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PROCESSUAL PENAL DESMEMBRADO - AULA 01/11

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Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Direito Processual Penal – Teoria e Exercícios Comentados 
 
Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 
1 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Direito Processual Penal – Teoria e Exercícios Comentados 
 
 
 
 
 
Olá amigos, 
 
Bom dia! 
Boa tarde! E 
Boa noite! 
 
Nosso objetivo de hoje: 
 
Aula 1: 
Aula 01: Continuação: 2 Inquérito policial: grau de cognição, 
valor probatório, indiciamento e garantias do investigado. 
2.2 Atribuições da polícia federal na persecução criminal: Lei 
nº 10.446/2002; 
1 Direto processual penal. 
1.1 Princípios gerais, conceito, finalidade, características. 
1.2 Fontes. 
1.3 Lei processual penal: fontes, eficácia, interpretação, 
analogia, imunidades. 
1.4 Sistemas de processo penal. 
 
 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Direito Processual Penal – Teoria e Exercícios Comentados 
 
Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 
2 
Inquérito Policial ...continuação 
 
Grau de cognição 
 
Entende-se por grau de cognição o nível de conhecimento que 
determinado instrumento proporciona. Ou seja, a profundidade que, 
no caso, o inquérito policial é capaz de gerar para fins de convicção 
do julgador para a admissão ou não admissão da ação penal, ou até 
mesmo para a decretação de medida cautelar submetida à cláusula 
de reserva jurisdicional. 
Nesse aspecto se percebe que o grau de cognição do inquérito 
policial é limitado, pois se restringe à criação da denominada justa 
causa, que implica num lastro probatório mínimo composto pelos 
indícios de autoria e a prova da existência do crime. 
Trata-se assim, não de um juízo de certeza, mas de um juízo 
de verossimilhança (investigação sumária). 
Nesse contexto aponta Aury Lopes Júnior: interessa-nos a 
investigação sumária, mais adequada aos fins da fase pré-processual 
e aos postulados do moderno processo penal. ... significa que a 
investigação preliminar está limitada à atividade mínima de 
comprovação e averiguação da materialidade e da autoria, necessária 
para justificar o exercício ou não exercício da ação penal, isto é, para 
decidir sobre o processo e o não-processo.1 
Conforme grande parte da doutrina afirma, o inquérito policial 
tem conteúdo meramente informativo, pois apenas fornece 
elementos necessários para a caracterização da justa causa da 
eventual e futura ação penal. 
Nesse diapasão é a posição da 6ª turma do STJ: 
 
1 Lopes Jr., Aury. Direito Processual Penal e sua conformidade constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, vol. I, p. 
236/237. 
 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Direito Processual Penal – Teoria e Exercícios Comentados 
 
Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 
3 
CONDENAÇÃO. PROVA. INQUÉRITO. 
O acórdão condenatório proferido pelo TJ lastreou-se apenas 
em provas colhidas no inquérito. Porém a função do inquérito, 
como se sabe, é de fornecer elementos tendentes à abertura 
da ação penal (vide Exposição de Motivos do CPP, arts. 12 e 
155, desse mesmo código, este último na redação que lhe deu 
a Lei n. 11.690/2008), pois, conforme vetusta doutrina, a 
prova, para que tenha valor, deve ser feita perante o juiz 
competente, mediante as garantias de direito conferidas 
aos indiciados e de acordo com as prescrições 
estabelecidas em lei. Assim, o inquérito toma feitios de 
instrução provisória, cabendo à acusação fazer a prova 
no curso da instrução criminal ou formação da culpa, 
atenta ao contraditório: é trabalho da acusação 
transformar os elementos do inquérito em elementos de 
convicção do juiz. Dessarte, a condenação deve fundar-se, 
sobretudo, nos elementos de convicção da fase judicial, o 
que não ocorreu na hipótese. Precedentes citados: HC 
112.577-MG, DJe 3/8/2009; HC 24.950-MG, DJe 4/8/2008, e 
HC 56.176-SP, DJ 18/12/2006. HC 148.140-RS, Rel. Min. 
Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), 
julgado em 7/4/2011.2 Grifos acrescidos 
 
Desse modo, o inquérito policial tem valor probatório relativo, 
pois nessa fase, inquisitiva, os elementos de informação não são 
colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na 
presença do Juiz de Direito, o que por si só afasta a condicionante 
para se transformar um elemento de informação em prova. 
Nesse sentido é a lição de Afrânio Silva Jardim: 
A prova carreada para o inquérito não tem por finalidade 
o convencimento do juiz, mas apenas dar lastro probatório à 
eventual ação penal, tendo em vista que a simples instauração 
do processo, pelo “strepitus fori”, causa dano social irreparável 
ao réu. Por isso o inquérito policial é um procedimento 
administrativo-investigatório absolutamente sumário, voltado 
exclusivamente para a viabilização da ação penal, infelizmente, 
na prática, por motivos vários que aqui não cabe examinar, o 
inquérito foi transformado numa longa e morosa investigação, 
em que se procura apurar os mínimos detalhes da infração 
penal, colhendo-se provas sobre fatos já demonstrados e que 
 
2 Informativo 468 do STJ. 
 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Direito Processual Penal – Teoria e Exercícios Comentados 
 
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4 
deveriam ser produzidas exclusivamente em juízo, evitando-se 
a lenta e monótona reprodução de atos.3 
 
Valor Probatório 
 
 A princípio deve-se reafirmar que, tecnicamente, só há prova 
quando houver contraditório e ampla defesa, esse é o pilar do 
garantismo penal conhecido como contraditório e defesa, idealizado 
por Luigi Ferrajoli. 
Como vimos, prevalece o entendimento de que no inquérito não 
é necessário assegurar contraditório e ampla defesa, pois o mesmo é 
um procedimento administrativo e não um processo, além de ter 
como característica a inquisitividade. 
Nesse contexto, o inquérito policial, se for valorado, o deve ser 
de maneira comedida, à luz da nova dicção do art. 155 do CPP, que 
acabou por viabilizar a excepcionalidade da utilização dos elementos 
colhidos na investigação como provas. 
Vejamos a redação do dispositivo com a redação dada pela lei 
nº 11.690/08: "o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da 
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar 
sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na 
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e 
antecipadas". 
Sobre o dispositivo comentamos: 
“Assim, extrai-se que o Juiz deverá amparar-se em prova 
produzida em contraditório judicial, permitindo-se, no entanto, que 
essa prova seja complementada pelos elementos de informação 
produzidos no inquérito policial. Assim, a prova que embasará uma 
condenação não poderá ser exclusivamente aquela produzida no 
 
3 JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal; Estudos e Pareceres. 8' ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 45. 
 
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5 
inquérito. Ocorre que, em um interpretação literal do dispositivo, 
seria possível afirma que, excepcionalmente, o juiz poderá condenar 
com base em “prova”4 produzida exclusivamente no inquérito policial. 
Embora arriscada a conclusão, a mesma é possível no contexto das 
denominadas provas irrepetíveis, cautelares e antecipadas na dicção 
do artigo supramencionado. 
Entende-se por prova irrepetível aquela que não pode ser 
novamente produzida em momento posterior, haja vista a 
probabilidade de perecimento, destruição ou desaparecimento. Ex.: 
Perícia no crime de lesões corporais. 
Prova cautelar, segundo Renato Brasileiro de Lima, é aquela em 
que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do 
decurso do tempo, em relação à qual o contraditório será diferido. 
Ex.: Interceptação telefônica. 
Já a prova antecipada é produzida judicialmente sob o crivo do 
contraditório e da ampla defesa, mas antes da instrução criminal5. 
Ex.: Art. 225 do CPP.”6 
Ainda tem relação com o ponto o tema: Vícios no Inquérito 
Policial. 
 Indaga-se: “Os vícios no Inquérito Policial podem provocar a 
nulidade de um processo criminal?! Responde-se: NÃO! Não macula a 
ação penal. A Ação Penal é autônoma. 
Deve-se ter atenção, pois o termo nulidade é afeto ao processo, 
caracterizando-se, dentre outras discussões, como sanção processual 
aplicável ao ato processual que desrespeita a forma exigível. Como o 
 
4 Chamada de prova inquisitorial segundo Denilson Feitoza, mas que ao nosso entender, seria melhor denominda de prova 
inquisitiva, diante da observação exposta por nós no início do presente trabalho inspirada nas características do processo penal 
elaboradas pelo professor Rogério Lauria Tucci em sua Teoria do Direito Processual Penal. 
5 Fase do processo destinada ao convencimento do juiz a respeito do caso penal. 
6 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição. Rio de Janeiro: Grupo 
Gen: Forense, 2013, p. 264. 
 
