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Fundamentos da Psicologia da Saúde A Psicologia da Saúde é uma área que se consolidou recentemente, porém é uma das que mais absorvem profissionais de Psicologia no Brasil. Fenômenos sociais, como a reforma psiquiátrica e a criação do SUS, abriram um vasto campo para a pesquisa e a atuação do psicólogo. Trata-se de um campo interligado a outras áreas da Psicologia, tais como: Psicologia Comunitária, Psicologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Mas, ao mesmo tempo em que ressaltamos esta interseção, afirmamos a necessidade de diferenciar a Psicologia da Saúde e a abrangência de sua proposta, que engloba toda a reflexão e atuação nos diversos setores da saúde. Neste sentido, o psicólogo que atua no hospital psiquiátrico, por exemplo, está atuando na área da saúde. Mas a Psicologia da Saúde não se restringe àquela aplicada no contexto psiquiátrico. A Psicologia Preventiva comunitária, o atendimento a doentes terminais, o acompanhamento de pacientes com transtornos alimentares, por exemplo, são exercícios diferentes que estão inseridos nesta área da Psicologia. Esta disciplina tem como objetivo refletir sobre os principais conceitos associados à inserção do psicólogo na área da saúde. Abordaremos as principais características do Sistema Único de Saúde (SUS) e suas repercussões no campo da Psicologia. Também destacaremos as principais áreas de atuação que fazem parte da Psicologia da Saúde, assim como a importância da interdisciplinaridade para o cuidado com a saúde. Aula 1: A Psicologia da Saúde: definição e contextualização Definição de Psicologia da Saúde. O desenvolvimento histórico e atuação desta área da Psicologia. A importância da visão multidisciplinar. A formação do psicólogo para o setor da saúde. Aula 2: Políticas de saúde no Brasil: a Criação do SUS acolhimento e classificação de risco. Aula 3: A Política Nacional de Atenção Básica Definição e princípios da atenção básica. As características do trabalho das equipes. Diretrizes dos Pactos: pacto pela vida, pacto em defesa do SUS e pacto de gestão do SUS. Os três níveis de atenção e o papel do psicólogo. Aula 4: Atuação do psicólogo nos programas de DST/AIDS Dimensão ético-política do atendimento a pessoas com DST, HIV e Aids. A psicologia e o campo DST/Aids. Atuação do psicólogo em programas de DST/Aids. Gestão do trabalho nos programas de DST/Aids: princípios do SUS na prática cotidiana e o trabalho em equipe multiprofissional Como se constituiu e o que é o SUS. O Movimento Sanitário. Como era a atenção à saúde antes do SUS. Leis orgânicas da saúde. Atribuições e competências do SUS. A política de Aula 5: : Saúde Mental e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) O significado do termo saúde mental. A desospitalização e a inclusão social do doente mental. O que são e como surgiram os CAPS. Principais objetivos. Atividades terapêuticas oferecidas. Diferentes tipos de CAPS para demandas diferenciadas. A composição das equipes. A relação dos CAPS com a Rede de Saúde Básica e com a comunidade. As oficinas terapêuticas. Aula 1: A Psicologia da Saúde: definição e contextualização Introdução O estudo da Psicologia é dividido em várias áreas, cada uma indicando um campo conceitual e uma área de aplicação específica. Psicólogos especializam-se, de acordo com o objeto de estudo, e atuam na saúde, na pesquisa social, no contexto hospitalar, na área jurídica, na clínica, entre outras. Antes de estudarmos os diversos desdobramentos de um dos campos da Psicologia, é fundamental compreender seus fundamentos. Nesse sentido, começamos a abordagem da Psicologia da Saúde explicando o significado deste termo, abordando seu desenvolvimento histórico e demarcando esta área de atuação em relação a outras que são relacionadas a ela A Psicologia da Saúde tem por objetivo a promoção e manutenção da saúde e a prevenção da doença. Trata-se de um campo multidisciplinar interligado a outras áreas da Psicologia, tais como: Psicologia Comunitária, Clínica e Hospitalar. Ao mesmo tempo em que ressaltamos esta interseção, afirmamos a necessidade de diferenciar a Psicologia da Saúde e caracterizar seu campo de atuação, que abrange toda a reflexão e atuação nos diversos setores da saúde. Nesse sentido, o psicólogo que atua no contexto hospitalar, por exemplo, está atuando na área da saúde. Mas a Psicologia da Saúde não se restringe à Psicologia aplicada a este contexto. A Psicologia Preventiva Comunitária, o atendimento a doentes terminais, o acompanhamento de pacientes com distúrbios alimentares são exercícios diferentes que também estão inseridos no objeto do nosso estudo. Atuação do Psicológo Alguns