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Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Experimental activities: a strategy for teaching physics Elival Martins dos Reis Júnior1 1 Licenciado em Física pela Universidade Federal do Amazonas. Especialista em Metodologia de Ensino de Matemática e Física (UNINTER). Mestrando em Engenharia de Recursos da Amazônia (UFAM). Professor Efetivo de Física do Instituto Federal do Amazonas – IFAM/CAMPUS COARI. elival@ifam.edu.br Otto H M da Silva2 2 Mestre em Educação e Especialista em Matemática (UFPR), Especialista em Tutoria (Uninter), Professor do Grupo Uninter e da rede pública do Estado do Paraná. otto.s@grupouninter.com.br RESUMO Este trabalho tem por objetivo propor uma estratégia pautada no uso de atividades experimentais para o desenvolvimento eficiente do processo de ensino e aprendizagem de física no ensino fundamental e médio. Baseada em uma pesquisa bibliográfica, o estudo expõe uma metodologia em que o aluno terá acesso a novos conhecimentos por meios das interações sociais com professores e colegas de classe. Essas interações são fundamentais para desencadear os processos de aprendizagem. Além disso, encurtam o caminho entre o ensino e a aprendizagem ao desenvolver no aluno um caráter investigativo e crítico. Desta forma, tornam o aluno capaz de compreender os avanços tecnológicos e atuar conscientemente em intervenções e julgamentos práticos no meio social em que vivem. Para tanto, será apresentada a fundamentação teórico-pedagógica e o embasamento legal da proposta, sua função pedagógica, suas características, os objetivos, a classificação, a estratégia e critérios para seleção das atividades experimentais. Serão também fornecidos exemplos de atividades experimentais de baixo custo, de fácil montagem e manipulação por professores e alunos. Palavras-chave: Atividades Experimentais. Ensino e Aprendizagem de Física. Teoria Sociocultural de Vigotski. Interações Sociais. ABSTRACT This work aims to propose a strategy guided by the use of experimental activities for the efficient development in the process of teaching and learning physics in elementary and high school. Based on a bibliographic search, the study presents a methodology in which the student will have access to new knowledge by means of social interactions with teachers and classmates. These interactions are essential to trigger the learning process. Besides, they shorten the path between teaching and learning in order to develop in the student an investigative and a critical thinking. The student becomes able to understand the technological advances and act consciously in interventions and practical judgments in the social environment in which they live. In order to do so, it will be presented the theoretical and pedagogical foundation and the proposal legal basis, its pedagogical function, characteristics, objectives, classification, strategy and criteria for the selection of experimental activities. Examples of experimental low cost activities, easy assembly and manipulation by teachers and students will be also provided. Key words: Experimental activities. Teaching and learning of Physics. Vygotsky's sociocultural theory. Social interactions. Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 39 INTRODUÇÃO As dificuldades de ensinar e aprender, tais como a falta de livros didáticos, ambientes multimídias, laboratórios para realização de aulas práticas e bibliotecas públicas, a falta de capacitação profissional e ausência de estímulo profissional por parte das políticas educacionais de estado são fatores que ainda estão presentes na maioria das escolas municipais e estaduais do país e, infelizmente comprometem o ensino da Física. Essas dificuldades fizeram surgir uma nova área de pesquisa preocupada em descobrir suas causas e consequências e propor possíveis soluções. Dentre estas, as que mais se destacam são aquelas que apontam para uma educação voltada para a plena participação dos alunos no processo de ensino e aprendizagem, tornando-os capazes de compreender os avanços tecnológicos e atuar conscientemente em intervenções e julgamentos práticos no meio social em que vivem. Tal ênfase indica que a educação é o elemento fundamental na formação da cidadania e o professor, seu membro participante desse processo. Sendo assim, todo professor deve ser capaz de: (1) organizar uma pedagogia construtivista; (2) garantir os sentidos dos