 
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Direito Processual Penal – Teoria e Exercícios Comentados 
 
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6 
inquérito é procedimento e não processo, não há que se falar em 
nulidades nesse contexto. 
 Para o Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça 
os vícios do Inquérito Policial não contaminam o processo, uma vez 
que o IP é dispensável. Entretanto, irregularidades podem ocorrer na 
fase investigatória e, diante de tal desrespeito, o caso concreto irá 
indicar sobre a possibilidade de sanar ou ignorar o vício apresentado 
durante e no contexto dessa fase. 
 Quanto ao reflexo da irregularidade do inquérito na futura ação 
penal com ele instruída, deve-se atentar para os chamados 
elementos migratórios. Assim, se um vício vincular um elemento 
migratório e o juiz se valer dele para sentenciar, o processo, agora 
sim, será nulo. 
 Pode-se entender por elementos migratórios, por exemplo: as 
provas irrepetíveis que são produzidas na fase do IP. Tal conclusão é 
decorrência da nova redação do art. 155 do CPP. 
 Demonstrando a cautela que se deve ter ao tratar o presente 
tema, verifica-se decisão do STJ sobre a operação Satiagraha, 
vejamos: 
“DECISÃO 
Participação da Abin tornou ilegais investigações da 
Operação Satiagraha 
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 
considerou ilegais as investigações da Operação 
Satiagraha e anulou a ação penal em que o banqueiro 
Daniel Valente Dantas, do grupo Opportunity, havia sido 
condenado por corrupção ativa. Por três votos a dois, os 
ministros decidiram nesta terça-feira (7) que a operação da 
Polícia Federal foi ilegal em razão da participação de 
funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) 
e que, por isso, as provas reunidas na investigação não podem 
ser usadas em processos judiciais. 
“Se a prova é natimorta, passemos desde logo o 
atestado de óbito, para que ela não seja usada contra 
nenhum cidadão”, disse o presidente da Quinta Turma, 
ministro Jorge Mussi, ao dar o voto que desempatou o 
 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
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julgamento, dando vitória à tese sustentada pelo relator do 
caso, o desembargador convocado Adilson Vieira Macabu. 
Antes dele, a ministra Laurita Vaz, que havia pedido vista do 
processo na sessão de 5 de maio, votou contra a concessão do 
habeas corpus pedido pela defesa de Daniel Dantas e deixou a 
situação empatada em dois a dois. 
A defesa do banqueiro entrou com habeas corpus no STJ 
alegando que os agentes da Abin, contrariando a lei, 
participaram das investigações ao atuar em procedimentos de 
monitoramento telefônico, monitoramento telemático e ação 
controlada. Parecer do Ministério Público Federal opinou 
pela nulidade de toda a investigação. 
A Operação Satiagraha, desencadeada em 2004, tinha o 
objetivo de apurar casos de corrupção, desvio de verbas 
públicas e crimes financeiros, mas apenas dois processos 
foram concluídos na Justiça Federal: um condenou Daniel 
Dantas por corrupção ativa; o outro condenou o delegado 
condutor do inquérito, Protógenes Queiroz (hoje deputado 
federal), e um escrivão por fraude processual e quebra de 
sigilo profissional. 
 
Voto vencido 
A ministra Laurita Vaz votou contra o habeas corpus por 
entender que a condenação de Daniel Dantas na 6ª Vara 
Criminal Federal de São Paulo (por ter, supostamente, 
oferecido suborno a um delegado federal) não se apoiou em 
provas cuja produção tivesse contado com a participação de 
agentes da Abin. “Eventuais irregularidades dessa ordem 
em procedimentos inquisitoriais outros não teriam o 
condão de contaminar a prova colhida para instrução da 
ação penal que apurou o crime de corrupção”, afirmou a 
ministra. 
“Mesmo que se admita que houve a participação de 
agentes da Abin nos referidos procedimentos 
investigatórios, tal participação não estaria bem 
delineada”, acrescentou Laurita Vaz. Assim, segundo ela, 
qualquer conclusão sobre nulidade das provas derivadas 
da investigação dependeria de uma análise detalhada 
sobre o envolvimento dos agentes – análise esta 
impossível de ser feita no julgamento de habeas corpus, 
que exige prova constituída previamente. 
“Em relação à apuração do crime de corrupção, o juiz federal 
processante foi categórico ao afirmar que não há nos autos da 
ação penal elementos de prova aptos a demonstrar a 
participação de agentes da Abin nas diligências consideradas 
na persecução penal em questão”, disse a ministra. 
 
Posição da maioria 
 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
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Para o ministro Jorge Mussi, porém, o envolvimento da Abin 
ficou demonstrado em documento no qual a Polícia Federal 
determinou a apuração interna de irregularidades na operação. 
Segundo o documento lido pelo ministro, há vários 
elementos indicando a atuação de servidores da Abin, 
“sem autorização judicial e sem nenhuma formalidade”. 
Eles teriam acessado informações sigilosas, fotografado, 
filmado, gravado e analisado documentos reservados, 
além de ouvir interceptações telefônicas e produzir 
relatórios. 
Jorge Mussi citou a sentença do juiz da 7ª Vara Criminal 
Federal, que condenou o delegado e o escrivão, para dizer que 
o esquema de investigação informal montado na 
Satiagraha “representa um modelo de apuração próprio 
de polícia secreta, à margem das mais comezinhas 
regras do Estado Democrático de Direito”. 
Na opinião do presidente da Quinta Turma, toda a operação 
mostrou “uma volúpia desenfreada de se construir um 
arremedo de prova, que acaba por ferir de morte a 
Constituição”. Ele disse que “é preciso dar um basta 
nisso, antes que seja tarde”. 
“Se me perguntassem se a Abin poderia atuar em 
investigação, compartilhando informações, com 
autorização judicial para isso, eu diria que sim.Sem 
autorização judicial, também, desde que requisitada. O 
que não pode é fazer como foi feito, na clandestinidade”, 
afirmou o ministro. Ele lembrou que o Supremo Tribunal 
Federal já consagrou a chamada Teoria dos Frutos da 
Árvore Envenenada, segundo a qual uma prova ilícita 
contamina de ilegalidade todas as outras decorrentes dela. 
 
O julgamento 
No voto que iniciou o julgamento, em 1º de março, o 
desembargador convocado Adilson Macabu foi favorável à 
concessão do habeas corpus. Ele considerou que a ação penal 
contra o dono do Opportunity deveria ser anulada, pois se 
baseou em provas obtidas com a participação ilegal de mais de 
70 agentes da Abin, além de um ex-funcionário do extinto 
Serviço Nacional de Informações (SNI) contratado em regime 
particular. 
Segundo o relator, o inquérito da Operação Satiagraha contém 
vícios que “contaminam” todo o processo e caracterizam abuso 
de poder, contrariando os princípios da legalidade, 
imparcialidade e do devido processo legal. O ministro Napoleão 
Nunes Maia Filho deu seu voto antecipadamente na sessão de 
1º de março, acompanhando o relator. 
A divergência foi aberta em 5 de maio, quando o ministro 
Gilson Dipp votou contra o pedido da defesa de Daniel Dantas. 
 
