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TEXTOS E GÊNEROS O texto tem organização e estrutura próprias que definem o seu sentido, e este lhe permite ser objeto de comunicação entre dois sujeitos: destinador e destinatário. O texto é um todo com significado e com o objetivo de comunicação. Texto Existem várias definições para texto. É fundamental saber que um texto é uma ocorrência linguística dotada de certa formalidade, o que lhe dá sentido e lhe permite exercer a sua função sociocomunicativa. Os estudos mais comprometidos com o texto fazem parte da Linguística Textual. Esse ramo da ciência linguística que pode levar o estudo para além da frase e até além do próprio texto. Um texto tem que ter uma estrutura tal que, ao longo do seu percurso, a relação entre seus elementos sejam mantidas. Estas são as relações de coesão e coerência, sem as quais o texto perde o seu sentido ou se torna monótono. Conforme a função à qual o texto se destina, o texto fica enquadrado num certo tipo de gênero. Cada tipo de texto seleciona um tipo de leitor, exatamente por querer cumprir uma certa finalidade. Tipos de textos O modo de se estabelecer a interação entre texto e leitor é o que vai determinar o tipo de texto. Isso significa que o tipo é caracterizado pela natureza linguística de sua construção teórica, ou seja, por seus tempos verbais, aspectos lexicais e sintáticos, relações entre seus elementos. Os principais tipos textuais são: DESCRITIVOS, DISSERTATIVO, NARRATIVO, ARGUMENTATIVO, EXPOSITIVO, INJUNTIVO. Os gêneros de textos Se o tipo é organizado pelos seus elementos formais, o gênero é caracterizado pelo estilo do texto, pela sua função sociocomunicativa, ou seja, para o fim a que se destina. Surgem, pois, vários gêneros (orais e/ou escritos): bula de remédios, bilhete, narrativas, artigos de opinião, crônicas, romances, receitas, classificados, reportagens jornalísticas, carta pessoal, carta comercial, catálogos, lista telefônica, telefonema, email, cardápio, chat, manual de instruções, resenha, outdoor, plano de aula, aula virtual, resumo, charge, boletim de ocorrência, edital de concurso, relatório, piada, conversação comum, conferência, sermão, romance, biografia, horóscopo, reunião, etc. Tipos e gêneros podem conviver num mesmo texto, mas normalmente um predomina. Textos dissertativos argumentativos podem trazer cenas descritivas, e vice-versa. Assim sendo, um texto, por exemplo, do gênero carta, pode ser do tipo narrativo, argumentativo, etc. Um romance pode trazer trechos descritivos, embora seja predominantemente narrativo. Numa bula de remédio estão presentes três tipos: descritivo, dissertativo e injuntivo. Na fábula, o narrativo e argumentativo. Concluímos que, um mesmo tipo de texto pode ocorrer em vários gêneros. O caçador e a perdiz Um caçador armou, um dia, uma arapuca para ver se pegava um falcão. Ao voltar à floresta, horas depois, encontrou uma perdiz dentro da arapuca. _ Senhor caçador, solte-me! - exclamou a perdiz. _ Se me soltar, eu lhe mostro um lugar onde há uma porção de perdizes! _ Nada disso! Se você caiu na minha armadilha e quer a liberdade em troca da de suas irmãs, merece ir para a panela. Moral: Ninguém deve salvar-se traindo seus amigos. (Fábulas de Esopo. Adaptação de Guilherme Fiqueiredo. Rio de Janeiro:Ediouro, 1997.) É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos, partimos da idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. Essa posição, defendida por Bakhtin [1997] e também por Bronckart (1999) é adotada pela maioria dos autores que tratam a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos, e não em suas peculiaridades formais. Esta visão segue uma noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva. Privilegia a natureza funcional e interativa e não o aspecto formal e estrutural da língua. Afirma o caráter de indeterminação e ao mesmo tempo de atividade constitutiva da língua, o que equivale a dizer que a língua não é vista como um espelho da realidade, nem como um instrumento de representação dos fatos. Para uma maior visibilidade veja o seguinte quadro sinóptico: TIPOS TEXTUAIS 1. Constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas; 2. Constituem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados e não são textos empíricos; 3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal; 4. Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, 1injunção e exposição GÊNEROS TEXTUAIS 1. Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; 2. Constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; 3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; 4. Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc. Antes de analisarmos alguns gêneros textuais e algumas questões relativas aos tipos, seria interessante definir mais uma noção que vem sendo usada de maneira um tanto vaga. Trata-se da expressão domínio discursivo. Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto de vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc., já que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem um gênero em particular, mas dão origem a vários deles. Constituem práticas discursivas dentro das quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que, às vezes lhe são próprios (em certos casos exclusivos) como práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. Veja-se o caso das jaculatórias2, novenas e ladainhas, que são gêneros exclusivos do domínio religioso e não aparecem em outros domínios (é altamente praticada por determinadas pessoas religiosas). Senhora Aparecida, milagrosa padroeira, sede nossa guia nesta mortal carreira! Á Virgem Aparecida, sacrário do redentor... Fonte: jaculatória (In: Rezemos o Terço. Aparecida) Editora Santuário, 1977, p.54) Deve-se ter o cuidado de não confundir texto e discurso como se fosse a mesma coisa. Embora haja muita discussão a esse respeito pode-se dizer que texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. Assim, o discurso se realiza nos textos. Em outros termos os textos realizam discursos em situações institucionais, históricas, sociais e ideológicas. Os textos são acontecimentos discursivos para os quais convergem ações lingüísticas, sociais e cognitivas segundo Robert de Beaugrande (1997). Importante é perceber que os gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas. Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos. Em geral, a expressão "tipo de texto", muito usada nos livros didáticos e no nosso dia-a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas sim um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo, "a carta pessoal é um tipode texto informa!", ele não está empregando o termo "tipo de texto" de maneira correta e deveria evitar essa forma de falar. Uma carta pessoal que você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial, 1 Ato de injungir, de ordenar expressamente uma coisa; ordem precisa e formal. Dicionário eletrônico Houaiss versão 3.0 2 Cada uma das rezas populares us. para situações determinadas (p.ex., para espantar cobra no mato, para livrar-se de entalo na garganta, para agradecer a comida na mesa etc. Dicionário eletrônico Houaiss versão 3.0 horóscopo/ receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação casual, entrevista jomalística, artigo científico, resumo de um artigo, prefácio de um livro. É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando tipos textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realize dois ou mais tipos. Assim, um texto é em geral tipologicamente variado (heterogêneo). Veja o caso da carta pessoal, que pode conter uma sequência narrativa (conta uma historinha), uma argumentação (argumenta em função de algo), uma descrição (descreve uma situação) e assim por diante. Oi amiga Paula! Para ser mais preciso estou no meu quarto, escreveno na escrivaninha, com um Micro System ligado na minha frente (bem alto, por sinal). Está ligado na Manchete FM - ou rádio dos funks - eu adoro funk, principalmente com passos marcados. Aqui no Rio é o ritmo do momento ... E você, gosta? Gosto também de house e dance music, sou fascinado por discotecas! Sempre vou à K.I, ontem mesmo (sexta-feira) eu fui e cheguei quase quatro horas da madrugada. Dançar é muito bom, principalmente em uma discoteca legal. Aqui no condomínio onde moro têm muitos jovens, somos todos muito amigos e sempre vamos todos juntos. É muito maneiro! Está tocando agora o "Melô da Mina Sensual", super demais! Aqui ouço também a Transamérica. E você, quais rádios curte? Fonte referência: ADAM, J. M. (1990). Élements de linguistique textuelle. Theorie et pratique de l’analyse. Liège, Mardaga. ANTUNES, I. (2004). Aula de português: encontros e interação. São Paulo: Parábola. BRONCKART, J.-P. (1999). Atividades de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Editora da PUC/SP. FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. (1987). “Contribuição a uma tipologia textual”. In Letras & Letras. Vol. 03, nº 01. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia. pp. 3-10. MARCUSCHI, L. A. (2002). “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna. SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. (2004). Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras SWALES, J. M. (1990). Genre analysis. English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press. TRAVAGLIA, L. C. (1991). Um estudo textual-discursivo do verbo no português. Campinas, Tese de Doutorado / IEL / UNICAMP, 1991. 330 + 124 pp. ___ (2002). Tipelementos e a construção de uma teoria tipológica geral de textos. Mimeo. WEIRINCH, H. (1968). Estrutura e función de los tiempos em el lenguaje. Madrid: Gredos.
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