Prévia do material em texto
Cirurgia de neoplasia mamária unilateral em cadelas Ana Paula de Oliveira Reis¹*, Felipe Henrique Caetano Paulino¹, Thays Garreto Rodrigues dos Santos² ¹Graduação em Medicina Veterinária pelo Centro Universitário Una. Campus Liberdade. Belo Horizonte – MG, Brasil. ²Professora do Centro Universitário Una. Campus Liberdade. Belo Horizonte – MG, Brasil. E-mail: thaysgarreto@hotmail.com *Autor para correspondência: anapaulaoliveirareis@gmail.com RESUMO: As neoplasias mamárias estão entre as principais causas de morbidade em cadelas, sendo a ocorrência unilateral bastante frequente. O tratamento de escolha é, na maioria dos casos, cirúrgico, e a seleção da técnica adequada depende de diversos fatores, como tamanho e localização do tumor, grau de malignidade, envolvimento linfático e condição geral da paciente. A mastectomia unilateral, total ou regional, é indicada quando uma cadeia mamária inteira está acometida ou quando múltiplos nódulos estão distribuídos em um mesmo lado do corpo. O sucesso do procedimento está diretamente relacionado à correta avaliação clínica, estadiamento tumoral e adoção de margens cirúrgicas seguras. Este trabalho tem como objetivo revisar a literatura quanto à abordagem cirúrgica das neoplasias mamárias unilaterais em cadelas, destacando os critérios de indicação, técnicas cirúrgicas mais utilizadas, prognóstico e possíveis complicações. A compreensão anatômica e fisiopatológica da mama canina, bem como o conhecimento sobre o comportamento biológico dos diferentes tipos tumorais, são fundamentais para a escolha da técnica mais apropriada. A cirurgia bem indicada, associada ao acompanhamento clínico adequado, aumenta as chances de sucesso terapêutico e melhora a sobrevida e qualidade de vida das pacientes. Palavras chave: neoplasia mamária; mastectomia; cadelas; cirurgia; oncologia veterinária. Surgical treatment of unilateral mammary neoplasia in female dogs ABSTRACT Mammary neoplasms are among the leading causes of morbidity in female dogs, with unilateral occurrence being relatively common. Surgery is the treatment of choice in most cases, and the selection of the appropriate technique depends on factors such as tumor size and location, malignancy grade, lymphatic involvement, and the overall health condition of the patient. Unilateral mastectomy, whether total or regional, is indicated when an entire mammary chain is affected or when multiple nodules are present on one side of the body. The success of the procedure is closely linked to proper clinical evaluation, tumor staging, and the adoption of safe surgical margins. This study aims to review the literature on the surgical approach to unilateral mammary neoplasms in female dogs, emphasizing the criteria for indication, most commonly used techniques, prognosis, and potential complications. Understanding the anatomy and pathophysiology of the canine mammary gland, as well as the biological behavior of different tumor types, is essential for choosing the most appropriate surgical technique. A well-indicated surgery, combined with proper clinical follow-up, increases the chances of therapeutic success and improves survival and quality of life in canine patients. Keywords: mammary neoplasia; mastectomy; female dogs; surgery; veterinary oncology UNA 2025 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Neoplasia Mamária em Cadelas As neoplasias mamárias representam uma das enfermidades mais frequentes em fêmeas caninas, especialmente naquelas