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FACPRISMA – FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR LTDA CARLOS ANDRÉ COSTA DINIZ OS PRIMEIROS BONECOS GIGANTES DA CIDADE DE BELÉM DO SÃO FRANCISCO BELÉM DO SÃO FRANCISCO - PE 2025 CARLOS ANDRÉ COSTA DINIZ OS PRIMEIROS BONECOS GIGANTES DA CIDADE DE BELÉM DO SÃO FRANCISCO Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em: Ensino de Artes, apresentado ao Instituto FACPRISMA EAD de Coronel Fabriciano - MG, como requisito parcial para a obtenção de nota do TCC Orientador(a): Maria Eduarda Oliveira de Souza BELÉM DO SÃO FRANCISCO - PE 2025 Dedico este trabalho às minhas filhas, fonte do meu amor, força e inspiração. Que este esforço reflita o exemplo que desejo deixar para vocês: acreditar, persistir e nunca desistir dos sonhos. "Toda criança é uma artista. O problema é como permanecer um artista depois de crescer." Pablo Picasso RESUMO Este Trabalho de Conclusão de Curso, realizado por meio de revisão bibliográfica, investiga a origem, a consolidação e o legado dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco, Pernambuco, reconhecidos como o berço desta tradicional manifestação cultural brasileira. O objetivo principal é analisar a trajetória histórica dos bonecos, desde a criação de Zé Pereira em 1919, e destacar sua importância como patrimônio cultural e sua influência sobre outras festas carnavalescas, notadamente a de Olinda. A metodologia empregada foi a revisão bibliográfica, com base na análise de artigos acadêmicos, livros, reportagens e material documental que abordam o tema. A pesquisa revelou que a tradição, inspirada em relatos europeus e adaptada pela criatividade local, consolidou-se como um pilar da identidade belemita, sendo oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco. Conclui-se que Belém do São Francisco detém um papel pioneiro e de fundamental importância na história de uma das mais ricas expressões do carnaval nacional, sendo a gênese de uma tradição que hoje encanta o Brasil. Este estudo contribui para o campo acadêmico ao sistematizar informações dispersas e valorizar a história de uma manifestação central da cultura popular brasileira. Palavras-chave: Bonecos Gigantes. Belém do São Francisco. Carnaval. Cultura Popular. Patrimônio Imaterial. ABSTRACT This Course Completion Work, carried out through a literature review, investigates the origin, consolidation, and legacy of the giant puppets of Belém do São Francisco, Pernambuco, recognized as the birthplace of this traditional Brazilian cultural manifestation. The main objective is to analyze the historical trajectory of the puppets, from the creation of Zé Pereira in 1919, and highlight their importance as cultural heritage and their influence on other Carnival festivities, notably that of Olinda. The methodology used was the literature review, based on the analysis of academic articles, books, reports, and documentary material that address the topic. The research revealed that the tradition, inspired by European accounts and adapted by local creativity, has consolidated itself as a pillar of Belém's identity, being officially recognized as Cultural and Intangible Heritage of Pernambuco. It is concluded that Belém do São Francisco holds a pioneering and fundamental role in the history of one of the richest expressions of the national carnival, being the genesis of a tradition that today enchants Brazil. This study contributes to the academic field by systematizing dispersed information and valuing the history of a central manifestation of Brazilian popular culture. Keywords: Giant Puppets. Belém do São Francisco. Carnival. Popular Culture. Intangible Heritage. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2 CAPÍTULO 1: BELÉM DO SÃO FRANCISCO: O CONTEXTO GEOGRÁFICO E CULTURAL DE UM BERÇO CRIATIVO ................................................................... 11 2.1. O rio São Francisco como eixo civilizatório ..................................................... 11 2.2. A sociedade belemita no início do século xx: estrutura e cotidiano ................ 12 2.3. O carnaval de Belém antes dos gigantes: tradição e potencial criativo .......... 12 3 CAPÍTULO 2: A GÊNESE DOS GIGANTES: ZÉ PEREIRA E A INFLUÊNCIA EUROPEIA ................................................................................................................ 14 3.1. A inspiração europeia e o padre Norberto Phalempin ..................................... 14 3.2. Gumercindo pires de carvalho e a criação de zé pereira ................................ 14 3.3. A técnica do papel machê e o espírito da arte popular ................................... 