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Fisiologia e Crescimento Microbiano 95% do peso seco da célula 14/05/2013 22 As células procarióticas são compostas por água, macromoléculas, apresentando também uma menor quantidade de outros compostos orgânicos e íons. FISIOLOGIA BACTERIANA Quebra de compostos orgânicos complexos em compostos mais simples, com liberação de energia. Ex.: Degradação do açúcar. CATABOLISMO Construção de moléculas orgânicas complexas a partir de moléculas simples, com gasto de energia. Ex.: formação das proteínas. ANABOLISMO Todos os organismos vivos necessitam de compostos para sua nutrição, crescimento e multiplicação. Esses compostos são utilizados para a formação dos constituintes celulares e na obtenção de energia. VIAS ANABÓLICAS E CATABÓLICAS Dentro da célula bacteriana ocorrem reações químicas catalisadas por enzimas. O conjunto de transformações da matéria orgânica é denominado METABOLISMO e compreende basicamente dois processos: 114 Tortora, Funke & Case Reações catabólicas e anabólicas OBJETIVOS DO APRENDIZADO 5-1 Definir metabolismo e descrever as diferenças fundamentais entre anabolismo e catabolismo. 5-2 Identificar o papel do ATP como um intermediário entre catabolismo e anabolismo. Usamos o termo metabolismo para nos referirmos à soma de todas as reações químicas dentro de um organismo vivo. Como as reações químicas tanto liberam quanto requerem energia, o meta- bolismo pode ser visto como um ato de balanceamento de energia. Consequentemente, o metabolismo pode ser dividido em duas clas- ses de reações químicas: aquelas que liberam energia e aquelas que requerem energia. Nas células vivas, as reações químicas reguladas por enzimas que liberam energia geralmente são aquelas envolvidas no catabo- lismo, a quebra de compostos orgânicos complexos em compostos mais simples. Essas reações são chamadas de reações catabólicas ou degradativas. As reações catabólicas em geral são reações hi- drolíticas (reações que utilizam água e nas quais ligações químicas são quebradas) e são exergônicas (produzem mais energia do que consomem). Um exemplo de catabolismo ocorre quando as células quebram açúcares em dióxido de carbono e água. As reações reguladas por enzimas que requerem energia estão envolvidas principalmente no anabolismo, a construção de molé- culas orgânicas complexas a partir de moléculas mais simples. Es- sas reações são chamadas de reações anabólicas ou biossintéticas. Os processos anabólicos muitas vezes envolvem reações de síntese por desidratação (reações que liberam água) e são endergônicos (con- somem mais energia do que produzem). Exemplos de processos anabólicos são as formações de proteínas a partir de aminoácidos, de ácidos nucleicos a partir de nucleotídeos, e de polissacarídeos a partir de açúcares simples. Esses processos biossintéticos geram os materiais para o crescimento celular. As reações catabólicas fornecem os blocos construtivos para as reações anabólicas e a energia necessária para dirigi-las. Esse acoplamento de reações que requerem energia e liberam energia é possível pela molécula de trifosfato de adenosina (ATP) (você pode revisar essa estrutura na Figura 2.18, página 49). O ATP armazena a energia derivada de reações catabólicas e a libera posteriormente para dirigir as reações anabólicas ou realizar outros trabalhos celu- lares. Lembre-se do Capítulo 2 que uma molécula de ATP consiste em uma adenina, uma ribose e três grupos fosfato. Quando o grupo fosfato terminal é retirado do ATP, difosfato de adenosina (ADP) é formado, e a energia é liberada para dirigir as reações anabólicas. Usando para representar o grupo fosfato ( i representa o fosfato inorgânico, que não é ligado a nenhuma outra molécula), escreve- mos esta reação como segue: ATP → ADP + i + energia Então, a energia das reações catabólicas é utilizada para combi- nar ADP e um para re-sintetizar ATP: ADP + i + energia → ATP Assim, as reações anabólicas são acopladas à quebra do ATP, e as reações catabólicas são acopladas à síntese do ATP. Esse conceito de reações acopladas é muito importante; você verá porque no final deste capítulo. Por agora, você precisa saber que a composição quí- mica de uma célula viva está mudando constantemente; algumas moléculas são quebradas enquanto outras são sintetizadas. Esse flu- xo balanceado de compostos químicos e de energia mantém a vida de uma célula. O papel do ATP no acoplamento de reações anabólicas e ca- tabólicas é mostrado na Figura 5.1. Somente parte da energia li- berada no catabolismo está disponível para as funções celulares, pois parte da energia é perdida no ambiente como calor. Como uma célula precisa de energia para se manter viva, ela tem uma necessidade constante de novas fontes externas dessa energia. Antes de discutirmos como as células produzem energia, pri- meiro consideraremos as principais propriedades de um grupo de proteínas envolvidas em quase todas as reações biologicamente im- portantes: as enzimas. As vias metabólicas da célula (sequências de reações químicas) são determinadas por suas enzimas, que por sua vez são determinadas pela constituição genética da célula. TESTE SEU CONHECIMENTO 3 Diferencie catabolismo de anabolismo. 5-1 3 Como o ATP é um intermediário entre o catabolismo e o anabolismo? 5-2 Moléculas simples como glicose, aminoácidos, glicerol e ácidos graxos Reações catabólicas transferem energia de moléculas complexas para o ATP Calor liberado Calor liberado Moléculas complexas como o amido, proteínas e lipídios Reações anabólicas transferem energia do ATP para moléculas complexas ADP+ ATP P i Figura 5.1 O papel do ATP no acoplamento das reações anabóli- cas e catabólicas. Quando moléculas complexas são quebradas (catabo- lismo), parte da energia é transferida e captada no ATP, e o restante é liberado como calor. Quando moléculas simples são combinadas para formar moléculas complexas (anabolismo), o ATP fornece a energia para a síntese, e outra vez parte da energia é liberada como calor. P Que moléculas facilitam o acoplamento de reações catabólicas e anabó- licas? Tortora_05.indd 114 27/06/11 14:40 Microbiologia 125 Alternativas à glicólise Muitas bactérias têm outra via além da glicólise para oxidação da glicose. A alternativa mais comum é a via da pentose-fosfato; outra alternativa é a via de Entner-Doudoroff. A via da pentose-fosfato A via da pentose-fosfato (ou ciclo da hexose-monofosfato) fun- ciona simultaneamente com a glicólise e fornece um meio para a quebra de açúcares de cinco carbonos (pentoses), assim como a glicose. (Veja a Figura A.3 no Apêndice A para uma representa- 1 A glicólise produz ATP e reduz NAD+ a NADH enquanto oxida glicose em ácido pirúvico. Na respiração, o ácido pirúvico é convertido no primeiro reagente no ciclo de Krebs. 