Buscar

Dados de pesquisa TCC (2) (1)

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
COLEGIADO DE DIREITO 
 
SER MULHER: A (IN) EFICÁCIA DA IGUALDADE DE GÊNERO NA 
LEGISLAÇÃO LUSO-BRASILEIRA 
 
Iraniano Souza de Araujo1 
Guilhardes de Jesus Júnior 2 
 
RESUMO 
Sob o enfoque do Direito Comparado e dos estudos de gênero, é possível diagnosticar 
os fatores normativos e estruturais que viabilizam o empoderamento feminino, a fim de 
reconhecer a igualdade entre homens e mulheres como um direito fundamental inviolável. 
Contudo não deixando de pontuar suas diferenças, pois falar em reduzir desigualdades de 
gênero não significa negar a diversidade e a diferença ente homens e mulheres, mas reconhecer 
suas necessidades específicas e nem sempre iguais. Perpassando-se pelo crivo da evolução das 
Constituições luso-brasileira para identificar as normas que priorizam as relações de gênero, 
sobretudo as que apresentam o rol de direito das mulheres, estabelecendo os mecanismos de 
condução à igualdade. Ressaltam-se, também, as modalidades de violência doméstica no Brasil 
e em Portugal, perpetrada majoritariamente por homens, como instrumento de manutenção do 
status quo da dominação masculina. No cenário da desigualdade, embora já tenham alcançado 
merecidas conquistas, as mulheres, ainda, lutam para serem reconhecidas e amparadas, não 
apenas, como titular de direitos, mas por igualdade no exercício do Direito. É neste viés que 
surgem as necessidades de provocar o Estado para que garanta a eficácia na aplicabilidade das 
Leis, de modo que possa desconstruir o sistema de opressão historicamente legitimado para 
empoderar as mulheres, garantindo o Princípio da Isonomia, com o objetivo singular de 
fomentar o equilíbrio nas relações de gênero ao patentear a igualdade. 
 
PALAVRAS CHAVES: Constituição. Violência Doméstica. Equidade de Gênero. Direitos da 
Mulher. 
 
 
 
1Graduando em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC. Diretor da União dos Estudantes da 
Bahia – UEB. Estagiário no TJBA (73) 8133-4849; iran.direito@hotmail.com. 
2Orientador. Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). 
Professor do Departamento de Ciências Jurídicas da UESC. 
ABSTRACT 
 
From the standpoint of comparative law and gender studies, it is possible to diagnose the 
normative and structural factors that enable women's empowerment in order to recognize 
equality between men and women as a fundamental right inviolable. Yet not failing to score 
their differences, because speaking in reducing gender inequalities is not to deny the diversity 
and being male and female difference, but recognize their specific needs and not always equal. 
Traversing up the scrutiny of the evolution of Luso-Brazilian Constitutions to identify the rules 
that prioritize gender relations, especially those with the list of women's rights, establishing 
driving mechanisms to equality. Highlight is also the modes of domestic violence in Brazil and 
Portugal, perpetrated mostly by men, such as maintenance of instrument status quo of male 
domination. In the scenario of inequality, although they have achieved well-deserved 
achievements, women still struggle to be recognized and supported, not only as the holder of 
rights, but equality in the exercise of law. It is this bias that needs arise to cause the state to 
ensure the effectiveness of the applicability of laws, so that it can deconstruct the system of 
oppression historically legitimized to empower women, ensuring the principle of equality, with 
the singular objective of promoting balance in gender relations to the patent equality. 
 
KEY WORD: Constitution. Domestic Violence. Gender Equity. Women's Rights. 
 
1. Introdução 
 
A igualdade de tratamento de mulheres e homens é um direito humano fundamental 
inviolável. Os fundamentos desta afirmação podem ser extraídos, notadamente, no inciso I do 
artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e, outrossim, no artigo 13º, 
1, da Constituição da República Portuguesa os quais estabelecem que homens e mulheres são 
iguais. Destarte, de acordo com Krieger (2010), o que se constituir em oposição a isto estará 
fundado em preceitos discriminatórios devendo ser combatido, anulado e desconstituído em 
razão da aplicação ampla do princípio da isonomia. 
Piovesan (2009) conceitua discriminação como toda distinção, exclusão, restrição 
ou preferência que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo 
ou exercício, em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais, nos 
campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo. 
As desigualdades atuais entre homens e mulheres são resquícios de um patriarcado 
não mais existente ou em seus últimos estertores (SAFFIOTI, 2004). No entanto, ainda, são 
difundidas dissimuladamente em meio à sociedade reforçando a ideia da supremacia masculina 
em face da fragilidade feminina. Para tanto, utilizam-se dos arcaicos mecanismos de poder (até 
mesmo da violência), reproduzindo o sistema de exclusão reservado às mulheres, ao garantir a 
manutenção da inviolabilidade dos espaços, antes considerados, exclusivos dos homens. 
Seguindo este viés, Chiavassa (2004) afirma que a desigualdade de gênero nasceu 
das diferenças socialmente construídas entre homens e mulheres, baseadas originalmente em 
aspectos biológicos – por obvio, mulheres e homens têm corpos e sexualidades distintos – e, 
justificada, ainda na pré-história, pela divisão social do trabalho, a qual determinou os 
ambientes laborais do homem e da mulher, deixando para esta a exclusividade dos a fazeres 
domésticos e cuidados da família (marido e filhos). Antagonicamente o homem exercia o papel 
de provedor do lar ao desenvolver os trabalhos externos de forma remunerada. 
Assim, o trabalho doméstico virou emblema de tarefa feminina e passou a ser 
considerado uma atividade inferior e menos valorizado do que o trabalho masculino. Esta 
prática ideológica foi perpetuada ao longo do tempo pela família e pela escola, de modo que 
facilitou a brusca chegada e permanência do homem ao poder, além de lhes conceder mais 
recursos e mais influência que as mulheres (CHIAVASSA, 2004). 
Ressalta-se que, é no âmbito doméstico que se destacam as maiores taxas de 
violência contra a mulher, sendo hoje em dia incontestável que a violência doméstica é, entre 
outros, um problema de direito, cabe analisar as emergências no seu tratamento legal. 
 Neste cenário, aduz Moncal (2012), se faz necessário, estimular o empoderamento 
para que homens e mulheres alcancem efetivamente a igualdade de gênero, de modo que elas 
assumam o controle de suas vidas, haja vista ainda nos dias de hoje, as mulheres lutam 
objetivando conquistar espaços dignos e mais equânimes na sociedade, sendo desafiadas 
diariamente a combater a inércia das Instituições que deveriam garantir a efetivação e 
aplicabilidade dos seus direitos já conquistados e positivados no ordenamento jurídico luso-
brasileiro. Ademais, é indispensável à concretização da igualdade de direitos e de oportunidades 
entre ambos os sexos nos âmbitos: de trabalho; político; sociocultural; escolar; doméstico e 
familiar. 
Considerando as declarações acima expostas, tem-se por hipótese que a eficaz 
promoção da igualdade de gênero nos Estados-nação, Brasil e Portugal, ocorrerá à medida que 
os poderes públicos instituam com compromisso mecanismos que proporcionem ampla 
proteção às mulheres e dê aplicabilidade objetivando sanar suas lacunas/ineficácia, tendo por 
prioridade a execução de medidas que viabilizem a equidade.Sendo assim, perpassando pelo processo de desenvolvimento do ser mulher em uma 
sociedade alicerçada em preceitos machistas, compete ao presente trabalho analisar as relações 
de gênero, utilizando-se do direito comparado, tendo por parâmetro os principais textos 
(artigos), constitucionais e legislações infraconstitucionais brasileiros e portugueses que versam 
sobre a igualdade entre mulheres e homens, promovendo a proteção da mulher, a saber: 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; Constituição da República Portuguesa 
de 1976; Lei Maria da Penha- Lei 11.340/2006; Lei de Violência doméstica portuguesa-
Lei112/2009 e etc. 
Com fulcro nos elementos supracitados, tem-se por objetivos específicos: a) 
analisar o processo de evolução do direito à igualdade nas Constituições de Brasil e 
Portugal; b) verificar se o fato do Direito à igualdade de gênero estar positivado (escrito), na 
constituição e legislação infraconstitucional garante sua eficácia; c) evidenciar por meio da 
divulgação de dados extraídos a partir de análises bibliográficas, quais são os mecanismos 
utilizados por Brasil e Portugal no combate a violência doméstica, em suas diversas 
modalidades. 
O marco teórico deste trabalho foi constituído por meio de leituras de obras sobre 
o tema em análise. Em síntese as mais utilizadas foram: Canotilho (2009), apresentando seu 
pensamento em relação a Teoria da Constituição Dirigente ; Chiavassa (2004), falando sobre a 
origem da desigualdade de gênero; Kelsen (1979), apresenta em sua obra a Teoria Pura do 
Direito, a Constituição como norma fundante e soberana de um Estado. Piovesan (2009) 
trabalha a discriminação sob a lente da questão dos Direitos Humanos da Mulher; e o Mapa da 
violência 2015, este expõe dados referentes as taxa de homicídio de mulheres no Brasil durante 
o período de 1980 a 2013. De modo geral, este feito define-se com fulcro na afirmação de 
Simone de Beauvoir (1980, p.71), quando afirma que: “O homem é definido como ser humano 
e a mulher é definida como fêmea. Quando ela comporta-se como um ser humano ela é acusada 
de imitar o macho". 
Neste contexto, de nada vale a Constituição e todos os Tratados e Convenções de 
Direitos Humanos, se o Estado não tiver por prioridade a promoção da equidade de Gênero. Por 
tanto, é preciso desconstruir o sistema de opressão historicamente legitimado para empoderar 
as mulheres, com o objetivo singular de fomentar o equilíbrio nas relações de gênero, 
garantindo lhes a igualdade de fato e autonomia no exercício de suas vontades. 
 
