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O ACOLHIMENTO NO BERÇÁRIO: A IMPORTÂNCIA DO OLHAR ACOLHEDOR NA CONSTRUÇÃO DOS PRIMEIROS VÍNCULOS MARTHA WILIAN VICENTE DE ALMEIDA 2025 RESUMO O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a importância do acolhimento e do olhar acolhedor no berçário, considerando o papel essencial do educador no processo de adaptação, vínculo e segurança emocional dos bebês. O acolhimento, enquanto prática pedagógica e afetiva, ultrapassa o simples ato de receber a criança no ambiente escolar; envolve a escuta sensível, o respeito às individualidades e a criação de um espaço de confiança entre educadores, crianças e famílias. Através de uma abordagem qualitativa e reflexiva, baseada na experiência prática da autora e em referenciais teóricos da Educação Infantil, busca-se compreender como o olhar acolhedor contribui para o desenvolvimento integral do bebê, proporcionando bem-estar, segurança e pertencimento. Palavras-chave: Acolhimento. Berçário. Educação Infantil. Afetividade. Vínculo. 1. INTRODUÇÃO O início da trajetória escolar de uma criança é um momento de profundas transformações, especialmente quando se trata do berçário. Nesse ambiente, os bebês dão seus primeiros passos fora do núcleo familiar, vivenciando novas experiências, pessoas e rotinas. Diante disso, o acolhimento se torna uma ação fundamental para garantir que essa transição ocorra de forma segura, tranquila e afetuosa. No contexto da Educação Infantil, o acolhimento deve ser compreendido como uma prática pedagógica contínua, que vai além dos primeiros dias de adaptação. É um processo permanente, construído a partir das relações estabelecidas entre educadores, bebês e famílias. O olhar acolhedor do professor tem papel decisivo nesse processo, pois é por meio dele que a criança se sente aceita, compreendida e protegida, elementos essenciais para o seu desenvolvimento integral. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), a Educação Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral das crianças de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Nesse sentido, o berçário, como primeiro espaço de socialização formal, deve promover um ambiente de segurança emocional e de relações afetivas consistentes. O ato de acolher é um gesto que exige sensibilidade, empatia e disponibilidade emocional. Para o bebê, que ainda não domina a linguagem verbal, o olhar, o toque e o tom de voz do adulto são formas de comunicação que transmitem cuidado e confiança. Um olhar acolhedor tem o poder de acalmar, confortar e estabelecer laços, sendo, portanto, uma ferramenta essencial no trabalho do educador infantil. A autora, como professora atuante em uma creche pública, tem vivenciado a importância dessas relações de afeto e acolhimento na rotina com bebês de quatro meses a um ano e três meses. Cada gesto, sorriso ou olhar revela o quanto o bebê necessita de uma presença sensível e disponível. A adaptação de cada criança é única e requer um acompanhamento atento, paciente e respeitoso. Além disso, é fundamental destacar o papel da família nesse processo. Quando a família acredita na professora, confia em seu trabalho e acompanha o desenvolvimento do bebê, o acolhimento se torna mais sólido e verdadeiro. Essa parceria entre escola e família cria um elo de segurança emocional para a criança, que percebe coerência entre os cuidados recebidos em casa e na instituição. A confiança mútua fortalece o vínculo afetivo e contribui para que o bebê se sinta protegido, amado e pronto para explorar o mundo que o cerca. Outro aspecto essencial é o trabalho em equipe dentro do berçário. O acolhimento não é responsabilidade de uma única pessoa, mas de todos os profissionais que fazem parte da rotina das crianças. Professores, auxiliares, estagiários e demais colaboradores precisam atuar de forma integrada, com respeito, diálogo e compromisso. Cada um tem um papel importante na construção de um ambiente seguro e afetivo. É por meio dessa união e harmonia que o bebê se sente verdadeiramente acolhido. Infelizmente, ainda existe na sociedade uma visão equivocada sobre o papel da professora de Educação Infantil. Muitos acreditam que ela “apenas cuida”, como se o ato de cuidar fosse algo menor, ou chamam essas profissionais de “tias”, diminuindo o caráter pedagógico e formativo de seu trabalho. No entanto, ser professora de berçário é ser educadora no mais amplo sentido: é planejar, observar, registrar, refletir e agir com intencionalidade educativa em cada gesto. O cuidar e o educar são inseparáveis, e o olhar acolhedor é o elo que une afeto e aprendizagem. Assim, este artigo busca discutir a importância do acolhimento e do olhar acolhedor no berçário, destacando como essas práticas — em parceria com a família e com a equipe escolar — contribuem para o bem-estar emocional, a formação de vínculos e o desenvolvimento das crianças pequenas. O estudo também pretende refletir sobre o papel do educador como mediador das primeiras experiências de confiança, pertencimento e reconhecimento profissional no ambiente escolar. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 O ACOLHIMENTO E A ABORDAGEM PARTICIPATIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL O acolhimento é um processo essencial no trabalho com bebês e crianças pequenas, pois é nesse momento que se estabelecem as primeiras relações de confiança entre a criança, o educador e o ambiente escolar. Essa etapa exige escuta sensível, paciência e empatia por parte dos profissionais que atuam no berçário. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) reforça que a Educação Infantil deve garantir o direito das crianças de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, o que inclui o respeito ao tempo de cada uma para se adaptar às novas experiências. Cada bebê é único em sua forma de reagir ao novo ambiente. Enquanto alguns se adaptam rapidamente, demonstrando curiosidade e alegria, outros podem demorar um pouco mais, manifestando insegurança, choro frequente ou resistência ao toque e ao colo da professora. Essa reação não deve ser interpretada como desinteresse ou rejeição, mas como parte natural do processo de adaptação. O papel do educador é acolher essas emoções com respeito, sem forçar o contato, e oferecer proximidade de maneira gradual e afetiva, para que o bebê possa construir vínculos de forma segura. A abordagem participativa na Educação Infantil propõe exatamente esse olhar atento e respeitoso ao ritmo de cada criança. Ela valoriza o bebê como sujeito ativo, capaz de expressar vontades, preferências e emoções, mesmo sem o uso da linguagem verbal. O educador, nessa perspectiva, atua como mediador sensível, observando os gestos, os olhares e as reações dos pequenos para compreender suas necessidades e ajustar sua prática de forma individualizada. Quando o professor adota uma postura participativa, ele reconhece o bebê como alguém que participa de seu próprio processo de adaptação. Isso significa permitir que a criança se aproxime no seu tempo, ofereça o colo quando ela demonstra disponibilidade, e estabeleça uma relação baseada na confiança mútua. Pequenos gestos — como se abaixar para ficar na altura do bebê, falar com tom de voz suave, respeitar o momento de observação silenciosa e oferecer brinquedos familiares — ajudam a construir esse vínculo afetivo. Essa forma de acolher também envolve a escuta ativa da família, que é parceira fundamental no processo. Conversar com os responsáveis sobre as preferências, os medos e os hábitos do bebê contribui para que o educador compreenda melhor como agir. Quando a família percebe que a professora acolhe com sensibilidade e respeita o tempo da criança, a confiança entre ambos se fortalece, beneficiando diretamente o desenvolvimento emocional do bebê. Desse modo, a prática pedagógica no berçário deve estar embasada em uma concepção de acolhimento que une o cuidar, o educar e o participar, entendendo que o bebê aprende o tempo todo — enquanto é olhado, tocado, nomeado, escutado e respeitado.O acolhimento, portanto, não é apenas um momento de chegada, mas uma atitude pedagógica permanente, sustentada por um olhar que reconhece o bebê como sujeito de direitos, digno de afeto, escuta e respeito. 2.2 O OLHAR ACOLHEDOR E O PAPEL DA EQUIPE NO BERÇÁRIO O olhar acolhedor é um dos elementos centrais do trabalho no berçário. Ele traduz a sensibilidade do educador em perceber as necessidades dos bebês e responder a elas de maneira afetiva e respeitosa. Esse olhar vai além do ato de observar: ele expressa empatia, cuidado e atenção genuína. Quando a professora olha o bebê com ternura, paciência e presença, transmite uma mensagem poderosa de segurança e pertencimento. O bebê, mesmo sem compreender palavras, sente-se reconhecido, valorizado e amado. Segundo Winnicott (1975), o desenvolvimento emocional saudável da criança depende da presença de um adulto confiável, capaz de oferecer acolhimento e estabilidade emocional. No contexto do berçário, essa função é desempenhada pela professora e pela equipe pedagógica, que precisam estar disponíveis de corpo e alma para os bebês. Um simples olhar atento durante a troca de fraldas, o momento da alimentação ou a brincadeira pode se transformar em uma oportunidade de fortalecimento