2 O ciclo de Krebs produz ATP e reduz NAD+ (e outro carreador de elétron chamado de FADH2) enquanto libera CO2. NADH e FADH2 de ambos os processos carregam elétrons até a cadeia de transporte de elétrons. 3 Na cadeia de transporte de elétrons, a energia dos elétrons é utilizada para produzir uma grande quantidade de ATP. Na fermentação, o ácido pirúvico e os elétrons carreados por NADH na glicólise são incorpora- dos nos produtos finais da fermentação. NADH Ácido pirúvico (ou derivado) Formação de produtos finais da fermentação Ciclo de Krebs ATP ATP ATP Acetil-CoA Cadeia de transporte de elétrons e quimiosmose H2O CO2 Glicólise Ácido pirúvico Glicose NADH NADH Elétrons FERMENTAÇÃORESPIRAÇÃO NADH O2 3 2 1 Conceito-chave Para produzir energia partir da glicose, os micro-organismos utilizam dois processos gerais: a respiraçãoe a fermentação. Ambos os processos normalmente iniciam com a glicólise, mas seguem vias diferentes posteriormente. Uma versão menor desta figura será incluída em outras figuras ao longo do capítulo para indicar as relações das diferentes reações com os processos gerais da respiração e da fermentação. FIGURA FUNDAMENTAL Figura 5.11 Visão geral da respiração e da fermentação Tortora_05.indd 125 11/07/11 14:09 118 Tortora, Funke & Case xíveis, e eles modificam um pouco a sua forma quando se encon- tram para se encaixarem mais firmemente. O substrato é em geral bem menor que a enzima, e relativamente poucos aminoácidos da enzima participam do sítio ativo. Um certo composto pode ser o substrato de muitas enzimas diferentes que catalisam reações diferentes, assim o destino de um composto depende da enzima que atua sobre ele. Pelo menos quatro enzimas diferentes podem atuar na glicose-6-fosfato, uma molécula importante no metabolismo celular, e cada reação produz um produto diferente. Fatores que influenciam a atividade enzimática As enzimas estão sujeitas a diversos controles celulares. Dois tipos principais são o controle da síntese enzimática (veja o Capítulo 8) e o controle da atividade enzimática (quanto da enzima está presente versus o quão ativa ela é). Muitos fatores influenciam a atividade de uma enzima. Entre os mais importantes estão a temperatura, o pH, a concentração do substrato e a presença ou a ausência de inibidores. Temperatura A velocidade da maioria das reações químicas aumenta com o aumento da temperatura. As moléculas movem-se mais lenta- mente em baixas temperaturas do que em altas temperaturas e então podem não ter energia suficiente para causar uma reação química. Para as reações enzimáticas, contudo, uma elevação aci- ma de certa temperatura (a temperatura ótima) reduz drastica- mente a velocidade da reação (Figura 5.5a). A temperatura ótima para a maioria das bactérias que produzem doenças no corpo humano é entre 35 e 40 ºC. A velocidade da reação declina acima da temperatura ótima devido à desnaturação enzimática, a per- da de sua estrutura tridimensional característica (configuração Substrato Enzima Complexo enzima-substrato Produtos 1 2 (b) (a) 3 5 4 Enzima Substrato Substrato Sítio ativo Figura 5.4 O mecanismo da ação enzimática. (a) O substrato entra em contato com o sítio ativo na enzima para formar o complexo enzima-substrato. O substrato é então transfor- mado em produtos, os produtos são liberados e a enzima é recuperada inalterada. No exemplo apresentado, a transformação em produtos envolve a quebra do substrato em dois produtos. Outras transformações, contudo, podem ocorrer. (b) Esquerda: um modelo molecular de uma enzima na etapa da parte (a). O sítio ativo da enzima pode ser visto aqui como uma ranhura na superfície da proteína. Direita: como a enzima e o substrato encontram-se na etapa da parte (a), a enzima muda ligeiramente de forma para se ajustar mais firmemente ao substrato. P Qual a função das enzimas em um organismo vivo? Tortora_05.indd 118 27/06/11 14:40 ENZIMAS ENZIMAS Microbiologia 115 Enzimas OBJETIVOS DO APRENDIZADO 5-3 Identificar os componentes de uma enzima. 5-4 Descrever o mecanismo da ação enzimática. 5-5 Listar os fatores que influenciam a atividade enzimática. 5-6 Diferenciar inibição competitiva e não competitiva. 5-7 Definir ribozima. Teoria de colisão Indicamos no Capítulo 2 que as reações químicas ocorrem quan- do ligações químicas são formadas ou quebradas. Para as reações ocorrerem, átomos, íons ou moléculas devem colidir. A teoria de colisão explica como as reações químicas ocorrem e como certos fatores afetam a taxa dessas reações. A base da teoria de colisão é que todos os átomos, íons e moléculas estão em movimento cons- tante e que, portanto, colidem constantemente uns com os outros. A energia transferida pelas partículas na colisão pode romper suas estruturas eletrônicas o suficiente para quebrar as ligações químicas ou formar novas ligações. Diversos fatores determinam se uma colisão irá causar uma reação química: a velocidade das partículas colidindo, sua energia e suas configurações químicas específicas. Até certo ponto, quanto mais velozes as partículas estiverem, maior é a probabilidade de que sua colisão provoque uma reação. Além disso, cada reação quími- ca requer um nível específico de energia. Contudo, mesmo que as partículas em colisão tenham a energia mínima necessária para a reação, nenhuma reação ocorrerá a menos que as partículas este- jam corretamente orientadas uma em relação à outra. Vamos presumir que moléculas da substância AB (o reagente) serão convertidas em moléculas das substâncias A e B (os produ- tos). Em uma dada população de moléculas da substância AB, em uma temperatura específica, algumas moléculas têm relativamente pouca energia; a maioria da população tem uma quantidade média de energia; e uma pequena parcela da população tem alta energia. Se apenas as moléculas AB de alta energia forem capazes de reagir para serem convertidas em moléculas A e B, então somente uma quantidade pequena de moléculas possui energia suficiente para reagir em uma colisão em um determinado