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CIÊNCIA POLÍTICA
Unidade 2
Teoria Política, sua História e 
seus Pensadores
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
ALESSANDRA FERREIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
IARA CHAVES
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Iara Regina Chaves
Olá. Sou formada em Administração de Empresas, com 
especialização em Gestão de Pessoas, mestre em Economia e 
doutora em Qualidade Ambiental, com experiência de mais de 
5 anos em docência em educação de nível técnico e superior. 
Na área corporativa, tenho experiência de mais de 18 anos em 
Gestão de Recursos Humanos e Negócios. Passei por grandes 
empresas nacionais nas áreas de varejo de eletroeletrônicos e 
prestação de serviços, em multinacionais no ramo de alimentos 
e bebidas, copiadoras e courier, e fui conteudista em algumas 
universidades. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir 
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas 
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a 
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz 
em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. 
Conte comigo!
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ÍC
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Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:
OBJETIVO
Para o início do 
desenvolvimento 
de uma nova 
competência. DEFINIÇÃO
Houver necessidade 
de apresentar um 
novo conceito.
NOTA
Quando necessárias 
observações ou 
complementações 
para o seu 
conhecimento.
IMPORTANTE
As observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você.
EXPLICANDO 
MELHOR
Algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado.
VOCÊ SABIA?
Curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias.
SAIBA MAIS
Textos, referências 
bibliográficas 
e links para 
aprofundamento do 
seu conhecimento.
ACESSE
Se for preciso acessar 
um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast.
REFLITA
Se houver a 
necessidade de 
chamar a atenção 
sobre algo a 
ser refletido ou 
discutido.
RESUMINDO
Quando for preciso 
fazer um resumo 
acumulativo das 
últimas abordagens.
ATIVIDADES
Quando alguma 
atividade de 
autoaprendizagem 
for aplicada. TESTANDO
Quando uma 
competência for 
concluída e questões 
forem explicadas.
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O pensamento político na antiguidade ................................... 9
O pensamento político na Grécia Antiga......................................................... 9
Política, justiça e igualdade ..............................................................................11
Política e filosofia ...............................................................................................14
Aristóteles ...........................................................................................................19
Epicurismo ..........................................................................................................22
A República Romana ........................................................................................23
O pensamento político na Idade Média ................................ 27
Filosofia política medieval ................................................................................27
Guerra ..................................................................................................................33
Direito civil e canônico ......................................................................................35
Poderes secular e espiritual ............................................................................37
A tradição medieval da filosofia política ........................................................ 39
O limite do governo ...........................................................................................40
O pensamento político no Renascimento ............................. 43
A filosofia moral e política de Hobbes ...........................................................43
Maquiavel ...........................................................................................................49
A filosofia política de Locke ..............................................................................53
O pensamento político na Idade Moderna ......................... 61
Barão de Montesquieu e o pensamento político ........................................ 61
As contribuições de Rousseau ........................................................................68
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Você sabia que a área de Ciência Política é uma das mais 
importantes ciências a ser estudada, pois a vida de todas as 
pessoas é afetada pelas prioridades e escolhas políticas? A 
natureza humana sempre permeou o imaginário dos filósofos e 
dos pesquisadores do homem como ser social e político. Nesta 
unidade, vamos entender como vários pensadores, desde a 
Idade Antiga até a Idade Moderna, desvendaram essa incógnita e 
como considerar a moralidade humana como a base da política. 
Entender o porquê do conceito de que os seres humanos são 
egoístas por natureza e cheios de malícia, brutalidade e agressão 
de acordo com algumas definições, e por que a única estratégia 
para resolver a situação de hostilidade entre as pessoas é 
estabelecer um governo com autoridade absoluta segundo o 
entendimento de outros pensadores. Entendeu? Ao longo desta 
unidade letiva, você vai mergulhar neste universo!
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Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é 
auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências 
profissionais até o término desta etapa de estudos:
1. Entender o pensamento político na antiguidade, 
emitindo visão crítica e comparativa com o pensamento 
contemporâneo.
2. Compreender o pensamento político na idade média, 
discernindo sobre suas semelhanças e diferenças em 
relação ao atual pensamento político.
3. Identificar as características do pensamento político no 
renascimento, bem como suas diferenças e similitudes 
com o pensamento contemporâneo.
4. Discernir sobre as características, controvérsias e 
peculiaridades acerca do pensamento político na idade 
moderna.
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O pensamento político na 
antiguidade
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender o pensamento político da antiguidade. 
Isso será fundamental para o exercício de sua 
profissão. As pessoas que tentaram compreender 
a forma que a política, como ciência, influenciou na 
ciência política atual, sem o devido conhecimento 
tiveram problemas, uma vez que sem base de como 
ocorre a construção do pensamento político não 
conseguimos entender a evolução do pensamento 
político. Assim, procuramos embasamento no 
pensamento político da antiguidade ou Idade 
Média. E então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Então, vamos lá. Avante!
O pensamento político na Grécia 
Antiga
Figura 1 – Discursos na Grécia Antiga
Fonte: Wikimedia Commons.
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O estudo da política e de seus pensadores são importantes 
para o entendimento da política atual. No entanto, alguns 
questionamentos são importantes, conforme Redhead (1989, p. 
7), autor de nossa época:
A história do pensamento político é a história das 
tentativas através dos tempos de se responder à 
pergunta: ‘Por que devo obedecer ao Estado?’ [...] As 
respostas variam desde:
a pragmática – “Porque se eu não obedeço a eles, me 
cortam a cabeça”;
a teológica – “Porque é a vontade de Deus”;
a contratual – “Porque o Estado e eu fizemos um acordo”;
a metafísica - “Porque o Estado é a realidade da ideia 
ética”.
Nenhuma resposta existiu isolada, embora algumas 
tenham sido dominantes em determinados séculos. 
Uma ou outra foi abandonada definitivamente e a 
maioria ainda sobrevive aqui e ali, com um grau maior 
ou menor de autoridade.
O pensamento político trata da expressãoa educação extremamente importante para 
sua filosofia política. Seu ataque às ideias inatas aumenta a 
importância de dar às crianças o tipo certo de educação para 
ajudá-las a obter os tipos certos de ideias. Ele também observa 
que os seres humanos governam a si mesmos por uma variedade 
de leis diferentes, a mais eficaz na prática é a “Lei da Opinião 
ou Reputação”. Como as pessoas geralmente são altamente 
motivadas para serem bem vistas pelos outros, os padrões 
morais que operam dentro de uma sociedade para alocar elogios 
e críticas são poderosos e importantes (TARCOV, 1984). 
IMPORTANTE
A principal obra educacional de Locke é Some 
Thoughts Concerning Education. O livro foi 
extremamente popular e teve inúmeras edições no 
século após sua publicação. Uma das características 
marcantes do livro é a maneira como os pais são 
encorajados a desenvolver e aumentar o amor da 
criança por elogios e estima. Cultivar esse desejo 
ajuda a criança a aprender a controlar outros 
desejos nocivos, como o desejo de domínio, e a 
aprender a controlar os impulsos e depois refletir 
porque eles acontecem (LOCKE apud TADIÉ, 2005, 
p. 65-66).
Se os pais estão controlando rigidamente o ambiente 
educacional da criança com o objetivo de produzir um tipo 
particular de criança, e se na realidade as pessoas são guiadas 
principalmente pelas normas repetitivas que governam elogios 
e críticas, os críticos afirmam que isso revela que o sujeito liberal 
autônomo é, na realidade, um pretexto para a conformidade 
imposta (LOCKE apud TADIÉ, 2005).
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que Hobbes considera que 
o Estado é constituído por uma fusão completa dos 
indivíduos e que estes estão ligados pelo que ele 
chamou de contrato por meio do qual se associam 
entre si e comprometem-se em submeterem em 
ao Estado. Também entendemos que Maquiavel, 
quando escreveu seus livros, estava apenas tirando 
o véu dos olhos de todos e mostrando como 
realmente são aqueles que nos governam, o que 
nem sempre tem uma boa aceitação. E que Hobbes 
se apresentava como defensor de um Estado 
absoluto, ao qual o homem deve se submeter como 
última possibilidade, com o propósito de garantir 
sua própria sobrevivência, uma vez que o estado 
de natureza não é mais possível no contexto social. 
Por último, aprendemos que Locke influenciou 
a revolução norte-americana, cuja declaração de 
independência compartilhou de suas ideias.
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O pensamento político na 
Idade Moderna 
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz 
de entender o pensamento político na Idade 
Moderna. Isto será fundamental para o exercício 
de sua profissão. As pessoas que tentaram o 
entendimento da política como ciência, sem o 
devido conhecimento, tiveram problemas, uma vez 
que sem este conhecimento não somos capazes 
de entender a separação dos poderes político 
em Legislativo, Executivo e Judiciário. E então? 
Motivado para desenvolver esta competência? 
Então, vamos lá. Avante!
Barão de Montesquieu e o 
pensamento político
Montesquieu foi um dos grandes filósofos políticos do 
Iluminismo; ele construiu um relato naturalista das várias formas 
de governo. 
Figura 14 – Montesquieu
Fonte: Wikimedia Commons.
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Montesquieu via o despotismo, em particular, como um 
perigo permanente para qualquer governo que ainda não 
fosse despótico, e argumentou que seria melhor preveni-lo por 
um sistema no qual diferentes órgãos exercessem o poder: 
Legislativo, Executivo e Judiciário, e no qual todos esses órgãos 
estivessem vinculados pelo estado de direito. Essa teoria da 
separação de poderes teve enorme impacto na teoria política 
liberal e nos autores da constituição dos Estados Unidos da 
América.
Liberdade
Segundo Montesquieu, a liberdade política é “uma 
tranquilidade de espírito decorrente da opinião que cada pessoa 
tem de sua segurança”. A liberdade não é a liberdade de fazer 
o que quisermos: se tivermos a liberdade de prejudicar os 
outros, por exemplo, os outros também terão a liberdade de nos 
prejudicar e não teremos confiança em nossa própria segurança. 
A liberdade envolve viver sob leis que nos protegem de danos 
enquanto nos deixam livres para fazer o máximo possível e 
que nos permitem sentir a maior confiança possível de que, se 
obedecermos a essas leis, o poder do Estado não será direcionado 
contra nós (DALLARI, 2007).
IMPORTANTE
Se é para fornecer a seus cidadãos a maior 
liberdade possível, um governo deve ter certas 
características, uma vez que “a experiência 
constante nos mostra que todo homem investido 
de poder está apto a abusar dele [...] (DALLARI, 
2007, p. 87). Isso é alcançado por meio da 
separação dos poderes Executivo, Legislativo e 
Judiciário do governo. 
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Se diferentes pessoas ou órgãos exercem esses poderes, 
cada um pode verificar os outros se eles tentarem abusar de 
seus poderes. Montesquieu, em sua obra Do Espírito das Leis, de 
1748, acreditava que se uma pessoa ou corpo possui vários ou 
todos esses poderes, então nada impede que essa pessoa ou 
corpo aja de forma tirânica; e o povo não terá confiança em sua 
própria segurança.
O sistema de separação de poderes, consagrado nas 
Constituições de quase todo o mundo, foi associado 
à ideia de Estado Democrático e deu origem a uma 
engenhosa construção doutrinária, conhecida como 
sistema de freios e contrapesos. Segundo essa 
teoria, os atos que o Estado pratica podem ser de 
duas espécies: ou são gerais ou são especiais. Os 
atos gerais, que só podem ser praticados pelo poder 
legislativo, constituem-se na emissão de regras gerais 
e abstratas, não se sabendo, no momento de serem 
emitidas, a quem elas irão atingir. Dessa forma, o 
poder legislativo, que só pratica atos gerais, não atua 
concretamente na vida social, não tendo meios para 
cometer abusos de poder nem para beneficiar ou 
prejudicar a uma pessoa ou a um grupo em particular. 