de vínculos afetivos e de aprendizagem. O olhar acolhedor também se manifesta no modo como o educador organiza o ambiente, planeja as interações e respeita as individualidades. O bebê aprende observando e sendo observado, e o modo como o adulto o enxerga influencia diretamente sua autoestima e sua curiosidade em explorar o mundo. Um ambiente onde o olhar é amoroso e respeitoso gera tranquilidade, permitindo que a criança se desenvolva com confiança. Contudo, o acolhimento no berçário não é responsabilidade apenas da professora regente. Ele envolve o trabalho de toda a equipe — auxiliares, estagiários, coordenadores, merendeiras e demais profissionais que participam da rotina. Cada membro da equipe tem papel essencial na construção de um ambiente seguro e harmonioso. O bebê percebe quando há cooperação e sintonia entre os adultos, e isso reflete diretamente em seu comportamento e bem-estar emocional. O respeito entre os profissionais é a base para que o acolhimento se torne uma prática coletiva. A troca de experiências, o diálogo constante e o apoio mútuo fortalecem o trabalho pedagógico. Quando a equipe atua de forma integrada, o cuidado com os bebês torna-se mais sensível e humanizado. Por outro lado, a falta de comunicação e o desrespeito entre colegas podem gerar um clima de tensão que é facilmente percebido pelas crianças, mesmo que inconscientemente. É importante ressaltar que o trabalho no berçário exige competência pedagógica, planejamento e intencionalidade. Infelizmente, ainda é comum a sociedade enxergar a professora de Educação Infantil como uma “tia” ou “cuidadora”, desvalorizando sua formação e seu papel educativo. Essa visão precisa ser transformada. Ser professora de berçário é ser educadora de base, aquela que constrói os primeiros alicerces do desenvolvimento infantil. Ela não apenas cuida, mas educa com o olhar, com o gesto, com a palavra e com a escuta. Como afirma Campos (2012), cuidar e educar são ações indissociáveis na Educação Infantil. O ato de trocar uma fralda, alimentar um bebê ou acalmá-lo no colo é também um ato pedagógico, pois envolve comunicação, vínculo e aprendizagem. Cada momento da rotina é uma oportunidade de ensinar algo — sobre o corpo, o tempo, o afeto, a confiança e a convivência. No berçário onde a professora Martha Wilian Vicente de Almeida atua, observa-se na prática como a união da equipe transforma o ambiente em um espaço de aconchego e respeito. Desde o momento da chegada, cada profissional demonstra preocupação em acolher o bebê com um sorriso, uma palavra carinhosa ou um gesto de cuidado. Essa sintonia entre os adultos reflete diretamente na serenidade das crianças, que percebem o ambiente como um lugar seguro e afetuoso. O olhar acolhedor, quando compartilhado pela equipe, torna-se uma força coletiva que sustenta o trabalho pedagógico e fortalece os vínculos. Assim, o olhar acolhedor e o trabalho em equipe constituem os pilares do acolhimento na Educação Infantil. É por meio deles que se constrói um ambiente onde o bebê é respeitado em sua individualidade, acolhido em suas emoções e incentivado a crescer com autonomia, alegria e confiança. 2.3 A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE ACOLHIMENTO O processo de acolhimento na Educação Infantil não se limita ao espaço da escola; ele se constrói de forma colaborativa entre o berçário e a família. A parceria entre ambos é um dos fatores mais determinantes para o sucesso da adaptação e para o desenvolvimento emocional dos bebês. Quando a família confia no trabalho da professora e acompanha o progresso da criança, o bebê sente-se amparado e seguro, pois percebe coerência entre os cuidados e afetos recebidos em casa e na escola. O ingresso no berçário é, na maioria das vezes, a primeira experiência de separação significativa entre o bebê e sua família. Essa transição pode gerar sentimento de insegurança tanto na criança quanto nos pais. O bebê, ainda em formação de suas primeiras relações de apego, passa a conviver com novas pessoas, cheiros, sons e rotinas. Já os responsáveis precisam lidar com a ansiedade da separação, o medo de que a criança sofra e a dúvida sobre como será tratada nesse novo espaço. Diante disso, o acolhimento deve ser direcionado tanto ao bebê quanto à família, de forma empática e respeitosa. O primeiro passo é estabelecer uma relação de confiança. Para isso, a professora precisa acolher as emoções da família, escutar suas preocupações e explicar, com tranquilidade, como acontece o processo de adaptação. É comum que, nos primeiros dias, alguns bebês chorem constantemente, recusem o colo da professora, não aceitem se alimentar ou