2. Constituição: Instrumento Instituidor de Direitos 
Todo Estado, mesmo os não democráticos, possui uma Constituição, que estabelece 
o seu modo de ser, de se organizar e funcionar. Também são denominadas por outros termos, 
como Carta Magna, Lei Maior e tantas outras definições. 
Em relação às definições que apresentam à Constituição, destacam-se as concepções: 
sociológica, política e jurídica da seguinte forma: 
a) Em sentido sociológico, Lassalle (2002), apresenta a Constituição como a Lei 
suprema de um país, pois é essencialmente a soma dos fatores reais de poder que o 
governam, a saber, o poder: político; religioso; econômico e o militar e, não o texto 
escrito da Constituição, pelo fato de estar escrito. 
b) Em sentido político, para Schmitt (2003), a Constituição é uma decisão política 
fundamental, uma decisão concreta de conjunto sobre o modo e a forma de existência 
da unidade política. 
c) Já em sentido jurídico, Kelsen (1979), advoga que a Constituição é a norma jurídica 
escrita suprema, o dever ser de um Estado, ao mesmo tempo fundamento lógico 
superior de toda a ordem jurídica, parâmetro de validade das demais leis e regedora 
da estrutura básica fundamental do Estado. 
Diante desse universo de significações, não nos compete definir qual a concepção 
correta, contudo consideramos importante expor o que pensamento de alguns doutrinadores 
sobre estas afirmações. 
José Afonso da Silva nos ensina que: "essas concepções pecam pela 
unilateralidade", e busca criar uma concepção estrutural da constituição considerando: "no seu 
aspecto normativo, não como norma pura, mas como norma em sua conexão com a realidade 
social, que lhe dá o conteúdo fático e o sentido axiológico. Trata-se de um complexo, não de 
partes que se adicionam ou se somam, mas de elementos membros e membros que se enlaçam 
num todo unitário" (Silva, 2005, p. 41). 
Já para o constitucionalista português, Gomes Canotilho, antes de se discutir o 
conceito de constituição, faz-se necessário discutir as teorias da constituição e as teorias da 
democracia. Com fulcro nestas teorias ele define a constituição a partir de um conceito cultural 
e afirma que ela deve: 
“(i) consagrar um sistema de garantia da liberdade (esta essencialmente concebida no 
sentido do reconhecimento dos direitos individuais e da participação do cidadão nos 
atos do poder legislativo através dos Parlamentos); (ii) a constituição contém o 
princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos 
poderes estaduais; (iii) a constituição deve ser escrita.” (CANOTILHO, 2009, p. 62-
63). 
Ressalta-se que o mestre Coimbrano, Canotilho (2009), em sua Teoria da 
Constituição Dirigente, apresenta a constituição seguindo o viés kelseniano, tomando mão do 
direito positivado, definido a Constituição como um instrumento de organização do poder 
político, concebida como um documento escrito e rígido, manifestando-se como uma norma 
suprema e fundamental, por ser hierarquicamente superior a todas as outras, das quais constitui 
o fundamento de validade que só pode ser alterado por procedimentos especiais e solenes 
previstos em seu próprio texto. 
È sabido que a Constituição Brasileira de 1988 teve por pedra angular a 
Constituição Portuguesa de 1976. Cabe ressaltar que, o texto normativo além de beber das 
fontes constitucionais portuguesas, também, utilizou da fonte doutrinária lusa na construção das 
bases teóricas da nossa Carta Magna. 
Neste contexto, dois doutrinadores portugueses destacaram-se, dentre os muitos que 
contribuíram com o papel norteador constituinte, quais sejam: Jorge Miranda e Gomes 
Canotilho. Este último adquiriu maior notoriedade, haja vista sua Teoria da Constituição 
Dirigente foi amplamente adotada na Carta de 1988, produzindo, assim, um ideal transformador 
na realidade brasileira, em razão da Carta escrita trazer em seu bojo um conjunto de direitos 
fundamentais e seu respectivo modo de garantia (MENDES, 2008). 
 
3. Os Fundamentos da Igualdade e sua Evolução na Constituição Brasileira 
 
O princípio da igualdade é um dos princípios estruturantes dos direitos 
fundamentais, pois condensa conteúdos importantes, que em síntese podem ser expostos da 
seguinte forma: igualdade na aplicação do direito e igualdade quanto a criação do direito. 
Nesse sentido, a fórmula “todos os cidadãos são iguais perante a lei”, conforme 
aduzem as Constituições, Brasileira de 1988 (Art. 5º, I) e a Portuguesa de 1974 (Art. 13, 1), 
significa, essencialmente, a “exigência de igualdade na aplicação do direito” (CANOTILHO, 
2009, p. 399). 
Sob a égide do princípio da igualdade consagraram-se duas expressões no direito: 
igualdade na lei e igualdade perante a lei. 
 A igualdade perante a lei não está fundada apenas na aplicação da lei de forma 
isonômica, mas significa que a própria lei deve tratar igualmente todos os cidadãos. Desta 
forma, o princípio da igualdade “dirige-se ao legislador, vinculando-o à criação de um direito 
igual para todos os cidadãos” (CANOTILHO, 2009, 399). 
E de acordo com Marmelstein (2008), a igualdade na lei é dirigida ao legislador, 
que, “ao editarnormas abstratas, deve tratar todos com isonomia”. Por outro lado, a igualdade 
perante a lei incide no momento de concretização, “de modo que os operadores do direito, na 
aplicação da lei, não adotem comportamentos preconceituosos”. 
Sob o prisma deste mesmo entendimento, adverte-nos o Ministro Celso de Mello, 
em uma das decisões do STF, cristalizando o entendimento jurisprudencial brasileiro 
concernente ao princípio da isonomia: 
 
O princípio da isonomia, que se reveste de auto-aplicabilidade, não é - enquanto 
postulado fundamental de nossa ordem político-jurídica - suscetível de 
regulamentação ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja observância 
vincula, incondicionalmente, todas as manifestações do Poder Público – deve ser 
considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir 
privilégios (RDA 55/114), sob duplo aspecto: (a) o da igualdade na lei e (b) o da 
igualdade perante a lei. A igualdade na lei - que opera numa fase de generalidade 
puramente abstrata - constitui exigência destinada ao legislador que, no processo de 
sua formação, nela não poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela 
ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo lei já 
elaborada, traduz imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação 
da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo 
ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo legislador imporá 
ao ato estatal por ele elaborado e produzido a eiva de inconstitucionalidade (MI 58, 
Rel. Min. Celso de Mello, DJU 19/04/91). 
 
