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Dr. Franz Hartmann Os ELEMENTAIS Sua natureza e diversas categorias, grupos, gêneros e classes Tradução de Karin Thies Vieira Romero editora do original em alemãoOs ELEMENTAIS "Nenhuma religião é superior à Verdade."Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hartmann, Franz, 1838-1912. Os Elementais: sua natureza e diversas catego- rias, grupos, gêneros e classes / Franz Hartmann; tradução de Karin Thies Vieira Romero. - 1. ed. - São Paulo: Ícone, 2013. Título original: Elementargeister: ihre Natur und verschiedene Charaktere, Gruppen, Arten und Klassen. Bibliografia ISBN 978-85-274-1231-5 1. Elementais. 2. Esoterismo. 3. Espiritismo. 4. Teosofia. I. Título. 13-01973 CDU - 133 Índices para catálogo sistemático: 1. Elementais e suas distintas manifestações: Parapsicologia 133Dr. Franz Hartmann Os ELEMENTAIS Sua natureza e diversas categorias, grupos, gêneros e classes Tradução de Karin Thies Vieira Romero do original em alemão 1ª edição São Paulo 2013 cone editoraCopyright 2013 Ícone Editora Ltda. Título original HARTMANN, Franz. Elementargeister: Ihre Natur und verschiedene Charaktere, Gruppen, Arten und Klassen. Ano 1894. Alemanha: Editora Schatzkammerverlag Hans Fändrich, 1988. Pintura da capa PATON, Joseph Noel. A discussão de Oberon e Titania. Óleo sobre tela. Escócia, 1846. Projeto gráfico, arte de capa e diagramação Richard Veiga Revisão Juliana Biggi Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, sem permissão expressa do editor. (Lei n° 9.610/98) Todos os direitos reservados para: ÍCONE EDITORA LTDA. Rua Anhanguera, 56 - Barra Funda CEP: 01135-000 - São Paulo/SP Fone/Fax.: (11) 3392-7771 www.iconeeditora.com.br iconevendas@iconeeditora.com.brÍndice Prefácio da tradutora, 7 Prefácio do editor, 9 I. MUNDOS INVISÍVEIS (TRANSCENDENTES) E SUAS CRIATURAS, 13 Devas, 24 Anjos, 28 Os quatro mundos, 30 Pitris, 38 Formas kama-rupa, 41 Larvas, 43 Mara-rupas. Demônios, 50 Sementes humanas, 52 II. HABITANTES DOS QUATRO ELEMENTOS: Gnomos, Salamandras, Silfos, Ondinas, Ninfas, Inteligências da Natureza Elfos, Duendes, Sátiros, Faunos, 61 5III. OS DIVERSOS TIPOS DE ESSÊNCIAS HUMANAS, 81 Elementais humanos, 83 Espectros humanos, 86 Adeptos, 90 Os irmãos das Sombras, 92 APÊNDICE. Os espiritualmente mortos, 105 Observação: Todas as notas de rodapé do presente trabalho estão a cargo do próprio autor. A tradutora 6Prefácio da tradutora Muito nos falta acerca do conhecimento de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. Se fizermos uma análise sincera, percebe- remos que pouco nos conhecemos, pouco sabemos de nossas rea- ções e que nos sucedem coisas sobre as quais não temos controle. Também pelo mundo afora ocorrem movimentos, tanto de natureza física quanto social, escassamente explicados pela ciência e pelo raciocínio lógico. Neste precioso pequeno trabalho, Dr. Franz Hartmann logra lançar luzes ao tema, apresentando-nos uma ampla visão acerca dos elementais em suas distintas manifestações, quer seja como seres malévolos, aspectos densos existentes tanto em nosso interior quanto vagando no mundo exterior, quer seja como resíduos das personali- dades de pessoas que já se foram, quer seja, ainda, como diligentes e zelosas, porém por vezes perigosas, inteligências da Natureza, mais conhecidas como gnomos, silfos, salamandras e ondinas. Franz Hartmann (1838-1912) foi um médico de visão abrangente. Sua sensibilidade fê-lo perceber como a medicina moderna tem-se tornado progressivamente superficial e pouco eficiente, perdida em minúcias e aspectos secundários, sem conseguir detectar as causas mais profundas dos males humanos. Graças a sua dedicação e entu- siasmo, pôde adquirir um grande conhecimento sobre ocultismo. 7Não um conhecimento teórico, mas essencialmente prático, pois Hartmann foi, antes de tudo, um incansável investigador. Fez longas viagens, viveu em vários países e teve a oportunidade de investi- gar inúmeros fenômenos. Entre 1865 e 1883 viveu no Continente Americano (Estados Unidos, México e Chile), onde chegou como médico de bordo em um navio. Obteve a cidadania norte-americana e, além de atuar na medicina, estudou as crenças religiosas de várias tribos indígenas, travando também contato com 0 então emergente espiritismo. Investigou a fundo os fenômenos espíritas durante cerca de quinze anos. próprio Dr. Franz Hartmann escreve que dificilmente seria possível encontrar alguém na América ou na Europa detendo mais experiência que ele mesmo na observação de fenômenos espíritas. Assim, com toda propriedade, pôde chegar à conclusão de que tais fenômenos possuem uma origem completa- mente distinta da que usualmente lhes é atribuída. Em 1882, este destacado médico, nascido e formado academicamente na Bavária, juntou-se à Sociedade Teosófica. Viveu também na Índia, mantendo um estreito contato com ocultistas, iogues e adeptos. Assim, pois, de posse de uma vasta experiência investigativa, Franz Hartmann deixa claro, num dos pontos mais marcantes do presente trabalho, qual a diferença entre "espíritos", levados em tão alta conta pelos médiuns e espíritas de modo geral, e 0 autên- tico Espírito de cada homem, que vive em esferas superiores e está tenuemente conectado à essência de cada um, alimentando-a e buscando despertar-lhe anelos espirituais. Mas, deixemos Franz Hartmann falar por si. Aquele que per- correr as páginas deste pequeno livro certamente encontrará a clareza e a profundidade advindas da experiência própria, quesito tão imprescindível quanto inestimável para todo aquele que queira tratar seriamente de assuntos de caráter transcendente. Karin Thies Vieira Romero 8Prefácio do No decorrer dos últimos cem anos surgiram o espiritismo, bem como hipnotismo no mundo da cultura ocidental. Ambos foram considerados de início como algo muito inovador e encontraram grande oposição e rejeição até que, por fim, 0 correr dos anos fez aflorar incontestáveis fatos que 0 conhecimento não podia mais ignorar, mostrando que nem tudo estava baseado em mentira, como em princípio parecia ser, embora, ao mesmo tempo, muita bobagem tenha sido estimulada. Também numerosos fenômenos funestos, por exemplo, loucura, obsessão, enfermidades, doenças nervosas etc., atuavam, com toda razão, de maneira assustadora. As histó- rias de muitos médiuns espíritas e as manipulações hipnóticas apresentaram provas irrefutáveis disso, apresentando-as ainda hoje continuamente, assim como revistas espíritas informam de quando em quando sobre estes assuntos. No decorrer do desenvolvimento espírita, descobriu-se que essas "inovações" não eram "nada novo" e que na Antiguidade Clássica 1. Prefácio do editor da edição, em alemão. [Nota da tradutora: Este prefácio está em desarmonia com a obra que se segue. 0 editor parece ser simpatizante do espiritismo ou, na melhor das hipóteses, não compreendeu o texto do Dr. Hartmann, que vai em uma linha completamente distinta e, inclusive em vários trechos, com bastante clareza, revela os aspectos nada positivos existentes por trás dos chamados "fenômenos 9já apareciam coisas desse tipo, ainda que com outros nomes. Hoje surgiram também tendências entre os espíritas que se reportam à Bíblia e divulgam espiritismo "cristão". Além disso, com passar dos anos, tornaram-se cada vez mais conhecidas a vida e as práticas dos povos hindus, com seus faquires, dervixes e seu Culto Tântrico (trabalho com daimones), em cujos moldes todas as manifestações espíritas e hipnóticas são representadas, até mesmo de maneira mais minuciosa e mais impressionante. moderno espiritismo está, até momento, em grande des- vantagem em relação à Antiguidade Clássica e à Índia, uma vez que seu desenvolvimento na América e na Europa se deu em uma época em que a assim chamada "visão de mundo materialista" experimentava seu ponto mais alto e era todo-poderosa no mundo do conhecimento científico. Todo espiritual era negado como fato, somente a matéria era considerada real e verdadeira; além disso, a alma era estimada apenas como uma manifestação do cérebro. Por isso, todos os trabalhos espíritas, sem provas, foram considerados simplesmente como mentira, autoengano, fantasia e não dignos de exame por parte do mundo científico. Em consequência, apenas ignorantes, pessoas sem conhecimento científico, indivíduos sem senso crítico e criadores de polêmica se ocuparam dessas coisas e, em acordo com sua natureza egoísta, perceberam nos crédulos tolos um objeto de exploração sem igual, enquanto, por outro lado, os inocentes e relativamente honestos se alegraram em ter recebido indícios de vida após a morte, contentando-se com isso. Na Antiguidade Clássica não havia um materialismo tão afer- rado; naquele tempo as escolas de mistérios cuidavam do conhe- cimento oculto; filósofos e investigadores mundialmente famosos não consideravam de sua competência ocupar-se das manifestações secretas da Natureza. A crença nessas inteligências e em seres invisí- veis semelhantes aos homens era algo bastante difundido na época. 