Teoricos abordam a atuação do psicólogo psicologia social: Para Matarazzo, a Psicologia da Saúde agrega conhecimentos que permitem ao psicólogo atuar: “Na promoção e na manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na identificação da etiologia e no diagnóstico relacionados à saúde, à doença e às disfunções, bem como no aperfeiçoamento do sistema de política da saúde” (MATARAZZO apud ANGERAMI, 2002, p.13). Angerami ressalta que as noções de saúde e doença englobam uma complexa interação entre aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais. É fundamental que as diversas abordagens dentro do campo da saúde possam se harmonizar “no sentido de promoverem uma compreensão que não deixe de fora nenhum dos aspectos desse processo” (ANGERAMI, 2002, p.12) A atuação do psicólogo no campo da saúde é, desta forma, orientada para uma prática multidisciplinar. Para isso, é importante assinalar que a formação do psicólogo deve contemplar conhecimentos que englobem as bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde e da doença. Breve histórico da Psicologia da Saúde A Associação Brasileira de Psicologia da Saúde (ABPSA) foi fundada em 2006. É uma associação com propósitos científicos e educacionais, que, além de incentivar a pesquisa, visa “facilitar a troca de informação, conhecimento e experiência entre seus membros, estimulando iniciativas que viabilizem redes de apoio mútuo” (ABPSA, 2012). Percebemos que é recente a preocupação em formalizar, dentro da Psicologia, um campo específico para estudos e intervenção no setor da saúde. Talvez por isso ainda haja certa dificuldade de definir estritamente o campo da Psicologia da Saúde, sem confundi-lo com outros afins. Apesar de recente do ponto de vista formal, o crescimento dessa área, no Brasil, é expressivo. Nos últimos vinte anos, aproximadamente, o setor, o que torna ainda mais instigante a pesquisa, ressaltando a importância de investigar e definir cuidadosamente os conceitos e práticas relativos à Psicologia da Saúde. de saúde pública foi o que mais absorveu psicólogos. Entretanto, a produção científica ainda é insuficiente. Psicologia da Saúde e sua relação com a Psicologia Hospitalar e a Psicologia Comunitária Vimos até aqui que atuar no campo da Psicologia da Saúde demanda uma visão multidisciplinar, que implica a intercessão entre diferentes abordagens sobre os fenômenos da saúde. Mas, além de estar preparado para atuar em uma equipe interdisciplinar, é importante que o psicólogo conheça outros campos da Psicologia que fazem interface com a Psicologia da Saúde. Nesse sentido, a seguir, faremos uma breve apresentação de duas que balizam a Psicologia da Saúde: a Psicologia Hospitalar e a Psicologia Comunitária. Essas duas áreas cresceram muito nos últimos anos, recebendo destaque na pesquisa teórica e social (de levantamento). A formação do psicólogo para a atuaçãona área de saúde Para finalizar essa exposição introdutória sobre a Psicologia da Saúde, vamos ressaltar alguns aspectos importantes da formação do psicólogo para a atuação na área de saúde. Uma das preocupações do psicólogo da saúde é compreender como intervir levando em conta as demandas individuais, o sistema de saúde e os aspectos sociais. É comum o pensamento de que o psicólogo clínico, que pretende atender em consultório particular, não precisa compreender o funcionamento do sistema público de saúde no qual está inserida a sua prática. Entretanto, no contexto brasileiro contemporâneo, poucos são os psicólogos que trabalham apenas dentro dos consultórios. E, mesmo para os têm apenas essa prática, é fundamental o conhecimento mais amplo da carreira que escolheu. A formação do psicólogo, mais especificamente do psicólogo que pretende atuar na área da saúde, deve contemplar conhecimentos de bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde (ARRUDA, 2003). Neste sentido, é importante: • Estudo das bases orgânicas do comportamento; • Ter uma boa noção de Psicologia Social e trabalho com grupos; • Conhecimento da realidade brasileira; • Entender sobre a política de saúde pública. De fato, se a Psicologia da Saúde está inserida numa abordagem multidisciplinar da saúde e da doença, é fundamental que o psicólogo tenha conhecimentos básicos das áreas com as quais vai dialogar. A criação do SUS e a atuação dos psicólogos Quanto ao conhecimento do funcionamento e regulamentação da saúde pública, ressaltamos que a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) fez nascer um panorama diversificado para a atuação dos psicólogos, a partir da política dos níveis de atenção e da organização, acolhimento e classificação de risco. Para a inserção nesse contexto, que se afirma