momento. A energia de colisão requerida para uma reação química é sua energia de ativa- ção, que é a quantidade de energia necessária para romper a estabi- lidade da configuração eletrônica de qualquer molécula específica para que os elétrons possam ser reorganizados. A taxa de reação – a frequência das colisões contendo energia suficiente para que a reação aconteça – depende do número de mo- léculas reagentes que estejam no nível da energia de ativação ou aci- ma dela. Uma maneira de aumentar a taxa de reação de uma subs- tância é elevar sua temperatura. Ao fazer as moléculas se moverem mais rapidamente, o calor aumenta tanto a frequência das colisões quanto o número de moléculas que atingem o nível da energia de ativação. O número de colisões também aumenta quando a pressão é aumentada ou quando os reagentes estão mais concentrados (pois a distância entre as moléculas é, dessa forma, reduzida). Nos sis- temas vivos, as enzimas aumentam a taxa de reação sem elevar a temperatura. Enzimas e reações químicas As substâncias que podem acelerar uma reação química sem que ela seja alterada são chamadas de catalisadores. Nas células vivas, as enzimas servem de catalisadores biológicos. Como catalisado- res, as enzimas são específicas. Cada uma atua em uma substância específica, chamada de substrato da enzima (ou substratos, quan- do há dois ou mais reagentes), e cada uma catalisa apenas uma reação. Por exemplo, a sacarose (açúcar de mesa) é o substrato da enzima sacarase, que catalisa a hidrólise da sacarose para glicose e frutose. Como catalisadores, as enzimas tipicamente aceleram as rea- ções químicas. A molécula tridimensional da enzima tem um sítio ativo, uma região que interage com uma substância química especí- fica (veja a Figura 5.4 na página 118). A enzima orienta o substrato para uma posição que aumente a probabilidade de uma reação. O complexo enzima-substrato for- mado pela ligação temporária da enzima com os reagentes permite que as colisões sejam mais eficientes e diminui a energia de ativação da reação (Figura 5.2). A enzima, dessa forma, acelera a reação ao aumentar o número de moléculas AB que atingem a energia de ati- vação necessária para que haja uma reação. A capacidade da enzima de acelerar uma reação sem a necessi- dade de elevar a temperatura é crucial para os sistemas vivos, por- que um aumento significativo da temperatura poderia destruir as proteínas celulares. A função crucial das enzimas, portanto, é acele- rar as reações bioquímicas a uma temperatura que seja compatível com o funcionamento normalda célula. Nível de energia inicial Nível de energia final Reação sem enzima Reagente Produtos Energia de ativação com enzima Energia de ativação sem enzima Reação com enzima A B A B Figura 5.2 Energia necessária para uma reação química. Esse grá- fico mostra o progresso da reação AB → A + B sem (linha azul) e com (linha vermelha) uma enzima. A presença de uma enzima reduz a energia de ativação da reação (veja as setas). Portanto, mais moléculas do reagente AB são con- vertidas nos produtos A e B uma vez que mais moléculas do reagente AB têm a energia de ativação necessária para a reação. P Como as enzimas aceleram as reações químicas? Tortora_05.indd 115 27/06/11 14:40 Crescimento Microbiano CRESCIMENTO MICROBIANO Fissão Binária - Aumento no número de indivíduos e não o aumento de tamanho de uma determinada célula bacteriana. CRESCIMENTO MICROBIANO - Por que é importante estudar o crescimento dos microrganismos? - Isolar e identificar os agentes causadores de doenças infecciosas - Desenvolvimento de agentes antimicrobianos - Preservação dos alimentos - Estudo da Bioquímica, Genética, Biotecnologia 1. Crescimento DIVISÃO BACTERIANA - Refere-se ao aumento da quantidade de microrganismos e não do tamanho celular. - Fissão Binária: 1. Alongamento de célula e duplicação do DNA cromossomal 2. Invaginação da parede celular e membrana plasmática 3. Migração de cada DNA cromossomal para extremidades 4. Encontro com a parede celular de um extremo a outro 5. Divisão em duas células idênticas. CRESCIMENTO MICROBIANO Microbiologia 171 Crescimento de culturas bacterianas OBJETIVOS DO APRENDIZADO 6-14 Definir crescimento bacteriano, incluindo fissão binária. 6-15 Comparar as fases do crescimento microbiano e descrever sua relação com o tempo de geração. 6-16 Explicar quatro métodos diretos de medida do crescimento celular. 6-17 Diferenciar métodos diretos e indiretos na determinação do crescimento celular. 6-18 Explicar três métodos indiretos de medida do crescimento celular. A possibilidade de representar graficamente as enormes popula- ções resultantes do crescimento de culturas bacterianas é uma par- te essencial da microbiologia. A determinação das quantidades de micro-organismos tanto diretamente, por contagem, quanto indi- retamente, pela medida de sua atividade metabólica, também é um aspecto importante da microbiologia. Divisão bacteriana Como mencionado no início do capítulo, o crescimento bacteriano se refere ao aumento do número de bactérias e não a um aumento no tamanho das células individuais. As bactérias normalmente se reproduzem por fissão binária (Figura 6.12). Algumas espécies bacterianas se reproduzem por brotamen- to; elas formam uma pequena região inicial de crescimento (o broto), que vai se alargando até atingir um tamanho similar ao da célula parental, e então se separam dela. Algumas bactérias fila- mentosas (certos actinomicetes) se reproduzem pela produção de cadeias de conidiósporos carreados externamente na ponta dos filamentos. Algumas espécies simplesmente se fragmentam, e os fragmentos iniciam o crescimento de novas células. Tempo de geração Para o cálculo do tempo de geração das bactérias, consideraremos somente a reprodução por divisão binária, que é o método mais comum. Como pode ser analisado na Figura 6.13, a divisão de uma célula produz duas células, a divisão dessas duas células produz quatro células, e assim por diante. Quando o número de células em cada geração é expresso na potência de 2, o expoente reflete o nú- mero de duplicações (gerações) que ocorreram. O tempo necessário para uma célula se dividir (e sua popu- lação duplicar) é chamado de tempo de geração. Ele varia consi- deravelmente entre os organismos e com as condições ambientais, como a temperatura. A maioria das bactérias tem um tempo de ge- ração de 1 a 3 