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FACPRISMA – FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR LTDA 
 
 
 
CARLOS ANDRÉ COSTA DINIZ 
 
 
 
 
 
OS PRIMEIROS BONECOS GIGANTES DA CIDADE DE BELÉM DO SÃO 
FRANCISCO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM DO SÃO FRANCISCO - PE 
2025 
 
 
 
 
 
CARLOS ANDRÉ COSTA DINIZ 
 
 
OS PRIMEIROS BONECOS GIGANTES DA CIDADE DE BELÉM DO SÃO 
FRANCISCO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização 
em: Ensino de Artes, apresentado ao Instituto 
FACPRISMA EAD de Coronel Fabriciano - MG, 
como requisito parcial para a obtenção de nota do 
TCC 
 
Orientador(a): Maria Eduarda Oliveira de Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM DO SÃO FRANCISCO - PE 
2025 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho às minhas filhas, fonte do meu amor, força e inspiração. Que 
este esforço reflita o exemplo que desejo deixar para vocês: acreditar, persistir e 
nunca desistir dos sonhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Toda criança é uma artista. O problema 
é como permanecer um artista depois de 
crescer." 
 Pablo Picasso 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso, realizado por meio de revisão 
bibliográfica, investiga a origem, a consolidação e o legado dos bonecos gigantes de 
Belém do São Francisco, Pernambuco, reconhecidos como o berço desta tradicional 
manifestação cultural brasileira. O objetivo principal é analisar a trajetória histórica dos 
bonecos, desde a criação de Zé Pereira em 1919, e destacar sua importância como 
patrimônio cultural e sua influência sobre outras festas carnavalescas, notadamente a 
de Olinda. A metodologia empregada foi a revisão bibliográfica, com base na análise 
de artigos acadêmicos, livros, reportagens e material documental que abordam o 
tema. A pesquisa revelou que a tradição, inspirada em relatos europeus e adaptada 
pela criatividade local, consolidou-se como um pilar da identidade belemita, sendo 
oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco. 
Conclui-se que Belém do São Francisco detém um papel pioneiro e de fundamental 
importância na história de uma das mais ricas expressões do carnaval nacional, sendo 
a gênese de uma tradição que hoje encanta o Brasil. Este estudo contribui para o 
campo acadêmico ao sistematizar informações dispersas e valorizar a história de uma 
manifestação central da cultura popular brasileira. 
 
Palavras-chave: Bonecos Gigantes. Belém do São Francisco. Carnaval. Cultura 
Popular. Patrimônio Imaterial. 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This Course Completion Work, carried out through a literature review, 
investigates the origin, consolidation, and legacy of the giant puppets of Belém do São 
Francisco, Pernambuco, recognized as the birthplace of this traditional Brazilian 
cultural manifestation. The main objective is to analyze the historical trajectory of the 
puppets, from the creation of Zé Pereira in 1919, and highlight their importance as 
cultural heritage and their influence on other Carnival festivities, notably that of Olinda. 
The methodology used was the literature review, based on the analysis of academic 
articles, books, reports, and documentary material that address the topic. The research 
revealed that the tradition, inspired by European accounts and adapted by local 
creativity, has consolidated itself as a pillar of Belém's identity, being officially 
recognized as Cultural and Intangible Heritage of Pernambuco. It is concluded that 
Belém do São Francisco holds a pioneering and fundamental role in the history of one 
of the richest expressions of the national carnival, being the genesis of a tradition that 
today enchants Brazil. This study contributes to the academic field by systematizing 
dispersed information and valuing the history of a central manifestation of Brazilian 
popular culture. 
 
Keywords: Giant Puppets. Belém do São Francisco. Carnival. Popular Culture. 
Intangible Heritage. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 
2 CAPÍTULO 1: BELÉM DO SÃO FRANCISCO: O CONTEXTO GEOGRÁFICO E 
CULTURAL DE UM BERÇO CRIATIVO ................................................................... 11 
2.1. O rio São Francisco como eixo civilizatório ..................................................... 11 
2.2. A sociedade belemita no início do século xx: estrutura e cotidiano ................ 12 
2.3. O carnaval de Belém antes dos gigantes: tradição e potencial criativo .......... 12 
3 CAPÍTULO 2: A GÊNESE DOS GIGANTES: ZÉ PEREIRA E A INFLUÊNCIA 
EUROPEIA ................................................................................................................ 14 
3.1. A inspiração europeia e o padre Norberto Phalempin ..................................... 14 
3.2. Gumercindo pires de carvalho e a criação de zé pereira ................................ 14 
3.3. A técnica do papel machê e o espírito da arte popular ................................... 15 
4 CAPÍTULO 3: A CONSOLIDAÇÃO DE UMA TRADIÇÃO: VITALINA E O 
RECONHECIMENTO COMO PATRIMÔNIO ............................................................ 16 
4.1. A chegada de vitalina: A companheira que consolidou a tradição .................. 16 
4.2. O "casamento" dos gigantes e o crescimento da festa ................................... 17 
4.3. O reconhecimento oficial como patrimônio cultural e imaterial ....................... 17 
5 CAPÍTULO 4: O LEGADO DOS GIGANTES: A INFLUÊNCIA SOBRE O 
CARNAVAL DE OLINDA ........................................................................................... 19 
5.1. A jornada da tradição: de Belém a Olinda ....................................................... 19 
5.2. O florescimento em Olinda e o ofuscamento da origem ................................. 20 
5.3. O resgate da memória e o reconhecimento da primazia belemita .................. 20 
6 CAPÍTULO 5: ANÁLISE SIMBÓLICA E CULTURAL DOS BONECOS GIGANTES
 .................................................................................................................................. 22 
6.1. A caricatura como espelho e crítica social: a elevação do cotidiano ao 
monumental ........................................................................................................... 22 
6.2. O corpo coletivo e a materialização da comunidade: a força da união ........... 23 
6.3. O gigantismo como inversão carnavalesca e a utopia da liberdade ............... 24 
 