cada vez mais como mercado de trabalho para o psicólogo, é importante conhecer sua proposta, limites e facilidades proporcionados ao saber psicológico. Assim, afirma-se a importância de uma formação que se desloca da ênfase na clínica tradicional e contempla a saúde em seus diversos aspectos: biológico, psicológico e social. O psicólogo está dentro de um campo maior do que os limites da Psicologia, mas deve atuar a partir de sua formação específica. Desta forma, não se trata de suprimir a formação clínica, mas de valorizar, na formação do psicólogo, a diversidade do conhecimento, preparando o profissional para o contexto multidisciplinar contemporâneo. Aula 2: Criação e funcionamento do SUS A saúde no Brasil até 1987 Antes do Sistema Único de Saúde (SUS) ser criado no Brasil, em 1988, o cenário da saúde brasileira era o seguinte: Até 1987, apenas trabalhadores com carteira assinada tinham acesso ao atendimento na rede pública de saúde, por serem segurados pela previdência social. As ações de promoção da saúde eram responsabilidade do Ministerio da Saúde, que desenvolvia quase todas as campanhas que visavam à prevenção de doenças, como informação sobre o controle de endemias e vacinação. A assistência médico-hospitalar era prestada pelo Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), contralado pelo mistério da previdência e assistência social. A Lei 8.080/90 de 19.09.90 O SUS é definido pelo artigo 198 da Constituição Federal Brasileira (1988) e regulamentado pela Lei 8080 promulgada em 19 de setembro de 1990. A lei estabelece a integração das ações e serviços de saúde, substituindo um sistema regionalizado e hierarquizado. A saúde é assegurada, na Constituição Brasileira, como um dever do Estado. Mas nesse contexto, o Estado não diz respeito apenas ao governo federal. O Poder Público, no que diz respeito à saúde, abrange a União, os Estados e os municípios. A implementação do SUS implica a integração das obrigações de todas as esferas do governo e a construção de políticas setoriais, adequadas às diferentes realidades regionais. A lei Orgânica da Saúde regulamenta as ações do SUS em todo o território nacional, estabelecendo diretrizes e detalhando as competências de cada esfera governamental. A lei: “Determina como competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade dos serviços. Trata da gestão financeira, define o Plano Municipal de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços nos atendimentos públicos” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Na lei 8.080/1990 estão formuladas a estrutura do SUS e as bases para o seu funcionamento. Faz parte da legislação que ampliou a definição de saúde, considerando-a também a partir de aspectos sociais, dentro da noção de qualidade de vida. Assim, são levados em conta diversos fatores determinantes, como: alimentação, moradia, saneamento básico, trabalho, educação, lazer e acesso a bens e serviços essenciais. A Lei 8.142/90 de 28.12.90 A Lei 8.142/90 trata do papel e participação da comunidade na gestão do SUS e da transferência de recursos financeiros entre União, estados e municípios. Fica estabelecida a participação da comunidade, que deve ser concretizada através dos Conselhos de Saúde. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) institui um espaço de participação social na administração do Sistema Público. O Conselho Nacional consolida o controle social por intermédio dos Conselhos Estaduais e Municipais. “O CNS é uma instância coletiva, com poder de decisão. Ligado ao Poder executivo, é composto por 50% de usuários, 25% de trabalhadores de saúde e 5% de prestadores de serviços. Representantes do governo, profissionais de saúde e usuários estão entre os participantes e o número de conselheiros varia entre 10 e 20 membros. O Presidente é eleito entre os membros e a representação depende da realidade existente em cada área, preservando-se o princípio da paridade em relação aos usuários” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Quanto ao funcionamento, as reuniões ordinárias do CNS ocorrem uma vez por mês, podendo haver reuniões extraordinárias por convocação do Presidente do Conselho ou por deliberação do plenário (fóruns deliberativos). Ente as atribuições dos Conselhos de Saúde, destacam-se: • Propor a adoção de critérios que definam qualidade e melhor funcionamento do sistema de saúde; • Fiscalizar a movimentação de recursos; • Propor critérios para a execução financeira e orçamentária do Fundo de Saúde; • Examinar propostas e denúncias; • Estimular a participação social na administração do SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Novas premissas As leis 8.080/90 e 8.142/90 preveem