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UNIVERSIDADE PITÁGORAS UNOPAR ANHANGUERA GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA O USO DA ERYTHRINA VELUTINA (MULUNGU) NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DA ANSIEDADE E OUTROS Jerônimo Cavalcante Sampaio LIMOEIRO DO NORTE-CEARÁ 2025 jerônimo cavalcante sampaio O USO DA ERYTHRINA VELUTINA (MULUNGU) NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DA ANSIEDADE E OUTROS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Farmácia. Orientador: Prof. Ermerson Bruno Silva Freitas LIMOEIRO DO NORTE-CEARÁ 2025 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha mãe, por ser minha base e inspiração constante, motivando-me a buscar sempre o melhor cuidado e conhecimento. agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, fonte de força e sabedoria, que me sustentou em todos os momentos desta jornada. Sou imensamente grato à minha mãe, que sempre foi minha base, oferecendo amor, apoio e inspiração para que eu nunca desistisse dos meus sonhos. À minha esposa, agradeço pela paciência, compreensão e incentivo constantes, que me motivaram a seguir firme mesmo diante das dificuldades. Aos meus professores e professoras, que ao longo desses cinco anos de graduação estiveram comigo, compartilhando conhecimentos, orientações e despertando minha paixão pela profissão, deixo meu reconhecimento e gratidão profunda. Aos colegas e amigos que estiveram presentes durante essa caminhada, agradeço pelo apoio, troca de experiências e motivação constante. SAMPAIO, Jeronimo Cavalcante. O uso da Erythrina velutina (Mulungu) no tratamento do transtorno da ansiedade e outros. 2025. 32 f. Trabalho de Conclusão de Curso em Farmácia – Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera, Limoeiro do Norte, 2025. RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo investigar a aplicabilidade clínica da Erythrina velutina (mulungu) no tratamento do transtorno de ansiedade, analisando seus mecanismos de ação, eficácia e perfil de segurança. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa, fundamentada em revisão bibliográfica em bases científicas nacionais e internacionais. Os resultados demonstraram que os alcaloides eritravina e 11- hidroxi-eritravina apresentam ação moduladora sobre receptores GABAérgicos, promovendo efeito ansiolítico comparável aos benzodiazepínicos, porém com menor risco de dependência e de efeitos adversos. Além disso, verificou-se ampla utilização do mulungu na medicina tradicional brasileira e seu reconhecimento pelo RENISUS como espécie de interesse para o Sistema Único de Saúde (SUS). Conclui-se que o mulungu representa uma alternativa promissora no manejo da ansiedade, mas a ausência de ensaios clínicos de larga escala ainda limita sua incorporação em protocolos oficiais. O estudo reforça a relevância da fitoterapia na prática farmacêutica, ampliando as perspectivas para terapias seguras e acessíveis. Palavras-chave: Erythrina velutina; Mulungu; Ansiedade; Fitoterapia; Farmácia Clínica. SAMPAIO. Jeronimo Cavalcante. The use of Erythrina velutina (Mulungu) in the treatment of anxiety disorder and other conditions. 2025. 32 f. Undergraduate Thesis Bachelor’s Degree in Pharmacy – Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera, Limoeiro do Norte, 2025. ABSTRACT This undergraduate thesis aimed to investigate the clinical applicability of Erythrina velutina (mulungu) in the treatment of anxiety disorder, analyzing its mechanisms of action, efficacy, and safety profile. The study is characterized as an exploratory and descriptive research, with a qualitative approach, based on a literature review of national and international scientific databases. The findings indicate that the alkaloids erythravine and 11-hydroxy-erythravine modulate GABAergic receptors, producing an anxiolytic effect comparable to benzodiazepines, but with lower risk of dependence and adverse effects. Moreover, mulungu is widely used in Brazilian traditional medicine and is recognized by RENISUS as a species of interest for the Brazilian Unified Health System (SUS). It is concluded that mulungu represents a promising alternative for the management of anxiety, although the lack of large-scale clinical trials still limits its incorporation into official protocols. The study reinforces the relevance of phytotherapy in pharmaceutical practice, expanding perspectives for safe and accessible therapies. Key-words: Erythrina velutina; Mulungu; Anxiety; Phytotherapy; Clinical Pharmacy. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Sigla Significado ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária CID Classificação Internacional de Doenças CNS Conselho Nacional de Saúde DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ECA Estatuto da Criança e do Adolescente IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OMS Organização Mundial da Saúde ONU Organização das Nações Unidas RDC Resolução da Diretoria Colegiada SNC Sistema Nervoso Central SUS Sistema Único de Saúde TCC Trabalho de Conclusão de Curso TA Transtorno de Ansiedade TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido THC Tetraidrocanabinol WHO World Health Organization SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 14 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16 3. METODOLOGIA DA PESQUISA 25 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 27 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 30 REFERÊNCIAS 32 INTRODUÇÃO O transtorno de ansiedade constitui uma das condições psiquiátricas mais prevalentes no mundo, caracterizandose por sintomas de medo excessivo, preocupação persistente e manifestações fisiológicas que comprometem significativamente o bemestar e a funcionalidade dos indivíduos acometidos (APA, 2022; WHO, 2023). Estimase que milhões de pessoas, incluindo uma parcela expressiva da população brasileira, sejam afetadas por algum tipo de transtorno ansioso, o que gera impacto direto sobre a saúde pública, a produtividade e a qualidade de vida (GALVÃO et al., 2021; WHO, 2023). De modo geral, o tratamento convencional dos transtornos de ansiedade envolve o uso de ansiolíticos sintéticos, como benzodiazepínicos e antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), os quais, embora eficazes, podem causar efeitos adversos relevantes, tolerância, risco de dependência e baixa adesão terapêutica (APA, 2022; SOUZA et al., 2022). Diante dessas limitações, cresce o interesse por terapias complementares e alternativas, especialmente aquelas baseadas em recursos naturais, como a fitoterapia, que se destaca por sua tradição, acessibilidade e potencial para oferecer tratamentos seguros e eficazes quando adequadamente padronizados (MACIEL; PINTO; VEIGA JÚNIOR, 2002; MEDEIROS et al., 2021). No Brasil, a fitoterapia vem sendo progressivamente regulamentada, com o intuito de assegurar a qualidade, a segurança e a eficácia dos produtos derivados de plantas medicinais, favorecendo sua incorporação à prática clínica e ao Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2010; SANTOS et al., 2020). Esse movimento reforça a importância de estudos científicos que fundamentem o uso racional de plantas medicinais, fortalecendo a integração entre o saber tradicional e a evidência científica (AMARAL et al., 2006; OLIVEIRA; LOPES, 2020). Entre as espécies de destaque na flora brasileira, a Erythrina velutina, conhecida popularmente como mulungu, tem sido amplamente utilizada no alívio de sintomas relacionados à ansiedade, insônia, estresse e outros distúrbios do sistema nervoso central (ALMEIDA et al., 2021; BOTELHO; OLIVEIRA; ANDRADE, 2021). Pesquisas recentes vêm investigando sua composição química e apontam a presença de alcaloides, flavonoides e outros compostos bioativos com potencial modulador neuroquímico, conferindolhe propriedades ansiolíticas, sedativas e, possivelmente, anticonvulsivantes (FLAUSINO et al., 2007; FERREIRA;SANTANA; LIMA, 2018; SANTOS et al., 2019). Apesar desses avanços, ainda há lacunas quanto à padronização dos extratos, à dosagem terapêutica, à farmacocinética e à confirmação clínica dos efeitos observados em modelos experimentais, o que reforça a necessidade de revisões sistematizadas e atualizadas sobre o tema (OLIVEIRA et al., 2020; SOUZA et al., 2022). Dessa forma, este trabalho tem como objetivo principal revisar a literatura científica acerca do uso da Erythrina velutina no tratamento do transtorno de ansiedade e de outras condições relacionadas, abordando aspectos como a definição e os impactos dos transtornos ansiosos, os tratamentos convencionais disponíveis, a fitoterapia como alternativa terapêutica, a regulamentação vigente no Brasil e os estudos préclínicos e clínicos que investigam a eficácia e a segurança do mulungu. Além disso, serão discutidas as implicações dessas evidências para a prática farmacêutica e apresentadas recomendações para pesquisas futuras, contribuindo para o fortalecimento da base científica do uso racional dessa planta medicinal na abordagem integrativa da ansiedade (MEDEIROS et al., 2021; OLIVEIRA; LOPES, 2020; SOUZA et al., 2022). 20 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Ansiedade: definição, prevalência e impactos A ansiedade é uma resposta emocional natural diante de situações percebidas como ameaçadoras ou desafiadoras, caracterizada por sentimentos de apreensão, medo e preocupação, geralmente acompanhados de alterações fisiológicas, como taquicardia, sudorese e tensão muscular (APA, 2022; WHO, 2023). Quando essa resposta se torna excessiva, persistente e desproporcional aos estímulos, passando a comprometer de forma significativa a funcionalidade e o bemestar, configurase o transtorno de ansiedade, considerado um dos transtornos mentais mais comuns na população mundial (APA, 2022; WHO, 2023; GALVÃO et al., 2021). Os transtornos de ansiedade englobam diferentes quadros clínicos, como transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, fobia social, fobias específicas e transtorno de ansiedade de separação, entre outros, cada um apresentando manifestações sintomatológicas particulares, ainda que compartilhem elementos centrais, como o medo e a preocupação excessivos (APA, 2022). A