 
 
 
7 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 26 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28 
 
 
 
9 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O carnaval brasileiro é um vasto mosaico de manifestações culturais, e entre 
as mais icônicas estão os bonecos gigantes que dançam pelas ruas, encantando 
multidões. Embora frequentemente associados à cidade de Olinda, a verdadeira 
origem dessa tradição remonta ao sertão de Pernambuco, na cidade de Belém do São 
Francisco. Este trabalho se dedica a explorar a história pioneira e a relevância cultural 
dos primeiros bonecos gigantes, que surgiram como uma expressão autêntica da 
criatividade popular e se tornaram um pilar da identidade local. 
Nesse contexto, a presente pesquisa busca responder à seguinte questão-
problema: De que maneira a tradição dos bonecos gigantes de Belém do São 
Francisco, iniciada com Zé Pereira e Vitalina, se consolidou como um marco cultural 
e influenciou outras manifestações carnavalescas no Brasil? 
O objetivo geral deste estudo é analisar a origem e a trajetória histórica dos 
bonecos gigantes de Belém do São Francisco, destacando sua importância como 
patrimônio cultural e sua influência no carnaval brasileiro. Paratanto, foram traçados 
os seguintes objetivos específicos: investigar o contexto histórico e cultural que levou 
à criação do primeiro boneco em 1919; descrever a evolução da tradição e como ela 
se tornou um símbolo da identidade local; e mapear a influência dos bonecos de 
Belém sobre tradições similares, com foco em Olinda. 
Para a realização deste estudo, adotou-se como metodologia a revisão 
bibliográfica e a pesquisa documental. A pesquisa consistiu no levantamento e na 
análise crítica de fontes acadêmicas, livros, material jornalístico e legislação 
pertinente. Os critérios para a seleção das fontes priorizaram: (1) obras de autores de 
referência nos estudos sobre carnaval e cultura popular no Brasil; (2) publicações de 
instituições de pesquisa cultural, como a Fundação Joaquim Nabuco; e (3) 
documentos oficiais, como leis de reconhecimento de patrimônio, que conferem 
validade institucional à análise. O trabalho busca, assim, reconstruir a cronologia dos 
eventos, identificar os principais personagens envolvidos e analisar o impacto cultural 
da tradição. 
 
 
10 
 
A justificativa para esta pesquisa reside na crescente necessidade de 
aprofundar e sistematizar o conhecimento sobre uma das mais autênticas 
manifestações da cultura popular brasileira. O trabalho contribui em três frentes: 
academicamente, preenche uma lacuna na literatura sobre o carnaval; culturalmente, 
valoriza o patrimônio imaterial de Pernambuco; e, socialmente, solidifica a identidade 
de Belém do São Francisco como um polo de importância histórica nacional. 
 
 
 
11 
 
2 CAPÍTULO 1: BELÉM DO SÃO FRANCISCO: O CONTEXTO GEOGRÁFICO E 
CULTURAL DE UM BERÇO CRIATIVO 
 
Para compreender a gênese de uma manifestação cultural tão singular e 
impactante como a dos bonecos gigantes, é imperativo mergulhar no cenário que a 
tornou possível. A cidade de Belém do São Francisco, no final do século XIX e início 
do século XX, não era apenas um ponto no mapa do sertão de Pernambuco, mas um 
complexo e vibrante entreposto social, econômico e, fundamentalmente, cultural. A 
análise desse contexto revela os elementos que formaram o terreno fértil de onde 
brotou a criatividade de Gumercindo Pires de Carvalho. 
 
