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A PROBLEMATICA - VIOLENCIA SEXUAL INFANTIL

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A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
INTERFACE
109
AA PROBLEMÁTICA DA
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
AUTORAS
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula
Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
Rosana Mirreille Barbosa da Silva
Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
INTERFACE
INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
110
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
INTERFACE
111
RESUMO
O fenômeno da violência sexual contra crianças e adolescentes
materializa-se através de várias formas, ou seja, violência física,
psicológica, negligência e principalmente o abuso e a exploração
sexual. Estes últimos caracterizam o foco deste trabalho. Pretendemos
mostrar a questão da violência sexual como um problema social
agravante e de trágicas conseqüências para os vitimizados.
Apontaremos os vários tipos de abuso sexual como também a
problemática da exploração sexual que diferentemente do abuso está
centrada no lucro comercial obtido através da venda do corpo da
criança e do adolescente. Pretendemos informar sobre a rede que
envolve a exploração sexual, destacando os aliciadores e aliados e a
cadeia de instituições governamentais e não-governamentais de
combate à violência sexual, como também o perfil do agressor, a faixa
etária predominante dos vitimizados, as seqüelas físicas e psíquicas e
a importância da família, do Estado e da sociedade no enfrentamento
desta questão.
PALAVRAS CHAVE
Violência Sexual. Crianças e Adolescentes. Políticas Sociais.
INTERFACE
INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
112
A questão da violência contra crianças e adolescentes vem,
ao longo dos anos, se constituindo como alvo não só de pesqui-
sadores como também de órgãos e entidades envolvidas com a
gestão e efetivação do sistema de garantia dos direitos, particu-
larmente da criança e do adolescente, previstos na Lei 8.069 de
13 de Julho de 1990 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente(ECA).
Na busca de compreensão dessa problemática constata-se que
as dimensões da violência remetem ao quadro das graves conse-
qüências sociais demarcadas pela pobreza e desigualdades, pe-
los expressivos indicadores de desemprego estrutural e pela pre-
cariedade das condições de trabalho presentes na atualidade bra-
sileira, que imprimem decisivamente condições de degradação
das formas de reprodução social. Além dos fatores sócio-econô-
micos, percebe-se a importância da dimensão cultural, de forma
que as crianças e adolescentes não têm sido considerados como
sujeitos de direitos, sobretudo os provenientes das classes su-
balternas, e a impunidade dos agressores torna-se uma forma,
mesmo que inconsciente, de reafirmar a violência.
As diversas formas de violência manifestam-se, também,
através das desigualdades sociais, na negação dos direitos for-
mais que estabelecem a vida, a convivência familiar e comuni-
tária, a saúde, a educação, a cultura; na repressão e restrição
da liberdade, etc.
Isto posto, pode-se considerar que todo ato de violência tem
uma base comum, ou seja, caracteriza-se por violações que em
seu conjunto apresentam determinações que se articulam ao con-
texto complexo das relações sociais, econômicas, institucionais
e familiares.
Desta forma, as particularidades das diversas formas de vio-
lência remetem do interior dos processos sociais, materializan-
do-se em ações e /ou omissões capazes de prejudicar crianças e
adolescentes, que segundo o ECA, artigo 6º são “pessoas em de-
senvolvimento”. Portanto, o abuso e exploração sexual constitu-
em formas de negação dos seus direitos, acarretando para os mes-
mos, conseqüências negativas para o desenvolvimento dessas
crianças e adolescentes.
Existem vários tipos de violência, como a física, psicológica,
sexual, dentre outras. Porém, será exposto a problemática da vi-
olência sexual, expressa na forma de abuso e exploração comer-
cial, que contrariam o direito à dignidade e inviolabilidade do
corpo e da possibilidade de ter uma sexualidade saudável.
Este tema tem se configurado como um contínuo desafio aos
profissionais e pesquisadores na área da infância e da juventude
na construção de medidas possíveis, mesmo que de curto prazo,
na luta pelo combate e prevenção a este tipo de violência.
