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1ª UNIDADE 2 Definindo saúde e doença 2015 OK

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UNIDADE I
2. Definindo saúde e doença
2.1. Definições
A mais ambiciosa definição de saúde foi a proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença”. Essa definição, embora criticada devido à dificuldade em definir e mensurar bem-estar, permanece sendo um ideal. Em 1977, a Assembleia Mundial de Saúde decidiu que a principal meta de todos os países membros da OMS seria alcançar para todas as pessoas, até o ano 2000, um nível de saúde que permitisse o desempenho de uma vida social e economicamente produtiva. Esse compromisso de “Saúde para todos” foi renovado em 1998 e novamente em 2003.
Definições mais práticas de saúde e doença tornam-se necessárias; a epidemiologia concentra-se em aspectos da saúde que são relativamente fáceis de medir e prioritários à ação. As definições dos estados de saúde utilizadas pelos epidemiologistas tendem a ser extremamente simples, como, por exemplo, “doença presente” ou “doença ausente”. 
O desenvolvimento de critérios para determinar a presença de uma doença requer a definição de “normalidade” e “anormalidade”. Entretanto, pode ser difícil definir o que é normal, e frequentemente não há uma clara distinção entre normal e anormal, especialmente quando são consideradas as variáveis contínuas com distribuição normal que podem estar associadas a diversas doenças. Por exemplo, algoritmos sobre o ponto de corte para o tratamento da pressão arterial são arbitrários. Isso ocorre porque que há um contínuo aumento no risco de doença cardiovascular a cada nível de aumento da pressão. Um ponto de corte específico para um valor anormal é baseado na definição operacional e não somente em um valor absoluto qualquer. Considerações similares aplicam-se para riscos à saúde: por exemplo, os algoritmos que consideram o nível seguro da pressão sanguínea são baseados no julgamento da evidência disponível, que são passíveis de modificações ao longo do tempo.
2.2. Critérios diagnósticos
Os critérios diagnósticos são frequentemente baseados nos sintomas, sinais, história clínica e resultados de testes. Por exemplo, a hepatite pode ser identificada pela presença de anticorpos no sangue; a asbestose pode ser identificada pelos sinais e sintomas específicos de alterações pulmonares, comprovação radiográfica de fibrose do tecido pulmonar ou espessamento pleural e história de exposição ao asbesto. A Tabela 2.1 mostra que o diagnóstico de febre reumática pode ser baseado em várias manifestações da doença, com alguns sinais sendo mais importantes do que outros.
Em algumas situações, o uso de critérios mais simples é suficiente. Por exemplo, a redução de mortalidade por pneumonia bacteriana em crianças de países em desenvolvimento, depende de detecção precoce e tratamento rápido. O algoritmo para manejo de casos proposto pela OMS recomenda que a detecção dos casos de pneumonia seja baseada somente nos sinais clínicos, sem ausculta, radiografia pulmonar ou testes laboratoriais. O único equipamento requerido é um relógio para contar a frequência respiratória. O uso de antibióticos em casos suspeitos de pneumonia, baseada apenas nos achados clínicos, está recomendado em locais onde existe alta taxa de pneumonia bacteriana e onde há falta de recursos que permitam diagnosticar outras causas.
Do mesmo modo, em 1985, a OMS definiu o critério diagnóstico para AIDS para ser utilizado em localidades com recursos diagnósticos limitados. Essa definição requer a presença de somente dois sinais maiores (perda de peso de pelo menos 10% em relação ao peso total, presença de diarreia crônica ou febre prolongada) e um sinal menor (tosse persistente, herpes-zóster, linfadenopatia generalizada, etc.). Em 1993, o Center for Disease Control (CDC) decidiu considerar como portador da doença todos os indivíduos infectados com o vírus HIV com contagem de CD4+ e células T menores que 200 por microlitro.
2.3. História natural das doenças
A epidemiologia está, também, preocupada com a evolução e o desfecho (história natural) das doenças nos indivíduos e nos grupos populacionais (Figura 1.4). A aplicação dos princípios e métodos epidemiológicos no manejo de problemas encontrados na prática médica com pacientes levou ao desenvolvimento da epidemiologia clínica.
A história natural da doença é o curso da doença desde o início até sua resolução, na ausência de intervenção. Em outras palavras é o modo próprio de evoluir que tem toda doença ou processo, quando se deixa seguir seu próprio curso. O processo se inicia com a exposição de um hospedeiro suscetível a um agente causal e termina com a recuperação, deficiência ou óbito, ou seja, é o nome dado ao conjunto de processos interativos compreendendo as inter-relações do agente, do hospedeiro e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte.