2.1. O rio São Francisco como eixo civilizatório 
 
A identidade de Belém do São Francisco é indissociável do rio que lhe dá o 
nome. O Rio São Francisco, historicamente apelidado de "Rio da Unidade Nacional" 
ou "Velho Chico", funcionava como a principal artéria da região, um verdadeiro eixo 
civilizatório. Em uma época de estradas precárias ou inexistentes, o rio era a via 
primordial para o transporte de mercadorias, o escoamento da produção agrícola e 
pecuária, e o trânsito de pessoas. Essa função logística, por si só, já posicionava a 
cidade como um ponto de parada e de trocas comerciais, um entreposto vital no sertão 
pernambucano. Contudo, o papel do rio transcendia o meramente econômico. Cada 
embarcação que atracava em seu porto trazia consigo não apenas produtos, mas 
também notícias, ideias, modas e, sobretudo, novas influências culturais. Vendedores, 
tropeiros, pregadores religiosos e viajantes de diversas partes do Brasil circulavam 
por suas águas, fazendo de Belém um microcosmo de influências diversas. Essa 
constante troca com o mundo de fora impedia o isolamento cultural que se poderia 
esperar de uma cidade sertaneja, criando uma população habituada à novidade e 
aberta a novas formas de expressão. A cultura ribeirinha, com suas próprias lendas, 
canções e saberes, era, portanto, dinâmica e permeável, absorvendo e transformando 
elementos externos em algo genuinamente local. 
 
 
 
12 
 
2.2. A sociedade belemita no início do século xx: estrutura e cotidiano 
 
No início do século XX, a sociedade belemita era marcada por uma estrutura 
social típica do sertão nordestino, com uma elite formada por coronéis e grandes 
proprietários de terra, e uma base populacional composta por agricultores, 
pescadores, artesãos e pequenos comerciantes. A vida comunitária era o pilar que 
unia esses diferentes estratos, e ela se manifestava de forma mais intensa nos 
espaços públicos, principalmente durante as celebrações. As festas religiosas, como 
as da padroeira Nossa Senhora do Patrocínio, eram eventos de grande mobilização 
social. Elas não se restringiam aos ritos litúrgicos dentro da igreja; expandiam-se para 
as ruas em forma de procissões, quermesses e feiras, momentos em que toda a 
comunidade se encontrava, celebrava e reafirmava seus laços de pertencimento. 
Essa efervescência social e a forte coesão comunitária criavam um ambiente propício 
para o surgimento de manifestações culturais que pudessem expressar a identidade 
e os valores locais. A participação coletiva, a oralidade e a transmissão de saberes de 
geração em geração eram características marcantes desse contexto, elementos que 
seriam cruciais para a perpetuação da tradição dos bonecos gigantes. 
 
2.3. O carnaval de Belém antes dos gigantes: tradição e potencial criativo 
 
O carnaval, por sua vez, era a expressão máxima da festa popular em Belém 
do São Francisco. Antes de 1919, era celebrado de forma espontânea, com blocos de 
rua, fantasias improvisadas e a tradição do "Zé Pereira". Essa tradição, de origem 
portuguesa, consistia em sair pelas ruas em grupos ruidosos, tocando bumbos e 
tambores para anunciar a chegada da folia. Foi nesse ambiente, de uma comunidade 
já habituada a usar o espaço público para expressar sua fé e sua alegria, que a ideia 
de dar um corpo a esse som encontrou um solo fértil. Como aponta Leonardo Dantas 
Silva (2019, p. 88), a história do carnaval em Pernambuco é marcada pela constante 
incorporação de novidades, desde o entrudo português até os clubes de frevo. A 
criação do primeiro boneco gigante em Belém do São Francisco, portanto, não foi um 
ato isolado, mas sim o fruto de um ambiente cultural pulsante, pronto para dar vida a 
 
 
13 
 
uma de suas mais geniais tradições, um ato que deu forma, rosto e gigantismo a um 
som que, até então, era apenas música. Este cenário de efervescência cultural, 
permeabilidade a influências externas e uma forte tradição de festas populares, com 
destaque para o carnaval, pavimentou o caminho para a inovação que viria a se tornar 
um símbolo nacional. A capacidade da comunidade de absorver e ressignificar 
elementos culturais externos, aliada à sua própria criatividade, foi o catalisador para o 
surgimento dos bonecos gigantes, que se enraizaram profundamente na identidade 
local e se projetaram para além das fronteiras do sertão pernambucano. 
 
 
 
14 
 
3 CAPÍTULO 2: A GÊNESE DOS GIGANTES: ZÉ PEREIRA E A INFLUÊNCIA 
EUROPEIA 
 
A inovação cultural frequentemente nasce do encontro entre a tradição local e 
as influências externas. Em Belém do São Francisco, a criação do primeiro boneco 
gigante é o exemplo perfeito dessa fusão, um evento que une a criatividade sertaneja 
a uma inspiração vinda do outro lado do Atlântico. A história dessa tradição começa 
com a chegada de um religioso belga à cidade, o Padre Norberto Phalempin. 
 