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
INTERFACE
113
CONCEITUANDO O ABUSO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLES-
CENTES E SUAS CONSEQÜÊNCIAS.
Para entender a questão do abuso sexual é necessário mencionar
alguns conceitos que contribuíram para os nossos estudos e também
discutir as formas de abuso, que concebemos como grande instru-
mento para compreender melhor esta problemática. De acordo com
Abreu et al:
Abuso sexual é uma situação em que uma criança ou adoles-
cente é usado para gratificação sexual do adulto ou mesmo de
um adolescente mais velho, baseado em uma relação de poder
que pode incluir carícias, manipulação da genitália, mama ou
anûs, e até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem
violência. (2002,p.8).
O abuso sexual compreende uma série de situações que podem
ser classificados de duas formas: a) Abuso sexual sem contato físico,
que se expressa através de conversas, telefonemas obscenos,
exibicionismo, voyeurismo (principalmente pela Internet), fotos e
vídeos pornográficos que despertem interesse sexual ou envolvam
crianças e adolescentes; b) Com contato físico que inclui relações se-
xuais com penetração vaginal, sexo oral ou anal, tentativa de relações
sexuais, carícias nos órgãos genitais e masturbação.
Esta forma de violência sexual contra crianças e adolescente tem
diversas implicações, pois envolve questões culturais, de relacionamen-
to, de poder, e a relação de dependência financeira e/ou familiar difi-
culta o processo de denúncia e fortalece o silêncio dos vitimizados.
Isto ocorre, principalmente, pelo fato de que o abuso sexual acon-
tece predominantemente na esfera intrafamiliar e a maioria dos
agressores são os pais, padrastos, irmãos ou outro parente qualquer.
Mas pode ocorrer também com pessoas que são “amigas” da família,
vizinhos, professores ou pessoas desconhecidas.
Apesar dos dados registrados em pesquisas sobre o índice de abuso
sexual, que será abordado, verifica-se que este número é bem maior. A
maioria dos casos não é registrado, tendo em vista também que as cri-
anças têm medo de dizer a alguém o que aconteceu ou está acontecen-
do, e ao longo de seu desenvolvimento o dano emocional e psicológico
é significativo.
Em virtude desta relação de poder, a criança vitimizada passa a ser
punida, pois sofre com a situação e quando se dispõe a relatar o que
aconteceu com a mesma, na maioria das vezes, a família (principal-
mente a mãe) não acredita e o vitimizado encontra-se numa situação
de total abandono, e até chega a conformar-se com a violência sofrida.
Ocorre, nestes casos, uma descaracterização do crime, a família hesi-
ta em acreditar no vitimizado e este acaba passando por outras situa-
ções de violência até que venha a ser denunciado.
INTERFACE
INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
114
Crianças e adolescentes violentados acabam desenvolvendo pro-
blemas emocionais, pois ocorre uma ruptura no processo de desen-
volvimento, uma vez que não estão psicologicamente preparados para
o estímulo sexual, e por não terem desenvolvido a capacidade emoci-
onal ou cognitiva para consentir ou julgar o que está acontecendo.
Quando os abusos sexuais acontecem dentro do seio familiar, a
criança passaa ter muito medo do agressor em virtude das ameaças
sofridas. Os vitimizados desenvolvem, usualmente, uma perda da auto-
estima; têm a sensação de que não valem nada e adquirem uma repre-
sentação anormal da sexualidade. Podem, ainda, tornar-se muito re-
traídos, perdendo a confiança em todos os adultos e podem até che-
gar a considerar a possibilidade do suicídio, principalmente quando
ocorrem ameaças por parte do abusador, caso a criança ou o adoles-
cente não se submeta aos seus desejos.
Essas relações acabam gerando conflitos dentro da própria casa, e
muitas vezes os vitimizados terminam abandonando seus próprios
lares e vão morar nas ruas, se tornando alvos de outras violências, como
por exemplo, a exploração sexual.