No Brasil, não há como se falar em Igualdade, sobretudo igualdade de gênero, sem 
que seja evocada a Constituição de 1988, pois diferentemente das Constituições que lhe 
antecederam, as quais silenciaram ou não mencionaram expressamente (com rara exceção), os 
“direitos entre os sexos”, o legislador Constituinte atendendo aos anseios da sociedade, 
alicerçado nas lutas travadas contra a discriminação, garantiu em seu artigo 5º, inciso I, que 
“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (Gunther e Gunther, 2010, p. 09). 
Depreende-se desse inciso que não só a igualdade formal foi garantida, mas também 
a igualdade de direitos e obrigações, de modo que nenhuma pessoa pode sofrer qualquer 
“cerceamento em suas prerrogativas e nos seus deveres, sob pena de infringir-se a manifestação 
constituinte originária” (BULOS, 2008 p. 123). 
Sendo assim, mulheres e homens, que encontrar-se em situação idêntica, não 
poderão, em nenhuma hipótese, “sofrer qualquer cerceamento em suas prerrogativas e nos seus 
deveres, sob pena de infringir-se a manifestação constituinte originária” (BULOS, 2008 p. 123). 
Historicamente as Constituições Brasileiras não deram evidencia ao tema. A 
Constituição Imperial de 1824, nada fala sobre a igualdade entre os sexos e o trabalho da 
mulher. De igual modo, a Constituição de 1891 não pronunciou expressamente a igualdade 
entre homens e mulheres. 
Por sua vez, a Constituição de 1934 registrou em seu texto o princípio da igualdade 
nas relações intersexuais, afirmando não haver privilégios, nem distinções, por motivo de sexo, 
garantindo a mulher o direito ao voto. 
 No entanto, a Constituição de 1937, conquanto mantivesse o princípio da 
igualdade, não apresentou avanços, nem se manifestou em relação ao critério do sexo. 
Outrossim, a Constituição de 1946 manteve nos mesmo termos a redação do princípio da 
igualdade, mas inicia-se aqui a previsão legal de prisão civil por inadimplemento de verbas 
alimentares. (GOSDAL, 2008). 
Curiosamente, em 1967, a pesar de a Constituição ter sido editada em ambiente 
distinto dos demais, em pleno período ditatorial, foi abordada de forma expressa a questão do 
sexo, ao enunciar o princípio da isonomia, “afastando formalmente a possibilidade das pessoas 
serem discriminadas em virtude do sexo”. De igual modo, versou sobre o assunto a Emenda 
Constitucional nº 1 de 1969 (GOSDAL, 2008, p. 146). 
Por fim, encontramos no caput do artigo 5º e inciso I, da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, a norma positivada de garantia ao princípio da isonomia, nos 
seguintes termos (BRASIL, 1988): 
 
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” 
“I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta 
Constituição [...]”. 
 
Ressalta-se que, além da igualdade formal expressa no artigo 5º, a Constituição 
Cidadã/1988, trouxe em seu bojo outros dispositivos objetivando igualar homens e mulheres de 
forma expressa, garantindo-lhes, assim, direitos cíveis, políticos e “sociais a educação, a saúde, 
a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (art. 6º, CF/88) dentre outros, a saber: 
 
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à 
melhoria de sua condição social: 
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de 
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 
Art. 189 – Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos 
ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termos e 
condições previstos em lei. 
Art. 201, V - pensão por morte de segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou 
companheiro e dependentes, obedecido o disposto no § 5º e no art. 202. 
Art. 226, § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos 
igualmente pelo homem e pela mulher. 
 
Sobre estes direitos conquistados pelas mulheres com a sanção da Costituição de 
1988, entendemos por meio de dados do Correio Brasiliense de 1988, apud Ettinger (2013, p. 
51), que: 
 
O referencial histórico para a garantia desses direitos foi fruto de um movimento 
feminista paralelo à constituinte de 1988 conhecido como “lobby do batom”. Esse 
movimento tinha como pauta reivindicatória: a garantia de licença maternidade de 120 
dias, a licença paternidade de 08 dias, a igualdade de salários entre homens e 
mulheres, creche nas empresas, educação gratuita em creche e pré-escola, para 
crianças de 0 a 06 anos, a expressão do princípio de igualdade de direitos e de deveres 
entre o homem e a mulher, a igualdade na sociedade conjugal, o direito das 
presidiárias de amamentar seus filhos, o reconhecimento da união estável como 
entidade familiar, o direito de posse da terra ao homem e à mulher, os direitos 
trabalhistas e previdenciários à empregada doméstica e a garantia de mecanismos que 
coibisse a violência doméstica. Das reivindicações solicitadas, cerca de 80% foram 
aprovadas, levando a novos arranjos nas relações de gênero no Brasil. 
 
Destarte, com a Constituição de 1988 o direito à igualdade se fortaleceu, em especial, a 
igualdade entre homens e mulheres. Ademais, a forma como o princípio da isonomia foi 
apresentado pela atual Constituinte, instituindo a igualdade de direitos e deveres entre homens 
e mulheres pode ser considerada uma das maiores conquistas feminina dos últimos tempos, pois 
proporcionou que elas alcançassem a almejada autonomia para exercerem sua manifestação de 
vontade nas tomadas de decisões. 
4. O Princípio da Igualdade na Legislação Portuguesa 
Em Portugal os primeiros anseios das mulheres pelo exercício de direitos estrearam 
em 1557 (através das mãos de homens), a partir de obras literárias como, por exemplo, a obra 
de Rui Gonçalves – PublicaçãoDos privilégios e prerrogativas que o gênero feminino tem por 
direito comum e ordenações do Reino mais do que o gênero masculino. Considerado o primeiro 
livro “feminista” português, no sentido de nele se assumir a defesa dos direitos das mulheres. 
Contudo, da mesma forma que o Brasil, o Estado Português silenciou-se ou não se 
manifestou expressamente através de suas Constituições sobre a igualdade entre os gêneros ou 
minimamente atribuir direito às mulheres, durante séculos de sua história. 
Conforme dados obtidos da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género – 
Presidência do Conselho de Ministros, não há declaração expressa de igualdade de direitos entre 
os sexos na Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822, primeira lei fundamental 
portuguesa. De igual modo, não há esse tipo de registro na Carta Constitucional da Monarquia 
Portuguesa de 1826, nem tão pouco na Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1838 
(CIG, 2013). 
Apenas em 1910 com a Proclamação da República que surge novas leis para reger 
o casamento e a filiação baseando o casamento na “igualdade”. Por meio desta lei: a mulher 
deixa (teoricamente), de dever obediência ao marido; o crime de adultério passa a ter o mesmo 
tratamento quando cometido por mulheres ou homens; e no mesmo período, o Decreto de 3 de 
novembro de 1910 estabelece a Lei do Divórcio. O divórcio é admitido pela primeira vez em 
Portugal e é dado ao marido e à mulher o mesmo tratamento, tanto em relação aos motivos de 
divórcio, como aos direitos sobre os filhos (CIG, 2013, p.29). 
Após esta aparente conquista, os direitos das mulheres foram aparecendo 
lentamente na legislação portuguesa. Em 1911 com a promulgação da Constituição 
Republicana as mulheres adquirem o direito de trabalhar na Função Pública. A partir daí surgem 
outras conquistas por meio das legislações infraconstitucionais, a saber: Em 1914 houve a 
Criação do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e em 1918, pelo Decreto n.º 4 676, 
de 17 de julho, foi autorizado o exercício da advocacia às mulheres; em 1926 com Instauração 
do Estado Novo (autoritário), as mulheres passam a poder lecionar em liceus masculinos. (CIG, 
2013, p.30). 
Em 1931, Ocorre o expresso reconhecimento do direito de voto às mulheres 
diplomadas com cursos superiores ou secundários (Decreto com força de lei n.º 19 694, de 5 de 
maio de 1931) . Mas, aos homens continua a exigir-se apenas que saibam ler e escrever. O que 
deveria ser observado como uma grande vitória nos faz perceber nitidamente a instituição da 
desigualdade entre os sexos pelo Estado, devido às exacerbadas condições restritivas impostas 
às mulheres. 
Por seu turno, surge uma suposta igualdade formal entre os cidadãos, com a Nova 
Constituição Política do Estado Novo de 1933, deixando as mulheres exclusas deste processo, 
ao estabelecer a igualdade dos cidadãos perante a lei, “salvas, quanto à mulher, as diferenças 
resultantes da sua natureza e do bem da família” (CIG, 2013, p.31). 
Por mais uma vez a legislação portuguesa apresenta uma falsa igualdade entre os 
gêneros por meio da Lei n.º 2 137, de 26 de dezembro de 1968, que proclama a igualdade de 
direitos políticos do homem e da mulher, seja qual for o seu estado civil. Contudo, em relação 
às eleições locais, permanecem, as desigualdades, sendo apenas eleitores das Juntas de 
Freguesia os chefes de família. 
O princípio da igualdade só é apresentado plenamente como um Princípio 
Fundamental de Direito na Constituição da República Portuguesa de 1976. Com a entrada em 
vigor da nova Constituição fica expressamente estabelecida a igualdade entre homens e 
mulheres em todos os aspectos da vida social, conforme dispõe o artigo 13.º, 1, CRP, “todos os 
cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. 
Ressalta-se que, neste aspecto, também, de forma semelhante ao Brasil, além da 
igualdade formal anunciada no artigo 13º, a Constituição de 1976, trouxe em seu bojo outros 
dispositivos objetivando igualar homens e mulheres. Em seu artigo 9.º, “h”, por exemplo, 
dispõe que é uma das tarefas do estado “promover a igualdade entre homens e mulheres” e em 
sua alinha “d”, além da promoção da igualdade o Estado se compromete com a efetivação dos 
direitos sociais, econômicos, dentre outros, informando ser tarefas fundamentais do Estado: 
 
