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São Carlos, v.7 n. 27 2005 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor: Prof. Titular ADOLFO JOSÉ MELFI Vice-Reitor: Prof. Titular HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS Diretor: Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR Vice-Diretor: Prof. Titular RUY ALBERTO CORREA ALTAFIM DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS Chefe do Departamento: Prof. Titular CARLITO CALIL JUNIOR Suplente do Chefe do Departamento: Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA Coordenador de Pós-Graduação: Prof. Associado MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico: MARIA NADIR MINATEL e-mail: minatel@sc.usp.br Editoração e Diagramação: FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO MASAKI KAWABATA NETO MELINA BENATTI OSTINI TATIANE MALVESTIO SILVA São Carlos, v.7 n. 27 2005 Departamento de Engenharia de Estruturas Escola de Engenharia de São Carlos – USP Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro CEP: 13566-590 – São Carlos – SP Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482 site: http://www.set.eesc.usp.br SSUUMMÁÁRRIIOO Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço formados a frio Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto 1 Análise do projeto de estruturas metálicas espaciais: ênfase em coberturas Arnaldo Nascimento de Souza & Maximiliano Malite 27 Pilares de concreto armado sob ação centrada com resistência do concreto de 25MPa Ricardo Ferreira Ramos & José Samuel Giongo 59 A interação de paredes de alvenaria estrutural submetidas a ações verticais Valentim Capuzzo Neto & Márcio Roberto Silva Corrêa 93 Integração da equação de movimento através da transformada de Fourier com o uso de ponderadores de ordem elevada Arnaldo Carlos Müller Júnior & José Elias Laier 121 ISSN 1809-5860 Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 ANÁLISE DA RESPOSTA NUMÉRICA DE LIGAÇÕES PARAFUSADAS TRACIONADAS DE ELEMENTOS DE AÇO FORMADOS A FRIO Pedro Gonçalves de Rezende1 & Jorge Munaiar Neto2 R e s u m o A utilização de perfis de aço formados a frio na construção metálica brasileira vem crescendo de forma significativa. Dentro deste mesmo contexto, atenções especiais estão sendo direcionadas às ligações utilizadas neste tipo de perfil, pelo fato de as chapas que os constituem resultarem cada vez mais esbeltas em função da significativa redução na sua espessura (elevada relação largura/espessura). Por esta razão, as ligações em perfis formados a frio têm sido estudadas por pesquisadores, tanto no contexto mundial como no Brasil. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo realizar estudos relacionados às ligações parafusadas em chapas e perfis formados a frio feitos de aço, com vistas a avaliar a resistência e o comportamento destas ligações por meio de modelagem numérica, simulando o comportamento estrutural com a utilização do código de cálculo ANSYS v.6.0, elaborado com base nos Métodos dos Elementos Finitos (MEF). No sentido de avaliar a eficiência e a confiabilidade dos modelos elaborados, os resultados numéricos obtidos são comparados com resultados experimentais obtidos por meio de ensaios, bem como comparados com resultados obtidos por outros pesquisadores. Palavras-chave: perfis de aço formados a frio; ligações parafusadas; análise numérica. 1 INTRODUÇÃO Os perfis de aço formados a frio constituem um tema de grande importância no contexto da construção metálica brasileira. A crescente aplicação destes elementos nas estruturas e demais componentes, bem como a necessidade e importância de publicações e pesquisas no país, compatíveis com o material e os perfis aqui empregados, fazem com que este tema seja objeto de interesse e estudos nos contextos brasileiro e mundial. Estes perfis são obtidos pelo dobramento a frio de chapas de aço, cujas operações de conformação podem ser realizadas por três processos distintos, denominados usualmente por dobramento ou prensagem, calandragem e perfilagem, 1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, pg_rezende@yahoo.com.br. 2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jmunaiar@sc.usp.br Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 2 todos realizados por máquinas do tipo prensas dobradeiras, calandras e perfiladeiras, respectivamente. A utilização dos perfis formados a frio na construção metálica teve início por volta de 1850, na Inglaterra e nos Estados Unidos, porém, utilizados de maneira restrita e sem informações técnicas adequadas sobre seu comportamento estrutural. No Brasil, o emprego dos perfis formados a frio se iniciou praticamente no final da década de 60, quando algumas empresas adquiriram equipamentos específicos para a realização de operações de dobramentos a frio, conforme mencionado em MALITE (1993). Os perfis formados a frio proporcionam vantagens, tais como maior disponibilidade no mercado para pequenas e elevadas quantidades, e maior possibilidade de otimização de perfis nos projetos. Esta otimização ocorre principalmente em razão de os perfis formados a frio, em geral, apresentarem maior relação inércia/peso quando comparados aos perfis laminados e soldados, tendo como conseqüência imediata um menor consumo de material. Pelas razões mencionadas anteriormente, ocorreu uma forte demanda induzida de empresas de portes pequeno e médio, do interior do Estado de São Paulo, que passaram a consumir em larga escala os perfis formados a frio nas chamadas “estruturas leves”, em substituição aos clássicos perfis laminados. Uma vez identificado, naquela época, o aumento na demanda dos perfis formados a frio e a inexistência de material técnico adequado para o projeto, entendeu-se como necessário elaborar uma norma brasileira para projeto de estruturas de aço em perfis formados a frio. Nesta norma, os coeficientes de ponderação das ações e das resistências, além da nomenclatura e simbologia, estariam calibrados e ajustados com outras normas brasileiras. As ligações parafusadas sempre representaram (e ainda representam) um tema bastante difundido no Brasil quando se tratava de estruturas constituídas por perfis laminados e soldados, porém, pouco abordado no caso de estruturas constituídas por perfis formados a frio. Este aspecto deveu-se ao fato de a NB- 143:1967 (Cálculo de Estruturas de Aço, Constituídas por Perfis Leves), ter, naquela época, omitido em suas prescrições o item “ligações”. Neste caso, as ligações eram calculadas com base em normas estrangeiras. Com a publicação da NBR 14762:2001,(Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio) o tema ligações passou a ser abordado com maior freqüência. Porém, como ocorre com a primeira edição de qualquer documento normativo, existem algumas dúvidas com relação ao comportamento e procedimentos de cálculo destas ligações adotados pela norma brasileira. Acredita-se, portanto, que sejam necessárias pesquisas complementares àquelas já realizadas, ou mesmo àquelas em desenvolvimento, abordando o assunto ligações em perfis formados a frio, em especial, no que se refere à utilização de ferramentas computacionais para a análise numérica, uma vez que análises experimentais são, em geral, realizadas com maior freqüência. Como exemplos de estudos experimentais,podem ser citados os resultados obtidos e apresentados em MAIOLA (2004) em que foram largamente estudadas ligações parafusadas em chapas finas e em perfis formados a frio feitos de aço, com ênfase na ruptura por tração da seção líquida. Nessa referência, são apresentados e discutidos resultados de investigações experimentais de ligações parafusadas em perfis de aço formados a frio, cantoneiras e perfis U, com espessuras de 1,5 mm e Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 3 3,75 mm, com o objetivo de avaliar o comportamento estrutural destas ligações, bem como os correspondentes modos de falha. O comportamento das ligações entre perfis formados a frio pode apresentar diferenças significativas quando comparados ao comportamento de ligações entre perfis laminados ou soldados. Esta diferença de comportamento se deve ao fato de as espessuras dos elementos envolvidos variarem de 0,4 mm a 6,3 mm para os perfis formados a frio, e de 6,3 mm a 50 mm para os perfis laminados e soldados. A ligação parafusada deve ser capaz de transmitir a força de um elemento para o outro, por meio dos parafusos. Em seções transversais da barra afastadas da ligação, a tensão, por simplificação, pode ser assumida com distribuição uniforme. Por outro lado, nas proximidades da região da ligação, a distribuição uniforme de tensões perde significado e passa a ser considerada como concentrada ou “estrangulada”. Como conseqüência, a seção transversal de um perfil no entorno da ligação não é solicitada na sua totalidade quando não conectada por todos os seus elementos, o que favorece, neste caso, a ruptura da seção líquida. Este fato proporciona uma redução da resistência das barras submetidas à tração que, por sua vez, implica na diminuição da resistência das respectivas ligações. Este fenômeno é considerado pelas normas, por meio da aplicação de um coeficiente de redução da área bruta da seção na região da ligação, obtendo-se desta maneira uma área líquida reduzida (ou efetiva). O presente trabalho tem por objetivo analisar numericamente o comportamento estrutural de ligações parafusadas em perfis formados a frio, com vistas a se estabelecer uma abordagem numérica, confiável e satisfatória, destas ligações, realizando simulações numéricas em microcomputadores por meio da utilização do código de cálculo ANSYS v. 6.0. Os resultados da análise numérica serão comparados com resultados experimentais apresentados em MAIOLA (2004), cujos ensaios foram realizados no Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia de Estruturas, da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. É importante destacar que os modelos numéricos, desde que devidamente calibrados, constituem uma ferramenta de grande interesse em pesquisas, pois permitem obter resultados bastante satisfatórios em tempo reduzido, sem que exija a necessidade de gastos com materiais, bem como a mobilização de pessoal especializado (técnicos), entre outros aspectos. 