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CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL CLÍNICA MÉDICA 1 CIRROSE HEPÁTICA Bem pessoal, o destino final de toda doença que causa lesão hepatocelular é o mesmo: a cirrose hepática. A cirrose é marcada por um depósito de tecido fibroso, com perda arquitetural, no parênquima hepático. Geralmente, apresenta- se de tamanho menor que o habitual e com superfície irregular, também sendo indolor a palpação. Quando este processo está totalmente estabelecido, ele é irreversível! No geral, todas as funções do órgão estão reduzidas, afinal, ele já está ́”fibrosado”, com dificuldade na eliminação de substância e produção endógena de fatores necessários, como os da coagulação. As causas de cirrose são diversas, e já explanadas nas aulas de hepatopatias, mas é sempre importante relembrar: doença hepática alcoólica, doença hepática gordurosa não alcoólica, doença de wilson, hemocromatose, induzida por medicamentos, viral, auto imune e biliar, além da síndrome de Budd-Chiari, que será explanada mais a frente. Quando não conseguimos encontrar, por nenhuma forma, a causa da cirrose, diz-se que a mesma é criptogênica, ou seja, de origem indeterminada. ACHADOS CLÍNICOS Clinicamente, as manifestações do paciente cirrótico são variáveis, e também dependem do grau de fibrose hepática. Muitos apresentam-se já com complicações ao diagnóstico, o que eleva a mortalidade dos pacientes com a afecção. Em geral, os sintomas são inespecíficos, muitas vezes, com náuseas e vômitos, e também fadiga crônica. Perda de peso, déficits neurológicos e alterações endócrinas, como no ciclo menstrual, também são comuns. O exame físico costuma demonstrar algum grau de ascite, ginecomastia, eritema palmar, atrofia testicular, disfunção erétil, edemas difusos, aranhas vasculares abdominais, também conhecidas como “cabeça de medusa”. Apresentam ainda esplenomegalia e fígado de menor dimensões. CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL 2 3 Associados, os pacientes podem apresentar as mais diversas complicações, ao diagnóstico ou então a longo prazo, a saber: • Hemorragia digestiva alta • Hiperesplenismo com plaquetopenia • Encefalopatia hepática • Ascite e edema • Disfunções pulmonares e/ou renais Essas complicações serão abordadas uma a uma em capítulo posterior. ACHADOS DE EXAMES Exames laboratoriais nem sempre demonstram elevação de TGO e TGP, visto que essas enzimas se elevam com a lesão de hepatócitos, no entanto, neste caso, a maioria das células já foi lesada de alguma forma. Inicialmente, quando não há cirrose ocorre uma relação TGP/TGO >1, e quando evolui para estágios finais ocorre uma inversão com TGP/TGO TGP. A hipergamaglobulinemia também pode ocorrer, por um aumento da produção de linfócitos B causada pela translocação bacteriana intestinal. É pior com o agravamento da doença é associação com hipertensão portal. Os exames de imagem são usados para avaliar alterações morfológicas e detectar efeitos da hipertensão portal, além de excluir a presença de tumores hepáticos. Podemos lançar mão de exames como USG Doppler ou não, tomografia de abdome, ressonância magnética e arteriografia. A biópsia muitas vezes não auxilia a discernir a causa da cirrose, visto que o mecanismo de lesão é bastante semelhante a todos, porém é o exame padrão ouro para o diagnóstico da doença, e felizmente pouco necessário. CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL 3 CLASSIFICAÇÃO Um tema bastante abordado nas provas é acerca do cálculo dos escores de funcionalidade. São usados principalmente dois escores: Child-Pugh e MELD-Na. Os critérios de Child-Pugh são simples, e sua prova costuma pedir para que você o calcule em algumas questões, por isso é importante tê-lo em mente. Esses critérios de Child-Pugh se dividem em A (5 a 6 pontos), B (7 a 9 pontos) e C (10 a 15 pontos). A mortalidade do paciente também é crescente. CRITÉRIO 1 PONTO 2 PONTOS 3 PONTOS Bilirrubina total 3 mg/dL Encefalopatia Ausente Grau I e II Grau III e IV Ascite Ausente Pequena Volumosa TAP (INR) 2,3 Albumina > 3,5g/dL 2,8 - 3,5 g/dL 10mmHg, por definição. A depender do local de acometimento podemos chamar a hipertensão de pré-hepática (trombose de veia porta ou esplênica, esplenomegalia, fístula arteriovenosa esplâncnica), intra hepática (cirrose, hepatite crônica, sarcoidose, esquistossomose) ou pós-hepática (insuficiência cardíaca