horas; outras requerem mais de 24 horas por geração. (O método matemático para calcular os tempos de geração é apre- sentado no Apêndice B.) Se a fissão binária não é controlada, uma grande quantidade de células será produzida. Se a divisão ocorre a cada 20 minutos, que é o caso da E. coli em condições favorá- veis, após 20 gerações, uma única célula inicial poderá ter gerado mais de um milhão de células. Esse aumento ocorrerá em cerca de 7 horas. Em 30 gerações, ou 10 horas, a população poderá ser de um bilhão, tendo atingindo um número com 21 zeros em 24 horas. É difícil de representar graficamente variações de populações tão grandes utilizando números aritméticos. Essa é a razão pela qual escalas logarítmicas em geral são utilizadas para representar grafi- camente o crescimento bacteriano. A compreensão das representa- ções logarítmicas de populações bacterianas requer conhecimento em matemática, que é fundamental para os microbiologistas (veja o Apêndice B). Representação logarítmica das populações bacterianas Para ilustrar a diferença entre representação gráfica logarítmica e aritmética de populações bacterianas, analisaremos 20 gerações bacterianas. Em cinco gerações (25), haverá 32 células; em dez gera- Parede celular Membrana plasmática (a) Diagrama da sequência da divisão celular. (b) Secção ultrafina da célula de Bacillus licheniformis iniciando sua divisão. Parede celular DNA (nucleoide) Parede intermediária parcialmente formada DNA (nucleoide) µ1,0 m 1 A célula se alonga e o DNA é replicado. 2 A parede celular e a membrana plasmática começam a se dividir. 3 Paredes interme- diárias se formam, separando completamente as duas cópias de DNA. 4 As células se separam. MET Figura 6.12 Fissão binária em bactéria. P Todas as bactérias se reproduzem por fissão binária? Tortora_06.indd 171 27/06/11 14:40 Microbiologia 171 Crescimento de culturas bacterianas OBJETIVOS DO APRENDIZADO 6-14 Definir crescimento bacteriano, incluindo fissão binária. 6-15 Comparar as fases do crescimento microbiano e descrever sua relação com o tempo de geração. 6-16 Explicar quatro métodos diretos de medida do crescimento celular. 6-17 Diferenciar métodos diretos e indiretos na determinação do crescimento celular. 6-18 Explicar três métodos indiretos de medida do crescimento celular. A possibilidade de representar graficamente as enormes popula- ções resultantes do crescimento de culturas bacterianas é uma par- te essencial da microbiologia. A determinação das quantidades de micro-organismos tanto diretamente, por contagem, quanto indi- retamente, pela medida de sua atividade metabólica, também é um aspecto importante da microbiologia. Divisão bacteriana Como mencionado no início do capítulo, o crescimento bacteriano se refere ao aumento do número de bactérias e não a um aumento no tamanho das células individuais. As bactérias normalmente se reproduzem por fissão binária (Figura 6.12). Algumas espécies bacterianas se reproduzem por brotamen- to; elas formam uma pequena região inicial de crescimento (o broto), que vai se alargando até atingir um tamanho similar ao da célula parental, e então se separam dela. Algumas bactérias fila- mentosas (certos actinomicetes) se reproduzem pela produção de cadeias de conidiósporos carreados externamente na ponta dos filamentos. Algumas espécies simplesmente se fragmentam, e os fragmentos iniciam o crescimento de novas células. Tempo de geração Para o cálculo do tempo de geração das bactérias, consideraremos somente a reprodução por divisão binária, que é o método mais comum. Como pode ser analisado na Figura 6.13, a divisão de uma célula produz duas células, a divisão dessas duas células produz quatro células, e assim por diante. Quando o número de células em cada geração é expresso na potênciade 2, o expoente reflete o nú- mero de duplicações (gerações) que ocorreram. O tempo necessário para uma célula se dividir (e sua popu- lação duplicar) é chamado de tempo de geração. Ele varia consi- deravelmente entre os organismos e com as condições ambientais, como a temperatura. A maioria das bactérias tem um tempo de ge- ração de 1 a 3 horas; outras requerem mais de 24 horas por geração. (O método matemático para calcular os tempos de geração é apre- sentado no Apêndice B.) Se a fissão binária não é controlada, uma grande quantidade de células será produzida. Se a divisão ocorre a cada 20 minutos, que é o caso da E. coli em condições favorá- veis, após 20 gerações, uma única célula inicial poderá ter gerado mais de um milhão de células. Esse aumento ocorrerá em cerca de 7 horas. Em 30 gerações, ou 10 horas, a população poderá ser de um bilhão, tendo atingindo um número com 21 zeros em 24 horas. É difícil de representar graficamente variações de populações tão grandes utilizando números aritméticos. Essa é a razão pela qual escalas logarítmicas em geral são utilizadas para representar grafi- camente o crescimento bacteriano. A compreensão das representa- ções logarítmicas de populações bacterianas requer conhecimento em matemática, que é fundamental para os microbiologistas (veja o Apêndice B). Representação logarítmica das populações bacterianas Para ilustrar a diferença entre representação gráfica logarítmica e aritmética de populações bacterianas, analisaremos 20 gerações bacterianas. Em cinco gerações (25), haverá 32 células; em dez gera- Parede celular Membrana plasmática (a) Diagrama da sequência da divisão celular. (b) Secção ultrafina da célula de Bacillus licheniformis iniciando sua divisão. Parede celular DNA (nucleoide) Parede intermediária parcialmente formada DNA (nucleoide) µ1,0 m 1 A célula se alonga e o DNA é replicado. 2 A parede celular e a membrana plasmática começam a se dividir. 3 Paredes interme- diárias se formam, separando completamente as duas cópias de DNA. 4 As células se separam. MET Figura 6.12 Fissão binária em bactéria. P Todas as bactérias se reproduzem por fissão binária? Tortora_06.indd 171 27/06/11 14:40 CRESCIMENTO MICROBIANO TEMPO DE GERAÇÃO - É o tempo necessário para uma célula se dividir e sua população dobrar de tamanho. - Tempo varia de acordo com o microrganismo; - Depende de condições ambientais (condições químicas e físicas) - A maioria das bactérias: 1 a 3 horas - A maioria dos fungos: 1 a 15 dias As bactérias se proliferam por divisão binária em duas equivalentes - Como as bactérias se multiplicam? 