As conseqüências deste tipo de violência são diversas: os
vitimizados podem ter dificuldades para estabelecer relações com
outras pessoas; podem se transformar em adultos que também abu-
sam de outras crianças; podem se inclinar para a prostituição ou
podem ter outros problemas sérios quando adultos. Este tipo de
violência gera em muitas crianças uma grande confusão, um ver-
dadeiro pavor de falarem sobre o assunto, tornando-se
traumatizadas pelo medo, sofrendo de depressão, fobias e dificul-
dades nos estudos.
Além disso, é constatado que ocorrem mudanças no comporta-
mento, apetite ou no sono, e a criança e/ou adolescente assume uma
postura de defesa se isolando e demonstrando uma perturbação quan-
do é deixada sozinha ou com a presença do abusador.
Neste sentido, entende-se que este tipo de violência tende a ser
reproduzida se não houver um tratamento adequado tanto com o
abusador quanto com o vitimizado, com a colaboração de profissio-
nais da área social, psicológica e da saúde.
 A recuperação emocional dependerá também do apoio da famí-
lia. As reações das crianças e adolescentes diferem com a idade e com
a personalidade de cada uma, bem como com o nível da agressão so-
frida. O período de readaptação após a violência é algo muito difícil
para os vitimizados e para as suas famílias. Por isso, a necessidade de
políticas públicas que atendam a esta demanda, dando suporte às fa-
mílias e suas crianças e adolescentes.
Como já foi mencionado, as principais seqüelas do abuso sexual
são de ordem psíquica, sendo um relevante fator na história da vida
emocional de homens e mulheres com problemas conjugais,
psicossociais e até transtornos psiquiátricos.
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
INTERFACE
115
Este fato marca a história destas pessoas para o resto de suas vidas
e uma das formas de perceber antecedentes de abuso sexual é obser-
vando o comportamento sexual inapropriado para a idade e nível de
desenvolvimento, quando comparado com a média das crianças e ado-
lescentes da mesma faixa etária e do mesmo meio sócio-cultural sem
ocorrência de abuso.
Com o propósito de diagnosticar a problemática do abuso sexual
de crianças e adolescentes no município de Natal a Casa Renascer atra-
vés do NEP (Núcleo de Estudos e Pesquisas) desenvolveu uma pesqui-
sa de campo: Diagnóstico do Abuso Sexual contra Crianças e Adoles-
centes na cidade do Natal, no programa SOS Criança em Natal-RN,
durante o mês de março a novembro de 2001.
O universo considerado para a pesquisa, abrangeu os dados desde
1992 a 2000, através de um formulário com 32 questões, sendo pre-
enchido conforme a planilha de atendimento do SOS Criança.
Os resultados da pesquisa de campo apontam que foram notifica-
dos 239 casos de abuso sexual no Estado entre 1992 a 2000. Segundo
os profissionais da Casa Renascer responsáveis pela pesquisa foi ob-
servado, “a relativa manutenção das denuncias registradas nos anos
de 1992(10) e 1993(9)... foram registrados em 1994(16) e em 1995(24)
casos, elevando-se consideravelmente o número de denuncias em 1997
para, 52 mais do que o dobro em 1995”.(2003,p.101). Conforme po-
demos observar no gráfico 1.
Gráfico1
Denúncias de Abuso Sexual entre 1992-2004 na Cidade do Natal.
De acordo com os pesquisadores, esse aumento significativo de
denúncias se deu em virtude das campanhas de sensibilização
divulgadas através dos meios de comunicação no Rio Grande do Nor-
te. Entre estas campanhas de sensibilização, destaca-se a realizada pela
Fonte: Pesquisa “Diagnóstico do Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes na
cidade do Natal” (Realizado pela Casa Renascer) e S. O. S. Criança.
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INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
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UNICEF, titulada “Bater em crianças é covardia”, contando com a par-
ceria da FUNDAC. A mesma fazia referência à violência sexual contra
as crianças.