saberes; (3) criar situações de aprendizagem; (4) administrar a heterogeneidade e (5) regular os processos de percursos de formação, conforme afirmam Perrenoud e Thurler (2002). O professor deve agir como um agente de ligação entre o ensino e a aprendizagem, buscando meios para facilitar esse processo, criando situações que estimulem o aluno a buscar novos conhecimentos e maneiras de adquiri-lo. Nesse sentido, são apresentadas, neste estudo, as atividades experimentais como uma estratégia de ensino de Física que minimize os efeitos das dificuldades mencionadas, tornando-a significativa e consistente, promovendo, dessa maneira, uma melhor transposição didática. Ou seja, “encurtando” o caminho entre o ensino e a aprendizagem. Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 40 Fundamentação teórica A proposta de estratégia de ensino e aprendizagem de Física apresentada nesta pesquisa bibliográfica é fundamentada, pedagogicamente, na teoria sociocultural de Vigotski, na Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, na Resolução CNE/CEB 2/2012 que define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e, ainda, nas orientações educacionais dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de Física. Segundo a teoria sociocultural de Vigotski1 (Gaspar, 2005, pp. 18 - 21), o cérebro humano funciona como o alicerce de uma construção civil capaz de receber qualquer estrutura física, isto é, o cérebro é capaz de assimilar qualquer informação recebida. É preciso apenas respeitar a capacidade cerebral do aluno quando se busca criar novas estruturas mentais, como ensinar um novo conceito de física, por exemplo. Essa capacidade é delimita por uma “região” denominada de Zona de Desenvolvimento Próximo– ZDP (MELO; URBANETZ, 2008, p. 119). A ZDP é uma espécie de vazio cognitivo que cada aluno disponibiliza para adquirir algo de novo. Essa aquisição é facilitada, principalmente, quando há troca de experiências por meio de interações sociais entre indivíduos com grau de conhecimento diferentes. Do ponto de vista legal, o uso e a aplicação das atividades experimentais como ferramenta no processo didático de ensino estão fundamentados na Lei Nº9394/96 e na Resolução CNE/CEB Nº 2/ 2012. Segundo o Art. 2º da Lei Nº 9394/96 a educação “... tem por finalidade o pleno desenvolvimento do aluno, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). O art. 4º das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio estabelece que todas “as unidades escolares que ministram o Ensino Médio devem estruturar seus projetos político-pedagógicos considerando as finalidades da Lei Nº 9394/96” possibilitando ao aluno “a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos” (BRASIL, 2012). Nesse sentido, as orientações educacionais complementares 1 VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e dalinguagem. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2001a Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 41 aos Parâmetros Curriculares Nacionais recomendam que o ensino da Física tenha seu foco no desenvolvimento de “competências relacionadas principalmente à investigação e compreensão de fenômenos físicos, à linguagem física e sua comunicação, e à contextualização histórica e social” da Física permitindo ao aluno trabalhar de forma mais integrada com outras áreas do conhecimento (PCN, 2002, p. 6). As interações sociais, situações de diálogo e troca de informações, a interpretação e leitura de dados fornecidos por equipamentos de medição são exemplos de situações vivenciadas pelos alunos durante a realização das atividades experimentais e que contribuem para a compreensão de fenômenos naturais e processos tecnológicos. Isso torna as atividades experimentais um meio promissor para o ensino e aprendizagem de Física tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. As atividades experimentais Segundo Araújo e Abib (2003, p. 176), as atividades experimentais são consideradas, por professores e alunos, como uma das estratégias mais eficazes para se aprender e ensinar Física de modo significativo e consistente. São particularmente importantes, já que desenvolvem diferentes e concomitantes formas de percepção qualitativa e quantitativa nos estudantes, além de tomar dados significativos, com os quais as hipóteses podem ser propostas ou verificadas, além da elaborar previsões sobre experiências (GASPAR, 2003, p. 18). A realização de atividade experimental é sempre um evento marcante, desafiador e inestimável do ponto de vista cognitivo e pode ser realizado tanto p elos alunos quanto pelo professor. Entretanto, conhecer a função pedagógica das atividades experimentais, seu objetivo e como se classificam é fundamental, pois, permite ao professor planejar uma aula mais objetiva e eficiente. Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 42 A função pedagógica Vigotski (2001a), citado por Gaspar e Monteiro ( 2005, p. 233), afirma que “a criança não aprende o que sabe fazer sozinha, mas o que ainda não sabe fazer e lhe vem a ser acessível em colaboração com o professor e sob sua orientação”, a relação entre o professor e o aluno pode ser melhor compreendida como as interações sociais que, do ponto de vista vigotskiano, têm, como função pedagógica, facilitar a formação de novas estruturas cognitivas, permitindo ao aluno processar um novo conceito. É nesse sentido que as atividades experimentais se destacam, pois promovem interações sociais de qualidade e em grande número, não só entre o professor e o aluno, mas também entre os próprios alunos. Nessa relação, o professor é o parceiro mais capaz, detém o conhecimento e é responsável pela dinâmica da atividade em sala de aula. Em outras palavras, é o indivíduo apto a demonstrar ou orientar a execução das atividades, explicar ou apresentar o modelo teórico aos alunos e incentivar a busca por novos conhecimentos. Contudo, é importante mencionar que as atividades experimentais não são as únicas responsáveis pelo processo de ensino e aprendizagem, uma vez que segundo Vigotski (2001), citado por Gaspar e Monteiro ( 2005, p. 234), “o que a criança é capaz de fazer hoje em colaboração, conseguirá fazer amanhã sozinha”. Cabe, portanto, ao professor estar sempre à procura de novas estratégias de ensino. Objetivos Segundo Galiazzi et al., A origem do trabalho experimental nas escolas foi, há mais de cem anos, influenciada pelo trabalho experimental que era desenvolvido nas universidades. Tinha por objetivo melhorar a aprendizagem do conteúdo científico, porque os alunos aprendiam os conteúdos, mas não sabiam aplicá-los (GALIAZZI et al., 2003, p. 252) Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 43 Atualmente, segundo Hodson (1998) apud Galiazzi et al., os professores apontam dez motivos para a realização das atividades experimentais. 1. Estimular a observação acurada e o registro cuidadoso dos dados; 2. Promover métodos de pensamento científico simples e de senso comum; 3. Desenvolver habilidades manipulativas; 4. Treinar em resolução de problemas; 5. Adaptar as exigências das escolas; 6. Esclarecer a teoria e promover a sua compreensão; 7. Verificar fatos e princípios estudados anteriormente; 8. Vivenciar o processo de encontrar fatos por meio da investigação, chegando a seus princípios; 9. Motivar e manter o interesse na matéria; 10. Tornar os fenômenos mais reais por meio da experiência (HODSON,1998c apud GALIAZZI et al., 2001, pp. 252 - 253). É importante notar que, neste contexto, as atividades experimentais visam à observação de fenômenos naturais e coleta de dados que permitem uma reflexão, por meio da manipulação do concreto, feita “através do tato, da visão e da audição, contribuindo para as deduções e considerações abstratas sobre os fenômenos observados” (VILLATORE; HIGA; TYCHANOWICZ, 2008, p. 107). Porém, do ponto de vista vigotskiano, as atividades experimentais têm por objetivo fundamental “promover interações sociais que tornem as explicações mais acessíveis e eficientes” (GASPAR, 2005, p. 24), já que a aprendizagem não vai resultar da atividade em si, mas sua realização contribui para a formação de novas estruturas cognitivas que contribuirão no processo de aprendizagem do estudante. As atividades experimentais são importantes, pois promovem a troca de informações entre os membros da turma (professores e alunos) e essa troca resulta na formação das estruturas necessárias para a formação do conhecimento. A classificação A classificação dada por Araújo e Abib (2003) foi elaborada a partir do estudo de 106 artigos publicados nos periódicos nacionais Caderno Brasileiro de Ensino da Física e Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 44 Revista Brasileira de Ensino da Física entre os anos de 1992 e 2001. Segundo os autores, a escolha desses periódicos ocorreu devido ao grande número de trabalhos publicados na área de ensino de Física e que foram