[...], promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os 
portugueses, bem como a efetivação dos direitos econômicos, sociais, culturais e 
ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas econômicas e 
sociais” (CRP/1976, art. 9º, d,). 
 
A Constituição Portuguesa em vigência, também estabeleceu expressamente os 
direitos de igualdade entre os gêneros em relação à família, casamento e filiação, à capacidade 
civil e política (art.36), bem como ao direito ao trabalho. Expondo, assim, em seu bojo um real 
interesse em igualar homens e mulheres perante a lei, atribuindo a estes os mesmos direitos, 
revogando, consequentemente, as restrições impostas às portuguesas. 
5. Mecanismos de Combate à Violência Doméstica 
Por todo o mundo a violência doméstica tem assumido proporções bastante 
elevadas e, embora seja uma prática milenar reiterada pelas mais diversas comunidades, só 
sobreveio sua denúncia a partir de 1970-1980 por meio dos movimentos feministas. 
Genericamente, considera-se violência doméstica qualquer ato, conduta ou omissão que sirva 
para infligir, reiteradamente ou não, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou 
econômicos/patrimoniais, de modo direto ou indireto a qualquer pessoa que habite no mesmo 
âmbito doméstico (crianças, jovens, mulheres, homens ou idosos) ou que, não habitando no 
mesmo conjunto doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou companheiro 
marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro (MACHADO E GONÇALVES, 2003). 
Infelizmente, a violência doméstica faz parte da experiência de muitos lares, 
furtando sua finalidade, pois a casa que deveria ser o espaço de refúgio para as famílias, torna-
se um ambiente de extrema insegurança para as mulheres (ALVES, 2005). 
De acordo com dados do IBGE, 48% das mulheres agredidas declaram que a 
violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos homens, apenas 14% 
foram agredidos no interior de suas casas, provando que as mulheres são as principais vítimas 
de violência doméstica (PNAD/IBGE, 2009). 
Segundo Cabral (2008), a Declaração da Eliminação da Violência contra a Mulher, 
de 1993, da Organização das Nações Unidas (ONU) entendeu que a violência contra a mulher 
é: 
 
qualquer ato de violência de gênero que resulte, ou tenha probabilidade de resultar, 
em prejuízo físico, sexual ou psicológico, ou ainda sofrimento para as mulheres, 
incluindo também a ameaça de praticar tais atos, a coerção e a privação da liberdade, 
ocorrendo tanto em público como na vida privada. 
Neste diapasão é pertinente diferenciar violência de gênero e violência doméstica, 
porque apesar de serem termos relacionados à violência contra a mulher, elas se inserem em 
âmbitos diferentes nas relações sociais. Enquanto a violência doméstica é empregada em face 
de indivíduos que compartilham o mesmo domicílio (na legislação portuguesa) e tem por 
espaço privilegiado o âmbito familiar ou em qualquer relação íntima de afeto, independente de 
coabitação (legislação brasileira), a violência de gênero tem caráter mais genérico, referindo-se 
a qualquer ato que agrida a mulher ou lhe provoque algum sofrimento de qualquer ordem, e 
pode se configurar em qualquer ambiente, conforme aduz Almeida (2012). 
Objetivando combater a violência contra a mulher, dentre outros países, Brasil e 
Portugal constituíram legislações específicasque criminalizam a violência doméstica e 
demonstra suas características, as formas de manifestações e os meios de enfrentamento 
(prevenção e punição), tendo por diretrizes alguns diplomas do Direito Internacional, 
incorporando, assim, muitos Direitos Humanos da Mulher em seus ordenamentos jurídicos, tais 
como: Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948; Convenção sobre a 
Nacionalidade da Mulher Casada (1957); Declaração sobre a Eliminação da Discriminação 
contra a Mulher (1967); Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
contra a Mulher (1994) etc. (BERNARDI, 2014). 
Segundo Flavia Piovesan (2009), essa é uma das maiores conquistas do movimento 
de mulheres no campo dos Direitos Humanos nos últimos anos, tendo em vista que criam os 
principais mecanismos para coibir e prevenir a violência contra a mulher, além de regular a 
discrepância que há entre homens e mulheres e, simultaneamente, efetivar o princípio da 
igualdade. 
 
