígidas se acumulam nos tecidos, causando uma inflamação crônica que leva à fibrose pulmonar. Com o tempo, isso pode prejudicar a respiração. Telhas de amianto eram muito usadas na construção civil. Fibras de asbestos podem acumular-se nos pulmões. Ao serem fagocitadas, essas fibras formam os chamados corpos de asbesto, que aparecem no pulmão com coloração castanho-dourada. A asbestose também leva à hipertensão pulmonar e ao aparecimento de placas de colágeno calcificadas na pleura. O diagnóstico é feito com exames de imagem e testes de função pulmonar, que mostram o padrão de favo de mel no pulmão, indicando fibrose avançada. Diferentemente da silicose, a asbestose começa na parte inferior do pulmão e progride para as regiões superiores. Atividade conceitual 3 A exposição ocupacional a partículas inorgânicas pode levar a pneumoconioses, doenças pulmonares associadas à inalação prolongada de substâncias como sílica, carvão e amianto. Essas condições resultam em complicações graves ao longo do tempo. Ao avaliar um trabalhador exposto a partículas inorgânicas, quais fatores devem ser considerados para estimar o risco de desenvolvimento de pneumoconiose? A O tipo sanguíneo e a predisposição genética do indivíduo. B A concentração de oxigênio presente nos pulmões. C A ingestão de alimentos ricos em antioxidantes. D A solubilidade e o tamanho das partículas inaladas. E A quantidade de hemoglobina circulante no organismo. A alternativa D está correta. A pneumoconiose está relacionada à inalação de partículas inorgânicas que se acumulam nos pulmões, desencadeando respostas inflamatórias e fibrose. Fatores como solubilidade e tamanho das partículas são significativos, pois partículas menores e menos solúveis penetram mais profundamente no parênquima pulmonar, persistindo por anos. A concentração de oxigênio nos pulmões não é determinante para o desenvolvimento da doença. A ingestão de antioxidantes tem efeitos gerais na saúde, mas não previne diretamente a pneumoconiose. Fatores genéticos influenciam a resposta inflamatória, mas não são os principais determinantes da doença. A quantidade de hemoglobina no sangue não interfere no risco de pneumoconiose. Aplicando o conhecimento Carlos, 56 anos, procurou atendimento médico queixando-se de falta de ar progressiva há aproximadamente dois anos. Ele relata tosse seca intermitente, fadiga e sensação de aperto no peito. Trabalhou por mais de trinta anos na construção civil, lidando diretamente com materiais de isolamento térmico e telhas. Nunca utilizou equipamentos de proteção individual adequados e não tem histórico de tabagismo. Durante o exame físico, Carlos apresentou murmúrio vesicular reduzido e estertores crepitantes nas bases pulmonares. A radiografia de tórax revelou opacidades irregulares bilaterais nas regiões inferiores dos pulmões, além de espessamento pleural. Uma tomografia computadorizada de alta resolução evidenciou placas pleurais calcificadas e áreas de fibrose intersticial com padrão de favo de mel. Diante do quadro clínico, do histórico ocupacional e dos exames de imagem, foi levantada a hipótese de asbestose. O médico solicitou exames de função pulmonar, que mostraram um padrão restritivo com diminuição da capacidade pulmonar total e da difusão de monóxido de carbono. O paciente foi orientado a evitar novas exposições, realizar acompanhamento pneumológico regular e iniciar fisioterapiarespiratória para retardar a progressão da doença. Além disso, foi informado sobre o risco aumentado de câncer de pulmão e a necessidade de vigilância contínua. Questão 1 Doenças pulmonares ocupacionais podem ser causadas pela inalação prolongada de substâncias tóxicas no ambiente de trabalho, como no caso de Carlos, levando à inflamação e à fibrose pulmonar progressiva, com impacto na função respiratória. Qual das alternativas a seguir explica o mecanismo pelo qual doenças pulmonares ocupacionais provocam fibrose pulmonar? A A inflamação crônica causada pela deposição de partículas nos pulmões ativa fibroblastos, que produzem colágeno em excesso, levando à fibrose e à perda da elasticidade pulmonar. B A exposição a substâncias tóxicas promove broncoconstrição permanente, levando à destruição dos alvéolos e à formação de enfisema pulmonar. C As partículas inaladas estimulam a hiperprodução de surfactante, levando ao acúmulo de líquido nos pulmões e à redução da difusão de oxigênio. D A deposição de substâncias no parênquima pulmonar induz apoptose de pneumócitos, reduzindo a troca gasosa sem gerar resposta inflamatória significativa. E A inalação de substâncias tóxicas reduz a atividade dos macrófagos, impedindo a eliminação de partículas e causando um aumento anormal do volume pulmonar. A alternativa A está correta. A inalação prolongada de substâncias como sílica e amianto provoca