os princípios de funcionamento do SUS, baseados em premissas que modificam a concepção de saúde e, consequentemente, o modelo de assistência: “O Sistema Único de Saúde é, por definição constitucional, um sistema público, nacional e de caráter universal, baseado na concepção de saúde como direito de cidadania e nas diretrizes organizativas de: descentralização, com comando único em cada esfera de governo; integralidade do atendimento; e participação da comunidade. A implantação do SUS não é facultativa e as respectivas responsabilidades de seus gestores – federal, estaduais e municipais – não podem ser delegadas. O SUS é uma obrigação legalmente estabelecida” (CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2012). Política do SUS A política que rege o SUS determina: A descentralização (os estados e municípios passam a fornecer atendimento conforme as necessidades locais). A integralidade do atendimento (disponível a todos os cidadãos). A participação da comunidade nas decisõesimportantes relativas à saúde pública. Os princípios do SUS Dentro do programa de políticas públicas para a saúde, existem princípios (alguns já mencionados no tópico anterior) que são elementos fundadores da visão ampliada de saúde, associados às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. São elementos doutrinários e de organização do SUS. Dentre eles, destacam-se: Universalidade A saúde passa a ser vista como um direito de todos, como afirma a Constituição Federal de 1988. Promover e garantir a atenção à saúde para toda a população brasileira, sem distinção, torna-se obrigação do Estado. Esta foi a principal reivindicação do movimento sanitarista, que impulsionou a reformulação da política púbica no setor de saúde e a criação do SUS. Descentralização político-administrativa O processo de descentralização, como já foi visto, consiste na redistribuição do poder, estabelecendo uma nova relação entre os três níveis (esferas) do governo – federal estadual e municipal. Desta forma, cada uma das esferas tem atribuições próprias. Os municípios têm assumido papel cada vez mais importante no gerenciamento dos próprios recursos e demandas específicas da população. Integralidade A partir da criação do SUS, a atenção à saúde inclui tanto o tratamento quanto a prevenção da doença, englobando os meios individuais e os coletivos. As necessidades de saúde das pessoas ou de grupos devem ser levadas em conta. Cabe ressaltar que, dentro da visão ampliada de saúde, a qualidade do serviço oferecido também é valorizada, e não apenas o número de atendimentos. Equidade O princípio da equidade refere-se à igualdade de oportunidades. Todos devem ter acesso ao sistema de saúde. Leva-se em conta a desigualdade de condições socioeconômicas que caracteriza o Brasil. A partir das disparidades regionais, que englobam fatores sociais e econômicos, as necessidades da população variam no que diz respeito à saúde. Porém, de acordo com a Lei Orgânica da Saúde, mesmo dentro da diversidade, é fundamental garantir a igualdade com relação ao acesso à saúde. Equidade, nesse contexto, é compreendida como sinônimo de igualdade, no sentido de “igualdade de condição” para o acesso à saúde. Participação da comunidade Esse princípio também é chamado de controle social. É regulado pela lei nº 8.142, que garante o direito de participação dos usuários na gestão do SUS. Essa participação se dá através dos Conselhos de Saúde, que são órgãos colegiados organizados em todos os níveis (nacional, estadual e municipal) e também através das Conferências de Saúde, que acontecem a cada quatro anos. Trata-se de dispositivos que visam à democratização das decisões no campo da saúde, dando à população papel ativo na gestão e fiscalização da política pública da saúde. Esses princípios são elementos que fundamentam a proposta do SUS, de atenção à saúde de forma global – da prevenção ao restabelecimento –, promovendo a aproximação dos cidadãos às instâncias político- administrativas, com o objetivo de garantir a universalidade do acesso à saúde. O SUS e a cidadania O movimento que culminou na criação do SUS representa um avanço no que diz respeito à valorização da cidadania. Paim (2011) observa que, mesmo sendo visível a distância entre a formalização e a garantia concreta, a implementação do SUS representa um avanço e uma iniciativa que vai ao encontro do direito à cidadania. Segundo o autor, é um desafio manter uma gestão descentralizada num país com uma dimensão territorial do Brasil. A gestão descentralizada é um tema que demanda reflexão constante por parte dos envolvidos no setor da saúde, assim como fiscalização e tomadas de decisão que avaliem a situação local e as