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Direito Eletrônico Prof. MSc Marcos Vinicius Monteiro de Oliveira A Sociedade Digital - O avanço tecnológico na comunicação sempre perseguiu o objetivo de criar uma Aldeia Global, permitindo que todas as pessoas do mundo pudessem ter acesso a um fato de modo simultâneo (visão difusa/ transindividual). - Este é o princípio que orienta a criação de redes mundiais de telejornalismo – ex: CNN, além de toda uma rede Broadcast Digital para transmissões ao vivo e em tempo real, de qualquer lugar do mundo. - O mundo financeiro persegue essa mesma facilidade de comunicação, investindo grandes somas na modernização dos equipamentos para permitir a criação de uma comunidade financeira mais dinâmica. - Os chamados programas de home-brokers já são uma realidade. Seguindo a necessidade de corte de gastos e controles maiores sobre as filiais, as empresas passam a investir em redes de comunicação interna, conectando todas as suas operações mundiais. Nesse estágio, os executivos experimentam plenamente as facilidades da comunicação rápida, economizando papel, pulsos telefônicos, viagens e tempo. - Este contato no trabalho passa a provocar uma necessidade de expandir tais benefícios para os lares. Assim começa o movimento para instalar um computador em cada casa. - A convergência sai da esteira econômico-corporativa e passa a levar a tecnologia para dentro dos lares, interligando uma rede de consumidores ávidos por informação, serviços e produtos. - Essa convergência total possibilita novas economias para as empresas, principalmente de custos operacionais, logística, vendas e distribuição, além de instituir um canal de venda personalizada, com maior eficiência para aplicação do princípio de estoque zero. - Os mercados financeiros, como grandes precursores dessa era de convergência, foram os primeiros a sentir na pele as dificuldades desse universo. Se, por um lado, é muito bom estar conectado, por outro o comportamento irracional de mercado afeta a todos, onde quer que estejam, de maneira nunca experimentada. - A aludida complexidade é agravada pelo fator tempo, pela velocidade crescente com que os efeitos dessa rede de relações são sentidos em toda a parte. Ex: desde o início da Era Mercantilista, os efeitos de uma crise local podiam ser sentidos em todo o mundo. Uma crise entre ingleses e chineses causada pelo comércio do chá no século XIX acarretava consequências na economia de todo o mundo, mas os efeitos dessa crise demoravam meses para chegar em todas as partes do Planeta. Hoje, com a velocidade de transmissão de informações, tais efeitos são imediatos tanto em Londres como em São Paulo, no Cairo como em Sydney. - Esse exemplo macroeconômico serve como alerta sobre a complexidade que enfrentamos em todos os setores da sociedade. A questão fica mais clara se refletirmos sobre um dos aspectos centrais da sociedade convergente: a interatividade, ou seja, a possibilidade de participação humana em um nível de inter-relação global. - Vários avanços técnicos permitem que mais e mais pessoas atuem num mundo interativo: o movimento do software livre, da internet grátis, do MP3, entre outros. - A interatividade exige que as empresas virtuais estejam preparadas para atender seus consumidores a qualquer tempo e em qualquer lugar. Ex: no mundo virtual e interativo, uma empresa sediada em Little Rock, Arkansas, vive com a possibilidade – e o risco – de interagir rapidamente com um consumidor de Mondoza, Argentina, numa realidade impensável há pouquíssimo tempo. Uma pessoa no interior de Goiás pode comprar e vender ações de uma empresa sediada na China com capital aberto na Bolsa de Nova York, EUA. - Ter uma janela aberta para o mundo exige muito mais que apenas a seleção do público-alvo. Exige a criação de uma logística jurídica que reflita a diversidade cultural dos consumidores/clientes virtuais. - No aspecto do atendimento ao consumidor, parte das empresas inseridas na rede recorre à terceirização, contratando contact-centers (centrais de atendimento destinadas aos consumidores) especializados para atender a demandas de usuários de diferentes culturas e países. No aspecto jurídico, é preciso que os profissionais do Direito também estejam preparados para criar essa logística, sabendo que a todo momento terão de lidar com diferentes normas, culturas e legislações. - A internet hoje tem mais de 800 mil websites e são criadas mais de mil