A história natural da doença tem desenvolvimento em dois períodos sequenciados:
2.3.1. Período de Pré-Patogenese ou Epidemiológico
É a interação preliminar do hospedeiro + agente + meio ambiente na produção da doença.
É a própria evolução das inter-relações dinâmicas, que envolvem, de um lado os condicionantes sociais e ambientais, e do outro, os fatores próprios do suscetível, até que se chegue a uma configuração favorável à instalação da doença. 
Toda condição de saúde e doença no homem tem sua origem em outros processos, antes que o próprio homem seja envolvido. 
2.3.2. Período de Patogênese ou Patológico.
É a evolução de um distúrbio no homem, desde a primeira interação com estímulos que provocam a doença até mudanças de forma e função que daí resultam, antes que o equilíbrio seja alcançado ou restabelecido, ou até que se siga um defeito, invalidez ou morte.
O conceito de estrutura epidemiológica facilita a compreensão do comportamento das doenças infecciosas na comunidade, ao passo que o de história natural e de espectro clínico das doenças aborda a mesma questão, mas no plano individual.
A história natural das doenças abrange o conhecimento da evolução da doença num indivíduo, na ausência de tratamento, num período suficiente para que chegue a um desfecho (cura ou óbito). Esse processo, portanto, tem início com a exposição a fatores capazes de causar a doença e seu desenvolvimento, se não houver a intervenção médica, e culminará com a recuperação, incapacidade ou morte. As fases da história natural das doenças são apresentadas na abaixo. Embora o tempo de evolução e as manifestações específicas possam variar de pessoa para pessoa, as características gerais da história natural de muitas doenças são bem conhecidas, permitindo a aplicação de medidas de intervenção (de prevenção ou terapêuticas) que podem alterar o seu curso pela cura, diminuição da incapacidade ou pelo prolongamento da vida. Nas doenças infecciosas, a história natural inicia-se com a exposição efetiva de um hospedeiro suscetível a um agente (microrganismo ou parasita). A partir desse momento, via de regra, temos um período de modificações anatômicas e/ou funcionais que caracterizam a fase subclínica ou inaparente, que terminará com o início dos sintomas. Essa fase é denominada período de incubação. Para as doenças crônicas, essa fase é chamada de período de latência. Portanto, devemos entender por período de incubação o intervalo entre a exposição efetiva do hospedeiro suscetível a um agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença nesse hospedeiro. O período de incubação das doenças pode apresentar um intervalo de variação; o da hepatite, por exemplo, situa-se entre duas e seis semanas. Vale assinalar que, embora as doenças infecciosas sejam inaparentes durante o período de incubação, algumas alterações patológicaspodem ser detectadas durante essa fase por meio de métodos laboratoriais. Muitos programas de triagem (screening) têm por objetivo tentar identificar a doença nessa fase da história natural, uma vez que, frequentemente, a intervenção nesse momento é mais efetiva. O início dos sintomas – momento denominado horizonte clínico – marca a transição entre as fases subclínica e clínica da doença. Em boa parte dos casos, o diagnóstico ocorre nesse momento.
No entanto, por variações individuais, em algumas pessoas o progresso da doença a partir da fase subclínica nem sempre se faz na direção da fase clínica e, mesmo quando isso ocorre, as manifestações podem variar amplamente no que tange ao grau de gravidade da doença. A figura abaixo apresenta-nos o conceito de “iceberg”, que procura salientar que, muitas vezes, boa parte dos casos ficam abaixo do horizonte clínico e, portanto, não podem ser identificados com fundamento em sintomas e sinais. Por outro lado, aqueles clinicamente discerníveis podem variar quanto à gravidade.
Portanto, o espectro clínico das doenças pode ser muito amplo, variando em diferentes proporções de:
• casos inaparentes;
• com manifestações clínicas moderadas;
• graves, evoluindo ou não para óbito.
O conhecimento do verdadeiro espectro clínico das doenças infecciosas é fundamental para compreendermos seu comportamento na comunidade e, por decorrência, estabelecermos medidas eficientes de controle. Quanto maior a proporção de casos inaparentes, maiores serão as dificuldades de conhecermos a cadeia do processo infeccioso e de identificarmos os principais responsáveis pela manutenção da transmissão da doença na comunidade, uma vez que os casos conhecidos representam somente o topo do iceberg.
	