1 2 Tempo de Geração 1. Introdução 1 2 20min 4 8 X= x0.2n Onde, n= número de gerações X0= número de bactérias X= 1.23 20min 20min Exercícios - O tempo de geração de E. coli é de 20 minutos. Considerando que uma única célula tenha iniciado infeccão, quantas células bacterianas terão após 1 hora de infecção? R: Em 1 hora (60 min) teremos 3 gerações (n= 3) Então: X= xo.2n X= 1.23 X= 8 1 hora R: Em 2 horas (120 min) teremos 6 gerações (n= 6) Então: X= xo.2n X= 1.26 X= 64 2 horas - E após 2 horas de cultivo? Microbiologia 173 A fase lag Durante um certo tempo, o número de células muda pouco, pois elas não se reproduzem imediatamente em um novo meio. Esse período de pouca ou nenhuma divisão é chamado de fase lag, podendo durar de uma hora a vários dias. Durante esse tempo, contudo, as células não estão dormentes. A população microbiana passa por um período de intensa atividade metabólica, envolven- do principalmente a síntese de enzimas e várias moléculas. (A si- tuação é análoga a uma usina sendo equipada para produzir auto- móveis, ou seja, há atividade de preparação, mas não há produção imediata de automóvel.) A fase log Finalmente, as células começam a se dividir e entram em um pe- ríodo de crescimento, ou aumento logarítmico, chamado de fase log ou fase exponencial de crescimento. A reprodução celular é mais ativa durante esse período, e o tempo de geração atinge um valor constante. Como o tempo de geração é constante, uma repre- sentação logarítmica do crescimento durante a fase log gera uma linha reta. A fase log é o momento de maior atividade metabólica, sendo o preferido para fins industriais, pois o produto precisa ser produzido de maneira eficiente. A fase estacionária Se a fase de crescimento continua sem controle, ocorre a formação de um grande número de células. Por exemplo, uma única bactéria (com peso de 9,5 x 10-13g por célula) se dividindo a cada 20 minutos por somente 25,5 horas pode teoricamente produzir uma popula- ção equivalente em peso a de um avião de carga de 80.000 tonela- das. Na realidade, isso não ocorre. No final do crescimento, a velo- cidade de reprodução se reduz, o número de mortes microbianas é equivalente ao número de células novas, e a população se estabiliza. Esse período de equilíbrio é chamado de fase estacionária. A causa da interrupção do crescimento exponencial não é sem- pre clara. O esgotamento dos nutrientes, o acúmulo de resíduos e mudanças no pH danosas à célula podem ser os motivos. Conceito-chave As populações bacterianas seguem uma série de fases de crescimento: as fases lag, log, estacionária e de morte celular. 0 5 Tempo (h) 10L og d o nú m er o de b ac té ria s 1 2 Fase lag Fase log Fase estacionária Fase de morte celular 3 4 Intensa atividade de preparação para o crescimento populacional, mas sem aumento da população. 1 2 3Aumento logarítmico ou exponencial da população. Período de equilíbrio; as mortes microbianas são equilibradas pela produção de novas células. A população se reduz em uma taxa logarítmica. 4 O conceito da curva de crescimento bacteriano é fundamental para entendermos a dinâmica das populações e o controle durante, por exemplo, a preservação ou a deterioração de alimentos, a microbiologia industrial, como a produção de etanol, e o curso e o tratamento de doenças infecciosas. FIGURA FUNDAMENTAL Figura 6.15 A curva de crescimento bacteriano Tortora_06.indd 173 27/06/11 14:40 A D B C Fases da Curva de Crescimento de bactérias: - Fase Lag - Fase Estacionária - Fase Exponencial ou Logaritmica (Log) - Fase de Declínio A C B D X= xo.2n CURVA DE CRESCIMENTO MICROBIANO CRESCIMENTO BACTERIANO FASES DA CURVA DE CRESCIMENTO (A) Fase LAG: Pouca ou nenhuma divisão celular. Há aumento de tamanho. Fase de adaptação, estado de latência com intensa atividade metabólica. (B) Fase LOG ou Exponencial: Início da divisão, crescimento logarítmico, rápido e constante. (C) Fase Estacionária: Velocidade de crescimento diminui. Atividade Metabólica diminui No. células vivas = No. células mortas (D) Fase de Declínio ou Morte: O número de células mortas excede o número de novas células. CRESCIMENTO BACTERIANO - FATORES ENVOLVIDOS - Fatores Químicos: - Nutrientes (fontes de carbono e nitrogênio) - Minerais - Compostos orgânicos - Água - O2 - Fatores Físicos: - Temperatura - Pressão osmótica (concentração de sal) - pH FATORES FÍSICOS - TEMPERATURA - A maioria dos microrganismos cresce bem nas temperaturas ideais para os seres humanos. - To de crescimento mínimo: capaz de crescer, mesmo lentamente. - To de crescimento ótima: apresenta melhor e rápido crescimento. - To de crescimento máximo: ainda é possível o crescimento bacterianoFATORES FÍSICOS - TEMPERATURA CLASSIFICAÇÃO POR TEMPERATURA CLASSIFICAÇÃO POR TEMPERATURA 158 Tortora, Funke & Case A refrigeração é o método mais comum de preservação dos alimentos. Esse método tem como base o princípio de que as ve- locidades de reprodução microbiana decrescem em baixas tem- peraturas. Embora os micro-organismos sobrevivam mesmo em temperaturas próximas do congelamento (podem ficar totalmente dormentes), eles gradualmente diminuem seu número. Algumas espécies diminuem mais rapidamente que outras. Os psicrotró- ficos na realidade não crescem bem em temperaturas baixas, ex- ceto quando comparados com outros micro-organismos; contu- do, em um determinado período, eles são capazes de deteriorar lentamente o alimento. Essa deterioração pode tomar a forma de micélio fúngico, limo na superfície do alimento ou alterações de sabor ou cor nos alimentos. A temperatura dentro de um refrige- rador bem ajustado retardará muito o crescimento da maioria dos organismos deteriorantes, impedindo totalmente o crescimento da maior parte das bactérias patogênicas. A Figura 6.2 ilustra a im- portância das temperaturas baixas para impedir o crescimento de organismos deteriorantes e patogênicos. Quando grandes quan- tidades de alimentos devem ser refrigeradas, é importante con- siderar que esses alimentos serão refrigerados e uma velocidade bastante lenta (Figura 6.3). Os mesófilos, com uma temperatura ótima de crescimento de 25 a 40°C, são os micro-organismos mais comuns. Os organismos que se adaptaram a viver dentro dos corpos de animais geralmen- te têm uma temperatura ótima próxima daquela de seus hospedei- ros. A temperatura ótima para a maioria das bactérias patogênicas é de cerca de 37°C, e as estufas para culturas clínicas em