15 4 CAPÍTULO 3: A CONSOLIDAÇÃO DE UMA TRADIÇÃO: VITALINA E O RECONHECIMENTO COMO PATRIMÔNIO ............................................................ 16 4.1. A chegada de vitalina: A companheira que consolidou a tradição .................. 16 4.2. O "casamento" dos gigantes e o crescimento da festa ................................... 17 4.3. O reconhecimento oficial como patrimônio cultural e imaterial ....................... 17 5 CAPÍTULO 4: O LEGADO DOS GIGANTES: A INFLUÊNCIA SOBRE O CARNAVAL DE OLINDA ........................................................................................... 19 5.1. A jornada da tradição: de Belém a Olinda ....................................................... 19 5.2. O florescimento em Olinda e o ofuscamento da origem ................................. 20 5.3. O resgate da memória e o reconhecimento da primazia belemita .................. 20 6 CAPÍTULO 5: ANÁLISE SIMBÓLICA E CULTURAL DOS BONECOS GIGANTES .................................................................................................................................. 22 6.1. A caricatura como espelho e crítica social: a elevação do cotidiano ao monumental ........................................................................................................... 22 6.2. O corpo coletivo e a materialização da comunidade: a força da união ........... 23 6.3. O gigantismo como inversão carnavalesca e a utopia da liberdade ............... 24 7 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 26 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28 9 1 INTRODUÇÃO O carnaval brasileiro é um vasto mosaico de manifestações culturais, e entre as mais icônicas estão os bonecos gigantes que dançam pelas ruas, encantando multidões. Embora frequentemente associados à cidade de Olinda, a verdadeira origem dessa tradição remonta ao sertão de Pernambuco, na cidade de Belém do São Francisco. Este trabalho se dedica a explorar a história pioneira e a relevância cultural dos primeiros bonecos gigantes, que surgiram como uma expressão autêntica da criatividade popular e se tornaram um pilar da identidade local. Nesse contexto, a presente pesquisa busca responder à seguinte questão- problema: De que maneira a tradição dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco, iniciada com Zé Pereira e Vitalina, se consolidou como um marco cultural e influenciou outras manifestações carnavalescas no Brasil? O objetivo geral deste estudo é analisar a origem e a trajetória histórica dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco, destacando sua importância como patrimônio cultural e sua influência no carnaval brasileiro. Paratanto, foram traçados os seguintes objetivos específicos: investigar o contexto histórico e cultural que levou à criação do primeiro boneco em 1919; descrever a evolução da tradição e como ela se tornou um símbolo da identidade local; e mapear a influência dos bonecos de Belém sobre tradições similares, com foco em Olinda. Para a realização deste estudo, adotou-se como metodologia a revisão bibliográfica e a pesquisa documental. A pesquisa consistiu no levantamento e na análise crítica de fontes acadêmicas, livros, material jornalístico e legislação pertinente. Os critérios para a seleção das fontes priorizaram: (1) obras de autores de referência nos estudos sobre carnaval e cultura popular no Brasil; (2) publicações de instituições de pesquisa cultural, como a Fundação Joaquim Nabuco; e (3) documentos oficiais, como leis de reconhecimento de patrimônio, que conferem validade institucional à análise. O trabalho busca, assim, reconstruir a cronologia dos eventos, identificar os principais personagens envolvidos e analisar o impacto cultural da tradição. 10 A justificativa para esta pesquisa reside na crescente necessidade de aprofundar e sistematizar o conhecimento sobre uma das mais autênticas manifestações da cultura popular brasileira. O trabalho contribui em três frentes: academicamente, preenche uma lacuna na literatura sobre o carnaval; culturalmente, valoriza o patrimônio imaterial de Pernambuco; e, socialmente, solidifica a identidade de Belém do São Francisco como um polo de importância histórica nacional. 11 2 CAPÍTULO 1: BELÉM DO SÃO FRANCISCO: O CONTEXTO GEOGRÁFICO E CULTURAL DE UM BERÇO CRIATIVO Para compreender a gênese de uma manifestação cultural tão singular e impactante como a dos bonecos gigantes, é imperativo mergulhar no cenário que a tornou possível. A cidade de Belém do São Francisco, no final do século XIX e início do século XX, não era apenas um ponto no mapa do sertão de Pernambuco, mas um complexo e vibrante entreposto social, econômico e, fundamentalmente, cultural. A análise desse contexto revela os elementos que formaram o terreno fértil de onde brotou a criatividade de Gumercindo Pires de Carvalho. 