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2 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 3 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 3 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05 Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111 www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300 GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO. Material Didático: Ayeska Machado Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes Diagramação: Heitor Gomes Andrade PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes, Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profi ssionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 4 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confi ança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, refl exiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profi ssionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfi l profi ssional, objetivando o aprimoramento para sua atua- ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualifi car ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! . É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profi ssional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora Rinnara Lopes de Oliveira O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especifi cadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profi sisional. A presente unidade sintetiza conhecimentos relacionados à Epidemiolo- gia e Vigilância Sanitária. Tem como objetivo de trazer os conhecimen- tos básicos, os principais conceitos e métodos que envolvem a epide- miologia. Os assuntos abordados estão organizados em três capítulos sendo eles: a Construção da Vigilância em Saúde e Conceitos, a Epide- miologia e os Serviços de Saúde e medidas de Ocorrência dos Eventos relacionados à Saúde-doença. É inegável a importância da Epidemiolo- gia na Organização dos Serviços de Saúde e suas variadas utilizações, como instrumento de conhecimento, ela apresenta a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações, direcionando o planejamento, execução, avaliação das áreas de prevenção, estabele- cendo prioridades, controle e tratamento de doenças, assim como a sua Etiologia. Entretanto, espera-se que ao fi nal desta unidade os estudan- tes tenham adquirido conhecimentos e habilidades sobre Epidemiologia e a sua aplicação nos serviços de saúde. Epidemiologia. Vigilância Sanitária. Serviços de Saúde. 9 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 9 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 A CONSTRUÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE E CONCEITOS Introdução a Epidemiologia_________________________________ Apresentação do módulo___________________________________ 15 11 Estudos Epidemiológicos___________________________________ 24 Causalidade_______________________________________________ 17 Modelos de Atenção à Saúde no Brasil________________________ 36 O uso da Epidemiologia no contexto da Estratégia Saúde da Fa- mília (ESF)________________________________________________ 40 Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias_____________ 21 CAPÍTULO 02 EPIDEMIOLOGIA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE CAPÍTULO 03 MEDIDAS DE OCORRÊNCIA DOS EVENTOS RELACIONADOS À SAÚ- DE-DOENÇA Endemias, Epidemias, Surtos e Pandemias____________________ 20 Vigilância de Doenças e Agravos à Saúde______________________ 42 Recapitulando__________________________________________________ 51 Defi nindo Saúde e Doença__________________________________ 56 A Epidemiologia na Organização dos Serviços de Saúde_________ 39 Recapitulando_____________________________________________ 32 Utilizações da Informação Disponível para Medir Saúde-doença: Mortalidade e Morbidade___________________________________ 61 Indicadores de Saúde: Tipos e Aplicações______________________ 63 Medindo a Ocorrência de Doenças___________________________ 57 10 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 10 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica__ 67 Recapitulando_________________________________________________ 75 Fechando a Unidade_______________________________________ 80 Referências_______________________________________________ 83 11 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S A presente unidade sintetiza conhecimentos relacionados à Epidemiologia e Vigilância Sanitária. Tem como objetivo de trazer os conhecimentos básicos na área da Epidemiologia, uma vez que este tema é muito amplo. Ressaltamos que é um tema que tem crescido na área da saúde. O primeiro capítulo A Construção da Vigilância em Saúde e Conceitos inicia com uma pequena explanação da história da Vigilância em Saúde e de como surgiu à epidemiologia no Brasil. Apresenta o con- ceito de Epidemiologia, de forma simplifi cada: Signifi ca o estudo sobre a população, que direcionado para o campo da saúde pode ser com- preendido como o estudo sobre o que afeta a população. Neste capítulo também estudaremos termosda Epidemiologia, tais como: Casualidade na Saúde, Epidemias, Endemias, Surtos e Pandemias. Finalizando o capítulo temos uma breve explanação dos estudos epidemiológicos que podem ser classifi cados em observacionais ou experimentais. A escolha de um delineamento apropriado para um estudo é um passo importante em uma investigação epidemiológica. A Epidemiologia e os Serviços de Saúde é o tema do segundo capítulo. Inicia este capítulo com os modelos de atenção à saúde e a Epidemiologia na Organização dos Serviços de Saúde e o uso da Epi- demiologia no contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF). É ine- gável a importância da epidemiologia na organização dos serviços de saúde e suas variadas utilizações, como instrumento de conhecimento, ela apresenta a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações, direcionando o planejamento, execução, avaliação das áreas de prevenção, estabelecendo prioridades, controle e tratamento de doenças, assim como a sua etiologia. E por fi m deste capítulo, dois temas de grande relevância a Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis e Vigilância Epidemiológica de Doenças Não Transmis- síveis. O Brasil, tem passado por processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional desde a década de 60, resultando em al- terações nos padrões de ocorrência de patologias, como um aumento significativo da prevalência das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Além disso, temos no capítulo 3 mais um tema relevante na epidemiologia: Medidas de Ocorrência dos Eventos relacionados à Saú- de-doença. Medir a saúde e doença é fundamental para a prática da epidemiologia, pois diversas medidas são utilizadas para caracterizar a saúde das populações. Apresentaremos as principais medidas de frequência de doenças e os principais indicadores de saúde que servem para avaliar o cenário epidemiológico de uma população e estimar o seu 12 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S nível de desenvolvimento social e econômico, tendo em vista que vários indicadores de saúde expressam indiretamente a falta de infraestrutura e organização dos serviços de saúde, bem como a falta de educação e informação em saúde por parte da sociedade. Finalizando o capítulo com os Sistemas de Informação em Saúde que é uma ferramenta de planejamento para as ações de saúde. Principais sistemas: Sistema de Informação de Agravos de Notifi cação (SINAN), Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações Nascidos Vivos (SINASC), Sistema de Informações Hospi- talares (SIH/SUS), e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB), SISPNI. Entretanto, espera-se que ao fi nal desta unidade os estudantes tenham adquirido conhecimento e habilidade sobre epidemiologia e sua aplicação nos serviços de saúde. 13 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Vamos fazer uma breve descrição da história da Vigilância em Saúde e de como surgiu à Epidemiologia no Brasil. O descobrimento do Brasil coincidiu com o nascimento da medicina moderna no mundo, com investigações, estudos e descobertas que darão à medicina o cunho científico que passará a ter. As ações sobre as doenças transmissíveis em nosso meio ini- ciaram na época Brasil Colonial, quando os serviços de saúde, organi- zados precariamente, preocupavam-se com as doenças pestilenciais, principalmente a varíola e a febre amarela. A prática médica era basea- da em conhecimentos tradicionais e não científicos. A estratégia de con- trole utilizada na época baseava-se no afastamento ou no confinamento dos doentes nas Santas Casas de Misericórdia (BRASIL, 2005a). Para tentar combater a febre amarela, em Pernambuco, no fi - nal do Século XVII, iniciam uma nova pratica com medidas voltadas para indivíduos. Para evitar a propagação da doença, aterram-se águas estagnadas, limpam-se ruas e casas, criam-se cemitérios, purifica-se o ar. O fator desencadeante dessas medidas, contudo, é a própria ocor- rência de epidemias (BRASIL, 2005a). A CONSTRUÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 14 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S De acordo com Brasil (2005a) somente a partir do Século XIX, estruturam-se ações que visam à promoção da saúde, antes mesmo da ocorrência das doenças. Na década de 80, aconteceu o movimen- to denominado Reforma Sanitária para tentar reestruturação da saú- de com medidas que apontavam para à unificação dos componentes assistencial e preventivo em um comando único, organizado de forma descentralizada. Entre a promulgação da Constituição de 1988, que criou o SUS, e a sua regulamentação dada pela Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei n.