até apresentem mudanças no sono e no humor. Esses comportamentos não indicam rejeição, mas sim uma tentativa da criança de compreender e se ajustar ao novo ambiente. O olhar acolhedor do educador, aliado à parceria com a família, torna-se essencial nesse período delicado. A professora Martha Wilian Vicente de Almeida, com sua experiência em uma creche pública, relata que há bebês que precisam de várias semanas para aceitar o colo ou para interagir com os colegas. Em alguns casos, o bebê prefere observar à distância, buscando segurança antes de se aproximar. Nesses momentos, o respeito ao tempo da criança é a maior demonstração de acolhimento. Forçar o contato ou o colo pode gerar mais insegurança; por isso, o educador deve se aproximar com calma, conversando, sorrindo e demonstrando disponibilidade até que o bebê, por vontade própria, estenda os braços e aceite o toque. Esse é o verdadeiro sentido do acolher: permitir que o vínculo se forme naturalmente, com base na confiança e na escuta sensível. A família, por sua vez, tem papel ativo nesse processo. Quando o responsável transmite confiança ao bebê — por meio do tom de voz, das palavras e da tranquilidade na despedida —, ajuda a criança a compreender que o ambiente escolar é seguro. A postura dos pais influencia diretamente a forma como o bebê percebe a separação. Se os responsáveis demonstram medo ou desconfiança, a criança tende a sentir a mesma emoção; mas se mostram serenidade e fé na professora, o bebê recebe essa segurança emocional e tende a adaptar-se mais facilmente. A escola, portanto, deve promover uma abordagem participativa, que valorize a presença e o envolvimento da família desde o início da adaptação. A participação não se restringe às reuniões ou eventos, mas se manifesta nas pequenas trocas diárias: nas conversas na porta da sala, nos relatos sobre o sono e a alimentação, nos registros compartilhados, nas observações sobre o comportamento e nas orientações que fortalecem a rotina da criança. Cada diálogo entre professora e família é uma oportunidade de fortalecer o vínculo e alinhar práticas de cuidado e educação. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular(BNCC, 2017), a Educação Infantil deve assegurar o direito das crianças de conviver e participar, reconhecendo a importância da relação entre escola e família. Essa parceria contribui para que o bebê se sinta pertencente e apoiado, o que repercute diretamente em seu desenvolvimento cognitivo e emocional. A comunicação constante entre os adultos de referência — família e educadores — é, portanto, uma ponte que sustenta o acolhimento. A professora de berçário precisa compreender que cada família possui sua própria história, valores e formas de educar. Por isso, o diálogo deve ser construído com empatia e sem julgamentos, buscando sempre o bem-estar da criança. Escutar atentamente o que os responsáveis dizem sobre o bebê — seus medos, preferências, horários, hábitos de sono ou formas de consolo — permite à professora personalizar o acolhimento e fazer com que o bebê se sinta mais confortável no novo ambiente. Essa prática reforça o princípio de que educar é também um ato de conhecer e respeitar o outro. Além da escuta, a transparência é outro fator essencial. Quando a professora compartilha com os pais o que acontece no cotidiano do berçário — as pequenas conquistas, as interações, os avanços e desafios —, constrói uma relação de credibilidade. Esse compartilhamento constante ajuda a família a perceber que a professora não apenas “cuida”, mas ensina, observa, registra e acompanha cada detalhe do desenvolvimento infantil. Aos poucos, o olhar da família se transforma, reconhecendo o valor pedagógico do trabalho da Educação Infantil. Nos momentos em que o bebê apresenta maior dificuldade de adaptação, a parceria entre família e escola deve se intensificar. A comunicação diária, as observações conjuntas e até pequenas mudanças combinadas (como enviar um objeto de apego ou ajustar o tempo de permanência na escola) ajudam a tornar o processo mais leve. O mais importante é que a família perceba a escola como extensão do lar — um espaço de afeto, segurança e aprendizado — e a professora como uma aliada na formação e no cuidado com o bebê. A experiência mostra que, quando essa relação é construída com respeito e confiança, os resultados são visíveis: o bebê se mostra mais tranquilo, curioso e disposto a explorar o ambiente; os pais sentem-se acolhidos e seguros; e a professora tem condições de desenvolver um trabalho mais intencional, planejado e afetivo. A parceria entre família e escola, portanto, não é apenas desejável — é indispensável para que o acolhimento aconteça em sua plenitude. Em suma, o verdadeiro acolhimento no berçário acontece quando todos os envolvidos — bebê, professora, equipe e família — caminham juntos em harmonia, respeitando os sentimentos e os tempos de cada um. A escola acolhe o bebê, a professora acolhe a família, e a família acolhe a professora em um ciclo de confiança e afeto que sustenta o desenvolvimento integral da criança. Quando a família acredita na educadora e acompanha o crescimento do bebê com amor e presença, o berçário deixa de ser apenas um espaço de cuidado e se torna um lugar de vínculos, aprendizagens e pertencimento. 