não submetidas à ovariossalpingohisterectomia (OSH). Estima-se que cerca de 50% dos tumores em cadelas sejam mamários, com maior prevalência em animais de meia-idade a idosos (OLIVEIRA et al., 2023). A etiologia envolve fatores hormonais, genéticos, ambientais e nutricionais. A realização precoce da OSH exerce um papel protetor significativo, reduzindo a incidência de tumores hormonodependentes (AHOUAGI, 2023). Esquema anatômico da cadeia mamária canina com indicação dos linfonodos de drenagem. Fonte:Rusa et al 2024) 2.2 Estadiamento das Neoplasias Mamárias O estadiamento clínico é essencial para o planejamento terapêutico e prognóstico. O sistema TNM (Tumor, Nódulo, Metástase), adaptado da Organização Mundial da Saúde (OMS), avalia o tamanho do tumor (T), o comprometimento linfático regional (N) e a presença de metástases à distância (M) (SANTOS et al., 2022). Tabela 1 – Estadiamento TNM para neoplasia mamária em cadelas Estágio Tamanho do Tumor (T) Linfonodos (N) Metástase (M) Prognóstico I 5 cm Positivo Ausente Reservado IV Qualquer Positivo Ausente Piorado V Qualquer Qualquer Presente Ruim Fonte: AQUINO (2021); AHOUAGI (2023) 2.3 Mastectomia Unilateral Total As neoplasias mamárias em cadelas representam uma das principais causas de atendimentos oncológicos na medicina veterinária, especialmente em fêmeas não castradas (AHOUAGI, 2023). Aproximadamente 50% dos tumores mamários em cadelas são malignos, sendo comum em animais de meia-idade e idosos (OLIVEIRA et al., 2023). A origem dessas neoplasias envolve fatores hormonais, genéticos e ambientais. Estudos mostram que a realização precoce da ovariossalpingohisterectomia (OSH) pode reduzir drasticamente a incidência desses tumores (SANTOS et al., 2022). O estadiamento clínico é essencial para definir a conduta terapêutica, sendo o sistema TNM (Tumor, Nódulo, Metástase) o mais utilizado. Ele avalia o tamanho do tumor, comprometimento linfático e a presença de metástases à distância (AQUINO, 2021). A partir dessa classificação, é possível estabelecer o prognóstico e o plano cirúrgico mais adequado. Cadelas com tumores restritos a uma cadeia mamária e sem metástase à distância são candidatas à mastectomia unilateral total. A mastectomia unilateral é indicada quando todos os nódulos estão localizados em uma mesma cadeia mamária. A técnica permite a remoção completa do tecido acometido, com margens cirúrgicas de 1 a 3 cm (BORGES, 2023). Essa abordagem aumenta a chance de cura local, reduz as taxas de recidiva e melhora a qualidade de vida da paciente. Quando associada à OSH, proporciona um efeito protetor adicional contra tumores hormodependentes (ESPEFELDE; SILVA, 2019). Os cuidados pós-operatórios são fundamentais para a recuperação da paciente. Devem incluir analgesia, antibioticoterapia profilática, uso de colar elizabetano e restrição de atividades (SANTOS et al., 2022). Complicações como seromas e deiscência de sutura são relativamente comuns e requerem monitoramento frequente. O uso de técnicas de sutura como walking suture também auxilia na prevenção dessas complicações (BORGES, 2023). Diante da alta incidência e relevância clínica das neoplasias mamárias unilaterais em cadelas, este trabalho tem como objetivo relatar um caso clínico de mastectomia unilateral total associada à ovariossalpingohisterectomia, com ênfase na conduta cirúrgica adotada e nos desfechos observados. Técnicas de mastectomia empregadas: (a) Mastectomia regional torácica (quadrantectomia); (b) Mastectomia regional abdomino-inguinal (quadrantectomia); (c) Mastectomia unilateral; (d) Mastectomia torácica bilateral UNA 2025 (quadrantectomia cranial total); (e) Mastectomia abdomino-inguinal bilateral (quadrantectomia caudal total); e (f) Mastectomia bilateral. Fonte: CAMPOS (2019). 