Só depois de emitida a norma geral é que se abre 
a possibilidade de atuação do poder executivo, 
por meio de atos especiais. O executivo dispõe de 
meios concretos para agir, mas está igualmente 
impossibilitado de atuar discricionariamente, porque 
todos os seus atos estão limitados pelos atos gerais 
praticados pelo legislativo. E se houver exorbitância 
de qualquer dos poderes surge a ação fiscalizadora 
do poder judiciário, obrigando cada um a permanecer 
nos limites de sua respectiva esfera de competências. 
(DALLARI, 2007, p. 183-185)
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Certos arranjos tornam mais fácil para os três poderes 
verificarem uns aos outros. Montesquieu argumenta que o Poder 
Legislativo sozinho deveria ter o poder de tributar, pois pode 
privar o Executivo de financiamento se este tentar impor sua 
vontade arbitrariamente. Da mesma forma, o poder Executivo 
deve ter o direito de vetar atos do Legislativo, e o Legislativo deve 
ser composto por duas casas, cada uma das quais pode impedir 
que os atos da outra se tornem lei (DALLARI, 2007). 
O Judiciário deve ser independente tanto do Legislativo 
quanto do Executivo, e deve limitar-se a aplicar as leis a casos 
particulares de maneira fixa e consistente, de modo que “o poder 
judiciário, tão terrível para a humanidade, [...] torne-se, por 
assim dizer, invisível”, e as pessoas “temem o ofício, mas não o 
magistrado” (DALLARI, 2007, p. 190).
IMPORTANTE
A liberdade também exige que as leis digam 
respeito apenas a ameaças à ordem e segurança 
públicas, uma vez que tais leis nos protegerão 
de danos enquanto nos deixam livres para fazer 
tantas outras coisas quanto possíveis. Assim, 
por exemplo, as leis não devem dizer respeito 
a ofensas contra Deus, visto que Ele não exige 
sua proteção. Não devem proibir o quenão 
precisam proibir: “toda punição que não deriva da 
necessidade é tirânica. A lei não é um mero ato de 
poder (DALLARI, 2007, p. 190).
As leis devem ser construídas para facilitar ao máximo que 
os cidadãos se protejam da punição não cometendo crimes. 
Eles não devem ser vagos, pois, se fossem, nunca poderíamos 
ter certeza se determinada ação foi ou não um crime. Tampouco 
devem proibir coisas que possamos fazer inadvertidamente, como 
esbarrar em uma estátua do imperador, ou involuntariamente, 
como duvidar da sabedoria de um de seus decretos; se tais ações 
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fossem crimes, nenhum esforço para cumprir as leis de nosso 
país justificaria a confiança de que teríamos sucesso e, portanto, 
nunca poderíamos nos sentir seguros de processos criminais. 
Finalmente, as leis devem tornar o mais fácil possível para uma 
pessoa inocente provar sua inocência (DALLARI, 2007).
Formas de governo
Montesquieu sustenta que existem três tipos de governos: 
governos republicanos, que podem assumir formas democráticas 
ou aristocráticas; monarquias; e despotismos. Ao contrário, por 
exemplo, de Aristóteles, Montesquieu não distingue formas 
de governo com base na virtude do soberano. A distinção 
entre monarquia e despotismo, por exemplo, não depende da 
virtude do monarca, mas se ele governa ou não “por leis fixas e 
estabelecidas” (BONAVIDES, 2001, p. 35).
IMPORTANTE
Em uma democracia, o povo é soberano. Eles 
podem governar por meio de ministros ou ser 
aconselhados por um senado, mas devem ter o 
poder de escolher seus ministros e senadores 
por si mesmos. O princípio da democracia é 
a virtude política, incluindo a sua constituição 
democrática. A forma de governo democrático 
torna fundamentais as leis que regem o sufrágio e 
a votação (BONAVIDES, 2001).
Uma democracia deve educar seus cidadãos para 
identificar seus interesses com os interesses de seu país, e 
deve ter censores para preservar seus costumes. Deve procurar 
estabelecer a frugalidade por lei, de modo a evitar que seus 
cidadãos sejam tentados a promover seus próprios interesses 
privados às custas do bem público; pela mesma razão, as leis 
pelas quais a propriedade é transferida devem visar a preservar 
uma distribuição igualitária da propriedade entre os cidadãos. 
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Seu território deve ser pequeno, de modo que seja fácil para os 
cidadãos se identificarem com ele, e mais difícil para interesses 
privados amplos emergirem (BONAVIDES, 2001). 
IMPORTANTE
As democracias podem ser corrompidas de duas 
maneiras, chamadas por Montesquieu de “espírito 
de desigualdade” e “espírito de extrema igualdade” 
(BONAVIDES, 2001). O espírito de desigualdade 
surge quando os cidadãos não mais identificam 
seus interesses com os interesses de seu país 
e, portanto, buscam promover seus próprios 
interesses privados às custas de seus concidadãos 
e adquirir poder político sobre eles. 
O espírito de extrema igualdade surge quando as pessoas 
não se contentam mais em ser iguais como cidadãos, mas querem 
ser iguais em todos os aspectos. Numa democracia funcional, o 
povo escolhe os magistrados para exercer o Poder Executivo, 
respeitando e obedecendo aos magistrados que escolheu. Se 
esses magistrados perderem o respeito, eles os substituem. 
Quando o espírito de extrema igualdade se enraíza, porém, 
os cidadãos não respeitam nem obedecem a nenhum magistrado. 
Eles “querem administrar tudo sozinhos, debater pelo senado, 
executar pelo magistrado e decidir pelos juízes” (BONAVIDES, 
2001 p. 85). Eventualmente, o governo deixará de funcionar, os 
últimos resquícios de virtude desaparecerão e a democracia será 
substituída pelo despotismo.
A principal tarefa das leis em uma monarquia é proteger 
as instituições subordinadas que distinguem a monarquia do 
despotismo. Para esse fim, elas devem facilitar a preservação 
de grandes propriedades indivisíveis, proteger os direitos e 
privilégios da nobreza e promover o estado de direito. Devem 
também estimular a proliferação de distinções e recompensas 
por conduta honrada, inclusive luxos (BONAVIDES, 2001). 
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IMPORTANTE
Uma monarquia é corrompida quando o monarca 
destrói as instituições subordinadas que restringem 
sua vontade, ou decide governar arbitrariamente, 
sem levar em consideração as leis básicas de seu 
país, ou rebaixa as honras que seus cidadãos 
possam almejar, de modo que “os homens são 
capazes de ser carregados ao mesmo tempo com 
infâmia e com dignidades”. As duas primeiras formas 
de corrupção destroem os freios à vontade do 
soberano que separam a monarquia do despotismo; 
o terceiro corta a conexão entre conduta honrosa e 
suas recompensas apropriadas. Em uma monarquia 
funcional, a ambição pessoal e o senso de honra 
trabalham juntos (BONAVIDES, 2001). 
Essa é a grande força da monarquia e a fonte de sua 
extraordinária estabilidade: quer seus cidadãos ajam por uma 
virtude genuína, um senso de seu próprio valor, um desejo de 
servir a seu rei ou ambição pessoal, eles serão levados a agir 
de maneiras que sirvam a seus país. Um monarca que governa 
arbitrariamente, ou que recompensa o servilismo e a conduta 
ignóbil em vez da honra genuína, rompe essa conexão e corrompe 
seu governo (BONAVIDES, 2001). 
Nos Estados despóticos “uma única pessoa dirige tudo 
por sua própria vontade e capricho” (BONAVIDES, 2001 p. 116). 
Sem leis para controlá-lo e sem necessidade de atender quem 
não concorda com ele, um déspota pode fazer o que quiser, por 
mais imprudente ou repreensível que seja. Seus súditos não 
são melhores que escravos, e ele pode dispor deles como bem 
entender. O princípio do despotismo é o medo. Esse medo é 
facilmente mantido, pois a situação dos súditos de um déspota 
é genuinamente aterradora. O medo deve, portanto, deprimir 
seus espíritos e extinguir até mesmo o menor senso de ambição” 
(BONAVIDES, 2001).
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Por essas razões, o despotismo necessariamente está em 
uma relação diferente com a corrupção do que outras formas de 
governo: embora sejam passíveis de corrupção, o despotismo é 
sua personificação.
As contribuições de Rousseau
As contribuições de Rousseau para a filosofia política 
estão em suas principais obras: o Discurso sobre as origens da 
desigualdade, o Discurso sobre economia política e O contrato 
social. Sua doutrina central na política é que um Estado só pode 
ser legítimo se for guiado pela “vontade geral” de seus membros. 
Essa ideia encontra seu tratamento mais detalhado em O contrato 
social (ROUSSEAU, 1757).
IMPORTANTE
Em O contrato social, Rousseau se propõe a 
responder ao que considera ser a questão 
fundamental da política, a reconciliação da 
liberdade do indivíduo com a autoridade do Estado. 
Essa reconciliação é necessária porque a sociedade 
humana evoluiu a um ponto em que os indivíduos 
não podem mais suprir suas necessidades por 
meio de seus próprios esforços, mas devem 
depender da cooperação de outros. O processo 
pelo qual as necessidades humanas se expandem 
e a interdependência se aprofunda é exposto 
no Discurso sobre as Origens da Desigualdade 
(ROUSSEAU, 1999). 
Nessa obra, o momento final da história conjectural de 
Rousseau envolve a emergência do conflito endêmico entre 
os indivíduos agora interdependentes e o argumento de que 
a insegurança hobbesiana dessa condição levaria todos a 
consentir o estabelecimento da autoridade e do direito do 
Estado. No Segundo Discurso, esse estabelecimento equivale ao 
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reforço de relações sociais desiguais e exploradoras que agora 
são respaldadas pela lei e pelo poder do Estado. 
Figura 14 – Rousseau
Fonte: Wikimedia Commons.
Os sem-propriedade consentem com tal estabelecimento 
porque seu medo imediato de um estado de guerra hobbesiano 
os leva a deixar de atender às maneiras pelas quais o novo 
estado os prejudicará sistematicamente. O Contrato Social visa 
estabelecer uma alternativa aessa distopia, uma alternativa na 
qual, afirma Rousseau, cada pessoa desfrutará da proteção da 
força comum enquanto permanecerá tão livre quanto no estado 
de natureza. 
A chave dessa reconciliação é a ideia de vontade geral: 
ou seja, a vontade coletiva do corpo cidadão tomado como um 
todo. A vontade geral é a fonte do direito e é desejada por todo 
e qualquer cidadão. Ao obedecer à lei, cada cidadão fica assim 
sujeito à sua própria vontade e, consequentemente, segundo 
Rousseau, permanece livre (ROUSSEAU, 1979, p. 90). 
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Uma característica da filosofia política de Rousseau que 
se mostrou menos persuasiva para pensadores posteriores é 
sua doutrina de soberania e representação, com sua aparente 
rejeição do “governo representativo”. 
IMPORTANTE
No centro da visão de Rousseau em O Contrato 
Social, está sua rejeição da ideia hobbesiana de 
que a vontade legislativa de um povo pode ser 
investida em algum grupo ou indivíduo que então 
age com sua autoridade, mas os governa. Em 
vez disso, ele considera que entregar o direito 
geral de governar a si mesmo a outra pessoa 
ou corpo constitui uma forma de escravidão, e 
que reconhecer tal autoridade equivaleria a uma 
abdicação da agência moral (ROSSEAU, 2013 p. 45).
Essa hostilidade à representação da soberania estende-
se também à eleição de representantes para as assembleias 
de soberania, ainda que estes sejam periodicamente reeleitos. 
Mesmo nesse caso, a assembleia estaria legislando sobre uma 
série de temas sobre os quais os cidadãos não deliberaram. 
As leis aprovadas por tais assembleias vinculariam os cidadãos 
em termos que eles próprios não concordaram. Não só a 
representação da soberania constitui, para Rousseau, uma 
rendição da agência moral, como o desejo generalizado de ser 
representado no negócio do autogoverno é um sintoma do 
declínio moral e da perda da virtude (ROSSEAU, 2013). 
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Karl Marx
A ciência política marxista atribui a raiz dos conflitos sociais 
humanos às relações sociais de produção. Seu grande significado 
reside em colocar a pesquisa em ciência política em bases 
realistas e materialistas. Também tem um impacto profundo no 
desenvolvimento da ciência política ocidental moderna.