º 8.142, de 20 de dezembro de 1990, agregando todos os serviços da esfera federal, estadual, munici- pal e os serviços privados, passaram-se quase dois anos de convivên- cia com uma vasta legislação normativa que, ainda, regulava mecanis- mos e condições de repasse de recursos aos Estados e Municípios, até a efetiva unificação do setor no Ministério da Saúde (BRASIL, 2005a). Segundo Gomes (2015), a proposta de criação do Centro Na- cional de Epidemiologia (CENEPI), vinculado à Fundação Nacional de Saúde, surgiu em 1990. Desde a sua criação, o CENEPI buscou pro- mover o uso da epidemiologia em todos os níveis do SUS e subsidiou a formulação e a implementação das políticas de saúde nacionais. O CENEPI desenvolveu trabalhos conjuntos, integrando universidades e serviços de saúde, para o estabelecimento e consolidação de sistemas de informação (Sistema Nacional de Mortalidade (SIM), Sistema Na- cional de Nascidos Vivos (SINASC), Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), entre outros), constituição da Rede Nacional de In- formação para a Saúde (RNIS) e da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA), capacitação de recursos humanos e apoio à pesquisa. Principalmente, o CENEPI acumulou importante experiência em vigilância epidemiológica de doenças e agravos inusitados à saúde. Em 27 de janeiro de 1999, o Congresso Nacional promulgou a Lei n.º 9.782, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Vigilância Sa- nitária e cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que substitui a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. A ANVISA tem por finalidade institucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à Vigilância Sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles rela- cionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras (GO- MES, 2015). Criada em 9 de junho de 2003, pelo Decreto n.º 4.726, a Secre- taria de Vigilância em Saúde (SVS), reforçando uma área extremamente estratégica do Ministério da Saúde, fortalecendo e ampliando as ações 15 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S de vigilância epidemiológica. As atividades que eram desempenhadas pelo extinto Centro Nacionais de Epidemiologia, da Funasa, passaram a ser executadas pela SVS/MS (BRASIL, 2005a). Entre elas, incluem-se os programas nacionais de combate à dengue, à malária e a outras doenças transmitidas por vetores, o Pro- grama Nacional de Imunização, a prevenção e controle de doenças imunopreveníveis, a vigilância das doenças de veiculação hídrica e ali- mentar, o controle de zoonoses e a vigilância de doenças emergentes. A Secretaria de Vigilância em Saúde passa a agregar impor- tantes programas nacionais de combate a doenças que se encontravam em outras áreas do Ministério da Saúde, como tuberculose,hansenía- se, hepatites virais, DST e AIDS. Também passa a coordenar as ações do Sistema Único de Saúde na área de Vigilância Ambiental e de Vigi- lância de Agravos de Doenças não Transmissíveis e seus fatores de risco. A SVS atua, ainda, na construção de parcerias com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, bem como com instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais. De acordo com Brasil (2005)aA vigilância em saúde deve ser entendida como um modelo assistencial alternativo, que deve ser de- senvolvido a partir de problemas reais de uma área delimitada, em uma perspectiva de intersetorialidade. Ela está fundamentada nos princípios da universalidade, integralidade e equidade das ações de promoção da saúde entre os indivíduos e grupos familiares, das ações das vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária dirigidas à prevenção de riscos e danos; e da atenção primária, na moradia e nas unidades de saúde, com ênfase em grupos populacionais específicos e na reorientação da demanda a serviços, envolvendo vários programas. INTRODUÇÃO A EPIDEMIOLOGIA Segundo Pereira (2013), o signifi cado etimológico do termo epidemiologia deriva do grego: epi = sobre; demo = população; logia = estudo. Portanto, de forma simplifi cada, o termo Epidemiologia signifi ca o estudo sobre a população, que direcionado para o campo da saúde pode ser compreendido como o estudo sobre o que afeta a população. Em 1802, foi o primeiro registro do emprego dessa expressão, na Espanha, no sentido de historiar epidemias. À medida que o conhe- cimento sobre as doenças infectocontagiosas evoluiu durante o século XIX, a evolução do conhecimento epidemiológico avançou na perspec- tiva de identificar os mecanismos de transmissão das doenças e de controle de epidemias (PEREIRA, 2013). 16 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Temos várias defi nições do termo epidemiologia, a Associa- ção Internacional de Epidemiologia (IEA), em seu “Guia de Métodos de Ensino” (1973), define epidemiologia como “O estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coleti- vidades humanas. Enquanto a clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a epidemiologia estuda sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas, podendo ser grupo peque- nos ou numerosos”. De acordo com a IEA, são três os principais objetivos da epi- demiologia: I - Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde das populações humanas; II - Proporcionar dados essenciais para o planejamento, exe- cução e avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças, bem como para estabelecer prioridades; III - Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. A partir de seus objetivos, a Epidemiologia pode ser conceitua- da como: Ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a distribuição e os fatores determinantes das doenças, da- nos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicos de prevenção, controle ou erradicação de doenças e forne- cendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administra- ção e avaliação das ações de saúde (PEREIRA, 2013). Segundo Pereira (2013), a epidemiologia tem como princípio básico o entendimento de que os eventos relacionados à saúde como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de saúde não se distribuem ao acaso entre as pessoas. Há grupos populacionais que apresentam mais casos de certo agravo, e há outros que morrem mais por determinada doença. Tais diferenças ocorrem porque os fatores que infl uenciam o estado de saúde das pessoas não se distribuem igualmente na população, portanto, acometem mais alguns grupos do que outros. Resumindo, pode-se afi rmar que a distribuição das doenças na população é infl uenciada pelos aspectos biológicos dos indivíduos, pelos aspectos socioculturais e econômicos de sua comunidade e pe- los aspectos ambientais do seu entorno, fazendo com que o processo saúde-doença se manifeste de forma diferenciada entre as populações. 17 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Importante também citar o conceito de Vigilância Epidemioló- gica de acordo com a Lei Orgânica da Saúde – Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990: Vigilância Epidemiológica é o conjunto de ações que proporcionam o conhe- cimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores deter- minantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. CAUSALIDADE EM SAÚDE Para o desenvolvimento de ações preventivas, controle e tra- tamento de doenças e agravos, a identifi cação de fatores, mecanismos causais e a origem de um fenômeno são de extrema importância. Na epidemiologia, conhecer e identifi car os motivos de adoeci- mento da população possibilita atuar sobre o efeito, com possibilidades reais de prevenção e interrupção da cadeia da doença. Nessa perspectiva, vários estudos foram desenvolvidos para aprimoramento de critérios e modelos que nos permite classifi car as- sociações como causais e não causais. Conheceremos a seguir, três modelos explicativos da ocorrência de doenças: o Modelo Ecológico, a Rede de Causas e o Modelo Sistêmico. Modelo Ecológico Em meados do século 20, o modelo ecológico de explicação da ocorrência de doenças popularizou-se, juntamente com a propagação dos princípios da medicina preventiva. No modelo ecológico, a saúde é entendida como o resultado da interação do indivíduo e o meio em está inserido. Essa abordagem nos permite entender como o ambiente pode afetar os indivíduos e as variadas infl uências sofridas ao longo do seu desenvolvimento. A Tríade ecológica é composta pelo agente, o hospedeiro e o ambiente que interagem entre si. A quebra do equilíbrio deste sistema pode dar origem a doenças. Veja a representação na fi gura a seguir: 18 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Fonte: Adaptada de: LEAVELL, H.R.; CLARK, E.G. Medicina preventiva. Rio de Janeiro: McGraw- Hill, 1976. Modelo Rede de Causas O modelo de rede de causas, relacionado à ocorrência de doenças