desenvolvidos no Brasil. A análise desses trabalhos, segundo os autores, permitiu que fossem encontradas uma variedade de ênfases diferentes dadas às atividades experimentais. Isso levou a uma classificação, cujo critério foram os aspectos metodológicos relacionados às atividades experimentais desenvolvidas pelos professores e/ou aluno. Porém, neste trabalho, as atividades experimentais com ênfase no grau de direcionamento serão mais exploradas, pois são atividades que podem ser realizadas em diversos ambientes, além da sala de aula (GASPAR; MONTEIRO, 2005, p. 229). Segundo Araújo e Abib (2003), as atividades experimentais podem ser: I. Matemática – análise dos trabalhos procurando-se verificar a ênfase matemática adotada na abordagem dos conceitos físicos, ou seja, o nível de matematização e de utilização do formalismo matemático, classificando-se os trabalhos, neste momento, em qualitativos e quantitativos. II. Grau de direcionamento – procura verificar o grau de direcionamento das atividades propostas em função de seucaráter de demonstração, verificação ou investigação e, neste sentido, procurou-se destacar se estas atividades apresentam elementos que as aproximariam mais do ensino tradicional ou se apresentariam maior afinidade com métodos investigativos de uma abordagem construtivista. A seguir, é apresentada a descrição das atividades experimentais de acordo com seu grau de direcionamento apresentadas por esses autores: a) Atividades de demonstração/observação - a principal característica dessas atividades é a possibilidade de ilustrar fenômenos físicos, tornando-os mais perceptíveis e com a possibilidade de proporcionar aos alunos a elaboração de modelos concretos. Esse tipo de atividade favorece maior abertura e flexibilidade para discussões, possibilidades de se levantar hipóteses e incentivo à reflexão crítica. Isto faz da demonstração o ponto de partida para uma discussão mais ampla dos fenômenos observados. A importância dessas atividades é o de ilustrar e tornar menos abstratos os conceitos físicos abordados Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 45 e, ao mesmo tempo, tornar mais interessante, fácil e agradável o seu aprendizado, e, ao mesmo tempo, motivar a participação dos alunos. b) Atividades de verificação - as atividades de verificação são caracterizadas pela maneira como são conduzidas, buscando sempre a verificação da legitimidade de alguma lei Física e seus limites de validade. Do ponto de vista pedagógico, sua importância está na sua capacidade de facilitar a explicação dos parâmetros que determinam o comportamento dos sistemas físicos estudados. Outro aspecto relevante é a possibilidade dessas atividades promoverem o desenvolvimento da capacidade de se efetuar generalizações, que podem ocorrer quando são extrapolados os limites do experimento, levando à análise de novas situações. Enfim, esse tipo de atividade é um recurso valioso para o ensino, pois promove maior participação dos alunos e contribui para um ensino mais realista, no sentido de evitar erros conceituais e estimular uma aprendizagem significativa. c) Atividades de Investigação - para este tipo de atividade, usam-se roteiros fechados com poucas possibilidades de intervenção e/ou modificações por parte dos alunos ao longo do procedimento experimental e está sempre relacionada com o uso de laboratórios estruturados. Contudo, do ponto vista pedagógico, essas atividades são importantes, pois despertam no aluno o caráter investigativo e, consequentemente, a busca por mais conhecimento teórico e prático, ampliando a sua capacidade mental. Facilita também, do ponto de vista cognitivo, o processo de ensino e aprendizagem, uma vez que esse tipo de atividade busca as transformações mais profundas no estudante, seja na escola ou na sociedade. III. Uso de novas tecnologias – procura empregar o uso de novas tecnologias, com computadores e programas específicos para atividades práticas de laboratório ou de simulação. IV. Cotidiano – nesta categoria, verificam-se artigos relacionados aos fenômenos físicos com situações típicas encontradas no cotidiano, observando-se, nesses casos, se Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 46 os conceitos estudados poderiam ser utilizados como explicações causais para os fenômenos ligados ao dia a dia. V. Montagem de Equipamentos – nesta categoria, são classificados os artigos que procuram explicitar a montagem de determinados