2 CONSTRUÇÃO DOS MODELOS NUMÉRICOS A modelagem numérica de um sistema físico qualquer consiste em simular este sistema por meio de uma aproximação matemática, utilizando-se um conjunto de elementos finitos inter-relacionados, que represente de maneira satisfatória o sistema analisado. Quando se trata de modelagem numérica de estruturas metálicas e, principalmente de estruturas constituídas por perfis formados a frio, é comum realizar análises em campo bidimensional, por meio de elementos finitos do tipo casca (Shell) para representar os perfis. Trata-se de uma estratégia numérica que, geralmente, conduz a bons resultados, além do fato de reduzir consideravelmente o número de Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 4 elementos finitos utilizados na discretização dos modelos e, conseqüentemente, o tempo de processamento. No entanto, em algumas situações, como por exemplo, no caso de ligações parafusadas, a adoção de algumas condições de contorno (por exemplo, na região dos parafusos) pode comprometer os resultados das análises. No presente trabalho foram construídos e analisados três modelos numéricos de ligações parafusadas em perfis formados a frio. Estes modelos foram elaborados de acordo com os modelos experimentais apresentados em MAIOLA (2004), razão pela qual foram adotadas para os modelos numéricos a mesma nomenclatura dos modelos experimentais ensaiados. O primeiro modelo experimental escolhido para análise consiste de uma ligação parafusada em chapa fina, composta por aço CSN COR 420 com 2,0 mm de espessura. A mesma ligação apresenta dois furos de 14,5 mm de diâmetro na direção perpendicular à linha da força, com espaçamentos entre esses mesmos furos respeitando as distâncias mínimas estabelecidas pela NBR 14762:2001, ou seja, 3d (37,5 mm) entre furos e 1,5d (18,75 mm) entre furo e borda, estando dispostos em três seções distantes entre si 37,5 mm, conforme Fig. 1a. Na análise experimental, esta configuração apresentou modo de falha por ruptura da seção líquida, obtendo força última com valor igual a 48,8 kN e deslocamento total, incluindo acomodação dos parafusos no furo, igual a 8,4 mm, conforme apresentado Fig. 1b. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 0 2 4 6 8 10 Deslocamentos (mm) Fo rç a (k N ) Des locam entos observados Des locam entos corrigidos Acomodação dos parafusos (a) (b) Figura 1 – Modelo de chapa: (a) Esquema do perfil ensaiado (unidade mm) e (b) Relação Força versus Deslocamento obtido no modelo experimental. O segundo modelo experimental escolhido para análise consiste de uma ligação parafusada em perfil formado a frio com cantoneira de abas iguais (L 50 x 50 x 1,55 mm), conectada por uma das abas e composta por aço ZAR 345. A mesma ligação apresenta três parafusos alinhados na direção da força, com furos de diâmetro 14,5 mm, localizados no centro da aba conectada, e com espaçamentos entre centros de furos e centro de furo e borda de 37,5 mm, Fig. 2a. Na análise experimental, esta configuração apresentou modo de falha por ruptura da seção líquida, obtendo força última com valor igual a 36,5 kN e Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 5 deslocamento total, incluindo acomodação dos parafusos no furo, igual a 10,7 mm, conforme apresentado na Fig. 2b. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 2 4 6 8 10 Deslocamento. (mm) Fo rç a (k N ) Deslocamentos observados Deslocamentos corrigidosAcomodação dos parafusos (a) (b) Figura 2 – Modelo cantoneira: (a) Esquema do perfil ensaiado (unidade mm) e (b) Relação Força versus Deslocamento obtido no modelo experimental. O terceiro modelo experimental escolhido para análise consiste de uma ligação parafusada em perfil formado a frio do tipo U (U 100 x 40 x 1,55 mm), conectada pela alma e composta por aço ZAR 345. Apresenta quatro parafusos alinhados na direção da força, com furos de diâmetro 14,5 mm, localizados no centro da alma, com espaçamentos entre centros de furos e entre centro de furo e borda, igual a 37,5 mm, como mostra a Fig. 3a. Na análise experimental, esta configuração apresentou modo de falha por ruptura da seção líquida, obtendo força última com valor igual a 70,05 kN e deslocamento total, incluindo acomodação dos parafusos no furo, igual a 12,31 mm, conforme mostra a Fig. 3b. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 4550 55 60 65 70 75 0 2 4 6 8 10 12 14 Deslocamento (mm) Fo rç a (k N ) Deslocamentos corrigidos Deslocamentos observados Acomodação dos parafusos (a) (b) Figura 3 – Modelo perfil U: (a) Esquema do perfil ensaiado (unidade mm) e (b) Relação Força versus Deslocamento obtido no modelo experimental. Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 6 Durante o ensaio, uma vez vencido o atrito entre o perfil e o dispositivo de fixação, foi verificada a acomodação do parafuso no furo padrão. Esse fenômeno não foi representado nas análises numéricas, uma vez que, para representar esse fenômeno, seriam necessários modelos numéricos mais complexos que englobariam aspectos que não constituem os objetivos do presente trabalho. Nesse caso, para comparação dos resultados experimentais, o trecho de deslocamento correspondente à acomodação do parafuso foi suprimido das relações entre força e deslocamento, conforme identificado nos gráficos das Fig.1, 2 e 3. 3 ASPECTOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DOS MODELOS NUMÉRICOS 3.1 Elementos finitos utilizados O código de cálculo ANSYS v.6.0 disponibiliza ao usuário uma extensa variedade de elementos finitos, os quais devem ser convenientemente utilizados de acordo com o tipo de problema a ser resolvido. A escolha dos tipos de elementos finitos a serem utilizados na simulação numérica deve ser feita levando-se em conta vários aspectos, tais como, a família a qual o elemento pertence, graus de liberdade, número de nós e, principalmente, o comportamento que ele apresenta perante a análise desejada. Na elaboração dos modelos numéricos foi utilizado o elemento finito do tipo sólido, denominado SOLID 45 para modelar as chapas, perfis, parafusos e porcas, e os elementos do tipo contato, denominados TARGET 170 e CONTACT 174, para modelar os contatos entre os diversos elementos da ligação. 3.1.1 Elemento finito SOLID 45 O elemento finito denominado SOLID 45, ilustrado na Fig. 4, é um elemento finito tridimensional que possui oito nós, com três graus de liberdade por nó, referentes às translações nas direções X, Y e Z (coordenadas globais). Esse elemento foi utilizado para a discretização das chapas, perfis, porcas e parafusos. Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 7 Figura 4 – Elemento finito denominado SOLID 45. 3.1.2 Elementos finitos de contato TARGET 170 e CONTACT 174 O elemento finito de contato denominado TARGET 170, ilustrado na Fig. 5, é um elemento finito tridimensional utilizado em conjunto com o elemento de contato CONTACT 174, ilustrado na Fig. 6, com vistas à discretizar o contato entre os componentes da ligação (chapas, perfis e parafusos). Ambos apresentam as mesmas características, ou seja, possuem oito nós, com três graus de liberdade por nó, referentes às translações nas direções X, Y e Z (coordenadas globais). Figura 5 – Elemento finito denominado TARGET 170. Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 8 Figura 6 – Elemento finito denominado CONTACT 174. 