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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO JANICLEIDE LIMA DE ARAÚJO Salvador -BA 2025 A GENEALOGIA DA MORAL EM NIETZSCHE: O RASTREAMENTO DO BEM E DO MAL NA HISTÓRIA HUMANA JANICLEIDE LIMA DE ARAÚJO Trabalho Final de Trabalho apresentado ao curso de Bacharelado em Administração da Faculdade UNIJORGE, como requisito parcial para avaliação na disciplina de Construção do Pensamento, sob orientação da Prof.ª Milena Guimarães Andrade Tanure. Salvador - BA 2025 A GENEALOGIA DA MORAL EM NIETZSCHE: O RASTREAMENTO DO BEM E DO MAL NA HISTÓRIA HUMANA 2 1.INTRODUÇÃO A Genealogia da Moral, de Friedrich Nietzsche, constitui um dos mais contundentes questionamentos à tradição moral ocidental. O filósofo investiga a origem dos conceitos de “bem” e “mal” e mostra seu caráter histórico e contingente. Em oposição aos valores hegemônicos, diagnostica o niilismo, entendido como o esvaziamento dos fundamentos tradicionais de sentido. Ao criticar a metafísica platônica e o cristianismo, revela a base de uma “moral escrava” que sustentou a civilização ocidental. Este trabalho analisa esses conceitos, relacionando-os à sociedade contemporânea e dialogando com as concepções de Michel Foucault e Gilles Deleuze sobre o papel crítico da filosofia na política e nos direitos humanos. 2.DESENVOLVIMENTO Para Nietzsche, o niilismo não é apenas negação dos valores, mas um estágio histórico no qual os fundamentos metafísicos já não convencem. O colapso das verdades absolutas deixa o homem diante de um vazio de sentido. A moral cristã – herdeira da metafísica platônica – instituiu um sistema que reprime as forças vitais, transformando instintos criadores em culpa e ressentimento. Surge, assim, a “moral escrava”, quando os fracos invertem os valores dos fortes e exaltam humildade e submissão, convertendo potência em pecado. A metafísica platônica, ao propor um mundo ideal separado do sensível, reforça a desvalorização da vida concreta. Nietzsche vê nessa tradição uma fuga da realidade: a criação de um “além” para negar a terra e a corporalidade. Sua sentença “Deus está morto” expressa não apenas ateísmo, mas a percepção de que as estruturas transcendentes da moral ocidental perderam validade. A tarefa filosófica seria, então, transvalorar os valores, criando uma moral afirmativa da vida, não fundada no ressentimento. Sua crítica ao cristianismo aponta que, ao prometer um paraíso e valorizar o sofrimento, perpetua-se a negação da vida terrena. Em contrapartida, Nietzsche propõe o ideal do Além-do-homem (Übermensch), que cria seus 3 próprios valores e assume a vida em plenitude. Essa proposta não é convite ao caos, mas à responsabilidade ética pela criação de novos modos de existir. Ao dialogar com Foucault, observa-se que este retoma o método genealógico de Nietzsche para analisar dispositivos de poder e saber na modernidade. Em Vigiar e Punir, Foucault demonstra que instituições disciplinadoras moldam corpos e subjetividades, evidenciando que valores morais não são universais, mas efeitos de relações de poder. Já Deleuze interpreta Nietzsche como um pensador da afirmação e do devir, no qual os valores são fluxos criativos. Para Deleuze, a tarefa do pensamento é liberar potências de vida sufocadas pelas estruturas de dominação. Ambos ampliam a crítica nietzschiana e oferecem instrumentos para repensar política e direitos humanos de forma não dogmática e aberta à pluralidade. Dessa maneira, a intervenção da filosofia no campo social e político não deve impor novos dogmas, mas questionar as formas cristalizadas de poder e moralidade. Respeitar os direitos humanos implica reconhecer a diversidade de modos de vida e resistir a sistemas que imponham padrões únicos de normalidade, tal como alertam Foucault e Deleuze ao denunciar práticas discriminatórias. A filosofia, nesse sentido, mantém sua atualidade porque convida à crítica permanente das normas e à criação de valores mais inclusivos, capazes de promover justiça sem reproduzir opressões. 3.CONCLUSÃO Conclui-se que a genealogia da moral em Nietzsche não apenas desvenda as origens dos conceitos de “bem” e “mal”, mas aponta para a necessidade de transvaloração dos valores, rompendo com o niilismo passivo. Sua crítica à metafísica platônica e ao cristianismo mostra como a moral ocidental se estruturou sobre a negação da vida. Ao mesmo tempo, sua influência sobre Foucault e Deleuze demonstra a potência desse pensamento para analisar relações de poder e propor novas formas de existência. A filosofia nietzschiana permanece atual, pois incentiva a criação de valores que respeitem os direitos humanos, a pluralidade e a dignidade de cada indivíduo, reforçando o papel transformador da reflexão crítica na sociedade contemporânea. 4 REFERÊNCIAS NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 42. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. DELEUZE, Gilles. Nietzsche e a filosofia. Tradução de Ruth Joffily Dias e Edmundo Fernandes Dias. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976.