Figura 15 – Karl Marx
Fonte: Wikimedia Commons.
O estudo da filosofia política de Marx é propício para 
entender sua crítica às relações de produção capitalistas e a 
concepção de uma sociedade comunista ideal. 
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O princípio básico da filosofia política 
de Marx
Marx se opôs a explicar a história e criticar a sociedade a 
partir de vários princípios abstratos de justiça e defendeu que 
as atividades materiais dos indivíduos ou do todo deveriam ser 
tomadas como base e princípio para a realização da equidade e 
da justiça (HELLER, 1998).
VOCÊ SABIA?
Diferentemente da teoria da natureza humana 
dos séculos XVII e XVIII, que expunha a questão da 
equidade e da justiça a partir de princípios abstratos, 
Marx dava grande importância à compreensão da 
questão da equidade e da justiça sob a perspectiva 
da vida social e econômica. Equidade e justiça não 
são racionalidade humana abstrata. “A conclusão 
de que nem as relações jurídicas nem as formas de 
Estado podem ser apreendidas por si mesmas ou 
com base no chamado desenvolvimento geral da 
mente humana, mas, ao contrário, têm sua origem 
nas condições materiais de existência” (MARX; 
ENGELS, 2009).
Para Marx, a essência do capital não é material, nem 
dinheiro, mas um tipo de relação de produção. Como o 
trabalho capitalista é trabalho assalariado, é impossível realizar 
a igualdade de trabalho e a distribuição justa dos produtos. 
Sob a condição de propriedade privada capitalista, liberdade, 
igualdade e justiça são abstratas, formais e hipócritas. Elas não 
são liberdade real, igualdade e justiça na realidade. Marx criticou 
duramente a hipocrisia da igualdade econômica capitalista. A 
libertação política da burguesia marcada pelo estabelecimento 
da chamada liberdade, igualdade e direitos humanos universais 
tem limitações óbvias (LI, 2019). 
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Marx sempre se baseou no papel decisivo da fundação 
econômica e defendeu que a equidade e a justiça só podem 
ser corretamente compreendidas na produção material, 
considerando assim a igualdade de propriedade como a premissa 
da justiça social humana e descartando a propriedade privada 
como equidade e justiça o caminho para alcançá-la. 
Somente por meio da revolução, abolindo a propriedade 
privada capitalista, eliminando a exploração e a opressão; o 
sistema social pode ser justo e razoável na sociedade comunista; 
a relação entre as pessoas é uma relação de igualdade real; 
a liberdade do desenvolvimento humano abrangente pode 
ser realizada; e o objetivo de equidade e justiça da sociedade 
humana pode ser realizado (LI, 2019).
O desenvolvimento integral do 
homem é o objetivo final da filosofia 
política
O pensamento da filosofia política de Marx está concentrado 
em obras como a Crítica da economia política, A ideologia alemã, o 
Manifesto do Partido Comunista etc. Do ponto de vista da filosofia 
política, expõe que a libertação humana é a forma futura e o 
destino final da libertação política. 
IMPORTANTE
A “liberdade” em conceitos como “homem livre” 
e “associação do homem livre” mencionados por 
Marx não se limita à liberdade discutida sob a ótica 
das relações políticas. Em sua opinião, a liberdade 
não é uma espécie de direito humano, mas uma 
espécie de característica humana. Se a vida política 
é considerada como uma fronteira, então o ser 
humano pode realizar plenamente a liberdade 
individual. 
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No entanto, se o escopo da observação for estendido ao 
mundo natural, então, para a sobrevivência e desenvolvimento 
humanos, a liberdade humana é limitada. Portanto, a liberdade 
política é apenas dos seres humanos na sociedade de classes. 
IMPORTANTE
Marx sempre acreditou que a democracia não 
é o mecanismo social da sociedade comunista 
(LI, 2018), e a existência da democracia é o sinal 
da existência continuada do estado. Portanto, é 
impossível para Marx considerar a democracia 
como o objetivo político de sua libertação, e 
o desenvolvimento livre e integral dos seres 
humanos é o objetivo final do desenvolvimento 
político, mesmo que o estado político desapareça 
Deus. Aqueles que interpretam a teoria da 
libertação humana de Marx e da liberdade humana 
do escopo da vida política veem apenas a categoria 
superficial da filosofia política, que não nos ajuda a 
entender corretamente o ideal comunista de Marx. 
No Manifesto do Partido Comunista, Marx demonstrou em 
detalhes várias teorias socialistas incorretas, sistemas e outros 
fatores políticos realistas porque ele vinculou organicamente 
a teoria da libertação humana com a revolução proletária, a 
ditadura e a teoria do partido.
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A ideia marxista do Estado
Na perspectiva marxista, o Estado é a construção da classe 
dominante. Marx em A Ideologia Alemã via o Estado como uma 
estrutura de exploração constituída para servir aos interesses 
econômicos da classe dominante, isto é, burguesia (MARX, 1998).
IMPORTANTE
Para Marx, existe a luta de classes ao longo da 
história entre os que têm e os que não têm acesso 
e controle dos meios e forças de produção. É a luta 
de classes que, em última instância, determina 
relações de produção dos povos e todas as outras 
relações, incluindo as políticas e econômicas. Nesta 
teoria, o Estado é um instrumento de domínio de 
classe que serve ao bem-estar da classe dominante. 
Ao fazer isso, o Estado não é permanente, eterno e 
harmônico. Torna-se funcional apenas com o desigual, com as 
relações de produção desiguais na sociedade. As relações de 
produção são muitas vezes construídas em favor da burguesia, 
pois os meios de produção (incluindo terra, indústrias, trabalho 
e recursos naturais)também são controlados por esta classe. 
A burguesia controla a economia (base), portanto, controla o 
Estado (base e superestrutura como um todo).
Conforme refletido na teoria do materialismo histórico, a 
sociedade sem classes existirá apenas em um Estado da classe 
trabalhadora, que só pode ser realizado derrubando o Estado 
burguês por meio de uma revolução. No marxismo, portanto, 
as ideias de “abolição” e “definhamento” do Estado não são 
sinônimas. 
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Ontologicamente, a perspectiva marxista rejeita a visão 
liberal do Estado. A rejeição é baseada na visão marxista 
na sociedade como um produto da luta de classes em que 
os interesses de diferentes classes são fundamentalmente 
contraditórios e exploradores. 
RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que Montesquieu via 
o despotismo, em particular, como um perigo 
permanente para qualquer governo que ainda não 
fosse despótico, e argumentou que seria melhor 
preveni-lo por um sistema no qual diferentes 
órgãos exercessem o Poder Legislativo, Executivo e 
Judiciário, e no qual todos esses órgãos estivessem 
vinculados pelo estado de direito. Da mesma 
forma vimos que Rousseau, em O contrato social, 
é fundamentado em um pacto convencional, 
por meio do qual os cidadãos, em condições 
justas, abrem mão de seus direitos individuais e 
consentem com o poder de uma autoridade na 
qual depositam confiança. Por último, vimos com 
a obra de Karl Marx, que o significado da política 
assume novas roupagens. Acontece a incorporação 
da ideia de antagonismos das classes presentes 
na sociedade, dispostas de acordo com a relação 
diante dos meios de produção (aqueles que detêm 
os meios e aqueles que participam com a mão de 
obra, ou seja, os trabalhadores).
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	O pensamento político na antiguidade
	O pensamento político na Grécia Antiga
	Política, justiça e igualdade
	Política e filosofia
	Aristóteles
	Epicurismo
	A República Romana 
	O pensamento político na Idade Média
	Filosofia política medieval
	Guerra
	Direito civil e canônico
	Poderes secular e espiritual
	A tradição medieval da filosofia política
	O limite do governo
	O pensamento político no Renascimento
	A filosofia moral e política de Hobbes
	Maquiavel 
	A filosofia política de LockeO pensamento político na Idade Moderna 
	Barão de Montesquieu e o pensamento político
	As contribuições de Rousseaudas ideias de 
cada época, sob o entendimento dos indivíduos, pensadores e 
filósofos em relação ao coletivo e ao sistema corrente do poder do 
Estado. Todavia, nem sempre essas ideias estão correlacionadas 
à realidade, permanecendo, algumas vezes, no âmbito imaginado 
de uma situação ideal, de um Estado ideal.
O entendimento distinto de “política” forjado na Grécia 
foi marcado pelo surgimento histórico da cidade-Estado 
independente e pela variedade de regimes que ela pôde abrigar. 
A cidade era o domínio da colaboração potencial na condução 
de uma boa vida, embora fosse, da mesma forma, o domínio da 
contestação potencial, caso essa busca viesse a ser entendida 
como colocando uns contra os outros (LANE, 2018).
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A teorização política começou com argumentos sobre para 
que servia a política, quem poderia participar dela e por quê. 
Argumentos que eram ferramentas em batalhas cívicas pelo 
controle ideológico e material, bem como tentativas de fornecer 
estruturas lógicas ou arquitetônicas para essas batalhas (LANE, 
2018). 
IMPORTANTE
Tais conflitos foram abordados pela ideia de 
justiça, que foi fundamental para a cidade ao sair 
da idade arcaica para o período clássico. A justiça 
foi concebida por poetas, legisladores e filósofos 
igualmente, como a estrutura de laços cívicos 
que eram benéficos para todos (ricos e pobres, 
poderosos e fracos igualmente), em vez de uma 
exploração de alguns por outros (LANE, 2018). 
Assim compreendida, a justiça definia a base da cidadania 
igualitária e era considerada o requisito para que os regimes 
humanos fossem aceitáveis aos deuses (LANE, 2018). 
Política, justiça e igualdade
A justiça dependia de tratar os iguais igualmente e distribuir 
a cidadania e os privilégios de ocupar cargos de acordo com essa 
igualdade. No entanto, como “o igual” deve ser entendido? Isso se 
tornou a principal falha política do século V grego a.C. Os regimes 
oligárquicos podiam considerar apenas os kalokagathoi (a elite 
e os bem-nascidos, geralmente também ricos proprietários de 
terras) como iguais; os regimes democráticos, por outro lado, 
tendiam a tratar os “muitos” (ou uma grande proporção deles) 
como iguais políticos aos “poucos” da elite, nas democracias mais 
completas, concedendo direitos a todos os homens nativos e 
livres (LANE, 2018). 
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Esparta, uma entidade política única, ainda exemplificava o 
mesmo padrão amplo ao nomear seus cidadãos como “os iguais” 
ou (mais literalmente) “iguais” (hoi homoioi) (LANE, 2018).
A ausência do status de escravo tornava alguém livre, mas 
não necessariamente um cidadão. A escravidão, por sua vez, foi 
muito pouco debatida como uma questão política, servindo para 
demarcar o domínio da “política” em contraste com ela, em vez 
de ser considerada um tópico dentro dela. 
A exclusão das mulheres da cidadania ativa em Atenas foi 
sentida de forma mais consciente, dando origem a fantasias 
de política dominada por mulheres na comédia aristofânica 
(Lysistrata, Assemblywomen) e à reflexão torturada em muitas 
tragédias (considere os títulos de Medeia), ambos atenienses, 
obras que estabelecem as explorações dos papéis das mulheres 
nos contextos dramáticos das políticas estrangeiras arcaicas 
(LANE, 2018). 
Entre iguais, qualquer que fosse a definição, o espaço do 
político era o espaço de participação na tomada de decisões 
relativas a assuntos e ações públicas. Cidadãos, fossem poucos 
(geralmente os ricos) ou muitos (incluindo os mais pobres e talvez 
os homens adultos livres mais pobres), reuniam-se para conduzir 
assuntos públicos, compartilhando por costume, por eleição ou 
por sorteio (OBER, 1989).
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IMPORTANTE
Ao mesmo tempo, a política foi moldada pelo 
legado da poesia arcaica e seu ethos heroico, e 
pelos cultos religiosos que incluíam, ao lado de 
ritos pan-helênicos e familiares, importantes 
práticas distintas para cada cidade-Estado. Esse 
era um cenário politeísta, e não monoteísta, no 
qual a religião era, pelo menos em grande parte, 
uma função da identidade cívica. Era um mundo 
inocente da burocracia moderna e do movimento 
moderno para a abstração intelectual na definição 
do Estado. 