3. CONCLUSÃO O acolhimento no berçário é uma das etapas mais significativas da Educação Infantil, pois representa o início das primeiras relações sociais e afetivas fora do convívio familiar. É nesse espaço que o bebê começa a construir sua confiança no mundo, nas pessoas e em si mesmo. O processo de adaptação, embora desafiador, é também profundamente formador, tanto para a criança quanto para os adultos envolvidos. A forma como a professora, a equipe e a família conduzem esse momento influencia diretamente o desenvolvimento emocional e cognitivo do bebê. Ao longo deste estudo, observou-se que o acolhimento vai muito além de uma simples rotina de chegada. Ele é um ato pedagógico e afetivo, permeado por escuta, paciência e sensibilidade. O olhar acolhedor da professora é o primeiro elo entre o bebê e a escola. É através dele que o educador comunica segurança, amor e pertencimento. Cada gesto — o modo de segurar, falar, sorrir e observar — carrega intencionalidade educativa e contribui para que o bebê se sinta protegido e valorizado. A abordagem participativa surge como um pilar essencial nesse processo, pois reconhece o bebê como sujeito ativo, capaz de participar de sua própria adaptação e expressar suas necessidades por meio de gestos, olhares e reações. O respeito ao tempo individual de cada criança — especialmente aquelas que demoram mais a aceitar o colo ou demonstram resistência — é uma forma concreta de acolher com empatia. O educador sensível compreende que o vínculo se constrói aos poucos, com paciência e amor. Outro ponto essencial evidenciado é a importância do trabalho em equipe. O acolhimento não é uma tarefa isolada, mas um processo coletivo que envolve todos os profissionais do berçário. Quando há respeito, diálogo e colaboração entre os membros da equipe, o ambiente se torna harmonioso e seguro, refletindo diretamente no comportamento e na tranquilidade dos bebês. Essa união fortalece o sentimento de pertencimento e demonstra, na prática, que a Educação Infantil é um trabalho de responsabilidade compartilhada. Também se destacou a necessidade de valorização do papel da professora de Educação Infantil, frequentemente subestimado pela sociedade. Longe de ser apenas uma “tia” ou uma cuidadora, a professora é uma profissional formada, que planeja, observa, registra e reflete sobre cada momento vivido com as crianças. Seu trabalho une o cuidar e o educar de forma indissociável, transformando cada rotina em oportunidade de aprendizagem e vínculo. Por fim, este estudo evidenciou que o acolhimento só é plenamente eficaz quando há parceria entre família e escola. A confiança da família no trabalho da professora e o acompanhamento atento do desenvolvimento do bebê fortalecem o processo educativo e emocional. Quando os responsáveis participam, dialogam e compartilham suas experiências, o bebê percebe um ambiente coerente e seguro. O acolhimento se torna, então, um processo compartilhado, no qual todos — professora, equipe e família — caminham juntos em favor do bem-estar da criança. Assim, conclui-se que o acolhimento no berçário é muito mais do que uma prática inicial: é uma atitude contínua, pautada pelo amor, respeito e compromisso com o desenvolvimento integral dos bebês. O olhar acolhedor da professora, o trabalho coletivo da equipe e a presença confiante da família formam uma tríade que sustenta a base de uma Educação Infantil humanizada, sensível e transformadora. É nesse ambiente de afeto e confiança que os bebês iniciam sua trajetória escolar com alegria, segurança e vontade de aprender. REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação Infantil. Brasília: Ministério da Educação, 2017. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/ . Acesso em: 29 out. 2025. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. CAMPOS, Maria Malta; FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena. Educação Infantil: para quê e por quê? São Paulo: Cortez, 2011. 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