2.1. O rio São Francisco como eixo civilizatório A identidade de Belém do São Francisco é indissociável do rio que lhe dá o nome. O Rio São Francisco, historicamente apelidado de "Rio da Unidade Nacional" ou "Velho Chico", funcionava como a principal artéria da região, um verdadeiro eixo civilizatório. Em uma época de estradas precárias ou inexistentes, o rio era a via primordial para o transporte de mercadorias, o escoamento da produção agrícola e pecuária, e o trânsito de pessoas. Essa função logística, por si só, já posicionava a cidade como um ponto de parada e de trocas comerciais, um entreposto vital no sertão pernambucano. Contudo, o papel do rio transcendia o meramente econômico. Cada embarcação que atracava em seu porto trazia consigo não apenas produtos, mas também notícias, ideias, modas e, sobretudo, novas influências culturais. Vendedores, tropeiros, pregadores religiosos e viajantes de diversas partes do Brasil circulavam por suas águas, fazendo de Belém um microcosmo de influências diversas. Essa constante troca com o mundo de fora impedia o isolamento cultural que se poderia esperar de uma cidade sertaneja, criando uma população habituada à novidade e aberta a novas formas de expressão. A cultura ribeirinha, com suas próprias lendas, canções e saberes, era, portanto, dinâmica e permeável, absorvendo e transformando elementos externos em algo genuinamente local. 12 2.2. A sociedade belemita no início do século xx: estrutura e cotidiano No início do século XX, a sociedade belemita era marcada por uma estrutura social típica do sertão nordestino, com uma elite formada por coronéis e grandes proprietários de terra, e uma base populacional composta por agricultores, pescadores, artesãos e pequenos comerciantes. A vida comunitária era o pilar que unia esses diferentes estratos, e ela se manifestava de forma mais intensa nos espaços públicos, principalmente durante as celebrações. As festas religiosas, como as da padroeira Nossa Senhora do Patrocínio, eram eventos de grande mobilização social. Elas não se restringiam aos ritos litúrgicos dentro da igreja; expandiam-se para as ruas em forma de procissões, quermesses e feiras, momentos em que toda a comunidade se encontrava, celebrava e reafirmava seus laços de pertencimento. Essa efervescência social e a forte coesão comunitária criavam um ambiente propício para o surgimento de manifestações culturais que pudessem expressar a identidade e os valores locais. A participação coletiva, a oralidade e a transmissão de saberes de geração em geração eram características marcantes desse contexto, elementos que seriam cruciais para a perpetuação da tradição dos bonecos gigantes. 2.3. O carnaval de Belém antes dos gigantes: tradição e potencial criativo O carnaval, por sua vez, era a expressão máxima da festa popular em Belém do São Francisco. Antes de 1919, era celebrado de forma espontânea, com blocos de rua, fantasias improvisadas e a tradição do "Zé Pereira". Essa tradição, de origem portuguesa, consistia em sair pelas ruas em grupos ruidosos, tocando bumbos e tambores para anunciar a chegada da folia. Foi nesse ambiente, de uma comunidade já habituada a usar o espaço público para expressar sua fé e sua alegria, que a ideia de dar um corpo a esse som encontrou um solo fértil. Como aponta Leonardo Dantas Silva (2019, p. 88), a história do carnaval em Pernambuco é marcada pela constante incorporação de novidades, desde o entrudo português até os clubes de frevo. A criação do primeiro boneco gigante em Belém do São Francisco, portanto, não foi um ato isolado, mas sim o fruto de um ambiente cultural pulsante, pronto para dar vida a 13 uma de suas mais geniais tradições, um ato que deu forma, rosto e gigantismo a um som que, até então, era apenas música. Este cenário de efervescência cultural, permeabilidade a influências externas e uma forte tradição de festas populares, com destaque para o carnaval, pavimentou o caminho para a inovação que viria a se tornar um símbolo nacional. A capacidade da comunidade de absorver e ressignificar elementos culturais externos, aliada à sua própria criatividade, foi o catalisador para o surgimento dos bonecos gigantes, que se enraizaram profundamente na identidade local e se projetaram para além das fronteiras do sertão pernambucano. 