Além desta campanha, a pesquisa da Casa Renascer destaca “a im-
portância das campanhas de sensibilização local e nacional com o
objetivo de estimular a denúncia, realizadas pelas organizações go-
vernamentais e não governamentais e organismos multilate-
rais”.(2003, p.102).
Percebe-se no Gráfico 1, que ocorreu uma considerável redução
de denúncias em 1998(21). Conforme a pesquisa este fato pode estar
associado a mudança de endereço da sede do S.O.S. Criança.
O percentual de denúncias no ano de 2002, não estava disponível,
pois não foi realizado o levantamento dos casos. Nota-se o aumento
considerável do percentual de denúncias no ano de 2003, no qual foi
registrado (83), já em 2004 houve uma redução não muito significati-
va. Comparando-se o número de denúncias com o ano de 2003, este
elevado percentual pode ser justificado em virtude das campanhas da
Operação Verão realizadas no município durante a alta estação pela
Prefeitura da Cidade do Natal.
Com relação às pessoas que efetuaram as denúncias, a família
corresponde ao principal denunciante, com (28,44%), sendo 18,83%
deste percentual, mães dos vitimizados, revelando, assim, o rompi-
mento gradativo de aspectos culturais, em que o pai era não só o pro-
vedor, mas o responsável pela família. Aos poucos esse modelo de fa-
mília vai se transformando. O segundo expressivo percentual refere-
se às denúncias anônimas (24,27%).
Os vitimizados conforme os resultados da pesquisa são na mai-
oria do sexo feminino (84,52%), apenas 14,64% são do sexo mascu-
lino, os que não informaram o gênero do vitimizados
correspondem a 0,84%. Com relação à idade dessas crianças e ado-
lescentes violentados, o maior percentual refere-se aos da faixa
etária de 11 a 16 anos (44,77%), seguido das de 6 a 10 anos (30,54%)
e as que estão entre 0 a 6 anos (17%). Os autores do abuso são em
grande parte do sexo masculino com (84,00%), mas há também
registros de mulheres que são abusadoras, ressalta-se que apesar
do baixo percentual (9,82%), não podemos desconsiderar este as-
pecto. Nestes casos, entende-se que essas mulheres, autoras de abu-
so sexual, podem ter sofrido alguma violência durante a infância e
juventude e não tiveram o acompanhamento necessário, perpetu-
ando a violência sofrida com seus filhos, irmãos, sobrinhos, e ou-
tros. O outro percentual (6,18%) refere-se às denúncias que não
foram informadas o gênero do agressor.
De acordo com os resultados da pesquisa, os tipos de abuso se-
xual mais cometidos no Rio Grande do Norte enquadram-se nas duas
formas, com contato físico e sem contato, apontados nos gráficos
abaixo.
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
INTERFACE
117
Gráfico 2
Tipos de Abuso Sexual com Contato Físico
De acordo com os resultados, entreos casos de abuso sexual com
contato físico apontados no Gráfico 2, percebe-se o elevado percentual
de ocorrência de atos libidinosos (34,73%), seguido por estupro com
(22,59%) e tentativa de estupro (12,55%). Os resultados também de-
monstraram outros tipos de abuso com contato físico como demons-
tra o Gráfico 2.Gráfico 3
Tipos de Abuso Sexual sem Contato Físico
Fonte: Casa Renascer
Fonte: Casa Renascer
INTERFACE
INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
118
Com relação à ocorrência de abuso sexual sem contato físico apre-
sentado no Gráfico 3, a maioria dos casos não foi informado o tipo
(65,27%). Acredita-se que a falta de conhecimento sobre a existência
das várias formas de abuso sexual sem necessariamente ocorrer con-
tato físico é a resposta para esse elevado índice.
Desta forma, percebe-se, mais uma vez, que a informação é muito
importante. Não basta apenas combater, é preciso prevenir, alertar as
famílias, a sociedade e o Estado, que são os responsáveis pela garantia
dos direitos da criança e do adolescente. O Estado é o responsável
pela criação de políticas sociais que garantam a proteção à infância e
adolescência, como também a efetivação da doutrina de proteção in-
tegral estabelecida no ECA.