Assim, se a filosofia política antiga deixou de fora muito do 
que a filosofia política moderna incluiria (por exemplo, em sua 
maior parte, a questão da justeza da escravidão), também incluiu 
muito do que esta última tenderia a excluir (LANE, 2018). 
A maioria daqueles geralmente reconhecidos como “sábios” 
(sophoi) e “estudantes da natureza” (physikoi) que apareceram 
nesse meio pensavam nos mesmos termos amplos dos poetas 
e oradores. A justiça foi amplamente, se não universalmente, 
tratada como um constituinte fundamental da ordem cósmica. 
Alguns dos physikoi influenciaram a vida política, outros 
mantiveram-se distantes da ação política enquanto ainda 
identificavam semelhanças ou consonâncias entre natureza e 
política.
Todavia, esses retratos de ampla consonância entre 
natureza e política foram contestados em meados do século 
V a.C. por alguns dentre uma nova geração de pensadores e 
atores, os professores profissionais (“sofistas”), que começaram 
a perguntar se as leis e costumes (nomos, singular; nomoi, plural) 
incorporando a justiça política eram verdadeiramente um reflexo 
da justiça na natureza (phusis) ou meramente uma imposição de 
normas humanas arbitrárias (LANE, 2018). 
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Embora seja amplamente verdadeiro dizer que os 
pensadores políticos gregos geralmente pressupunham a 
importância da justiça, nos séculos V e IV a.C. muitos deles 
também a problematizavam cada vez mais (LANE, 2018). 
Política e filosofia
Figura 2 – Platão
Fonte: Creative Commons.
Ao dar à luz a filosofia, a polis também deu origem a uma 
tensão entre o que Aristóteles descreveria como duas vidas: a 
vida da política e a vida da filosofia. Abriu-se aqui uma cisão entre 
ética e política, tão intimamente ligada em uma cultura milenar 
preocupada com o florescimento (eudaimonia) e a virtude (aretê). 
Os filósofos devem agir politicamente (e, se assim for, devem se 
engajar na política comum nos regimes existentes, ou trabalhar 
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para estabelecer novos) ou devem se abster da política para viver 
uma vida de pura contemplação? 
Da mesma forma, havia a questão de saber se os filósofos 
deveriam pensar politicamente: valeria a pena pensar nos 
assuntos humanos na perspectiva mais ampla aberta pelo 
estudo da natureza e dos deuses? Ao se envolver com questões 
de retórica, virtude, conhecimento e justiça, a vida filosófica de 
Sócrates se envolveu com o político mesmo antes de sua morte 
(seu julgamento e execução nas mãos do regime democrático 
ateniense) o colocar em conflito com ele (LANE, 2018). 
Discípulo de Sócrates, Platão escreveu três obras sobre 
política: A república, O político e As Leis. Em sua obra, A República:
Platão descreve um Estado ideal baseado em três 
classes sociais: os reis filósofos, os guerreiros e os 
trabalhadores. Cada uma destas classes deveria 
dedicar-se a sua tarefa, praticando a virtude e, além 
disso, os guerreiros e os governantes deveriam praticar 
o comunismo e ainda passar por uma educação 
especial. Platão é o primeiro dos grandes pensadores 
utópicos, ou seja, pensadores que buscam descrever 
modelos ideais de sociedade. (SELL, 2006, p. 25)
Pode-se depreender que, para Platão, o governo seria 
entregue aos sábios, a defesa aos guerreiros e a produção a uma 
terceira classe, desprovido de direitos políticos. 
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VOCÊ SABIA?
Para Platão, aluno de Aristóteles, a prática e até 
o estudo dos assuntos humanos, como a política, 
eram menos divinos e, portanto, menos admiráveis 
do que o estudo mais amplo da verdade sobre os 
reinos natural e divino. A filosofia podia ter de 
abordar o político, mas sua vocação mais elevada 
pairava acima dele. Se o destino políticode Sócrates 
foi parte do estímulo para Platão inventar uma 
nova metafísica e epistemologia a fim de articular 
um reino alternativo de possibilidade política, os 
diálogos de Platão mostram Sócrates afirmando 
simultaneamente uma independência para essas 
disciplinas das amarras do político sozinho (LANE, 
2018). 
É importante reconhecer que os fundadores da filosofia 
política antiga estavam, em parte, tentando definir um novo 
espaço de fazer como filosofar, independentemente da ação 
política ordinária (LANE, 2018). Isso não quer dizer que eles 
também não tivessem intenções políticas comuns, mas, sim, 
enfatizar que a invenção da filosofia política também pretendia 
ser um modo de reflexão sobre o valor da vida política comum.
Ética e política socráticas
Sócrates nos fazer crer ter sido o primeiro filósofo a tratar a 
ética em oposição à cosmologia e à física como uma área distinta 
de investigação. Ele afirma, na Apologia de Platão, que “a vida 
não examinada não vale a pena ser vivida”, ele pressionou por 
definições das virtudes ou excelências que eram amplamente 
reconhecidas e reivindicadas por seus companheiros, mas que 
eles achavam difíceis de explicar. 
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Figura 3 – Sócrates
Fonte: Creative Commons.
IMPORTANTE
Essa elevação do conhecimento, por sua vez, levou 
Sócrates a militar contra as práticas de retórica 
e julgamento que animavam as instituições 
políticas de Atenas, os tribunais, a assembleia e o 
conselho. Em vez disso, ele postulou a existência, 
ou pelo menos a possibilidade, de perícia política, 
afirmando ser a única pessoa em Atenas que 
pelo menos tentou perseguir tal verdade, uma 
noção complexa que pode ser entendida como 
significando a política como uma espécie de 
especialização profissional (VILLA, 2001). 
A natureza da preocupação de Sócrates com a ética o levou 
diretamente a uma forma de filosofia política. A relação entre 
política e conhecimento, o significado da justiça como virtude, o 
valor da coragem militar que todas as cidades gregas valorizavam 
em seus cidadãos, tudo parece ter sido o tema central da conversa 
socrática (OBER, 2008).
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O julgamento de Sócrates: a filosofia 
política e a cidadania
Sócrates, aos 70 anos de idade, foi denunciado, julgado 
e condenado à morte por um júri popular ateniense. Em uma 
acusação movida por um grupo de seus concidadãos, que 
afirmava estar arcando com esse fardo pelo bem da cidade (a 
forma usual pela qual as acusações eram feitas em Atenas), as 
acusações feitas contra ele eram três: não reconhecer os deuses 
da cidade; introdução de novos deuses; e corromper os jovens 
(OBER, 2008). Cada uma delas tinha uma dimensão política e 
ampla importância política de educar os jovens para ocupar seu 
lugar na ordem cívica. 
No relato de Platão, depois de contestar as acusações 
religiosas, Sócrates reconheceu sua abstenção dos assuntos 
públicos, mas afirmou ter recebido uma missão mais significativa 
do deus Apolo quando seu oráculo de Delfos declarou que 
nenhum homem era mais sábio do que Sócrates: sua missão 
era agitar a cidade, discutindo a virtude e assuntos relacionados 
e beneficiando cada pessoa “tentando persuadi-la” a cuidar da 
virtude em vez da riqueza para si e para a cidade. 
Sócrates aqui se descreve como um novo tipo de cidadão, 
conceituando o bem público de uma nova maneira e, assim, 
servindo-o melhor por meio de ações sem precedentes, em 
contraste com os caminhos convencionalmente definidos de 
disputa política e sucesso, o que mais adiante foi chamado de 
desobediência civil (VILLA, 2001).
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Aristóteles
Aristóteles (384-322 a.C.) estudou na Academia de Platão 
quando jovem e pesquisou lá por muitos anos. Viveu grande 
parte de sua vida como estrangeiro residente em Atenas, com 
estreitos laços familiares com a extrapolis corte Macedônia 
(KONVITZ, 1964, WOOZLEY, 1972).
Figura 4 – Aristóteles
Fonte: Wikimedia Commons.
Aristóteles, discípulo de Platão, julgava inviáveis alguns 
conceitos apresentados por Aristóteles, mas consentia que os 
homens são senhores ou escravos por natureza. Imaginava que 
a arte política era um componente da Biologia e da Ética e, desse 
modo, idealizou três formas de governo:
 • Monarquia: governo de um só.
20 CIÊNCIA POLÍTICA
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 • Aristocracia: governo de uma elite.
 • Democracia: governo do povo.
A alteração dessas formas cederia lugar, na devida ordem, 
à tirania, à oligarquia e à demagogia. Deliberou que o melhor 
regime seria uma forma mista, na qual as virtudes das três 
formas se agregariam e se equilibrariam.
Ética e política aristotélica
Ao considerar a razão prática como o domínio da ética 
e da política, Aristóteles segue Platão ao não traçar uma linha 
nítida entre esses dois domínios. De fato, ele encerra sua Ética 
a Nicômaco (isto é, as virtudes éticas são hábitos que, como 
tais, adquirem-se pela experiência) observando que, para a 
maioria das pessoas, a prática da ética só pode ser assegurada 
pelo fato de serem regidas pela lei, que combina a necessidade 
(compulsão) com a razão. 
Isso porque, para a maioria das pessoas, a vida ética 
pressupõe o governo pela lei. O estudante de ética deve 
tornar-se um estudante de ciência política, estudando a ciência 
da legislação à luz da coleção de constituições reunidas por 
Aristóteles (KONVITZ, 1964, WOOZLEY,1972).
Para Aristóteles, o legislador precisa ter compreensão da 
natureza da política como tal; compreensão das principais falhas 
na interpretação e prática da política; e controle sobre a estrutura 
e as características da cidade específica para a qual ele pretende 
legislar. Aristóteles oferece um relato quádruplo do que a perícia 
relativa às constituições deve abranger. 
21CIÊNCIA POLÍTICA
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IMPORTANTE
O primeiro, “aquilo que é melhor no abstrato...” 
orienta a política em torno do fim da política, a 
melhor vida. O segundo, o melhor em relação às 
circunstâncias, começa com a causa material e 
organiza a investigação política em torno do melhor 
que pode ser feito de determinado material. O 
terceiro, o melhor em hipótese, não parte do 
verdadeiro fim da política, mas de qualquer fim 
posto, e assim procura meios e dispositivos que 
irão preservar qualquer constituição dada, e por 
último a investigação final, a busca pela “forma 
de constituição que é mais adequada aos Estados 
em geral”, articula uma causa formal que pode 
organizar quase qualquer material, qualquer tipo 
de pessoa” (OBER, 1998). 
Aristóteles na filosofia política
A Política enfatiza que “um Estado não é uma mera 
sociedade, tendo um lugar comum, estabelecido para a 
prevenção do crime mútuo e para fins de troca” (OBER, 1998, p. 
290), mas “uma comunidade de famílias e agregações de famílias 
no bem-estar, em prol de uma vida perfeita e autossuficiente” 
(OBER, 1998, p. 290). Embora Aristóteles de fato valorizasse a 
possibilidade de participação política em cargos públicos e o 
controle de cargos públicos como parte da melhor constituição, 
ele a via como um bem intrínseco apenas na medida em que 
fosse uma expressão de virtude, como seria no melhor caso 
(seja governada por uma coletividade de cidadãos virtuosos 
ou no caso raro e talvez puramente hipotético de um monarca 
superlativamente virtuoso). Sem virtude, a participação política 
em cargos públicos e o controle de cargos deveriam ser avaliados 
com base na conveniência, embora, mesmo assim, a participação 
na comunidade política da polis permaneça essencial para o 
pleno florescimento humano.
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De fato, os debates modernos sobre o significado de 
Aristóteles consideram-no um precursor ou inspiração para 
uma série de posições intelectuais e políticas. Ao avaliar o 
pensamento político de Aristóteles, é importante distinguir 
entre os pressupostos democráticos modernos e seus próprios 
pontos de partida, muitos dos quais estavam em tensão com as 
democraciasde seu tempo (NUSSBAUM, 1993).