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De acordo com o ministro, a competência da Abin – assessorar 
a Presidência da República em assuntos relacionados à 
segurança e a outros altos interesses da sociedade e do Estado 
– não exclui a possibilidade de sua participação em atividades 
compartilhadas com a polícia. 
Segundo Dipp, não haveria ilegalidade na cessão de recursos 
humanos e técnicos da Abin para atuação em conjunto com a 
Polícia Federal em investigação relacionada aos seus propósitos 
institucionais, desde que a coordenação ficasse a cargo da 
autoridade policial responsável pelo inquérito. A ilicitude da 
participação da Abin só se evidenciaria na falta dessa 
coordenação, mas, para avaliar isso, segundo o ministro, seria 
necessário um reexame profundo e detalhado de todos os 
fatos, o que não é possível em análise de habeas corpus. 
Disponível em: 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.ar
ea=398&tmp.texto=102135 
 
Aparentemente abordando o conhecimento relacionado à 
referida decisão encontra-se questão da magistratura federal 
realizada pela Cespe em 2011, vejamos: 
 
“Prova: CESPE – 2011- TRF1 – JUIZ FEDERAL 
Em relação ao inquérito policial, assinale a opção correta 
com base no direito processual penal. 
 
a) Na atual sistemática processual penal, resta vedada 
instauração de inquérito policial em relação aos crimes de 
menor potencial ofensivo, em qualquer hipótese, em face do 
preceito legal expresso que determina a lavratura de termo 
circunstanciado, pelo qual não se admite submissão do autor 
do fato ao constrangimento do procedimento inquisitivo, como, 
por exemplo, à condução coercitiva e à identificação criminal. 
 
b) Os vícios ocorridos no curso do inquérito policial, em 
regra, não repercutem na futura ação penal, ensejando, 
apenas, a nulidade da peça informativa, salvo quando 
houver violações de garantias constitucionais e legais 
expressas e nos casos em que o órgão ministerial, na 
formação da opinio delicti, não consiga afastar os 
elementos informativos maculados para persecução 
 
Aula 1 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
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penal em juízo, ocorrendo, desse modo, a extensão da 
nulidade à eventual ação penal. 
 
c) Ordenado o arquivamento de inquérito policial instaurado 
antes da constituição definitiva do crédito tributário, de modo a 
atender a força impositiva de verbete sumular vinculante, resta 
vedado, em qualquer hipótese, o seu desarquivamento, mesmo 
sobrevindo constituição do crédito tributário, após o 
encerramento do procedimento administrativo/fiscal, porque o 
fundamento da decisão judicial é a atipicidade do fato, cuja 
eficácia preclusiva é de coisa julgada material. 
 
d) Considere a seguinte situação hipotética. 
O MP, ao oferecer denúncia, não se manifestou, de forma 
expressa, em relação a alguns fatos e a determinados agentes 
investigados, cujos elementos estão evidenciados no bojo do 
inquérito policial. 
Nessa situação hipotética, restam assentes doutrina e 
jurisprudência pátria acerca da ocorrência do pedido de 
arquivamento implícito ou arquivamento indireto, por parte do 
órgão de acusação, exigindo-se, contudo, para os devidos 
efeitos legais, decisão judicial expressa de arquivamento. 
 
e) O atual entendimento consolidado na jurisprudência dos 
tribunais superiores prevê a possibilidade de retratação do 
pedido de arquivamento de inquérito policial, 
independentemente do surgimento de provas novas, desde que 
não tenha ocorrido ainda o pronunciamento judicial, visto que 
prevalece o interesse público da persecução penal. “ 
 
 O gabarito oficial da questão informou como correta a opção B, 
colocando em dúvida a afirmação doutrinária clássica de que não 
existem nulidades no Inquérito Policial (mormente pelo final da 
afirmação) e de que eventuais vícios no procedimento investigativo 
não teriam o condão de anular a ação penal. Assim, o que se viabiliza 
é o raciocínio a respeito da teoria dos frutos da árvore envenenda 
bem como de suas eventuais mitigações, principalmente as 
 
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decorrentes das teorias da fonte independente, da descoberta 
inevitável e da contaminação expurgada.”7 
 
Indiciamento. 
 
O indiciamento é o ato pelo qual a autoridade policial reúne um 
conjunto de elementos de informação em relação à um ou mais 
suspeitos, de modo a demonstrar a plausibilidade da autoria apurada 
no procedimento investigativo. Trata-se, o indiciamento, de um ato 
do delegado de policia, e, em que pese desnecessário, tem aptidão 
para produzir constrangimento natural na vida do mesmo, haja vista 
a inclusão da informação de indiciado em sua folha de 
antecedentes. 
São ainda consequências práticas do indiciamento: 
1) Dificuldade de trancamento do inquérito; 
2) Viabilidade da impetração de HC (MS para alguns a 
depender da hipótese) em caso de indiciamento ilegal; 
3) Determinação da tipificação aparente da conduta, o que 
refletirá na adequação do procedimento investigativo a 
ser seguido (TCO ou IP a depender da hipótese); 
4) Viabilização dos eventuais pedidos de prisão preventiva, 
prisão temporária e demais medidas cautelares penais; 
e 
5) Necessidade cientificação do indiciado a respeito dos direitos 
fundamentais que lhe assistem diante dessa configuração. 
 
 
 
7 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição. Rio de Janeiro: Grupo 
Gen: Forense, 2013, p. 253/257. 
 
 
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12 
Garantias do investigado. 
 Inicialmente verificamos que o investigado pode requerer 
diligências à autoridade policial (art. 14). 
 A Convenção Americana de Direitos Humanos enumera 
garantias relacionadas ao inquérito policial, vejamos: 
 “item 8.2. 
 *presunção de inocência; 
* direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser 
assistido por um defensorde sua escolha e de comunicar-se, 
livremente e em particular, com seu defensor; 
* direito irrenunciável de ser assistido por um defensor 
proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação 
interna. 
* direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a 
confessar-se culpada.” 
 Entre outros direitos decorrentes do que passaremos a expor, 
são garantias do investigado: 
“Direitos assegurados ao preso e regras sobre prisão 
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e 
moral (S.V.:11); 
 
 
 
 
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LXII - a prisão de qualquer 
pessoa e o local onde se 
encontre serão comunicados 
imediatamente ao juiz 
competente e à família do preso 
ou à pessoa por ele indicada; 
LXIII - o preso será 
informado de seus direitos, entre 
os quais o de permanecer calado, 
sendo-lhe assegurada a 
assistência da família e de 
advogado; 
LXIV - o preso tem direito 
à identificação dos responsáveis 
por sua prisão ou por seu interrogatório policial; 
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela 
autoridade judiciária; 
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a 
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;”8 
 
Uma outra garantia do investigado é não ser privado do direito 
de se comunicar com seu advogado. Trata-se da vedação da 
incomunicabilidade do indiciado. 
 
Incomunicabilidade 
 
 Atualmente o indiciado tem direito a se comunicar com 
advogado (art. 7º, III, lei 8906/94). 
 Com base no Art. 136, §3º, IV, CF entende-se que o art. 21 do 
CPP também não foi recepcionado pela CF, pois se no Estado de 
Defesa, que é um estado de exceção, é vedada a incomunicabilidade 
 
8 Trecho do nosso Direito Constitucional Fundamental: CRUZ, Pablo Farias Souza. Direito 
Constitucional Fundamental. Juiz de Fora/MG: 1ª edição, 2013, p. 253. 
2008 STF Analista judiciário 
Com relação aos direitos e 
garantias fundamentais, julgue 
os itens que se seguem. 
63 O preso tem direito à 
identificação dos responsáveis 
pelo seu interrogatório policial. 
C 
 
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do preso, quiçá num Estado Democrático de Direito, que é um estado 
de normalidade institucional. 
 
 Art. 21, CPP: “A incomunicabilidade do indiciado dependerá 
sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o 
interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir”. 
 “Parágrafo único: A incomunicabilidade, que não excederá de 
três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a 
requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério 
Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, 
inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 
4.215, de 27 de abril de 1963)”. 
 
Art. 7º, III, lei 8906/94: “São direitos do advogado:” 
 “III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e 
reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem 
presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, 
ainda que considerados incomunicáveis”. 
 
 Art. 136, §3º, IV, CF: “O Presidente da República pode, 
ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, 
decretar estado de defesa para preservar ou prontamente 
restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou 
a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade 
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na 
natureza”. 
 “§3º - Na vigência do estado de defesa:” 
 “IV - é vedada a incomunicabilidade do preso”. 
 
 Art. 5º, inciso LXIII da CF- o preso será informado de seus 
 
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direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe 
assegurada a assistência da família e de advogado; 
 
2.2 Atribuições da polícia federal na persecução criminal: Lei 
nº 10.446/2002; 
 
 Segundo a Constituição Federal, é atribuição da Polícia Federal 
apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas 
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras 
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou 
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser 
em lei. 
 Dispõe o texto constitucional: 
Art. 144. ... 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, 
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se 
a:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas 
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras 
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional 
e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária 
e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; 
III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras; 
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de 
fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da 
União. 
 
 
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 Visando especificar o estipulado pela CF/88 em seu art. 144, § 
1º, inciso I, criou-se a lei 10.446/02. 
Vejamos a disposição legal, de maior interesse, realçando o que 
for de maior interesse, haja vista se tratar de lei de somente dois 
artigos, sendo que o segundo dispõe sobre sua vigência. 
 Art. 1o Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da 
Constituição, quando houver repercussão interestadual ou 
internacional que exija repressão uniforme, poderá o 
Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem 
prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública 
arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias 
Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre 
outras, das seguintes infrações penais: 
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro 
(arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por 
motivação política ou quando praticado em razão da função pública 
exercida pela vítima; 
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei 
no 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e 
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República 
Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de 
tratados internacionais de que seja parte; e 
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e 
valores, transportadas em operação interestadual ou 
internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou 
bando em mais de um Estado da Federação. 
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o 
Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de 
outros casos, desde que tal providência seja autorizadaou 
determinada pelo Ministro de Estado da Justiça. 
 