5.1 Brasileiras e a Lei Maria da Penha 
No Brasil, o principal mecanismo de proteção à mulher se deu com a promulgação 
da Lei 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, a qual ingressou 
tardiamente no ordenamento jurídico pátrio e, somente após o Estado brasileiro sofrer pressão 
internacional, promovida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ser condenado 
por sua Corte, em virtude dos esforços de Maria da Penha (brasileira, vítima de dupla tentativa 
de homicídio perpetrada por seu marido). 
Nesse cenário, a Lei Maria da Penha surgiu com a finalidade de “nivelar a relação 
entre ambos os sexos, atribuindo certas prerrogativas as mulheres a fim de equacionar 
desigualdades existentes tanto no lar como no seio social” (CALASANS JÚNIOR, 2009). 
O artigo 5º d a Lei Maria da Penha, define a violência doméstica e familiar contra 
a mulher como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, ocorridas no âmbito da 
unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto, independente de orientação 
sexual e de coabitação. 
Este tipo de violência manifesta-se através de abusos materiais (físicos, sexuais ou 
patrimoniais) ou imateriais (psicológicos ou morais) praticados pelos homens como forma de 
tentar exercer ou reaver o poder perdido sobre a mulher. 
Neste sentido, a lei 11.340/2006, em seu art. 7º, disserta a respeito dessas 
manifestações da violência doméstica e familiar contra a mulher, conceituando e dividindo-as 
em cinco formas, a saber: física; psicológica; sexual; patrimonial e moral. 
A violência física é conceituada normativamente como qualquer conduta que 
ofenda a integridade ou a saúde corporal da mulher, tendo como correlatos fatos como a lesão 
corporal, as vias de fato, os maus tratos/negligências e o homicídio tentado. Observa-se com 
frequência que a violência física, por sua peculiaridade, acaba sendo mais das vezes a 
modalidade que mais é percebida como violência. 
Já a violência psicológica é observada quando há conduta que tenha como 
consequência dano emocional, diminuição da autoestima, prejuízo à saúde psicológica e a 
autodeterminação, ou que vise controlar as ações da ofendida, ou que ainda prejudique ou 
perturbe o pleno desenvolvimento desta. 
Quanto à violência sexual, a lei referente à violência domestica e familiar contra a 
mulher conceitua-a como “qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a 
participar de relação sexual não desejada”, ou mesmo que a leve a comercializar sua 
sexualidade ou a utilizá-la de qualquer outro modo, ou ainda que a proíba de utilizar-se de 
métodos contraceptivos, ou mesmo que a force a contrair matrimônio, a engravidar, a abortar 
ou prostituir-se, mediante a coação, a chantagem, o suborno ou manipulação, sendo 
consideradas também como violência sexual as atitudes que limitem ou anulem o exercício dos 
direitos sexuais e reprodutivos da ofendida. 
No que concerne a violência patrimonial é definida como qualquer conduta que 
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total dos objetos, instrumentos de trabalho, 
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados 
a satisfazer as necessidades da mulher. 
A violência moral é conceituada na referida Lei como “qualquer conduta que 
configure calúnia, difamação ou injúria”. Entende-se que esse tipo de violência se qualifica 
quando há envolvimento de agressão verbal, como xingamentos, podendo ser caracterizado pela 
calúnia, quando há falsa imputação da prática de ato definido como crime; ou ainda a 
difamação, quando há propagação de ofensa à reputação; ou mesmo a injúria, quando ofender 
a dignidade da pessoa. 
Nota-se, assim, que são diversas as formas de violência doméstica contra as 
brasileiras, cada qual com suas peculiaridades e, efetivamente, não há uma percepção geral do 
que seja atos de violência doméstica contra a mulher, o que dificulta a efetividade do combate 
a todas suas formas. Haja vista, algumas mulheres quando vitimadas poderão enfrentá-la como 
uma verdadeira violência, enquanto outras a enxergará como um fenômeno normal e, não como 
a ruptura de integridades: física; psíquica; sexual; moral. Fator que ainda precisa ser trabalhado, 
para que todas sejam capazes de identificar os atos de violência que estão sendo ou podem ser 
aplicados contra elas, além de se conscientizarem dos métodos adequados a combatê-los, bem 
como, quais são os direitos que lhes assistem diante do infortúnio. 
Neste contexto, a professora Saffioti (2004, p. 125), nos ensina que quando a 
modalidade de violência mantém limites tênues com a chamada normalidade, é preferível usar 
o conceito de direitos humanos, por que: 
 
[...] Ainda que seja recente sua defesa, mormente para mulheres, já se consolidou um 
pequeno corpo de direitos universais, ou seja, internacionalmente aceitos, em nome 
dos quais as mulheres podem ser defendidas das agressões machistas. Evidentemente 
este corpo de Direitos Humanos é ainda insatisfatório, desejando-se seu crescimento 
[...] 
 
Partindo desse pressuposto compreendemos que mesmo existindo um regramento 
jurídico vigente que verse sobre a questão em análise, será insuficiente se todas as mulheres, 
indistintamente, não obter conhecimento da existência e funcionalidade desta lei (o que pode 
se efetivar por meio de campanhas que lhe dê visibilidade). Outrossim, torna-se 
incontestavelmente inútil se o poder público (executivo e judiciário), não garantir sua 
efetividade. 
Nos termos do artigo 3º, § 1o , da Lei 11.340/2006, cabe ao poder público 
“desenvolver políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das 
relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. 
Além disso, algumas brasileiras apanham, são estupradas e, não raramente, mortas, 
por causa do medo de denunciar seus agressores. Muitas das vitimas convive por muito tempo 
com as agressões e mesmo assim não tem coragem de denunciá-los, conforme afirma pesquisa 
do DataSenado (2009): 
 
O principal obstáculo na luta contra a violência doméstica é o “medo do agressor”, na 
percepção de 78% das entrevistadas em pergunta de múltipla escolha. O dado é 
revelador porque o medo se sobressai expressivamente em relação às demais razões. 
As outras opções – “vergonha”, “não garantir o próprio sustento” e “punição branda” 
– atingiram percentuais abaixo de 10%. Outros motivos foram citados por 16% das 
mulheres. 
 A análise desses dados demonstra que na luta contra a violência doméstica e 
familiar épreciso, além da conscientização, ultrapassar a fronteira do medo, para que seja 
abolida a impunidade, embora sejam inúmeros os motivos que levam a vitima a se manter 
calada, bem como, muitos outros que impedem a efetividade da punição. Denota-se que os 
agressores mantem-se impunes por muitos anos devido a essa dificuldade de acesso aos casos 
fazendo com que o numero de vitimas de assassinatos cresça todo ano, conforme verifica-se no 
próximo tópico (PACHECO, 2015). 
Inegavelmente há outros fatores preponderantes que cooperam com a ineficácia da 
Lei 11.340/2006. Estes se manifestam na forma como ela é aplicada, bem como na ausência de 
Instituições Públicas competentes compromissadas com a promoção da igualdade por meio de 
soluções dos conflitos familiares-intergêneros. 
Essa afirmação encontra guarida nas declarações de Maria Berenice Dias (2010) 
quando expõe, por exemplo, a insuficiência do número de Delegacias Especializadas para 
dirimir esse tipo de conflito. Ela denuncia a falta de profissionais capacitados no atendimento 
às vítimas, destacando por fim, a necessidade de atores judiciais, policiais, sociais e políticos 
engajados no combate à violência doméstica, de modo que apliquem a lei em toda sua plenitude, 
tratando a violência doméstica como um crime grave e potencialmente letal. 
 