especificidades de cada região. Ressaltamos, ao finalizar esta aula, a importância da difusão da informação, com o objetivo de promover para a população a consciência do direito à saúde. A educação em saúde é um tema fundamental, que pode ser compreendido como: “Processo que objetiva promover, junto à sociedade civil, a educação em saúde, baseada nos princípios da reflexão crítica e em metodologias dialógicas (ou seja, que tenham como base o diálogo). É instrumento para a formação de atores sociais que participem na formulação, implementação e controle social da política de saúde e na produção de conhecimentos sobre a gestão das políticas públicas de saúde, o direito à saúde, os princípios do SUS, a organização do sistema, a gestão estratégica e participativa e os deveres das três esferas de gestão do SUS” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Dentro da concepção ampliada de saúde, a educação é contemplada como um dos fatores condicionantes. A educação em saúde, especificamente, faz parte da preocupação com a prevenção da saúde, seja levando informações sobre doenças e cuidados essenciais, seja propagando os direitos do cidadão assegurados pela política pública vigente. A conscientização é o primeiro passo para a participação efetiva dos usuários na gestão do SUS. Aula 3: A Política Nacional de Atenção Básica Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi aprovada pela Portaria 648/GM, em 2006, pelo Ministério da Saúde. Ela direciona o olhar para a porta de entrada do SUS através da organização da atenção básica, ressaltando a importância do PSF – Programa de Saúde da Família – e do Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Definição e princípios da atenção básica O modelo de atenção básica utilizado no Brasil leva em consideração a regionalização, ou seja, cada município oferece serviços de atenção básica conforme as necessidades da sua população local. Os serviços da atenção básica são direcionados para crianças, adolescentes, mulheres, adultos, idosos e famílias. O objetivo é atender as prioridades que dizem respeito a cada público específico. O programa de atenção integral a saúde da mulher, por exemplo, pode oferecer serviços que vão deste a implantação de um centro da mulher com ações voltadas para exames até o planejamento familiar. Definição e princípios da atenção básica O conjunto de ações – coletivas ou individuais – que engloba a prevenção de doenças, a promoção e a proteção da saúde denomina-se Atenção Básica. Suas características estendem-se também ao diagnóstico, tratamento, reabilitação, manutenção e tudo o que diz respeito à saúde que se relacione diretamente com os serviços oferecidos no que se denomina atenção primária. É relevante considerar que: Os princípios do SUS orientam suas bases de ações: universalidade, integralidade, equidade, participação social. O foco é o acesso a serviços de saúde que permitam o cuidado humanizado, a construção do vínculo e sua continuidade com o serviço de referência. As tecnologias básicas e os recursos humanos devem atender aos problemas de maior relevância na comunidade no qual o serviço está sendo oferecido. A atenção básica está voltada para a população territóriolizada, ou seja, que tem um território definido para seus programas e ações, o que se denomina população de referência e comunidade adscrita-aquela que esta circunstância nas adjacências das comunidades onde está inserido um determinado programa ou serviço e que também recebe benefícios. Fatores sociais do processo saúde/doença A principal estratégia da atenção básica é o Programa da Saúde da Família, que conta com uma equipe de profissionais que atuam em conjunto para avaliar as necessidades de saúde da comunidade em que a Unidade Básica de Saúde (UBS) que lhe dá suporte está inserida.Alguns pontos que o PSF utiliza como base de atuação são: (Quando a atenção básica não tem serviços adequados para um determinado caso, este é encaminhado para a rede de saúde de nível de maior complexidade, como os hospitais gerais e especializados, por exemplos. Redução de sofrimento e de danos; Prevenção de doenças e promoção de saúde; Qualidade de vida; Saúde mental. Diretrizes das Unidades Básicas de Saúde Há diretrizes preconizadas para as Unidades Básicas de Saúde no que diz respeito a: Equipe profissional Composta por: médico, enfermeiro, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico de higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde. Outros profissionais, como assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, podem ser incluídos na equipe conforme a necessidade local. Espaço adequado Espaço para o atendimento à população pelos profissionais de