10A constituição da alma e do espírito do homem era largamente conhecida na Antiguidade, muito mais do que hoje em dia. E na Índia, desde sempre, no decorrer dos séculos até dias de hoje, conhecimento oculto sempre recebeu bons cuidados. Que este conhecimento tenha se feito ausente na cultura oci- dental, e ainda hoje falte em grande parte, é uma deficiência que se faz notar especialmente no campo do espiritismo, do hipnotismo etc. Se conhecimento dos antigos sobre a constituição oculta do ser humano fosse ainda hoje largamente difundido, surgimento do espiritismo teria sido avaliado de forma sensivelmente diferente, até mesmo por parte dos próprios espíritas. 0 médico Dr. Franz Hartmann (1838 1912) é 0 especialista que pode suprir essa deficiência de conhecimento. Viveu de 1865 a 1883 no Continente Americano (Estados Unidos, México e Chile), onde chegou como médico de bordo em navio, atuou na medicina e conheceu em suas longas viagens pessoas civilizadas, mexicanos, indígenas, brancos, negros, crédulos, incrédulos, mórmons, shakers, pensadores livres e espíritas; teve a oportunidade de ampliar sua visão de mundo e ocasião de adquirir pensamento próprio. Logo no início de sua estada na América, conheceu 0 espiritismo, que então emergia impressionantemente; dedicou-se com entusiasmo por quinze anos à investigação deste, e logo ficou conhecido entre os mais distintos médiuns da época. Fenômenos como comunicação com os "mortos" através de escrita direta, materialização e levitação surgiram, flores e outras coisas foram trazidas por mãos invisíveis, maneira pela qual o Além se revela objetivamente em nosso mundo. Franz Hartmann escreve que dificilmente se encontraria alguém na América ou na Europa que tivesse visto mais fenômenos espíritas que ele mesmo. Embora estivesse longe de querer negar os fatos espíritas ou de encará-los como ilusão ou prestidigitação, como cos- tuma agradar a certa classe de "esclarecidos", ele teve a experiência 11de ver que os fenômenos têm uma origem completamente diferente daquela que 0 observador superficial imagina. Em 1833, Hartmann partiu da América para a Índia, onde viveu durante alguns anos se relacionando de maneira mais estreita com ocultistas, iogues e adeptos, adquirindo um grande conhecimento sobre ocultismo. Os conhecimentos e experiências obtidos na área ocultista em conexão com os sólidos conhecimentos científicos em relação às opiniões e teorias vigentes, devidos a sua formação europeia - que preservavam tanto de superestimações quanto de subestimações deram-lhe direito e a capacidade de julgar os experimentos espíritas na qualidade de perito. Todo espírita só virá a se beneficiar com a devida observação das experiências e investigações do Dr. Hartmann. À recém-publicada segunda edição da presente obra adicionou-se o texto do Dr. Hartmann, Os espiri- tualmente mortos, como apêndice. Este tema já havia recebido uma curta abordagem no presente trabalho, mas certamente valioso acréscimo em relação ao assunto será bem recebido pelos leitores. editor 12I Mundos invisíveis (transcendentes) e suas criaturas 13homem sensorial não aceita aquilo que vem do Espírito de Deus; vê como tolice e não pode compreendê-lo porque é algo que só pode ser compreendido espiritualmente. (I Cor. II, 14) Nem mesmo necessitamos ultrapassar as fronteiras da ana- logia aos nossos conhecimentos adquiridos até momento para imaginar povoamento do universo em linha ascen- dente de criaturas, até chegarmos a seres que realmente já não são mais distinguíveis de onipotência, onipresença e onisciência. (Prof. Huxley) No estudo da Mística é necessário, antes de mais nada, haver um consenso em relação aos significados das palavras que utilizarmos. Pela palavra "espírito" entendemos uma emanação da vontade, um pensamento animado através da vontade, uma ideia, esteja ela encarnada ou não. Segundo esta concepção, todas as coisas visíveis ou invisíveis são fruto de uma força espiritual interna efetiva, cujo caráter se 14encontra manifesto no aspecto externo. Todas as coisas são pensamentos encarnados, trazidas à existência através do Espírito. E, a todo aquele que possua tal visão de mundo, fica próxima a conclusão de que no universo existe uma grande quantidade de pensamentos e ideias não encarnados visivelmente para nós, mas que, à sua maneira, necessitam existir substancialmente. Pois onde não houver substância existente, não haverá nenhuma ideia, nem sequer algo passível de reflexão. T odavia não é nossa intenção apelar para especulações acerca da possibilidade da existência de "espíritos elementais" e, menos ainda, a de seres elementais; as observações anteriores têm como único objetivo ir antecipadamente de encontro às objeções iniciais costumeiras em relação ao tema. Para nós, trata-se muito mais de conhecer que a filosofia hindu ensina a respeito dessas mesmas coisas. 0 mundo adquire uma aparência completamente diferente, dependendo se 0 concebermos espiritualmente ou pelo assim cha- mado "ponto de vista Dizemos do "assim chamado" porque até hoje nenhum materialista pôde nos esclarecer que é "matéria". Também este, se quiser articular o pensamento de maneira lógica, precisa reduzir a origem de tudo a uma causa, a qual chamamos de "Espírito" (Atma), cuja manifestação conhece- mos por "vida" (prana). 0 materialista prefere considerar tal causa primordial como um "elemento inerte". Assim, coloca a morte no lugar do espírito vivo e tira da impotência a onipotência, 0 que significa realizar a maravilha que supera os santos milagres: lograr criar algo a partir do nada. Helena Petrovna Blavatsky diz: 15"O onipresente Éter cósmico" não era para os antigos algo desabitado e vazio expandindo-se pelo enorme espaço celeste, mas sim, um ilimitado oceano que, como nossos mares terrestres, é povoado, e no qual deuses, anjos pla- netários, seres gigantescos e também pequenas criaturas moram. Este oceano universal possui em cada um de seus átomos gérmen da vida, do estado mais latente até de mais perfeito desenvolvimento. Como as famílias de seres com escamas que habitam as nossas águas, cada qual ocupando 0 lugar especialmente adequado para si, muitas vezes amigáveis ou hostis aos homens, alguns detendo-se em baías tranquilas ou recantos protegidos, enquanto outros percorrem as profundezas e a imensidão dos mares, assim também antigos conheciam distintas famílias de entes planetários, elementais e outras criaturas habitantes do oceano universal do Éter, com suas naturezas apropriadas para cada região específica. Segundo os ensinamentos dos antigos, todos os habitantes do reino etéreo são frutos da evolução, dos mais altos deuses (devas) até os elementais desprovidos de alma, produzidos pelo incessante movimento que rege mundo astral. A luz é uma força, e a vontade está na base da força; contudo, a vontade nasce de uma consciência, que não se equivoca por ser absoluta e invariável; não possui em si nada dos elementos materiais do pensamento humano; é a irradiação pura da própria UNIDADE DA VIDA (da Eterna Unidade) e desdobra-se dos primórdios da trama original, necessá- ria para as gerações posteriores de criaturas, chamadas de 16"homens". Para todas as classes de homens, sejam eles habitantes deste planeta (a Terra) ou de um dos outros milhares de planetas no universo, corpo material se desen- volve neste solo (o astral) a partir das formas corpóreas de uma determinada família de elementais, as sementes origi- nais de deuses e homens, que entraram em regiões invisíveis (aos nossos olhos físicos). Na filosofia dos antigos não havia nenhum "elo perdido" ao qual a imaginação dos eruditos recorresse a título de substituição; não havia nenhuma lacuna que pudesse ser preenchida com uma carga de espe- culações filosóficas e que se tratasse da tentativa insensata de resolver uma equação de grande complexidade tendo a mão apenas uns poucos fatores conhecidos; os avanços em relação ao tempo passado seguiam de perto a lei da evolução do universo como um todo. Não resta dúvida de que a Natureza nos parecerá mais grandiosa quanto mais refinado for nosso ponto de vista em relação a ela. Aquele que acredita ser algo limitado a totalidade do conhecimento natural deste planeta, não se encontra à frente daquele que imagina não existir nada desconhecido do lado de fora de seu laboratório ou museu. Por isso, os sábios distinguem uma pequena e uma grande ciência natural. A pequena se ocupa apenas daquilo que pode ser constatado diretamente através dos sentidos ou daquilo que microscópio, telescópio, etc. podem fazer sentidos verificarem, trazendo, através da observação, conclusões posteriores em relação aos fenômenos naturais. Em nossa época, a pequena ciência se per- 2. A designação "homem" é ambígua porque o ser humano possui uma dupla natureza. De fato, apenas ser humano reconhecível em si mesmo como semelhante a Deus é um verdadeiro homem; os demais são criaturas análogas a animais, que podem vir a se tornar homens. 