Epicurismo
Fundada por Epicuro e elaborada, entre outros, pelo poeta 
latino Lucrécio em meados do século I a.C., a política não era 
vista por vários membros da escola epicurista como um assunto 
direto, mas como uma parte da boa vida ou uma realização 
do florescimento da natureza humana, em que é impossível 
viver prazerosamente sem viver prudentemente, belamente e 
justamente; sem viver prazerosamente (ROBITZSCH, 2017). 
Figura 5 – Epicuro
Fonte: Wikimedia Commons.
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IMPORTANTE
Para os epicuristas, a cidade cumpre uma função 
legítima e necessária para garantir a segurança. 
Mas isso não significa que uma vida pública ativa 
também seja normalmente o caminho mais racional 
para a segurança. Pelo contrário, enquanto muitas 
pessoas serão atraídas pela possível fortuna e 
glória de tal vida, e enquanto as cidades precisam 
dessas pessoas, o sábio epicurista em geral se 
absterá de participação política ativa (FOWLER, 
2007). 
Um potencial ponto de discórdia para a ética e a política 
epicuristas é a justificativa para uma dimensão ainda maior da 
vida comunitária: a disposição de se sacrificar por um amigo ou 
arriscar-se a infringir a lei para o bem maior de seus concidadãos 
(SHARPLES, 1996). 
A República Romana 
Enquanto se dizia que os fundadores da cidade de Roma 
eram os lendários gêmeos Rômulo e Remo, os romanos viriam a 
identificar as origens de sua liberdade distinta no assassinato de 
um rei tirânico, geralmente datado de 509 a.C. A posição do rei 
foi substituída por dois cônsules eleitos anualmente, o conselho 
real tornou-se o senado e as assembleias populares foram 
estabelecidas para eleger os magistrados e aprovar as leis que 
eles propunham. 
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Figura 6 – República Romana
Fonte: Wikimedia Commons.
A época de Cícero, sob esse regime autoidentificado como 
o “Senatus populusque Romanus” ou “Senado e povo de Roma”, 
passou a ser interpretada como uma versão da “constituição 
mista”, que teve uma história complicada e até então 
relativamente menor, como uma ideia nas obras de Tucídides, 
Platão e Aristóteles (HAHM, 2009). 
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IMPORTANTE
Um relato influente de Roma como uma 
constituição mista, nesse caso combinando as 
três formas clássicas de regime de monarquia, 
aristocracia e democracia, já havia sido feito pelo 
historiador grego Políbio, que se referiu à distinção 
entre os poderes característicos em cada tipo do 
regime e sua verificação e equilíbrio mútuos (VON 
FRITZ, 1954). Enquanto em Políbio a obtenção 
do equilíbrio entre os diferentes poderes era 
retratada como resultado de uma autoafirmação 
rivalizante mútua, Cícero referir-se-ia a isso em 
linguagem mais harmoniosa, em que uma forma 
de equilíbrio com as ideias de mistura e têmpera 
são primordiais (ATKINS, 2000). 
De acordo com Políbio, cada elemento da constituição 
exercia uma forma distinta de poder. Os cônsules eleitos 
exerciam o imperium, uma forma de comando executivo; o 
senado gozava do poder de deliberar e consentir políticas 
específicas; e as assembleias populares serviam como fonte de 
direito autoritário, elegendo também os magistrados, incluindo 
os tribunos populares, que, por sua vez, exerciam poder de veto 
sobre o senado (LINTOTT, 1999). 
A perene disputa grega entre oligarcas e democratas foi 
domada em Roma para permitir uma reconhecida segurança 
de papel para o senado, um grupo proveniente de não menos 
do que os escalões menores da aristocracia e tipicamente 
recompensando o nascimento, bem como o mérito que tinha 
conquistado e expresso na eleição para altos cargos políticos. 
No entanto, a tumultuada busca pessoal por cargos e influência 
levou muitos aristocratas a buscarem apoio entre o povo, às 
vezes com medidas radicais de reforma agrária às quais Cícero, 
entre outros, se apoiaria mais tarde. 
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a própria ideia da 
cidade e do vínculo cívico enraizada na justiça era 
um terreno comum em grande parte do espectro 
da filosofia política antiga. Mesmo os epicuristas 
viam a sociedade como baseada na justiça, embora 
entendessem a justiça, por sua vez, como baseada 
na utilidade. Os filósofos que aderiram a essa 
abordagem não ignoraram as possíveis objeções 
a ela. O diagnóstico da política como dominação 
nunca foi tão poderosamente avançado quanto 
pelo personagem de Platão, nem o ataque à justiça 
como uma boa vida para o indivíduo jamais foi 
feito com tanta força quanto pelo personagem de 
Platão.
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O pensamento político na 
Idade Média
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como os pensadores e filósofos da Idade 
Média discutiam e entendiam a política. Isto será 
fundamental para o exercício de sua profissão. 
As pessoas que tentaram o entendimento de 
como ocorreu o estudo da ciência política nessa 
época, sem o devido conhecimento, tiveram 
problemas, uma vez que sem base de como ocorre 
a construção das alianças e do poder da igreja, o 
estudo da ciência política fica com lacunas a serem 
preenchidas de entendimento. E então? Motivado 
para desenvolver esta competência? Então, vamos 
lá. Avante!
Filosofia política medieval
Não há consenso, mesmo entre os medievalistas, sobre 
quando esse período começa ou termina; a filosofia medieval 
continuou até mesmo após o nascimento de Descartes (1596-
1650). A filosofia política medieval é a parte da filosofia que 
se preocupa com questões políticas. A escrita filosófica sobre 
política durante a Idade Média foi muitas vezes uma tentativa de 
influenciar eventos públicos, e a história do assunto, portanto, 
envolve referência a esses eventos. 
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Figura 7 – A política na Idade Média
Fonte: Wikimedia Commons.
Também faz referência aos desenvolvimentos na cultura 
medieval, por exemplo, os renascimentos dos séculos IX e XII, 
e ao desenvolvimento de instituições como o sistema legal e 
as universidades. Há uma forte relação durante esse período 
entre filosofia e religião. Essas conexões “extrafilosóficas” 
estão entre as razões pelas quais a filosofia política passou por 
um desenvolvimento considerável ao longo da Idade Média, à 
medida que o pensamento religioso e político foi modificado 
pelos desenvolvimentos culturais e pelo estresse dos eventos. 
Por filosofia política medieval, entendemos os escritos 
medievais sobre política que são reconhecidamente semelhantes 
aos escritos modernos que classificamos como filosofia política. 
Seus autores eram geralmente acadêmicos que escreviam 
pensando em leitores formados em universidades; basearam-
se em ideias exploradas nas escolas e escreveram de forma 
acadêmica (MIETHKE, 2000). 
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Os autores de escritos políticos geralmente não escreviam 
essas obras no exercício de suas funções docentes. Eles escreviam 
em resposta a algum evento político. Alguns escreveram para a 
edificação de um rei ou outro governante; outros procuraram 
influenciar os conflitos entre a Igreja e os governantes seculares; 
outros estavam preocupados com conflitos dentro da Igreja 
sobre a constituição da Igreja e os poderes dos papas e concílios. 
Frequentemente, eles estavam comprometidos com um ou outro 
lado desses conflitos e muitos clérigos apoiavam governantes 
seculares em seus conflitos com a Igreja (MIETHKE, 2000). 
Obediência aos poderes constituídos
Para os cristãos medievais, a Vulgata era o livro que hoje é 
chamado pelos cristãos de Bíblia, uma tradução latina do Antigo 
Testamento e do Novo Testamento. Os reformadores protestantes 
persuadiram muitos de que a Bíblia foi negligenciada durante 
a Idade Média. De acordo com Lutero,a Bíblia “veio para ficar 
esquecida no pó sob o banco” (FRIEDE, 1978 p.22). 
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IMPORTANTE
As ideias políticas transmitidas por esses livros 
sagrados incluíam o conceito de que a raça 
humana é normalmente governada por reis ou 
imperadores. Existem muito poucos vestígios de 
instituições republicanas nesses textos. Os reis são 
muitas vezes tiranos perversos, egoístas e inimigos 
de Deus e os povos frequentemente compartilham 
os vícios de seus governantes. A realeza do rei Davi 
é um modelo. Os súditos devem obedecer aos 
governantes, mesmo os ímpios. É errado rebelar-
se e, especialmente, fazer qualquer ataque à 
pessoa do governante (FRIEDE, 1978).
No século XVII, a maioria dos protestantes e alguns 
católicos deduziam desses textos que os súditos 
sempre têm o dever religioso de obedecer seus 
governantes. Alguns dos Padres e os escritores 
carolíngios e a maioria dos autores escolásticos, 
sob a influência de ideias extraídas em parte 
de Aristóteles e em parte dos textos legais, 
sustentaram que, sob algumas circunstâncias, a 
desobediência e a rebelião podem ser justificadas 
(FRIEDE, 1978). 
Os padres da igreja cristã – Santo 
Agostinho
Os teólogos cristãos da antiguidade tardia são referidos 
como os Padres da Igreja, e o mais influente deles na sociedade 
da Europa medieval foi Agostinho. Muitos dos padres foram 
influenciados pelo platonismo e pelo estoicismo com os 
quais toda pessoa instruída se familiarizou no mundo antigo. 
Agostinho foi particularmente influenciado pelo platonismo na 
versão que os estudiosos modernos chamam de neoplatonismo, 
e especialmente por Plotino.
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Figura 8 – Santo Agostinho
Fonte: Wikimedia Commons
Os padres transmitiram para a Idade Média a ideia de que 
certas instituições sociais importantes não faziam parte do plano 
original de Deus para a humanidade, ou seja, as instituições de 
governo coercitivo, escravidão e propriedade. A ideia encontrada 
em Sêneca e outros antigos estoicos da Era de Ouro tinha um 
paralelo no pensamento cristão, ou seja, a era da inocência no 
Jardim do Éden, de onde a humanidade foi expulsa por causa 
do pecado de Adão e Eva. Assim como Sêneca, que sustentou 
que originalmente não haveria necessidade de coerção, uma 
vez que os seres humanos aceitariam voluntariamente a 
orientação dos sábios; nenhuma necessidade de propriedade, 
já que ninguém teria procurado controlar mais recursos do que 
os necessários para sustentar um modo de vida temperado; e 
nenhuma escravidão, já que o escravo é um ser humano tratado 
como propriedade. Idealmente, os governos deveriam usar a 
coerção para reprimir as transgressões, com escravidão usada 
apenas como uma punição, mais branda do que a execução, por 
transgressão, e a propriedade deveria ser de extensão moderada, 
com o objetivo de proteger a posse de necessidades da ganância 
daqueles que, de outra forma, tentariam controlar tudo.
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IMPORTANTE
A opinião comum sobre governo coercitivo e 
escravidão foi expressa por Agostinho. Deus não 
pretendia que o homem tivesse domínio sobre 
qualquer criatura, exceto criaturas irracionais: não 
o homem sobre o homem, mas o homem sobre 
os animais. Portanto, os primeiros homens justos 
foram estabelecidos como pastores de rebanhos, e 
não como reis de homens (DYSON, 1998).
Ele prossegue dizendo que a escravidão é uma punição 
justa pelo pecado, e que os servis são assim chamados porque 
“aqueles que poderiam ter sido mortos sob as leis da guerra às 
vezes eram poupados” (DYSON, 1998 p. 34).
Alguns escritores medievais, a quem alguns historiadores 
modernos chamaram de “agostinianos políticos”, inferiram da 
discussão de Agostinho sobre a definição de república de Cícero 
que, entre os não cristãos, não pode haver comunidade. Os não 
cristãos não podem ter direitos de propriedade nem direitos 
políticos, uma vez que tais coisas pressupõem a pertença a uma 
comunidade, e apenas os cristãos podem formar uma verdadeira 
comunidade. Mas as opiniões desses chamados agostinianos 
políticos foram geralmente rejeitadas por outros pensadores 
políticos medievais (DYSON, 1998). 