prevalência desses transtornos é elevada, afetando aproximadamente 15% a 20% da população global ao longo da vida (WHO, 2023). No Brasil, estimase que entre 9% e 18% da população apresente algum tipo de transtorno ansioso, configurando um relevante problema de saúde pública (GALVÃO et al., 2021). Os impactos da ansiedade extrapolam o sofrimento psíquico, afetando a saúde física, as relações sociais, o desempenho acadêmico e profissional, além da qualidade de vida de forma geral (WHO, 2023; SOUZA et al., 2022). Sintomas como insônia, irritabilidade, dificuldades cognitivas, alterações do apetite e dores musculares são frequentes, podendo evoluir para quadros crônicos quando não tratados adequadamente (APA, 2022; MEDEIROS et al., 2021). Ademais, a ansiedade encontrase frequentemente associada a comorbidades como depressão, transtornos do sono e uso abusivo de substâncias psicoativas, o que agrava o prognóstico e aumenta a complexidade do manejo clínico (WHO, 2023; SOUZA et al., 2022). Nesse contexto, a compreensão aprofundada da ansiedade, em suas dimensões biológicas, psicológicas e sociais, é fundamental para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes e integradas, que contemplem tanto o alívio sintomático quanto a prevenção de complicações associadas e a promoção da qualidade de vida (APA, 2022; MEDEIROS et al., 2021). 2.2 Tratamentos convencionais da ansiedade O tratamento convencional dos transtornos de ansiedade baseia‑se na combinação de intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas, com o objetivo de controlar os sintomas, melhorar a funcionalidade e prevenir recaídas (APA, 2022; SOUZA et al., 2022). Entre as opções farmacológicas, destacam‑se os benzodiazepínicos, os antidepressivos e, em alguns casos, medicamentos adjuvantes. Os benzodiazepínicos, como diazepam, clonazepam e alprazolam, são amplamente utilizados pela sua eficácia no alívio rápido dos sintomas ansiosos, atuando no sistema nervoso central ao potencializar o efeito inibitório do ácido gama‑aminobutírico (GABA) por ligação alostérica positiva aos receptores GABA_A (APA, 2022). Apesar disso, seu uso é geralmente recomendado por períodos curtos, devido ao risco de tolerância, dependência, sintomas de abstinência e efeitos adversos como sedação excessiva, comprometimento cognitivo, prejuízo psicomotor e risco de quedas, especialmente em idosos (APA, 2022; SOUZA et al., 2022). Os antidepressivos, principalmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), são considerados tratamentos de primeira linha para diversos transtornos de ansiedade, por apresentarem perfil de segurança relativamente favorável e menor risco de dependência em comparação aos benzodiazepínicos (APA, 2022; WHO, 2023). Apesar de sua eficácia, esses fármacos podem ocasionar efeitos adversos como náuseas, cefaleia, insônia, agitação, disfunções sexuais e, em alguns casos, piora transitória da ansiedade nas primeiras semanas de uso (SOUZA et al., 2022). No campo das intervenções não farmacológicas, a terapia cognitivo‑comportamental (TCC) destaca‑se como a modalidade psicoterapêutica com maior evidência de eficácia no tratamento dos transtornos de ansiedade, atuando na identificação e na modificação de pensamentos disfuncionais e padrões comportamentais que mantêm o quadro ansioso, além de desenvolver habilidades de enfrentamento e estratégias de manejo do estresse (APA, 2022; MEDEIROS et al., 2021). Outras abordagens, como técnicas de relaxamento, mindfulness e terapias baseadas em aceitação e compromisso, também têm sido utilizadas como complementares (SOUZA et al., 2022). Apesar da eficácia dos tratamentos convencionais, desafios como efeitos colaterais, resistência terapêutica, estigma em relação aos psicofármacos e dificuldades de acesso à psicoterapia contribuem para que muitos pacientes busquem alternativas complementares, incluindo o uso de plantas medicinais com potencial ansiolítico (MEDEIROS et al., 2021; OLIVEIRA; LOPES, 2020). 2.3 A fitoterapia como alternativa terapêutica A fitoterapia consiste na utilização de plantas medicinais e seus derivados para a prevenção e o tratamento de doenças, sendo uma prática consolidada em diversas culturas e reconhecida como recurso terapêutico complementar em vários sistemas de saúde (MACIEL; PINTO; VEIGA JÚNIOR, 2002; BRASIL, 2010). No manejo da ansiedade, a fitoterapia tem ganhado destaque como alternativa promissora, especialmente entre pacientes que buscam opções naturais com menor risco de efeitos colaterais, desde que os produtos sejam devidamente padronizados e utilizados com orientação profissional (MEDEIROS et al., 2021; SOUZA et al., 2022). Diversas plantas medicinais apresentam evidências científicas de atividade ansiolítica. Entre as mais estudadas, destacamse Passiflora incarnata (maracujá), Valeriana officinalis (valeriana), Melissa officinalis (ervacidreira), Matricaria recutita (camomila), espécies do gênero Tilia (tília) e Lavandula (alfazema) (PAZ et al., 2023; OLIVEIRA et al., 2022; LOPES et al., 2017). A Passiflora incarnata contém flavonoides e alcaloides com potencial de modulação GABAérgica, contribuindo