5.2 Estatísticas da Violência Contra a Mulher no Brasil 
 
No Brasil, após quase dez anos desde que a Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006 foi 
sancionada, visando incrementar e destacar o rigor das punições para o crime de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, não é perceptível grandes avanços em relação a sua 
aplicabilidade. 
A partir do Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil, tendo por 
fonte básica o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) da Secretaria e Vigilância em 
Saúde, do Ministério da Saúde, observa-se que o Brasil ocupa uma posição desprivilegiada no 
ranking internacional em relação ao índice de homicídios de mulheres, mostrando-se um dos 
piores ambientes do mundo para a mulher. 
Esse Mapa demonstra que o Brasil, num grupo de 83 países, com dados 
homogêneos, fornecidos pela Organização Mundial da Saúde, ocupa a 5ª posição no ranking 
mundial, apresentando taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, 8 vezes mais homicídios 
feminino do que em Portugal (taxa de 0,6) ocupando a 50º posição e, 48 vezes mais que o Reino 
Unido, na 75ª posição com uma taxa de 0,1. Evidencia-se que os índices locais excedem, em 
muito, os encontrados na maior parte dos países do mundo, efetivamente, só El Salvador, 
Colômbia, Guatemala e a Federação Russa confirmam taxas superiores às suas (MAPA DA 
VIOLÊNCIA, 2015, p. 27). 
Contudo, causa-nos espanto ao verificar que na pesquisa anterior apresentada pelo 
Mapa da Violência de 2012, o Brasil ocupava a 7º posição no ranking mundial e em apenas 3 
anos caiu vergonhosamente para a 5ª colocação, revelando-se um dos países que mais perpetra 
crime em face de suas mulheres. Ressalta-se que a última investigação, coincidentemente, 
ocorreu no mesmo ano em que estava sendo promulgada a Lei 13.104/2015 de março de 2015, 
Lei do feminicídio no país, com o objetivo de revigorar o sistema de proteção às mulheres, 
qualificando o homicídio que ocorre quando uma mulher vem a ser vítima simplesmente por 
razões de sua condição de sexo feminino, como crime hediondo (MELLO, 2015). 
A análise gráfica dos homicídios femininos foi realizada tendo por baliza os anos 
1980 a 2013. Destarte, de acordo com os registros do SIM, entre 1980 e 2013, num ritmo 
crescente ao longo do tempo, tanto em número quanto em taxas, morreu um total de 106.093 
mulheres, vítimas de homicídio. Efetivamente, o número de vítimas passou de 1.353 mulheres 
em 1980, para 4.762 em 2013, um aumento de 252%. A taxa, que em 1980 era de 2,3 vítimas 
por 100 mil, passa para 4,8 em 2013, um aumento de 111,1%. (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015, 
p. 11). 
Ainda, conforme o Mapa da Violência 2015, no período anterior à Lei Maria da 
Penha o crescimento do número de homicídios de mulheres foi de 7,6% ao ano; quando 
ponderado segundo a população feminina, o crescimento das taxas no mesmo período foi de 
2,5% ao ano. Já no período 2006/2013, com a vigência da Lei, o crescimento do número desses 
homicídios cai para 2,6% ao ano e o crescimento das taxas cai para 1,7% ao ano. 
Nesse mesmo sentido, a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada objetivando avaliar a efetividade da Lei Maria da Penha, apontou que a Lei nº 
11.340/2006, contribuiu para a diminuição em cerca de 10% da taxa de homicídios contra 
mulheres praticados dentro das residências das vítimas, o que “implica dizer que a Lei Maria 
da Penha foi responsável por evitar milhares de casos de violência doméstica no país”. (Ipea, 
março/2015). 
A contrario sensu, através do gráfico registrado pelo Mapa da Violência 2015, 
aferi-se que somente em 2007, ano subsequente à promulgação da Lei Maria da Penha, houve 
uma considerável queda no índice de homicídio de mulheres no Brasil, retomando seu 
crescimento desenfreado a partir de 2008, atingindo em 2013 o maior índice de sua história. 
Segundo o DataSenado (2009), as brasileiras continuam sendo mortas diariamente, 
porque o poder público não põe em prática todos os mecanismos de proteção e punição 
previstos na Lei Maria da Penha, haja vista, a pura e simples existência da Lei é incapaz de 
obstar o emprego da violência contra a mulher. Assim, faz-se necessária a atuação efetiva do 
conjunto de Instituições que compõem o Estado, a fim de garantir a aplicabilidade dos 
dispositivos legais, sanando a insegurança que cerca a mulher, por conseguinte o descrédito dos 
Órgãos aplicadores do direito. 
 
5.3. “A cor da Violência” 
Neste contexto, faz-se necessário, apresentar um recorte das taxas de homicídio 
em decorrência da cor da vítima, pois a vitimização da população negra se repete, também 
aqui, no caso dos homicídios de mulheres. 
Dados do Mapa da Violência 2015, comprovam que o número de homicídios de 
mulheres brancas cai de 1.747 vítimas, em 2003, para 1.576, em 2013. Representando, assim, 
queda de 9,8% no total de homicídios do período. Diferentemente, o homicídios de mulheres 
negras aumentam 54,2% no mesmo período, passando de 1.864 para 2.875 vítimas. 
Este processo observa-se de forma idêntica a partir da vigência da Lei Maria da 
Penha: o número de vítimas cai 2,1% entre as mulheres brancas e aumenta 35,0% entre as 
negras. De igual modo caíram as taxas de homicídio de mulheres brancas 11,9%: de 3,6 por 
100 mil brancas, em 2003, para 3,2 em 2013. Em contrapartida, as taxas das mulheres negras 
cresceram 19,5%, passando, nesse mesmo período, de 4,5 para 5,4 por 100 mil. 
Historicamente no Brasil as mulheres negras (e pardas), são mais vulneráveis a 
violência do que as demais. Diversos estudos têm vindo a demonstrar que as mulheres negras 
sofrem violência por parte dos seus companheiros por serem mulheres e por parte do sistema 
por serem negras (ALLARD, p. 1991). 
Em Portugal este cenário de discriminação não é diferente. Apesar de alguns 
avanços, muitas mulheres são marcadas por uma significativa discriminação, com base no 
gênero, mas também na origem e na etnia, inclusive pelo sistema de justiça e dentre estas se 
destacam as negras e as brasileiras. 
Em relação às mulheres negras, segundo Sokoloff e Dupont, apud Duarte (2012), a 
disseminação de estereótipos racistas contribui para uma ideia de que a mulher negra é agressiva 
e violenta, não vai ao encontro da concepção da mulher vítima de violência: passiva, fraca, 
submissa, emotiva, gentil, atemorizada, branca e de classe média, tem impedido estas mulheres 
de receberum tratamento igualitário e atencioso por parte do sistema judicial, em particular 
magistrados (as), agentes policiais e funcionários (as) dos tribunais. 
De igual modo, as mulheres brasileiras, quando se encontram em situação de 
violência sofrem em solo lusitano situações de dupla vitimização: por parte do agressor e por 
parte das instituições. No entanto, por motivos diferentes, por estarem veiculadas a uma das 
nacionalidades predominantes no “mercado do sexo”, passando por um processo de exclusão. 
Daqui resultam dois riscos. Desde logo, o facto de a prostituição das mulheres brasileiras ser, 
esmagadoramente, percebida como uma opção “laboral migratória” pode levar a que passem 
despercebida situações de exploração. (Santos et al., 2010). 
Entendemos assim, que as desigualdades de gênero em diferentes campos e em 
várias escalas permanecem imperando nas mais diversas sociedades, não obstante mudanças 
políticas e legislativas que almejam a igualdade (Silva, 2008). 
 
5.4. Portugal e a Criminalização da Violência Doméstica 
 
Em Portugal a violência familiar é criminalizada desde 1982, com a introdução do 
crime de “maus tratos” no Código Penal, promovendo uma grande conquista para as mulheres, 
haja vista durante milênios esse tipo de violência era tolerado em virtude de estar ausente da 
tutela do Direito e do Estado. “O Direito só reconhecia legitimidade ao Estado para intervir na 
vida familiar quando estavam em causa os direitos patrimoniais inerentes às relações 
familiares” (DUARTE, 2011, p.02) 
Contudo, somente em 2007 foi incorporado nesta norma a designação penal de 
“violência doméstica”, por meio da Lei nº 59/2007, (art. 152º CP). Em revisão ao que já 
dispunha o Código de 1982, este dispositivo eliminou a necessidade de reiteração do ato 
criminoso no tipo penal, alargou as possibilidades de aplicação de penas acessórias no caso de 
crime de violência doméstica. Ademais, além da possibilidade de aplicação da pena acessória 
de proibição de contato com a vítima, incluindo a de afastamento da residência desta, o 
legislador prevê o afastamento do local de trabalho da vítima, a possibilidade de tal pena 
acessória ser controlada com recurso a meios técnicos de controle à distância, a possibilidade 
de aplicação de pena acessória de proibição de uso e porte de armas e de obrigação de frequência 
de programas específicos de prevenção da violência doméstica, aumenta a moldura penal da 
pena acessória, que passa a ser de 6 meses a 5 anos, e prevê a possibilidade de aplicação de uma 
nova pena acessória: a inibição do exercício do poder paternal por um período de um a dez 
anos. (GOMES, 2004). 
Nota-se que após a promulgação da Lei nº 59/2007, o número de queixas na polícia 
aumentou significativamente, em razão do tipo penal ter assumido natureza pública no ano 200, 
consequentemente alargou o número de condenados por violência doméstica, partindo de 71 
condenações em 2000 para 718 em 2009. Isso devido ao processo de conscientização das 
vítimas e dos indivíduos/órgãos que tem o poder dever de dar aplicabilidade a Lei: agentes da 
polícia, membros do Ministério Público e Magistrados. (DUARTE, 2011). 
Por fim, sobreveio em 2009 uma lei específica, apartada do Código Penal 
Português, (três anos após o Brasil), para estabelecer o regime jurídico aplicável à prevenção 
da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas vítimas. A Lei 112/2009, de 16 de 
setembro, que ampliou as possibilidades de aplicação das medidas de coação, nomeadamente 
recorrendo a meios técnicos de controle à distância e introduzindo o caráter de urgência na 
aplicação das medidas. 
Observa-se que, a Lei 112/2009, apresenta um rol de principio jurídicos objetivando 
proteger as vítimas, dentre eles traz em seu artigo 5º o princípio da igualdade, estabelecendo 
que: 
Toda a vítima, independentemente da ascendência, nacionalidade, condição social, 
sexo, etnia, língua, idade, religião, deficiência, convicções políticas ou ideológicas, 
orientação sexual, cultura e nível educacional goza dos direitos fundamentais 
inerentes à dignidade da pessoa humana, sendo-lhe assegurada a igualdade de 
oportunidades para viver sem violência e preservar a sua saúde física e mental. 
 