17deu em tantos detalhes e especialidades, que fez desaparecer a visão de conjunto e 0 reconhecimento da unidade, do todo. 0 especia- lista moderno é semelhante a um inseto sobre uma folha de árvore, conhecendo bem a geografia da porção sobre a qual caminha, porém nada sabendo da existência da própria árvore, de seu tronco, de suas raízes ou de seus galhos; não pode ver a árvore repleta de folhas ou a floresta repleta de árvores. Em contrapartida, a grande ciência natural identifica 0 Espírito em toda a Criação através do próprio Espírito. Aquele que conseguiu abrir os olhos suficiente para reconhecer a lei do Espírito na Natureza já não encara mais como um mistério o efeito dessa lei nos aspectos naturais; percebe que somente uma, e sempre a mesma lei, atua da mesma forma em todo lugar, tendo efeitos distintos apenas na manifestação, dependendo das necessidades que a fazem surgir. E nisso está fundamentada a semelhança encontrada em todos os reinos da Natureza. Assim, 0 visível é tão somente um símbolo do invisível, todo transitório surge por semelhança ao eterno. Assim como aos poucos se desenvolve, a partir de uma nebu- losa no universo, um mundo com suas criaturas e, por fim, corpo físico humano, também surgem ininterruptamente uma série de produtos evoluídos e essências individuais, do Éter cósmico até os espíritos humanos encarnados. Esta evolução se realiza através de um descender da essência (consciência) até a matéria densa e pelo ascender do ele- mento aperfeiçoado e experimentado à origem de tudo. A descida da essência até mundo material e seu existir individual eram considerados pelos antigos como uma degradação (pecado original). Nesta completa corrente de evolução, todos os seres, sejam eles elementais ou dotados 18de alma, tomaram sua precisa posição entre os dois extremos (matéria e espírito), semelhante ao "elo perdido" darwiniano entre humanos e macacos. homem não é apenas fruto da evolução a partir do reino animal, mas antes um ser superior habitando um corpo originado da matéria terrestre, também conhecia Theophrastus Paracelsus e, por isso mesmo, falava de dois pais distintos dos homens. 0 reino animal seria 0 pai da natureza animal do homem, 0 reino de Deus, 0 pai do qual proveio homem divino.³ homem-animal, materialista e desprovido de espiritualidade, observa apenas a justaposição de elementos inanimados, aí pode homem espiritualmente desperto ver em tudo transparecer o Espí- rito. Para ele não há matéria morta; todos os corpos existentes na Terra, assim como existentes no espaço infinito são manifestações do poder mágico da onipresente vontade na Natureza, são formas nas quais se revelam a vida e a consciência universal de diversas maneiras, dependendo das particularidades da matéria a partir da qual surgem. Para ele, cada coisa na Natureza é um pensamento de Deus, manifesto perfeita, imperfeitamente ou até de maneira errada, de acordo com modo como Espírito da Terra trabalhou; cada coisa é para ele uma morada da Luz Eterna, uma chama fomentada secretamente pelo fogo do amor e pela luz do conhecimento, desa- brochada através da força da vontade interna ativa; cada coisa é um símbolo externo de um pensamento oculto, uma palavra da língua do Espírito na Natureza. A vida secreta na Natureza é algo não apenas conhecido e descrito por antigos sábios, ou suspeitado por modernos filósofos; todos os povos em estado natural intacto tinham noção de como os 3. Verificar Paracelsus, De Fundamento Sapientae, Edição Husers, 1589, p. 437-445. 19mitos e lendas se verificam, mesmo entre as nações menos civili- zadas. Além disso, os grandes poetas e todos aqueles de natureza nobre pressentem a presença de um mundo superior. As crianças frequentemente tomam os habitantes do mundo astral por verda- deiros, enquanto sua capacidade de percepção interior ainda não se enfraqueceu através do que podemos chamar de processo de "adensamento", conhecido por "pedagogia". A um romancista é permitido dizer certas verdades que não podem ser mencionadas em trabalhos de natureza "científica" sem atrair a irritação daqueles que, exatamente por não serem capazes de ver nada interiormente, querem tudo "bem demonstrado" exterior- mente. Entre os muitos que escreveram a respeito dos elementais, talvez nenhum tenha chegado mais perto da verdade que Sir E. Bulwer-Lytton, autor de Zanoni. Nesta obra encontramos 0 sábio Mejnour dizendo a Glyndon: Quanto mais ignorante é ser humano, tanto mais está tomado de presunção. Durante séculos viu, nos inumeráveis mundos que brilham como borbulhas no infinito oceano do universo, nada além de luzes graciosas, que à Providência agradou acender, sem nenhum outro objetivo a não ser de tornar a noite agradável ao homem. A Astronomia deu um fim à ilusão da vaidade, e tivemos de reconhecer, con- trariados, que estrelas são mundos, maiores e mais esplên- didos que nosso. Por todo lado a ciência descobre vida. Tomemos em consideração a lei da analogia: se não existe nenhuma folha e nenhuma gota d'água que não seja um mundo habitável e vivo assim como uma estrela no céu, sim, se até mesmo o homem é um mundo inteiro para outros seres vivos, os quais milhões, miríades vivem em suas veias e habitam seu corpo, assim como ele próprio habita 20a Terra, então ensinaria entendimento humano saudável (se nossos tiranos escolares tivessem algum) que infinito circundante, ao qual você chama de espaço, 0 impercep- tível ilimitado que separa a Terra da Lua e das estrelas, é preenchido com sua forma de vida particular e apropriada para si mesmo. Não é visivelmente uma tolice imaginar que toda folha vibra de formas existentes e que, assim mesmo, no imensurável espaço não esteja contida vida? A lei da grande organização mundial não permite sequer desperdí- cio de um único átomo; não conhece lugar algum onde não respire algo vivente. Você pode imaginar universo, que é próprio infinito, sendo somente um deserto, um desperdício, sem vida e menos aproveitável para a existência em geral que a povoada folha e a habitada gota? microscópio lhe mostra habitantes de uma folha vegetal, porém nenhum dispositivo mecânico foi inventado ainda para revelar os seres nobres e inteligentes que pairam no ilimitado oceano dos mundos. Mesmo assim, existe uma misteriosa e espan- tosa afinidade eletiva entre estes e os seres humanos. Quem quiser transcender essa fronteira, aquele cuja alma está receptiva a tais coisas, precisa estimular sua percepção através do entusiasmo e estar livre de desejos mundanos. Se você assim estiver preparado, então a ciência poderá ajudá-lo; sua visão pode ser aguçada, seus nervos podem ter se tornado mais sensíveis, sua alma pode ficar mais viva e perceptível, e existem certos meios para fazer próprio elemento, 0 ar, espaço mais palpáveis e visíveis. Existem milhões de seres de natureza não totalmente espiritual no espaço, pois, assim como os micróbios, os quais não podem ser vistos a olho nu, estes seres possuem também certas formas materiais, mesmo que delgadas e etéreas, vestindo 21a essência, comparáveis a um véu ou a uma teia de aranha. Possuem várias índoles: alguns são de extraordinária sabe- doria, outros são de assustadora maldade, alguns são tão hostis como demônios para com os homens, outros servem de mensageiros de paz entre a Terra e Céus... Assim disse um dos mais geniais escritores ingleses e é possível que ele soubesse mais do que seria conveniente levar a público. A análise mencionada acima concorda com a doutrina oculta hindu. Ela divide os seres invisíveis do universo nas seguintes classes principais, que por sua vez possuem inumeráveis subdivisões: 1. Arupa-devas: "Deuses", ou antes, inteligências (forças) não revestidas de nenhuma forma (rupa) especial. Não podemos descrevê-los, mas poderiam ser comparados no plano material com ar, luz, calor, eletricidade, os quais também se encontram "por toda parte", sem por isso perder a individualidade. 2. Rupa-devas: Deuses que ainda não decresceram até a ilusão (maya) do existir pessoal, constituindo manifestações individuais. Aqui se encontram os "espíritos planetários" (dhyan-chohans), "Senhores da Luz", na Igreja Católica chamados de "arcanjos" e "anjos". Os hindus falam de 330 milhões desses devas, divididos em 33 classes, os quais habitam os três mundos acima de nós. 3. Elementais: Compreendidos como substâncias (eidolon, umbra) existentes no mundo astral, provenientes dos corpos de defuntos, entre as quais há vários gêneros com mais, menos e até desprovi- dos de inteligência ou de consciência. Aqui temos "fantasmas" pisachas (masculinos) e mohinis (femininos), incubi, succubi e assemelhados, a respeito dos quais existe em língua alemã uma vasta literatura. 