 Sobre o dispositivo citado, bem comenta Guilherme de Souza 
Nucci que: a atuação da Polícia Federal, autorizada pelo art. 144, 
§1º, I da CF/88, especificada pela lei em comento, não transfere da 
Justiça Estadual para a Federal, automaticamente, a competência 
para processar e julgar o crime, ainda que o inquérito tenha sido 
 
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formado pelo órgão policial federal.9 
 Detalhe importante é que, no que tange à motivação política 
prevista no inciso I, insta discernir a existência de motivação política 
da configuração do crime político. Nesse sentido se afirma que: 
praticar sequestro (ou cárcere privado) ou extorsão mediante 
sequestro somente com motivação política não é suficiente para 
transformar o crime em político. Exige-se, ainda, o objetivo político a 
ser atingido, bem como as lesão aos seguintes bens jurídicos: 
I – integridade territorial e a soberania nacional; 
II – o regime representativo e democrático, a Federação e o 
Estado de Direito; 
III – a pessoa dos chefes dos poderes da União. 
... exemplificando, se houver o sequestro, como motivação e 
objetivo políticos, do Chefe de algum dos Poderes da União, é delito 
político, a ser investigado pela Polícia Federal e julgado pela Justiça 
federal. Entretanto, a extorsão mediante sequestro de um empresário 
da iniciativa privada, ainda que motivado politicamente, para 
arrecadar fundos para atuação no exterior, é crime comum, de 
competência da Justiça Estadual.10 
 
 A exemplificação acima exposta visa elucidar o cuidado que o 
estudioso deve ter ao verificar a competência da justiça federal para 
julgar crimes políticos e a atribuição prevista em lei especial para a 
policial federal atuar na fase investigativa. 
 
 Assim, vale expor as disposições normativas em quadro 
comparativo. Vejamos: 
 
9 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, v. I. 6ª ed. 2012. São 
Paulo: RT, p. 72. 
10 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, v. I. 6ª ed. 2012. São 
Paulo: RT, p. 73/74. 
 
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Art. 109, IV, primeira parte, CF/88 Art. 1º, § 1º, inc. I da lei 10.446/02 
Art. 109. Aos juízes federais compete 
processar e julgar: 
... 
IV - os crimes políticos e as infrações 
penais praticadas em detrimento de 
bens, serviços ou interesse da União ou 
de suas entidades autárquicas ou 
empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a 
competência da Justiça Militar e da 
Justiça Eleitoral; 
 
Art. 1º Na forma do inciso I do § 1o do 
art. 144 da Constituição, quando 
houver repercussão interestadual 
ou internacional que exija 
repressão uniforme, poderá o 
Departamento de Polícia Federal do 
Ministério da Justiça, ..., proceder à 
investigação, dentre outras, das 
seguintes infrações penais: 
I – sequestro, cárcere privado e 
extorsão mediante sequestro (arts. 
148 e 159 do Código Penal), se o 
agente foi impelido por motivação 
política ou quando praticado em razão 
da função pública exercida pela vítima; 
 
 Sobre a lei ora em comento, já indagou a Cespe em pergunta 
aberta aos aspirantes ao cargo de Agente da Polícia Federal: 
 
O Departamento de Polícia Civil do Estado de São Paulo vem 
investigando os crimes cometidos por três pessoas, maiores e 
capazes, que atuam no roubo de cargas transportadas em 
operações interestaduais nos estados de São Paulo, Mato Grosso e 
Mato Grosso do Sul. As empresas transportadoras afetadas pelas 
ações dos criminosos são totalmente privadas, ou seja, não 
possuem participação financeira de nenhum ente da Federação, não 
havendo, portanto, em decorrência desses delitos, prejuízo 
patrimonial direto à União. Em operação destinada a prender em 
flagrante os criminosos, apenas um deles foi preso. No momento da 
prisão, ele ofereceu, ao chefe da equipe policial, cem mil reais para 
que fosse informalmente libertado. A proposta não foi aceita, e a 
prisão do criminoso foi efetuada, de acordo com as formalidades 
legais. 
Com base na situação hipotética apresentada acima, redija um 
texto dissertativo que responda, necessariamente e de maneira 
fundamentada, aos seguintes questionamentos. 
 
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1) Havendo necessidade de repressão uniforme dos crimes 
acima mencionados, poderá o Departamento de Polícia Federal 
investigar os delitos contra o patrimônio (roubos)? ...11 
 
Orientação para resposta: No caso relatado, a princípio, não é 
cabível a atuação da Polícia Federal, pois em que pese a incidência do 
disposto na lei especial que regula as infrações penais de repercussão 
interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, é 
necessário, no caso em tela, que haja indícios da atuação de 
quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação. Como 
na situação os agentes agiram em número de três, não havia 
caracterizado o delito de quadrilha ou bando previsto no art. 288 do 
Código Penal, que demanda a participação de mais de três 
pessoas. 
Trata a questão de aplicação expressa do seguinte dispositivo, 
da lei supracitada: Art. 1º Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da 
Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional que 
exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do 
Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança 
pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias 
Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das 
seguintes infrações penais: ... IV – furto, roubo ou receptação de cargas, 
inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou 
internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais 
de um Estado da Federação. 
Contudo, deve-se alertar que, em virtude da redação do § único 
do mencionado dispositivo, em caso de autorização ou determinação 
expressa do Ministro da Justiça se torna viável a atuação da Polícia 
Federal, desde que existentes a repercussão interestadual ou 
internacional do delito (o que resta caracterizado no presente caso) e 
a necessidade de repressão uniforme da infração penal (o que foi 
 
11 http://www.cespe.unb.br/concursos/DPF_12_AGENTE/arquivos/DPF12_AG_001_01.pdf 
 
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registrado no questionamento 1). 
Vejamos a disposição que traz a faculdade apontada: Parágrafo 
único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia 
Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência 
seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça. 
Sintetizando, ainda que a infração penal não esteja prevista no 
rol dos incisos do art. 1º, se tornará viável a atuação da polícia 
federal, desde que presentes 3 requisitos: 
1) Repercussão interestadual ou internacional do delito; 
2) Necessidade de repressão uniforme dainfração penal; 
e 
3) Autorização ou determinação do Ministro da Justiça. 
 
 
Direto processual penal. 
 
 Estudados os tópicos referentes ao inquérito policial, passamos 
a tratar das disposições gerais previstas no edital. 
Inicialmente, devemos definir o que é Direito Processual Penal. 
O Direito Processual Penal é o “ramo do direito público12 que 
sistematiza e interpreta as normas processuais penais. O objeto de 
estudo do direito processual penal é, portanto, a norma processual 
penal que, por sua vez, traduz a efetivação do direito material 
respectivo, qual seja, o direito penal. Assim, verifica-se que o direito 
processual penal é instrumental, pois visa efetivar os comandos da 
norma penal, atingindo sua finalidade tanto quando condena o 
culpado, bem como quando absolve o inocente.”13 
 
12 Embora se reconheça a crítica que se faz à dicotomia romana entre direito público e privado. 
13 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição. Rio de Janeiro: Grupo 
Gen: Forense, 2013, p. 21. 
 
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Nesse contexto, de modo a solidificar o conceito acima exposto, 
preciso lhe explicar o que vem a ser a norma processual penal. 
Norma processual penal pode ser entendida como aquela que versa 
sobre a persecução penal14 em todas as suas fases: preliminar 
investigatória, processual de conhecimento, processual de execução e 
processual cautelar15. Deve-se entender como norma a conclusão 
jurídica que se extrai das fontes do direito, ou de pelo menos de 
parte delas16. 
Desse modo, tais normas podem ser extraídas das fontes mais 
diversificadas. 
No estudo do direito processual penal se pode elencar como 
fontes principais, além da doutrina e da jurisprudência, a Constituição 
Federal, o Código de Processo Penal, as leis processuais esparsas e os 
tratados internacionais em matéria criminal. 
 
Princípios gerais, conceito, finalidade, características. 
Disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual 
penal. 
 