equipamentos, abordando detalhes envolvidos em sua confecção e fornecendo possíveis aplicações para eles (ARAÚJO; ABIB, 2003). A estratégia Na estratégia proposta, deve-se, primeiramente, selecionar um conteúdo a ser ministrado, elaborar e organizar um plano de aula. Em seguida, é feita a escolha e a organização de um ou mais experimentos. É importante que as atividades escolhidas possibilitem ao professor ilustrar conceitos e definições abordados durante a aula, verificar leis e constantes físicas, bem como o uso de tabelas, gráficos e equipamentos de medição. É necessário que o professor disponibilize um roteiro de montagem e aplique uma avaliação posterior à realização da atividade, para que se possa verificar se houve a aprendizagem desejada. Como sugestão de avaliação, podem ser elaborados relatórios e questionários. Em sala de aula, é recomendado ao professor que: 1. Exponha e discuta o tema proposto intensivamente. Ao falar de magnetismo, por exemplo, citar as aplicações tecnológicas para os imãs permanentes. 2. Questione os alunos sobre o que foi exposto. 3. Organize os alunos em grupo e solicite uma resposta teórica para um dado questionamento – por exemplo, por que se ouvem ruídos ao se aproximar o ímã do alto- falante do aparelho de som? 4. Faça a comparação entre a teoria e os resultados obtidos na atividade experimental. 5. Solicite, por extenso, que os alunos relatem seus resultados, dúvidas e perguntas. Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 47 A realização das atividades experimentais deve ser feita concomitante à exposição do assunto escolhido para a aula e o professor deve sempre incentivar a interação social para que o processo de ensino e aprendizagem se torne mais eficaz e prazeroso. Deve ainda estimular o desenvolvimento cognitivo, a fim de motivar os alunos a realizarem novas discussões e descobertas. Os critérios de escolha Os critérios que orientem a escolha das atividades devem estar em conformidade com o objetivo traçado pelo professor. Esses critérios são estabelecidos de acordo com a teoria sociocultural de Vigotski (GASPAR, 2005, pp. 28 - 29) e são divididos da em: 1. Respeitar a capacidade mental do aluno, pois o uso de atividade fora do seu alcance mental pode causar efeitos contrários aos desejados, afastando-os e causando uma possível antipatia na relação professor-aluno; 2. A presença do professor e/ou monitor deve ser obrigatória. Esse critério é de fundamental importância, pois cabe ao professor e/ou monitor o dever de orientar a atividade, saber o que esperar dela e conhecer a explicação mais adequada ao que será observado e questionado; 3. Compartilhar e propor perguntas e repostas com todos os participantes da atividade experimental. É importante que o professor chame a atenção de todos os alunos da turma para as perguntas e respostas esperadas, a fim de que todos participem da interação social. 4. Uso de linguagem acessível: toda atividade experimental deve ser acompanhada de um linguajar acessível, de fácil interpretação e compreensão, pois uma linguagem de domínio coletivo facilita a explicação e compreensão da atividade experimental, seus objetivos e fenômenos observados. Gráficos, tabelas e ilustrações podem facilitar a interpretação dos fenômenos ocorridos. Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 48 Exemplos de atividades experimentais A vinculação entre as atividades experimentais e o conteúdo abordado é requisito essencial, haja vista que nem todos os assuntos da área de Ciências podem ser abordados experimentalmente em sala de aula. Consequentemente, nem sempre é possível, por meio da atividade experimental, verificar ou redescobrir princípiose modelos físicos. Entretanto, as atividades experimentais são importantes, pois, como visto, promovem as interações sociais que facilitam a formação das estruturas cognitivas necessárias para desencadear o processo de aprendizagem. As quatro atividades propostas neste trabalho são simples, de baixo custo e fácil manipulação, foram retiradas de livros didáticos do ensino médio e da internet e podem ser realizadas por professores e/ou alunos. Nº 1: Campo de um condutor retilíneo2 Em 1820, Hans Christian Oersted observou, pela primeira vez, que a agulha de uma bússola defletia de sua posição de equilíbrio quando havia, próximo a ela, um fio condutor pelo qual passava uma corrente elétrica. 1. Objetivo: constatar a presença de um campo magnético em torno de um fio percorrido por uma corrente elétrica. 