224. Mara-rupas: As formas mentais e volitivas nascidas como resul- tado dos desejos (kama) e das paixões (mara); descritos com diversos nomes por Paracelsus como sendo produtos da imagi- nação. Seu reino é kama-loka, reino dos desejos, encontrado por toda parte na Terra. 5. Demônios e diabos (rakschasas): Os "espíritos" de indivíduos degenerados, maliciosos, diabólicos, sejam os mesmos resíduos de pessoas ainda encarnadas, viventes na Terra ou habitantes do plano astral. 6. Espíritos da Natureza: (Seres desprovidos de alma), também chamados de "espíritos dos Elementos". São os habitantes dos quatro reinos elementares, designados por "Terra, Ar, Fogo e Água", não entendidos como a corporificação externa visível desses Elementos, mas antes, como a de seu fundamento psíquico (substância). A tais reinos pertencem, como grupos principais: gnomos da Terra, os silfos do Ar, as salamandras do Fogo e as ondinas da Água. Devem ser considerados, de maneira geral, como amorfas forças vivas da Natureza; podem, contudo, sob certas circunstâncias, surgir como manifestações individuais e formas de consciência. Inumeráveis histórias e contos de fada tratam deles. Todavia, "contos de fada" e "mentiras" são coisas distintas; fábulas e contos de fada são autênticos se neles, sob a máscara da criação artística, há alguma verdade oculta. 0 homem não precisa ir longe ou buscar externamente conhe- cimento de alguma classe desses "espíritos"; basta investigar sua própria natureza humana e intimidade para encontrar aí todas as evidências necessárias. Ele mesmo vive na Terra dentro dos quatro graus da existência: divino, 0 mental, 0 plano astral e mundo físico; habita aquele plano no qual desloca sua consciência, perce- bendo, então, aquilo ao qual ele mesmo pertence. Pode encontrar 23Deus e deuses em seu íntimo, anjos e demônios em sua mente, os habitantes do seu próprio mundo astral e 0 mundo físico sensorial na vida exterior. 0 experimentar pessoal é melhor que qualquer especulação cega. DEVAS Na sequência, voltaremos ao que místicos europeus dizem em relação às várias classes de elementais e, em especial, ao que Paracelsus escreve a respeito. Entretanto, vamos antes lançar vistas aos deuses e daimones dos gregos e romanos, partindo da convicção de que tais inteligências imortais existem e estão ainda sempre pre- sentes; pois, tratando-se apenas de invencionices, até mesmo 0 ato de indagar por que egípcios, gregos e romanos acreditavam em algo que não é nada e que jamais existiu implicaria uma excessiva perda de tempo. Sem dúvida, afinal, é tudo somente uma brincadeira da fantasia, porém em um sentido completamente distinto ao conce- bido usualmente, a saber, a brincadeira da imaginação dos Espíritos Universais e não a da nossa ilusão humana. No sentido místico, Deus não criou 0 mundo, mas apenas imaginou criá-lo; todavia, os resultados da imaginação criadora são nosso mundo real, e nós mesmos somos como uma espécie de sonhos trazidos à existência. Até mesmo os deuses são apenas a imaginação ou os pensamentos divinos, que por fim retornarão à origem; não há existir absoluto a não ser 0 da Verdade Eterna. H. P. Blavatsky diz: Xenócrates ensinava que daimones são seres pertencentes a um grau intermediário entre a perfeição divina e pecado humano, separando-os em classes e respectivas subdivisões. Afirmava que a alma individual de cada homem é a mesma 24que seu próprio daimon protetor, e que nenhum outro dai- mon possui tanto poder sobre nós quanto nosso próprio. daimon de Sócrates não era nenhum "mau espírito", mas sim, "deus" ou próprio "Ser Interno" que 0 inspirou e conduziu enquanto ele viveu, assim como cada um de nós se deixa conduzir e guiar em relação à vida e à morte do corpo físico por seu próprio superior e imortal Deus ou, da mesma forma, pode negar obediência a ele. Heraclides chama os espíritos de daimones de "vaporosos corpos nebulosos" e diz que as almas habitam a "Via Láctea" até descenderem à existência "sob a Lua". Entre os deuses superiores e inferiores, vê três classes de daimones, dos quais as duas primeiras são invisíveis para nós, uma vez que seus corpos são constituídos de Éter e Fogo; a terceira classe tem corpos de forma nebulosa, via de regra também invisíveis, podendo, porém, tornar-se visíveis por alguns instantes através de adensamento. Estes são os espíritos atados terrenalmente denominados de "almas astrais". A palavra "daimonios" tinha entre gregos um significado bem diferente daquele hoje atribuído à palavra "demônio" e era utilizada para designar "espíritos" ou "deuses" de vários gêneros. Apuleio escreve: "A alma humana é um daimon que pode ser entendido como "gênio" em nossa língua. Ela é um "deus" imortal (deva), embora, de certo modo, venha a nascer ao mesmo tempo que 0 ser humano ao qual está ligada. Podemos dizer que ela "morre" como homem, mas apenas da mesma forma como nasce." Ou seja, ela entra no corpo físico, une-se a ele e torna a libertar-se deste através da morte, porém tendo em conta sua dupla natureza: a parte divina- -humana e a parte humana-animal (buddhi-manas e kama-manas). 25Homens elevados espiritualmente eram, de modo geral, designa- dos em tempos antigos por "deuses" ou tratados como encarnações de deuses, 0 que, na realidade, são. Contudo, aquilo que mal infor- mados e espíritas chamam de "espíritos" conhecia-se por resíduos astrais de pessoas e animais já mortos e era chamado de "larvae", "umbrae", fantasmas e sombras. Diz Cícero em relação aos deuses: Sabemos que, entre todos seres vivos, homem é mais bem formado, e, como os deuses pertencem a esta mesma classe, devem possuir uma forma humana. Não digo que deuses possuam corpo (terreno) e sangue fluindo dentro dele, mas sim, que é como se possuíssem um corpo com sangue. Epicuro, para quem as coisas ocultas eram tão concretas como se as houvesse tocado com as mãos, ensina-nos que deuses não são visíveis da maneira usual, mas sim, inteli- gíveis; que não possuem corpos com determinado grau de solidez, porém podem ser por nós reconhecidos em suas fugazes aparições, e que no espaço infinito existem átomos suficientes para produzir tais figuras, que são geradas por nós mesmos e nos permitem conhecer como são estes glo- riosos seres imortais. Também hoje em dia não são apenas velhas senhoras e loucos a acreditar na possibilidade da existência de outros seres além de homens e animais no universo, como pensam muitos. A visão res- trita da ciência é motivo pelo qual se conhece, em lugar da vida, apenas metabolismo, e a gravitação em vez do amor. 0 cego materialista não vê no universo nada além de um con- glomerado de matéria inerte do qual surge, de maneira inexplicável, a atividade chamada de vida e consciência. místico vê 0 Espírito no mundo inteiro, em nenhum lugar vê matéria morta; em toda 26parte existe para ele vida e consciência evidenciadas em corpos materiais. 0 protestantismo ortodoxo não atina em nada além da fé cega nas letras mortas da Bíblia; não conhece espíritos, nem sequer Espírito ou significado espiritual das Escrituras Sagradas e por isso caminha a passos largos em direção à ruína. 0 catolicismo (em esfera mais restrita) sabe do Espírito vivente por detrás do véu da manifestação material exterior, acredita em boas e más formas de consciência (anjos e diabos) e divide os seres celestes em diversas classes. Em Figuras Secretas dos Rosa-cruzes, dos séculos XVI e XVII, parte I, tábua 11 pode ser encontrada a seguinte classificação: Acima ou, se preferirmos, no centro está a Divindade manifesta, a Unidade da qual tudo surge e para qual tudo retorna, alfa e ômega que a tudo abarca e é representado como Sol Espiritual do universo (Brahma). Desta Luz surgem, ou melhor dizendo, nesta Luz se manifestam os arcanjos, anjos, tronos, dominações, potestades, principados e virtudes. Destes, em segundo plano, comparável ao reflexo da luz do sol, tornam-se reconhecíveis os sete "planetas" ou "princípios das coisas", simbolizados pelos signos do "Sol, Lua, Júpiter, Mercúrio, Marte, Vênus e Saturno", representando todas as forças espirituais viventes e estados de consciência, significado este completamente distinto àquele que lhes é atribuído pelos astrônomos. Estas são as forças divinas vivas na Natureza e, através de sua atuação na matéria, vêm à existência incontáveis formas, tanto visí- veis quanto invisíveis. Toda criatura que possua existir individual possui também vida individual, por conseguinte, possui "alma" individual e seu respectivo corpo astral, cuja expressão exterior é a forma visível. Assim como a imagem interna é reflexo da luz mais íntima, assim é a aparência externa reflexo da imagem interna, seja ela um retrato preciso ou uma distorcida caricatura. Neste sentido, 27cada flor é habitada por uma bondosa fada, isto é, uma força viva, cuja principal virtude é a da beleza, ou a da harmonia e, na alma dos homens não está representado apenas Deus, mas também reino dos Céus e, por fim, todo reino animal. 