É necessário efetivar uma articulação entre o Estado, a socie-
dade e a família, para enfrentar e prevenir esta expressiva manifesta-
ção da questão social, já que nota-se a ocorrência de um ciclo de vio-
lência, que na maioria das vezes, tem a sua origem no núcleo familiar.
Isto nos faz reafirmar a necessidade de combater, inclusive a
violência doméstica, pois em muitos casos a agressão começa com
um simples tapa e a família acaba “dando margem” para os abusos se-
xuais que, em muitos casos, evoluem com o tempo para a situação de
exploração sexual de suas próprias crianças, em grande parte por
indução dos pais.
A complexidade destes temas remete tanto às questões da vida
pública das crianças e adolescentes quanto aos fatores ligados à vida
privada ou familiar. Este é outro aspecto que nos faz entender que a
exploração sexual geralmente está articulada ao abuso sexual.
Exploração sexual Comercial de Crianças e Adolescentes.
Analisando a problemática da violência sexual focalizada nas inú-
meras formas de exploração sexual percebe-se a grande articulação
entre o abuso sexual e a exploração comercial de crianças e adoles-
centes. A violência sexual ocorre, principalmente, porque não há um
acompanhamento psicológico e social necessário aos vitimizados e
estes tendem a ser inseridos na rede de exploração, seja voluntaria-
mente ou induzidos, através de vários fatores que serão discutidos no
transcorrer deste trabalho.
Para abordar a problemática da exploração sexual infanto-juvenil
é importante analisar o cenário atual de um país em desenvolvimen-
to, com um abrangente litoral e conseqüentemente um crescente e
desenfreado turismo, que traz diversos benefícios econômicos, soci-
ais e políticos, mas traz também, um crescente índice de exploração
sexual, aumentando desta forma, a luta pela garantia dos direitos das
crianças e adolescentes através do combate e da prevenção.
Este tema tem sido alvo de diversos fóruns, seminários, cursos en-
tre outros. Em todo o Brasil e de uma forma especial aqui no Rio Gran-
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
INTERFACE
119
de do Norte, um dos Estados inseridos na rota do turismo internacio-
nal, tem crescido bastante nesta discussão e tem sido, inclusive, pionei-
ro em alguns aspectos, como por exemplo, a criação do Código de Con-
duta do Turismo contra Exploração Sexual Infanto-Juvenil.
Depois de muitos avanços no que se refere à noção de direitos da
infância e adolescência, muitas crianças e adolescentes que se encon-
tram nesta situação de exploração são caracterizados erroneamente
por um termo pejorativo de prostitutas. Porém, com o avanço dos
estudos e discussões sobre o assunto, conclui-se que, crianças e ado-
lescentes mesmo que envolvidos há muito tempo e passem a “lucrar”
com a própria exploração, são na verdade, “empurrados” para essa situ-
ação seja por fatores econômicos, seja por fatores de identidade com
um grupo de amigos, seja por necessidades, desejos de consumo, in-
centivo familiar ou de terceiros e, por isso, são considerados vitimizados,
pois como “pessoas em desenvolvimento” (ECA, art.6º) não são capa-
zes de se responsabilizar por todos os danos não só físicos como tam-
bém psicológicos e emocionais advindos desta forma de violência.
 Por este motivo, toda criança e adolescente em situação de
vulnerabilidade à exploração sexual precisa do apoio e orientação de
pessoas responsáveis, familiares, profissionais que atuam nesta
temática e do Estado para a sensibilização, com o propósito de com-
bater e prevenir todos esses casos.
A exploração sexual tem como propósito a obtenção do lucro atra-
vés da comercialização do corpo de crianças e adolescentes ou da
veiculação de materiais como fotos, vídeos, filmes pornográficos, por
meios convencionais ou pela Internet. Este processo de estímulo pre-
coce à sexualidade envolve a comercialização e vulnerabilização do
seu corpo e da sua imagem.