fi rma-se na teoria de que as doenças originam-se de múltiplas causas que estão relacionadas sequencialmente, organizadas em vias distintas ou mecanismos causais, algumas mais próximas ou mais dis- tantes ao processo de adoecer. A fi gura mostra a representação desse modelo trazendo um exemplo da rede de causas de uma parasitose: Fonte: UNA-SUS/UFMA. CARVALHO C. A.; PINHO J. R. O.; GARCIA P. T. Epidemiologia. Conceitos e Aplicabilidade no Sistema Único de Saúde. São Luís: 2017. Fonte: UNA-SUS/UFMA. CARVALHO C. A.; PINHO J. R. O.; GARCIA 19 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Observando a fi gura, concluímos que a classe social baixa está ligada ao acesso a serviços de saúde, saneamento básico, água tratada e consumo de alimentos contaminados, sendo considerados fa- tores distais para causas de doenças. Esses fatores podem aumentar a possibilidade da ocorrência de uma epidemia da doença, que, por sua vez, sofre infl uência de outros fatores proximais como os biológicos, quando não controlados ou tratados rapidamente. Modelo Sistêmico O modelo sistêmico explica os processos multicausais de adoe- cimento ou condições de saúde, de uma forma orgânica, relacionando todas as dimensões dos indivíduos, desde as biológicas, referentes ao organismo humano, passando por aquelas ligadas ao modo de vida dos indivíduos e à família, chegando até à estrutura da sociedade. Ocorren- do mudanças no estado de qualquer um destes elementos, consequen- temente, os outros elementos serão afetados. A fi gura a seguir, demostra a teoria de que ascausas das doen- ças estão em sistemas distintos de organização, iniciando pelo elemen- to celular até a sociedade onde o indivíduo está inserido, atravessando os níveis intermediários, como órgãos e os indivíduos e família. Diferente dos modelos ecológicos e de rede de causas, o mo- delo sistêmico não deixa clara a origem das doenças ou agravos, fi can- do difícil a intervenção sobre eles, porém traz uma visão mais abran- gente do processo saúde-doença, ao mostrar uma estrutura hierárquica entre os níveis de atuação das causas. 20 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S ENDEMIAS, EPIDEMIAS, SURTOS E PANDEMIAS Conhecer sobre Endemias, Epidemias, Pandemias e Surtos é fundamental para desenvolvimento de ações de prevenção e controle de problemas de saúde da população. Segundo Gordis (2010): A endemia é defi nida como a presença habitual de uma doença, dentro dos limites esperados, em uma determinada área geográfi ca, por um período de tempo ilimitado. Pode, também, referir-se à ocorrência usual de uma determinada doença, dentro de uma área. A endemia acontece quando há uma constante repetição de agravos na comunidade, em um espaço limitado, denominado faixa endêmica, sem deslocamento importante da população em uma zona territorial e de causa local. Como exemplo, podemos citar: malária, fe- bre amarela, doença de Chagas, esquistossomose etc. (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009). A epidemia é caracterizada pelo aumento do número de casos de uma doença transitória, comparado aos períodos anteriores e que pode se espalhar rapidamente por uma região, atacando simultanea- mente grande número de indivíduos. A quantidade de casos de uma epidemia vai mudar de acordo com o agente, o tipo e o tamanho da população submetida, além do período e do local de ocorrência. Um único caso inédito em uma região ou determinada região que esteja há muitos anos com a doença erra- dicada, representa uma epidemia, pois constata uma alteração impor- tante na estrutura epidemiológica relacionada à doença (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009). A pandemia trata-se a uma epidemia de grandes proporções geográfi cas, disseminando amplamente uma doença, de forma dese- quilibrada, atingindo vários países, inclusive mais de um continente. Como exemplo, podemos citar a doenças como a AIDS e a Infl uenza A (H1N1). Quando as circunstâncias favorecem a disseminação de agen- tes infecciosos no ambiente e conectam-se a um grande número de pessoas suscetíveis, pode abrir espaço para o surgimento de uma pan- demia. Já o surto epidêmico é caracterizado por uma epidemia de pro- porções reduzidas, atingindo pequena comunidade humana, por exem- plo: bairros, creches, presidio, escolas, em que todos os casos estão relacionados entre si, com a mesma fonte de infecção ou de contami- 21 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S nação ou o mesmo fator de risco, o mesmo quadro clínico e ocorrência simultânea. Uma epidemia ou surto pode surgir a partir das seguintes si- tuações: - Quando inexiste uma doença em determinado lugar e aí se introduz uma fonte de infecção ou contaminação, por exemplo, um caso de cólera ou um alimento contaminado, dando início ao aparecimento de casos ou epidemia. - Quando ocorrem casos esporádicos de uma determinada doença e começa a haver aumento na incidência além do esperado. - A partir de uma doença que ocorre endemicamente e alguns fatores desequilibram a sua estabilidade, iniciando uma epidemia. INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE CASOS E EPIDEMIAS O objetivo principal da investigação de uma epidemia ou surto de determinada doença infecciosa é identifi car formas de interromper a transmissão e evitar a ocorrência de novos casos (Brasil, 2005). As epidemias ou surtos, geralmente, são ocasionados por dois fatores: a) Aumento do número de suscetíveis: quando o número de suscetíveis em um local é sufi cientemente grande, a introdução de um caso (alóctone) de uma doença transmissível gera diversos outros, con- fi gurando um grande aumento na incidência. O aumento do número de suscetíveis pode apresentar diversas causas, como: nascimentos, mi- grações, baixas coberturas vacinais. b) Alterações no meio ambiente que favorecem a transmissão de doenças infecciosas e não infecciosas: - Contaminação da água potável por dejetos favorece a trans- missão de febre tifoide, hepatite A, hepatite E, cólera, entre outras. - Aglomeração de pessoas em abrigos provisórios, em situa- ções de calamidade, facilita a eclosão de surtos de gripes, sarampo e outras doenças respiratórias agudas. - Aumento no número de vetores infectados, responsáveis pela transmissão de algumas doenças em razão de condições ambientais favoráveis e inexistência ou inefi cácia das medidas de controle, facilita o crescimento do número de agravos, como no caso de malária, dengue. - Contaminação de alimentos, por micro-organismos patogêni- cos, ocasiona surtos de intoxicação, toxinfecção e infecção alimentar, frequentes em locais de refeições coletivas. - Extravasamento de produtos químicos poluindo o ar, solo e 22 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S mananciais leva a intoxicações agudas na comunidade local. - Emissão descontrolada de gás carbônico por veículos motori- zados leva a problemas respiratórios agudos na população. As etapas de investigação de epidemia ou surto incluem: Fonte: Adaptado de: BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009 Na ocorrência de uma epidemia é importante verifi car se a suspeita inicial é de fato uma suspeita ou confi rmação da doença. Em seguida deve ser realizada a coleta dos dados que servirão como base para os passos da investigação. - Etapa 1 - Confi rmação do diagnóstico da doença: Na ocorrência de uma epidemia é importante verifi car se a suspeita inicial é de fato uma suspeita ou confi rmação da doença. Em seguida deve ser realizada a coleta dos dados que servirão como base para os passos da investigação. Conforme a suspeita, um plano diag- nóstico deve ser defi nido para orientar a coleta de material para exames laboratoriais, envolvendo a depender da doença, amostra proveniente dos indivíduos (fezes, sangue, líquor, etc.) e do ambiente (água, veto- res, mechas, etc.) (Brasil, 2009). - Etapa 2 - Confi rmação da existência de epidemia/surto: A confi rmação de uma epidemia ou surto abrange o estabeleci- mento do diagnóstico da doença e do estado epidêmico. A confi rmação é realizada com base na comparação dos coefi cientes de incidência (ou do número de casos novos) da doença no momento de ocorrência do evento investigado, com aqueles usualmente verifi cados na mesma 23 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S população (Brasil, 2009). - Etapa 3 – Caracterização da epidemia: As informações disponíveis devem ser organizadas de forma a permitir a análise de algumas características e responder algumas questões relativas à sua distribuição no tempo, lugar e pessoa. As in- formações relativas ao tempo abrangem o período de duração da epi- demia e o período provável de exposição. As informações referentes ao lugar envolvem a distribuição geográfi ca predominante, o bairro de residência, escola, local de trabalho ou outra. As características consi- deradas são as individuais (sexo, idade, etnia, estado imunitário, estado civil), atividades (trabalho, esporte, práticas religiosas, costumes, etc.) e condições de vida (estrato social, meio ambiente, situação econômica) (Brasil, 2009). - Etapa 4 - Formulação de hipóteses preliminares: As hipóteses devem ser testáveis, uma vez que a avaliação faz parte de uma das etapas de uma investigação epidemiológica. As