 3.1. A inspiração europeia e o padre Norberto Phalempin 
 
Toda a narrativa sobre a gênese do primeiro boneco, desde a inspiração 
europeia até a escolha do personagem, é detalhada pela historiadora Tercina Lustosa 
(2005, cap. 2). Segundo a autora, no início do século XX, o padre, durante suas 
pregações, descrevia com entusiasmo as festividades religiosas de sua terra natal, na 
Europa, onde figuras gigantescas desfilavam pelas ruas. Fascinado por esses relatos, 
o artesão local Gumercindo Pires de Carvalho vislumbrou a possibilidade de adaptar 
aquela tradição, ressignificando sua origem sacra para adequá-la à celebração 
popular e à alegria contagiante do carnaval de Belém. Essa transposição cultural, de 
um contexto religioso europeu para uma festa popular brasileira, demonstra a 
capacidade de apropriação eressignificação cultural que é tão característica das 
manifestações folclóricas do Brasil. 
 
3.2. Gumercindo pires de carvalho e a criação de zé pereira 
 
A genialidade de Gumercindo não esteve apenas em replicar uma ideia, mas 
em traduzi-la para a realidade local, infundindo-lhe a alma e o humor do povo belemita. 
O personagem escolhido para ser imortalizado não foi um santo ou uma figura 
distante, mas uma pessoa real e querida na cidade: um boêmio e festeiro local, 
eternizado com o nome de Zé Pereira. Essa escolha reflete a profunda conexão da 
 
 
15 
 
arte popular com o cotidiano e as figuras emblemáticas da comunidade. A confecção 
do boneco foi um processo que demonstrou a engenhosidade popular e a maestria 
artesanal de Gumercindo. Utilizando a técnica do papel machê, que aprendera com 
uma tia, ele moldou uma cabeça de proporções exageradas, conferindo ao boneco 
uma expressividade única. O corpo foi construído com uma estrutura de madeira leve, 
projetada para ser vestida por um folião, que daria movimento e vida ao gigante, 
transformando-o em uma extensão do corpo humano e da alegria carnavalesca. 
 
3.3. A técnica do papel machê e o espírito da arte popular 
 
A escolha por essa técnica não foi aleatória e merece uma análise mais 
aprofundada, pois ela encapsula o espírito da arte popular e a inventividade brasileira. 
O papel machê é uma tecnologia artesanal que remonta a séculos, valorizada por sua 
acessibilidade, baixo custo e versatilidade. Como descreve a historiadora da arte, Ana 
Mae Barbosa (1991, p. 45): 
O papel, material de nossa civilização letrada, quando transformado em polpa 
ou em tiras sobrepostas com cola, ganha tridimensionalidade e se torna um 
meio de expressão escultórica acessível. Permite a criação de formas 
complexas com materiais simples e de baixo custo, sendo um veículo ideal 
para a arte popular, que floresce a partir dos recursos disponíveis na 
comunidade. 
A aplicação dessa técnica por Gumercindo, portanto, representa perfeitamente 
o espírito da arte popular: a transformação de materiais cotidianos em uma obra de 
grande significado cultural. Ele não precisou de mármore ou bronze; com jornal, cola 
e talento, ele ergueu um monumento que se tornaria um ícone. Finalmente, no 
carnaval de 1919, a cidade testemunhou um evento sem precedentes. Pelas ruas, 
surgiu uma figura imensa, dançando e interagindo com a população. O impacto foi 
imediato: a surpresa converteu-se em euforia. Aquele carnaval marcou o nascimento 
de uma tradição que se tornaria o maior símbolo cultural da cidade, um testemunho 
da capacidade da arte popular de inovar e encantar. 
 
 
16 
 
4 CAPÍTULO 3: A CONSOLIDAÇÃO DE UMA TRADIÇÃO: VITALINA E O 
RECONHECIMENTO COMO PATRIMÔNIO 
 
O sucesso estrondoso de Zé Pereira no carnaval de 1919 garantiu que o 
gigante voltasse às ruas nos anos seguintes, sempre como a grande atração da festa. 
A figura do boêmio gigante rapidamente se tornou um ícone local, aguardado com 
ansiedade a cada folia. No entanto, a consolidação definitiva da tradição, 
transformando uma brincadeira isolada em um ritual anual e inquestionável, ocorreria 
uma década depois, com a criação de uma companheira para o solitário folião. A 
chegada de Vitalina não apenas deu um novo fôlego à brincadeira, mas também a 
enraizou profundamente no imaginário popular como uma representação da vida 
comunitária e familiar, um espelho das relações sociais da própria Belém do São 
Francisco. 
 
4.1. A chegada de vitalina: A companheira que consolidou a tradição 
 
Conforme relata Lustosa (2005, cap. 3), em 1929, dez anos após a estreia de 
Zé Pereira, Gumercindo Pires de Carvalho, o visionário artesão, decidiu que seu 
gigante não deveria mais dançar sozinho. Inspirado pela mesma lógica que deu vida 
ao primeiro boneco – a imortalização de uma figura popular local – ele escolheu outra 
personalidade conhecida da cidade para ser eternizada: uma mulher chamada 
Vitalina. Assim como Zé Pereira, Vitalina era uma figura popular e animada da 
comunidade, conhecida por sua alegria e participação nas festividades. Nascia, assim, 
a parceira que completaria a dupla mais famosa do carnaval belemita, estabelecendo 
um arquétipo que seria replicado em diversas outras manifestações de bonecos 
gigantes pelo Brasil. 
 