3.2 Relação constitutiva adotada para o aço Para o presente estudo, foi adotada uma relação constitutiva considerando a não linearidade do material. Admitiu-se para o aço, uma relação entre tensão e deformação (diagrama tensão x deformação) do tipo trilinear. Com vistas a facilitar a análise dos modelos numéricos, esta relação constitutiva foi aplicada a todos os componentes do modelo, ou seja, para as chapas, perfis, parafusos e porcas, apesar de o comportamento dos dois últimos componentes ser diferentes dos dois primeiros. No entanto, essa simplificação pode ser justificada considerando o fato de que as deformações ocorridas nos parafusos e nas porcas são insignificantes quando comparadas às deformações ocorridas nas chapas e nos perfis. A Fig. 7 apresenta o diagrama tensão x deformação adotada nesta análise. Este diagrama é representado por um trecho inicial elástico-linear, com módulo de elasticidade E = 20.500 kN/cm2, para níveis de tensões variando entre zero e a tensão de proporcionalidade do aço (fp), aqui adotada igual a 70% da resistência ao escoamento do aço, ou seja, fp = 0,7fy. Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 9 0,0012 0,01 0,2 f y 0,7f y f u σ ε Figura 7 – Representação gráfica do diagrama Tensão x Deformação adotado. Após o material atingir a tensão de proporcionalidade (0,7fy), a relação tensão x deformação deixa de ter comportamento elástico linear e, a partir de então, o material começa a sofrer deformações plásticas (permanentes). Como os níveis de tensões verificada nos ensaios foram da ordem da tensão de ruptura do aço (fu), não seria conveniente realizar uma análise apenas linear destas ligações. Por esta razão, a análise em questão foi do tipo não linear. Com o objetivo de representar a não linearidade do material, para níveis elevados de tensão, foi adotada esta relação constitutiva multilinear. O valor da tensão de proporcionalidade do aço (0,7fy), foi adotado por ser um valor bastante utilizado por pesquisadores e também sugerido em literatura especializada. É importante salientar que a relação tensão x deformação aplicada ao material, pode ser uma curva composta por vários trechos. O programa ANSYS v.6.0 permite a utilização vários trechos retos, tantos quanto o usuário desejar. Nesta análise foram utilizados apenas quatro trechos, justificados pelo fato de os resultados obtidos terem sido satisfatórios. Adotou-se um trecho linear para as tensões variando entre a tensão de proporcionalidade do aço (0,7fy) e a tensão de escoamento do aço (fy), correspondendo a uma deformação εy igual a 0,01. O valor da deformação εy = 0,01 foi adotado com o objetivo de calibrar os modelos numéricos. Alguns trabalhos, por exemplo, em Yu (2000), sugerem essa deformação com valor igual a 0,02. No entanto, nesta mesma referência, o autor deixa em aberto este valor, no caso de ligações parafusadas.Nestas circunstâncias, sugere-se que para as ligações parafusadas a deformação εy deve ser determinada experimentalmente, uma vez que o comportamento destas ligações ainda não é totalmente conhecido. Apos o material atingir a tensão de escoamento (fy), admitiu-se outro segmento linear até a tensão de ruptura do material (fu), correspondendo a uma deformação εu = 0,2. Para deformações acima de 0,2, admitiu-se que a tensão Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 10 permanece constante e a deformação cresce indefinidamente até a ruptura do material. 3.3 Modelos numéricos discretizados por meio de elementos finitos Os modelos construídos com vistas à análise numérica são constituídos por elementos que formam os perfis, as chapas, os parafusos e as porcas, bem como o contato entre os componentes das ligações. As figuras que se seguem apresentam a discretização, em elementos finitos, dos componentes citados anteriormente. Com o objetivo de simplificar os modelos, o fuste e a cabeça do parafuso, bem como a porca, foram considerados todos como sendo um só elemento, ou seja, a porca foi considerada solidarizada ao fuste do parafuso, resultando em um parafuso com duas cabeças fixas. É importante salientar que as porcas e os parafusos utilizados nas ligações foram discretizados damesma maneira. A Fig. 8 apresentada a seguir, ilustra detalhadamente a discretização do parafuso em elementos finitos. Nessa mesma figura, são apresentadas uma vista lateral do parafuso com as respectivas cabeça e porca (Fig. 8a), uma vista frontal da cabeça do parafuso ilustrando a sua discretização em elementos finitos (Fig. 8b) e uma vista em perspectiva do parafuso com sua cabeça e porca acopladas (Fig.8c). Ainda, nesta mesma figura, são apresentadas uma vista isométrica da porca isolada (Fig. 8d), uma vista ilustrando o fuste do parafuso (Fig. 8e) e uma vista em perspectiva do parafuso sem a porca (Fig. 8f), onde pode-se perceber claramente a coincidência dos nós do fuste com os nós da cabeça do parafuso. A Fig. 9 apresentada a seguir ilustra detalhadamente a discretização em elementos finitos do modelo numérico representativo do modelo experimental em chapas (Fig.1), aqui denominado C2C1. Nesta figura estão apresentadas duas vistas isométricas do modelo, mostrando o modelo completo (Fig. 9a) e em detalhe a região dos parafusos na ligação (Fig. 9b). Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 11 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 8 – Discretização dos parafusos e porcas em elementos finitos. (a) (b) Figura 9 – Discretização do modelo numérico denominado C2C1 em elementos finitos. A Fig. 10 apresentada a seguir ilustra detalhadamente a discretização em elementos finitos do modelo numérico representativo do modelo experimental de ligação parafusada em perfil formado a frio do tipo cantoneira (Fig.2), denominado LI1C1. Nesta mesma figura, estão apresentadas duas vistas isométricas. Uma vista mostrando a discretização em elementos finitos do modelo completo e outra vista Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 12 mostrando em detalhe a discretização do modelo na região dos parafusos. Pode-se perceber que o perfil foi conectado a uma chapa rígida por meio de três parafusos alinhados na direção da força, conforme já descrito anteriormente no item 2. (a) (b) Figura 10 – Discretização do modelo numérico denominado LI1C1 por meio de elementos finitos. A Fig. 11 apresentada ilustra detalhadamente a discretização em elementos finitos do modelo numérico representativo do modelo experimental de ligação parafusada em perfil formado a frio do tipo U (Fig.3), denominado U1D1. Nesta figura são apresentadas duas vistas isométricas, uma vista geral mostrando a discretização em elementos finitos do modelo completo e uma vista mostrando, em detalhe, a discretização em elementos finitos apenas da região dos parafuso (a) (b) Figura 11 – Discretização do modelo numérico denominado U1D1 por meio de elementos finitos. O contato entre os elementos das ligações foi estabelecido utilizando-se os elementos finitos dos tipos CONTACT 174 e TARGET 170, adequados para esta Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 13 finalidade. Estes dois tipos de elementos finitos de contato foram utilizados nos três modelos numéricos analisados, sendo aplicados em todas as regiões em que havia o contato direto entre as partes da ligação, ou seja, entre o fuste do parafuso e a borda do furo, entre a face do perfil ou chapa e a face da cabeça ou porca do parafuso, e também entre duas chapas adjacentes. A Fig. 12 apresentada a seguir, ilustra a discretização em elementos finitos (de contato) utilizada no modelo numérico C2C1. Nesta figura está apresentada uma vista geral isométrica dos elementos de contato localizados na interface entre as chapas, entre a chapa e a face da cabeça do parafuso, e entre a chapa e a face da porca do parafuso (Fig. 12a). Nesta mesma figura, apresentam-se uma vista isométrica ilustrando, em detalhe, apenas os elementos de contato das faces da cabeça e porca do parafuso (Fig. 12b) e uma vista isométrica ilustrando, em detalhe, os elementos de contato da interface entre o fuste do parafuso e a parede do furo na chapa (Fig. 12c). (a) (b) (c) Figura 12 – Discretização dos elementos de contato utilizados no modelo numérico denominado C2C1. Nos demais modelos numéricos, no caso, LI1C1 e U1D1, o contato entre os elementos da ligação foi estabelecido de maneira análoga àquela adotada para o modelo numérico C2C1, razão pela qual não serão aqui apresentados. 3.4 Condições de contorno e de carregamento Para os modelos numéricos apresentados nos itens anteriores, as condições de contorno e de carregamento foram adotadas em concordância com aquelas estabelecidas nos ensaios experimentais realizados no Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, cujos resultados estão apresentados em MAIOLA (2004). Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 14 Nestes ensaios experimentais, os corpos-de-prova de ligações parafusadas foram ensaiados a corte simples e tiveram os deslocamentos relativos na região da ligação medidos por meio de transdutores de deslocamentos, posicionados com base de medida inicial igual a 375 mm. Com vistas a facilitar a comparação dos resultados referentes aos deslocamentos, os modelos numéricos foram também construídos com 375 mm de comprimento. Nos ensaios experimentais não foram utilizadas arruelas junto à porca e à cabeça dos parafusos. Por esta razão, nos modelos numéricos o uso de arruelas junto à cabeça e à porca dos parafusos foi também desconsiderado. 