0 homem é centro para qual aflui toda a Natureza, a fim de, através dele, novamente se elevar à origem divina. Em razão disso, é possível observar como, na representação mencionada acima, a partir do centro, do Lapis Philosophorum, surgem os sete "metais", ou seja, as forças místicas e as formas de consciência superiores, até que finalmente tudo retorne, já em forma depurada e consciente de si, a sua origem. 0 que na Índia era designado por deuses ou devas é encontrado com frequência na mística cristã sob nome de "anjos". Os deuses dos egípcios, gregos e romanos conservam-se; foram apenas reba- tizados pela Igreja Cristã. Assim, o antigo Jupiter Olympus é hoje "São Pedro" em Roma. ANJOS Mestre Eckhart diz: caráter dos anjos é o da ponderação, e, por meio desta, gozam da contínua contemplação da Luz Divina. Em número são incontáveis, em concordância à abundância irrestrita da Divindade. Cada anjo possui sua índole própria e concebe a totalidade da Natureza de maneira particular. Quanto mais próximo estiver de Deus, tanto mais alta será sua posição. Cada qual capta da Divindade quanto é capaz de captar. anjo é um espelho imaculado no qual a Luz Divina se reflete sem turvação. Encontra-se, assim, livre e imaterial 28entre Deus e mundo físico. Sendo 0 próprio retrato da Divindade, deixa transparecer por todo seu ser a imagem de Deus. Jakob Böhme diz: Da força nasceu fogo, do fogo nasceu Espírito e Espírito gera no fogo novamente a força, constituindo um vínculo indissolúvel. Deste ânimo presente na escuridão, Deus fez nascer os anjos, que são labaredas, porém transpassadas pela luz da Divindade. A partir da Natureza eterna Deus revelou Sua sabedoria, pois em essência, como no saber divino, o feitio dos espí- ritos e criaturas foi para a eternidade. Todavia, devido ao movimento de Deus-Pai (da Origem), são criaturas formais, de acordo com cada essência-virtude, no verbo fiat, como no verbo da força. Por isso os anjos são denominados de labaredas, porém atravessadas pela Luz de Deus. A benévola essência e caráter dos anjos é uma força do fogo e da luz central; nisto consiste seu retrato. Mas, a idea neles é uma figura do nome sagrado de Deus, tal qual do verbo milagroso. E, como os nomes divinos são muitos e incon- táveis, existe também uma diferença entre as ideis neles, assim como efeito de uma força é diferente do de outra. Embora para Deus elas sejam iguais, no resultado, assim em sabedoria, são distintas. Na realidade, do abrangente deus planetário até 0 animal, e do animal descendendo até a pedra que jaz no campo, toda criatura 29é uma palavra, uma luz, uma ideia, uma vontade, uma força, um Espírito; é semelhante às demais criaturas em relação ao Ser mais interno, todavia distinto a estas em manifestação e revelação de suas características. 0 homem, contudo, abarca todos os quatro reinos; pode se apresentar como deus, como espírito, como animal ou como algo inanimado. Todos os enigmas estão resolvidos para quem se conhece a si mesmo, e este não necessita de "autoridade" para obter entendimento e certeza acerca de tais coisas. Na Doutrina Secreta de H.P. Blavatsky, encontramos uma expo- sição da história da evolução espiritual do universo e podemos ver como, semelhante ao raio de sol dividindo-se em sete cores no plano físico, a partir do Sol Divino da sabedoria irradia-se a vida e a luz, desdobradas sete vezes, revelando os sete "espíritos-fonte". Estes, entre outras coisas, são abordados também na Bíblia (Apocalipse de São João) como as "sete tochas de fogo do trono de Deus", das quais derivam as demais classes de seres, forças e formas celestiais, descri- tas pela filosofia hindu como possuindo mais de 33 milhões de tipos. OS QUATRO MUNDOS Como já mencionado várias vezes, diferenciam-se no macro- cosmo assim como no microcosmo quatro graus da existência ou planos, aos quais também correspondem seus respectivos habitantes. Podemos enumerá-los da seguinte maneira: I. mundo da Divindade II. 0 mundo espiritual ou dos deuses (swarga-loka ou devachan); III. 0 mundo astral (região intermediária, anima mundi, antarikscha ou bhuvar-loka); IV. mundo físico, isto é, aquilo que é para nós externamente perceptível (bhur-loka). 30Em outras palavras, estes quatro mundos são quatro graus de consciência no cosmos, a saber: 1. Ananda: 0 reino da eterna felicidade e bem-aventurança, cujo Sol é 0 Absoluto, a indefinível autoconsciência divina, a Divindade (Parabrahman). 2. Vijnana: 0 reino da sabedoria (buddhî), da alma pura, cujo Sol é Deus (Brahma). 3. Manas: reino do pensamento, da inteligência e do discerni- mento, cujo centro é homem, ou antes, 0 aspecto humano. 4. Prana: 0 reino da vida sensorial na Natureza, cujo centro é sol físico, a fonte de toda a vida na Terra. A cada um destes reinos cabe a organização de seus seres viven- tes. De uma organização dos habitantes do mundo da Divindade não podemos sequer fazer ideia. Os hindus dividem tal mundo em quatro reinos, sendo estes: 1. Mahar-loka: 0 mundo de Prajapati (Logos); 2. mundo do conhecimento; 3. Tapas-loka: mundo do amor divino; 4. Satya-loka: 0 mundo da sabedoria No reino dos devas encontramos os corpos transfigurados de seus habitantes, conhecidos por karana-scharira. No mundo astral, as manifestações são de natureza semimaterial (sukschma-scharira). Os corpos materiais totalmente condensados de nosso mundo físico são chamados de sthuhla-scharira. 4. Falta mencionar que não devemos imaginar estes "mundos" como localidades sepa- radas entre si, mas sim, como situações, assim como luz e calor, que não são localmente distintos, porém são diferentes em suas características próprias. 31Com respeito aos reinos divinos superiores ou estados superio- res de existência nada podemos saber, enquanto não os conhecer- mos por experiência própria. Por ora, em relação a estes estados, é nos dada apenas a possibilidade de recorrer àquilo que foi dito ou escrito por pessoas provavelmente iluminadas. Jane Lead⁵, por exemplo, diz seguinte: Foi-me revelado existirem diversas regiões ou mundos que recebem as almas de todas as ordens e graus, sendo precisa- mente oito. primeiro destes é perecível mundo visível; segundo, mundo astral ou aéreo; o terceiro, 0 elementar mundo aquoso; quarto é sombrio mundo ígneo (kama- -loka). Estes quatro são os mundos em que adentram e moram pecadores lascivos... Aos quatro mundos superiores não é permitida a entrada de nada mau ou pecaminoso, nem é tolerada a existência de maldade ou de pecado em seus habitantes. primeiro destes é Mundo Paradisíaco, um estado divino no qual se realiza desenvolvimento a uma perfeição ainda maior, a fim de nos tornar preparados para "Reino Sion"; terceiro constitui a "Nova cercado pelo "Mar e acima deste, a "Silenciosa Eternidade", da qual nascem todos estes outros mundos. Também a doutrina hindu diferencia pelo menos duas regiões no mundo astral: a região do "mundo aéreo" e mundo do "fogo", entendido como desejo e paixão (kama-loka). À primeira região cor- respondem corpos astrais autênticos (linga-scharira); à segunda região correspondem as formas animais de seus habitantes (kama- -rupa). A "Silenciosa Eternidade", porém, é a divina luz da sabe- 5. Uma mística e vidente inglesa do século XVII. 32doria, que paira infinitamente acima da luz astral e na qual todas as coisas encontram sua origem. Uma vez que em cada grau da existência mundo circundante é resultado da vontade e da imaginação (consultar Schopenhauer), é compreensível que a beleza na representação do mundo onde nos encontramos, quer antes, quer depois da morte do corpo físico, dependa da pureza de nossa vontade e da beleza de nossa imagi- nação. Sendo a vida somente um sonho, seja antes ou depois da morte, despertar se inicia apenas quando Espírito começa a viver elevado a sua autoconsciência divina, acima de todos os conceitos. Mesmo em nosso mundo físico, 0 ser humano aceita apenas aquilo que lhe chega aos sentidos e lhe ocupa a mente. Em situações subjetivas, nas quais não influem impressões externas e não existe a razão para concebê-las, aí vive cada ser em seu próprio círculo imaginativo, e as imagens que vê podem parecer agradáveis ou desagradáveis, dependendo da direção psíquica tomada; cada um observará os pensamentos brotando e desenvolvendo-se natural- mente dentro de si. É devido a isto que também os sonhos de uma pessoa são diferentes dos de outra. As "comunicações vindas do Além" contradizem-se mutuamente e, da mesma forma, as descrições feitas por "espíritos" de regiões superiores são divergentes entre si. Swedenborg e outros escreveram muito acerca destas coisas; não obstante, ainda que tais narrativas contenham alguma verdade, a maior parte de cada uma delas é mesmo uma brincadeira da fan- tasia. É de se ter em conta, no entanto, que da mesma forma como durante a vida terrestre se possa estabelecer uma comunicação entre as mentes de duas pessoas e, se é possível até a comunicação remota de pensamentos entre duas partes do mundo, assim é pos- sível imaginar uma tal circulação também em um mundo superior ou entre dois mundos. 