geral são ajustadas nessa temperatura. Os mesófilos incluem a maioria dos organismos deteriorantes e patogênicos. Os termófilos são micro-organismos capazes de crescer a tem- peraturas altas. Muitos desses organismos têm uma temperatura ótima de crescimento de 50 a 60°C, a temperatura da água que sai de uma torneira de água quente. Essas temperaturas também podem ser encontradas no solo exposto ao sol e em águas termais. De maneira extraordinária, muitos termófilos não podem crescer em temperaturas abaixo de 45°C. Os endofilosporos formados por bactérias termófilas são anormalmente resistentes à temperatura e podem sobreviver ao tratamento térmico aplicado aos alimentos enlatados. Embora temperaturas elevadas de estocagem possam causar a germinação e o crescimento desses endosporos, levando à deterioração do alimento, essas bactérias termófilas não são consi- deradas um problema de saúde pública. Os termófilos são impor- tantes em compostos orgânicos acumulados (veja a Figura 27.10), nos quais a temperatura pode subir rapidamente para 50 a 60°C. Alguns micro-organismos membros das Arquibactérias (pági- na 4) têm uma temperatura ótima de crescimento de 80°C ou mais. Esses organismos são chamados de hipertermófilos ou, algumas vezes, termófilos extremos. A maioria desses organismos vive em fontes de água quente associadas à atividade vulcânica; o enxofre normalmente é importante na sua atividade metabólica. A tempe- ratura mais alta conhecida para crescimento bacteriano e replica- ção é de cerca de 121°C perto de chaminés hidrotermais abissais. A enorme pressão nas profundezas dos oceanos evita que a água ferva mesmo em temperaturas bem acima de 100°C. Figura 6.2 Temperaturas de preservação de alimentos. As baixas temperaturas reduzem as velocidades de reprodução microbiana, sendo esse o princípio básico da refrigeração. Sempre há alguma exceção para as respostas às temperaturas mostradas aqui; por exemplo, certas bactérias crescem bem em temperaturas que matariam a maioria das bactérias, e algumas podem na realidade viver em temperaturas bem abaixo do nível de congelamento. P Qual bactéria teoricamente teria mais probabi- lidade de crescer na temperatura de um refri- gerador: um patógeno humano intestinal ou um patógeno de plantas transmitido pelo solo? °F °C Temperaturas nessa faixa destroem a maioria dos micro-organismos, embora as temperaturas mais baixas necessitem de mais tempo para destruí-los Crescimento bacteriano muito lento Muitas bactérias sobrevivem; algumas podem crescer Temperaturas de refrigerador; podem permitir o crescimento lento de bactérias deteriorantes e de alguns patógenos Sem crescimento significativo abaixo do ponto de congelamento Crescimento rápido das bactérias; algumas podem produzir toxinas 260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 –20 130 –30 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 –10 –20 Zona de perigo Tortora_06.indd 158 27/06/11 14:40 CLASSIFICAÇÃO POR TEMPERATURA Microbiologia 159 pH Como descrito no Capítulo 2 (página 35), pH se refere à acidez ou alcalinidade de uma solução. A maioria das bactérias cresce melhor em uma faixa estreita de pH perto da neutralidade, entre pH 6,5 e 7,5. Poucas bactérias crescem em um pH ácido abaixo de 4. Essa é a razão pela qual muitos alimentos como o chucrute, os picles e muitos queijos são protegidos da deterioração pelos áci- dos produzidos pela fermentação bacteriana. No entanto, algumas bactérias, chamadas de acidófilas, são resistentes à acidez. Um tipo de bactéria quimioautotrófica, encontrada na água de drena- gem das minas de carvão e que oxida enxofre para formar ácido sulfúrico, pode sobreviver em pH 1. Os fungos e as leveduras cres- cem em uma faixa maior de pH que as bactérias, mas o pH ótimo dos fungos e das leveduras geralmente é menor que o bacteriano, entre pH 5 e 6. A alcalinidade também inibe o crescimento mi- crobiano, mas raramente é utilizada para preservar os alimentos. Quando bactérias são cultivadas no laboratório, elas com fre- quência produzem ácidos que algumas vezes interferem com o seu próprio crescimento. Para neutralizar os ácidos e manter o pH apropriado, tampões químicos são incluídos no meio de cultura. As peptonas e os aminoácidos atuam como tampões em alguns meios, e muitos meios também contêm sais de fosfato. Os sais de fosfato têm a vantagem de exibir o seu efeito de tampão na faixa de pH de crescimento da maioria das bactérias. Eles também não são tóxicos; de fato, eles fornecem fósforo, um nutriente essencial. Pressão osmótica Os micro-organismos obtêm a maioria dos seus nutrientes da água presente no seu meio ambiente. Portanto, eles requerem água para seu crescimento, sendo que sua composição é de 80 a 90% de água. Pressões osmóticas elevadas têm como efeito remover a água ne- cessária para a célula. Quando uma célula microbiana está em uma solução cuja concentração de solutos é mais elevada que dentro da célula (o ambiente é hipertônico), a água atravessa a membrana ce- lular para o meio com a concentração mais elevada de soluto. (Veja a discussão sobre osmose no Capítulo 4, páginas 92 a 94, e a Figura 4.18 para os três tipos de soluções ambientais que uma célula pode encontrar.) Essa perda osmótica de água causa uma plasmólise, ou encolhimento do citoplasma celular (Figura 6.4) A importância desse fenômeno é que o crescimento da célula é inibido assim que a membrana plasmática se separa da parede celu- lar. Portanto, a adição de sais (ou outros solutos) em uma solução, e o aumento resultante na pressão osmótica, pode ser utilizada para preservar alimentos. Peixe salgado, mel e leite condensado são pre- servados por esse mecanismo, sendo que as concentrações elevadas de sal ou açúcar removem a água fora de qualquer célula microbia- na presente e consequentemente impedem seu crescimento. Esses efeitos da pressão osmótica estão em parte relacionados com o nú- mero de moléculas e íons dissolvidos em um volume de solução. Algunsmicro-organismos, chamados de halófilos extremos, são tão adaptados a concentrações elevadas de sais que acabam de fato requerendo sua presença para que ocorra seu crescimento. Nesse caso, eles podem ser denominados halófilos obrigatórios. Os organismos de águas salinas como o Mar Morto requerem fre- quentemente cerca de 30% de sal, e a alça de inoculação (equipa- mento usado no laboratório para manipulação de