para efeitos calmantes e melhora do sono; a Valeriana officinalis atua por meio da modulação de canais iônicos e receptores GABA, exercendo ação sedativa e ansiolítica; já a Melissa officinalis apresenta ácido rosmarínico e outros flavonoides que podem inibir a degradação do GABA, favorecendo efeitos ansiolíticos (PAZ et al., 2023; MEDEIROS et al., 2021). No Brasil, a fitoterapia é regulamentada por órgãos como a ANVISA, que exige comprovação de segurança, eficácia, padronização e qualidade dos produtos fitoterápicos para registro e comercialização, bem como o cumprimentode normas técnicosanitárias específicas (BRASIL, 2014; SANTOS et al., 2020). Fitoterápicos à base de Passiflora incarnata, Valeriana officinalis e Melissa officinalis já possuem formulações registradas, apoiadas em ensaios clínicos que comprovam sua ação em sintomas de ansiedade leve a moderada e distúrbios do sono (MEDEIROS et al., 2021; SOUZA et al., 2022). Quadro 1 – Panorama das plantas com ações ansiolitos Planta Medicinal Principais Compostos Ativos Indicação Terapêutica Mecanismos de Ação Exemplos de Fitoterápicos Regulamentados Passiflora incarnata Flavonoides, alcaloides Ansiedade, insônia, agitação Modulação GABAérgica, sedativa Calman, Calmasyn Valeriana officinalis Valepotriatos, ácidos valerênicos Ansiedade, insônia Modulação dos canais iônicos e receptores GABA Valeriana officinalis extratos Melissa officinalis Ácido rosmarínico, flavonoides Ansiedade, estresse, insônia Inibição da degradação do GABA Produtos fitoterápicos aprovados pela ANVISA Piper methysticum (Kava- kava) Kavalactonas Ansiedade, insônia Modulação do sistema neurotransmissor GABA e outros Fitoterápicos aprovados em alguns países Matricaria recutita (Camomila) Flavonoides, cumarinas Ansiedade, insônia Atividade sedativa e ansiolítica Produtos cosméticos e fitoterápicos regulados Erythrina velutina (Mulungu) Alcaloides (eritralina, eritravina) Ansiedade, sedativo Modulação dos receptores GABAérgicos e benzodiazepínicos Em estudo para padronização rígida *Exemplos de classes de produtos, podendo variar conforme registros específicos. Fonte: elaboração própria com base em PAZ et al., 2023; OLIVEIRA et al., 2022; LOPES et al., 2017. Esse panorama evidencia que, embora algumas plantas possuam fitoterápicos amplamente regulamentados e respaldados por ensaios clínicos, como a passiflora, a valeriana e a melissa, outras, como o mulungu, ainda se encontram em estágios iniciais de padronização e validação clínica rigorosa, o que limita sua inclusão em protocolos oficiais e sua prescrição como medicamento registrado (OLIVEIRA et al., 2020; SANTOS, 2022). 2.4 Regulamentação da fitoterapia no Brasil A regulamentação da fitoterapia no Brasil avançou significativamente nas últimas décadas, com o objetivo de garantir a segurança, a eficácia e a qualidade dos produtos fitoterápicos disponibilizados à população (BRASIL, 2010; SANTOS et al., 2020). A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, instituída pelo Ministério da Saúde, estabeleceu diretrizes para o incentivo à pesquisa, ao cultivo, à produção e ao uso racional de plantas medicinais, valorizando o conhecimento tradicional e a biodiversidade brasileira (BRASIL, 2010). A ANVISA, por meio de resoluções específicas, como a RDC nº 26/2014, regula o registro e a notificação de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos, exigindo comprovação de segurança e eficácia, padronização de extratos, controle de qualidade e informações claras de rotulagem (BRASIL, 2014). Essas normativas são fundamentais para evitar riscos relacionados à automedicação, à contaminação, à adulteração de produtos e ao uso de partes inadequadas das plantas (SANTOS et al., 2020; MACIEL; PINTO; VEIGA JÚNIOR, 2002). Nesse contexto, a inserção da fitoterapia no SUS e na prática clínica depende da articulação entre políticas públicas, pesquisas científicas e capacitação de profissionais de saúde, o que inclui farmacêuticos, médicos e outros membros da equipe multiprofissional (SANTOS et al., 2020; OLIVEIRA; LOPES, 2020). A Erythrina velutina integra a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), o que reforça o potencial de desenvolvimento de fitoterápicos a partir dessa espécie, desde que os requisitos de segurança, eficácia e qualidade sejam plenamente atendidos (BRASIL, 2010; SANTOS et al., 2019). 