Segundo o Código Penal Brasileiro, art. 218, a exploração sexual
constitui em atos libidinosos, que são relativos ao prazer sexual, mas
se torna violência quando forçados e praticados contra crianças e
adolescentes. Os atos libidinosos, conforme o Código Penal Brasilei-
ro, são caracterizados pela conjunção carnal ou não e os autores deste
tipo de violência podem ser homens ou mulheres.
A exploração sexual pode ser definida como o uso de crianças e
adolescentes no mercado do sexo através da participação destas em
atos sexuais com adultos ou jovens, onde não necessariamente está
presente a utilização da força física. Entretanto, pode estar inserido
outro tipo de coação.
Constata-se atualmente o envolvimento de crianças de até três anos de
idade explorados sexualmente. Normalmente, nestes casos, os pais vivem
em situação miserável e, por isso, “vendem” os seus próprios filhos.
Milhares de crianças e adolescentes são vítimas de uma situação
econômica extremamente injusta e desigual, e encontram ou são for-
çados a encontrar neste meio, uma forma de sobrevivência.
INTERFACE
INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
120
Porém, vale ressaltar que em muitos casos de exploração são consta-
tados que essas crianças e/ou adolescentes já foram abusados antes
por seus próprios pais, padrasto, parente ou algum vizinho.
De uma forma geral, a exploração sexual possui uma relação comer-
cial que normalmente envolve três personagens: a criança vitimizada, o
abusador e um intermediário (o aliciador). Segundo Faleiros (1997, p.7):
A exploração sexual comercial de crianças e adolescentes não
se configura, em geral, como uma relação individual de um
agressor ou explorador. Ela se constitui em rede, na busca de
clientes para um mercado do corpo, sem a opção de quem é
usado, na busca do lucro, com a sedução do prazer.
Mesmo que não exista a presença de um intermediário, o uso do
corpo com a finalidade de obter dinheiro torna-o mercadoria. As cri-
anças e adolescentes explorados perdem a autonomia sobre seu cor-
po, sobre a aprendizagem de sua sexualidade, tornam-se de fato escra-
vos da exploração.
Quando estão envolvidos com o aliciador, essa escravidão é ainda
maior, pois os exploradores envolvem as crianças e adolescentes no
mercado do “luxo”, através da obtenção de roupas, acessórios e ou-
tros produtos que os vitimizados jamais poderiam usufruir, em virtu-
de das precárias condições financeiras da família. O explorador utili-
za as dívidas dos vitimizados como um mecanismo para lucrar atra-
vés da venda do corpo da criança ou do adolescente. Neste sentido, o
lucro é uma ilusão, pois as crianças e adolescentes destituídos da li-
berdade de seu corpo geram enriquecimento para outras pessoas.
Considera-se, aqui, uma referência também aos casos de tráfico sexu-
al de crianças e adolescentes que, na maioria das vezes, são enganados
com promessas de emprego, de condições melhoresde vida e até de
casamentos, mas na realidade a única intenção destas pessoas, tanto
os que comercializam quanto os que as “recebem”, é apenas a explora-
ção.
Um fator que envolve a trama da violência sexual refere-se à tradi-
ção cultural de aceitação do sexo entre adultos e crianças, como ocor-
re, principalmente, em países asiáticos, nos quais a miséria, a desi-
gualdade social e econômica, a mundialização do consumismo, a
banalização do sexo e a erotização precoce de crianças são fatores sig-
nificativos nos casos de exploração sexual de crianças e adolescentes.