Destarte, é perceptível que o legislador português ao elaborar a Lei de 
enfrentamento a violência doméstica teve o cuidado de estabelecer expressamente a igualdade 
entre os gêneros no âmbito familiar. Garantindo, assim, maior proteção à mulher, tendo em 
vista que muitas agressões cometidas no âmbito doméstico são decorrentes da imposição do 
poder masculino. (ROCHA, 2009). 
Mesmo com a legislação em vigência, é alarmante o número de homicídios de 
mulheres decorrentes de crimes de violência doméstica em Portugal. De acordo com dados do 
observatório da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), expostos pela então 
secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, ocorrem em 
média 2,4 assassinatos de mulheres por mês. Registra-se o número 32 casos em 2015 e 43 caos 
em 20014. (UMAR, 2016). 
Feministas como Naranch apud Duarte (2011), advogam que os direitos de 
cidadania das mulheres não estão assegurados enquanto na esfera privada estas continuarem a 
ser objeto de violência. 
Seguindo este viés, ainda que as mulheres conquistem a igualdade legal, a 
representação política e os meios econômicos para exercer os seus direitos enquanto cidadãs, a 
integração das mulheres na sociedade será sempre menos completa do que a dos homens, 
enquanto continuarem a ser alvo de violência doméstica. 
 
6. Considerações Finais 
Ao analisar as Constituições de Brasil e Portugal, nota-se que ambos estiveram por 
muito tempo na inércia legislativa no tocante à instituição de normas constitucionais que 
estabelecessem expressamente a igualdade entre homens e mulheres, indistintamente, sem 
nenhum tipo de restrições às mulheres ao exercício do Direito. 
No caso das Constituições Brasileiras, por exemplo, em 1934 a Constituinte trouxe 
em seu texto o registro do princípio da igualdade entre os sexos, apresentando alguns direitos 
às mulheres, sendo ratificado em 1937 e posteriormente em 1946 pelas constituições 
subsequentes, mas foi em 1967 que foi trada a questão dos sexos ao enunciar esse princípio, 
ficando mantida em 1969. Contudo, segundo Gosdal (2008), ainda não era possível notar a 
efetividade dos dispositivos que versavam sobre a igualdade de gênero. 
Somente em 1988, a Norma Superior outorgou às mulheres igualdade em direitos e 
obrigações em relação aos homens. Positivando, ainda, um rol de direitos direcionados pelo 
princípio da isonomia, garantindo-lhes igualdade de oportunidades e direitos aos recursos 
humanos e financeiros, acesso ao trabalho, saúde, lazer e educação, bem como direitos políticos 
e sociais, indiscriminadamente. 
Por sua vez, Portugal além de silenciar sobre o direito à igualdade entre homens e 
mulheres, em quase todas suas Constituições, apresentou reiteradamente a discriminação em 
face da mulher, ao prever em seus textos normas excludentes às portuguesas. Como, por 
exemplo, verifica-se na Lei Fundante de 1933 que ao estabelecer a igualdade formal entre os 
cidadãos, deixa as mulheres exclusas deste processo. 
Somente em 1976, com a promulgação da atual Constituição portuguesa que o 
princípio da igualdade foi exposto como um princípio fundamental, ao ser estabelecida 
expressamente em seu bojo a igualdade entre homens e mulheres em todos os aspectos da vida 
social, conforme dispõe o artigo 13.º, 1, CRP, “todos os cidadãos têm a mesma dignidade social 
e são iguais perante a lei”. Apresentando, também, um rol de direitos direcionados pelo 
princípio da isonomia, comprometendo-sea promover a efetivação dos direitos econômicos, 
sociais, culturais e ambientais. 
Embora, às legislações luso-braileira, na atualidade, disponham positivamente, em 
seus respectivos ordenamentos jurídico, de normas que visam à promoção da igualdade 
intergêneros, não podemos aferi-las em sua plenitude. Isso ocorre porque tanto em Brasil quanto 
em Portugal subsiste uma estrutura fundada em preceitos machistas, resquícios de um 
patriarcado não mais existente ou em seus últimos estertores, conforme aduz Saffioti (2004), o 
qual utiliza de mecanismos de poder para subjulgar às mulheres, como se pode notar nos casos 
de violência doméstica. 
A violência doméstica e familiar nos países supracitados é uma das maiores causas 
de instabilidade nas relações de gênero, tendo por principal vítima a mulher e geralmente o seu 
parceiro figura como agressor. 
Para inibir e punir a violência doméstica, tanto o Brasil quanto Portugal criou 
mecanismos para combatê-la, legislações específicas, a saber: Lei nº 11.340/2006 (BR) e Lei 
112/2009 (PT), criminalizando-a e estabelecendo formas de prevenção e proteção à mulher. 
Contudo, dados do Mapa da Violência no Brasil 2015, sobre homicídios de 
mulheres, demonstram que o Brasil é o 5º país que mais comete homicídios em face de suas 
mulheres, apresentando taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, 8 vezes mais homicídios 
feminino que Portugal, com taxa de 0,6, ocupando a 50º posição num grupo de 83 países, com 
dados homogêneos, fornecidos pela Organização Mundial da Saúde. 
Para o Brasil, esta situação é extremamente preocupante, tendo em vista que a 
pesquisa foi realizada após quase dez anos de vigência da Lei Maria da Penha (Lei nº 
11.340/2006). Nota-se a partir do Mapa da Violência 2015, que ocorrera uma considerável 
queda no índice de homicídio feminino apenas em 2007, após a lei ser sancionada, retomando 
seu crescimento nos anos subsequentes, alcançando em 2013 a maior taxa de homicídios de 
mulheres do país. 
Ademais, o fato do direito estar posto no ordenamento jurídico vigente, 
indiscutivelmente, não é suficiente para obstar os indivíduos à praticar atos criminosos, pois se 
o fosse, não teriam tantas mulheres sendo agredidas e mortas diariamente dentro de seus 
próprios lares. A contrario sensu,se a legislação cumprisse per si sua finalidade, as mulheres 
estariam gozando plenamente da igualdade de oportunidades e de direitos em todos os setores 
da sociedade, conforme dispõe a lei. 
Soma-se a ineficácia da legislação luso-brasileira, a ineficiência de sua 
aplicabilidade. Manifesta na ausência de atuação efetiva do conjunto de Instituições que 
compõem o Estado, no uso dos instrumentos político-legal, pois, até então, não garantem 
substancialmente a igualdade de gênero entre homens e mulheres. 
 
7. Referência 
ALVES, Cláudia. Violência doméstica, Coimbra, 2005. Disponível em: 
http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2004010.pdf. acessado em 26 de janeiro de 2016. 
 
ALMEIDA, J.G. (2012). A violência doméstica contra a mulher e as consequências da não 
efetividade da Lei Maria da Penha nos Municípios de Itabuna e Ilhéus. Trabalho de Conclusão 
de Curso de Graduação não publicado, Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, 
Brasil. 
 
ALLARD, Sharon A. “Rethinking battered woman syndrome: A black feminist perspective”, 
in UCLA Women’s Law Journal, 1991. 
 
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. 
 