2.5 Erythrina velutina (Mulungu): composição química e mecanismos de ação A Erythrina velutina Willd., conhecida popularmente como mulungu, é uma espécie arbórea nativa do Brasil, encontrada principalmente no Nordeste e no Sudeste, e amplamente utilizada na medicina tradicional para o tratamento de distúrbios relacionados ao sistema nervoso central, tais como ansiedade, insônia e agitação (ALMEIDA et al., 2021; OLIVEIRA et al., 2020). Preparações na forma de infusões e decoctos da casca e das folhas são comumente empregadas por comunidades rurais e urbanas, o que motivou diversas investigações científicas sobre seus componentes químicos e seus efeitos farmacológicos (AMARAL et al., 2006; BOTELHO; OLIVEIRA; ANDRADE, 2021). A composição química do mulungu é complexa e inclui principalmente alcaloides, flavonoides, taninos e outros compostos fenólicos (ALMEIDA et al., 2021; SANTOS et al., 2019). Dentre os alcaloides, destacamse eritralina, eritravina, 11hidroxieritravina e outros derivados eritrínicos, que parecem desempenhar papel central na atividade neurofarmacológica da espécie (FLAUSINO et al., 2007; ROSA et al., 2012). Os flavonoides presentes podem contribuir com efeitos antioxidantes e neuroprotetores, reduzindo o estresse oxidativo associado a transtornos ansiosos (ALMEIDA et al., 2021). Os mecanismos de ação da Erythrina velutina parecem estar relacionados, sobretudo, à modulação de neurotransmissores do sistema nervoso central, em especial por interação com receptores GABAérgicos e sítios benzodiazepínicos, o que explicaria seus efeitos ansiolíticos e sedativos observados em estudos experimentais (FLAUSINO et al., 2007; ROSA et al., 2012; VASCONCELOS et al., 2017). Evidências sugerem que alguns alcaloides eritrínicos atuam como agonistas parciais ou moduladores positivos em receptores GABA_A, produzindo redução de comportamentos ansiosos em modelos animais, com menor sedação em comparação a benzodiazepínicos de referência (FLAUSINO et al., 2007; FERREIRA; SANTANA; LIMA, 2018). Dessa forma, a Erythrina velutina apresenta uma composição fitoquímica diversificada, com múltiplos alvos farmacológicos, o que fundamenta seu uso tradicional como planta sedativa e ansiolítica e justifica o interesse crescente em sua investigação como potencial fitoterápico para o tratamento de transtornos de ansiedade (ALMEIDA et al., 2021; SANTOS, 2022). 2.6 Estudos pré-clínicos e clínicos com Erythrina velutina Diversos estudos préclínicos avaliaram os efeitos da Erythrina velutina em modelos animais de ansiedade, sono e convulsões, com o objetivo de confirmar cientificamente seu uso tradicional (FLAUSINO et al., 2007; FERREIRA; SANTANA; LIMA, 2018; BOTELHO; OLIVEIRA; ANDRADE, 2021). Em geral, extratos etanólicos e aquosos da casca e das folhas foram testados em camundongos e ratos, empregandose paradigmas comportamentais como o labirinto em cruz elevado, o campo aberto e o teste do claroescuro (FLAUSINO et al., 2007; VASCONCELOS et al., 2017). Os resultados desses estudos indicaram redução significativa de comportamentos ansiosos, evidenciada por aumento do tempo de permanência em braços abertos do labirinto em cruz elevado e maior exploração em ambientes aversivos, sem prejuízo marcante da coordenação motora (FLAUSINO et al., 2007; FERREIRA; SANTANA; LIMA, 2018). Em alguns modelos, observouse também efeito anticonvulsivante e prolongamento do tempo de sono induzido por barbitúricos, reforçando a ação depressora do SNC atribuída aos alcaloides eritrínicos (ROSA et al., 2012; VASCONCELOS et al., 2017). Quanto à toxicidade, estudos de toxicidade aguda com extratos aquosos de folhas e cascas administrados oralmente em animais experimentais demonstraram ausência de mortalidade e de sinais clínicos significativos de toxicidade em doses elevadas, sugerindo um perfil de segurança favorável em condições controladas (CRAVEIRO et al., 2008; DANTAS et al., 2024). No entanto, há relatos de que as sementes de espécies do gênero Erythrina podem conter alcaloides potencialmente tóxicos, reforçando a necessidade de uso adequado de partes específicas da planta e de padronização dos extratos (FLAUSINO et al., 2007; AMARALet al., 2006). No âmbito clínico, ainda são escassos os estudos com seres humanos. Trabalhos preliminares, incluindo revisões e alguns relatos de uso, sugerem que preparações à base de Erythrina velutina podem reduzir sintomas de ansiedade e melhorar a qualidade do sono, com boa tolerabilidade e poucos efeitos adversos relatados, como sonolência leve e tontura (OLIVEIRA et al., 2020; SANTOS, 2022; SOUZA et al., 2022). Entretanto, a ausência de ensaios clínicos randomizados, controlados e com amostras robustas limita conclusões definitivas sobre eficácia e segurança em longo prazo. Assim, a literatura disponível apoia a potencial ação ansiolítica e sedativa do mulungu, mas evidencia a necessidade de estudos clínicos mais rigorosos, com padronização de extratos, controle de dose e avaliação de possíveis interações medicamentosas, para que a espécie possa ser utilizada de forma mais ampla e segura na prática clínica (VASCONCELOS et al., 2017; SANTOS, 2022). 