Crianças e adolescentes são vistos como objetos sexuais e o uso
comercial de seu corpo envolve um mercado que movimenta bilhões
de dólares por ano, tornando-se cada vez mais, uma mercadoria de
grande valor. Faleiros assinala que esse mercado não funciona de for-
ma isolada e sim comandado por uma rede que envolve desde o alici-
ador até empresas criadas para este fim, ou seja:
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
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121
Aí se formam redes, organizações, agentes de exploração do
corpo para se obter lucro ou dinheiro sob diferentes formas:
compra e venda de crianças, leilões de virgindade,
pornoturismo, bordéis, tráfico, pornografia. Usam-se hotéis,
motéis, agências de turismo, rede de tráfico, internet, “agen-
tes da noite”, centros de diversão, comércio de saunas e mas-
sagens, pontos de bares e restaurantes, funcionários de em-
presas, policiais. As redes envolvem grupos de aficionados ou
viciados, de pedófilos, não raro de altas camadas
sociais.(1997,p.7)
Com o intuito de reprimir os aliciadores, proteger crianças e ado-
lescentes e banir essa rede de exploração sexual, no dia 23 de junho
de 2000, foram acrescentados ao ECA o artigo 244-A e seus parágra-
fos, que prevêm uma pena de reclusão de 4 a 10 anos e multa para
todos os que submetem qualquer criança e/ou adolescente à explora-
ção sexual, abrangendo esta pena inclusive para os proprietários, ge-
rentes ou responsáveis por locais que se constate uma conivência com
este tipo de exploração.
A exploração sexual configura-se de acordo com a economia pre-
dominante de cada região. Podemos afirmar que, aqui no Brasil, a ex-
ploração sexual possui várias formas: nas cidades litorâneas, onde o
turismo é uma das principais atividades, presenciamos o turismo se-
xual; nas cidades onde a atividade econômica é predominantemente
mineral, destacam-se os bordéis; e no centro político do país, ou seja,
em Brasília/DF, a exploração caracteriza-se pela oferta de “acompa-
nhantes” para empresários e políticos.
Por isso, se torna tão difícil diagnosticar os casos de exploração e
combatê-los de forma eficaz. Pois, neste caso, envolve pessoas de boas
condições financeiras, acima de qualquer suspeita que, pelo alto po-
der aquisitivo, conseguem se envolver de forma discreta na rede de
exploração, e são eles mesmos que “alimentam” financeiramente este
tipo de violência.
No Rio Grande do Norte, o turismo sexual se destaca entre ou-
tros tipos de exploração sexual de crianças e adolescentes, desde a
ascensão do turismo no Estado, principalmente no município de
Natal, que desencadeia a vinda de turistas ávidos por diversão atra-
vés do sexo com crianças e adolescentes. Alguns já compram paco-
tes nas agências de turismo ou pela Internet, os quais já vem incluso
acompanhantes, que na maioria são adolescentes. É rotineira a pre-
sença de jovens nos pontos de desembarque do aeroporto Augusto
Severo em Natal/RN esperando por turistas estrangeiros. O desenho
abaixo fornece um quadro de caracterização das modalidades de
exploração sexual nas várias regiões do País e o perfil do Nordeste
aponta elementos para refletir as expressões do fenômeno no Rio
Grande do Norte.
INTERFACE
INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun 2005
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Como podemos perceber, é evidente a situação de exploração
sexual vivenciado no nosso Estado, particularmente na capital.
Recentemente, participamos de uma operação que é realizada du-
rante a alta estação, na Cidade do Natal, uma das frentes desta ope-
ração materializou-se no combate à exploração sexual infanto-ju-
venil. Esta operação contou com a participação de várias institui-
ções que já possuem essa demanda, como por exemplo: a Casa
Nova Infância, o Programa Sentinela, a Delegacia da Criança e do
Adolescente, dentre outras, com a parceria do Governo Estadual
e Municipal.
Nesta operação, tivemos a oportunidade de vivenciar a situação
que ocorre principalmente nas praias, nos pontos turísticos, nos ho-
téis e pousadas na Cidade do Natal e no aeroporto, este localizado no
município de Parnamirim.
Constata-se, que na Capital, Natal, o turismo sexual ocorre tanto
de maneira formal, através da venda de pacotes aos turistas, nos quais
estão inclusos “mulheres acompanhantes”, como de maneira infor-
Norte
- Exploração sexual (ga-
rimpos, prostíbulos,
portuária, cárcere pri-
vado - fazendas e garim-
pos);
- Prostituição em estra-
das e nas ruas, leilões
de virgens;
- Exploração nas redes
de narcotráfico
(Rondônia/acre/Ama-
zonas/Pará);
- Aliciamento de meni-
nas nas áreas rurais.