bactérias) uti- lizada para transferência deve ser mergulhada em uma solução saturada de sal. Mais comuns são os halófilos facultativos, que não requerem concentrações elevadas de sal, mas são capazes de crescer em concentrações de até 2% de sal, o que inibe o crescimento de muitos organismos. Algumas espécies de halófilos facultativos po- dem tolerar mesmo 15% de sal. A maioria dos micro-organismos, contudo, deve ser cultivada em meio constituído quase que somente de água. Por exemplo, a concentração de ágar (um polissacarídeo complexo isolado de uma alga marina) utilizada para solidificar os meios de cultura normal- mente é de cerca de 1,5%. Se concentrações bem mais altas são uti- lizadas, a pressão osmótica aumentada pode inibir o crescimento de algumas bactérias. Se a pressão osmótica é anormalmente baixa (o ambiente é hi- potônico) – tal como na água destilada, por exemplo – a água tende a entrar na célula em vez de sair. Alguns micro-organismos que têm Figura 6.3 Efeito da quantidade de ali- mento em relação à velocidade de resfria- mento e sua probabilidade de deterioração em um refrigerador. Observe neste exemplo que a panela de arroz com uma profundidade de 5 cm resfriou na faixa de temperatura de incubação de Bacillus cereus em cerca de 1 hora, enquanto uma panela de arroz com uma profundidade de 15 cm se manteve nessa temperatura durante cerca de 5 horas. P Considerando uma panela rasa e um pote fundo com o mesmo volume, qual vai resfriar mais rápido? 80 70 60 50 40 30 20 10 0 –10 1 2 3 4 5 6 7 8 Horas Te m pe ra tu ra (° C) 15 cm de profundidade 5 cm de profundidade Faixa aproximada de temperatura na qual Bacillus cereus se multiplica no arroz. 43°C 15°C Ar do refrigerador 0 Tortora_06.indd 159 27/06/11 14:40 Microbiologia 159 pH Como descrito no Capítulo 2 (página 35), pH se refere à acidez ou alcalinidade de uma solução. A maioria das bactérias cresce melhor em uma faixa estreita de pH perto da neutralidade, entre pH 6,5 e 7,5. Poucas bactérias crescem em um pH ácido abaixo de 4. Essa é a razão pela qual muitos alimentos como o chucrute, os picles e muitos queijos são protegidos da deterioração pelos áci- dos produzidos pela fermentação bacteriana. No entanto, algumas bactérias, chamadas de acidófilas, são resistentes à acidez. Um tipo de bactéria quimioautotrófica, encontrada na água de drena- gem das minas de carvão e que oxida enxofre para formar ácido sulfúrico, pode sobreviver em pH 1. Os fungos e as leveduras cres- cem em uma faixa maior de pH que as bactérias, mas o pH ótimo dos fungos e das leveduras geralmente é menor que o bacteriano, entre pH 5 e 6. A alcalinidade também inibe o crescimento mi- crobiano, mas raramente é utilizada para preservar os alimentos. Quando bactérias são cultivadas no laboratório, elas com fre- quência produzem ácidos que algumas vezes interferem com o seu próprio crescimento. Para neutralizar os ácidos e manter o pH apropriado, tampões químicos são incluídos no meio de cultura. As peptonas e os aminoácidos atuam como tampões em alguns meios, e muitos meios também contêm sais de fosfato. Os sais de fosfato têm a vantagem de exibir o seu efeito de tampão na faixa de pH de crescimento da maioria das bactérias. Eles também não são tóxicos; de fato, eles fornecem fósforo, um nutriente essencial. Pressão osmótica Os micro-organismos obtêm a maioria dos seus nutrientes da água presente no seu meio ambiente. Portanto, eles requerem água para seu crescimento, sendo que sua composição é de 80 a 90% de água. Pressões osmóticas elevadas têm como efeito remover a água ne- cessária para a célula. Quando uma célula microbiana está em uma solução cuja concentração de solutos é mais elevada que dentro da célula (o ambiente é hipertônico), a água atravessa a membrana ce- lular para o meio com a concentração mais elevada de soluto. (Veja a discussão sobre osmose no Capítulo 4, páginas 92 a 94, e a Figura 4.18 para os três tipos de soluções ambientais que uma célula pode encontrar.) Essa perda osmótica de água causa uma plasmólise, ou encolhimento do citoplasma celular (Figura 6.4) A importância desse fenômeno é que o crescimento da célula é inibido assim que a membrana plasmática se separa da parede celu- lar. Portanto, a adição de sais (ou outros solutos) em uma solução, e o aumento resultante na pressão osmótica, pode ser utilizada para preservar alimentos. Peixe salgado, mel e leite condensado são pre- servados por esse mecanismo, sendo que as concentrações elevadas de sal ou açúcar removem a água fora de qualquer célula microbia- na presente e consequentemente impedem seu crescimento. Esses efeitos da pressão osmótica estão em parte relacionados com o nú- mero de moléculas e íons dissolvidos em um volume de solução. Alguns micro-organismos, chamados de halófilos extremos, são tão adaptados a concentrações elevadas de sais que acabam de fato requerendo sua presença para que ocorra seu crescimento. Nesse caso, eles podem ser denominados halófilos obrigatórios. Os organismos de águas salinas como o Mar Morto requerem fre- quentemente cerca de 30% de sal, e a alça de inoculação (equipa- mento usado no laboratório para manipulação de bactérias) uti- lizada para transferência deve ser mergulhada em uma solução saturada de sal. Mais comuns são os halófilos facultativos, que não requerem concentrações elevadas de sal, mas são capazes de crescer em concentrações de até 2% de sal, o que inibe o crescimento de muitos organismos. Algumas espécies de halófilos facultativos po- dem tolerar mesmo 15% de sal. A maioria dos micro-organismos, contudo, deve ser cultivada em meio constituído quase que somente de água. Por exemplo, a concentração de ágar (um polissacarídeo complexo isolado de uma alga marina) utilizada para solidificar os meios de cultura normal- mente é de cerca de 1,5%. Se concentrações bem mais altas são uti- lizadas, a pressão osmótica aumentada pode inibir o crescimento de algumas bactérias. Se a pressão osmótica é anormalmente baixa (o ambiente é hi- potônico) – tal como na água destilada, por exemplo – a água tende a entrar na célula em vez de sair. Alguns micro-organismos que têm Figura 6.3 Efeito da quantidade de ali- mento em relação à velocidade de resfria- mento e sua probabilidade de deterioração em um refrigerador. Observe neste exemplo que a panela de arroz com uma profundidade de 5 cm resfriou na faixa de temperatura de incubação de Bacillus cereus em cerca de 1 hora, enquanto uma panela de arroz com uma profundidade de 15 cm se manteve nessa temperatura durante cerca de 5 horas. P Considerando uma panela rasa e um pote fundo com o mesmo volume, qual vai resfriar mais rápido? 