saúde: consultórios específicos e apropriados para a prática profissional. Importante! A implantação de uma Unidade Básica de Saúde se dá conforme o número de habitantes, então, em grandes centros urbanos, é recomendado uma unidade de UBS sem o Programa de Saúde da Família para cada 30 mil habitantes. Já as Unidades Básicas de Saúde com o PSF devem ter como referência 12 mil habitantes cada. Organização do espaço Recepção, local para arquivos, sala para enfermagem, sala de vacinas, banheiros, equipamentos e materiais necessários à prática profissional de cada agente de saúde que atua no programa. Trabalho das equipes de atenção básica Conheça agora algumas características do trabalho das equipes de atenção básica: Território de Atuação O trabalho das equipes de atenção básica deve ter como referência seu território de atuação, ou seja, a população adscrita. Se uma unidade de saúde, que conta com os profissionais atuando no Programa de Saúde da Família, oferece serviços de saúde básicos, o esperado é que os problemas de saúde sejam atendidos com prioridade, conforme a demanda existente na comunidade. Grupos de Riscos As ações voltadas para os grupos de risco também são muito valorizadas, pois fatores comportamentais, alimentares, ambientais, hábitos de higiene, podem prevenir ou acelerar o aparecimento de doenças. Para tal, se faz necessário a utilização de parcerias com outras secretarias do Município que possam contribuir para uma educação sanitária, para a prática de exercícios físicos, para hábitos saudáveis que permitam uma saúde biopsicossocial. Educadores Os agentes de saúde são também educadores, pois todo o processo de promoção de saúde e prevenção de doenças passa pelo desenvolvimento de ações educativas que devem envolver a comunidade de forma participativa na construção da qualidade de vida. Assistência Integral É importante ressaltar que as ações do SUS, incluindo aqui a atenção básica, devem estar pautadas em uma assistência integral que garanta acesso aos outros níveis de atenção à saúde. O atendimento humanizado, preconizado pelo HumanizaSUS , deve ser uma referência para atuação dos gestores e agentes de saúde. É na Unidade Básica de Saúde que deve ser realizado o primeiro atendimento à urgência odontológica e médica e, dependendo da gravidade do caso, pode haver encaminhamentos diversos. Planejamento e Avaliação As equipes devem participar do planejamento e avaliação das ações voltadas para as demandas existentes, ressaltando a promoção de saúde através de ações que envolvam diversos setores, integrando projetos que estejam diretamente relacionados com o desenvolvimento da saúde biopsicossocial. O Pacto pela Vida reforça esses preceitos e ressalta a movimentação no sentido de uma gestão pública de referência em qualidade. A Portaria GM/MS n° 325, de fevereiro de 2008, valida o Pacto pela Vida. Leia a portaria na íntegra em aqui Conheça alguns objetivos e metas do Pacto pela Vida: • Atenção à saúde do idoso; • Controle do câncer de colo de útero e de mama; • Redução da mortalidade infantil e materna; • Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com • ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária, influenza, hepatite, AIDS; • Fortalecimento da atenção básica; • Saúde mental; • Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência; O Pacto em Defesa do SUS tem como principais características: • Valorizar compromissos entre gestores da saúde com a reforma sanitária; • Articular ações que qualifiquem o SUS enquanto política pública. O Pacto de Gestão do SUS define responsabilidades dos gestores e ressalta as relações solidárias entre aqueles que estão à frente da gestão de cada unidade de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, são eixos estruturantes do Pacto de Gestão do SUS (disponível em Pacto de Gestão: garantindo saúde para todos - http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacto_gestao.pdf): • Regionalização solidária – cooperativa; • Planejamento; • Programação pactuada e integrada; • Regulação, controle, auditoria e avaliação; • Financiamento; • Participação social e controle público. Os níveis de atenção e o papel do psicólogo A saúde pública é dividida em três níveis de atenção à saúde: Aula 4: Atuação do psicólogo nos programas de DST/AIDS Dimensão ético-política do atendimento a pessoas com DST, HIV e AIDS. A AIDS surgiu, no Brasil, no início da década de 1980, no exato momento em que o país sofria transformações político-sociais importantes para o direcionamento das ações políticas no campo da saúde e, no caso em particular, da AIDS. Nesta ocasião, podemos ressaltar o surgimento de alguns marcos históricos na área de saúde do