 Antes de falarmos sobre os princípios, devemos atentar para o 
marco teórico atual da dogmática processual penal moderna, que já 
foi, inclusive, objeto de questão objetiva de concurso de Delegado de 
Polícia do Rio de Janeiro/RJ. Nesse ponto citamos trecho do nosso 
livro Processo Penal Sistematizado, in verbis: 
 
14 A persecução penal pode ser definida como o conjunto de atos destinados à apuração do delito e à 
devida aplicação da lei penal. 
15 Embora se reconheça que, tecnicamente, não existe processo penal cautelar autônomo, havendo 
somente uma ampliação no estudo das medidas cautelares penais esparsas (principalmente a partir de 
2011). 
16 Já que a doutrina e a jurisprudência, invariavelmente, apresentam de antemão a conclusão jurídica 
mencionada. 
 
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“Posicionando o ramo do Direito que ora se passa a expor, 
deve-se alertar que o Código de Processo Penal é uma Lei Ordinária 
Federal e se situa abaixo da Constituição Federal e dos Tratados 
Internacionais de Direitos Humanos. 
Iniciando o estudo de qualquer ramo do direito é sempre 
importante lembrar sua finalidade, assim, vale a pena sistematizar o 
seguinte: 
- Finalidade do Direito: Pacificar as relações e conflitos sociais. 
- Finalidade do Direito Penal17: Proteger os bens jurídicos mais 
relevantes. 
- Finalidade do Processo Penal: Aplicar o direito material diante do 
caso penal18. 
 Reputamos que o Direito Penal, sob a ótica garantista, serve 
como limitador da intervenção estatal no direito de liberdade. Nesse 
contexto, concluímos que o Direito Processual Penal limita e legitima 
a intervenção penal, servindo, desse modo, como limite ao limite. 
Com os olhos postos na finalidade do processo penal, ainda se 
poderia perquirir: O que seria um Processo Penal Justo? 
Numa concepção moderna, embora não seja a única forma de 
se responder essa pergunta, processo penal justo seria aquele em 
 
17 Interessante registrar o conceito de direito penal, tendo vista ser o direito processual penal o 
instrumento de aplicação do mesmo. Nesse aspecto, lapidar é a exposição do professor Arthur de Brito 
Gueiros Souza (inspirado nas lições de Pablos de Molina Garcia) a respeito da definição dinâmica e 
estática do direito penal: Dinâmica: Direito Penal é o mais intenso mecanismo de controle social formal, 
por intermédio do qual o Estado, mediante um determinado sistema normativo, castiga com sanções 
negativas de particular gravidade as condutas desviadas mais nocivas para convivência, objetivando, 
desse modo, a necessária disciplina social e a correta socialização dos membros do grupo. Estática: 
Considera-se Direito Penal como sendo o conjunto de normas jurídico públicas que definem certas 
condutas como delito e associam às mesmas penas e medidas de segurança, além de prever outras 
consequências jurídicas. (SOUZA, Arthur de Brito Gueiros, Curso de direito penal: parte geral / Arthur 
de Brito Gueiros Souza, Carlos Eduardo Adriano Japiassú. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 3-4) 
18 Prefere-se aqui o termo “caso penal”, pois o conceito de lide no processo penal é problemático, haja 
vista existirem autores da lavra de Rogério Lauria Tucci que negam a existência de lide no processo 
penal, pelo menos se se considerar a expressão carnelutiniana que à define como conflito de interesse 
qualificado por um pretensão resistida. 
 
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que se consegue conciliar o Princípio Instrumental Punitivo com o 
Princípio Instrumental Garantista. 
 Entenda-se como Princípio Instrumental Punitivo o que 
reconhece o processo como único instrumento apto a viabilizar a 
aplicação da pena. É assim, o processo, um instrumento de punição, 
pois segundo a Constituição: ninguém será privado da liberdade ou 
de seus bens sem o devido processo legal. 
 Nessa ótica o princípio instrumental punitivo poderia ser 
relacionado pelo que o professor Denilson Feitoza19 chama de Fins 
Mediatos da persecução criminal. São eles: a segurança pública e os 
bens jurídicos protegidos pela norma penal. 
 
 
 
 
 
 
Por outro lado, o Princípio Instrumental Garantista 
determina que o processo seja apto a viabilizar que punição se 
efetive de forma proporcional. Sendo assim, o processo é instrumento 
de garantia do indivíduo contra eventual arbitrariedade estatal. 
 
Na atualidade encontra-se um dilema para se conciliar os 
princípios acima elencados, pois naturalmente quanto mais se 
aproxima de um, mais se distancia do outro. Embora a doutrina 
pregue o garantismo como marco teórico de todo o estudo do direito 
processual penal, nem sempre nesse sentido anda o legislador, o que 
 
19 FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 7ª ed., rev. e atual. Niterói, RJ: 
Impetus, 2010, p. 56 e 57. 
Direito fundamental social 
Art. 6º da CF: São direitos sociais ... a 
segurança... 
Art. 144. A segurança pública, dever do 
Estado, direito e responsabilidade de todos, é 
exercida para a preservaçãoda ordem 
pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio... 
Como a norma penal é tida como a mais 
violenta, entende-se que ela só deva 
proteger os bens jurídicos mais relevantes, 
logo se pode concluir que na esfera penal 
todos os bens jurídicos são, ou deveriam 
ser, bens jurídicos fundamentais. 
 
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torna o papel do responsável pela aplicação do direito ainda mais 
delicado. 
 
Esse dilema muitas vezes mascara duas concepções filosóficas 
que podem ser visualizadas de forma sistemático-comparativa, 
vejamos: 
 
UTILITARISMO GARANTISMO 
Punitivismo-Pragmático Holístico-Garantista 
Qualquer ciência deve servir para 
atingir sua finalidade prática. 
Funcionalismo sistêmico – A ciência 
protegendo a ciência, o próprio 
sistema. 
Reconhecimento de que o Estado foi 
criado para servir o indivíduo e não o 
contrário. 
DIREITO PENAL DO INIMIGO 
(ex: lei do abate) 
Crítica: conceito de inimigo é 
extremamente aberto. 
Reconhecimento de que a CF é norma 
ápice do ordenamento. 
Os direitos fundamentais decorrem do 
atributo dignidade da pessoa humana. 
 
Nesse diapasão, alerta o professor Denilson Feitoza: 
“Uma interpretação constitucional-sistemática do 
ordenamento jurídico nos leva de um processo penal redutivo-
punitivo para um processo penal holístico-garantista (de 
direitos fundamentais), no sentido de que a investigação 
criminal e o processo penal propriamente dito devem 
considerar a multifuncionalidade e a integralidade dos direitos 
fundamentais das pessoas que lhes são submetidas (suspeito, 
investigado, acusado, réu, testemunha, ofendido).”20”21 
 
 
20 FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 7ª ed., rev. e atual. Niterói, RJ: 
Impetus, 2010, p. 52. 
21 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição. Rio de Janeiro: Grupo 
Gen: Forense, 2013, p. 23/25. 
 