 
 
17 
 
4.2. O "casamento" dos gigantes e o crescimento da festa 
 
A criação de Vitalina seguiu a mesma técnica artesanal de papel machê e 
estrutura de madeira utilizada em Zé Pereira, mas com traços femininos, roupas 
coloridas e um semblante que transmitia a mesma alegria contagiante de seu 
companheiro. A estreia da boneca ao lado de Zé Pereira foi um marco inesquecível 
para a cidade. Juntos, eles formavam um "casal", uma representação simbólica da 
estrutura familiar e da união, valores tão centrais na cultura nordestina. O "casamento" 
dos gigantes foi celebrado pelo povo com enorme entusiasmo, e a dupla passou a 
desfilar junta, dançando ao som vibrante de orquestras de frevo e marchinhas, para a 
alegria e o delírio dos foliões. Essa união simbólica reforçou o caráter comunitário da 
festa e a identificação da população com seus gigantes. 
Com o passar dos anos, a presença de Zé Pereira e Vitalina deixou de ser 
apenas uma atração e tornou-se o coração pulsante do carnaval de Belém do São 
Francisco. A festa cresceu exponencialmente em torno deles. Novas orquestras foram 
formadas, mais pessoas se engajaram na organização dos desfiles, e a "brincadeira 
dos bonecos" virou um ritual sagrado para a cidade. A tradição foi passada de geração 
em geração, com os mais velhos ensinando aos mais novos a arte de confeccionar, 
carregar e dançar com os gigantes, garantindo a perenidade e a vitalidade dessa 
manifestação cultural. Esse processo de transmissão oral e prática é fundamental 
para a manutenção do patrimônio imaterial, uma ideia amplamente defendida por Luís 
da Câmara Cascudo em seus estudos sobre o folclore brasileiro (CASCUDO, 2012), 
onde a tradição se mantém viva na prática e no ensinamento contínuo. 
 
4.3. O reconhecimento oficial como patrimônio cultural e imaterial 
 
A importância da dupla para a identidade local é tão significativa que, em 2017, 
os Bonecos Gigantes de Belém do São Francisco foram oficialmente reconhecidos 
pelo poder público. Através da Lei Estadual nº 16.053 (PERNAMBUCO, 2017), eles 
foram declarados Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco. Essa titulação 
formaliza o que o povo belemita já sabia há quase um século: Zé Pereira e Vitalina 
 
 
18 
 
não são apenas bonecos, mas guardiões da memória, da alegria e da cultura de sua 
gente. O reconhecimento oficial não é apenas um ato burocrático; é a chancela do 
Estado à relevância cultural de uma manifestação que nasceu da espontaneidade 
popular e se tornou um símbolo de resistência e identidade. A criação do Memorial Zé 
Pereira e Vitalina na cidade é outra prova desse profundo reconhecimento, um espaço 
dedicado a preservar não apenas as peças originais, mas, sobretudo, a rica história e 
o legado imaterial que elas representam para as futuras gerações e para o cenário 
cultural brasileiro. 
 
 
 
19 
 
5 CAPÍTULO 4: O LEGADO DOS GIGANTES: A INFLUÊNCIA SOBRE O 
CARNAVAL DE OLINDA 
 
A força de uma manifestação cultural pode ser medida por sua capacidade de 
inspirar e se multiplicar, transcendendo suas fronteiras geográficas de origem. A 
tradição dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco não ficou restrita às 
margens do Velho Chico; ela viajou, influenciou e ajudou a moldar uma das mais 
famosas expressões do carnaval brasileiro. Conforme destaca a pesquisadora Maria 
do Carmo Andrade (2009), em artigo para a Fundação Joaquim Nabuco, embora os 
bonecos gigantes sejam hoje um símbolo indissociável do carnaval de Olinda, sua 
origem remonta, de forma inquestionável, ao interior do estado de Pernambuco, 
especificamente à cidade de Belémdo São Francisco. Essa jornada da tradição, do 
sertão para o litoral, é um testemunho da vitalidade e do poder de disseminação da 
cultura popular. 
 
5.1. A jornada da tradição: de Belém a Olinda 
 
A conexão mais emblemática entre Belém e Olinda materializou-se em 1932, 
treze anos após a estreia de Zé Pereira. Naquele ano, o folião olindense Benedito da 
Silva, conhecido como "Bebé", criou o que viria a ser o mais icônico dos bonecos de 
Olinda: o Homem da Meia-Noite. As fontes históricas e a memória oral apontam que 
a inspiração para a criação do Homem da Meia-Noite veio diretamente da tradição já 
consolidada em Belém do São Francisco. A ideia de um gigante dançante, que abria 
o carnaval com sua figura imponente e misteriosa, foi um conceito importado do sertão 
para o litoral, provavelmente levado por viajantes, comerciantes ou por notícias que 
circulavam no estado, evidenciando a permeabilidade cultural entre as diferentes 
regiões de Pernambuco. 
 