2.7 Segurança, efeitos adversos e perspectivas futuras A segurança do uso terapêutico da Erythrina velutina tem sido abordada em estudos toxicológicos que avaliam a toxicidade aguda e subaguda em modelos animais. Pesquisas com administração oral de extratos aquosos de folhas e de decoctos em ratos Wistar demonstraram ausência de mortalidade e de alterações significativas em parâmetros clínicos e histopatológicos em doses terapêuticas e superiores, sugerindo um perfil de segurança satisfatório (CRAVEIRO et al., 2008; DANTAS et al., 2024). Esses achados são compatíveis com o uso tradicional da planta, desde que sejam respeitados limites de dose e preparações adequadas (ALMEIDA et al., 2021). Apesar desses dados favoráveis, alguns estudos salientam que partes específicas da planta, especialmente sementes, podem conter níveis elevados de certos alcaloides com potencial neurotóxico, o que reforça a importância da seleção correta do material vegetal e da orientação profissional quanto ao uso (FLAUSINO et al., 2007; AMARAL et al., 2006). Além disso, a falta de padronização de extratos e a variabilidade na concentração de princípios ativos em preparações caseiras representam riscos adicionais, reforçando a necessidade de desenvolvimento de fitoterápicos com rigoroso controle de qualidade (SANTOS et al., 2019; SANTOS, 2022). Em relação aos efeitos adversos em humanos, os poucos relatos disponíveis mencionam predominantemente sintomas leves, como sonolência, tontura e malestar discreto, sem registro de eventos graves diretamente atribuíveis ao uso adequado da planta (OLIVEIRA et al., 2020; SANTOS, 2022; SOUZA et al., 2022). No entanto, a escassez de ensaios clínicos extensos impede a definição precisa do perfil de segurança em populações específicas, como gestantes, idosos, crianças e pacientes com múltiplas comorbidades. As perspectivas futuras de pesquisa incluem a realização de ensaios clínicos randomizados, controlados e com amostras maiores, a padronização de formulações com concentração conhecida de alcaloides eritrínicos e a investigação aprofundada de mecanismos de ação, farmacocinética, interações medicamentosas e segurança em longo prazo (VASCONCELOS et al., 2017; ALMEIDA et al., 2021). Esses avanços serão determinantes para consolidar o mulungu como fitoterápico seguro e eficaz no tratamento de transtornos de ansiedade. METODOLOGIA DA PESQUISA Este trabalho adotou a metodologia de revisão bibliográfica sistematizada, com o objetivo de investigar e consolidar informações científicas e normativas sobre o uso da Erythrina velutina (mulungu) no tratamento do transtorno de ansiedade. A pesquisa foi conduzida por meio de análise crítica de artigos científicos, livros, documentos oficiais e publicações técnicas relacionadas à fitoterapia, à ansiedade e à regulamentação de fitoterápicos no Brasil. Foram consultadas as bases de dados SciELO, PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Scholar, além de portais oficiais como o da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Ministério da Saúde. Foram utilizados descritores em português e inglês combinados com operadores booleanos, tais como: “Erythrina velutina” AND ansiedade; “Mulungu” AND (ansiedade OR “transtornos de ansiedade”); “Erythrina velutina” AND (phytotherapy OR “herbal medicine”) AND (safety OR toxicity); “Mulungu” AND “clinical trial”; “fitoterapia” AND ansiedade; “regulamentação ANVISA” AND fitoterápicos. Foram incluídos artigos originais, revisões sistemáticas, monografias e documentos oficiais publicados nos últimos 20 anos (2004–2024), em português, inglês ou espanhol, que abordassem aspectos fitoquímicos, farmacológicos, toxicológicos, clínicos ou regulatórios da Erythrina velutina e de outras plantas com ação ansiolítica. Foram priorizados estudos com metodologia clara, revisão por pares e relevância para o tema. Foram excluídos: a) trabalhos sem revisão por pares; b) resumos de congresso sem acesso ao texto completo; c) estudos cujo foco principal não estivesse relacionado à ansiedade, ao sistema nervoso central ou à fitoterapia; d) publicações duplicadas entre as bases de dados; e) textos opinativos sem embasamento científico. A análise dos dados bibliográficos foi complementada pelo estudo da normativa vigente da ANVISA, em especial a Resolução RDC nº 26/2014, que regula o registro e a notificação de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos no Brasil (BRASIL, 2014). Essa resolução estabelece critérios para comprovação de segurança, eficácia, padronização e controle de qualidade, impactando diretamente a possibilidade de desenvolvimento e comercialização de fitoterápicos à base de mulungu. O entendimento dos procedimentos regulatórios e das evidências científicas disponíveis foi fundamental para contextualizar os desafios de transformar o uso tradicional do mulungu em um fitoterápico oficialmente reconhecido, enfatizando a necessidade de robustas evidências científicas e de garantia de segurança para o paciente. . RESULTADOS E DISCUSSÕES Este capítulo apresenta a análise e discussão dos dados obtidos a partir da revisão bibliográfica sobre o uso da Erythrina velutina (mulungu) no tratamento do transtorno de ansiedade, abordando suas propriedades farmacológicas, a comparação com ansiolíticos sintéticos, as implicações para a prática farmacêutica e as recomendações para pesquisas futuras. 