Centro Oeste
- Exploração sexual comercial em
prostíbulos;
- Exploraão sexual comercial nas
fronteiras/redes de narcotráfico
(Paraguai/Bolívia/Brasília,/Cuiabá/
municípios de Mato Grosso
- Prostituição de meninas e meni-
nos de rua;
- Rede de exploração sexual (hotéis,
agências de viagem, taxistas etc);
Prostituição através de anúncios de
jornais, falsas agências de modelos;
- Tráfico de meninas para explora-
ção sexual na Espanha (Goiânia).
Sul
- Exploração sexual
de meninas e meni-
nos de rua/redes de
narcotráfico;
- Denúncia de
tráfigo de crianças;
- Prostituição nas
estradas;
- Aliciamneto de
meninas nas áreas
rurais.
Sudeste
- Pornoturismo
- Exploração sexual co-
mercial em prostíbulos/
cárcere privado;
- Exploração sexual de
meninas e meninos de
rua;
- Prostituição nas estra-
das;
Pornografia infanto-ju-
venil através de falsas
agências de modelo.
Nordeste
- Turismo sexual;
- Exploração sexual
comercial em
prostíbulos;
- Prostituição de
meninas e meninos
de rua;
- Prostituição nas
estradas;
- Aliciamneto de
meninas nas áreas
rurais.
Fonte: www.cecria.org.br. Acesso em: 30 de Julho de 2004.
A problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes
Rhadamila Valeska Pereira da Silva de Paula/Rosana Mireille Barbosa da Silva
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123
mal através de redes, onde estão presentes vários personagens: donos
de bares, funcionários de hotéis, taxistas e demais pessoas envolvidas
no mercado da exploração comercial de crianças e adolescentes.
Percebe-se a ocorrência de alguns fatores que influenciam as cri-
anças e adolescentes para o mercado da exploração, como por exem-
plo: condições sócio-econômicas da família, desemprego estrutural,
políticas sociais focalistas e clientelistas e outros. Todos estes elemen-
tos põem as famílias e particularmente as crianças e adolescentes em
situação de risco e vulnerabilidade social.
Portanto, para enfrentar a problemática da violência sexual con-
tra crianças e adolescentes é necessária a construção de ações inte-
gradas entre a família, o Estado e a sociedade, funcionando como um
tripé de proteção, cada um desempenhando determinada função: a
família orientando e acompanhando o desenvolvimento dos seus
membros; o Estado criando ações que protejam de forma integral o
desenvolvimento das crianças, adolescentes e suas famílias e, por fim,
cabe à sociedade preocupar-se com a organização e acompanhamen-
to das ações, denunciando o não cumprimento dos direitos legitima-
dos no ECA, inclusive o direito à inviolabilidade da integridade física,
moral e psíquica da criança e do adolescente, protegendo-osde toda
forma de violência, principalmente o abuso e a exploração sexual.
REFERÊNCIAS
ABREU, M. et al. Abuso Sexual, Mitos e Realidade. Disponível em: <http://
www.abrapia.org.br>. Acesso em: 30 de Jul. 2004.
BRASIL. Ministério da Justiça. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
nº8069. Brasília, 1990.
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1940.
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FALEIROS, V. P. (Coord.). Fundamentos e Políticas contra a Explora-
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CAMPOS, H. et al. Pesquisa de Campo: diagnóstico do abuso sexual con-
tra crianças e adolescentes na Cidade do Natal/RN. In: FELIZARDO, D; ;
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NATAL. Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-
Juvenil. Natal, 2001.
NATAL. Programa S. O. S. Criança. Natal, 2004.
RECRIA. Cecria. Disponível em: <http://www.Cecria.org.br>. Acesso em: 30
de Jul. 2004.
TRAMITAÇÃO
Recebido em: 25/08/04
Aceito em: 15/12/04

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