3.4.1 Condições para a ligação parafusada entre chapas – Modelo C2C1 Neste modelo, uma das extremidades da chapa foi fixada restringindo-se as translações nas direções X, Y e Z (coordenadas globais). Para a outra extremidade, foram restringidas apenas as translações nas direções Y e Z, deixando livre a translação em X (eixo da chapa). Na extremidade da chapa onde a translação na direção X é livre, foi imposto um deslocamento igual a 10 mm por meio de procedimento incremental-iterativo. Nesta mesma extremidade, os deslocamentos na direção X foram acoplados de forma que todos os pontos da seção apresentassem os mesmos deslocamentos, buscando respeitar o mesmo procedimento adotado nos ensaios. A Fig. 13 ilustra as condições de contorno e de carregamento aplicadas para o modelo C2C1. Nesta mesma figura apresentam-se uma vista geral das condições de contorno e de carregamento (Fig. 13a), uma ampliação da extremidade mostrando a aplicação do carregamento e as restrições aos deslocamentos nas direções Y e Z e o acoplamento dos deslocamentos na direção X (Fig. 13b), bem como uma ampliação da outra extremidade, mostrando as restrições aos deslocamentos nas direções X, Y e Z (Fig. 13c). (a) (b) (c) Figura 13 – Condições de contorno e de carregamentopara o modelo numérico C2C1. Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 15 3.4.2 Condições para a ligação parafusada em perfil cantoneira – Modelo LI1C1 Nesse modelo, o perfil foi conectado por uma de suas extremidades a uma chapa rígida por meio de três parafusos. Nesta extremidade, foi imposta à chapa rígida restrições nas direções X, Y e Z (coordenadas globais). Na outra extremidade do perfil, foram restringidas as translações nas direções Y e Z, deixando livre a translação na direção X (eixo do perfil). Nesta mesma extremidade, foram acoplados os deslocamentos na direção X, de forma que todos os pontos da seção apresentassem os mesmos deslocamentos. Foi imposto, nesta direção X, um deslocamento igual a 10 mm por meio de procedimento incremental- iterativo. A Fig. 14 ilustra as condições de contorno e de carregamento aplicadas para este modelo. Nesta mesma figura apresentam-se uma vista geral das condições de contorno e de carregamento (Fig. 14a) e uma ampliação da extremidade mostrando a aplicação do carregamento e as restrições aos deslocamentos nas direções Y e Z, bem como o acoplamento dos deslocamentos na direção X (Fig. 14b). A mesma figura apresenta uma ampliação da outra extremidade, mostrando as restrições aos deslocamentos nas direções X, Y e Z (coordenadas globais), imposta à chapa rígida (Fig. 14c e 14d). (a) (b) (c) (d) Figura 14 – Condições de contorno e de carregamento para o modelo LI1C1. Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 16 3.4.3 Condições para a ligação parafusada em perfil U – Modelo U1D1 As condições de contorno e carregamento consideradas para este modelo, foram idênticas àquelas adotadas para o modelo de ligação em perfil cantoneira, denominado LI1C1 e apresentado no item 3.4.2. A Figura 15 ilustra as condições de contorno e de carregamento adotadas para este modelo. Nesta mesma figura apresentam-se uma vista geral das condições de contorno e de carregamento (Fig. 15a) e uma ampliação da extremidade mostrando a aplicação do carregamento e as restrições aos deslocamentos nas direções Y e Z, bem como o acoplamento dos deslocamentos na direção X (eixo do perfil), conforme ilustra a Fig. 15b. A mesma figura apresenta uma ampliação da outra extremidade, mostrando as restrições aos deslocamentos nas direções X, Y e Z (coordenadas globais), imposta à chapa rígida (Fig. 15c e 15d). (a) (b) (c) (d) Figura 15 – Condições de contorno e de carregamento para o modelo numérico U1D1 4 ANÁLISE DA RESPOSTA NUMÉRICA DOS MODELOS 4.1 Considerações iniciais Serão apresentados neste item, os resultados obtidos por meio de análises numéricas para os modelos de ligações parafusadas constituídas por chapa fina, por perfil cantoneira e por perfil U. Os resultados numéricos obtidos são comparados com resultados experimentais, uma vez que todos os tipos de ligações modelados nesta análise foram ensaiados experimentalmente. Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 17 Em todos os modelos analisados, os carregamentos foram aplicados indiretamente na forma de incrementos de deslocamentos, por meio de 4 (quatro) passos de carregamentos, com cada passo subdividido em outros 5 (cinco) ou mais sub-passos na solução do modelo. Estes sub-passos são estabelecidos automaticamente pelo programa ANSYS v. 6.0 para que ocorra a convergência dos resultados. Utilizou-se como parâmetro de convergência para os deslocamentos, uma tolerância igual a 0,01. Em razão da forma adotada para a aplicação dos carregamentos, o procedimento utilizado para a solução do sistema de equações de equilíbrio foi do tipo “incremental-iterativo”, em correspondência com o Método Full-Newton-Raphson para a solução de problemas não-lineares. 4.2 Resultados para ligação parafusada em chapa fina - Modelo C2C1 Os resultados obtidos para o modelo numérico C2C1 foram comparados com resultados experimentais apresentados em MAIOLA (2004). Esta comparação foi estabelecida por meio da relação entre Força e Deslocamento, conforme apresentado na Fig. 16. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 0 2 4 6 8 10 Deslocamento (mm) Fo rç a (k N ) Resultados Experimentais Resultados Numéricos Modelo C2C1 Figura 16 – Diagrama Força x Deslocamento para a ligação parafusada em chapa fina Ao analisar o gráfico apresentado na Fig. 16, nota-se que no trecho inicial da curva, para valores de deslocamentos menores que 2 mm, o modelo C2C1 apresentou rigidez ao deslocamento pouco superior àquela obtida no ensaio experimental. No trecho intermediário da curva, para deslocamentos entre 2 mm e 6 mm, observaram-se concordância satisfatória entre os resultados numéricos dos modelos, C2C1 com o resultado experimental. Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 18 Inicio de ruptura entre os furos Propagação da trinca para as bordas e estricção da chapa Para o trecho final da curva força x deslocamentos a comparação não foi estabelecida, uma vez que no ensaio experimental ocorreu a ruptura da ligação resultando em força nula. No modelo numérico, esse aspecto não pode ser identificado tendo em vista que o material, mesmo atingindo elevadas tensões que o levam a plastificação, continua respondendo com deslocamentos sempre crescentes. Portanto, nesse caso, a comparação deixa de ter sentido físico. Comparando-se a força última obtida para os dois casos, nota-se que no modelo numérico C2C1, a força última obtida resultou igual a 49,91 kN, enquanto que no ensaio, esta mesma força resultou igual a 49,01 kN, representando uma diferença da ordem de 2%. A Fig. 17 apresenta as curvas de isotensões, tomadas com referência às tensões equivalentes de von Mises, para o modelo numérico C2C1. Nesta figura, pode-se observar que entre os furos aparecem tensões elevadas, da ordem das tensões de plastificação do aço. Por esta razão, a região em questão pode ser escolhida como forte candidata para a ocorrência da ruptura do material, como de fato foi possível constatar no ensaio experimental. Figura 17 – Curvas de isotensões (equivalente de Mises), para o modelo C2C1. Unidade: kN/cm2 (a) (b) (c) Figura 18 – Detalhes da ruptura da ligação para o modelo C2C1 Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 19 Outro aspecto importante da modelagem numérica e que merece destaque, refere-se ao fato de que a configuração deformada verificada no ensaio experimental foi satisfatoriamente recuperada nos modelos numéricos. Este fato está representado na Fig. 18, em que é mostrada, em detalhe, a ruptura da ligação no ensaio experimental (Fig. 18b e 18c). É mostrada ainda uma ampliação da região mais solicitada do modelo numérico C2C1 (Fig. 18a), em que pode ser observada a ocorrência de estricção da chapa de aço no local onde ocorrea ruptura, em concordância com o ensaio experimental. 4.3 Resultados para ligação em perfil cantoneira - Modelo LI1C1 Os resultados obtidos para o modelo numérico LI1C1 foram comparados com resultados experimentais apresentados em MAIOLA (2004). Esta comparação foi estabelecida por meio da relação Força x Deslocamento, conforme apresentado na Fig. 19. Nesta figura pode-se observar que a curva obtida na análise numérica apresenta comportamento semelhante àquela obtida na analise experimental. Nesse caso, o modelo numérico apresentou resultado satisfatório quando comparado ao resultado experimental. No trecho inicial da curva, para valores de deslocamentos menores que 2 mm, o modelo numérico LI1C1, apresentou rigidez ao deslocamento praticamente igual à rigidez ao deslocamento observada no ensaio experimental. No trecho intermediário da curva, para deslocamentos entre 2 mm e 4 mm, observou-se uma concordância satisfatória entre o resultado numérico do modelo LI1C1 e o resultado experimental. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 2 4 6 8 10 Deslocamento (mm) Fo rç a (k N ) Resultados Experimentais Resultados Numéricos Modelo LI1C1 Figura 19 – Diagrama Força x Deslocamento para a ligação parafusada em perfil cantoneira. Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 20 No trecho final da curva, correspondente a deslocamentos maiores que 4 mm, a comparação deixa de ter sentido físico, uma vez que no ensaio experimental ocorreu a ruptura da ligação resultando em força nula. No modelo numérico, isto não pode ser identificado, tendo em vista que o material, mesmo atingindo elevadas tensões que o levam a plastificação, continua respondendo com deslocamentos sempre crescentes para força constante e, conseqüentemente, diferentes de zero. Comparando-se a força última obtida para o modelo numérico LI1C1, nota-se que esta força última resultou igual a 39,20 kN, enquanto que no ensaio, esta mesma força resultou igual a 36,58 kN, cuja diferença é da ordem de 7,16 %. A Fig. 20 apresenta as curvas de isotensões, tomadas com referência às tensões equivalentes de von Mises, para o modelo numérico LI1C1. Nesta figura, pode-se observar que entre o furo e a borda da cantoneira, na seção em que está localizado o primeiro parafuso, aparecem tensões elevadas, da ordem das tensões de plastificação do aço. Por esta razão, a região em questão pode ser indicada como forte candidata para a ocorrência da ruptura do material, como de fato foi possível constatar no ensaio experimental. Figura 20 – Curvas de isotensões (equivalente de Mises), para o modelo LI1C1. Unidade: kN/cm2. (a) (b) Figura 21 – Detalhes da ruptura da ligação em perfil cantoneira. Ruptura da ligação entre furo e borda e, estricção da aba Deformação da aba, não conectada, da cantoneira Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 21 A configuração deformada verificada no ensaio experimental foi satisfatoriamente recuperada no modelo numérico LI1C1, conforme representado na Fig. 21, em que é mostrada em detalhe a ruptura e a configuração deformada da ligação no ensaio experimental, Fig. 21a. Na mesma figura, é mostrada ainda uma ampliação da região dos parafusos do modelo numérico LI1C1, Fig. 21b, em que se pode observar a deformação ocorrida na aba não conectada da cantoneira, em concordância com o ensaio. 4.4 Resultados para ligação parafusada em perfil U - Modelo U1D1 Os resultados obtidos para o modelo numérico U1D1 foram comparados com resultados experimentais apresentados em MAIOLA (2004). Esta comparação foi estabelecida por meio da relação entre Força aplicada e Deslocamento (axial), conforme apresentado na Fig. 22. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 2 4 6 8 10 12 Deslocamentos (mm) Fo rç a (k N ) Resultado Numérico Modelo U1C1 Resultado Experimental Figura 22 – Diagrama Força x Deslocamento para a ligação parafusada em perfil U Nesta última figura pode-se observar que a curva obtida na análise numérica apresenta comportamento semelhante àquela obtida na análise experimental. Nesse caso, o modelo numérico apresentou resultado satisfatório quando comparado ao resultado experimental. No trecho inicial da curva, para deslocamentos até 0,5 mm, o modelo numérico U1D1 apresentou rigidez ao deslocamento equivalente àquela rigidez observada no ensaio experimental. O trecho intermediário da curva, para deslocamentos entre 0,5 mm e 4 mm, o modelo numérico apresentou rigidez ao deslocamento pouco superior àquela rigidez observada no ensaio experimental. Nota-se que as deformações no referido trecho da curva, obtidas no ensaio experimental, resultaram maiores que as deformações observadas no modelo numérico. Este aspecto pode ser explicado pela ocorrência de acomodações dos Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 22 parafusos e, conseqüentemente, maiores deformações. No modelo numérico, as acomodações dos parafusos não foram consideradas, razão pela qual o modelo numérico apresente uma maior rigidez às deformações para este trecho da curva. O trecho final da curva, para deslocamentos maiores que 4 mm, a concordância resultou bastante satisfatória, ou seja, o modelo numérico apresentou resultados muito próximos dos resultados experimentais. Comparando-se a força última obtida, nota-se que no modelo numérico, a força última obtida resultou igual a 69,54 kN, enquanto que no ensaio experimental, esta mesma força resultou igual a 69,89kN, com diferenças da ordem de 0,5 %. A Fig. 23 apresenta as curvas de isotensões, tomadas com referência às tensões equivalentes de von Mises, para o modelo numérico U1D1. Nesta figura, pode-se observar que nas bordas do furo, na seção em que está localizado o primeiro parafuso, aparece tensões elevadas, da ordem das tensões de plastificação do aço, razão pela qual a região em questão pode ser indicada como forte candidata para a ocorrência da ruptura do material, como de fato foi possível constatar no ensaio experimental. Figura 23 – Curvas de isotensões (equivalente de Mises), para o modelo U1D1. Unidade: kN/cm2. Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 23 (a) (b) Figura 24 – Detalhes da ruptura da ligação em perfil U com quatro parafusos. Analogamente ao observado no modelo de ligações parafusadas em perfis cantoneira, a configuração deformada verificada no ensaio experimental foi satisfatoriamente recuperada no modelo numérico. Este fato está representado na Fig. 24a, em que é mostrada, em detalhe, a ruptura e a configuração deformada da ligação no ensaio experimental. Na mesma figura, é apresentada uma ampliação da região em que estão localizados os parafusos do modelo numérico U1D1, Fig. 24b, em que podem ser observadas as deformações ocorridas nas mesas do perfil, em concordância com as deformações observadas no ensaio experimental. 5 CONCLUSÕES A estratégia de modelagem numérica adotada no presente trabalho mostrou- se bastante eficiente, quando os resultados obtidos por meio dos modelos numéricosforam comparados àqueles resultados obtidos experimentalmente. Observou-se que para todos os modelos numéricos, denominados C2C1, LI1C1 e U1D1 as forças últimas obtidas resultaram satisfatoriamente próximas àquelas identificadas nos ensaios experimentais. Vale destacar ainda que a configuração deformada e os modos de falha obtidos nos modelos numéricos resultaram praticamente idênticos àqueles observados nos ensaios experimentais. É importante salientar que nos ensaios experimentais ocorreram, como esperado, acomodações dos parafusos devido ao fato de o diâmetro dos furos ser menor se comparado ao diâmetro dos parafusos. Estas acomodações acorreram quando o esforço aplicado superava a resistência ao atrito das ligações. Ruptura da ligação Deformação das abas do perfil Pedro Gonçalves de Rezende & Jorge Munaiar Neto Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 24 Para simular as acomodações em questão, da ordem de 1 mm a 2 mm, seria necessária a construção de modelos numéricos mais complexos, tendo como conseqüência um aumento significativo no trabalho computacional (tempo de processamento). Por esta razão, na estratégia numérica proposta nesse trabalho, optou-se pela construção de modelos numéricos mais simples, com vistas inicialmente à determinação da força última e dos níveis de tensões nas regiões próximas aos parafusos, bem como na recuperação da configuração deformada dos perfis. Em razão da simplificação adotada, foram suprimidos nos diagramas Força x Deslocamentos, os trechos que representavam as acomodações dos parafusos nos ensaios experimentais, com o objetivo de possibilitar comparar os resultados numéricos com os resultados experimentais. Tendo em vistas os resultados apresentados anteriormente, pode-se concluir que é possível construir modelos numéricos para ligações parafusadas em perfis formados a frio bastante simples, e que representem satisfatoriamente os ensaios experimentais, aspecto esse que permite facilitar o estudo destas ligações, uma vez que a modelagem numérica apresenta custo e tempo bastante reduzidos em comparação aos ensaios experimentais. O presente trabalho analisou ligações parafusadas em perfis formados a frio apenas em temperatura ambiente. Dentre os resultados satisfatoriamente obtidos, destacam-se as configurações deformadas identificadas nos modelos numéricos, bastante próximas (qualitativamente idênticas) àquelas obtidas nos ensaios experimentais. Dessa forma, fica como sugestão a utilização da estratégia de modelagem numérica aqui adotada, para ligações parafusadas em chapas finas e em perfis formados a frio em situação de incêndio, situação em que a deformação total (ou configuração deformada), que aparece em resposta às reduções da resistência ao escoamento e do módulo de elasticidade, é de fundamental importância para a determinação da temperatura crítica dos elementos e, conseqüentemente, os esforços resistentes de cálculo. Fica ainda como sugestão para estudos futuros, a construção de modelos numéricos mais sofisticados que possam prever a acomodação dos parafusos e eventuais deformações permanentes na região da ligação. 