4.1 Interpretação dos achados bibliográficos Os estudos revisados indicam que a Erythrina velutina possui compostos bioativos com potencial ansiolítico e sedativo, especialmente alcaloides eritrínicos, como eritralina, eritravina e 11hidroxieritravina, que modulam o sistema GABAérgico e sítios benzodiazepínicos (FLAUSINO et al., 2007; ROSA et al., 2012; ALMEIDA et al., 2021). Em modelos animais, observouse redução de comportamentos ansiosos sem sedação excessiva ou prejuízo motor significativo, o que sugere um efeito ansiolítico seletivo em doses adequadas (FERREIRA; SANTANA; LIMA, 2018; VASCONCELOS et al., 2017). Estudos toxicológicos demonstram baixa toxicidade aguda e subaguda de extratos aquosos da planta, reforçando um perfil de segurança favorável em modelos animais, embora ressaltem a necessidade de cautela quanto ao uso de partes potencialmente mais tóxicas, como as sementes (CRAVEIRO et al., 2008; DANTAS et al., 2024; FLAUSINO et al., 2007). No contexto clínico, os trabalhos disponíveis são predominantemente revisões narrativas, estudos observacionais e relatos de uso, sugerindo benefício na redução de sintomas ansiosos e melhora do sono, porém sem evidência robusta de ensaios clínicos controlados (OLIVEIRA et al., 2020; SANTOS, 2022; SOUZA et al., 2022). De modo geral, a literatura aponta o mulungu como uma alternativa terapêutica promissora no manejo da ansiedade leve a moderada, especialmente para indivíduos que buscam abordagens fitoterápicas, mas reforça que seu uso ainda deve ser cauteloso, preferencialmente como terapia complementar e sempre sob orientação de profissional habilitado (MEDEIROS et al., 2021; OLIVEIRA; LOPES, 2020). 4.2Comparação entre Mulungu e ansiolíticos sintéticos Ao comparar o mulungu com ansiolíticos sintéticos, como benzodiazepínicos e antidepressivos ISRS, é possível identificar semelhanças e diferenças relevantes. Do ponto de vista do mecanismo de ação, tanto o mulungu quanto os benzodiazepínicos atuam no sistema GABAérgico, modulando receptores GABA_A e promovendo efeito inibitório no SNC (FLAUSINO et al., 2007; APA, 2022). No entanto, enquanto os benzodiazepínicos possuem ampla comprovação de eficácia, são associados a risco elevado de tolerância, dependência e sintomas de abstinência, além de sedação intensa e comprometimento cognitivo em alguns pacientes (APA, 2022; SOUZA et al., 2022). Os extratos de Erythrina velutina demonstraram efeito ansiolítico em modelos animais, com menor sedação e sem prejuízo motor acentuado nas doses estudadas (FERREIRA; SANTANA; LIMA, 2018; VASCONCELOS et al., 2017). Esses achados sugerem um potencial risco menor de efeitos adversos severos, embora essa hipótese ainda dependa de confirmação em estudos clínicos controlados (ALMEIDA et al., 2021; SANTOS, 2022). Ademais, o mulungu não apresenta, até o momento, evidência consolidada de desenvolvimento de dependência em humanos, ao contrário dos benzodiazepínicos (SOUZA et al., 2022). Em relação aos ISRS, estes atuam principalmente na modulação da serotonina, sendo considerados primeira linha no tratamento de transtornos de ansiedade, com eficácia comprovada, mas início de ação mais lento e perfil de efeitos adversos distinto (APA, 2022; WHO, 2023). O mulungu, por sua vez, parece produzir efeito ansiolítico mais próximo dos moduladores GABAérgicos, podendo atuar de forma complementar em casos selecionados, embora ainda faltem dados sobre sua associação segura com psicofármacos (MEDEIROS et al., 2021; SANTOS, 2022). Sendo assim, o mulungu apresenta: · Potencial ansiolítico comprovado experimentalmente, porém com evidência clínica limitada; · Perfil de segurança promissor, com baixa toxicidade em animais e poucos efeitos adversos leves relatados em humanos; · Limitações importantes, como falta de padronização de extratos, ausência de ensaios clínicos de fase avançada e inexistência de registro como medicamento fitoterápico específico para ansiedade na ANVISA. Esses fatores indicam que o mulungu, no cenário atual, deve ser considerado como possível alternativa complementar, e não como substituto dos ansiolíticos sintéticos em quadros moderados ou graves, até que mais evidências sejam produzidas (MEDEIROS et al., 2021; SOUZA et al., 2022). 4.3 Implicações para a prática farmacêutica O conhecimento sobre fitoterápicos com ação ansiolítica, como o mulungu, é fundamental para o farmacêutico, especialmente no contexto da farmácia clínica e da atenção básica em saúde. A atuação deste profissional inclui a orientação racional sobre o uso de plantas medicinais, avaliação de interações medicamentosas, identificação de contraindicações e monitoramento de possíveis efeitos adversos (OLIVEIRA; LOPES, 2020; SANTOS et al., 2020). No caso do mulungu, o farmacêutico pode desempenhar papel relevante na: a) Educação em saúde – esclarecendo que, embora se trate de uma planta com uso tradicional e evidências préclínicas favoráveis, ainda não existem medicamentos fitoterápicos amplamente padronizados e registrados especificamente para ansiedade à base de Erythrina velutina; b) Prevenção de riscos – alertando sobre os perigos da automedicação, da utilização de partes inadequadas da planta (como sementes) e da combinação indiscriminada com benzodiazepínicos, antidepressivos ou álcool, que pode potencializar efeitos sedativos (FLAUSINO et al., 2007; SOUZA et al., 2022); c) Promoção do uso racional de fitoterápicos – incentivando o uso de produtos regulamentados, com procedência conhecida e rotulagem adequada, além de reforçar a importância do acompanhamento médico e multiprofissional (BRASIL, 