hipóteses provisórias são elaboradas com base nas informações obti- das anteriormente(análise da distribuição, segundo características de pessoa, tempo e lugar) e na análise da curva epidêmica (Brasil, 2009). - Etapa 5 – Análises parciais: Em cada uma das etapas da investigação e com prazos defi ni- dos de acordo com a magnitude e gravidade do evento (diária, semanal, mensal), deve-se realizar a consolidação dos dados disponíveis, análi- ses clínicas epidemiológicas, identifi cação de informações adicionais e defi nição de medidas de controle (Brasil, 2009). - Etapa 6 – Busca ativa de casos: Tem como objetivo reconhecer e proceder à investigação de casos semelhantes na região com suspeita da existência de contatos e/ ou fonte de contágio ativa (Brasil, 2009). - Etapa 7 - Busca de dados adicionais: Quando necessário, pode ser realizada uma investigação mais minuciosa de todos os casos ou de amostra representativa dos mes- mos, com o objetivo de esclarecer/fortalecer as hipóteses iniciais (Bra- sil, 2009). - Etapa 8 – Análise fi nal: Os dados coletados são consolidados em tabelas, gráfi cos, mapas da área em estudo, fl uxos de pacientes, dentre outros (Brasil, 2009). - Etapa 9 – Medidas de controle: Após a identifi cação das fontes de infecção, do modo de trans- missão e da população exposta a elevado risco de infecção, deverão ser recomendadas as medidas adequadas de controle e elaborado um 24 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S relatório para ser divulgado a todos os profi ssionais de saúde (Brasil, 2009). - Etapa 10 – Relatório fi nal: Os dados da investigação deverão ser resumidos em um rela- tório que descreva o evento e todas as etapas da investigação (Brasil, 2009). - Etapa 11 – Divulgação: O relatório deve ser encaminhado aos profi ssionais que de- ram assistência médica aos casos e aos integrantes da investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade, autoridades de saúde, gerência central dos órgãos responsáveis pela investigação e controle do evento. Quando se tratar de surto ou agravo inusitado, se possível, divulgar um resumo da investigação em boletins epidemiológi- cos ou revistas científi cas, com fi ns de subsidiar futuras investigações. (Brasil, 2009). ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS A epidemiologia se fi rmou enquanto ciência, baseada em pes- quisas e evidências científi cas que visam à determinação das condições de saúde da população e à busca sistemática dos agentes etiológicos das doenças ou dos fatores de risco envolvidos no seu aparecimento, através de diferentes tipos de estudos e da avaliação de intervenções em saúde para o efetivo controle das doenças que acometem a popu- lação. A escolha de um delineamento apropriado para um estudo é um passo importante em uma investigação epidemiológica, cada dire- cionamento apresenta suas vantagens e desvantagens, considerando todas as potenciais fontes de viés e de confusão e a importância das questões éticas no desenvolvimento do trabalho. A seguir iremos conhecer os estudos epidemiológicos, as clas- sifi cações, tipos e características de cada um. - Estudos observacionais: permitem que a natureza determine o seu curso. o investigador mede, mas não intervém. Esses estudos podem ser descritivos e analíticos: Um estudo descritivo limita-se a descrever a ocorrência de uma doença em uma população, sendo, frequentemente, o primeiro passo de uma investigação epidemiológica; Um estudo analítico aborda, com mais profundidade, as rela- ções entre o estado de saúde e as outras variáveis. Os estudos epidemiológicos são, na sua quase totalidade, ana- 25 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S líticos. Estudos descritivos puros são raros, sendo mais comuns em es- tatísticas vitais. Por essa razão, constituem uma fonte importante para novos estudos epidemiológicos. Informações puramente descritivas como, por exemplo, aque- las fornecidas pelos estudos de série de casos em que as característi- cas de vários pacientes com uma doença específi ca são apresentadas, mas não comparadas a uma população de referência, frequentemente estimulam o início de um estudo epidemiológico mais detalhado. - Estudos experimentais: ou de intervenção envolvem a tenta- tiva de mudar os determinantes de uma doença, tais como uma exposi- ção ou comportamento, ou cessar o progresso de uma doença através de tratamento. São similares a experimentos realizados em outras ciên- cias. Entretanto, os estudos experimentais estão sujeitos a uma série de restrições uma vez que envolvem intervenções a saúde das pessoas. Os principais delineamentos experimentais são os seguintes: Ensaios clínicos randomizados, cujos participantes são os pa- cientes. Ensaios de campo em que os participantes são pessoas sau- dáveis. Ensaios comunitários, onde os participantes são os próprios membros da comunidade. Em todos os estudos epidemiológicos é essencial ter uma clara defi nição do que venha a ser um caso da doença sob investigação, isto é, quais são os sinais, sintomas e outras características que permitem classifi car a pessoa como doente. É também necessário defi nir o que vem a ser um indivíduo exposto, isto é, as características que identifi - cam uma pessoa como sendo exposta para um determinado fator em estudo. A ausência de uma defi nição clara de doença ou exposição tor- na muito difícil interpretar os dados de um estudo epidemiológico. O esquema a seguir, demonstra os principais delineamentos de estudos epidemiológicos: 26 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Epidemiologia Observacional Estudos Descritivos Estudo descritivo tem como objetivo descrever as caracterís- ticas de uma população, um fenômeno ou experiência para o estudo realizado. É realizado levando em conta os aspectos da formulação das perguntas que norteiam a pesquisa, além de estabelecer uma relação entre as variáveis propostas no objeto de estudo em análise. A epide- miologia descritiva pode fazer uso de dados secundários dados pré- -existentes de mortalidade e hospitalizações, por exemplo; e primários dados coletados para o desenvolvimento do estudo. No estudo descritivo, cabe ao pesquisador fazer a análise, o registro e a interpretação dos fatos do mundo físico, sem manipula- ções ou interferências. O intuito é apenas descobrir a frequência com que o fenômeno ocorre ou como se estrutura dentro de um determinado sistema, método, processo ou realidade operacional. A epidemiologia descritiva examina como a incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes) de uma doença ou condição relacionada à saúde varia de acordo com determinadas características, como sexo, idade, escolaridade e renda, entre outras. No Brasil, existem importantes bancos de dados secundários com abrangência nacional, que podem ser usados em estudos epide- miológicos. Esses sistemas de informação em saúde são instrumentos padronizados de monitoramento e coleta de dados, que tem como obje- 27 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S tivo o fornecimento de informações para análise e melhor compreensão de importantes problemas de saúde da população, subsidiando a toma- da de decisões nos níveis municipal, estadual e federal. SAIBA MAIS: Os dados dos Sistemas de Informações estão disponíveis no site do DATASUS - Departamento de Informática do SUS. Para saber mais, acesse: http://datasus.saude.gov.br Como exemplo de estudo descritivo, apresentamos a fi gura a seguir que descreve os resultados de um estudo usando dados primá- rios. Nesse estudo, cerca de 1.700 idosos e uma amostra representa- tiva de indivíduos mais jovens foram entrevistados para determinadas características, entre elas o hábito de fumar. Os resultados mostram que a prevalência de fumantes diminui com a idade, de forma consisten- te, em homens e mulheres. A redução do hábito de fumar entrepessoas mais velhas, também observadas em outros trabalhos, é consequência de pelo menos um dos seguintes fatores: a) Redução do hábito de fumar em virtude do aumento da ida- de. b) Efeito de coorte alteração nos hábitos em gerações diferen- tes. c) Viés de sobrevivência menor sobrevivência dos fumantes. 