33H. P. Blavatsky, a propósito, diz seguinte na Doutrina Secreta: Maya (ilusão) é algo ligado a todas as coisas perecíveis; todo existente é de natureza relativa e não verdade absoluta, pois aspecto tomado pelo ser oculto em sua apresentação é dependente da imaginação do observador. Uma pintura carece de sentido para selvagem; representa para ele apenas cores e traços, enquanto uma pessoa instruída reco- nhece significado nela contido. Nada é duradouro, exceto a oculta Unidade do Ser, que contém ela mesma a própria causa da origem de tudo. As formas existentes em todos os planos, ascendendo até 0 mais alto dhyan-chohan são, de certo modo, como sombras lançadas por uma lanterna mágica em uma tela desprovida de cor. Todas as coisas são, então, apenas reciprocamente verdadeiras, pois visível é ele próprio um reflexo, e os demais reflexos são para ele tão verdadeiros quanto ele mesmo. Se quisermos ver a Verdade em algo, devemos procurar por ela dentro da própria coisa, antes ou depois de sua passagem fugaz pelos caminhos materiais. Contudo, não poderemos reconhecer diretamente um tal ser enquanto nossas ferramentas sensoriais forem apenas capazes de trazer formas materiais de existência à esfera de nossa consciência. Sempre nos parecem ser uni- camente verdadeiros em cada grau de consciência somente nós mesmos e as coisas pertencentes a este grau. Porém, ao ascendermos pela escada do desenvolvimento perceberemos não ser nada além de sombras aquilo que considerávamos verdadeiro enquanto permanecíamos no degrau inferior. desabrochar da individualidade (do Íntimo) é um desper- tar sucessivo e progressivo, no qual cada etapa traz consigo 34a ideia de que agora finalmente encontramos a Verdade. No entanto, somente quando alcançarmos a Consciência Absoluta (autoconsciência plena) e tivermos fundido a nossa essência com ela estaremos livres dos enganos de maya. Há pouco valor em fazer especulações em relação a coisas das quais nada podemos saber enquanto estiverem além das fronteiras de nossa experiência própria. Por isso, diz também Apolônio de Tiana: Deus pertence e não a ti, ó homem: a imperecível alma! Do corpo extinto de pronto se eleva cavalo alado; Liberta da prisão, esvai-se e mistura-se ao ar mais leve, Deixando atrás de si a névoa pesada e funesta. De nada adianta a ti, com respeito àquilo que só após a morte se tornará claro, Ainda em vida com inquietações torturar-se a si mesmo. Fôssemos nós como deveríamos ser, superiores à vida e à morte em nossa autoconsciência, capazes de entrar neste estado que chamamos de samadhi, então seriam agora claras as coisas para nós; poderíamos também, como os adeptos e santos fizeram, relacionarmo-nos de maneira consciente com os deuses em nosso estado superior. Enquanto, porém, nós próprios formos espíritos inferiores, poderemos travar conhecimento apenas com espíritos inferiores e teremos de nos contentar com aquilo que os ilumina- dos dizem em relação aos espíritos superiores, pois conhecem as coisas por experiência própria. Os "espíritos" inferiores ou "forças anímicas" podem ser conhecidos pelo homem comum através da auto-observação; para isso ele necessita apenas estudar seus particulares estados de ânimo. Sua própria natureza é como uma espécie de hospedaria, na qual estes "espíritos", diariamente, de 35instante a instante, entram e saem. E é hospedeiro quem melhor pode vir a conhecê-los. Observará que todo desejo, toda paixão tem sua causa em um "espírito" que possui ou exerce influência sobre ele. Em outras palavras, os seus próprios sentimentos de desejo são resultado de uma forma do desejo, trazida à vida dentro dele mesmo, despertada por impressões externas, plasmada através de sua imaginação em efígies que lhe vêm à mente. Entendemos uma forma mental, trazida à vida pelo desejo, como sendo um "espírito", assim como entendemos a mente também, em geral, por espírito. Uma ideia que ainda não tomou determinada feição é amorfa (arupa); quando tomar uma forma concreta através da imaginação torna-se algo individual (rupa); em contraposição a coisas materiais palpá- veis, torna-se um "espírito". Estes "espíritos" todo homem cria ao longo de sua vida, e não são necessárias fórmulas para seu exorcismo. Da carta de um adepto retiramos seguinte: Todo pensamento concebido pelo ser humano, tão logo esteja formado, passa para um outro mundo (grau de exis- tência), tornando-se lá uma individualidade autônoma, quando, por assim dizer, funde-se com um "elemental" (correspondente a sua natureza), isto é, reúne-se com um ser semi-inteligente daquele reino. Lá vive, como uma efe- tiva forma de existência consciente, como um produto da mente, por um período mais ou menos longo, dependendo da intensidade das funções cerebrais que criaram. Assim, um bom pensamento torna-se um poder de caridade, enquanto um mau pensamento transforma-se em um demônio mali- cioso. ser humano povoa continuamente, pois, sua esfera de existência com o nascimento de fantasias, suposições, 36desejos e paixões. Tais emanações resultam novamente em estados de ânimo sensíveis, com os quais elas travam contato, em relação à energia que contêm. Assim, todo homem vai criando estes "espíritos" de maneira consciente ou sem saber, e um é constantemente "hipnotizado" e "possuído" pelo outro. Todavia, ele ainda pode ser "hipnoti- zado" e "possuído", sem dar-se conta, por outros "espíritos" além. Um pensamento-entidade proveniente de um estranho em algum lugar longínquo pode influir em outra parte do mundo sobre este ou aquele homem predisposto, amadurecer como pensamento em sua mente, e tornar-se operante dentro dele. Assim surgem igualmente as invenções e são iniciados crimes. Uma ideia trazida à existência é algo vivo, e nem a morte natural, nem a execução do próprio homem do qual ela proveio pode exterminá-la. No mundo dos "espíritos" e pensamentos ocorrem constantes nascimentos, mesclas e mortes. Da confluência de ideias surge uma nova série de pensamentos, a partir dos quais outras formas se desenvolvem, plasmando-se no mundo da aparência exterior de acordo como quer a moda ou a necessidade. Não obstante, aquilo que o ser humano realiza em pequeno, Espírito Universal realiza grandiosamente, com a diferença de que pensamentos de "Deus", enviados através do Espírito, são capa- zes de se desenvolver sem a ajuda humana em formas materiais no seio da Natureza, criando deste modo um mundo exterior, assim como homem cria em seu interior. Um mundo que para nós surge externamente, porém existe em Deus, assim como existem os pensamentos humanos dentro da esfera mental (no intelecto) do homem. Ruckert exprime tal realidade nos seguintes versos: 37mundo é pensamento inimaginável de Deus, E divino o ofício de pensar sem barreiras. Nada há no mundo, que não contenha matéria pensante, E nenhum pensamento existe, que não colabore na cons- trução do mundo. Por isso minh'alma ama mundo, por amar a imaginação, E ele em toda parte fornecer tanto para pensar. Dada a quantidade de inteligências invisíveis no universo ser legião, uma classificação destas tornar-se-ia um empreendimento crítico. Por si só, um intento nesta direção seria apropriado para percebermos 0 quanto é limitada a nossa visão do infinito, quando tentamos colocar fronteiras no ilimitado. Apenas os nomes dos "deuses" hindus, devas, adityas, rudras, vasus, sadhyas, viswas, maruts, ghandarvas, jakschas, suras, asuras, siddhas, rakschasas e assim por diante já preencheriam vários volumes de uma biblioteca; ao mencioná-los, nos restringiremos a apenas algumas das mais importantes classes entre eles. PITRIS H.P. Blavatsky diz: Os devas e os pitris são para nós os mais importantes den- tre os 330 milhões de "deuses" do panteão hindu e são, ao mesmo tempo, os menos compreendidos pelos orientalistas. Sua natureza foi sempre mantida oculta pelos brâmanes, em razão destes não estarem dispostos a abandonar seus segredos filosóficos ao conhecimento acadêmico europeu. 