2014; SANTOS et al., 2020). A integração da fitoterapia à prática farmacêutica, quando baseada em evidências científicas e normas regulatórias, contribui para ampliar o leque de opções terapêuticas, tornando a assistência mais integral, humanizada e alinhada à realidade sociocultural da população (BRASIL, 2010; MEDEIROS et al., 2021). Nesse sentido, o mulungu representa uma possibilidade a ser considerada, desde que seu uso seja criteriosamente avaliado caso a caso. 4.4 Limitações do estudo e recomendações futuras Entre as principais limitações deste trabalho, destacamse: · A escassez de estudos clínicos controlados com Erythrina velutina em seres humanos, o que limita a extrapolação de resultados obtidos em modelos animais; · A variabilidade na padronização dos extratos utilizados nos estudos, que dificulta a comparação entre resultados e a definição de doses seguras e eficazes; · O recorte temporal da revisão, concentrada nas últimas duas décadas, que pode ter excluído estudos anteriores de relevância histórica, embora com menor impacto nas evidências atuais; · O fato de se tratar de revisão bibliográfica sistematizada, não sistemática no sentido estrito, sem metaanálise estatística, o que reduz a possibilidade de quantificação comparativa da eficácia. Diante dessas limitações, recomendase que futuras pesquisas: a) Desenvolvam ensaios clínicos randomizados e controlados, com amostras representativas, padronização rigorosa de extratos de mulungu e comparação com ansiolíticos de referência; b) Investiguem a farmacocinética e a farmacodinâmica dos principais alcaloides eritrínicos em humanos, incluindo possíveis interações medicamentosas; c) Realizem estudos de segurança em populações específicas, como idosos, gestantes e pacientes polimedicados; d) Avaliem o papel do mulungu como terapia adjuvante, associado a psicoterapia e/ou farmacoterapia convencional, em diferentes graus de gravidade dos transtornos de ansiedade. Em síntese, embora a evidência atual aponte o mulungu como opção terapêutica promissora e potencialmente segura, ainda é necessária validação clínica robusta para que seja amplamente recomendado como parte integrada de protocolos terapêuticos formais (ALMEIDA et al., 2021; SANTOS, 2022). CONSIDERAÇÕES FINAIS As considerações iniciais destacam que a ansiedade é um transtorno prevalente e complexo, com impactos significativos na saúde física, mental e social dos indivíduos. O estudo reforçou a importância de compreender suas múltiplas dimensões, evidenciando que o manejo adequado requer abordagens integradas que considerem tanto o alívio dos sintomas quanto a melhoria da qualidade de vida e a prevenção de complicações associadas. No que tange aos tratamentos convencionais, verificou-se que ansiolíticos sintéticos e terapias psicoterapêuticas apresentam eficácia comprovada, mas não estão isentos de limitações, como efeitos adversos, risco de dependência e adesão irregular. Essa análise evidenciou a necessidade de alternativas complementares, sobretudo para pacientes que buscam abordagens menos invasivas ou que apresentam resistência aos tratamentos tradicionais. A revisão sobre fitoterapia mostrou que plantas medicinais como Passiflora incarnata, Valeriana officinalis e Melissa officinalis oferecem efeitos ansiolíticos respaldados por estudos científicos, constituindo opções seguras e eficazes para o manejo da ansiedade. Destacou-se também a importância da regulamentação e padronização desses produtos, garantindo qualidade e segurança para a população, e ressaltando o potencial da fitoterapia como campo promissor na prática farmacêutica integrativa. O estudo detalhado da Erythrina velutina (Mulungu) evidenciou que, embora ainda em fase inicial de pesquisa clínica, a planta apresenta compostos bioativos com mecanismos de ação ansiolíticos e sedativos, com perfil de segurança favorável. Esse panorama reforça a relevância de estudos futuros que aprofundem a farmacocinética, a padronização e a validação clínica, permitindo a consolidação do Mulungu como alternativa terapêutica reconhecida. Por fim, a análise dos dados e a discussão dos achadosdemonstraram que o trabalho alcançou seus objetivos ao consolidar informações sobre a Erythrina velutina, situando-a no contexto de tratamentos convencionais e fitoterápicos. Recomenda-se, como próximos passos, a realização de ensaios clínicos controlados, pesquisas sobre formulações padronizadas e investigações sobre a aplicabilidade da planta em diferentes perfis de pacientes, fortalecendo a prática farmacêutica baseada em evidências. REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. N. et al. Erythrina velutina: composição química, propriedades farmacológicas e potencial ansiolítico. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 31, n. 2, p. 223–231, 2021. AMARAL, M. E. et al. Plantas medicinais brasileiras: constituintes bioativos e aplicações farmacológicas. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 18, n. 4, p. 584–594, 2006. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM5TR. 5. ed. rev. 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