28 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Estudos Analíticos Os estudos observacionais são predominantemente analíticos, com o objetivo básico de avaliar e não apenas descrever, se a ocorrên- cia de um determinado evento é diferente entre indivíduos expostos e não expostos a um determinado fator ou de acordo com as caracterís- ticas das pessoas, ou seja, são delineados para examinar a existência de associação entre uma exposição e uma doença ou condição relacio- nada à saúde. Estes são estudos realizados com o objetivo específi co de testar hipótese. Os principais delineamentos analíticos serão vistos a seguir: - Estudos Transversais (Seccionais) Os estudos transversais têm como principal característica o fato da comparação entre a ocorrência do efeito nos dois grupos ser realizada em uma curta duração, ou seja, compara-se à prevalência entre os dois grupos. Dessa forma, o primeiro passo é determinar um grupo de pessoas expostas todas ou uma amostra ao fator que se quer estudar grupo estudo e outro grupo de pessoas não expostas grupo comparação. Em seguida comparar a proporção da prevalência do risco à saúde que se quer estudar entre os dois grupos. É um estudo de curta duração (BRASIL, 2002). As vantagens dos estudos transversais são a simplicidade, bai- xo custo, facilidade de condução, objetividade na coleta de dados, além de serem ajustado para descrever as características dos eventos na população, para identifi car casos na comunidade e para detectar grupos mais vulneráveis. - Estudo de Coorte O termo coorte é utilizado para designar um grupo de indivíduos que têm em comum um conjunto de características e que são observados durante um período de tempo com o intuito de analisar a sua evolução. Um estudo de coorte é um estudo observacional onde os indivíduos são classifi cados ou selecionados segundo o status de ex- posição expostos e não expostos, sendo seguidos para avaliar a inci- dência da doença em determinado período de tempo. Veja o esquema a seguir: 29 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Nesse estudo, o pesquisador distribui os indivíduos em dois grupos expostos e não expostos a um fator em estudo. Em seguida acompanha os indivíduos durante um determinado período de tempo para analisar a incidência de uma doença ou situação clínica entre os expostos e não expostos. Dessa forma, o parâmetro a ser estudado é a presença ou não da doença. As vantagens dos estudos de coorte são que os estudos esta- belecem relação temporal entre exposição e efeito, calcula incidência e permite o conhecimento da história natural da doença. É útil para avaliar fatores associados a doenças de evolução rápida e fatal, assim como não expõe os pacientes em estudo a nenhum risco potencial. As desvantagens giram em torno dos vieses potenciais asso- ciados à perda de seguimento dos participantes devido à migração, fal- tam de aderência, desistência e morte. É um estudo caro e demorado e inefi ciente para avaliar doenças raras com longo período de latência. Os custos e as difi culdades de execução podem comprometer o de- senvolvimento de estudos de coorte, sobretudo quando é necessário um grande número de participante ou longo tempo de seguimento para acumular um número de doentes ou de eventos que permita estabele- cer associações entre exposição e doença. - Estudo Caso e Controle Estudos de casos e controles constituem uma forma relativa- mente simples de investigar a etiologia das doenças e avaliar as ações e serviços de saúde. Esse tipo de estudo inclui pessoas com a doen- ça (casos) e um grupo composto de pessoas não afetadas pela doen- ça (controle). Depois, determina-se (mediante entrevista ou consulta a prontuários, por exemplo) qual é a relação da exposição entre casos e controles. 30 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Os estudos caso e controle, ao contrário dos estudos de coor- te, partem do efeito (doença) para a investigação da causa (exposição). As vantagens desse estudo são tempo mais curto para o de- senvolvimento do estudo, uma vez que a seleção de participantes é feita após o surgimento da doença, o custo mais baixo da pesquisa, a maior efi ciência para o estudo de doenças raras, a ausência de riscos para os participantes e a possibilidade de investigação simultânea de diferentes hipóteses etiológicas. Por outro lado, os estudos caso e controle estão sujeitos a dois principais tipos de vieses erro sistemáticos no estudo: de seleção (casos e controles podem diferir sistematicamente, devido a um erro na seleção de participantes) e de memória (casos e controles podem diferir sistematicamente, na sua capacidade de lembrar a história da exposição). Essas limitações podem ser contornadas no delineamento e condução cuidadosos de um estudo caso e controle. - Estudos Ecológicos (Correlação) Os estudos ecológicos ou de correlação são úteis para gerar hipóteses. Em um estudo ecológico, as unidades de análise são grupos de pessoas ao invés de indivíduos com o objetivo de comparar a ocor- rência da doença/condição relacionada à saúde, com a exposição e a possível existência de associação entre elas. Embora fáceis de realizar, os estudos ecológicos são frequen- temente difíceis de interpretar, uma vez que raramente é possível en- contrar explicações para os resultados obtidos. Em geral, os estudos ecológicos baseiam-se em dados coletados com outros propósitos da- dos de rotina ou secundário; assim, dados de diferentes exposições e de fatores socioeconômicos podem não estar disponíveis. Além disso, uma vez que a unidade de análise é uma população ou um grupo popu- lacional, a relação entre exposição e efeito no nível individual não pode ser estabelecida. Um atrativo dos estudos ecológicos é que podem ser utilizados dados de diferentes populações com características muito di- ferentes ou extraídos de diversas fontes de dados Epidemiologia Experimental Ensaio Clínico Randomizado O ensaio clínico randomizado é um experimento epidemiológi- co que tem por objetivo estudar os efeitos de uma intervenção em parti- cular. Os indivíduos selecionados são aleatoriamente alocados para os grupos intervenção e controle, e os resultados são avaliados comparan- do-se os desfechos entre esses grupos. 31 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S Para assegurar que os grupos comparados sejam equivalen- tes, os pacientes são alocados aleatoriamente. Isso garante a compa- rabilidade entre os grupos intervenção e controle desde o início da in- tervenção. Desse modo, quaisquer diferenças observadas entre eles serão decorrentes do acaso, não sendo, portanto, afetadas por viés do investigador. O diagrama a seguir, demostra o esquema de um ensaio clíni- co randomizado: Ensaio de Campo Ensaios de campo, em contraste com os ensaios clínicos, en- volvem pessoas que estão saudáveis, mas sob-risco de desenvolver doenças. Os dados são coletados no campo, usualmente entre pes- soas da população geral. Uma vez que os participantes estão livres da doença e o propósito é prevenir a ocorrência de doenças mesmo entre aquelas de baixa frequência, os ensaios de campo envolvem um grande número de pessoas, o que os torna caro e logisticamente complicados. Ensaio Comunitário Nesse tipo de experimento, os grupos de tratamento são co- munidades ao invés de indivíduos. Esse delineamento é particularmen- te apropriado para doenças que tenham suas origens nas condições sociais e quepossam ser facilmente infl uenciadas por intervenções diri- gidas ao comportamento do grupo ou do indivíduo. 32 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2014 Banca: PPG QUALISAUDE Órgão: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prova: Nível: Médio A Lei nº 8.080/90 (BRASIL, 1990) contém defi nições de Vigilância em Saúde. Assinale a opção relacionada à Vigilância Epidemioló- gica: a) Contempla atividades de observação, coleta e análise de dados e informações que podem descrever as condições alimentares e nutricio- nais da população. Fornece subsídios para decisões políticas, auxiliam no planejamento, monitoramento e gerenciamento de programas rela- cionados com os padrões de consumo alimentar e estado nutricional da população. b) É o conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio am- biente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde pública. c) É um subsistema relacionado com a coordenação, avaliação, plane- jamento, acompanhamento, inspeção e supervisão das ações de vigi- lância das doenças e agravos à saúde associados à água para consumo humano, contaminações do ar e do solo, desastres naturais, contami- nantes ambientais e substâncias químicas. d) É o conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e con- dicionantes de saúde individual e coletiva. Tem como fi nalidade reco- mendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. e) Nenhuma das alternativas acima. QUESTÃO 2 Ano: 2016 Banca: AMEOSC Órgão: Prefeitura de Palma Sola - SC Pro- va: - Atendente de Saúde Associe os termos de mortalidade/morbidade à sua defi nição na alter- nativa correta: X - É a ocorrência de certo número de casos controlados em determinada região. Y - É o aumento do número de casos de determinada doença, muito acima do esperado e não delimitado a uma região. Z - Compreende um número de casos de doença acima do esperado, sem respeitar limites entre países ou continentes. Os exemplos mais atuais são a AIDS e a Tuberculose. 