14 3 CAPÍTULO 2: A GÊNESE DOS GIGANTES: ZÉ PEREIRA E A INFLUÊNCIA EUROPEIA A inovação cultural frequentemente nasce do encontro entre a tradição local e as influências externas. Em Belém do São Francisco, a criação do primeiro boneco gigante é o exemplo perfeito dessa fusão, um evento que une a criatividade sertaneja a uma inspiração vinda do outro lado do Atlântico. A história dessa tradição começa com a chegada de um religioso belga à cidade, o Padre Norberto Phalempin. 3.1. A inspiração europeia e o padre Norberto Phalempin Toda a narrativa sobre a gênese do primeiro boneco, desde a inspiração europeia até a escolha do personagem, é detalhada pela historiadora Tercina Lustosa (2005, cap. 2). Segundo a autora, no início do século XX, o padre, durante suas pregações, descrevia com entusiasmo as festividades religiosas de sua terra natal, na Europa, onde figuras gigantescas desfilavam pelas ruas. Fascinado por esses relatos, o artesão local Gumercindo Pires de Carvalho vislumbrou a possibilidade de adaptar aquela tradição, ressignificando sua origem sacra para adequá-la à celebração popular e à alegria contagiante do carnaval de Belém. Essa transposição cultural, de um contexto religioso europeu para uma festa popular brasileira, demonstra a capacidade de apropriação eressignificação cultural que é tão característica das manifestações folclóricas do Brasil. 3.2. Gumercindo pires de carvalho e a criação de zé pereira A genialidade de Gumercindo não esteve apenas em replicar uma ideia, mas em traduzi-la para a realidade local, infundindo-lhe a alma e o humor do povo belemita. O personagem escolhido para ser imortalizado não foi um santo ou uma figura distante, mas uma pessoa real e querida na cidade: um boêmio e festeiro local, eternizado com o nome de Zé Pereira. Essa escolha reflete a profunda conexão da 15 arte popular com o cotidiano e as figuras emblemáticas da comunidade. A confecção do boneco foi um processo que demonstrou a engenhosidade popular e a maestria artesanal de Gumercindo. Utilizando a técnica do papel machê, que aprendera com uma tia, ele moldou uma cabeça de proporções exageradas, conferindo ao boneco uma expressividade única. O corpo foi construído com uma estrutura de madeira leve, projetada para ser vestida por um folião, que daria movimento e vida ao gigante, transformando-o em uma extensão do corpo humano e da alegria carnavalesca. 3.3. A técnica do papel machê e o espírito da arte popular A escolha por essa técnica não foi aleatória e merece uma análise mais aprofundada, pois ela encapsula o espírito da arte popular e a inventividade brasileira. O papel machê é uma tecnologia artesanal que remonta a séculos, valorizada por sua acessibilidade, baixo custo e versatilidade. Como descreve a historiadora da arte, Ana Mae Barbosa (1991, p. 45): O papel, material de nossa civilização letrada, quando transformado em polpa ou em tiras sobrepostas com cola, ganha tridimensionalidade e se torna um meio de expressão escultórica acessível. Permite a criação de formas complexas com materiais simples e de baixo custo, sendo um veículo ideal para a arte popular, que floresce a partir dos recursos disponíveis na comunidade. A aplicação dessa técnica por Gumercindo, portanto, representa perfeitamente o espírito da arte popular: a transformação de materiais cotidianos em uma obra de grande significado cultural. Ele não precisou de mármore ou bronze; com jornal, cola e talento, ele ergueu um monumento que se tornaria um ícone. Finalmente, no carnaval de 1919, a cidade testemunhou um evento sem precedentes. Pelas ruas, surgiu uma figura imensa, dançando e interagindo com a população. O impacto foi imediato: a surpresa converteu-se em euforia. Aquele carnaval marcou o nascimento de uma tradição que se tornaria o maior símbolo cultural da cidade, um testemunho da capacidade da arte popular de inovar e encantar. 16 4 CAPÍTULO 3: A CONSOLIDAÇÃO DE UMA TRADIÇÃO: VITALINA E O RECONHECIMENTO COMO PATRIMÔNIO O sucesso estrondoso de Zé Pereira no carnaval de 1919 garantiu que o gigante voltasse às ruas nos anos seguintes, sempre como a grande atração da festa. A figura do boêmio gigante rapidamente se tornou um ícone local, aguardado com ansiedade a cada folia. No entanto, a consolidação definitiva da tradição, transformando uma brincadeira isolada em um ritual anual e inquestionável, ocorreria uma década depois, com a criação de uma companheira para o solitário folião. A chegada de Vitalina não apenas deu um novo fôlego à brincadeira, mas também a enraizou profundamente no imaginário popular como uma representação da vida comunitária e familiar, um espelho das relações sociais da própria Belém do São Francisco. 