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Sobre o tema, eis a questão que aludimos anteriormente: 
“CEPERJ – 2009 – PC/RJ – Delegado de Polícia: Dois acórdãos 
paradigmáticos do STF afirmam o seguinte: 
HABEAS CORPUS. INCONSTITUCIONALIDADE DA CHAMA- DA “EXECUÇÃO 
ANTECIPADA DA PENA”. ART. 5º, LVII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. O 
art. 637 do CPP estabelece que “o recurso extraordinário não tem efeito 
suspensivo, e uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os 
originais baixarão à primeira instância para a execução da sentença”. A Lei 
de Execução Penal condicionou a execução da pena privativa de liberdade 
ao trânsito em julgado da sentença condenatória. A Constituição do Brasil 
de 1988 definiu, em seu art. 5º, inciso LVII, que “ninguém será considerado 
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. 2. Daí a 
conclusão de que os preceitos veiculados pela Lei n. 7.210/84, além de 
adequados à ordem constitucional vigente, sobrepõem-se, temporal e 
materialmente, ao disposto no art. 637 do CPP. 3. Disso resulta que a 
prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser 
decretada a título cautelar. 4. A ampla defesa, não se a pode visualizar de 
modo restrito. Engloba todas as fases processuais, inclusive as recursais de 
natureza extraordinária. Por isso, a execução da sentença após o 
julgamento do recurso de apelação significa, também, restrição do direito 
de defesa, caracterizando desequilíbrio entre a pretensão estatal de aplicar 
a pena e o direito, do acusado, de elidir essa pretensão. 5. A antecipação da 
execução penal, ademais de incompatível com o texto da Constituição, 
apenas poderia ser justificada em nome da conveniência dos magistrados – 
não do processo penal. A prestigiar-se o princípio constitucional, dizem, os 
tribunais [leia-se STJ e STF] serão inundados por recursos especiais e 
extraordinários, e subsequentes agravos e embargos, além do que 
“ninguém mais será preso”. Eis o que poderia ser apontado como incitação 
à “jurisprudência defensiva”, que, no extremo, reduz a amplitude ou mesmo 
amputa garantias constitucionais. A comodidade, a melhor operacionalidade 
de funcionamento do STF, não pode ser lograda a esse preço. 6. Nas 
democracias, mesmo os criminosos são sujeitos de direitos. Não perdem 
essa qualidade, para se transformarem em objetos processuais. São 
pessoas inseridas entre aquelas beneficiadas pela afirmação constitucional 
da sua dignidade. É inadmissível a sua exclusão social, sem que sejam 
consideradas, em quaisquer circunstâncias, as singularidades de cada 
infração penal, o que somente se pode apurar plenamente quando 
transitada em julgado a condenação de cada qual Ordem concedida. (STF, 
HC 85417, 02/09/08, Rel. para o acórdão Min. Eros Graus) A privação 
cautelar da liberdade individual reveste-se de caráter excepcional, somente 
devendo ser decretada ou mantida em situações de absoluta necessidade. A 
prisão cautelar, para legitimar-se em face de nosso sistema jurídico, impõe 
- além da satisfação dos pressupostos a que se refere o art. 312 do CPP 
(prova da existência material do crime e presença de indícios suficientes de 
autoria) - que se evidenciem, com fundamento em base empírica idônea, 
razões justificadoras da imprescindibilidade dessa extraordinária medida 
cautelar de privação da liberdade do indiciado ou do réu. - A questão da 
 
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decretabilidade ou manutenção da prisão cautelar. Possibilidade 
excepcional, desde que satisfeitos os requisitos mencionados no art. 312 do 
CPP. Necessidade da verificação concreta, em cada caso, da 
imprescindibilidade da adoção dessa medida extraordinária. Precedentes. A 
MANUTENÇÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE - ENQUANTO MEDIDA DE 
NATUREZA CAUTELAR - NÃO PODE SER UTILIZADA COMO INSTRUMENTO 
DE PUNI- ÇÃO ANTECIPADA DO INDICIADO OU DO RÉU. - A prisão cautelar 
não pode - e não deve - ser utilizada, pelo Poder Público, como instrumento 
de punição antecipada daquele a quem se imputou a prática do delito, pois, 
no sistema jurídico brasileiro, fundado em bases democráticas, prevalece o 
princípio da liberdade, incompatível com punições sem processo e 
inconciliável com condenações sem defesa prévia. A prisão cautelar - que 
não deve ser confundida com a prisão penal - não objetiva infligir punição 
àquele que sofre a sua decretação, mas destina-se, considerada a função 
cautelar que lhe é inerente, a atuar em benefício da atividade estatal 
desenvolvi- da no processo penal. A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME 
NÃO CONSTITUI FATOR DE LEGITIMAÇÃO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR DA 
LIBERDADE. - A natureza da infração penal não constitui, só por si, 
fundamento justificador da decretação da prisão cautelar daquele que sofre 
a persecução criminal instaurada pelo Estado. Precedentes. AUSÊNCIA DE 
DEMONSTRAÇÃO, NO CASO, DA NECESSIDADE CONCRETA DE MANTER-SE 
A PRISÃO EM FLAGRANTE DO PACIENTE. - Sem que se caracterize situação 
de real necessidade, não se legitima a privação cautelar da liberdade 
individual do indiciado ou do réu. Ausentes razões de necessidade, revela-
se incabível, ante a sua excepcionalidade, a decretação ou a subsistência da 
prisão cautelar. O POSTULADO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE 
INOCÊNCIA IMPEDE QUE O ESTADO TRATE, COMO SE CULPADO FOSSE, 
AQUELE QUE AINDA NÃO SOFREU CONDENAÇÃO PENAL IRRECORRÍVEL. - A 
prerrogativa jurídicada liberdade - que possui extração constitucional (CF, 
art. 5º, LXI e LXV) - não pode ser ofendida por interpretações doutrinárias 
ou jurisprudenciais, que, fundadas em preocupante discurso de conteúdo 
autoritário, culminam por consagrar, paradoxalmente, em detrimento de 
direitos e garantias fundamentais proclamados pela Constituição da 
República, a ideologia da lei e da ordem. - Mesmo que se trate de pessoa 
acusada da suposta prática de crime hediondo, e até que sobrevenha 
sentença penal condenatória irrecorrível, não se revela possível - por efeito 
de insuperável vedação constitucional (CF, art. 5º, LVII) - presumir-lhe a 
culpabilidade. No sistema jurídico brasileiro, não se admite, por evidente 
incompatibilidade com o texto da Constituição, presunção de culpa em sede 
processual penal. Inexiste, em consequência, no modelo que consagra o 
processo penal democrático, a possibilidade jurídico-constitucional de culpa 
por mera suspeita ou por simples presunção. - Ninguém pode ser tratado 
como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe 
tenha sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial 
condenatória transitada em julgado. O princípio constitucional da presunção 
de inocência, em nosso sistema jurídico, consagra, além de outras 
relevantes consequências, uma regra de tratamento que impede o Poder 
Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao 
 
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denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem sido condenados, 
definitivamente, por sentença do Poder Judiciário. Precedentes. 
Precedentes. (STF, HC 93056, 16/12/2008, Ministro Celso de Mello) 
Da leitura dos arestos supra pode-se dizer que o Desenho Constitucional do 
Processo Penal brasileiro tem cariz: 
a) utilitarista 
b) garantista 
c) instrumentalista (instrumentalidade das formas) 
d) finalista 
e) positivista 
Gabarito: B” 
 
 Nesse contexto, exporemos os princípios basilares do processo 
penal, sem prejuízo de tratarmos de outros durante o curso e de 
acordo com os tópicos do edital. 
Vejamos os iniciais: 
 
Princípio do Devido Processo Legal (art. 5º, LIV, CF). 
Galgando sua própria faceta americana, o devido processo legal 
passa a servir não só como limitador do poder do Estado, mas 
também a instrumentalizar a participação do cidadão no processo, 
através de um afluente necessário, qual seja, o princípio do 
contraditório real, que impõe, basicamente, duas regras: 
1) o direito de ser ouvido; e 
2) o direito de influenciar efetivamente o convencimento do 
órgão jurisdicional, ou: fair hearing22 na expressão 
americana. 
Em uma concepção humanitária, o due process of law evoluiu 
para ultrapassar os limites americanos e se consolidar em 
importantes diplomas jurídicos universais, como a Declaração 
Universal dos Direitos do Homem de 1948, que assegurou, em sua 
cláusula 8ª, o direito de todo indivíduo a um processo justo com 
tratamento igualitário. 
 
22 Londoner v. Denver, 210 U.S. 373 (1908). 
 
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No Brasil, explicitamente, o princípio só foi tratado na 
Constituição de 1988 em sue artigo 5º, inciso LIV que dispõe que 
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal”. 
Topograficamente a cláusula do devido processo legal se 
posiciona no “Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, o 
que o eleva ao status de garantia fundamental do cidadão, embora 
seja cediço que o princípio já tinha reconhecimento implícito nas 
constituições brasileiras anteriores, pois a partir do momento em que 
passaram a assegurar o contraditório, a ampla defesa e o direito à 
igualdade, acabavam por resguardar suas características. 
De tal princípio se costuma extrair dois significados (garantias): 
1) o do art. 5º no inciso transcrito acima que remete ao 
conceito antes exposto de instrumentalidade punitiva do processo; e 
2) o da Segurança Jurídica ("Fair Trial") = que traduz a 
necessidade de viabilizar o conhecimento prévio das regras do jogo. 
Quando alguém viola uma norma penal, nasce para o Estado o 
poder-dever de aplicar a pena cominada ao caso concreto. Mas o 
Estado não pode impor nem executar pena ou medida de segurança 
sem o devido processo legal. 
 Nesse contexto deve-se inquirir a respeito da aplicação da lei 
processual no tempo e assim fazendo logo se afirmará que a mesma 
se dá de forma IMEDIATA (não retroagindo mesmo que beneficie o 
réu - diferentemente da lei penal). 
Normas que regulam recurso => Majoritariamente de natureza 
processual, tendo aplicação imediata, logo, a lei que regula o recurso 
é a que está em vigor na data da publicação da sentença. 
Destarte, atualmente se falam em dois devidos processos legais 
penais vigentes no Brasil: DEVIDO PROCESSO PENAL CLÁSSICO 
(CPP) e o DEVIDO PROCESSO PENAL CONSENSUAL (Lei 9099/95 – 
 
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Juizados Especiais). Há quem diga que o devido processo legal penal 
consensual é inconstitucional, mas não é esse o entendimento 
prevalente. O raciocínio que se tem confirmado é que, o que ocorreu 
foi a criação legal de um novo processo, com regras claras e 
específicas. Tal raciocínio foi comprovado pela jurisprudência, que 
entendeu como constitucional esse novo devido processo legal. 
 