Agostinho acreditava que a virtude cristã, se observada, 
contribui para um melhor governo. Entre os cristãos medievais, 
havia pelo menos três pontos de vista sobre os bens e os males 
do governo. O governo pode ser, e deve ser, governado pelo 
governante cristão ideal, a quem os protestantes mais tarde 
chamaram de “príncipe piedoso”; tal governante conduziria seu 
povo em obediência a Deus (DYSON, 1998). 
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IMPORTANTE
Como podemos observar, a Idade Média esteve 
saturada da figura religiosa, por meio das ideias e 
preceitos do cristianismo. A religião passou a ser 
uma das bandeiras orientadoras das ações dos 
homens.
Guerra
De acordo com Agostinho, Deus pode tratar suas 
criaturas como quiser, e os israelitas não erraram ao cumprir 
os mandamentos de Deus. Por outro lado, as injunções 
aparentemente pacifistas do Novo Testamento se relacionam com 
a atitude interior, e não com o ato externo (MCCREADY, 1982).
Figura 9 – Guerra na Idade Média
Fonte: Wikimedia Commons.
Esses preceitos dizem respeito mais à disposição interior 
do coração do que às ações que são feitas aos olhos dos homens, 
exigindo que, no íntimo do coração, cultivemos a paciência junto 
com a benevolência, mas, na ação externa, fazer o que parece 
mais provável beneficiar aqueles cujo bem devemos buscar 
(MCCREADY, 1982). 
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Aqueles cujo bem devemos buscar incluem a nós mesmos 
e também nossos inimigos, e a coerção e a punição podem 
beneficiá-los, de modo que podemos guerrear contra eles 
para seu próprio bem, assim como para o nosso. Indivíduos 
particulares não podem guerrear, mas governantes, inclusive 
cristãos, podem fazê-lo, e soldados cristãos podem servir em 
tais guerras em obediência a um governante, mesmo pagão 
(MCCREADY, 1982). 
Agostinho enfatiza que tanto os governantes quanto 
aqueles que prestam serviço militar em obediência aos 
governantes devem evitar o ódio, a ganância e outras disposições 
incompatíveis com o amor (MCCREADY, 1982).
Coerção de hereges
De acordo com a visão de guerra de Agostinho, os cristãos 
tinham o direito de pedir às autoridades romanas, incluindo 
aquelas que eram cristãs, proteção militar contra a violência 
de hereges e anticristãos. Mas foi mais um passo para pedir 
às autoridades que coagissem os hereges a convertê-los ao 
cristianismo ortodoxo. A princípio, Agostinho desaprovou tal 
coerção: “um homem não pode acreditar a menos que esteja 
disposto”, mas depois de um tempo ele foi persuadido e se 
tornou um defensor do uso da força (MCCREADY, 1982). 
De acordo com Agostinho, a propriedade de seitas heréticas 
poderia ser confiscada com razão, o que justifica a apreensão 
do governo da propriedade donatista. Ele não argumenta que 
apenas os cristãos ortodoxos podem possuir propriedade de 
forma correta. Em vez disso, seu ponto é que quem possui 
propriedade a possui apenas em virtude de leis humanas feitas 
por reis e imperadores (MACQUEEN, 1972). 
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Portanto, se o governante decidir confiscar a propriedade 
dos hereges, ele tem o direito de fazê-lo. Essa passagem 
foi frequentemente utilizada na Idade Média para apoiar a 
doutrina de que a propriedade existe apenas pela lei humana 
(MACQUEEN, 1972).
Direito civil e canônico
Os historiadores apontam para outro “renascimento” 
durante o século XII. Esse “renascimento do século XII” incluiu um 
renascimento no estudo do direito civil, isto é, o direito romano 
codificado e digerido por Justiniano e seus funcionários, e isso 
estimulou e influenciou o estudo do direito canônico.
As ideias que os pensadores políticos medievais adotaram 
de diferentes maneiras e em diferentes graus dos textos legais 
incluíam: 
 • Uma distinção entre tipos de leis: ou seja, direito natural(ius naturale); direito das nações (ius gentium); e direito 
civil (ou seja, o direito de uma comunidade particular).
Os livros de direito foram talvez a principal fonte da ideia de 
lei natural, tão importante para o pensamento político medieval 
posterior (TIERNEY, 1980).
IMPORTANTE
Uma noção de direitos, incluindo direitos naturais 
(“direitos humanos”, como diríamos), atribuíveis 
a indivíduos. É digno de nota que a linguagem 
dos direitos, sem a qual muitas pessoas hoje em 
dia não saberiam falar sobre política, não entrou 
plenamente na filosofia política até o século XIV 
como um empréstimo da lei (TIERNEY, 1980).
 • A crença na “única liberdade de todos os homens”: isto é, 
a ideia de que os seres humanos são fundamentalmente 
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iguais e que a escravidão é contrária ao direito natural, 
embora conforme ao direito das gentes.
De acordo com o direito canônico, a propriedade existe 
pela lei humana (que inclui a lei das gentes e a lei civil). Uma 
doutrina de direito canônico de que a lei humana não pode 
abolir completamente a comunhão original das coisas sob a lei 
natural. Os proprietários devem ajudar os pobres e, em casos de 
necessidade, uma pessoa pode reivindicar o direito natural de 
usar qualquer coisa necessária para sustentar a vida (TIERNEY, 
1980).
 • A doutrina de que a fonte da autoridade política é o 
povo: que, no entanto, confiou seu poder ao imperador 
ou outro governante.
 • A doutrina de que o papa ou o imperador (ou ambos) 
tem uma “plenitude de poder” (TIERNEY, 1980).
IMPORTANTE
 • A doutrina de que a lei natural permite a 
um indivíduo resistir à força pela força: 
essa doutrina forneceria uma premissa 
para argumentos a favor do direito de 
resistir a um governo tirânico, usado 
posteriormente por Locke.
 • Uma distinção entre Igreja e Estado: 
mais exatamente, entre o sacerdócio 
e o poder do imperador, cada um 
independente em sua própria esfera, 
embora o sacerdócio tivesse a função 
mais elevada. 
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Poderes secular e espiritual
Os poderes espiritual e secular, não apoiando nem se 
opondo a nenhuma religião, vêm de Deus. Então devemos 
obedecer ao espiritual sobre o secular apenas em questões que 
Deus especificou, ou seja, questões relativas à salvação da alma, 
e em questões cívicas devemos obedecer ao poder secular (é 
o poder do Estado sendo oficialmente imparcial em relação às 
questões religiosas) a menos que os poderes espiritual e secular 
estejam unidos em uma pessoa, como estão no papa, que, pelo 
arranjo de Deus, detém o ápice de ambos os poderes (TIERNEY, 
1980). Em outras palavras, o papa tem autoridade suprema tanto 
em assuntos seculares quanto espirituais (TIERNEY, 1980). 
IMPORTANTE
Existe uma hierarquia de objetivos, ou seja, existem 
fins intermediários que são também meios para 
fins superiores. Uma comunidade existe para 
garantir a vida de seus cidadãos, mas, acima de 
viver, está vivendo bem, isto é, virtuosamente, e 
acima disso está vivendo para alcançar a “visão 
beatífica” de Deus (o céu cristão). Se todos esses 
fins ordenados fossem alcançáveis simplesmente 
pelo esforço humano, a única agência diretora 
suprema se preocuparia com todos eles; porém, 
para alcançar a visão beatífica, é necessária a 
“graça”, isto é, a ajuda especial de Deus, que a 
atividade humana natural não pode merecer. 
Além do Estado, a humanidade, portanto, precisa da Igreja, 
uma agência humana que Deus estabeleceu para conferir a 
graça por meio dos sacramentos. Portanto, há uma distinção 
entre o governo secular, que usa meios naturalmente disponíveis 
para conduzir os cidadãos ao seu objetivo final, e o governo 
eclesiástico, que usa meios sobrenaturais, os sacramentos. 
Os governantes seculares devem estar sujeitos ao papa, “pois 
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aqueles a quem pertence o cuidado dos fins intermediários 
devem estar sujeitos àquele a quem pertence o cuidado do fim 
último” (TIERNEY, 1980). 
McCready (1982) rejeitou a tese de que uma comunidade 
não pode ser bem governada a menos que todo o poder coercitivo 
esteja concentrado em uma autoridade soberana; argumenta 
que, ao contrário, tal concentração é perigosa e incompatível 
com a liberdade. Assim como ele argumentou que a versão 
extrema da doutrina da plenitude do poder papal tornaria os 
cristãos escravos do papa, ao contrário da liberdade evangélica, 
ele também argumenta que a doutrina correspondente da 
plenitude do poder para o imperador seria incompatível com a 
melhor forma de governo, na qual os súditos são pessoas livres 
e não escravos. 
Consequentemente, defende limitações ao poder do 
governante secular. Ele glosa os famosos textos absolutistas da 
lei romana. Que o imperador esteja “libertado das leis” (legibus 
solutus) não é verdade, porque ele está sujeito não apenas ao 
direito natural e divino, mas também ao direito das gentes (um 
ramo do direito humano positivo), segundo o qual alguns são 
não escravos, mas livres. “O que agrada ao príncipe tem força 
de lei”, mas somente quando é algo razoável e justo para o bem 
comum e quando isso é manifestamente expresso (MCCREADY, 
1982).
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A tradição medieval da filosofia 
política
Nos séculos XVI e XVII, a tendência liberal foi auxiliada, 
talvez paradoxalmente, pelo estreito entrelaçamento da religião 
com outros segmentos da vida medieval. Isso significava não 
apenas que a religião influenciava todos os aspectos da vida, 
mas também, reciprocamente, que os outros departamentos 
da vida influenciavam o pensamento religioso (TIERNEY, 1982; 
PENNINGTON, 1993; LEE, 2016).
IMPORTANTE
A dualidade entre realeza e sacerdócio (talvez 
originariamente devido apenas ao fato de que os 
cristãos não tinham poder político), e os conflitos 
que resultaram dessa dualidade fizeram que o 
pensamento religioso tivesse que acomodar as 
preocupações de pessoas poderosas que não 
eram oficiais do sistema religioso. 
Desde a época de Constantino e, no ocidente especialmente, 
desde a época de Agostinho, os cristãos praticaram a coerção dos 
hereges e a repressão da incredulidade. No entanto, seu regime 
nunca foi completamente repressivo. Entre os teólogos-filósofos 
políticos medievais, sempre houve algum reconhecimento dos 
direitos dos incrédulos (por exemplo, dos direitos dos pais 
judeus, da falta de jurisdição da Igreja sobre “aqueles sem”, os 
direitos de propriedade dos incrédulos). 
Houve o reconhecimento do dever de raciocinar e persuadir 
(“um homem não pode acreditar a menos que esteja disposto”). 
Nas relações sociais, havia a crença em uma liberdade e igualdade 
subjacentes, e uma crença de que originalmente o governo 
e a escravidão não existiam, uma ideia de que governo, lei e 
propriedade surgiram por “pacto” ou costume, e uma ideia de 
40 CIÊNCIA POLÍTICA
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que originalmente o governo pertencia ao “povo” e foi confiado 
aos governantes pelo consentimento do povo. Essas crenças 
eram semelhantes à presunção liberal moderna em favor da 
liberdade pessoal (MORRALL, 1980). 
Acreditava-se no “estado de direito”, na distinção entre 
bom governo e tirania, nos “direitos naturais”. Havia uma crença 
em um governo limitado e em uma distinção (ainda não uma 
separação) entre Igreja e Estado. Com relação à constituição 
da Igreja, alguns papas e seus partidários fizeram uma forte 
reivindicação de poder papal irrestrito, mas isso foi fortemente 
rejeitado por escritores que argumentavam que um papa herege 
ou pecador, incluindo aquele que violou os direitos dos leigos e 
dos incrédulos, poderia ser deposto (MORRALL, 1980). 
O limite do governo
A ideia de governo limitado é especificamente moderna. 
Inclui a convicção de que, para evitar o abuso do poder do Estado 
e proteger os direitos dos cidadãos (especialmente seus direitos 
fundamentais de liberdade), o governo deve ser limitado e 
controlado por restrições legais impostas pelo poder do Estado, 
que, por sua vez,é controlado por um judiciário independente, 
de acordo com a lei (MORRALL, 1980). 