4.1. A chegada de vitalina: A companheira que consolidou a tradição Conforme relata Lustosa (2005, cap. 3), em 1929, dez anos após a estreia de Zé Pereira, Gumercindo Pires de Carvalho, o visionário artesão, decidiu que seu gigante não deveria mais dançar sozinho. Inspirado pela mesma lógica que deu vida ao primeiro boneco – a imortalização de uma figura popular local – ele escolheu outra personalidade conhecida da cidade para ser eternizada: uma mulher chamada Vitalina. Assim como Zé Pereira, Vitalina era uma figura popular e animada da comunidade, conhecida por sua alegria e participação nas festividades. Nascia, assim, a parceira que completaria a dupla mais famosa do carnaval belemita, estabelecendo um arquétipo que seria replicado em diversas outras manifestações de bonecos gigantes pelo Brasil. 17 4.2. O "casamento" dos gigantes e o crescimento da festa A criação de Vitalina seguiu a mesma técnica artesanal de papel machê e estrutura de madeira utilizada em Zé Pereira, mas com traços femininos, roupas coloridas e um semblante que transmitia a mesma alegria contagiante de seu companheiro. A estreia da boneca ao lado de Zé Pereira foi um marco inesquecível para a cidade. Juntos, eles formavam um "casal", uma representação simbólica da estrutura familiar e da união, valores tão centrais na cultura nordestina. O "casamento" dos gigantes foi celebrado pelo povo com enorme entusiasmo, e a dupla passou a desfilar junta, dançando ao som vibrante de orquestras de frevo e marchinhas, para a alegria e o delírio dos foliões. Essa união simbólica reforçou o caráter comunitário da festa e a identificação da população com seus gigantes. Com o passar dos anos, a presença de Zé Pereira e Vitalina deixou de ser apenas uma atração e tornou-se o coração pulsante do carnaval de Belém do São Francisco. A festa cresceu exponencialmente em torno deles. Novas orquestras foram formadas, mais pessoas se engajaram na organização dos desfiles, e a "brincadeira dos bonecos" virou um ritual sagrado para a cidade. A tradição foi passada de geração em geração, com os mais velhos ensinando aos mais novos a arte de confeccionar, carregar e dançar com os gigantes, garantindo a perenidade e a vitalidade dessa manifestação cultural. Esse processo de transmissão oral e prática é fundamental para a manutenção do patrimônio imaterial, uma ideia amplamente defendida por Luís da Câmara Cascudo em seus estudos sobre o folclore brasileiro (CASCUDO, 2012), onde a tradição se mantém viva na prática e no ensinamento contínuo. 4.3. O reconhecimento oficial como patrimônio cultural e imaterial A importância da dupla para a identidade local é tão significativa que, em 2017, os Bonecos Gigantes de Belém do São Francisco foram oficialmente reconhecidos pelo poder público. Através da Lei Estadual nº 16.053 (PERNAMBUCO, 2017), eles foram declarados Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco. Essa titulação formaliza o que o povo belemita já sabia há quase um século: Zé Pereira e Vitalina 18 não são apenas bonecos, mas guardiões da memória, da alegria e da cultura de sua gente. O reconhecimento oficial não é apenas um ato burocrático; é a chancela do Estado à relevância cultural de uma manifestação que nasceu da espontaneidade popular e se tornou um símbolo de resistência e identidade. A criação do Memorial Zé Pereira e Vitalina na cidade é outra prova desse profundo reconhecimento, um espaço dedicado a preservar não apenas as peças originais, mas, sobretudo, a rica história e o legado imaterial que elas representam para as futuras gerações e para o cenário cultural brasileiro. 19 5 CAPÍTULO 4: O LEGADO DOS GIGANTES: A INFLUÊNCIA SOBRE O CARNAVAL DE OLINDA A força de uma manifestação cultural pode ser medida por sua capacidade de inspirar e se multiplicar, transcendendo suas fronteiras geográficas de origem. A tradição dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco não ficou restrita às margens do Velho Chico; ela viajou, influenciou e ajudou a moldar uma das mais famosas expressões do carnaval brasileiro. Conforme destaca a pesquisadora Maria do Carmo Andrade (2009), em artigo para a Fundação Joaquim Nabuco, embora os bonecos gigantes sejam hoje um símbolo indissociável do carnaval de Olinda, sua origem remonta, de forma inquestionável, ao interior do estado de Pernambuco, especificamente à cidade de Belémdo São Francisco. Essa jornada da tradição, do sertão para o litoral, é um testemunho da vitalidade e do poder de disseminação da cultura popular. 