uma resposta inflamatória persistente nos pulmões. Como defesa, o corpo ativa fibroblastos, que começam a produzir colágeno em excesso, resultando em fibrose pulmonar progressiva. Esse processo torna o pulmão mais rígido e reduz sua capacidade de expandir e contrair, levando ao padrão restritivo observado em exames de função pulmonar. Questão 2 Quais fatores ocupacionais e individuais têm contribuído para o desenvolvimento da asbestose no caso de Carlos? Chave de resposta A asbestose é uma pneumoconiose causada pela exposição crônica ao amianto, sendo o principal fator de risco a inalação contínua de suas fibras. No caso de Carlos, seu trabalho na construção civil sem o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados facilitou a inalação das partículas. Além disso, o tempo prolongado de exposição, associado à capacidade das fibras de amianto de permanecerem nos pulmões por anos, favoreceu o desenvolvimento da fibrose pulmonar. Fatores individuais, como a ausência de tabagismo, podem ter reduzido a progressão da doença, mas não impediram seu desenvolvimento. A detecção precoce e o acompanhamento são importantes para evitar complicações graves. Questão 3 Explique, com base no caso de Carlos, por que a asbestose pode progredir mesmo após a interrupção da exposição ao amianto e quais complicações surgem ao longo do tempo, demandando acompanhamento regular. Chave de resposta A progressão da asbestose ocorre porque as fibras de amianto são altamente resistentes à degradação e permanecem nos pulmões por décadas, estimulando uma resposta inflamatória contínua. Esse processo leva à deposição de colágeno e ao aumento progressivo da fibrose pulmonar, mesmo sem nova exposição. Com o tempo, a redução da complacência pulmonar e a diminuição da troca gasosa resultam em insuficiência respiratória crônica. Além disso, pacientes com asbestose têm risco aumentado de desenvolver hipertensão pulmonar, mesotelioma maligno e câncer de pulmão, exigindo monitoramento contínuo. Caso prático Neste vídeo, discutiremos, o caso de Carlos, 56 anos, com asbestose, abordando diagnóstico, acompanhamento e riscos. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. 3. Calcificação patológica Tecido ósseo e remodelamento ósseo Neste vídeo, exploraremos a estrutura óssea, células do remodelamento e a regulação do cálcio por hormônios e nutrientes. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Antes de explorarmos as calcificações patológicas, precisamos lembrar de alguns conceitos importantes sobre o tecido ósseo. O corpo humano adulto é formado por um esqueleto com 206 ossos, responsáveis por dar sustentação ao corpo, proteção aos órgãos vitais, como o SNC, alojar e proteger a medula óssea (local de produção das células do sangue), sustentar os músculos esqueléticos e funcionar como armazenamento de alguns sais minerais, como o cálcio. O osso apresenta como componente estrutural o tecido ósseo, um tecido conjuntivo especializado, composto por células e uma matriz extracelular rígida. A matriz é composta de uma parte orgânica (matriz osteoide), formada principalmente por fibras de colágeno e pela substância fundamental (formadas por proteínas não colagenosas como proteoglicanos e glicoproteínas) e uma inorgânica mineralizada extremamente rígida de íons de cálcio e fosfato, que formam os cristais de hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2). Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. Esquema ilustrando a organização do tecido ósseo. O tecido ósseo é formado por diferentes tipos de células que trabalham juntas para manter o osso saudável. Vamos entender a seguir. Osteócitos Ficam dentro do osso, alojadas em pequenos espaços chamados lacunas. Comunicam-se por canais conhecidos como canalículos, formando uma rede que ajuda na troca de nutrientes. Osteoprogenitoras Vêm das células-tronco e dão origem aos osteoblastos. Osteoblastos Responsáveis por produzir a matriz óssea, ou seja, a parte do osso que dá resistência e estrutura. Osteoclastos Ajudam a remodelar e remover partes danificadas reabsorvendo o osso. Esse processo de formação e reabsorção óssea mantém o osso forte e adaptado às necessidades do corpo. O tecido ósseo é classificado como tecido ósseo compacto (denso) e tecido ósseo esponjoso (trabecular). O tecido ósseo compacto é a parte rígida, mais externa e presente em maior quantidade na parte central do comprimento dos ossos. Já o tecido ósseo esponjoso está presente em maior quantidade nas extremidades dos ossos, possui redes de espaços intercomunicantes, além de abrigar a medula óssea. Corte transversal de um osso analisado por microscopia mostrando sua estrutura. O tecido ósseo se encontra sempre em remodelamento, pois constantemente precisa modificar sua forma ou estrutura, em diversas situações, por