33 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S a) X – Epidemia; Y – Endemia e Z – Pandemia. b) X – Endemia; Y – Epidemia e Z – Pandemia. c) X – Pandemia; Y – Epidemia e Z – Endemia. d) X – Pandemia; Y – Endemia e Z – Epidemia. e) X Endemia; Y – Pandemia e Z – Epidemia. QUESTÃO 3 Ano: 2013 Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB (CESPE) Órgão: Secretaria de Estado da Saúde - DF (SES/DF) Prova: Multiprofi ssional em Atenção Cardiopulmonar - Área Far- mácia. O Estudo Transversal, também chamado de estudo seccional, in- vestiga e examina a relação entre eventos, como exposição, doen- ça e outras variáveis de interesse, em um determinado momento. ( ) Verdadeiro. ( ) Falso. QUESTÃO 04 Ano: 2013 Banca: Fundação Carlos Chagas (FCC) Órgão: Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - PE Prova: Pro- fessor de Ensino Técnico Núcleo Técnico - Área Análises Clínicas Nível: Superior Considere o gráfi co: Em relação à mudança nas contribuições das condições crônicas e infecciosas para mortalidade total nas capitais dos estados bra- sileiros, entre 1930 a 2003, é possível concluir que: a) A imunização é uma ferramenta poderosa no controle e manejo das 34 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S doenças infecciosas, contudo nota-se que os programas de vacinação sistemática não se mostraram muito efetivos. b) Fatores ou condições que têm um conhecido papel na causalidade das doenças contribuem para ações preventivas e apresentam impacto sobre a saúde das populações. c) A contribuição das condições crônicas e infecciosas para a mortalida- de total mostrou-se muito elevada ao longo do último século. d) As taxas de mortalidade, não são infl uenciadas, ao longo do tempo, por mudanças na estrutura etária da população, assim como pelo surgi- mento ou desaparecimento das epidemias. e) Os acidentes de trânsito pouco contribuem para o aumento de mor- talidade total na infância, por causas externas, nas capitais dos estados brasileiros. QUESTÃO 5 Ano: 2004 Banca: CESPE Órgão: TRE-AL (Tribunal Regional Eleito- ral de Alagoas) Prova: Técnico Judiciário - Enfermagem Nível: Médio A investigação epidemiológica deve ocorrer sempre que for notifi cado um caso suspeito de uma dada doença. Entretanto, as medidas de con- trole e prevenção somente devem ser realizadas após a confi rmação do diagnóstico. ( ) Verdadeiro. ( ) Falso. Parte superior do formulário QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Descreva sucintamente as etapas de uma investigação epidemiológica de uma epidemia. TREINO INÉDITO ______________ um experimento epidemiológico que tem por objeti- vo estudar os efeitos de uma intervenção em particular. Os indivíduos selecionados são aleatoriamente alocados para os grupos intervenção e controle, e os resultados são avaliados comparando-se os desfechos entre esses grupos. Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna: a) Ensaio Comunitário. b) Ensaio de Campo. c) Estudos Transversais. 35 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S d) Ensaio Clínico Randomizado. e) Estudo de Coorte. NA MÍDIA SURTO DE H1N1 AUMENTA PROCURA POR VACINA EM CLÍNICAS PARTICULARES DO AMAZONAS ENVIO DE DOSES PARA UNIDA- DES PÚBLICAS DEVE OCORRER EM ABRIL DESTE ANO; DOENÇA CAUSADA PELO VÍRUS JÁ MATOU 21 PESSOAS NO ESTADO. De acordo com o último boletim divulgado pela Fundação em Vigilância em Saúde do Estado, 318 casos de síndrome gripal grave no Estado já foram registrados. Destes, 72 já tiveram diagnóstico positivo para o Ví- rus da Infl uenza A (H1N1) e 45 para Vírus Sincicial Respiratório (SRV). Já são 21 óbitos por H1N1, sendo 17 em Manaus, dois em Manacapuru, um em Parintins e um em Itacoatiara. Outros quatro óbitos foram confi r- mados por Vírus Sincicial Respiratório, sendo três de Manaus e um de Borba. Desta vez, um óbito em Manaus, por Parainfl uenza tipo 3. Fonte: G1 Data: 12 março 2019. Leia a notícia na íntegra: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/03/09/surto-de-h1n- 1-aumenta-procura-por-vacina-em-clinicas-particulares-do-am.ghtml NA PRÁTICA FEBRE AMARELA: RISCO SE APROXIMA E MINISTÉRIO ALERTA PARA A VACINAÇÃO O período de maior transmissão da febre amarela é de dezembro a março. Estados como RJ, MG e SP têm um grande contingente po- pulacional sem vacinação. Desde o surto registrado em dezembro de 2017, a vacinação para febre amarela foi ampliada para 4.469 muni- cípios. Ministério da Saúde, 12 de novembro de 2018. De acordo com as informações desta reportagem a realização de va- cinação da população é uma medida de controle para que não tenha novos casos e interrompa a cadeia de transmissão. Outro fator para atuação na cadeia de transmissão é o controle do mosquito que trans- mite a Febre Amarela, através da educação em saúde. PARA SABER MAIS Leia: NOTA TÉCNICA CONJUNTA – DVE/SVEAST/ DPAPS/CSPPL/ SAPS/ SES-MG Nº 04/2018 Assunto: Vacina Febre Amarela (VFA) 36 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE NO BRASIL Atenção à saúde designa a organização estratégica do sistema e das práticas de saúde em resposta às necessidades da população, envolve o cuidado com a saúde, incluindo ações de promoção, proteção, reabilitação e tratamento às doenças. É expressa em políticas, programas e serviços de saúde consoante os princípios e as diretrizes que estruturam o Siste ma Único de Saúde(SUS). Falar em atenção à saúde nosremete tanto a processos histó- ricos, políticos e culturais que expressam disputas por projetos no cam- po da saúde quanto à própria concepção de saúde, a infraestrutura, organização, gestão, fi nanciamento e assistência à saúde. As discursões a cerca dos modelos de atenção atuais, sobre- tudo a análise sobre a preservação, modifi cações ou transformações de tais modelos, tem sido notada pela crítica e redefi nição de ideias originária de movimentos internacionais de reforma dos sistemas de EPIDEMIOLOGIA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S 37 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S saúde. Essas ideias se organizam ativamente, como sugestões vindas da experimentação prática e produção de alternativas que refl etem as características das condições nas quais se desenvolve o processo de reforma sanitária no Brasil (TEIXEIRA; VILASBÔAS, 2014). Teoricamente, modelo expressa uma representação em escala reduzida da realidade onde se retém e destacam-se seus traços funda- mentais. Referindo-se aos aspectos relativos à saúde, aborda uma re- presentação esquemática de um sistema de saúde no que diz respeito à prestação da atenção ou assistência. Por esse motivo, é chamado de modelo de atenção à saúde ou modelo assistencial. Para Paim (2013) destacam-se três defi nições de modelos de atenção à saúde, baseadas em enfoques teórico-conceituais distintos: 1) A primeira delas parte da defi nição apresentada pela Orga- nização Pan-americana de Saúde (OPAS) em 1992, que defi ne modelo de atenção como a forma de organização das unidades de prestação de serviços de saúde, isto é, uma maneira de organização dos estabe- lecimentos de saúde. 2) A segunda defi nição baseia-se na análise crítica da lógica que presidia a prestação de serviços e distingue a atenção à deman- da espontânea da oferta organizada, tomando como principal critério a existência ou não de um processo de identifi cação, seleção e prioriza- ção de necessidades de saúde da população atendida. 3) A terceira defi nição fundamenta-se na identifi cação de ele- mentos estruturais do processo de trabalho em saúde; nessa perspec- tiva, o “modelo de atenção” se refere às formas de organização das relações entre os sujeitos, mediadas por tecnologias utilizadas no pro- cesso de trabalho em saúde, cujo propósito é intervir sobre problemas e necessidades de saúde. Considerando a constituição histórica do sistema de serviços de saúde no Brasil, conhecemos os principais modelos de atenção à saúde, com ideias contraditórias: Modelo Médico Assistencial Hospita- locêntrico e o Modelo Sanitarista. O modelo médico assistencial hospitalocêntrico é defi nido pelo foco no biologicismo, individualismo, na medicalização dos problemas de saúde, na medicina curativa, no fomento ao consumismo médico e é focado na fi gura do médico. Essa prática surgiu na Europa no século 18, com o início da reformulação do papel do hospital, que virou um local de observação, classifi cação e tratamento dos doentes (FOUCAULT, 2008). O modelo sanitarista surgiu no início do século XX, a partir de iniciativas do Estado Brasileiro que implementou ações higienistas so- 38 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S bre as condições de vida e saúde da população, em um sentido bastante diferente da procura pela assistência médica individual. De acordo com PAIM (2008), esse modelo “Remete à ideia de campanha ou programa, sempre presente no imaginário da população e de técnicos diante de uma necessidade coletiva”. Como exemplos, podemos citar as cam- panhas de vacinação, controle de epidemias, programas de saúde da mulher, programas de saúde da criança, programas de controle de Tu- berculose e Hanseníase, entre outros. O quadro a seguir, apresenta as principais características dos modelos de atenção apresentados: Muitas propostas de mudança do modelo de atenção no Brasil têm sido estudadas e discutidas, o que tem infl uenciado a formulação de políticas públicas e estratégias de mudanças na formação profi ssional e na organização dos serviços, apontando para um redimensionamento de ações de amplo espectro. Dentro dessas propostas redefi nidas e/ou elaboradas no âmbito do SUS nos últimos tempos, podemos destacar: a implantação de distritos sanitários, oferta organizada/ações progra- máticas de saúde, acolhimento/clínica ampliada, Saúde da Família e Vigilância da Saúde (PAIM, 2013). O modelo médico assistencial hospitalocêntrico ainda é pre- dominante no Brasil e subordina, inclusive, as ações e serviços que compõem o modelo sanitarista implementado no SUS. Mas, esse mo- delo apresenta sinais de crise, com gastos elevados e menor efetivida- de diante da mudança do perfi l epidemiológico da população, apresen- tando grande insatisfação, pouca credibilidade e cofi ança por parte da populaçao e prestadores de serviços. 