Princípio da Igualdade ou da Paridade de Armas 
 
As partes que formam a relação triangular (a seguir 
esquematizada) podem usar todos os recursos disponíveis para 
assegurar a igualdade processual. Assim, o referido princípio exige 
que a distribuição dos instrumentos destinados à defesa dos 
interesses envolvidos seja feita de forma isonômica. 
 
 Juiz 
 
 Autor23 Réu 
 
 Às partes deve ser assegurada a igualdade material, além da 
formal. 
 O presente princípio, por exigir que os instrumentos de 
proteção dos interesses, no processo penal, sejam isonômicos, 
também pode ser denominado de princípio da isonomia processual. 
Deflui desse princípio a ideia do "Favor rei" = "In dubio pro reo" 
processual, conforme se verá adiante. 
A doutrina costuma relacionar o princípio da Igualdade com o 
do Contraditório e com o termo par conditio. 
 
23 O autor pode ser o MP, nas ações penais públicas, ou o ofendido, nas ações penais privadas. 
 
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Embora, tecnicamente, o princípio da igualdade não seja 
sinônimo de contraditório, a maioria dos autores afirma que os dois 
guardam íntima relação, sendo o último corolário do primeiro. 
Nesse contexto afirma Eugênio Pacelli de Oliveira, ao comentar 
o princípio do contraditório, que a doutrina moderna, sobretudo a 
partir do italiano Fazzalari, caminha a passos largos no sentido de 
uma nova formulação do instituto, para nele incluir, também, o 
princípio da “par conditio” ou da paridade de armas, na busca de uma 
efetiva igualdade processual.24 
Permeiao estudo desse princípio o questionamento que indaga 
se a realização da sustentação oral do Ministério Público após a 
sustentação oral da defesa ofende, ou não, os princípios do 
contraditório e da ampla defesa. Sobre a questão o STF decidia da 
seguinte forma: 
 
Em recurso exclusivo da acusação, o representante do 
Ministério Público, ainda que invoque a qualidade de 
“custos legis”, deve manifestar-se, na sessão de 
julgamento, antes da sustentação oral da defesa. Com 
base nesse entendimento, o Tribunal concedeu habeas 
corpus, afetado ao Pleno pela 2ª Turma, impetrado em favor 
de acusado pela suposta prática de delito previsto no art. 10 
da Lei 7.492/86. No caso, o juízo de 1º grau rejeitara a 
denúncia apresentada contra o paciente. Contra esta decisão, 
o Ministério Público interpusera recurso em sentido estrito que, 
provido pelo TRF da 3ª Região, dera ensejo à instauração da 
ação penal. Ocorre que, durante a sessão de julgamento do 
citado recurso, a defesa proferira sustentação oral antes do 
Procurador-Geral, sendo tal fato alegado em questão de 
ordem, rejeitada ao fundamento de que o parquet, em 
segunda instância, atua apenas como fiscal da lei — v. 
Informativo 449. HC 87926/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 
20.2.2008. (HC-87926) 
 
24 PACELLI DE OLIVEIRA, Eugênio. Curso de Processo Penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 
2009, pag. 38. 
 
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Deferiu-se o writ para anular o julgamento do recurso em 
sentido estrito e determinar que outro se realize, observado o 
direito de a defesa do paciente, se pretender realizar 
sustentação oral, somente fazê-lo depois do representante do 
Ministério Público. Entendeu-se que, mesmo que invocada a 
qualidade de custos legis, o membro do Ministério 
Público deve manifestar-se, na sessão de julgamento, 
antes da sustentação oral da defesa, haja vista que as 
partes têm direito à observância do procedimento tipificado na 
lei, como concretização do princípio do devido processo 
legal, a cujo âmbito pertencem as garantias específicas 
do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, LIV e LV). 
Ressaltando a unidade e indivisibilidade do “parquet”, 
asseverou-se ser difícil cindir sua atuação na área recursal, no 
processo penal, de modo a comprometer o pleno exercício do 
contraditório. Aduziu-se, também, que o direito de a defesa 
falar por último é imperativo e decorre do próprio sistema, e 
que a inversão na ordem acarretaria prejuízo à plenitude de 
defesa. Ademais, afirmou-se não ser admissível interpretação 
literal do art. 610, parágrafo único, do CPP (“... o presidente 
concederá ... a palavra aos advogados ou às partes que a 
solicitarem e ao procurador-geral, quando o requerer ...”) e 
que o art. 143, § 2º, do Regimento Interno do TRF da 3ª 
Região, que dispõe que o parquet fará uso da palavra após o 
recorrente e o recorrido, merece releitura constitucional. 
Precedentes citados: RHC 85443/SP (DJU de 13.5.2005); RE 
91661/MG (DJU de 14.12.79). HC 87926/SP, rel. Min. Cezar 
Peluso, 20.2.2008. (HC-87926)25 Grifos acrescidos 
 Em julgamento mais recente (2010), entretanto, o STF proferiu 
a seguinte decisão: 
INFORMATIVO Nº 577 TÍTULO - HC e Prisão Preventiva de Governador – 
1 PROCESSO HC - 102732 
O Tribunal, por maioria, denegou habeas corpus impetrado em favor do 
Governador do Distrito Federal contra ato do Superior Tribunal de Justiça - 
STJ que decretara a prisão preventiva do paciente, com base no disposto no 
art. 312 do CPP, haja vista que ele teria agido para alterar depoimento de 
testemunha, de modo a favorecê-lo em inquérito que apura a existência de 
 
25 Informativo 495/STF 
 
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organização criminosa voltada ao desvio e à apropriação de verbas públicas 
do DF, comprometendo, dessa forma, as investigações. Preliminarmente, a 
Corte, também por maioria, rejeitou questão de ordem suscitada 
pela defesa no sentido de que a sustentação oral fosse feita após a 
manifestação do Ministério Público. Alegava a defesa que, uma vez que 
a ação penal fora proposta pelo Procurador Geral da República, não haveria 
da parte do órgão de acusação a condição de fiscal da lei, e que, tratando o 
habeas corpus de um instrumento de liberdade, deveria haver inversão na 
ordem de manifestação. Aderiu-se ao posicionamento externado pela 
Vice-Procuradora Geral da República, que, ao invocar o princípio da 
unidade e indivisibilidade do Ministério Público, asseverou que, a 
prevalecer esse entendimento, por-se-ia fim à possibilidade de o 
“parquet”, em “habeas corpus”, falar por último. Além disso, 
considerou que, justamente em razão do impedimento do Procurador 
Geral da República, porque subscrevera a denúncia, ela estaria 
presente, frisando serem inconfundíveis as posições do autor e do 
órgão que funcionaria agora como “custos legis”. Também lembrou 
que o habeas corpus se apresentaria aqui com a conformação de um 
recurso e, portanto, seria necessário que o recorrido soubesse as razões 
que o recorrente iria deduzir da tribuna, não se tratando de uma 
questão de assegurar o exercício da ampla defesa, mas de permitir 
que a acusação e a defesa debatessem em igualdade de condições. 
No ponto, o Min. Cezar Peluso aduziu ser norma da casa que o Ministério 
Público fale por último em habeas corpus, não havendo nenhum 
motivo para que, nesse caso, que não seria singular, fosse adotada uma 
outra regra. Acrescentou que o habeas corpus, mais do que um 
recurso, seria uma ação, sendo preciso que aquele contra quem, de 
certo modo, a ação é proposta e deve responder aos fundamentos 
dessa ação soubesse o que o autor da ação teria a dizer. Vencidos, na 
questão de ordem, os Ministros Marco Aurélio, relator, e Dias Toffoli, que, 
atentando e viabilizando à exaustão o direito de defesa para as 
 
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peculiaridades do caso, entendiam aconselhável a inversão. HC 102732/DF, 
rel. Min. Marco Aurélio, 4.3.2010. (HC-102732) 
 
Princípio do "Favor rei" (a favor do réu; art. 386, VI, CPP e art. 
615, par. 1º, CPP). 
 