 
 
20 
 
5.2. O florescimento em Olinda e o ofuscamento da origem 
 
A partir da criação do Homem da Meia-Noite, a tradição floresceu em Olinda de 
maneira espetacular. A cidade, com suas ladeiras e seu carnaval espontâneo, 
ofereceu um palco ideal para a proliferação dos gigantes. Dezenas de outros bonecos 
foram criados, representando personalidades locais, nacionais e internacionais, 
transformando as ladeiras da cidade em um palco mundialmente famoso para o desfile 
dos gigantes. Essa explosão de criatividade e a popularidade crescente dos bonecos 
em Olinda são testemunhos da força da ideia original de Gumercindo Pires de 
Carvalho. 
Contudo, com o passar das décadas, a popularidade avassaladora do carnaval 
de Olinda acabou por ofuscar a sua verdadeira origem. O imaginário popular brasileiro 
passou a associar, quase que exclusivamente, os bonecos gigantes à cidade de 
Olinda, enquanto Belém do São Francisco e sua história pioneira permaneciam em 
um relativo esquecimento fora de suas fronteiras. Esse fenômeno de apropriação e 
ressignificação é comum em manifestações culturais, onde a visibilidade e o contexto 
de maior projeção acabam por reescrever a narrativa da origem. Como observa Maria 
Isaura Pereira de Queiroz (1992 p.22), o carnaval, em sua dinâmica de constante 
reinvenção, muitas vezes absorve e transforma elementos, tornando-os parte de sua 
própria história, independentemente de sua gênese. 
 
5.3. O resgate da memória e o reconhecimento da primazia belemita 
 
O processo de resgate e reconhecimento da primazia belemita foi lento e, 
curiosamente, impulsionado por artistas e pesquisadores da própria Olinda. Em suas 
investigações sobre a origem de suas tradições carnavalescas, historiadores e 
carnavalescos olindenses redescobriram a história de Gumercindo Pires e do Zé 
Pereira. Essa informação começou a ser divulgada no início dos anos 2000, causando 
surpresa até mesmo para muitos belemitas, que não tinham a dimensão completa da 
importância de sua própria festa e de seu papel fundador. 
 
 
21 
 
Hoje, o legado de Belém do São Francisco é duplo. Por um lado, a cidade se 
orgulha de ser a "mãe" de uma tradição que encanta o Brasil e o mundo através das 
ladeiras de Olinda, um reconhecimento que fortalece o orgulho local e a identidade 
cultural. Por outro, Belém luta para ter sua própria história valorizada e reconhecida 
em âmbito nacional e internacional. A lei que transformou os bonecos em patrimônio 
imaterial foi um passo fundamental nesse processo, mas a batalha pela memória 
continua, travada a cada desfile, a cada reportagem e a cada trabalho acadêmico que 
se dedica a contar essa história desde o seu verdadeiro começo. A valorização da 
origem é crucial para a compreensão da complexidade e da riqueza do carnaval 
brasileiro como um todo, e Belém do São Francisco emerge como um pilar 
fundamental dessa narrativa. 
 
 
 
22 
 
6 CAPÍTULO 5: ANÁLISE SIMBÓLICA E CULTURAL DOS BONECOS GIGANTES 
 
Para além da indispensável reconstituição histórica, a compreensão plena da 
longevidade e do impacto dos Bonecos Gigantes de Belém do São Francisco exige 
uma análise de sua densa carga simbólica. Os gigantes não são meros objetos 
alegóricos; eles operam como complexos signos culturais que dialogam diretamente 
com a estrutura social, a identidade coletiva e os anseios da comunidade que os 
produziu. 
 
6.1. A caricatura como espelho e crítica social: a elevação do cotidiano ao 
monumental 
 
A escolha de Gumercindo Pires de Carvalho por imortalizar figuras populares 
locais, como Zé Pereira e Vitalina, é o gesto fundador do principal simbolismo dos 
bonecos: a elevação do homem comum à categoria de monumento. Essa decisão não 
foi aleatória; ela reflete uma profunda compreensão da dinâmica social e cultural de 
Belém do São Francisco. A técnica da caricatura, com suas feições deliberadamente 
exageradas, é a ferramenta que permite uma sofisticada dupla leitura, atuando como 
um espelho da comunidade e, ao mesmo tempo, como um instrumento de crítica 
social sutil, mas eficaz. 
Por um lado, a caricatura é uma homenagem afetuosa, um ato de 
reconhecimento que celebra as características marcantes e a notoriedade da pessoa 
dentro da comunidade. O exagero de um traço físico ou de uma expressão facial torna 
o indivíduo instantaneamente reconhecível e, ao mesmo tempo, eterniza sua memória 
no imaginário coletivo. É a consagração do "ser comum", do cidadão do povo, que, 
por sua vivacidade ou peculiaridades, se destaca no tecido social. Essa elevação do 
cotidiano ao monumental reforça o orgulho local e a identificação da comunidade com 
suas próprias figuras, transformando-as em heróis populares. 
Por outro lado, a caricatura é um poderoso instrumento de crítica social e de 
humor. Ao transformar uma pessoa em um gigante desajeitado e dançante, a 
comunidade se permite "brincar" com suas próprias figuras, relativizando hierarquias 
 