2.3.1 Técnica Cirúrgica O procedimento inicia com tricotomia e assepsia da região abdominal ventral e inguinal. Realiza-se uma incisão elíptica abrangendo toda a cadeia mamária acometida, com dissecção até a fáscia abdominal. Vasos mamários, como as artérias e veias epigástricas superficiais, devem ser cuidadosamente isolados e ligados (ESPEFELDE; SILVA, 2019). O fechamento é feito em múltiplos planos com fios absorvíveis no subcutâneo e não absorvíveis na pele. Técnicascomo walking suture e Sultan são recomendadas. Bandagens compressivas podem ser utilizadas para reduzir complicações (BORGES, 2023). 2.3.2 Associação com OSH Quando a paciente não foi previamente castrada, recomenda-se associar a OSH à mastectomia, especialmente em tumores hormonodependentes. Essa associação reduz o estímulo estrogênico residual, contribuindo para um melhor prognóstico (SANTOS et al., 2022). 2.4 Avaliação Histopatológica A análise histológica dos nódulos removidos é imprescindível, pois determina o tipo tumoral e o grau de malignidade, além de orientar condutas terapêuticas complementares. Os principais tumores benignos são adenomas e fibroadenomas, enquanto os malignos incluem carcinomas papilíferos, anaplásicos e inflamatórios. Tumores de alto grau estão associados a maior risco de metástase e menor sobrevida (AHOUAGI, 2023). 2.5 Cuidados Pós-Cirúrgicos O pós-operatório requer cuidados específicos: analgesia eficaz, antibióticoterapia profilática, restrição de atividade física e uso de colar elizabetano. Complicações como seroma, deiscência e infecção devem ser monitoradas. O uso de drenos é reservado a casos de grandes dissecções ou acúmulo de fluido (SANTOS et al., 2022). A recuperação geralmente UNA 2025 ocorre entre 10 e 14 dias, sendo essencial o retorno ao médico-veterinário para reavaliação entre 7 e 10 dias após o procedimento, principalmente para retirada de pontos e detecção precoce de complicações. 2.6 Prognóstico e Considerações Finais O prognóstico das neoplasias mamárias está relacionado ao estágio clínico, ao tipo histológico e à presença de metástases. Casos diagnosticados precocemente e submetidos à mastectomia com margens livres apresentam melhores taxas de sobrevida. Já os tumores agressivos, com invasão linfática ou metástases à distância, requerem tratamento adjuvante e têm prognóstico reservado (BORGES, 2023). O acompanhamento periódico com exames clínicos e de imagem é fundamental para garantir a detecção precoce de recidivas e a manutenção da qualidade de vida da paciente (AQUINO, 2021; OLIVEIRA et al., 2023). Assim, a mastectomia unilateral total se destaca como a técnica de eleição nos casos de múltiplas neoplasias mamárias em uma única cadeia, por oferecer controle local efetivo e melhor prognóstico em pacientes bem selecionadas. O sucesso do tratamento está diretamente relacionado ao diagnóstico precoce, à execução correta da técnica cirúrgica e à adesão aos cuidados pós-operatórios. Referências Bibliográficas 1. AHOUAGI, Grazielly Atalaia; OSHIO, Leonardo Toshio. Carcinoma inflamatório mamário em pequenos animais: revisão de literatura. [S.l.]: UNIPAC, 2023. Disponível em: https://ri.unipac.br/repositorio/wp-content/uploads/tainacan-items/282/262303/GRAZI ELLY-ATALAIA-AHOUAGI-CARCINOMA-INFLAMATORIO-MAMARIO-MEDI CINA-VETERINARIA-2023.pdf. Acesso em: 19 abr. 2025. Lume+2Repositório Institucional FUPAC/UNIPAC+2Repositório UFSC+2 2. AQUINO, Angela Dagmar Gouvêa. Neoplasia mamária em cadelas: revisão de literatura. [S.l.]: UNIS, 2021. Disponível em: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/1835/1/Angela%20Dagmar%20Gouv% C3%AAa%20Aquino.pdf. Acesso em: 19 abr. 2025. 