2.4. Níveis e Medidas de Prevenção
As mudanças no decorrer do tempo são influenciadas por mudanças na estrutura etária da população, como também pelo surgimento e desaparecimento de doenças epidêmicas. Esta constante mudança nos padrões de morbi-mortalidade indica que as principais causas de doença são preveníveis.
A epidemiologia, ao identificar causas de doenças que são passíveis de modificação, pode desempenhar um papel central na prevenção.
Exemplos são os estudos relacionados à doença coronariana, doenças ocupacionais, sequelas de acidentes de trânsito, dentre outras.
2.4.1. Prevenção Primária
Impedir o surgimento de doenças e estabelecimento de padrões de vida, sociais, econômicos e culturais que sabidamente contribuem para um elevado risco de doença. 
Primordial ou Promoção à Saúde:
É feita através de medidas gerais:
moradia adequada;
educação;
áreas de lazer;
alimentação adequada, etc.
Primário ou Proteção Específica:
É limitar a incidência de doença através do controle de suas causas e de fatores de risco:
imunização;
saúde ocupacional;
higiene;
proteção contra acidentes;
aconselhamento genético; e
controle de vetores.
2.4.2. Prevenção Secundária:
Curar o paciente e reduzir as consequências mais sérias, através do diagnóstico precoce e tratamento/limitação da incapacidade.
Este nível de prevenção é dirigido para o período entre o início da doença e o momento em que normalmente seria feito o diagnóstico, tendo como objetivo reduzir a prevalência da doença.
Diagnóstico Precoce:
inquéritos para descoberta de casos na comunidade;
exames periódicos, individuais, para detecção precoce dos casos;
isolamento para evitar propagação da doença; tratamento para evitar a progressão da doença.
Tratamento/ Limitação da Incapacidade:
Evitar futuras complicações, evitar sequelas.
2.4.3. Prevenção Terciária
Reabilitação:
Impedir a incapacidade total:
Evitar futuras complicações, evitar sequelas.
Fisioterapia;
Terapia Ocupacional;
Emprego para o reabilitando.
Epidemiologia-2015
Ragner Borgia Junott
	HISTÓRIA NATURAL DE QUALQUER DOENÇA DO HOMEM
	PERÍODO DE PRÉ-PATOGÊNESE
	PERÍODO DE PATOGENESE
	PROMOÇÃO DA SAÚDE
	PROTEÇÃO
ESPECIFICA
	DIAGNOSTICO PRECOCE
TTO IMEDIATO
	LIMITAÇÃO DA INVALIDEZ
	REABILITAÇÃO
	
- Educação sanitária.
-Bom padrão de nutrição, ajustado as fases de desenvolvimento da vida.
- Atenção ao desenvolvimento da personalidade
- Moradia adequada, recreação e condições agradáveis de trabalho.
- Aconselhamento matrimonial e educação sexual.
- Genética.
- Exames seletivos periódicos
	
- Uso de imunização especifica.
- Atenção à higiene pessoal.
- Hábito de saneamento do ambiente.
- Proteção contra riscos ocupacionais.
- Proteção contra acidentes.
- Uso de alimentos específicos.
- Proteção contra substancias.
- Evitação contra alérgenos
	
- Medidas individuais e coletivas para descobertas de casos.
- Pesquisas de triagem.
- Exames seletivos objetivos:
- Curar e evitar o processo da doença.
- Evitar a propagação de doenças contagiosas.
- Evitar complicações e sequelas.
- Encurtar o período de invalidez.
	
- Tratamento adequado para interromper o processo mórbido e evitar futuras complicações e sequelas.
- Provisão de meios para limitar a invalidez e evitar a morte.
	
- Educação do público e indústria no sentido de que empregue o reabilitado
-Emprego tão completo quanto possível.
- Colocação seletiva.
- Terapia Ocupacional em Hospitais.
- Prestação de Serviços Hospitalares e Comunitários para a reeducação e treinamento a fim de possibilitar a utilização máxima da capacidade restante.
- Utilização de Asilos.
	PREVENÇÃO PRIMÁRIA
	PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
	PREVENÇÃO TERCEÁRIA
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