6 AGRADECIMENTOS Os autores do presente trabalho agradecem ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo apoio concedido ao desenvolvimento da pesquisa em questão. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANSYS (1995). Structural nonlinearities: user’s guide for revision 6.0. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1967) NB-143. ABNT - Cálculo de estruturas de aço, constituídas por perfis leves. Rio de Janeiro. Análise da resposta numérica de ligações parafusadas tracionadas de elementos de aço... Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 1-25, 2005 25 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2001). NBR 14762 - Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio. Rio de Janeiro. MAIOLA, C. H. (2004) Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio. São Carlos. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo. MALITE, M. (1993). Análise do comportamento estrutural de vigas mistas aço- concreto constituídas por perfis de chapa dobrada. São Carlos. 2v. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo. REZENDE, P. G. (2005). Análise da resposta numérica de ligações parafusadas em chapas finas e perfis formados a frio. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo. 26 ISSN 1809-5860 Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 ANÁLISE DO PROJETO DE ESTRUTURAS METÁLICAS ESPACIAIS: ÊNFASE EM COBERTURAS Arnaldo Nascimento de Souza 1 & Maximiliano Malite 2 R e s u m o As estruturas metálicas espaciais de cobertura apresentam aspectos diferenciados de projeto. Existem diversos arranjos geométricos possíveis para estas estruturas, cuja escolha está associada, entre outros fatores, às formas e dimensões do contorno, aos pontos de apoio e aos sistemas de conexões empregados. Neste trabalho foi analisado o projeto destas estruturas, abordando os aspectos históricos, os sistemas de ligação, o comportamento estrutural, as particularidades de projeto, e realizando uma análise numérica de diferentes arranjos geométricos. Foram analisados 27 arranjos geométricos quadrados (66m x 66m) e 6 arranjos geométricos retangulares (186m x 66m), todos com vãos centrais de 60m, e com variações na quantidade e posicionamento dos apoios, na disposição das barras do reticulado, na altura e nas dimensões dos módulos. Adotou-se o modelo de treliça ideal em análise elástica linear (teoria de primeira ordem). Com os resultados dos processamentos realizou-se uma comparação entre os modelos, abrangendo os seguintes aspectos: quantidade de nós e barras, consumo de material, deslocamentos máximos, reações de apoio máximas e esforços internos máximos. O fator que causou maior influência no comportamento dos arranjos analisados foi a disposição dos apoios. Palavras-chave: estruturas metálicas; estruturas espaciais; treliças espaciais; arranjos tridimensionais; projeto de coberturas. 1 INTRODUÇÃO As estruturas reticuladas tridimensionais, mais conhecidas simplesmente por estruturas espaciais ou treliças espaciais, são amplamente utilizadas em coberturas de edificações que necessitem grandes áreas livres, tais como ginásios, hangares, centros de exposição e edifícios industriais. Alguns dos fatores que favorecem o uso deste tipo de estrutura em relação às estruturas planas convencionais são: • grande rigidez, sendo possível a realização de obras de grandes vãos; • facilidade de fixação de instalações, devido à grande quantidade de nós nos quais podem ser fixados suportes; • liberdade arquitetônica na locação de apoios; 1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP 2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, mamalite@sc.usp.br Arnaldo Nascimento de Souza & Maximiliano Malite Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 28 • beleza arquitetônica, permitindo explorar as mais diversas formas; • possibilidade de ampliação, e fácil montagem e desmontagem para estruturas não permanentes; • menor peso e menor custo para grandes vãos (acima de 40 m); As barras das estruturas espaciais são conectadas por dispositivos denominados nós. Existem diversos tipos de nós, desde os mais simples, formados pelo amassamento das extremidades dos perfis e um único parafuso de conexão, até os mais requintados, nos quaisos nós são peças esféricas moldadas e as barras da estrutura apresentam as extremidades usinadas na forma de pinos que se encaixam nos nós. Porém, muitas vezes estas conexões não correspondem ao modelo teórico adotado e apresentam problemas de instabilidade. Vários estudos teóricos e experimentais vêm sendo conduzidos para analisar o comportamento local e global da estrutura para determinados tipos de sistemas de conexão. A partir de 1995, o Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) passou a ser solicitado a participar de trabalhos técnicos e assessorias envolvendo treliças metálicas espaciais, quase sempre relacionadas com o colapso total ou parcial destas estruturas. Estes trabalhos, na sua maioria, deram ênfase aos sistemas de ligação mais utilizados no Brasil. A configuração geométrica de uma estrutura espacial é definida, em princípio, em função da arquitetura da edificação. Por meio da arquitetura tem-se os requisitos básicos necessários para o início da determinação das características geométricas da estrutura, entre eles, a disposição dos apoios e os contornos da estrutura. A disposição dos apoios define os vãos livres e os balanços da estrutura. Os contornos são compostos por superfícies planas e curvas que delimitam a estrutura, determinando a extensão e a forma externa da estrutura. Com a determinação dos pontos de apoio e do gabarito externo da estrutura, e analisando-se as ações, as limitações de deslocamentos máximos e as condições e tecnologias de fabricação, montagem e içamento, podem ser definidos outros aspectos específicos das estruturas espaciais, tais como as dimensões e orientações dos módulos, quantidades de camadas e altura da estrutura. Diversos trabalhos vêm sendo publicados em vários países abordando a concepção geométrica das treliças espaciais, verificando os fatores que mais influenciam e as formas geométricas de melhor desempenho. Porém, muitas vezes estes estudos não se enquadram na realidade brasileira de arquitetura e de ações. Este trabalho tem como objetivo fornecer subsídios para a concepção de projetos de treliças metálicas espaciais planas de cobertura, buscando-se características geométricas, tais como disposição das barras, modulação, altura do módulo, quantidades de camadas e tipos de apoio, que apresentem o melhor desempenho diante de determinadas condições existentes em obras correntes no Brasil. Estas condições referem-se à disposição e quantidade de apoios, vãos, ações, limitações de flecha entre outras. Análise do projeto de estruturas metálicas espaciais: ênfase em coberturas Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 29 2 GENERALIDADES E HISTÓRIA O termo “estrutura espacial” é empregado de maneira geral para designar um sistema estrutural em que não há subsistemas planos definidos. Pode-se perceber que o termo estrutura espacial é bastante abrangente, envolvendo estruturas reticuladas, constituídas por elementos de barra, estruturas contínuas, constituídas por placas, membranas ou cascas, e estruturas mistas, constituídas pela combinação de elementos discretos e contínuos. As treliças espaciais planas, os arcos treliçados espaciais e as cúpulas treliçadas espaciais são os principais tipos de estruturas espaciais reticuladas. Estas estruturas surgiram por volta do século XVIII. Em 1907, Alexander Graham Bell desenvolveu um reticulado espacial constituído por barras de mesma dimensão conectadas por um único tipo de nó, formando elementos modulares tetraédricos (Figura 1). Mostrava-se, assim, a alta capacidade de padronização e a conseqüente facilidade de industrialização deste tipo de estrutura (DU CHATEAU 1984). O grande avanço na difusão dos reticulados espaciais foi o surgimento da MERO, na Alemanha em 1943, que desenvolveu um sistema pré-fabricado de estrutura espacial que consiste na combinação de dois elementos básicos: nós esféricos e barras de seção tubular circular . Figura 1 – Estrutura espacial de Alexander Graham Bell – Fonte: DU CHATEAU (1984). Em 1966 foi realizada em Londres a primeira conferência sobre estruturas espaciais, marcando o início da integração e do aprofundamento das pesquisas sobre estas estruturas. No ano seguinte foi criado pelo ASCE nos Estados Unidos um comitê específico para o estudo destas estruturas. A partir da década de 70, com o advento dos computadores eletrônicos, houve uma grande revolução no desenvolvimento das estruturas espaciais. Com o aparecimento de novas técnicas computacionais foi possível buscar concepções geométricas de melhor desempenho estrutural e que mais atendiam aos anseios arquitetônicos (MAKOWSKI 1993). Outros fatores que provocaram um grande desenvolvimento na utilização destas estruturas foram o desenvolvimento de sistemas padronizados eficientes de conexão e as pesquisas científicas sobre o comportamento elástico e não-elástico das Arnaldo Nascimento de Souza & Maximiliano Malite Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 30 estruturas espaciais e sobre os modos de falha das mesmas quando sujeitas a carregamento excessivo. 