 
23 
 
e poder. Essa prática se alinha ao que Bakhtin (1987 p 12) descreve como o "riso 
carnavalesco", uma força que rebaixa e materializa tudo o que é alto, espiritual e 
oficial, trazendo-o para o nível da terra e do corpo. O gigante na rua é, portanto, o 
povo se vendo representado de forma monumental, uma celebração da identidade 
local que eleva o cotidiano à categoria de espetacular. É a afirmação de que os 
verdadeiros "notáveis" da cidade não são apenas as autoridades formais, mas 
também os boêmios, as festeiras e as figuras que dão cor e vida à comunidade. A 
caricatura, nesse contexto, funciona como uma válvula de escape social, permitindo 
a expressão de descontentamentos ou a simples zombaria das convenções de forma 
lúdica e aceitável, sem quebrar a ordem social, mas sim a subvertendo 
temporariamente. 
 
6.2. O corpo coletivo e a materialização da comunidade: a força da união 
 
A figura do gigante transcende sua materialidade para se tornar um símbolo do 
próprio corpo social. Primeiramente, há a simbiose fundamental entre o objeto e o ser 
humano: o boneco, inanimado, só ganha vida, movimento e alma através do corpo do 
folião que o carrega. Essa relação cria uma entidade híbrida, onde o boneco se torna 
uma extensão monumental do corpo do brincante, expressando uma alegria e uma 
energia que um corpo de tamanho normal não conseguiria. O carregador, por sua vez, 
não é um mero transportador; ele é o coração e os pulmões do gigante, conferindo-
lhe personalidade e interação com o público. Essa fusão entre homem e artefato é 
uma metáfora poderosa da capacidade humana de dar vida ao inanimado e de se 
transformar através da arte. 
De forma ainda mais ampla, o boneco representa o corpo coletivo, pois sua 
existência depende inteiramente da cooperação comunitária. Desde a concepção da 
ideia, passando pela coleta de materiais simples como papel e cola, até a confecção 
em um esforço que se assemelha a um mutirão, o gigante é o resultado tangívelda 
união de esforços. A construção de um boneco gigante é um projeto comunitário que 
envolve diferentes gerações e habilidades, desde os artesãos mais experientes até os 
jovens aprendizes. Durante o desfile, essa coletividade se manifesta no revezamento 
dos carregadores, exaustos pelo peso e pelo calor, e na orquestra que dita o ritmo de 
 
 
24 
 
seus passos. O boneco, portanto, não pertence a um indivíduo; ele é a materialização 
da própria comunidade, a prova física de que a força do grupo, quando unida por um 
propósito festivo, pode criar algo maior e mais duradouro do que qualquer um de seus 
membros isoladamente. Essa dimensão coletiva reforça os laços sociais e o 
sentimento de pertencimento, transformando a festa em um ritual de reafirmação da 
identidade comunitária. 
 
6.3. O gigantismo como inversão carnavalesca e a utopia da liberdade 
 
O gigantismo, em sua essência, é o símbolo mais potente da inversão da 
ordem, um elemento clássico do carnaval. Para Roberto DaMatta (1997 p. 58), o 
carnaval é um ritual que permite à sociedade brasileira "brincar" com suas próprias 
hierarquias, transformando o espaço social em um palco onde as regras do dia a dia 
são suspensas. Nesse sentido, os bonecos gigantes de Belém do São Francisco 
subvertem radicalmente a percepção espacial e hierárquica cotidiana. Com seus mais 
de três metros de altura, eles se tornam as figuras mais altas e dominantes da 
paisagem, diminuindo a importância visual das edificações e das autoridades formais. 
Essa subversão visual é um convite à reflexão sobre as estruturas de poder e a 
relatividade das hierarquias sociais. 
Essa inversão também é analisada por Mikhail Bakhtin (1987 p. 125), que 
argumenta que o carnaval cria um "segundo mundo", um tempo-espaço de exceção 
onde a lógica do cotidiano é virada de cabeça para baixo. A presença dos gigantes 
materializa essa teoria, instaurando um tempo onde o fantástico, o exagerado e o 
popular tomam o poder. É a celebração da utopia carnavalesca, onde, por alguns dias, 
o povo, na forma de seus representantes gigantes, pode ser a maior e mais importante 
entidade da cidade, olhando o mundo de cima, em uma explosão de riso, liberdade e 
poder simbólico. O gigantismo dos bonecos, portanto, não é apenas uma 
característica física; é uma declaração de liberdade, uma manifestação da capacidade 
do povo de transcender as limitações do cotidiano e de sonhar com um mundo onde 
a alegria e a subversão temporária das regras prevalecem. Eles são a personificação 
 
 
25 
 
da festa, da alegria desmedida e da capacidade humana de criar e celebrar a vida em 
sua plenitude. 
 