38Os devas são seres de forma vaporosa, alguns posiciona- dos acima, outros abaixo do homem (medíocre). A palavra "deva" significa "o brilhante", "o radiante" e diz respeito a um conjunto de seres diversos, desde aquelas inteligências provenientes de manvantaras anteriores, as quais participam da formação de novos sistemas solares e se ocupam da edu- cação da humanidade em sua infância, até os escassamente desenvolvidos espíritos atados ao planeta, que costumam se apresentar em sessões espíritas sob a máscara de divindades humanas e personagens históricos. Em contrapartida, deva-yonis são elementais de índole inferior, se comparados aos deuses cósmicos, e podem inclusive ser subjugados pela vontade de magos negros. A esta classe pertencem gnomos, silfos, fadas, djins etc. São as essências dos Elementos, as forças caprichosas da Natureza, que se encontram submetidas a uma lei inalte- rável, inerente a tais centros de força. Sua consciência é pouco desenvolvida e seus corpos são de natureza plástica, podendo tomar, assim, qualquer configuração, de acordo com a vontade consciente daquela pessoa com quem estão travando contato. É por meio desta classe de elementais que espíritas recebem (sem saber), no momento em que incorporam os restos desvanecentes de pessoas mortas (cadáveres astrais) munidos de uma espécie de energia individual (galvanizando-os, por assim dizer, em uma vida aparente). Estes seres nunca foram homens, todavia poste- riormente, em miríades de eras, evoluirão a seres humanos. Pertencem aos três reinos inferiores da Natureza (reinos 39elementais) e conhecimento dos mesmos faz parte dos Mistérios, uma vez que lidar com eles traz perigos." (Este assunto será abordado mais adiante). Em relação à natureza dos pitris, podemos dizer que até mesmo entre os eruditos europeus reinam ideias comple- tamente equivocadas. Acredita-se, em geral, ser nome "pitris" referente aos espíritos de nossos antepassados diretos, aos "defuntos"; espíritas creem que os faquires são médiuns, quais só são capazes de realizar seus fenô- menos com a ajuda destes espectros humanos. Isto constitui um equívoco do começo ao fim. Os pitris não são os ante- passados (diretos) de pessoas atualmente vivas, mas sim, os antepassados da humanidade atual, uma raça original, ou seja, os "espíritos" de raças humanas que precederam a nossa raça na grande escala da evolução descendente (de muitos milhões de anos), os quais eram, de longe, supe- riores, tanto em relação ao aspecto físico quanto espiritual, à nossa linhagem anã. No são chamados de antepassados lunares. São devas da "Lua" (isto é, do intelecto) ou do Sol (da Sabedoria). Os primeiros doaram, no curso da evolução, seus "châyas" (sombras) para a formação da primeira sub-raça da quarta raça; os últimos dotaram a humanidade de entendimento. Na Bíblia consta que os Filhos do Céu (os pitris) notaram que as filhas dos homens (os envoltórios humanos terrestres, ainda despro- vidos de alma) eram belas e uniram-se a elas. 0 que isto significa, e como tais "espíritos" animaram os corpos dos homens primitivos, tornando-os seres dotados de razão e aptos à imortalidade, está 40descrito no Rig-Veda e, de maneira ainda mais clara, representado na Doutrina Secreta. Existem sete tipos de pitris, dos quais três são incorpóreos (arupa) e quatro são corpóreos (rupa). Um aprofunda- mento na análise de sua natureza não está no âmbito deste artigo. FORMAS KAMA-RUPA Estas criaturas, cuja manifestação é plasmada através de desejos inerentes a elas mesmas, não constituem seres celestiais (pertencen- tes ao devachan), mas sim, seres astrais. São habitantes do plano astral de nosso mundo, podem tornar-se visíveis sob determinadas circunstâncias e entrar em contato com os homens. H. P. Blavatsky diz: Como podemos ver, os pitris nada têm que ver com espectros nem espíritos de defuntos, como são considerados, segundo modernos conceitos. Constituíram uma transição na criação da raça precedente, passando de raças humanas etéricas para a presente linhagem humana material. Naturalmente, não estão ligados às brincadeiras espíritas ou aos milagres dos faquires e, muito menos, está relacionado a tais coi- sas Divino Espírito de uma pessoa já falecida. Por outro lado, consideremos a lista dos diversos demônios entre os elementais, e descobriremos que já seus próprios nomes demonstram fatos: indicam a que sua natureza melhor corresponde. Como exemplos, serviriam os seguintes: Mâdan é nome de uma classe de elementais de tipo malé- volo, metade besta, metade monstro. Mâdan caracteriza uma criatura de aparência bovina. É amigo de maliciosos 41feiticeiros e os auxilia na execução de suas más intenções, ao mesmo tempo que faz pessoas e gado serem acometidos de doenças repentinas, podendo inclusive matá-los. Schudâla-mâdan ou demônio dos cemitérios é uma espécie de vampiro. Diverte-se ali onde crimes e assassinatos são cometidos, adora principalmente túmulos recentes, mata- douros e execuções. Ajuda "ilusionistas" na produção de fenômenos (no atear fogo, no tornar inqueimável etc.), tal qual kutti-schâttan, os pequenos "espíritos" feiticeiros. Diz-se que schudâla é metade "espírito" do Fogo, metade da Água; tem poder de tomar uma forma qualquer e de transformar uma coisa em outra. Quando não está no fogo, está na água. Pode ofuscar os olhos das pessoas para que tenham a ilusão de ver coisas que na realidade não veem (sugestionamento). Schûla-mâdan é outra entidade fantasmagórica malévola. É versado na arte de fermentar e assar. A quem é seu amigo, ele não causa dano, porém, prejudica aquele que ofende. Adora cumprimentos e adulação. Por permanecer geral- mente debaixo da terra, faquires recorrem a ele quando querem realizar o "milagre", bem conhecido na Índia, de fazer crescer uma mangueira com frutos maduros em quinze minutos a partir de um caroço de 6. Que tal "milagre" possa ser imitado por ilusionismo nós sabemos e, de mais a mais, alguns de nós podem até mesmo ter aprendido seu procedimento. Todavia, isto não impede que fenômeno genuíno possa realmente ser produzido. 42Kumil-mâdan é na verdade uma ondina. É um elemental da Água, e seu nome representa ruído de uma borbulha ascendente. É um alegre brincalhão e ajuda as pessoas ami- gas em coisas pertencentes a seu ramo. Espirra água aqui e ali, faz chuva, revela 0 presente e futuro àqueles que se ocupam da hidromancia. Poruthû-mâdan é um demônio hercúleo, mais forte de todos. Ajuda no espiritismo em movimentos de coisas sem que sejam tocadas, em "levitações", no amansar de ani- mais selvagens e em coisas parecidas. De fato, a cada tipo de "manifestação física" nas sessões espíritas corresponde uma classe própria de elementais, os quais a conduzem, ajudando em sua realização.⁷ Além desses, são conheci- das na Índia inúmeras espécies de elementais, demônios, gigantes, vampiros, asuras, nagas, dragões, criaturas com cabeça de serpente etc. LARVAS Estas criaturas (os demônios) não devem ser confundidas com as "sombras astrais", "almas", "larvas" ou com os resí- duos astrais de pessoas falecidas, os quais, por sua vez, são bem distintos das verdadeiras almas dos homens (buddhi- 7. Os elementos que estes "espíritos" necessitam para realizar "boas manifestações" são conhecidos por todo aquele que se ocupa de maneira profunda do espiritismo e estudou a prática de importantes médiuns na "materialização" e nas manifestações "físicas". Pormenores podem ser encontrados nos trabalhos de Theophrastus Paracelsus. Vol. X. Philosophia occulta. "De Natis Animalibus ex Sodomia." 43-manas). As autênticas almas do homem são superiores a todo terrenal e não tomam mais parte do teatro de sombras deste mundo depois de sua entrada para a condição divina, enquanto a porção animal da alma humana ainda perma- nece no reino astral. Sobre isto diz Proclo: "Após a morte, a alma parte habitando corpo vaporoso (corpo astral), até estar purificada de toda ira e de toda paixão. Então despe-se do corpo astral através de uma segunda morte, da mesma maneira como deixou corpo terrestre. Os antigos, entretanto, dizem que há um corpo celestial unido à alma, qual é imortal e semelhante às estrelas." Plutarco diz: "O elemento dessas almas é a Lua (em sentido místico), pois as almas se dissolvem nela (em esfera astral), assim como os corpos físicos dos mortos na Terra. Os virtuo- sos e honrados, que conduziram uma vida tranquila e em amor à sabedoria, sem procurar criar para si mesmos muita insatisfação, são dissolvidos rapidamente. Seus resíduos, abandonados pelo nous (entendimento) e não mais man- tendo a ação das paixões físicas, terminam por desaparecer." Para os antigos egípcios, cujo ensinamento foi levado à Índia pelo povo ário, tais coisas eram familiares. Os modernos arqueólogos, frente a exemplares de papiros, a sarcófagos, ao Livro dos Mortos, a paredes de templos e construções subterrâneas, a figuras e símbolos de inúmeras formas, não puderam explicar de outra maneira as fantásticas repre- sentações encontradas, senão como sendo as de pretensos deuses, e supuseram, então, que os egípcios adoravam gatos, cães e uma série de coisas insignificantes. Esta ideia é abso- 44lutamente falsa e surge da moderna ignorância a respeito do mundo