5.1. A jornada da tradição: de Belém a Olinda A conexão mais emblemática entre Belém e Olinda materializou-se em 1932, treze anos após a estreia de Zé Pereira. Naquele ano, o folião olindense Benedito da Silva, conhecido como "Bebé", criou o que viria a ser o mais icônico dos bonecos de Olinda: o Homem da Meia-Noite. As fontes históricas e a memória oral apontam que a inspiração para a criação do Homem da Meia-Noite veio diretamente da tradição já consolidada em Belém do São Francisco. A ideia de um gigante dançante, que abria o carnaval com sua figura imponente e misteriosa, foi um conceito importado do sertão para o litoral, provavelmente levado por viajantes, comerciantes ou por notícias que circulavam no estado, evidenciando a permeabilidade cultural entre as diferentes regiões de Pernambuco. 20 5.2. O florescimento em Olinda e o ofuscamento da origem A partir da criação do Homem da Meia-Noite, a tradição floresceu em Olinda de maneira espetacular. A cidade, com suas ladeiras e seu carnaval espontâneo, ofereceu um palco ideal para a proliferação dos gigantes. Dezenas de outros bonecos foram criados, representando personalidades locais, nacionais e internacionais, transformando as ladeiras da cidade em um palco mundialmente famoso para o desfile dos gigantes. Essa explosão de criatividade e a popularidade crescente dos bonecos em Olinda são testemunhos da força da ideia original de Gumercindo Pires de Carvalho. Contudo, com o passar das décadas, a popularidade avassaladora do carnaval de Olinda acabou por ofuscar a sua verdadeira origem. O imaginário popular brasileiro passou a associar, quase que exclusivamente, os bonecos gigantes à cidade de Olinda, enquanto Belém do São Francisco e sua história pioneira permaneciam em um relativo esquecimento fora de suas fronteiras. Esse fenômeno de apropriação e ressignificação é comum em manifestações culturais, onde a visibilidade e o contexto de maior projeção acabam por reescrever a narrativa da origem. Como observa Maria Isaura Pereira de Queiroz (1992 p.22), o carnaval, em sua dinâmica de constante reinvenção, muitas vezes absorve e transforma elementos, tornando-os parte de sua própria história, independentemente de sua gênese. 5.3. O resgate da memória e o reconhecimento da primazia belemita O processo de resgate e reconhecimento da primazia belemita foi lento e, curiosamente, impulsionado por artistas e pesquisadores da própria Olinda. Em suas investigações sobre a origem de suas tradições carnavalescas, historiadores e carnavalescos olindenses redescobriram a história de Gumercindo Pires e do Zé Pereira. Essa informação começou a ser divulgada no início dos anos 2000, causando surpresa até mesmo para muitos belemitas, que não tinham a dimensão completa da importância de sua própria festa e de seu papel fundador. 21 Hoje, o legado de Belém do São Francisco é duplo. Por um lado, a cidade se orgulha de ser a "mãe" de uma tradição que encanta o Brasil e o mundo através das ladeiras de Olinda, um reconhecimento que fortalece o orgulho local e a identidade cultural. Por outro, Belém luta para ter sua própria história valorizada e reconhecida em âmbito nacional e internacional. A lei que transformou os bonecos em patrimônio imaterial foi um passo fundamental nesse processo, mas a batalha pela memória continua, travada a cada desfile, a cada reportagem e a cada trabalho acadêmico que se dedica a contar essa história desde o seu verdadeiro começo. A valorização da origem é crucial para a compreensão da complexidade e da riqueza do carnaval brasileiro como um todo, e Belém do São Francisco emerge como um pilar fundamental dessa narrativa. 22 6 CAPÍTULO 5: ANÁLISE SIMBÓLICA E CULTURAL DOS BONECOS GIGANTES Para além da indispensável reconstituição histórica, a compreensão plena da longevidade e do impacto dos Bonecos Gigantes de Belém do São Francisco exige uma análise de sua densa carga simbólica. Os gigantes não são meros objetos alegóricos; eles operam como complexos signos culturais que dialogam diretamente com a estrutura social, a identidade coletiva e os anseios da comunidade que os produziu. 6.1. A caricatura como espelho e crítica social: a elevação do cotidiano ao monumental A escolha de Gumercindo Pires de Carvalho por imortalizar figuras populares locais, como Zé Pereira e Vitalina, é o gesto fundador do principal simbolismo dos bonecos: a elevação do homem comum à categoria de monumento. Essa decisão não foi aleatória; ela reflete uma profunda compreensão da dinâmica social e cultural de Belém do São Francisco. A técnica da caricatura, com suas feições deliberadamente exageradas, é a ferramenta que permite uma sofisticada dupla leitura, atuando como um espelho da comunidade e, ao mesmo tempo, como um instrumento de crítica social sutil, mas eficaz. Por um lado, a caricatura é uma homenagem afetuosa, um ato de reconhecimento que