3. ESPEFELDE, L. M.; SILVA, R. F. Hiperplasia mamária e cística canina: relato de caso. Pubvet, v. 17, n. 1, p. 1-6, 2023. Disponível em: https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/3673. Acesso em: 19 abr. 2025. ojs.pubvet.com.br+4ojs.pubvet.com.br+4ojs.pubvet.com.br+4 4. CAMPOS, Ana Carolina de Souza. Mastectomia unilateral com linfadenectomia axilar em cadela: relato de caso. [S.l.]: Doctum, 2023. Disponível em: https://dspace.doctum.edu.br/bitstream/123456789/4735/1/MASTECTOMIA%20UNI LATERAL%20COM%20LINFANDENECTOMIA%20AXILAR%20EM%20CADEL A%20RELATO%20DE%20CASO.pdf. Acesso em: 19 abr. 2025. 5. MEIRELES, M. C. et al. Neoplasia mamária em caninos e felinos atendidos em clínica veterinária: estudo retrospectivo. Pubvet, v. 11, n. 1, p. 46-49, 2017. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/e20e/b0b0318026abd4c64dae86a4e5ed5bd9d061.pdf. Acesso em: 19 abr. 2025. Semantic Scholar UNA 2025 https://ri.unipac.br/repositorio/wp-content/uploads/tainacan-items/282/262303/GRAZIELLY-ATALAIA-AHOUAGI-CARCINOMA-INFLAMATORIO-MAMARIO-MEDICINA-VETERINARIA-2023.pdf https://ri.unipac.br/repositorio/wp-content/uploads/tainacan-items/282/262303/GRAZIELLY-ATALAIA-AHOUAGI-CARCINOMA-INFLAMATORIO-MAMARIO-MEDICINA-VETERINARIA-2023.pdf https://ri.unipac.br/repositorio/wp-content/uploads/tainacan-items/282/262303/GRAZIELLY-ATALAIA-AHOUAGI-CARCINOMA-INFLAMATORIO-MAMARIO-MEDICINA-VETERINARIA-2023.pdf https://ri.unipac.br/repositorio/wp-content/uploads/tainacan-items/282/262303/GRAZIELLY-ATALAIA-AHOUAGI-CARCINOMA-INFLAMATORIO-MAMARIO-MEDICINA-VETERINARIA-2023.pdf?utm_source=chatgpt.com https://ri.unipac.br/repositorio/wp-content/uploads/tainacan-items/282/262303/GRAZIELLY-ATALAIA-AHOUAGI-CARCINOMA-INFLAMATORIO-MAMARIO-MEDICINA-VETERINARIA-2023.pdf?utm_source=chatgpt.com http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/1835/1/Angela%20Dagmar%20Gouv%C3%AAa%20Aquino.pdf http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/1835/1/Angela%20Dagmar%20Gouv%C3%AAa%20Aquino.pdf https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/3673 https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/3673?utm_source=chatgpt.com https://dspace.doctum.edu.br/bitstream/123456789/4735/1/MASTECTOMIA%20UNILATERAL%20COM%20LINFANDENECTOMIA%20AXILAR%20EM%20CADELA%20RELATO%20DE%20CASO.pdf https://dspace.doctum.edu.br/bitstream/123456789/4735/1/MASTECTOMIA%20UNILATERAL%20COM%20LINFANDENECTOMIA%20AXILAR%20EM%20CADELA%20RELATO%20DE%20CASO.pdf https://dspace.doctum.edu.br/bitstream/123456789/4735/1/MASTECTOMIA%20UNILATERAL%20COM%20LINFANDENECTOMIA%20AXILAR%20EM%20CADELA%20RELATO%20DE%20CASO.pdf https://pdfs.semanticscholar.org/e20e/b0b0318026abd4c64dae86a4e5ed5bd9d061.pdf https://pdfs.semanticscholar.org/e20e/b0b0318026abd4c64dae86a4e5ed5bd9d061.pdf?utm_source=chatgpt.com 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Neoplasia Mamária em Cadelas 2.2 Estadiamento das Neoplasias Mamárias 2.3.1 Técnica Cirúrgica 2.3.2 Associação com OSH 2.4 Avaliação Histopatológica 2.5 Cuidados Pós-Cirúrgicos 2.6 Prognóstico e Considerações Finais Referências Bibliográficas