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VOCÊ SABIA?
O escopo do governo limitado é substituir, na 
medida do possível, o estado de direito pelo 
governo arbitrário das pessoas humanas, com o 
objetivo de proteger os direitos humanos e civis 
fundamentais dos cidadãos. Em vez de conceder 
poder soberano a determinadas pessoas, o governo 
limitado entende a lei como soberania e os direitos 
de liberdade como reivindicações legalmente 
aplicáveis contra o poder governamental ou estatal. 
A realização prática de tal concepção pressupõe 
um sistema jurídico “multifacetado”, normalmente 
constituído por dois planos. 
Em 1789, o abade Emmanuel Joseph Sieyès em seu panfleto 
Qu’est-ce que le tiers état? escreve a dualidade de: (1) “poder 
constituinte”: um corpo, representando a “nação”, estabelecendo 
uma lei fundamental chamada “constituição”; e (2) os “poderes 
constituídos” que são os órgãos governamentais, instituições, 
e as regras processuais baseadas na lei constitucional, sendo 
ordenadas e limitadas pelas disposições legais da constituição 
(MORRALL, 1980).
Durante os séculos XVI e XVII, abriu caminho para a 
teoria política. Fundiu-se com a ideia mais antiga de soberania 
popular e contratualismo medieval, a doutrina de que aqueles 
que governam estão unidos aos que governam por um vínculo 
contratual de proteção e obediência e, portanto, são responsáveis 
perante eles. Assim, sempre que o governante quebrou o vínculo, 
a lealdade mútua foi dissolvida e a desobediência tornou-se legal. 
Essa tradição acabou moldando as tentativas dos calvinistas 
de formular uma doutrina de resistência legítima, que eles 
primeiro rejeitaram com base nos fundamentos agostinianos 
porque, acreditavam, os tiranos deveriam ser suportados como 
punição divina pelos pecados daqueles governados por eles. Mas 
42 CIÊNCIA POLÍTICA
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agora os calvinistas começaram a considerar o governo de um 
rei infiel – isto é, um rei católico – como uma violência ilegítima 
contra o povo, o que, por sua vez, tornava legal a resistência 
violenta contra o rei. 
Para isso, calvinistas, e também luteranos, evocaram o 
princípio jurídico romano vim vi repellere, popular entre os juristas 
desde o século XIII. Ironicamente, eles efetivamente adotaram 
doutrinas católicas de resistência legítima contra a tirania, 
criando assim uma ponte decisiva entre o pensamento político 
medieval e moderno. A filosofia política de Tomás de Aquino 
foi talvez o ingrediente mais influente dessa tradição medieval 
(MORRALL, 1980)
RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que Agostinho acreditava 
que apenas bons cristãos podem ser governantes. 
Entre os cristãos medievais, havia pelo menos 
três pontos de vista sobre os bens e os males do 
governo: O governo pode ser, e deve ser, governado 
pelo governante cristão ideal, tal governante 
conduziria seu povo em obediência a Deus. O 
governo existe para organizar a cooperação de 
homens e, por fim, inclui a convicção de que, para 
evitar o abuso do poder do Estado e proteger os 
direitos dos cidadãos (especialmente seus direitos 
fundamentais de liberdade), o governo deve 
ser limitado e controlado por restrições legais 
impostas pelo poder do Estado, que, por sua vez, 
é controlado por um judiciário independente, de 
acordo com a lei.
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O pensamento político no 
Renascimento
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funciona o pensamento político 
no renascimento. Isto será fundamental para 
o exercício de sua profissão. As pessoas que 
tentaram o entendimento do pensamento político 
no renascimento, sem o devido conhecimento, 
tiveram problemas, uma vez que não tinham 
base de como ocorre essa influência no indivíduo 
para que ele aceite seguir a orientação do Estado 
abrindo mão da sua liberdade pela autoridade de 
um poder soberano e absoluto. E então? Motivado 
para desenvolver esta competência? Então vamos 
lá. Avante!
A filosofia moral e política de 
Hobbes
O filósofo inglês do século XVII, Thomas Hobbes, é 
agora amplamente considerado um dos poucos filósofos 
políticos verdadeiramente grandes. Hobbes é famoso por seu 
desenvolvimento inicial e elaborado do que veio a ser conhecido 
como “teoria do contrato social”, o método de justificar princípios 
ou arranjos políticos apelando para o acordo que seria feito entre 
pessoas racionais, livres e iguais adequadamente situadas. 
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Figura 10 – Thomas Hobbes
Fonte: Wikimedia Commons.
Enquanto sua inovação metodológica teve u profundo 
impacto construtivo no trabalho subsequente em filosofia 
política, suas conclusões substantivas serviram principalmente 
como uma folha para o desenvolvimento de posições filosóficas 
mais sentidas. A maioria dos estudiosos considera que Hobbes 
afirmou algum tipo de relativismo ou subjetivismo pessoal; mas 
as visões de que defendia a teoria do comando divino, a ética 
da virtude, o egoísmo das regras ou uma forma de projetivismo 
também encontram apoio em seus textos e entre os estudiosos 
(WEBER, 1982). 
Como Hobbes sustentava que “a verdadeira doutrina das 
Leis da Natureza é a verdadeira filosofia moral”, as diferenças na 
interpretação da filosofia moral de Hobbes podem ser atribuídas 
a diversos entendimentos do status e da operação das “leis da 
natureza” de Hobbes. A visão anteriormente dominante de que 
Hobbes defendia o egoísmo psicológico como fundamento de 
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sua teoria moral é atualmente amplamente rejeitada, e não 
houve até o momento nenhum estudo totalmente sistemático 
da psicologia moral de Hobbes (WEBER, 1982).
O projeto filosófico
Hobbes procurou descobrir princípios racionais para a 
construção de uma política civil que não estaria sujeita à destruição 
por dentro. Tendo vivido o período de desintegração política que 
culminou na Guerra Civil Inglesa, ele chegou à conclusão de que 
os fardos até mesmo do governo mais opressivo são “pouco 
sensíveis, em relação às misérias e calamidades horríveis que 
acompanham uma guerra civil”. Como praticamente qualquer 
governo seria melhor do que uma guerra civil e, de acordo 
com a análise de Hobbes, todos, exceto os governos absolutos, 
são sistematicamente propensos à dissolução em guerra civil, 
as pessoas deveriam se submeter a uma autoridade política 
absoluta. 
EXEMPLO
Os súditos não devem disputar o poder soberano e, em 
hipótese alguma, devem se rebelar. De modo geral, Hobbes 
pretendia demonstrar a relação recíproca entre a obediência 
política e a paz (WEBER, 1982). 
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Absolutismo
Embora Hobbes oferecesse alguns fundamentos 
pragmáticos moderados para preferir a monarquia a outras 
formas de governo, sua principal preocupação era argumentar 
que o governo eficaz, seja qual for sua forma, deve ter autoridade 
absoluta. Seus poderes não devem ser divididos nem limitados. 
Os poderes de legislação, adjudicação, imposição, tributação, 
guerra (e o direito menos familiar de controle da doutrina 
normativa) estão conectados de tal forma que a perda de 
um pode impedir o exercício efetivo do resto; por exemplo, a 
legislação sem interpretação e aplicação não servirá para regular 
a conduta. 
Figura 11 – O absolutismo
Fonte: Wikimedia Commons.
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Somente um governo que possui tudo o que Hobbes 
chama de “direitos essenciais de soberania” pode ser eficaz de 
forma confiável, pois onde conjuntos parciais desses direitos 
são mantidos por diferentes órgãos que discordam em seus 
julgamentos sobre o que deve ser feito, a paralisia do poder 
efetivo governo, ou a degeneração em uma guerra civil para 
resolver sua disputa, pode ocorrer (FERNANDES,1995).
IMPORTANTE
Da mesma forma, impor limitação à autoridade 
do governo é abrir disputas insolúveis sobre se 
ele ultrapassou esses limites. Se cada pessoa 
deve decidir por si mesma se o governo deve ser 
obedecido, divergências entre facções e guerra 
para resolver a questão, ou pelo menos paralisia 
de um governo efetivo, são bem possíveis. 
Encaminhar a resolução da questão para alguma 
outra autoridade, também limitada e tão aberta 
ao desafio por ultrapassar seus limites, seria 
iniciar uma regressão infinita de “autoridades” não 
autorizadas (em que a responsabilidade nunca 
para) (FERNANDES, 1995). 
Responsabilidade e limites da 
obrigação política
A descrição de Hobbes da maneira pela qual as pessoas 
devem ser entendidas como sujeitas a uma autoridade soberana 
muda de seus Elements e De Cive para seu relato de Leviatã. No 
primeiro, cada pessoa estabelece seus direitos (de autogoverno 
e de buscar todas as coisas que julgue úteis ou necessárias para 
sua sobrevivência e vida cômoda) em favor de uma mesma 
pessoa soberana (seja pessoa natural, como monarca, ou uma 
pessoa artificial, como uma assembleia regida por regras). 
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Nessas contas anteriores, os soberanos sozinhos retêm seu 
direito natural de agir de acordo com seu próprio julgamento 
privado em todos os assuntos e também exercer os direitos 
transferidos dos súditos. Seja exercendo seu próprio direito 
de natureza retido ou os direitos transferidos dos súditos, a 
ação do soberano é atribuível ao próprio soberano, e ele tem 
responsabilidade moral por isso. Em contraste, o relato do 
Leviatã, de Hobbes, tem cada pacto individual para “possuir e 
autorizar” todas as ações do soberano, tudo o que o soberano 
faz como uma figura pública ou comanda que os súditos façam. 
IMPORTANTE
Essa mudança cria uma aparente inconsistência 
na teoria da responsabilidade de Hobbes por 
ações feitas sob o comando do soberano; se 
ao “possuir e autorizar” todas as ações de seu 
soberano, os súditos se tornam moralmente 
responsáveis por tudo o que ele faz e tudo o que 
fazem em obediência a seus comandos, Hobbes 
não pode manter consistentemente sua posição 
de que ações meramente obedientes em resposta 
a comandos soberanos são a responsabilidade 
moral exclusivamente do soberano. Uma 
resolução dessa aparente inconsistência nega 
que a ideia de autorização de Hobbes carregue 
consigo a responsabilidade pelo ato autorizado, 
como geralmente faz nossa ideia contemporânea 
de autorização (FERNANDES, 1995). 
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Maquiavel 
Maquiavel é considerado o pioneiro do pensamento e da 
ciência política moderna, precisamente por escrever sobre o 
Estado e o governo como realmente são e não como deveriam 
ser. Croce (1925), vê Maquiavel simplesmente como um “realista” 
ou um “pragmatista” que defende a suspensão da ética comum 
em questões políticas. Os valores morais não têm lugar nos tipos 
de decisões que os líderes políticos devem tomar, e é um erro da 
categoria pensar de outra forma. Talvez a versão mais branda 
da hipótese amoral tenha sido proposta por Morrall e Skinner 
(1978), que afirmam que a comissão do governante de atos 
considerados perversos pela convenção é uma opção “última 
melhor”. 
Figura 12 – Maquiavel
Fonte: Wikimedia Commons.
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O objetivo da “ciência” maquiavélica não é distinguir entre 
formas “justas” e “injustas” de governo, mas explicar como os 
políticos empregam o poder para seu próprio ganho. Assim, 
Maquiavel ascende ao manto do fundador da ciência política 
“moderna”, em contraste com a visão clássica carregada de 
normas de Aristóteles de uma ciência política da virtude.
IMPORTANTE
Maquiavel, com seus pensamentos e ideias, foi 
um dos protagonistas da divisão entre a religião 
e a política, e também foi um realista, mostrando 
o caráter do poder e como tudo realmente 
funciona. Provavelmente, essa tenha sido a razão 
de Maquiavel ter sido tão marginalizado, a ponto 
de criar um adjetivo com sentido pejorativo de 
“maquiavélico”.