39 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S A EPIDEMIOLOGIA NA ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE O uso da epidemiologia nos serviços de saúde não é novo em nosso país. Desde a década de 1980, o Brasil já contava com um sis- tema de informação referente a doenças de notifi cação compulsória ra- zoavelmente bem estruturada. SAIBA MAIS! A Portaria N.º 204, de 17 de Fevereiro de 2016, defi ne a Lista Nacional de Notifi cação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. Acesse o site do Ministério da Saúde e conhece a portaria na íntegra. Acesse: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/ prt0204_17_02_2016.html Há pelo menos quatro grandes áreas de aplicação e uso da epidemiologia nos serviços de saúde: 1) Vigilância em Saúde Pública ou Epidemiológica. 2) Análise da situação de saúde. 3) Identifi cação de perfi s e fatores de risco. 4) Avaliação epidemiológica de serviços. Um dos objetivos do desenvolvimento da epidemiologia nos serviços de saúde é organizar estratégias para que os profi ssionais apliquem os diversos métodos epidemiológicos nessas quatro grandes áreas, contribuindo também para o desenvolvimento da saúde coletiva. Foi com a incorporação da vigilância em saúde, às atividades regulares dos serviços de saúde pública, que obtivemos avanços mais signifi cativos no fortalecimento e utilização mais ampla da epidemiolo- gia. Apesar das difi culdades no processo de implantação da vigilância, são inegáveis os avanços alcançados, merecendo destaque a (o): a) Defi nição de critérios nacionais para identifi cação de priori- dades no estabelecimento das doenças de notifi cação compulsória e na padronização de fi chas de notifi cação. b) Aprimoramento da qualidade da informação de morbidade relativa às doenças transmissíveis de notifi cação compulsória. c) Implantação do Sistema Nacional de Informação de Morta- lidade com a padronização do formulário de declaração de óbito para todo o país. d) Elaboração de indicadores de mortalidade e morbidade para o contínuo acompanhamento, com o objetivo de identifi car mudanças no comportamento das doenças, inclusive o aparecimento de agravos inusitados; e também de indicadores operacionais visando avaliar o de- 40 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S sempenho desse sistema de informação. e) Implantação do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública com a criação da fi gura do Laboratório Nacional de Referência para doenças específi cas ou para grupo delas. No entanto, a despeito dos refl exos positivos da incorporação e consolidação da vigilância como uma das principais práticas sanitá- rias em nosso país, ela enfrenta, até hoje, difi culdades para manter a sua regularidade e qualidade, em virtude, principalmente,dos seguintes fatores: a) Falta de uma rede básica de serviços de saúde bem estru- turada. b) Políticas institucionais de longo prazo, mal defi nidas, criando obstáculos ao estabelecimento de diretrizes sólidas para à formação e reciclagem de recursos humanos e criação de carreiras estáveis. c) Ausência de um programa regular, de conteúdo mais denso tanto na parte teórica como na de campo, voltado à formação de epi- demiologistas capacitados a atuar nas principais áreas de aplicação da epidemiologia em serviços de saúde. É inegável a importância da epidemiologia na organização dos serviços de saúde e suas variadas utilizações, apesar das difi culda- des enfrentadas. Como instrumento de conhecimento, ela apresenta a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações, direcionando o planejamento, execução, avaliação das áreas de pre- venção, estabelecendo prioridades, controle e tratamento de doenças, assim como a sua etiologia. O USO DA EPIDEMIOLOGIA NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA SAÚ- DE DA FAMÍLIA (ESF) Diante do que vimos nos capítulos anteriores, fi ca clara a im- portância da epidemiologia dentro dos inúmeros aspectos que englo- bam os serviços de saúde e o processo saúde-doença na população. Agora conheceremos a aplicabilidade da epidemiologia nas Unidades de Saúde da Família, baseados no diagnóstico situacional do processo saúde-doença da população. Podemos identifi car alguns usos da epidemiologia no trabalho da ESF: - Diagnóstico da situação de saúde: através do levantamento de dados mensais. Como exemplo, podemos citar o aumento de um determinado agravo, através do número de consultas. - Investigação etiológica: ao tentar identifi car a causa para o 41 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S elevado número de casos de uma doença de uma determinada área. - Determinação de risco: ao identifi car que uma determinada parcela da é acometida com maior frequência por uma determinada doença, quando comparada à outra parcela da população. - Planejamento e organização do serviço: ao determinar um nú- mero maior de horas para atender a determinada parcela da população, tendo em vista o diagnóstico nesta necessidade. Exemplo: o aumento do número de visitas domiciliares pelo elevado número de pacientes acamados e com difi culdade de locomoção. Com os dados coletados mensalmente na ESF, podem ser usados para calcular as principais medidas de frequência de uma doen- ça: porcentagem de novos casos na população de interesse. Também é possível calcular os indicadores de mortalidade e morbidade. A ocorrência da doença também é rotineiramente mensurada no tempo e no espaço, a prova disso é a identifi cação de micro áreas de risco ou prioritárias dentro da área de abrangência da ESF, Sem falar na expectativa sazonal para a ocorrência de determinados agravos, exem- plo: o maior número de casos de gripe nos períodos de chuva e inverno. Portanto, toda ESF deve ter um mapa da área de abrangência, com a identifi cação de eventos de importância epidemiológica para faci- litar a identifi cação de áreas de risco, que muitas vezes envolvem áreas de fronteira entre micro áreas ou até mesmo áreas cobertas por outras ESF´s ou municípios, pois a doença não reconhece tais barreiras geo- gráfi cas, e, algumas vezes, a intervenção para o controle de um agravo tem que ser intersetorial. Podemos perceber que as ações da epidemiologia são tão ro- tineiras nas atividades desenvolvidas por todos os membros da equipe de saúde, que muitas vezes não é percebida, exemplo: a visita ao re- cém-nascido e a puérpera para assegurar a saúde da mãe e do bebê, evitando assim complicações que venham a gerar indicadores de saúde negativos; a identifi cação do aumento de crianças com baixo peso ao consolidar as informações mensais coletadas pelos ACSs. Por fi m, não podemos deixar falar da rotina da coleta de da- dos diários que alimentam os Sistemas de Informação em Saúde (SIS), principalmente no que diz respeito ao e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) que é uma estratégia do Departamento de Atenção Básica para reestruturar as informações da Atenção Básica em nível nacional. Mas, além desse SIS, os profi ssionais de saúde da ESF cole- tam dados que alimentam o: SISPRENATAL: número de consultas pré- -natal coletado do cartão de pré-natal da mãe; SINAN: ao notifi car uma doença; SI-PNI: registro de vacinas aplicadas; HIPERDIA: por meio do cadastramento e acompanhamento dos casos de hipertensão e diabe- 42 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S tes; SISCOLO: alimentado pelos inúmeros exames citopatológicos rea- lizados na Unidade de Saúde, entre outro. Não há como separar a epidemiologia das atividades desen- volvidas na ESF, pois ela otimiza e direciona as ações de saúde desen- volvidas, para que estas possam atender as necessidades reais para população assistida. VIGILÂNCIA DE DOENÇAS E AGRAVOS À SAÚDE Transição Epidemiológica Seguindo tendência mundial, observam-se no Brasil processos que tem produzido importantes mudanças no perfi l das doenças ocor- rentes em sua população. A transição epidemiológica caracteriza-se pelas modifi cações ocorridas ao longo do tempo nos padrões de morte, morbidade e in- validez que representam uma população específi ca e que geralmente ocorre em conjunto com outras transformações demográfi cas, sociais e econômicas (OMRAM, 2001; SANTOS-PRECIADO et al., 2003). O processo envolve três mudanças básicas: 1- Transferência das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas. 2- Transferência da carga de morbimortalidade dos grupos ju- venis aos grupos mais idosos. 3- Modifi cação de uma situação em que impera a mortalidade para outra na qual a morbidade é predominante. Estudos do contexto brasileiro, referente a transição epidemio- lógica, tem seguido padrões diferentes aos observados nos países de- senvolvidos. A transformação dos perfi s epidemiológicos mostra carac- terísticas peculiares que não coincide necessariamente ao modelo de substituição de doenças infecciosas e parasitárias por doenças crônico- -degenerativas, acidentes e violências (PONTES et al., 2009). Cenários como a reintrodução de processos infecciosos, como dengue e cólera, ou a persistência e o recrudescimento de outras, como malária, a tuberculose, a hanseníase e as leishmanioses, apontam para uma natureza não unidirecional. Entre as regiões brasileiras, as situações epidemiológicas evidenciam importantes contrastes, caracterizando, na realidade, uma pola- rização geográfi ca, existindo ainda a polarização social que se manifesta pe- los desníveis nos indicadores de mortalidade e morbidade entre os diferentes grupos populacionais (PONTES et al., 2009). 