3 ESTRUTURAS ESPACIAIS RETICULADAS 3.1 Treliças espaciais planas São formadas por uma ou mais camadas planas de barras. Estas camadas são denominadas banzos, e as barras responsáveis pela ligação entre os diversos planos são denominadas diagonais. Os pontos de encontro entre banzos e diagonais são denominados “nós” e neles são realizadas as conexões (Figura 2). 3.2 Arcos treliçados espaciais São obtidos pelo arqueamento da treliça espacial plana ao longo de uma direção. O resultado é uma forma cilíndrica que pode ser constituída por uma ou mais camadas de banzo (Figura 2). 3.3 Cúpulas treliçadas espaciais São treliças espaciais formada por uma ou mais camadas de banzos em forma de cúpula (Figura 2). A superfície de uma cúpula normalmente é parte de uma superfície única tal como uma esfera ou um parabolóide. Figura 2 – Treliças espaciais planas, arcos treliçados espaciais e cúpulas treliçadas espaciais. 4 SISTEMAS DE TRELIÇAS ESPACIAIS As ligações entre as barras de um reticulado espacial são um dos fatores que tem a maior influência na confiabilidade, no comportamento e no custo final de um sistema. A definição do sistema de ligação está diretamente ligada ao perfil, à quantidade e à disposição das barras que incidem no nó. Além disso, o nó deve representar da maneira mais fiel possível as hipóteses de cálculo adotadas. A maioria dos sistemas apresentam ligações parafusadas, pois as ligações soldadas possuem custo elevado e são de difícil execução em obra, podendo muitas vezes comprometer a eficiência da ligação. As barras podem ser diversos tipos de perfis, tais como perfis de seção tranversal tubular circular e retangular, “I” soldados e laminados, cantoneiras, entre Análise do projeto de estruturas metálicas espaciais: ênfase em coberturas Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 31 outros. A escolha do perfil está ligada ao nível de solicitação da barra, ao sistema de conexão, à concepção arquitetônica, à finalidade da estrutura ou a alguma função que o perfil deverá exercer, por exemplo, suporte para fixação de telhas. Quanto ao material, os mais utilizados são o aço e o alumínio, sendo que o uso do alumínio vem caindo acentuadamente nos últimos anos devido ao elevado custo. O sistema MERO é o sistema mais conhecido e de uso mais difundido em todo mundo. Consiste em barras de seção tranversal tubular circular de aço com parafusos nas extremidades que são conectados a nós esféricos (Figura 3). Figura 3 – Sistema MERO. 4.1 Sistemas utilizados noBrasil No Brasil existe uma variedade de sistemas empregados. Estes sistemas variam de acordo com o fabricante, mas de maneira geral nenhum deles é patenteado, com exceção de algumas obras executadas pela MERO. Na maioria dos casos, estes sistemas foram criados a partir da própria experiência do fabricante ou da cópia de outros sistemas, e não foram submetidos a análises experimentais que comprovassem sua segurança, confiabilidade e adequação ao modelo teórico. A seguir são descritos alguns tipos de sistemas de ligação para estruturas espaciais encontrados no Brasil. A nomenclatura aqui utilizada para descrever os sistemas não é padrão para todos os fabricantes, porém procurou-se utilizar as denominações mais utilizadas no mercado. 4.1.1 Nó típico ou nó “amassado” Neste sistema o nó é formado pela sobreposição das extremidades estampadas das barras unidas por um único parafuso e duas arruelas quadradas que confinam o conjunto (Figura 4). Este tipo é o mais empregado no país, devido ao baixo custo de fabricação e montagem. Este nó vem sendo alvo de uma série de pesquisas teóricas e experimentais na EESC-USP, motivadas por acidentes ocorridos em obras que utilizavam este sistema. Segundo MAIOLA (1999), o nó típico constitui-se num detalhe limitado do ponto de vista estrutural, não explorando a capacidade das barras e induzindo à uma baixa rigidez da estrutura, tomando-se como parâmetro de comparação a treliça ideal em análise elástica de primeira ordem. 4.1.2 Nó de aço Neste sistema as barras são conectadas por parafusos a um nó composto por chapas soldadas, sendo teoricamente possível eliminar as excentricidades (Figura 4). Arnaldo Nascimento de Souza & Maximiliano Malite Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 32 Estes nós apresentam um comportamento estrutural melhor que os anteriores, mas o custo de produção é muito superior. Figura 4 – Sistema de nó típico e nó de aço. Os sistemas descritos anteriormente podem ser utilizados de maneira combinada, assim, é muito comum existirem na mesma estrutura nós típicos e nós de aço, sendo estes últimos utilizados nas regiões de maiores esforços. Nos sistemas de nó típico, as barras utilizadas são perfis de seção tranversal tubular circular com as extremidades estampadas. No sistema de nó de aço todas as barras podem apresentar as extremidades estampadas ou na forma de ponteira. A escolha pelo tipo de extremidade, na maioria das vezes, está ligada ao diâmetro e à espessura do tubo a ser conectado. Tubos de diâmetro e espessura elevados são difíceis de serem estampados, por isso opta-se pela execução de ponteiras, que constituem um detalhe de melhor desempenho estrutural. Salienta-se, que alguns fabricantes utilizam ponteiras para todos os diâmetros, não utilizando tubos estampados. 5 ANÁLISE ESTRUTURAL DE TRELIÇAS ESPACIAIS Algumas características fazem as estruturas espaciais reticuladas terem uma análise estrutural diferenciada, entre elas, a tridimensionalidade, a grande quantidade de elementos estruturais e o alto grau de hiperestaticidade. Sendo a estrutura espacial reticulada um conjunto de barras interconectadas em um número finito de pontos, é natural esperar que um modelo discreto forneça uma melhor simulação do comportamento real do que um modelo contínuo. Porém, a confiabilidade do método discreto pode apresentar dois pontos de incerteza de difícil avaliação em modelos discretos: imperfeições geométricas e eficiência dos nós. Outra análise importante diz respeito ao comportamento linear ou não linear das estruturas espaciais. Segundo MALLA & SERRETTE (1996), para pequenos deslocamentos e baixos valores de carregamento (condições de serviço), o material exibirá um comportamento elástico linear. Para estes casos, uma análise elástica linear é suficiente para prever o comportamento da estrutura. HILL et al. (1989) sugerem um comportamento linear apenas para estruturas com pequenos deslocamentos e solicitações de serviço, desde que a região nodal represente corretamente esta condição. Para as demais estruturas, o comportamento Análise do projeto de estruturas metálicas espaciais: ênfase em coberturas Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 33 apenas pode ser adequadamente avaliado considerando as não linearidades física e geométrica. Para as treliças espaciais, devem ser consideradas as não linearidades tanto nas barras como nos nós. Para análise não linear, podem ser considerados dois tipos de não linearidade: • geométrica: relacionada ao equilíbrio de um sistema estrutural na posição deslocada. A consideração da não lineridade geométrica é necessária quando a configuração deslocada da estrutura é significativamente diferente da configuração original; • física: relacionada ao comportamento não linear da relação tensão x deformação do material; Para as treliças espaciais é interessante a análise das não lineridades geométricas, pois alguns de seus efeitos, tais como grandes deslocamentos e rotações, podem alterar significativamente o equilíbrio da estrutura. Imperfeições geométricas tais como falta de linearidade das barras e excentricidades de carregamento tendem a amplificar o comportamento não linear. Para se realizar uma análise não linear física, é necessário idealizar um modelo constituivo (tensão x deformação) para o material. Conforme citado por SOUZA (1998), para as barras tracionados o diagrama tensão x deformação é facilmente obtido por meio de um ensaio de tração. Porém, para barras comprimidas é mais complicado estabelecer o comportamento tensão x deformação, pois se deve considerar o efeito da flambagem. A flambagem destas barras depende, além das características do material, da esbeltez e das condições de vinculação. 