país: a reforma sanitária, a Conferência Nacional de Saúde, a criação do SUS e todas as conquistas do movimento de saúde na elaboração da Constituição Federal Brasileira, de forma a garantir que o direito dos cidadãos brasileiros à saúde fosse assegurado, como citado no Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Eixos da Política Nacional do programa brasileiro Com o intuito de dar respostas políticas ao momento de epidemia do HIV/AIDS, a Política Nacional do programa brasileiro compreende três eixos principais, para que venham a funcionar de forma integrada e com base nos princípios do SUS: Capacitação do psicólogo O psicólogo deve ter como referência a epidemiologia e os programas de saúde (federal, estaduais e municipais), pois essas informações fornecerão elementos para decidir quais serão as áreas prioritárias e as demandas da população. Três itens devem ser observados na capacitação de um psicólogo para este ambiente: Conhecimento teórico e prático sobre DST, HIV, AIDS e hepatites, além de informações básicas na área de saúde em geral e capacidade de controle de grupos. Conhecimento específico do conteúdo programático do sistema. Conhecimento sobre suporte pessoal, ou seja, como cuidar daquele que também cuida. Atuação do psicólogo em programas de DST/AIDS A forma como o sujeito reage a condição de portador determina maior ou menor propensão a instabilidades emocionais, e a forma de reação não é apenas individual: é também coletiva – tanto social como institucional. Um serviço quenão oferece suporte emocional aos portadores de HIV pode estar corroborando para o aumento da fragilidade emocional dos usuários ali cadastrados. Sistema de prevenção de saúde De acordo com a lógica de atenção proposta pelo SUS, além de desenvolver as noções de campo, núcleo e vulnerabilidade, as ações deverão estar organizadas em atividades de prevenção, promoção e assistência. O sistema de prevenção de saúde é divido em três níveis de complexidade: O psicólogo no sistema de prevenção de saúde O psicólogo, no sistema de prevenção de saúde, pode atuar nos três níveis! As necessidades de saúde que não podem ser resolvidas no nível da atenção básica são encaminhadas à atenção especializada, no nível de média complexidade ou atenção secundária Os serviços de alta complexidade – atenção terciária – estão no mais alto nível de recursos tecnológicos para o atendimento à necessidade de saúde do usuário, como, por exemplo, no serviço de transplante de órgãos ou nas unidades de tratamentos intensivos. Gestão do trabalho nos programas de DST/AIDS No trabalho de gestão no ambiente DST/AIDS, o trabalho do profissional psicólogo deve observar três pontos como principais: Descentralização dos serviços: De acordo com Lei nº 8.080/1990 dispõe sobre a descentralização político- administrativa nas três instâncias do poder público e dá ênfase à municipalização de todos os serviços e ações de saúde pública. Também observa como se dá a redistribuição de poder, responsabilidades e recursos financeiros para os municípios. Princípio da integralidade: Antes separadas, as ações de saúde agora devem manter o princípio de integralidade em todo o sistema SUS. Isto se faz para dar organicidade ao sistema, tornando cada vez mais unificadas as ações nos Ministério da Saúde e da Previdência. Controle social: Os psicólogos envolvidos no sistema de prevenção de DST e AIDS podem participar dos Conselhos locais, municipais, estaduais e nacionais como profissionais da área de saúde. Assim, ampliam o toque da informação participativa aos membros da comunidade, principalmente em dois pontos específicos: • Prover o preparo de novos profissionais capazes de atuar dentro dos projetos de DST/AIDS no Brasil; • Investir na capacitação para atuar de forma mais eficiente no processo de gestão, utilizando métodos integrativos e participativos no planejamento, programação, vigilância e avaliação, melhorando a capacidade de autonomia gerencial e tornando o processo de decisão mais rápido, adaptativo e participativo, capaz de ter sustentabilidade das ações, que é um subcomponente de gestão. Aula 5: Saúde Mental e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) A saúde mental equivale ao nível de qualidade de vida psíquica, que engloba a interação mente, corpo e vida em sociedade. Sabemos que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas um equilíbrio entre os diversos setores da vida que implicam na qualidade da saúde e na capacidade do indivíduo de ser resiliente, ou seja, de se adaptar e/ou superar as situações de crises da vida. Os valores culturais e a subjetividade humana afetam diretamente o modo como a saúde mental é entendida. A interpretação