O Estado e o príncipe: linguagem e 
conceitos
Maquiavel também foi creditado conforme Morrall e Skinner 
(1978) por formular pela primeira vez o “conceito moderno de 
Estado”, entendido no sentido amplamente weberiano de uma 
forma impessoal de governo possuindo um monopólio de 
autoridade coercitiva dentro de um limite territorial definido. 
Certamente, o termo lo stato aparece amplamente 
nos escritos de Maquiavel, especialmente em O Príncipe, em 
conexão com a aquisição e aplicação do poder em sentido 
coercitivo, o que torna seu significado distinto do termo latino 
status (condição ou posto) do qual é derivado. Além disso, os 
estudiosos citam a influência de Maquiavel na formação dos 
primeiros debates modernos em torno da “razão do Estado”, a 
doutrina de que o bem do próprio Estado tem precedência sobre 
todas as outras considerações, seja a moralidade ou o bem dos 
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cidadãos, como evidência de que ele foi recebido por seus quase 
contemporâneos como um teórico do estado (MEINECKE, 1924 
[1957]). O nome e as doutrinas de Maquiavel foram amplamente 
invocados para justificar a prioridade dos interesses do Estado 
na era do absolutismo.
IMPORTANTE
No entanto, como Mansfield (1996) mostrou, uma 
leitura cuidadosa do uso de lo stato, por Maquiavel 
em O Príncipe e em outros lugares, não apoia essa 
interpretação. O “Estado” de Maquiavel continua 
sendo um patrimônio pessoal, uma posse mais 
alinhada com a concepção medieval de dominium 
como fundamento do governo (dominium é um 
termo latino que pode ser traduzido com igual 
força como “propriedade privada” e como “domínio 
político”). 
Assim, o “Estado” é literalmente propriedade de qualquer 
príncipe que tenha o controle dele. Além disso, o caráter do 
governo é determinado pelas qualidades e traços pessoais do 
governante, daí a ênfase de Maquiavel na virtù como indispensável 
para o sucesso do príncipe. Esses aspectos da implantação de 
lo stato em O Príncipe mitigam a “modernidade” de sua ideia. 
Maquiavel é, na melhor das hipóteses, uma figura de transição 
no processo pelo qual a linguagem do Estado emergiu no início 
da Europa moderna, como conclui Mansfield (1996).
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O lugar de Maquiavel no pensamento 
ocidental
O que é “moderno” ou “original” no pensamento de 
Maquiavel? Mansfield (1996) traz o entendimento entre 
moderno e original através de Pocock (1975), o republicanismo 
de Maquiavel é de uma variedade humanista cívica cujas raízes 
podem ser encontradas na antiguidade clássica; para Rahe 
(2008), o republicanismo de Maquiavel é inteiramente novo e 
moderno. Os pensadores neorromanos (principalmente Pettit, 
Skinner e Viroli) apropriam-se de Maquiavel como fonte de seu 
princípio de “liberdade como não dominação”, enquanto ele 
também foi colocado para trabalhar na defesa de preceitos e 
valores democráticos. Da mesma forma, casos foram feitos para 
a moralidade política de Maquiavel, sua concepção do Estado, 
suas visões religiosas e muitas outras características de sua obra 
como base distintiva para a originalidade de sua contribuição 
(MANSFIELD, 1996). 
O que torna Maquiavel um pensador problemático, mas 
estimulante, é que, em sua tentativa de tirar conclusões diferentes 
das expectativas comuns de seu público, ele ainda incorporou 
características importantes exatamente das convenções que 
estava desafiando. Maquiavel não deve realmente ser classificado 
como puramente “antigo” ou “moderno”, mas merece ser 
localizado nos interstícios entre os dois (MANSFIELD, 1996).
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A filosofia política de Locke
John Locke (1632-1704) está entre os filósofos políticos 
mais influentes do período moderno. Nos Dois Tratados sobre 
o Governo, ele defendeu a alegação de que os homens são por 
natureza livres e iguais contra as alegações de que Deus havia 
feito todas as pessoas naturalmentesujeitas a um monarca. 
IMPORTANTE
Locke usou a alegação de que os homens são 
naturalmente livres e iguais como parte da 
justificativa para entender o governo político 
legítimo como resultado de um contrato social 
em que as pessoas no estado de natureza 
transferem condicionalmente alguns de seus 
direitos ao governo, a fim de melhor garantir 
o gozo estável e confortável de suas vidas, 
liberdade e propriedade. “Uma vez que os 
governos existem pelo consentimento do povo 
para proteger os direitos do povo e promover 
o bem público, os governos que não o fazem 
podem ser combatidos e substituídos por novos 
governos” (SELL, 2006 p. 57).
Locke defende também o princípio da regra da maioria e a 
separação dos poderes Legislativo e Executivo (SELL, 2006). 
Figura 13 – John Locke
Fonte: Wikimedia Commons.
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Segundo Sell (2006, p. 56), “Locke apresenta a ideia de 
que os indivíduos através de um contrato social, criam o Estado 
(sociedade civil) para proteger suas liberdades fundamentais, 
que são a vida, a propriedade e a própria liberdade”. Locke 
defende um Estado Liberal. 
IMPORTANTE
O conceito de estado de natureza de Locke foi 
interpretado por críticos de várias maneiras. 
À primeira vista parece bastante simples. “Os 
direitos naturais inalienáveis do indivíduo à vida, à 
liberdade e à propriedade constituem, para Locke, 
o cerne do estado civil e ele é considerado, por 
isso, o pai do individualismo liberal” (WEFFORT, 
2002, p. 88).
A relevância das obras de Locke e de suas ideias a várias 
nações é considerada fundamental para definição política de 
vários países. De acordo com Weffort (2002, p. 89):
Locke influenciou a revolução norte-americana, 
onde a declaração de independência foi redigida e a 
guerra de libertação foi travada em termos de direitos 
naturais e de direitos de resistência para fundamentar 
a ruptura com o sistema colonial britânico.
Locke influenciou ainda os filósofos iluministas 
franceses, principalmente Voltaire e Montesquieu 
e, através deles, a Grande Revolução de 1789 e a 
declaração de direitos do homem e do cidadão.
Em contradição a Hobbes, que defendia um Estado 
absolutista, Locke apresentou ao mundo a fórmula liberal do 
Estado moderno. A teoria do estado de natureza de Locke estará 
assim intimamente ligada à sua teoria da lei natural, uma vez 
que esta última define os direitos das pessoas e seu status como 
pessoas livres e iguais (WEFFORT, 2002).
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Consentimento, obrigação política e 
fins do governo
A partir do estado natural de liberdade e independência, 
Locke enfatiza o consentimento individual como o mecanismo 
pelo qual as sociedades políticas são criadas e os indivíduos se 
juntam a essas sociedades. 
Embora existam algumas obrigações e direitos gerais que 
todas as pessoas têm da lei da natureza, as obrigações especiais 
surgem apenas quando as assumimos voluntariamente. Locke 
afirma claramente que alguém só pode se tornar um membro 
pleno da sociedade por um ato de consentimento expresso. 
A teoria do consentimento de Locke tende a se concentrar 
em como ele responde ou não com sucesso à seguinte objeção: 
poucas pessoas realmente consentiram com seus governos, 
então nenhum, ou quase nenhum, governo é realmente legítimo. 
Essa conclusão é problemática, pois é claramente contrária 
à intenção de Locke. A solução mais óbvia de Locke para esse 
problema é sua doutrina do consentimento tácito (LOCKE apud 
TADIÉ, 2005). 
EXEMPLO
Simplesmente caminhando pelas estradas de um país, 
uma pessoa dá consentimento tácito ao governo e concorda em 
obedecê-lo enquanto vive em seu território. 
Isso, pensa Locke, explica por que os estrangeiros residentes 
têm a obrigação de obedecer às leis do Estado onde residem, 
embora apenas enquanto estiverem morando lá. Herdar 
propriedade cria um vínculo ainda mais forte, uma vez que o 
proprietário original da propriedade colocou permanentemente 
a propriedade sob a jurisdição da comunidade. 
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Os filhos, quando aceitam a propriedade de seus 
pais, consentem na jurisdição da comunidade sobre essa 
propriedade. Há debate sobre se a herança de propriedade deve 
ser considerada consentimento tácito ou expresso. Em uma 
interpretação, ao aceitar a propriedade, Locke pensa que uma 
pessoa se torna um membro pleno da sociedade, o que implica 
que ela deve considerar isso como um ato de consentimento 
expresso (GRANT, 1987).
Separação de poderes e dissolução do 
governo
Locke afirma que o governo legítimo é baseado na ideia 
de separação de poderes. O primeiro e mais importante deles 
é o Poder Legislativo. Locke descreve o Poder Legislativo como 
supremo por ter autoridade final sobre “como a força para 
a comunidade deve ser empregada”. A legislatura ainda está 
vinculada à lei da natureza e muito do que ela faz é estabelecer 
leis que promovam os objetivos da lei natural e especificam 
punições apropriadas para eles. 
IMPORTANTE
O Poder Executivo é então encarregado de fazer 
cumprir a lei conforme ela é aplicada em casos 
específicos. Curiosamente, o terceiro poder de 
Locke é chamado de “Poder Federativo” e consiste 
no direito de agir internacionalmente de acordo 
com a lei da natureza. Como os países ainda estão 
no estado de natureza entre si, eles devem seguir 
os ditames da lei natural e podem punir uns aos 
outros por violações dessa lei, a fim de proteger 
os direitos de seus cidadãos (LOCKE apud TADIÉ, 
2005). 
57CIÊNCIA POLÍTICA
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O fato de Locke não mencionar o Poder Judiciário como 
um poder separado fica mais claro se distinguirmos poderes 
de instituições. Os poderes referem-se a funções. Ter um poder 
significa que existe uma função (como fazer as leis ou fazer 
cumprir as leis) que alguém pode desempenhar legitimamente. 
Quando Locke diz que o Legislativo é supremo sobre o Executivo, 
ele não está dizendo que o parlamento é supremo sobre o rei. 
Locke está simplesmente afirmando que “o que pode dar leis 
a outro deve necessariamente ser superior a ele” (LOCKE apud 
TADIÉ, 2005 p. 41).
Além disso, Locke pensa que é possível que várias 
instituições compartilhem o mesmo poder; por exemplo, o Poder 
Legislativo em sua época era compartilhado pela Câmara dos 
Comuns, a Câmara dos Lordes e o Rei. Como os três precisavam 
concordar para que algo se tornasse lei, todos os três faziam 
parte do Poder Legislativo. Acreditava também que o Poder 
Federativo e o Poder Executivo estavam normalmente colocados 
nas mãos do Executivo, pelo que é possível que uma mesma 
pessoa exerça mais do que um poder (ou função). Não há, 
portanto, correspondência biunívoca entre poderes e instituições 
(TUCKNESS, 2002).
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Tolerância
Na Carta sobre a tolerância de Locke, ele desenvolve 
várias linhas de argumentação que visam estabelecer as esferas 
apropriadas para religião e política. 
Locke apresenta três razões de natureza mais filosófica para 
impedir os governos de usar a força para encorajar as pessoas a 
adotarem crenças religiosas (LOCKE apud TADIÉ, 2005). 
IMPORTANTE
Primeiro, ele argumenta que o cuidado das almas 
dos homens não foi confiado ao magistrado por 
Deus ou pelo consentimento dos homens. Suas 
crenças são uma função do que eles pensam ser 
verdade, não do que eles querem. O segundo 
argumento de Locke é que, uma vez que o poder do 
governo é apenas a força, enquanto a verdadeira 
religião consiste na genuína persuasão interior 
da mente, a força é incapaz de levar as pessoas à 
verdadeira religião. 
O terceiro argumento de Locke é que, mesmo que o 
magistrado pudesse mudar a opinião das pessoas, uma situação 
em que todos aceitassem a religião do magistrado não traria mais 
pessoas para a verdadeira religião. Muitos dos magistrados do 
mundo acreditam em religiões falsas (LOCKE apud TADIÉ, 2005). 
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Educação e política
Locke acreditava que o entendimento humano o leva 
a considerar

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