6 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE TRELIÇAS ESPACIAIS 6.1 Comprimento de flambagem das barras Usualmente, as barras comprimidas têm seu comprimento de flambagem tomado igual à distância de centro a centro dos nós. Segundo MARSH (2000), o comprimento de flambagem de uma barra comprimida é função da orientação das barras que se conectam ao nó, das suas rigidezes à torção, das forças atuantes e do modo de conexão ao nó. Se todas as barras que se conectam ao nó estiverem com seus valores máximos de compressão, como pode ocorrer na região central de uma estrutura de cobertura, não haverá restrição a nenhuma das barras e o comprimento de flambagem dos banzos e diagonais será a distância de centro à centro dos nós, para flambagem em torno de quaisquer eixos. Se os banzos e as diagonais estiverem pouco solicitados em relação a suas capacidades máximas, o parâmetro efetivo de flambagem (K) para os banzos comprimidos pode chegar a 0,7. Por outro lado, a instabilidade no nó pode reduzir a capacidade para um valor abaixo do valor de uma rótula simples, resultando K > 1. MADI & EL-TAYEM (1991) sugerem os seguintes valores de K para uso em uma análise elástica : • Barras com seção completa na extremidade (barras com as extremidades soldadas): K = 0,70; Arnaldo Nascimento de Souza & Maximiliano Malite Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 34 • Barras com seção reduzida nas extremidades (barras com as extremidades tronco-cônicas, por exemplo, sistema MERO – Figura 3): K = 0,90; • Barras com extremidades estampadas (por exemplo, sistema de nó típico – Figura 4): K = 0,95. Vale salientar que os valores citados por MADI & EL-TAYEM (1991) são contra a segurança. Por exemplo, para o caso de barras com extremidades estampadas (nó típico), devido as deficiências deste tipo de ligação, o valor de K pode ser superior a 1. Na prática, os projetistas, no Brasil, utilizam K igual a 1.6.2 Comportamento dos elementos e do conjunto Segundo SCHMIDT (2000), a resposta global de uma treliça espacial será, geralmente, muito dependente das características de resistência das barras comprimidas. Como a maioria das barras em uma treliça espacial tem esbeltez elevada, as respostas das barras comprimidas e da treliça ao carregamento último apresentam um comportamento instável. Conseqüentemente, até mesmo o valor teórico referente ao limite do comportamento elástico pode não ser alcançado devido ao comportamento instável das barras, as quais são particularmente sensíveis às imperfeições, tais como curvatura inicial e excentricidades da força normal. Os esforços atuantes nas barras podem variar consideravelmente em relação aos obtidos na análise teórica, por causa das imperfeições nas linhas de ação das forças, tolerâncias nos comprimentos das barras e a existência de estados pré- tensionados que interagem com estes fatores. A montagem de centenas, se não milhares, de barras com alto grau de interação na treliça espacial, significa que forças iniciais podem ser geradas durante a montagem, que não são levadas em conta durante o cálculo. Segundo MURTHA-SMITH (1994), existe continuidade entre as barras em muitas treliças espaciais devido ao sistema de conexão empregado. O efeito da continuidade é o aumento do nível de carregamento requerido para causar a instabilidade da primeira barra, contudo, não necessariamente aumenta o carregamento requerido para levar à ruína. Conforme citado por MAIOLA (1999), a instabilidade rotacional das conexões pode influenciar o comportamento da estrutura. Esta instabilidade pode ser causada pela redução de rigidez das barras nas extremidades, ações de forças excêntricas, forças desbalanceadas no nó ou pela própria flexibilidade da conexão. 6.3 Ruína estrutural Segundo MARSH (2000), o início da ruína pode se dar devido a qualquer um dos seguintes estados limites: • Falha por falta de resistência à tração; • Falha por falta de resistência à compressão; • Falha por falta de resistência da conexão; • Instabilidade da região nodal. Análise do projeto de estruturas metálicas espaciais: ênfase em coberturas Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 35 Se a falha de uma barra conduz à ruína ou à redistribuição de esforços entre as barras com maior resistência, depende da posição da barra. Por exemplo, as diagonais, exceto aquelas ligadas aos apoios, não são usualmente críticas, e muitas podem falhar antes que a ruína ocorra. Geralmente assume-se que uma boa concepção estrutural requeira que um razoável grau de hiperestaticidade seja estabelecido na estrutura. Assim, se ocorrer a falha de uma ou várias barras, a estrutura irá se deformar de uma maneira dúctil, e não numa maneira catastrófica. No dimensionamento de estruturas espaciais é necessário que seja dada atenção especial a esta situação, pois nem sempre alto grau de hiperestaticidade indica alta reserva de resistência (SCHIMDT 2000). Segundo MALLA & SERRETTE (1996), várias situações, tais como vibração excessiva, imperfeições geométricas, impactos, acidentes, defeitos em materiais e conexões, e fenômenos de flambagem, podem causar danos, ou grandes deformações, ou aumento de tensão em uma barra ou em parte da estrutura. Apesar de um dano em uma barra afetar inicialmente uma pequena porção da estrutura, ele tem potencial para se propagar para outras partes da estrutura e pode até causar a ruína da estrutura. Este tipo de mecanismo de falha é conhecido por “colapso progressivo”, e resulta da redistribuição de esforços quando uma barra falha, causando conseqüentemente, um aumento de solicitação em outra barra. 7 ASPECTOS RELATIVOS AO PROJETO DE TRELIÇAS ESPACIAIS 7.1 Apoios A quantidade e a disposição dos apoios exercem grande influência no comportamento das treliças espaciais, pois determinam os vãos livres e balanços. As restrições impostas, quanto às translações e às rotações, nos pontos de apoio também influenciam muito no comportamento. Geralmente, os apoios apresentam restrições às translações verticais e horizontais. As restrições podem ser totais ou parciais, neste caso são substituídas por coeficientes de mola que representam as rigidezes dos pontos de apoio. Normalmente, as treliças espaciais apresentam elevadas reações horizontais, causadas tanto pela variação de temperatura, como pela ação do vento nos fechamentos das treliças. Quando existem limitações quanto à máxima reação horizontal, seja pela resistência do pilar ou da fundação, os apoios podem ser do tipo móvel, com translações livres em uma ou mais direções horizontais. Os apoios do tipo móvel eliminam as reações horizontais, porém aumentam os deslocamentos. Existem diversas formas e tipos de apoio, algumas utilizadas são: • Apoios no banzo inferior: são os mais utilizados, pois tornam os apoios mais simples e evitam as interferências (Figura 5); • Apoios no banzo superior: são menos utilizados, pois podem ocorrer interferências entre as diagonais da treliça e a seção do pilar, dependendo das dimensões e dos ângulos envolvidos. Normalmente ocorrem quando a modulação do banzo superior coincide com o ponto em que deve estar o pilar pelo projeto arquitetônico (Figura 5); Arnaldo Nascimento de Souza & Maximiliano Malite Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 27, p. 27-58, 2005 36 • Apoios do tipo “pé-de-galinha”: o ponto de apoio está abaixo do nível do banzo inferior, sendo a ligação da estrutura ao ponto de apoio feita por meio de diagonais auxiliares. Estes apoios geralmente são escolhidos para atender a um destes três fatores: projeto arquitetônico, falta de coincidência da modulação do banzo inferior com o ponto de apoio ou tentativa de diminuição do vão livre entre apoios (Figura 5); • Apoios do tipo “engaste”: as barras da treliça apóiam-se em mais de um nível do pilar. Utilizados em treliças espaciais com mais de duas camadas de banzo, em que existam limitações de deslocamentos ou de reações de apoio. São de difícil execução pois implicam em interferências entre as barras e o pilar (Figura 5); Figura 5 – Apoios: no banzo inferior, no banzo superior, tipo “pé-de-galinha” e tipo “engaste”. 7.2 Arranjo geométrico Existem diversos arranjos geométricos possíveis, que levam a diferentes distribuições de tensões. Formas geométricas ótimas geralmente apresentam tensões distribuídas uniformemente. Alguns fatores importantes na determinação do arranjo geométrico mais apropriado são a quantidade e a posição dos apoios, o layout em planta da edificação, o custo dos nós e as técnicas de montagem e içamento a serem utilizadas. Segundo AGERSKOV (1986), a determinação do arranjo geométrico ótimo não deve estar associada apenas às soluções de mínimo peso, devem ser levados em conta outros fatores, tais como, número de nós (25% a 75% do custo da treliça – IFFLAND 1982) e número de barras. A densidade de barras na estrutura deve ser baixa, pois além de reduzir o consumo de material diminui o número de nós e o custo da montagem. A estrutura deve apresentar barras tracionadas longas e barras comprimidas curtas. Várias formas têm sido utilizadas ao longo dos anos. Os tipos de unidades básicas construtivas mais utilizados são a tetraédrica, a cúbica e a octaédrica, por apresentarem melhor adequação às treliças espaciais planas. No uso destas formas, naturalmente tem se tentado otimizar a disposição das barras nos arranjos, de tal forma que a resistência da treliça seja aumentada. Alguns dos arranjos geométricos mais utilizados nas obras correntes e também mais analisados nas pesquisas teóricas e experimentais são: • Arranjo quadrado sobre quadrado com defasagem de meio módulo: este é sem
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