celebra as características marcantes e a notoriedade da pessoa dentro da comunidade. O exagero de um traço físico ou de uma expressão facial torna o indivíduo instantaneamente reconhecível e, ao mesmo tempo, eterniza sua memória no imaginário coletivo. É a consagração do "ser comum", do cidadão do povo, que, por sua vivacidade ou peculiaridades, se destaca no tecido social. Essa elevação do cotidiano ao monumental reforça o orgulho local e a identificação da comunidade com suas próprias figuras, transformando-as em heróis populares. Por outro lado, a caricatura é um poderoso instrumento de crítica social e de humor. Ao transformar uma pessoa em um gigante desajeitado e dançante, a comunidade se permite "brincar" com suas próprias figuras, relativizando hierarquias 23 e poder. Essa prática se alinha ao que Bakhtin (1987 p 12) descreve como o "riso carnavalesco", uma força que rebaixa e materializa tudo o que é alto, espiritual e oficial, trazendo-o para o nível da terra e do corpo. O gigante na rua é, portanto, o povo se vendo representado de forma monumental, uma celebração da identidade local que eleva o cotidiano à categoria de espetacular. É a afirmação de que os verdadeiros "notáveis" da cidade não são apenas as autoridades formais, mas também os boêmios, as festeiras e as figuras que dão cor e vida à comunidade. A caricatura, nesse contexto, funciona como uma válvula de escape social, permitindo a expressão de descontentamentos ou a simples zombaria das convenções de forma lúdica e aceitável, sem quebrar a ordem social, mas sim a subvertendo temporariamente. 6.2. O corpo coletivo e a materialização da comunidade: a força da união A figura do gigante transcende sua materialidade para se tornar um símbolo do próprio corpo social. Primeiramente, há a simbiose fundamental entre o objeto e o ser humano: o boneco, inanimado, só ganha vida, movimento e alma através do corpo do folião que o carrega. Essa relação cria uma entidade híbrida, onde o boneco se torna uma extensão monumental do corpo do brincante, expressando uma alegria e uma energia que um corpo de tamanho normal não conseguiria. O carregador, por sua vez, não é um mero transportador; ele é o coração e os pulmões do gigante, conferindo- lhe personalidade e interação com o público. Essa fusão entre homem e artefato é uma metáfora poderosa da capacidade humana de dar vida ao inanimado e de se transformar através da arte. De forma ainda mais ampla, o boneco representa o corpo coletivo, pois sua existência depende inteiramente da cooperação comunitária. Desde a concepção da ideia, passando pela coleta de materiais simples como papel e cola, até a confecção em um esforço que se assemelha a um mutirão, o gigante é o resultado tangívelda união de esforços. A construção de um boneco gigante é um projeto comunitário que envolve diferentes gerações e habilidades, desde os artesãos mais experientes até os jovens aprendizes. Durante o desfile, essa coletividade se manifesta no revezamento dos carregadores, exaustos pelo peso e pelo calor, e na orquestra que dita o ritmo de 24 seus passos. O boneco, portanto, não pertence a um indivíduo; ele é a materialização da própria comunidade, a prova física de que a força do grupo, quando unida por um propósito festivo, pode criar algo maior e mais duradouro do que qualquer um de seus membros isoladamente. Essa dimensão coletiva reforça os laços sociais e o sentimento de pertencimento, transformando a festa em um ritual de reafirmação da identidade comunitária. 6.3. O gigantismo como inversão carnavalesca e a utopia da liberdade O gigantismo, em sua essência, é o símbolo mais potente da inversão da ordem, um elemento clássico do carnaval. Para Roberto DaMatta (1997 p. 58), o carnaval é um ritual que permite à sociedade brasileira "brincar" com suas próprias hierarquias, transformando o espaço social em um palco onde as regras do dia a dia são suspensas. Nesse sentido, os bonecos gigantes de Belém do São Francisco subvertem radicalmente a percepção espacial e hierárquica cotidiana. Com seus mais de três metros de altura, eles se tornam as figuras mais altas e dominantes da paisagem, diminuindo a importância visual das edificações e das autoridades formais. Essa subversão visual é um convite à reflexão sobre as estruturas de poder e a relatividade das hierarquias sociais. Essa inversão também é analisada por Mikhail Bakhtin (1987 p. 125), que argumenta que o carnaval cria um "segundo mundo", um tempo-espaço de exceção onde a lógica do cotidiano é virada de cabeça para baixo. A presença dos gigantes materializa essa teoria, instaurando um tempo onde o fantástico, o exagerado e o popular tomam o poder. É a celebração da utopia carnavalesca, onde, por alguns dias, o povo, na forma de seus representantes gigantes, pode ser a maior e mais importante entidade da cidade, olhando o mundo de cima, em uma explosão de riso, liberdade e poder simbólico. O gigantismo dos bonecos, portanto, não é apenas uma característica física; é uma declaração de liberdade, uma manifestação da capacidade do povo de transcender as limitações do cotidiano e de sonhar com um mundo onde a alegria e a subversão temporária das regras prevalecem. Eles são a personificação 25 da festa, da alegria desmedida e da capacidade humana de criar e celebrar a vida em sua plenitude. 