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6. DO INSTITUTO DA DESCOBERTA E O CRIME DE APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA

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DO INSTITUTO DA DESCOBERTA E O CRIME DE APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA.
 
Antes de adentrar no tema escolhido, importante ressaltar o conceito de propriedade. Propriedade é direito real por excelência que dá ao proprietário a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, além do direito de reavê-la de quem injustamente a possua ou detenha. É o conceito central dos direitos das coisas.
Assim, conforme o exposto acima, os direitos dos proprietários consistem em usar (utentdi), gozar (fruendi), dispor (abutendi) e reivindicar a coisa, sendo que os aludidos direitos encontram-se no artigo 1.228 do Diploma Civil.
Apesar do direito de propriedade não ser absoluto, ante a necessidade de cumprir-se à função social, caso seu proprietário ou possuidor perca coisa móvel, terá ele o direito de ser restituído. Para isso dá- se o nome de Descoberta.
O instituto está disposto no artigo 1.233 do Diploma Civil.
Art. 1233. "Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí- la ao dono ou legitimo possuidor".
Segundo Cesar Pelusso, "descoberta nada mais é do que o achado de coisas perdidas. Ao contrário das coisas abandonadas (res derelicta) ou sem dono (res nullius), a coisa perdida tem dono, que apenas está privado de sua posse”. 
Mister salientar que, quando a isso, ninguém é obrigado a recolher coisa perdida, entretanto, caso assim o faça, a lei lhe atribuirá certos deveres, tais como restituir a coisa, esforçar-se para localizar o verdadeiro dono e por fim entregar a coisa perdida à autoridade competente para seguir o procedimento disposto nos artigos 1.235 e seguintes do diploma citado. 
Ademais, aduz o artigo 1.234 do Código Civil, que o responsável pela restituição terá direito a recompensa e à indenização pelas despeitas que houver arcado.
Em paralelo com a referida descoberta há o crime tipificado no Diploma Penal, no artigo 169, II, ou seja, o delito de apropriação de coisa achada.
Segundo o artigo do Código Penal:
" (...) II-quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou ao legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de 15 (quinze) dias.
Pena - detenção de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa".
Conforme se observa pelo tipo penal acima, qualquer pessoa pode cometer o delito, sendo o sujeito passivo o proprietário ou legítimo possuidor da coisa perdida. 
Acertadamente, Guilherme de Sousa Nucci afirma em sua obra que "o apossamento, no caso tipificado acima, volta-se contra coisa pertencente a outrem, que está perdida. A obrigação imposta pela lei, portanto, é a pronta restituição do bem sumido a quem o está procurando. Essa devolução pode efetivar-se diretamente a quem de direito ou à autoridade competente", e ainda, afirma que "evidencia-se nesse tio penal a proteção estendida, nos crimes patrimoniais, não somente ao dono da coisa, mas também a quem possui legitimamente”.
É cediço que ambos os artigos tratam sobre o mesmo assunto, em esferas diferentes, sendo um tratado como instituto privado e outro de forma sancionadora.
Entretanto, há diferencias substanciais no que tange aos procedimentos. Isso porque o disposto no Código Civil foi omisso no que diz respeito ao prazo, enquanto que no Código Penal o prazo encontra-se expresso, entre outros exemplos.
Assim, é preciso zelo ao proferir o famoso ditado "achado não é roubado", visto que conhecendo o dono, deve o agente devolver a coisa achada imediatamente; se não o conhece ou se não puder devolvê-la a este a lei lhe concede um prazo para a entrega à autoridade, pois a obrigação civil existe.
DESCOBERTA DE COISA ALHEIA
Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.
RECOMPENSA
Aquele que restituir a coisa achada terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.
RESPONSABILIDADE
O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo.
DIVULGAÇÃO
A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar.
VENDA
Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido.
BEM DE DIMINUTO VALOR
Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou.
Base: artigos 1.233 a 1.237 do Código Civil.

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