43 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S O processo de transição epidemiológica no Brasil se desenvolve de maneira complexa, devido à diversidade de regiões e a distribuição irregular dos riscos e agravos de cada população, onde as situações epidemiológicas de diferentes regiões em um mesmo país tornam-se contrastante polarização epidemiológica (FRENK et al., 1991). Além do mais, o envelhecimento acelerado da população brasileira faz com que a sociedade encontre um tipo de demanda por serviços médicos e sociais, característicos aos países industrializados (SCHRAMM et al., 2004). As mudanças no perfi l epidemiológico das populações, no qual se observa declínio das taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e crescente aumento das mortes por causas externas e doenças crônico-degenerativas, tem propiciado a incorporação das doenças e agravos não transmissíveis às atividades da vigilância epi- demiológica. Para o desenvolvimento do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), a atual orientação estabelece como prioridade o fortalecimentodos sistemas municipais de vigilância epidemiológica, que devem ser dotados de autonomia técnico-gerencial para enfocar os problemas de saúde próprios de suas áreas de abrangência. As secre- tarias estaduais devem, cada vez mais, deixar de desempenhar o papel de executoras para assumir as responsabilidades de coordenação, su- pervisão e monitoramento das ações, de acordo com as responsabilida- des estabelecidas na Portaria GM/MS N.º 1.172/04. SAIBA MAIS! Acesse os dados do Portal da Saúde, verifi que via boletins epidemiológicos como se encontra o perfi l epidemiológico das doenças emergentes e reemergentes em seu estado nos últimos anos e identifi - que quais ações de saúde poderiam ter sido intensifi cadas para melho- ra dos quadros. Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis As doenças transmissíveis podem ser caracterizadas como doenças cujo agente etiológico é vivo e transmissível, podendo ser vei- culada através de um vetor, ambiente ou indivíduo (Rouquayrol, 2003). Ou seja, uma doença transmissível, também chamada de infecciosa é aquela causada pela transmissão de um agente patogênico específi co para um hospedeiro suscetível. Os agentes infecciosos podem ser transmitidos diretamente para humanos, através de outros humanos ou animais contaminados ou 44 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S indiretamente, através de vetores, partículas aéreas ou outros veículos de transmissão. A epidemiologia tem um papel importante nas doenças trans- missíveis, que é esclarecer o processo de infecção a fi m de desenvol- ver, implementar e avaliar medidas de controle. Desde o início da década de 1980, a situação das doenças transmissíveis no Brasil, apresenta três grandes tendências: doenças transmissíveis com tendência declinante; doenças transmissíveis com quadro de persistência e doenças transmissíveis emergentes e reemer- gentes (BRASIL, 2006). No grupo das doenças transmissíveis com tendência declinan- te como exemplo estão: a varíola (erradicada em 1973); a poliomielite (erradicada em 1989); o sarampo (transmissão interrompida desde o fi nal de 2000), o tétano neonatal, a raiva humana, a difteria, a coque- luche, a doença de chagas, a fi lariose e o tétano acidental (BRASIL, 2006). Dentre as doenças com quadro de persistência podemos citar a tuberculose; as hepatites virais, especialmente as hepatites B e C; a leptospirose; as meningites; destacando-se as infecções causadas pelos meningococos B e C; as leishmanioses (visceral e tegumentar); a esquistossomose, a febre amarela e a malária (BRASIL, 2006). As doenças transmissíveis emergentes são aquelas que au- mentaram o número de casos na população humana como AIDS e in- fl uenza. As doenças transmissíveis reemergentes são as que ressurgi- ram, como problema de saúde pública, após terem sido controladas no passado como dengue e cólera (BRASIL, 2006). - Cadeia de Transmissão: As doenças transmissíveis ocorrem como resultado de uma in- teração entre agentes infecciosos, processo de transmissão, hospedei- ros e ambientes. O controle dessas doenças pode envolver mudanças em um ou mais desses componentes, os quais são infl uenciados pelo ambiente. Essas doenças podem ter variados efeitos, como também poder ser silenciosa e letal. Conhecer o fator em uma cadeia de infecção pode ser neces- sário antes que uma intervenção efetiva possa acontecer, entretanto, isso nem sempre é necessário. Pode ser possível controlar uma doença somente com um limitado conhecimento de sua cadeia específi ca de infecção, por exemplo, melhoramentos no suprimento de água em Lon- dres por volta de 1850 preveniram novas epidemias de cólera décadas antes da identifi cação do agente responsável. Somente o conhecimento também não é sufi ciente para prevenir epidemias. A cólera permanece como uma importante causa de doença e morte em muitas partes do 45 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S mundo. - Agente infeccioso: É um organismo capaz de produzir doen- ças infecciosas aos seus hospedeiros sempre que esteja em circuns- tâncias favoráveis, inclusive do meio ambiente. Podem ser bactérias, vírus, protozoários, fungos ou helmintos. O agente patogênico pode se multiplicar no organismo do seu hospedeiro, podendo causar infecções e outras complicações. As características específi cas de cada agente são importantes para determinar a natureza da infecção, que é determi- nada por fatores tais como: • Patogenicidade do agente: é a capacidade de produzir uma doença. A patogenicidade é calculada pela divisão do número de pes- soas que desenvolveram a doença clínica pelo número de pessoas ex- postas à infecção. • Virulência: é medida de gravidade da doença, pode variar de muito baixa a muito alta. Uma vez que um vírus tenha sido atenuado e seja de baixa virulência, pode ser usado para fabricação de vacinas. • Dose de infectividade: é a quantidade do agente etiológico necessário para iniciar uma infecção. • Reservatório de um agente: é o habitat natural de um agente infeccioso, podendo incluir humanos. • Fonte de infecção: é o ser responsável pela existência do agente etiológico na natureza, onde ele vive e se reproduz, sendo capaz de transmiti-lo a um hospedeiro, diretamente ou com a mediação do ambiente, dando início ao processo infeccioso. A fonte de infecção pode ser primária: ser humano (antroponose), um animal (zoonose) ou mais raramente um vegetal (Fitonose), ou ser secundária: local onde o agen- te fi ca albergado, aguardando o hospedeiro, exemplo: solo. - Processo de Transmissão: O segundo elo na cadeia de infecção é a transmissão ou di- fusão do agente infeccioso para o ambiente ou para outra pessoa. A transmissão pode ser direta ou indireta. - Transmissão Direta: é a transferência imediata do agente in- feccioso de um hospedeiro ou reservatório para uma porta de entrada através da qual a infecção poderá ocorrer. Esta pode ser pelo conta- to direto através do toque, beijo, relação sexual ou pela disseminação de gotículas ao tossir ou espirrar. A transfusão de sangue e a infecção transplacentária da mãe para o feto são outras importantes formas de transmissão direta. - Transmissão Indireta: pode ser através de veículo, vetor ou aérea. A transmissão por veículos ocorre através de materiais contami- nados tais como alimentos, vestimentas e utensílios. A transmissão por vetor ocorre quando o agente é carregado por um inseto ou animal (o 46 EP ID EM IO LO G IA E V IG IL Â N C IA E M S A U D E - G R U P O P R O M IN A S vetor) para um hospedeiro suscetível; o agente pode ou não se multipli- car no vetor. A transmissão aérea de longa distância ocorre quando há disseminação de pequenas gotículas para uma porta de entrada, usual- mente o trato respiratório. As partículas de poeira também facilitam a transmissão aérea, por exemplo, através de esporos de fungos. O conhecimento dos tipos de transmissão é importante quando são escolhidos os métodos de controle de doenças. A transmissão direta pode ser interrompida pela prevenção do contato com a fonte, enquanto a transmissão indireta requer abordagens diferentes especifi cas. - Hospedeiro: O hospedeiro é o terceiro elo na cadeia de infecção e é defi - nido como uma pessoa ou animal que proporciona um local adequado para que um agente infeccioso cresça e se multiplique em condições naturais. A interação com o agente infeccioso e o modo de transmissão determina a reação do hospedeiro frente à infecção, podendo ser silen- ciosa sem sinais e sintomas visíveis ou apresentar formas clínicas se- veras. O período de incubação, que é tempo decorrido entre a entrada do agente infeccioso e o aparecimento dos primeiros sinais e sintomas da doença, pode variar de poucas horas até muitos anos para a mani- festação da doença. O desfecho da infecção também pode ser determinado pelo grau de resistência
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