BERNARDI, Maria Graziele. Legislação na área de defesa da mulher contra a violência 
Doméstica. Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, ISSN 2177-8248. 
Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014. Disponível em: 
http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/GT3_Maria%20Graziele%20Bernardi_trabalh
o.pdf. Acesso em: 24 de janeiro de 2016. 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 
Senado, 1988. 
 
BRASIL, LEI 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 07/08/2006. Disponível 
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 20 
de janeiro de 2015. 
BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição federal anotada. 8. ed. rev. atual. até EC 56/2007. São 
Paulo: Saraiva, 2008. 
 
CABRAL, K. M. (2008). Manual de Direitos da Mulher. São Paulo: Mundi. 
 
CANOTILHO. J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3. ed. Coimbra: 
Almedina, 1998. 
 
CALASANS JÚNIOR, Geraldo. DS75, Diké – Revista Jurídica da Universidade Estadual de 
Santa Cruz, Departamento de Ciências Jurídicas. Ilheús: Uesc, (XI Publicação Anual), 2009. 
 
CHIAVASSA, R. (2004), Mulheres: as desigualdades persistem, p.39-54; Práticas de 
Cidadania, PINSKY, J. (Coord.). São Paulo: Contexto, 2004. 
 
CITE, Relatório sobre o Progresso da Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens 
no Trabalho no Emprego e na Formação Profissional 2011. Lisboa. 2012. Disponível em: 
http://www.cite.gov.pt/pt/acite/relatproig.html 
 
CIG, Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género. Presidência do Conselho de 
Ministros: Igualdade de Gênero em Portugal, 2012. Lisboa, 2013. Disponível em: 
http://www.igfse.pt/upload/docs/2014/IgualdadedeGenero2012.pdf 
 
DATASENADO: Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Secretaria de 
Transparência – Senado Federal, 2013. Disponível em: 
http://www.senado.gov.br/senado/datasenado/pdf/datasenado/DataSenado-Pesquisa-
Violencia_Domestica_contra_a_Mulher_2013.pdf. Acesso em: 25 de janeiro de 2016. 
 
DIAS, Maria Berenice. A efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e 
familiar contra a mulher, A Lei Maria da Penha na Justiça - 2ª Edição. 2010. 
Duarte, Madalena; Oliveira, Ana: Mulheres nas margens: a violência doméstica e as mulheres 
imigrantes Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXIII, 
2012, pág. 223-237. 
 
DUARTE, Madalena. VIOLÊNCIA doméstica e sua criminalização em Portugal: obstáculos à 
aplicação da lei. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito Programa de Pós-Graduação em 
Ciências Criminais Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, 2011. 
 
GOMES, Catarina Sá. O crime de maus tratos físicos e psíquicos infligidos ao cônjuge ou ao 
convivente em condições análogas às dos conjugues. Lisboa: AAFDL, 2004. 
 
GOSDAL, Thereza Cristina. Discriminação da mulher no emprego: relações de gênero no 
direito do trabalho. Curitiba: Genesis, 2003 
 
GUNTHER, Luiz Eduardo; GUNTHE, Noeli Gonçalves da Silva. A igualdade de direitos 
entre homens e mulheres nas relações de trabalho; IN: Rev. TRT - 9ª R. Curitiba a. 35, n.65, 
Jul./ Dez. 2010. 
Ipea, março/2015. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/ipea-divulga-
pesquisa-sobre-a-efetividade-da-lei-maria-da-penha-spm-04032015/ Acesso em: 27 de janeiro 
de 2016. 
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Coimbra: Arménio Amado, 1979. 
 
KRIEGER, C. K. (2010), Discriminação da mulher no trabalho: p. 480-498; Direitos 
Humanos, PIOVESAN, F. (Coord.), Curitiba: Juruá, 2010. 
 
SCHMITT, Carl. Teoría de La Constitución. Presentación de Francisco Ayala. Primera 
edición em “Alianza Universidad Textos” 1982. Cuarta reimpresión em “Alianza Universidad 
Textos”. Madrid. España. 2003. 
 
LASSALE, Ferdinand. O que é uma Constituição?. Tradução de Hiltomar Martins Oliveira. 
Belo Horizonte: Líder, 2002. 
 
Machado, Carla e Gonçalves, Rui Abrunhosa (2003), Violência e Vítimas de Crimes. 
Coimbra: Quarteto. 
Mapa da violência 2015 Disponível em : 
file:///C:/Users/computador/Downloads/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf; acesso em: 27 
de janeiro de 2016. 
 
MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais.São Paulo: Atlas, 2008. p. 79. 
 
MELLO, Adriana Ramos de. Feminicídio: Breves comentários à Lei 13.104/15. Disponível 
em: http://jota.info/feminicidio-breves-comentarios-a-lei-13-10415. Acesso em: 27 de janeiro 
de 2016. 
 
MENDES, Marcelo Barroso. A Constituição Dirigente e a Constituição de 1988. Disponivel 
em: http://pt.slideshare.net/editorajuspodivm/curso-de-direito-constitucional-2014-8a-ed-
rev-amp-e-atualizada. Acesso em: 27 de janeiro de 2016. 
 
MIRANDA, Pontes de. Democracia, liberdade, igualdade: os três caminhos. 2. ed. São Paulo: 
Saraiva, 1979. p. 485 e 486. 4 MIRANDA, Pontes de. Op. cit., p. 486. 
 
MONCAL, G. (2012). Hora de repensar o paradigma. Revista Caros Amigos, A Era da 
Mulher: Conquistas e Desafios, São Paulo: ano XV, Editora Casa Amarela Ltda. 10. 
 
PACHECO, Indiara Leiliane Cavalcante. A (in)eficácia das medidas protetivas de urgência 
Lei Maria da Penha. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 13 maio 2015. Disponivel em: 
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.53427&seo=1>. Acesso em: 25 jan. 
2016. 
 
PAIS, Elza (1998), Homicídio Conjugal em Portugal: Rupturas Violentas da Conjugalidade. 
Lisboa: Hugin. 
 
PIOVESAN, F., Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2009. 
PNAD_BRASIL_2009.pdf: Disponível em: 
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/pnad_bras
il_2009.pdf. Acesso em: 27 de janeiro de 2016. 
 
PORTUGAL, Constituição da República Portuguesa, de 2 de Abril de 1976. Disponível em: 
http://www.constitution.org/cons/portugal/constit_1997.htm. Acesso em: 23 de janeiro de 
2016 
 
PORTUGAL, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 23 de 
janeiro de 2016. 
 
PORTUGAL, Sílvia (2003), “De que falamos quando falamos de violência doméstica?”, in 
Lígia Fonseca, Catarina Soares, Júlio Vaz, A Sexologia – perspectiva multidisciplinar II. 
Coimbra: Quarteto editora, 199-214. 
 
Rev. TRT - 9ª R. Curitiba a. 35, n.65, Jul./ Dez. 2010 
 
SANTOS, Boaventura de Sousa; GOMES, Conceição; RIBEIRO, Tiago; SOARES, Carla. A 
indemnização da vida e do corpo na lei e nas decisões judiciais. Coimbra: CES, 2010. 
 
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado, violência. 1ºed. São Paulo: Fundação Perseu 
Abramo, 2004. 
 
SIlVA, Alberta & AZEVEDO, Liliana. “Mulheres Imigrantes e Violência Doméstica”, in 
SOS Racismo, Imigração e etnicidade: Vivências e trajectórias de mulheres em Portugal, 
Lisboa, SOS Racismo, 2005. 
 
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 15ª ed. - Malheiros editores 
Ltda. - São Paulo – SP, 2008. 
 
TOLEDO, Martinez, Simone Duran. Violência Institucional: Violação dos Direitos Humanos 
da Mulher. 1 Palestra realizada no II Fórum de Violência contra a mulher/Presidente 
Prudente‐21/11/2008. 
 
UMAR, 2016; Disponível em: 
http://www.umarfeminismos.org/?option=com_content&view=article&id=272&Itemid=26. 
acesso em: 27 de janeiro de 2016.

Continue navegando