2. Material: Um pedaço de fio de cobre de 80 centímetros Duas pilhas alcalinas grandes Uma bússola comercial (que é mais sensível) ou uma bússola artesanal 3. Procedimento: raspe a ponta dos fios de cobre e coloque-os em contato com as extremidades das pilhas unidas, em seguida coloque o fio próximo da bússola conforme é indicado na figura 1. 2 Adaptado de RAMALHO JUNIOR; FERRARO; SOARES, 2003, p. 289. Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 49 Figura 1 - Verificação do campo magnético produzido por um condutor retilíneo percorrido por uma corrente. Fonte: RAMALHO JUNIOR; FERRARO; SOARES, 2003, p. 289. 4. Observação: faça um desenho esquematizando a posição da agulha da bússola em três posições ao redor do fio. 5. Questionamentos: 1) Por que a agulha da bússola muda de posição quando próxima a um fio percorrido por uma corrente elétrica? 2) O que acontece com a agulha da bússola, se o fio condutor de eletricidade ficar perpendicular à bússola? 3) Desenhe em seu caderno um esquema que mostre a configuração do campo magnético ao redor de condutor retilíneo de eletricidade. Nº 2: Configurações tridimensionais do campo magnético de um ímã3 1. Objetivo: visualizar a configuração tridimensional das linhas de campo magnético de um ímã. 2. Material: uma garrafa plástica de dois litros 1 kg de açúcar 3Adaptado de GASPAR, 2003. p. 202. Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 50 2 l de água; uma fita cassete de 60 min algodão e acetona um ímã permanente de barra 3. Procedimento: para obter partículas magnéticas, desmonte a fita cassete. Esfregue o lado opaco da fita com um algodão embebido em acetona. Limpe com firmeza pequenos trechos de cada vez. Retire o material aderido ao algodão também com acetona e recolha num copo. Depois de esfregar toda a fita, transfira o conteúdo do copo para a garrafa, agitando fortemente, até que todo o material se distribua uniformemente por todo o líquido (água açucarada na proporção de 25 colheres de sopa para dois litros de água da garrafa). Em seguida, aproxime um imã por fora da garrafa e observe o que acontece, na figura 2: Figura 2 – Configurações tridimensionais do campo magnético produzido por um ímã em barra Fonte: GASPAR, 2003. p. 202. 4. Observação: faça uma figura das linhas do campo magnético formada no interior do líquido em suspensão. 5. Questionamentos: 1) Essa configuração vale para o campo elétrico ou campo magnético? 2) O que acontece se você aproximar um ímã pelo outro lado da garrafa? 3) Debata com seus amigos se é possível visualizar uma configuração retilínea dentro da garrafa. Caso seja possível, proponha uma forma de obter esta configuração. Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 51 Nº 3: Ludião4 1. Material: uma garrafa pet transparente de 2 litros um tubo de ensaio 2. Procedimentos: para fazer esta montagem, encha o tubo de ensaio, parcialmente, com água de forma que fique em equilíbrio estático dentro do líquido (faça o teste antes num copo com água). Na sequência, encha uma garrafa plástica (tem de ser de plástico) completamente com água. Coloque o ludião5 dentro da garrafa e tampe muito bem, de preferência com tampa de rosca. Para o ludião se mover, basta pressionar a garrafa com a mão. Observe a figura 3: Figura 3 - Ludião Fonte: GASPAR, 2003, p. 338. 3. Questionamentos: 1) Por que temos que pressionar o frasco para o ludião se mover? 2) Como é transmitida a pressão no líquido? 3) Explique o que acontece com o nível da água dentro do ludião. 4 Adaptado de GASPAR (2003. p. 338). 5 Segundo o dicionário Digital Aurélio versão 3.0 ludião é um aparelho mergulhador que contém uma pequena bolha de ar que emerge de, ou imerge em, um líquido, conforme a pressão que sobre este exerce. Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 52 4) Cite uma ou mais aplicações práticas para o princípio físico que rege este experimento. Nº 4: Câmara escura6 1. Objetivo: este experimento tem por objetivo a construção de uma câmara escura na qual é possível observar a imagem da chama de uma vela sendo projetada em seu interior. 