80 70 60 50 40 30 20 10 0 –10 1 2 3 4 5 6 7 8 Horas Te m pe ra tu ra (° C) 15 cm de profundidade 5 cm de profundidade Faixa aproximada de temperatura na qual Bacillus cereus se multiplica no arroz. 43°C 15°C Ar do refrigerador 0 Tortora_06.indd 159 27/06/11 14:40 FATORES FÍSICOS - pH - Maioria dos microrganismos cresce melhor em torno de pH 6,5 – 7,5 - Poucas bactérias são capazes de crescer em pH ácido (como pH 4,0) - Bactérias: faixa entre pH 7,0 - Fungos: Tendem a ser mais acidófilos que as bactérias (pH <5). ACIDÓFILAS NEUTRÓFILAS ALCALÓFILAS CLASSIFICAÇÃOPOR pH Helicobacter pylori e pH FATORES FÍSICOS PRESSÃO OSMÓTICA x CONCENTRAÇÃO DE NaCl (sal) - Não Halófilos: não necessitam de sal (NaCl) e não toleram sua presença no meio. - Halotolerantes: não necessitam de NaCl, mas toleram a presença no meio. - Halófilos extremos: necessitam de NaCl em altas concentrações. - Halófilos: necessitam de sal em uma concentração moderada. FATORES FÍSICOS - PRESSÃO OSMÓTICA x CONCENTRAÇÃO DE NaCl (sal) FATORES FÍSICOS - ÁREA DE ALIMENTOS - Adição de sais: Plasmólise (Crescimento bacteriano é inibido pela separação da parede celular e da membrana plasmática) Preservação de alimentos (peixe salgado, mel e leite condensado) Alta concentração de sal ou açúcar OXIGÊNIO (O2) FATORES QUÍMICOS Microbiologia 161 Oxigênio Estamos acostumados a pensar no oxigênio molecular (O2) como um elemento necessário à vida, mas em algumas circunstâncias esse elemento pode se tornar um gás venenoso. Houve pouco oxi- gênio molecular na atmosfera durante a maior parte da história da Terra – na realidade, é possível que a vida não tivesse surgido se houvesse oxigênio. Contudo, muitas formas comuns de vida têm sistemas metabólicos que requerem oxigênio para a respiração ae- róbica. Como vimos, os átomos de hidrogênio extraídos dos com- postos orgânicos combinam-se com o oxigênio para formar água, como mostrado na Figura 5.14 (página 129). Esse processo fornece uma grande quantidade de energia e ao mesmo tempo neutrali- za um gás potencialmente tóxico – uma solução muito engenhosa afinal. Os micro-organismos que utilizam o oxigênio molecular (ae- róbicos) produzem mais energia a partir dos nutrientes que os micro-organismos que não utilizam o oxigênio (anaeróbicos). Os organismos que requerem oxigênio para viver são chamados de ae- róbicos obrigatórios (Tabela 6.1a) Os aeróbicos obrigatórios têm uma desvantagem já que o oxigênio é pouco solúvel na água do seu ambiente. Por isso, muitas das bactérias aeróbicas têm desenvolvido, ou mantido, a capacidade de continuar a crescer na ausência do oxigênio. Tais organismos são chamados de anaeróbicos facultativos (Tabela 6.1b). Em outras palavras, os anaeróbicos facultativos podem utili- zar o oxigênio quando ele está presente, mas são capazes de conti- nuar a crescer utilizando a fermentação ou a respiração anaeróbica quando o oxigênio não está disponível. Contudo, a sua eficácia em produzir energia é reduzida na ausência do oxigênio. Um exemplo de anaeróbico facultativo é a Escherichia coli, encontrada no trato intestinal humano. Muitas leveduras também são anaeróbicos fa- cultativos. Lembre-se da discussão sobre respiração anaeróbica no Capítulo 5 (página 132) que muitos micro-organismos são capazes de substituir o oxigênio por outros receptores de elétrons, como os íons nitrato, algo que os seres humanos são incapazes de fazer. Os anaeróbicos obrigatórios (Tabela 6.1c) são bactérias inca- pazes de utilizar o oxigênio molecular para as reações produtoras de energia. De fato, isso é prejudicial para muitos deles. O gênero Clostridium, que contém espécies que causam o tétano e o botulis- mo, é o exemplo mais conhecido. Essas bactérias podem utilizar os átomos presentes nos materiais celulares. Esses átomos geralmente são obtidos da água. Entender como os organismos podem ser danificados pelo oxigênio requer uma breve discussão sobre as formas tóxicas do oxigênio: 1. O oxigênio singlet (1O2 –) é o oxigênio molecular normal (O2) que foi induzido a um estado de alta energia sendo extrema- mente reativo. 2. Os radicais superóxidos (O2⋅ –), ou ânions superóxidos, são formados em pequenas quantidades durante a respiração nor- mal dos organismos que utilizam o oxigênio como aceptor final de elétrons, produzindo água. Na presença de oxigênio, os ana- eróbicos obrigatórios parecem formar também alguns radicais superóxidos, que são tão tóxicos para os componentes celulares P&R O efeito do oxigênio no crescimento de vários tipos de bactériasTabela 6.1 a. Aeróbicos obrigatórios b. Anaeróbicos facultativos c. Anaeróbicos obrigatórios d. Anaeróbicos aerotolerantes e. Microaerófilos Efeito do oxigê- nio no cresci- mento Somente crescimento aeróbico. Crescimento aeróbico e anaeróbico; crescimento maior na presença de oxigênio. Crescimento somente anaeróbico; não há cres- cimento na presença de oxigênio. Crescimento somente anaeróbico, mas continua na presença de oxigênio. Crescimento somente ae- róbico; oxigênio requerido em baixa concentração. Crescimento bacteriano em tubo com meio de cultura sólido Explicações para os padrões de crescimento Crescimento somente em altas concentrações difundidas. Crescimento melhor onde mais oxigênio está presente, mas ocorre em todo o tubo. Crescimento somente onde não há oxigênio. Crescimento igual; o oxi- gênio não tem efeito. Crescimento onde há uma baixa concentração de oxigênio difundido. Explicações para os efeitos do oxi- gênio A presença das enzimas catalase e superóxido- -dismutase (SOD) permi- te que as formas tóxicas do oxigênio sejam neu- tralizadas A presença das enzimas catalase e SOD permite que as formas tóxicas do oxigênio sejam neu- tralizadas; pode utilizar oxigênio. Ausência das enzimas que neutralizam as for- mas tóxicas do oxigênio; não tolera oxigênio. A presença de uma enzi- ma, SOD, permite que as formas tóxicas do oxigê- nio sejam parcialmente neutralizadas; tolera oxigênio. Produção de quantidades letais de formas tóxicas do oxigênio se expostos à atmosfera normal de oxigênio. Tortora_06.indd 161 27/06/11 14:40
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