dos fatos e as cobranças sociais afetam diretamente o modo como as pessoas lidam com as mais diversas situações cotidianas. Na década de 80, em São Paulo, foi criado o 1º Centro de Atenção Psicossocial . Na década de 90 foram implantadas as primeiras normas para a regulamentação da atenção diária em saúde mental. A Declaração de Caracas, aprovada em 1990, ressalta que o hospital psiquiátrico, como única modalidade assistencial: • Isola o doente em seu meio, gerando maior incapacidade social; • Cria condições desfavoráveis que põem em perigo os direitos humanos e civis do enfermo. A Legislação Federal – Lei 9.867, de 10 de novembro de 1999 - dispõe sobre a criação e funcionamento de Cooperativas Sociais, visando à integração social dos cidadãos. A finalidade das Cooperativas é inserir pessoas em desvantagem no mercado econômico, por meio do trabalho. A Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 (Lei Paulo Delgado), dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, ressaltando a não discriminação. O que são os CAPS Conheça mais sobre os CAPS! Principais objetivos dos CAPS De acordo com o Ministério da Saúde, os principais objetivos do CAPS consistem em: oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É função dos CAPS: Prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos. Acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território. Promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais. Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação. ar suporte a atenção à saúde mental na rede básica; Articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território, como por exemplo, organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios. Promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Atividades terapêuticas De acordo com as diretrizes do SUS para a saúde mental, as atividades oferecidas pelos CAPS podem ser: Tratamento Medicamentoso, atendimento a grupo de familiares, orientação, atendimento psicoterápico, oficiais culturais, visitas domiciliares. Formas de atividades terapêuticas Os CAPS oferecem diversos tipos de atividades terapêuticas: A composição das equipes e oficinas terapêuticas As equipes dos CAPS são multiprofissionais, com a presença obrigatória de: Enfermeiro, psiquiatra, psicólogo, assistente social. O enfoque é o tratamento terapêutico, com direcionamento para a reinserção social. Por isso, temos CAPS que possuem profissionais das áreas de pedagogia, terapia ocupacional, professor de educação física, arteterapia, dentre outros. A composição das equipes e oficinas terapêuticas As oficinas terapêuticas visam promover novos modos de agir social, de interação com o meio e com a cultura na qual cada usuário está inserido. A promoção de saúde também se dá pela via da reinserção sociocultural, como por exemplo, oficinas: • de música; • de poesia; • de bijuteria; • de artes; • de dança; • literária etc. A relação dos CAPS com a Rede de Saúde Básica Por sua proximidade com famílias e comunidades, as equipes da atenção básica são um recurso estratégico para o enfrentamento de agravos vinculados ao uso abusivo de álcool, drogas e diversas formas de sofrimento psíquico (Ministério da Saúde, 2003). A realidade das equipes de atenção básica demonstra que, cotidianamente, elas se deparam com problemas de saúde mental: as equipes de saúde da família estão sempre se deparando com questões de saúde mental e acabam por realizar ações nesta área. A relação dos CAPS com a comunidade Se a história da loucura revela que os considerados doentes mentais viviam em reclusão e exclusão completa da sociedade em outra época, atualmente, a comunidade valoriza as unidades de CAPS como um recurso valioso para cuidar daspessoas com desestruturação mental. Os CAPS são territorializados, atendem a uma população adscrita, que está ao seu entorno e deve ser um espaço para a convivência social, a discussão de temas relevantes para a saúde mental da população, a construção de projetos que promovam cidadania e inserção social. A comunidade na qual o CAPS está inserido deve ser convidada a integrar seus espaços físicos e construídos socialmente através de ações para além de suas portas. A saúde mental é uma questão biopsicossocial e deve ser abordada em todos os seus aspectos. Pode ser implantado o CAPS I, pois o município possui entre 20.000 e 70.000 habitantes. Os tipos de serviço oferecidos, quando o município possui apenas um CAPS, consistem em: cobertura para toda a clientela com transtornos mentais severos durante o dia (adultos, crianças, adolescentes e pessoas com problemas devido ao uso de álcool e outras drogas).
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