26 7 CONCLUSÃO Ao longo desta pesquisa, buscou-se responder à pergunta central: "De que maneira a tradição dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco, iniciada com Zé Pereira e Vitalina, se consolidou como um marco cultural e influenciou outras manifestações carnavalescas no Brasil?". A trajetória investigada, desde o seu surgimento até o seu reconhecimento, permite-nos afirmar que a tradição não apenas se consolidou como um pilar da identidade belemita, mas também funcionou como a semente de uma das mais grandiosas expressões do carnaval brasileiro. A análise aprofundada revelou que a força dessa manifestação reside na sua capacidade de absorver influências externas, ressignificá-las no contexto local e projetar-se para além de suas fronteiras geográficas, tornando-se um ícone da cultura popular brasileira. A pesquisa demonstrou que a gênese dos bonecos, em 1919, foi fruto de um ambiente cultural fértil, onde a criatividade do artesão Gumercindo Pires de Carvalho encontrou a inspiração nas narrativas europeias do Padre Norberto Phalempin. Essa transposição cultural, de um contexto religioso europeu para uma festa popular brasileira, evidencia a capacidade de apropriação e ressignificação cultural que é tão característica das manifestações folclóricas do Brasil. A consolidação da tradição, como vimos, deu-se através da representação do "casal" de gigantes, que transformou a brincadeira em um ritual que espelhava a vida comunitária e familiar. Zé Pereira e Vitalina tornaram-se mais do que meros bonecos; foram elevados à condição de símbolos, guardiões da memória afetiva da cidade, um status que foi oficialmente reconhecido com o título de Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco, conferindo-lhes a devida chancela do Estado à sua relevância histórica e cultural. Por fim, o estudo confirmou o papel pioneiro de Belém do São Francisco ao mapear sua influência direta sobre o carnaval de Olinda. A criação do Homem da Meia- Noite, inspirada no Zé Pereira, é a prova incontestável de que a tradição nascida às margens do São Francisco viajou e floresceu em outras terras, ainda que, por décadas, sua origem tenha sido ofuscada pela projeção nacional e internacional do carnaval olindense. Essa dinâmica de apropriação e ressignificação cultural, comum 27 em manifestações populares, reforça a necessidade de valorizar e resgatar as narrativas de origem para uma compreensão mais completa e justa do patrimônio cultural brasileiro. Conclui-se, portanto, que a importância dos bonecos gigantes de Belém do São Francisco reside em uma dupla dimensão: a de ser o coração pulsante da identidade cultural de sua cidade e a de ser o berço de uma manifestação que hoje é um ícone nacional. Este trabalho, ao sistematizar essa história através de uma revisão bibliográfica aprofundada, buscou contribuir para o justo reconhecimento e a valorização de Belém como um polo de inestimável relevância para a cultura brasileira, garantindo que a memória de Zé Pereira e Vitalina continue a inspirar futuras gerações e a reafirmar a riqueza e a diversidade do patrimônio imaterial do Brasil. A pesquisa reforça a ideia de que a cultura popular é um campo fértil para a inovação, a celebração da vida comunitária e a construção de identidades duradouras, merecendo sempre a atenção e o estudo acadêmico. 28 REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria do Carmo. Bonecos Gigantes, foliões de Olinda. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Publicado em: 6 ago. 2009. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/bonecos-gigantes-folioes-de- olinda/. Acesso em: 27 ago. 2025. BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987. BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo: Perspectiva, 1991. CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Global, 2012. DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. GASPAR, Lúcia. 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