O princípio do favor rei aponta que diante da dúvida na 
interpretação da norma processual penal ou na interpretação de ato 
processual, deve-se optar pela conclusão que mais beneficie o réu. 
Reforça esse princípio a nova dicção do seguinte artigo do CPP, 
alterado pela Lei 11.690 de 2008: 
 
 Art. 386, “caput”, CPP: “O juiz absolverá o réu, 
mencionando a causa na parte dispositiva, desde que 
reconheça:” 
 “VI – existirem circunstâncias que excluam o crime 
ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 
1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se 
houver fundada dúvida sobre sua existência”. 
 
Em mais de um momento, o CPP atual aplica esse princípio, 
vejamos: 
 
 Art. 615, § 1º, CPP: “Art. 615. O tribunal decidirá 
por maioria de votos:” 
 “§1º: Havendo empate de votos no julgamento de 
recursos, se o presidente do tribunal, câmara ou turma, 
não tiver tomado parte na votação, proferirá o voto de 
desempate; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais 
favorável ao réu”. 
 
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Trata de uma defluência do princípio da presunção de inocência e 
de aplicação analógica do princípio penal do in dubio pro reo na 
esfera processual penal. 
Demonstrando o peso do presente princípio, o STJ, 
recentemente, decidiu aplicar, por analogia, o dispositivo acima citado 
também ao julgamento da Revisão Criminal, situação onde a dúvida 
militava a favor da decisão judicial em nome da segurança jurídica 
agora se mostra superada, pelo menos no âmbito do STJ: “REVISÃO 
CRIMINAL. EMPATE NA VOTAÇÃO. DECISÃO MAIS FAVORÁVEL. A 
Turma, prosseguindo o julgamento, concedeu a ordem para 
reformar o acórdão recorrido, a fim de afastar a condenação do 
paciente pelo crime de tentativa de homicídio, diante do empate 
verificado, na revisão criminal de sentença proferida pelo 
tribunal do júri. A respeito do tema, ponderou a Min. Relatora que, 
no entendimento do STF, a condenação penal definitiva imposta pelo 
Júri é passível de desconstituição mediante revisão criminal, não lhe 
sendo oponível a cláusula constitucional da soberania do veredicto do 
Conselho de Sentença. Consignou-se, ademais, que, à falta de 
norma expressa sobre o empate (em julgamento de revisão 
criminal), deve-se aplicar a regra do art. 615, § 1º, do CPP, 
reproduzida para o habeas corpus no parágrafo único do art. 
664 do mesmo Codex. Assim, mesmo que se considere tratar-se de 
normas específicas, atinentes a recursos determinados, caberá o 
apelo à analogia, expressamente permitido pelo art. 3º do aludido 
código. In casu, o tribunal a quo decidiu, por maioria, pela 
improcedência da revisão criminal. Contudo, da leitura das notas 
taquigráficas acostadas aos autos, verificou-se que, quanto ao 
pedido de afastamento da condenação por tentativa de 
homicídio, houve empate na votação, uma vez que, dos seis 
 
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desembargadores presentes, três acolheram a súplica 
revisional, enquanto outros três a indeferiram. Dessarte, 
consoante o disposto no art. 615, § 1º, do CPP, consignou-se que o 
empate na votação importa reconhecimento de decisão 
favorável ao paciente. Precedentes citados do STF: HC 70.193-RS, 
DJ 6/11/2006; HC 59.863-SP, DJ 13/3/1982; HC 52.838-SP, DJ 
26/9/1975, e HC 54.467-SP, DJ 18/3/1977. HC 137.504-BA, 
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012.”26 
 
Princípio da Ampla Defesa (art. 5º, LV, CF): 
Tal princípio encontra sua sede no art. 5°, inciso LV da CF, que 
dispõe: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, 
com os meios e recursos a ela inerentes. 
 A doutrina afirma que o princípio da ampla defesa seria a 
resultante da soma de duas defesas, quais sejam: a Auto Defesa e a 
Defesa Técnica. 
 A Auto Defesa é aquela realizada pelo próprio imputado27, 
conforme se vê, por exemplo, no interrogatório onde o réu informa a 
sua versão a respeito do caso penal. 
 A Defesa Técnica por sua vez é aquela realizada por pessoa 
que detenha capacidade postulatória. Exs: Advogado e Defensor 
Público. 
 Dentre as espécies de defesa acima mencionados, a única 
defesa que se reputa DISPONÍVEL28 é a AUTO DEFESA, pois o réu 
 
26 Informativo 503 do STJ. 
27 A palavra imputação no processo penal é equivalente à acusação. 
28 Embora se sáiba que como componente do princípio da ampla defesa, como direito funadamental que é, 
não seria técnico se falar em disponibilidade, já que a característica comum à todos os direitos 
fundamentais seria a inalienabilidade ou indisponibilidade. Assim, no caso se estaria falando de um não 
exercício temporário do que propriamente disponibilidade, embora se tenha mantido o termo pela sua 
freqüente utilização pela doutrina e pela jurisprudência. 
 
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pode tanto confessar quanto permanecer em silêncio, não sendo 
obrigado a tomar parte ativa em nenhuma das fase da persecução 
criminal. 
 Indaga-se: Existe revelia no Processo Penal? A resposta a essa 
questão com certeza será afirmativa, pois considerando a revelia é o 
acontecimento processual que implica na ausência do réu, essa 
poderá ocorrer. Entretanto deve-se ter cautela ao se falar dos efeitos 
que a mesma opera. Lembrando que a revelia, modo geral, produz 
dois efeitos, vejamo-los: 
 Efeito Material: o juiz considerar os fatos alegados pelo autor 
como verdadeiros. No Processo Penal NÃO há produção desse efeito, 
haja vista a incidência do princípio da presunção de inocência e da 
vedação de se interpretar o silêncio do réu em seu prejuízo. 
 Efeito Processual: O réu não será mais intimado dos demais 
atos processuais (o processo segue sem a presença do réu, mas 
sempre com o advogado). 
 Desse modo, a revelia no processo penal, existe, mas somente 
produz o efeito processual. 
 Direitos decorrentes da ampla defesa: 
 → Direito de a defesa falar por ÚLTIMO. 
 → Direito de não autoincriminar-se (“nemo tenetur se detegere” 
ou “nemo tenetur se ipsum accusare”). Direito ao silêncio decorre da 
ampla defesa. 
 → Direito de não confessar; 
 → Direito de audiência; 
 → art. 577, CPP. Permite ao RÉU recorrer (reforço da auto 
defesa). Se juiz entender cabível irá intimar o advogado para 
apresentar razões. 
 
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Outro questionamento importante a respeito do tema é: Como 
se resolve o conflito entre a vontade decorrente da defesa técnica e 
vontade decorrente da auto defesa? Quanto ao tema, são duas as 
posições de destaque: 
 1ª) Por ser a defesa técnica a única indisponível, deve 
prevalecer a vontade do advogado (é a que prevalece). Súmula 705, 
STF29. 
 2ª) Quem sofre os eventuais prejuízos da condenação é o réu. 
Logo, a vontade dele deveria prevalecer (minoritário). 
 Entretanto, é possível delinear um terceiro entendimento no 
seguinte sentido: Deve prevalecer a vontade que favorecer o recurso 
(Pró-recurso -> garante, de forma mais eficiente, a AMPLA DEFESA). 
Sustenta-se aqui, para a solução do conflito apresentado, uma 
vinculação objetiva, atinente ao objeto da discussão (o direito ao 
recurso30), e não em relação aos sujeitos envolvidos (subjetiva), 
advogado ou réu. Tal conclusão decorre de uma interpretação 
axiológica, onde se reputa o valor ampla defesa, no caso concreto, 
mais importante do que a presunção de adequabilidade e capacidade 
de escolha em vista da pessoa que a analisa. 
 
Sobre o princípio da ampla defesa, poderia se indagar se o 
mesmo, somado ao direito ao silencio, também protegido 
constitucionalmente, poderia viabilizar o direito à mentira. 
Na resolução da questão deve-se registrar, de início, o 
entendimento majoritário, que a responde de forma positiva. 
Destarte, prevalece a possibilidade, pois o direito ao silêncio, como 
direito fundamental que é, englobaria o direito de defesa do réu, que 
 
29 Súmula 705, STF: “A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestadas sem assistência do defensor, 
não impede o conhecimento da apelação

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