exemplo, para um osso primário (primeiro tecido ósseo formado) tornar- se maduro, para manter sua forma ou se adaptar a novas situações fisiológicas ou patológicas. Esquema mostrando o processo de remodelamento ósseo e as células envolvidas. Na imagem anterior, é possível observar o processo de remodelamento ósseo, que é a renovação constante do tecido ósseo para manter sua resistência e adaptação ao corpo. Envolve a reabsorção óssea (remoção do osso antigo) e a formação óssea (produção de osso novo). Vamos conhecer a seguir as tapas do remodelamento ósseo Reabsorção óssea Monócitos saem dos capilares sanguíneos e se diferenciam em osteoclastos. Os osteoclastos quebram e removem a matriz óssea antiga, criando cavidades no osso. Macrófagos limpam os restos celulares e preparam a área para a formação de novo osso. Formação óssea Pré-osteoblastos se diferenciam em osteoblastos, células responsáveis por produzir nova matriz óssea. Os osteoblastos secretam osteoide, uma substância rica em colágeno que forma a base do novo osso. O osteoide é mineralizado, tornando-se osso recém-sintetizado. • • • • • • Manutenção e maturação Alguns osteoblastos ficam presos na matriz óssea e se transformam em osteócitos, células que regulam o metabolismo do osso. Células de revestimento ósseo protegem a superfície do osso e regulam sua renovação. É possível obter vitamina D de duas formas: pela alimentação ou pela exposição ao sol, quando a pele produz essa vitamina a partir da luz solar. Após ser absorvida, a vitamina D precisa passar por duas transformações para se tornar ativa: No fígado, transforma-se em 25-hidroxicolecalciferol (25-OH-D). Nos rins, essa molécula sofre mais uma modificação ese torna 1,25-di-hidroxivitamina D (1,25-OH-2D), que é a forma ativa da vitamina D no corpo. A vitamina D ativada regula o metabolismo do cálcio, mantendo a concentração plasmática nos níveis desejáveis para o bom funcionamento do organismo. Ela atua estimulando o aumento da absorção intestinal e reabsorção desses íons pelo rim, mantendo os níveis de cálcio e fósforo no plasma. Além disso, a vitamina D estimula os osteoblastos a produzir a proteína osteocalcina, estimulando a síntese de matriz e o depósito no tecido ósseo de cálcio e fosforo. A vitamina D pode ser absorvida pelos alimentos, como atum e salmão, por via intestinal ou sintetizada endogenamente mediante exposição à radiação UV. A síntese endógena de vitamina D corresponde à 90% da quantidade necessária para o organismo. Quando há exposição aos raios UV, a molécula precursora 7-desidrocolesterol, presente na epiderme, é convertida em vitamina D (também chamada de colecalciferol). O corpo controla os níveis de cálcio no sangue com a ajuda de dois hormônios principais: a calcitonina e o paratormônio (PTH). Quando os níveis de cálcio estão altos, a glândula tireoide libera calcitonina, que reduz os níveis de cálcio no sangue ao aumentar seu depósito nos ossos, para inibir a atividade dos osteoclastos e diminuir a reabsorção de cálcio pelos rins, favorecendo sua eliminação na urina. O paratormônio, produzido pelas paratireoides, tem o efeito oposto. Ele aumenta os níveis de cálcio ao estimular os osteoclastos a removerem cálcio dos ossos e liberá-lo na corrente sanguínea, e também aumenta a absorção intestinal de cálcio e estimula a produção de vitamina D, o que melhora essa absorção. Reduz, ainda, a excreção de cálcio pelos rins, para que haja maior retenção desse mineral no organismo. A calcitonina e o paratormônio (PTH) trabalham juntos para manter o equilíbrio do cálcio, o que possibilita a saúde óssea e a contração muscular. • • • • Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. Mecanismo de homeostasia de cálcio realizado pela calcitonina e pelo paratormônio (PTH). Atividade conceitual 1 O tecido ósseo está em constante remodelamento, sendo influenciado por diversos fatores fisiológicos e patológicos. Esse processo envolve a reabsorção e a deposição de matriz óssea, regulando a homeostase do cálcio. Qual fator descrito a seguir compromete diretamente a remodelação óssea e leva a alterações na densidade mineral óssea? A Aumento da atividade dos osteoblastos, promovendo maior deposição óssea. B Produção excessiva de calcitonina, estimulando a reabsorção de cálcio. C Deficiência de vitamina D, reduzindo a absorção intestinal de cálcio. D Redução da atividade dos osteoclastos, causando maior desmineralização óssea. E Níveis elevados de fosfato circulante, inibindo a função dos osteoblastos. A alternativa C está correta. A vitamina D é muito importante para a regulação do metabolismo do cálcio, pois aumenta sua absorção intestinal e a reabsorção renal, além de estimular a mineralização óssea. A deficiência desse nutriente compromete a remodelação óssea ao reduzir a disponibilidade de cálcio para os osteoblastos, resultando em menor deposição mineral e maior risco de fragilidade óssea. Calcificação patológica Neste vídeo, explicaremos a calcificação patológica, diferenciando calcificação distrófica e metastática, causas e impactos nos órgãos. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Uma vez que o tecido ósseo está em constante remodelamento, como ocorre o processo de calcificação patológica? A calcificação patológica ocorre quando sais minerais, principalmente cálcio, estão acumulados de maneira anormal em tecidos moles do corpo, como vasos sanguíneos, órgãos e cartilagens, tornando-os mais rígidos e menos funcionais. Além do cálcio, podem estar presentes outros minerais, como ferro, magnésio e fósforo. Esse processo se deve a uma inflamação, a uma lesão tecidual ou a alterações no metabolismo do cálcio, levando à formação de depósitos minerais onde normalmente não deveriam estar. Com o tempo, essa calcificação prejudica o funcionamento de órgãos e estruturas afetadas. A calcificação patológica acontece quando o cálcio se deposita em tecidos onde não deveria, formando estruturas endurecidas. Esse processo ocorre em duas etapas. Nucleação primária Pequenos cristais de cálcio começam a se formar espontaneamente e se acumulam no tecido. Nucleação secundária Esses cristais já existentes servem como base para que mais cálcio se fixe, aumentando o depósito Além disso, o cálcio circulante no sangue também contribui para a calcificação. Ao se combinar com fosfato, há a formação de fosfato de cálcio, uma substância que não se dissolve facilmente e se acumula em órgãos e vasos sanguíneos, prejudicando sua função. Esses depósitos podem ser organizados, consolidando cristais estruturados, ou desorganizados, aparecendo como massas sem forma definida. Atenção Dependendo do local de deposição, as calcificações patológicas podem ser distróficas ou metastáticas. Calcificação distrófica A calcificação distrófica é a forma mais comum de deposição anormal de cálcio e ocorre em tecidos já danificados ou mortos, sem depender dos níveis de cálcio no sangue. Esse processo acontece em locais em que houve necrose, como em tecidos lesionados por infartos, inflamações crônicas e até mesmo nas placas de aterosclerose em artérias. Também afeta valvas cardíacas que envelheceram ou sofreram danos, dificultando seu funcionamento. Além disso, está presente em doenças como trombose venosa, pancreatite aguda com necrose gordurosa e obstruções em canais biliares, prejudicando a circulação e o funcionamento desses órgãos. Atenção Fibras elásticas e colágenas, ácidos graxos, proteínas desnaturadas, entre outras estruturas, podem agir como iniciadores de nucleação primária, favorecendo, assim, a deposição de sais de cálcio precipitados. Macroscopicamente, os sais de cálcio são vistos na forma de grânulos ou grumos brancos, muitas vezes palpáveis, independentemente do local de deposição. Microscopicamente e corados com hematoxilina e eosina, os sais apresentam características granulares, amorfa e basofílicas (azuis), formando grumos, às vezes. Podem ser encontrados no espaço intracelular, extracelular ou em ambos. Eventualmente, há a formação de um foco de cristalização com células necróticas individuais, que pode ser ampliado pelo constante acúmulo de minerais. O ganho progressivo dessas camadas externas cria o que chamamos de psamomas, devido à sua semelhança com os grãos de areia. Psamomas, forma de calcificação distrófica. Calcificação metastática A calcificação metastática acontece quando há excesso de cálcio no sangue (hipercalcemia), fazendo com que se deposite em tecidos saudáveis. Diferentemente da calcificação distrófica, que ocorre em áreas lesionadas, essa forma de calcificação ocorre mesmo sem danos prévios no tecido. As principais causas desse excesso de cálcio são: hiperparatireoidismo, onde tumores das paratireoides aumentam a liberação de cálcio no sangue; destruição óssea, causada por tumores ósseos, metástases ou imobilização prolongada; problemas com a vitamina D, que aumentam a absorção de cálcio; e insuficiência renal, que altera o equilíbrio de cálcio e fósforo no corpo. Os principais órgãos afetados são rins, pulmões e estômago, além das artérias, pois nesses locais há substâncias ácidas que criam um ambiente alcalino favorável para a deposição de cálcio. Isso pode prejudicar o funcionamento desses órgãos e levar a complicações, como insuficiência renal e dificuldades respiratórias. Pulmão com calcificação metastática (calcificação em branco na região central do órgão). Atividade conceitual 2 O processo de calcificação patológica envolve a deposição anormal de sais minerais nos tecidos, podendo ocorrer em diferentes condições. As características e os fatores predisponentes variam conforme o tipo de calcificação.