ou síndrome de Budd- Chiari). SÍNDROME DE BUDD-CHIARI Essa síndrome é caracterizada pela presença de obstrução de veias hepáticas, de forma aguda ou crônica. Pode ocorrer em casos de policitemia vera, trombofilias, gravidez e neoplasias no geral, as mesmas causas de trombose em outros sítios. CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL 5 Manifesta-se com dor em hipocôndrio direito, hepatomegalia e icterícia, podendo ter ascite de evolução rápida. Se crônica, o aparecimento dos sintomas é mais gradual. As transaminases costumam estar alteradas, mas de forma inespecífica, sendo o exame de imagem vascular o definidor do diagnóstico. A angiografia por ressonância é o padrão ouro, mas podemos utilizar também o USG doppler, mais acessível na prática clínica. O tratamento agudo, com trombólise ou stents vasculares só é aplicável na doença aguda, que tem menos de 4 semanas de evolução. Para casos crônicos, costuma-se adotar procedimentos cirúrgicos, mais detalhados no capítulo de cirurgia geral. É imprescindível o uso de anticoagulação por longos períodos, a fim de se evitar a recorrência da doença. ACHADOS CLÍNICOS As manifestações são fáceis de serem entendidas se você compreendeu o funcionamento do sistema porta. Primeiramente, surgirá uma circulação colateral, para auxílio no escoamento do sangue represado. Isso faz com que haja uma dilatação venosa do plexo hemorroidário, da parede intestinal e das veias gástricas e esofágicas. Isso forma a conhecida “cabeça de medusa”. Pode inclusive haver sangramentos, devido a tamanha dilatação dessas veias, porém serão abordados no capítulo de hemorragias digestivas, na cirurgia geral. Outro achado é o de esplenomegalia. Ora, se o sangue está represado, a veia de maior calibre para que ele preencha é a esplênica. Isso gera, muitas vezes, esplenomegalia dolorosa, associada a pancitopenia, devido à hiperfunção exercida pelo órgão nesses casos. Encefalopatia hepática também é uma frequente nesses casos visto haja uma dificuldade na degradação de amônia pelo fígado, que já está doente, na maioria dos casos, e ainda com a circulação prejudicada. Por último, a ascite também tem importantepapel nesses casos, visto a hipertensão portal, faz com vasoconstritores endógenos atual, requerendo do organismo uma maior retenção de fluidos, que devido a hipoalbuminemia é perdido para o terceiro espaço, gerando edema e ascite. Nesses casos, é muito importante realizarmos um paracentese para diagnóstico da causa da ascite. O cálculo do GASA (gradiente albumina soro ascite) nos ajuda a identificar as causas possíveis desse acúmulo hídrico. CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL 6 GASA = ALBUMINA SÉRICA - ALBUMINA ASCITE GASA OU = 1,1 Causas associadas a hipertensão portal: cirrose e insuficiência cardíaca DIAGNÓSTICO O método padrão ouro é através da passagem de cateter na veia hepática para cálculo do gradiente de pressão, que quando é > ou = a 5 mmHg já confirma o diagnóstico. Por ser exame invasivo é pouco usado, e acabamos priorizando o diagnóstico clínico, por vezes associado a um achado no USG doppler hepático. A partir da suspeita ou confirmação do diagnóstico, é mandatório realização de endoscopia digestiva alta para avaliar presença e grau de varizes esofágicas, principal e mais grave complicação da hipertensão portal. TRATAMENTO O tratamento envolve controle das complicações e muitas vezes a ligadura de varizes esofagianas como profilaxia. Alguns usam inclusive betabloqueadores, que terão sua indicação mais detalhada na aula de complicações. É possível também o tratamento cirúrgico com derivação do fluxo portal, chamada de TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) na tentativa de amenizar a hipertensão, no entanto, existem séries de complicações possíveis. Esses procedimentos serão abordados no bloco de cirurgia geral. CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL O QUE ACHOU DESSE RESUMO? RESPONDA AQUI! Queremos garantir que sua experiência com esse resumo tenha sido positivo e proveitoso. Se você puder, por favor, nos fornecer um feedback sobre o conteúdo, a organização ou qualquer outra sugestão que possa melhorar futuras edições, ficaríamos imensamente gratos. Sua opinião é fundamental para nós, pois nos ajuda a continuar aprimorando nossos materiais e oferecendo o melhor para você. Muito obrigado pela sua colaboração! https://forms.gle/XbLah59rk3JM2nTj6