 
 
26 
 
7 CONCLUSÃO 
 
Ao longo desta pesquisa, buscou-se responder à pergunta central: "De que 
maneira a tradição dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco, iniciada com 
Zé Pereira e Vitalina, se consolidou como um marco cultural e influenciou outras 
manifestações carnavalescas no Brasil?". A trajetória investigada, desde o seu 
surgimento até o seu reconhecimento, permite-nos afirmar que a tradição não apenas 
se consolidou como um pilar da identidade belemita, mas também funcionou como a 
semente de uma das mais grandiosas expressões do carnaval brasileiro. A análise 
aprofundada revelou que a força dessa manifestação reside na sua capacidade de 
absorver influências externas, ressignificá-las no contexto local e projetar-se para 
além de suas fronteiras geográficas, tornando-se um ícone da cultura popular 
brasileira. 
A pesquisa demonstrou que a gênese dos bonecos, em 1919, foi fruto de um 
ambiente cultural fértil, onde a criatividade do artesão Gumercindo Pires de Carvalho 
encontrou a inspiração nas narrativas europeias do Padre Norberto Phalempin. Essa 
transposição cultural, de um contexto religioso europeu para uma festa popular 
brasileira, evidencia a capacidade de apropriação e ressignificação cultural que é tão 
característica das manifestações folclóricas do Brasil. A consolidação da tradição, 
como vimos, deu-se através da representação do "casal" de gigantes, que 
transformou a brincadeira em um ritual que espelhava a vida comunitária e familiar. 
Zé Pereira e Vitalina tornaram-se mais do que meros bonecos; foram elevados à 
condição de símbolos, guardiões da memória afetiva da cidade, um status que foi 
oficialmente reconhecido com o título de Patrimônio Cultural e Imaterial de 
Pernambuco, conferindo-lhes a devida chancela do Estado à sua relevância histórica 
e cultural. 
Por fim, o estudo confirmou o papel pioneiro de Belém do São Francisco ao 
mapear sua influência direta sobre o carnaval de Olinda. A criação do Homem da Meia-
Noite, inspirada no Zé Pereira, é a prova incontestável de que a tradição nascida às 
margens do São Francisco viajou e floresceu em outras terras, ainda que, por 
décadas, sua origem tenha sido ofuscada pela projeção nacional e internacional do 
carnaval olindense. Essa dinâmica de apropriação e ressignificação cultural, comum 
 
 
27 
 
em manifestações populares, reforça a necessidade de valorizar e resgatar as 
narrativas de origem para uma compreensão mais completa e justa do patrimônio 
cultural brasileiro. 
Conclui-se, portanto, que a importância dos bonecos gigantes de Belém do São 
Francisco reside em uma dupla dimensão: a de ser o coração pulsante da identidade 
cultural de sua cidade e a de ser o berço de uma manifestação que hoje é um ícone 
nacional. Este trabalho, ao sistematizar essa história através de uma revisão 
bibliográfica aprofundada, buscou contribuir para o justo reconhecimento e a 
valorização de Belém como um polo de inestimável relevância para a cultura 
brasileira, garantindo que a memória de Zé Pereira e Vitalina continue a inspirar 
futuras gerações e a reafirmar a riqueza e a diversidade do patrimônio imaterial do 
Brasil. A pesquisa reforça a ideia de que a cultura popular é um campo fértil para a 
inovação, a celebração da vida comunitária e a construção de identidades duradouras, 
merecendo sempre a atenção e o estudo acadêmico. 
 
 
28 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Publicado em: 6 ago. 2009. Disponível 
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olinda/. Acesso em: 27 ago. 2025. 
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de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987. 
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo: Perspectiva, 1991. 
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 12. ed. São Paulo: 
Global, 2012. 
DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema 
brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. 
GASPAR, Lúcia. Agremiações Carnavalescas de Pernambuco: Clubes de Bonecos. 
Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Publicado em: 6 ago. 
2009. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/agremiacoes-
carnavalescas-de-pernambuco-clubes-de-bonecos/. Acesso em: 27 ago. 2025. 
LUSTOSA, Tercina. Do Sertão a Olinda: A Incrível Jornada dos Bonecos Gigantes. 
Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 2005. 
PERNAMBUCO. Lei nº 16.053, de 6 de junho de 2017. Declara os Bonecos Gigantes 
de Belém do São Francisco Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de Pernambuco. 
Diário Oficial do Estado de Pernambuco, Recife, PE, 7 jun. 2017. 
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Carnaval brasileiro: o vivido e o mito. São Paulo: 
Brasiliense, 1992. 
SILVA, Leonardo Dantas. Carnaval do Recife. 2. ed. Recife: Cepe Editora, 2019. 
SILVA, Maria Angélica. A Festa dos Bonecos: identidade e tradição no carnaval de 
Belém do São Francisco. Revista de Estudos do Folclore, v. 12, n. 2, p. 45-62, 2018. 
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