astral e seus singulares habitantes. Existem muitos tipos de larvas e formas A mais alta categoria entre as larvas e fantasmas com respeito à inteligência e à astúcia é a dos assim denominados "espec- tros humanos terrenalmente atados". Por hora, deve bastar saber a seu respeito fato de eles constituírem os resíduos e sombras daqueles que viveram sobre a Terra, não impor- tando se conduziram bem ou mal as suas vidas. São as partes fundamentais de todos os seres desencarnados (homens e animais) e podem ser divididos em três grupos principais: 1. Os espiritualmente mortos. Este primeiro grupo abarca as larvas das pessoas resistentes a todo conhecimento superior, profundamente enraizadas no aspecto material, que já mor- reram, e de cujas almas pecadoras Espírito imortal pouco a pouco foi se desconectando. São, usando as palavras cor- retas, as almas defuntas de pessoas desprezíveis, almas que já estão totalmente apartadas de seu Espírito Divino antes mesmo da morte do corpo físico, havendo, assim, perdido a possibilidade da imortalidade. Depois que estas "almas", ou antes, larvas astrais principalmente aquelas de pes- soas muito apegadas ao aspecto material - separam-se do corpo físico, são inexoravelmente atraídas para a Terra, onde 8. A fim de evitar confusão, traduziremos a palavra elementaries (eidolon) as som- bras de pessoas mortas por "larvas", e os elementals, os espíritos dos Elementos, por "elementais". 9. A este respeito, consultar Fährmann, "A natureza setenária do homem e do universo" (Separata da parte III do Grande Catecismo Teosófico). Editora Der. 45levarão uma vida temporária e finita, sob circunstâncias apropriadas para sua natureza rude. Devido a elas, durante toda a sua vida, nunca haverem cultivado uma disposição para superior e para nobre, ao contrário, terem preferido a vileza, agora também não são mais adequadas ao existir superior, apropriado para falecidos seres puros, para os quais a atmosfera da Terra chega a ser sufocante e fétida. A gravitação destes seres superiores não só se dá longe da Terra, como eles poderiam, se espontaneamente quises- sem, devido a suas virtudes divinas, propositadamente não manter nenhuma ligação com a Terra e seus (Exceções em relação ao que se está dizendo serão mencio- nadas posteriormente). As "almas" materiais, entretanto, cedo ou tarde decompor-se-ão e, ao final, átomo a átomo serão dissipadas, como um nevoeiro, dentro do Elemento circundante (o fogo astral). Estas são as larvas que se detêm 10. Há muitos anos os seguidores do espiritismo têm se esforçado em combater, através de todos os meios possíveis, os ensinamentos teosóficos e seus defensores, além de promover sua teoria preferida, a manipulação dos "espíritos dos mortos". A causa da discórdia está, como é usual ocorrer em relação a tais assuntos, nas diversas interpretações da palavra "espírito". Enquanto H. P. Blavatsky dedica a denominação "espírito" apenas à parte divina e imortal do homem, os espíritas consideram sob esta designação também os resí- duos astrais do ser humano, com sua vida intelectual e sentimental inferior, os quais não pertencem ao real Ser, mas somente à natureza animal superior do homem (kama-manas). A dificuldade em discernir entre tais seres inteligentes, porém desprovidos do Espírito, e verdadeiro Espírito imortal do homem, reside na nossa falta de Mesmo nesta vida, por vezes é difícil dizer se estamos frente a um ser humano verdadeiro ou a somente um homem-animal desligado do Espírito, pois mesmo um alto grau de eru- dição, perspicácia, inteligência, cultura etc. não provam que seu possuidor seja um homem autêntico, isto é, que sinta amor à virtude, à Verdade, à justiça e às demais qualidades pertencentes à natureza humana imortal. Enquanto estas duas naturezas estão unidas no homem terreno e, por trás do intelecto pode estar a inteligência espiritual, elas estão separadas uma da outra no morto (com certas quando encontramos apenas um ser desprovido do Espírito, o espectro das partes fundamentais inferiores. 46por mais tempo no kama-loka; encontram-se saturadas de emanações terrenas e seu kama-rupa (corpo de desejos), forte em sensualidade e impenetrável para a influência espiritual dos princípios superiores, resiste muito e decompõe-se com dificuldade. Tem-nos sido ensinado que tais larvas existem por séculos até desaparecerem por completo.¹¹ 2. Kama-rupas. segundo grupo abrange todos aqueles que tiveram um grau usual de espiritualidade, contudo, de maneira mais ou menos intensa, estiveram apegados a coisas terrenais e direcionaram suas esperanças e anseios mais para a Terra que para Firmamento. período de permanência destes resíduos no kama-loka, espaço de tempo correspondente ao ser humano comum, é mais curto que da classe anterior mas, ainda assim, longo, e depende da força de vida dos desejos.¹² 3. Pessoas subitamente desencarnadas. Ao terceiro grupo pertencem aqueles que morreram de uma maneira violenta. São homens completos, com todas as partes fundamentais disponíveis, à exceção do corpo físico, isto é, encontram-se desencarnados, e assim permanecem, até chegar momento em que normalmente teriam passado pela morte 11. Assim como para corpo físico, não há para a larva astral outro fim, que não a total destruição, dado a porção imortal do homem já ter se separado dos elementos animais e não poder voltar a se unir a eles. 12. Aqui encontramos a explicação científica do "Purgatório", cuja existência é uma necessidade da Natureza, pois os elementos puros têm de se separar dos impuros. Isto ocorre depois de uma morte violenta do corpo físico, senão já antes da morte, pouco a pouco. 13. Tais "espíritos" atados terrenalmente são chamados de "bhuts" (fantasmas) pelos hindus. Estão presos à Terra por meio de desejos não satisfeitos. 470 católico Mestre Eckhart diz: Inferno não é um local, mas sim, uma circunstância. que dentro dos homens é a essência permanece na eternidade como essência, precisamente como é encontrada neles mesmos. Muitos pensam poder ter aqui um caráter desnatu- rado e lá conquistar um caráter divino. Nisto se equivocam. sofrimento dos condenados (por si mesmos condenados) consiste substancialmente em estarem conscientes de sua própria nulidade, enquanto permanecem privados da con- templação do Mais Alto. que é incinerado no Inferno é a vontade do ego, a ausência do Ser. Se eu colocar um car- vão em brasa em minha mão, não é tanto 0 carvão que me queima, mas antes a ausência, devido ao carvão possuir algo em si que a minha mão não possui; pois fosse a minha mão de natureza ígnea, como a do carvão em brasa, então todo 0 fogo do mundo não poderia causar-lhe dano. Assim ocorre aos "condenados". Porque Deus e todos os que vivem em autêntica glória perante a Divindade têm algo que aqueles apartados de (seu) Deus não possuem, assim é esta ausência a torturar as almas no Inferno muito mais intensamente que qualquer fogo. Quanta sandice é não querer estar neste meio, porém não poder viver sem ele! (470, 22-522, 18-65, 20.) Quando a alma se separa do corpo físico em amor fiel e com firme propósito de agir sempre segundo a vontade de Deus, deixando todo o pecado, leva consigo tanta dor, que já não pode mais consigo mesma e aguarda o dia em que seu Deus se compadeça dela. Se novo dia demora, a esperança é seu 48existir. Aquele que, por outro lado, tomou parte da Luz da Eternidade, da mais pura revelação divina, não retornará a este estado intermediário. (471, 37-640, 15, 39) 0 místico protestante Jakob Böhme diz: Aqui, por toda parte, é nos dado a saber que a vida recebida no seio materno (com seu pensar e sentir) encontra-se, só e despida, no sol, nas estrelas e no poder dos Elementos. Eles não apenas figuram uma criança no útero materno e lhe dão vida, como também a trazem a este mundo, em todo momento estão nutrindo seu existir e cuidando dele, causando-lhe sorte ou azar e, por fim, infligem-lhe a morte e a desagregação. Assim, se as nossas essências, das quais provém a vida, não fossem superiores ao seu máximo em Adão, então seríamos semelhantes a todas as bestas. (Prin- cip. XVI, 4) Com a morte separam-se primeiramente os quatro Elementos a partir do (único) Elemento; pois, então, a tintura do ser humano entra com sua sombra no Éter e permanece com ela na raiz do Elemento, do qual nasceram e surgiram os outros quatro Elementos; nisto consiste a dor da desagregação, a partir da qual as almas são iniciadas num martírio. Como as essências anímicas do primeiro princípio da região das estrelas estiveram fortemente apegadas a este mundo e somente procuraram a lascívia, a temporária honra, poder e luxo, mantêm consigo, como joia preferida, a vontade de nele ainda continuar vivendo; no entanto, como não mais possuem os quatro Elementos como mãe, consomem-se a si mesmas com 0 passar do tempo. Por toda parte está a grande 49