2. Contexto Segundo os princípios da óptica geométrica, os raios de luz se propagam em linha reta. Na câmara escura, todos os raios de luz que são emitidos pelo objeto a ser projetado passam através de um pequeno orifício e atingem o aparato em seu interior. Assim sendo, a luz que sai do ponto mais alto do objeto atingirá o aparato no ponto mais baixo da imagem projetada, formando uma imagem invertida, como na figura 4: Figura 4: Esquema do experimento Fonte: adaptado de <http://www2.fc.unesp.br/experimentosdefisica> 3. Ideia do Experimento Projeta-se a luz emitida pela chama de uma vela na parte interna da tampa de uma lata de chocolate em pó, apenas com um furo em seu fundo. 4. Material uma lata de Nescau uma vela um prego 6 Adaptado de <http://www2.fc.unesp.br/experimentosdefisica/>. Acesso em 07/04/2013. Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 53 uma folha de papel manteiga fita gomada e tesoura sem ponta 5. Montagem Faça um furo, o menor possível, no meio do fundo da lata. Tape-a com o papel manteiga. Acenda a vela e aproxime o fundo da lata até ver a imagem refletida na tampa. Para que o experimento seja realizado, o ambiente deve permanecer o mais escuro possível. 6. Questionamentos: 1) Qual o princípio físico que rege este experimento? 2) Qual a posição da figura formada no papel-manteiga? Explique. 3) O que acontece com o tamanho da figura formada quando aproximamos a lata da vela? Considerações finais O uso das atividades experimentais como estratégia no ensino da Física é relevante, haja vista que elas viabilizamas interações sociais necessárias para desencadear os processos de aprendizagem que devem ser vivenciados pelos alunos do Ensino Fundamental e Médio. Uma vez ocorrido este processo, a Física, como disciplina, cumpre seu papel na formação do estudante, tornando-o um cidadão crítico, contemporâneo e atuante, pronto para intervir e colaborar para o bem-estar da sociedade na qual está inserido. Contudo, é preciso salientar que a atividade experimental por si só não é responsável pela aprendizagem e deve ser realizada seguindo os critérios aqui expostos, respeitando as características e heterogeneidade de cada sala aula. Cabe ao professor a reponsabilidade de classificar, selecionar, realizar e/ou orientar as atividades experimentais de forma adequada e expor o conteúdo programático por meio de uma linguagem fácil e objetiva. Elival Martins dos Reis Júnior e Otto H M da Silva Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 54 A realização das atividades experimentais deve ser um evento que chame a atenção e seja prazeroso para os alunos. O estímulo a perguntas e questionamentos sempre deve ser feito pelo professor; este deve ter um papel semelhante ao do mestre de cerimônias que apresenta o evento. Entretanto, o papel do professor é de coadjuvante, pois cabe ao aluno o papel principal. O aluno é quem deverá questionar e ser questionado e estimulado a buscar novos conhecimentos. Ressalta-se, ainda, a importância do planejamento da aula e da atividade experimental, pois é nesse momento que o professor vai definir os objetivos da aula, a metodologia utilizada e suas ações em sala de aula, a fim de evitar erros que podem levar ao constrangimento do professor e/ou decepção dos alunos e, consequentemente, ao desinteresse pela atividade. Aos colegas professores, recomenda-se sempre o teste prévio das atividades experimentais. Deve verificar o tempo de realização e ainda fazer o check list dos equipamentos, materiais e dos procedimentos adotados para a realização das atividades experimentais. Deve ainda dispor de maior carga horária para a realização das atividades de modo que possa haver tempo de discussão das ideais propostas e responder aos questionamentos feitos em sala de aula. Os alunos devem ser distribuídos em grupo de modo que possam ser atendidos mais facilmente, sempre mantendo os cuidados quanto ao manuseio dos equipamentos, limpeza e iluminação dos ambientes. Espera-se, ainda, que este trabalho contribua para o aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem de Física e sirva de auxílio para os colegas professores de todo o Brasil que veem nas atividades experimentais uma saída para sanar as dificuldades de ensinar e aprender Física. Atividades experimentais: uma estratégia para o ensino da física Cadernos Intersaberes | vol. 1, n.2, p.38-56| jan. – jun. 2013| ISSN 2317 – 692x 55 REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. S; ABIB, M. L. Atividades experimentais no ensino da Física: Diferente enfoques, diferentes finalidades. Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 25, Nº 2, p. 176 – 194. Junho, 2003 BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, ed. 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