homepages por dia. Estamos falando não apenas de uma comunidade virtual, mas de várias comunidades virtuais que se aglomeram em torno de objetivos comuns, várias tribos com participantes de vários pontos do Planeta, de diversas culturas, sujeitos cada um a princípios de valor e normas distintas. - A globalização da economia e da sociedade exige a globalização do pensamento jurídico, de modo a encontrar mecanismos de aplicação de normas que possam extrapolar os princípios da territorialidade, principalmente no tocante ao Direito Penal e ao Direito Comercial. - Essa tendência de globalização do próprio Direito não é nova. O Direito Internacional Privado de algum modo já vem, por meio de Convenções e Tratados Internacionais, tentando estabelecer critérios mais uniformes de análise jurídica entre os vários Estados nacionais. - Para o Direito Digital, porém, a questão vai além: devem ser criados novos princípios de relacionamento, ou seja, diretrizes gerais sobre alguns requisitos básicos que deveriam ser atendidos por todos os usuários da rede. A resolução dessas questões já possibilitaria segurança maior nas relações virtuais. O que é diferente de se criarem normas específicas cuja aplicação e eficácia ficariam muito limitadas no tempo e no espaço. - Outra consequência da sociedade convergente é o aumento da distância entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, em razão do que se chama de analfabetismo digital – um problema político-social consistente em ter uma massa de trabalhadores não preparada para o uso das novas tecnologias. - A preocupação não é apenas educacional: afeta a capacidade de aproveitamento de mão de obra, até mesmo de nível superior. O fenômeno de marginalização social se dá pela incapacidade dos indivíduos de conhecer e dominar as novas tecnologias – não basta saber escrever, é preciso saber enviar um e-mail. Ao mesmo tempo que a Era Digital abre maiores possibilidades de inclusão, a exclusão torna-se mais cruel. - Aqueles que não tiverem existência virtual dificilmente sobreviverão também no mundo real, e esse talvez seja um dos aspectos mais aterradores dos novos tempos. - Globalmente, a presença da tecnologia passa a ser um novo fator de análise de subdesenvolvimento, ao mesmo tempo que equipara países que ainda não resolveram problemas primários – Ex: saneamento básico e saúde, a outros em que essas questões já estão satisfatoriamente resolvidas. - Por sermos todos visíveis, acessíveis, acabamos por concorrer pelas mesmas oportunidades de trabalho, negócios, produtos e ativos. Esse compartilhamento de território e entrada de novas peças no jogo mundial vai muito além, do ponto de vista jurídico, de operações de fusão e aquisição, alianças estratégicas, contratos de interconexão, entre outros. Significa uma rediscussão do conceito de soberania. - Atualmente, a maior parte dos websites da Internet está localizada nos Estados Unidos. Porém, quem paga a maior parte da conta pelo uso dos backbones são os outros países, e o Brasil é um dos que vivem mais intensamente o problema. Isso porque, apesar de nossa febre pelo ciberespaço, a AméricaLatina sofre a carência de “peering points” e vários de seus provedores ainda não fizeram a interconexão de suas redes. - A autoestrada da informação está para a economia digital assim como a energia elétrica e as estradas estavam para a economia industrial. A disputa por seu controle já está sendo travada. Informação é poder, como foi um dia a propriedade da terra. - Seguindo esta linha de raciocínio, quem estaria autorizado a colocar pedágios nessa autoestrada de informação? Quem deveria ser responsável por sua segurança e conservação? - Se entendermos que a Internet é um lugar, então muitas questões do Direito devem ser redesenhadas, uma vez que o território ou jurisdição deveria ser a própria Internet. Se entendermos que a Internet é um meio, então voltamos a ter de resolver a questão da territorialidade para aplicação da norma, já havendo como referência a atuação do Direito Internacional. - Se a Internet é um meio, como é o rádio, a televisão, o fax, o telefone, então não há que se falar em Direito Digital cujo grande desafio é estar preparado para o desconhecido, seja aplicando antigas ou novas normas, mas com a capacidade de interpretar a realidade social e adequar a solução ao caso concreto na mesma velocidade das mudanças da sociedade.
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