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Artigos_A Tarde

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Sáb , 10/11/2012 às 18:04
Artigo: Esquecendo eleições por Antonio Risério, escritor e articulista do jornal A TARDE.
Despachei e-mail para meu querido amigo Caetano Veloso: pela primeira vez, depois de 
anos, fechamos numa eleição com os mesmos candidatos: Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, 
Fernando Haddad em São Paulo, Neto em Salvador. Afora isso, vibrei com a virada de Fruet em 
Curitiba (tinha inclusive feito uns trabalhos de pré-campanha para ele, com Giovanni Soares, no ano 
passado).
Na verdade, torci total pela vitória de Freixo, chama inovadora na velha paisagem político-
eleitoral do Rio. Fui para São Paulo mergulhar de corpo e alma na campanha de Haddad, figura que, 
como a nossa hoje presidente Dilma, conheci em 2006 na campanha da reeleição de Lula. E defendi 
que a vitória de Neto seria melhor para a nossa cidade do que a de Pelegrino, sujeito mentalmente 
limitado, incapaz até de voos rasteiros. Há tempos não concordávamos assim, eleitoralmente, eu e o 
poeta-pensador. Conversávamos sobre eleições, mas geralmente em posições diversas.
Mas não quero fazer análises, me concentrar em papos enviesados (depois do resultado nas 
urnas, é fácil fazer interpretações, mas deixo isso para jornalistas e professores universitários), nem 
nadar em ressacas pós-eleitorais. Mas algumas coisas merecem ressalte. Por exemplo: em São 
Paulo, apresentamos e defendemos abertamente um candidato. Mostrando seus feitos, suas virtudes, 
suas propostas - contra um José Serra em avançado estágio de autodeterioração política e 
ideológica, usando sucessivas máscaras reacionárias, mentindo para si e para toda a população. Em 
suma: ostentamos Haddad, vistosamente.
Na Bahia, ao contrário, até tentavam me esconder Pelegrino. Com o seguinte papo: o voto 
não é no candidato - é no "projeto". Em que projeto, pelo amor de Deus? Até o projeto nacional de 
Lula foi construído, em grande medida, contra a falta de senso, de realidade, contra a falta de 
projeto do próprio PT. E o PT precisa aprender isso. Não pode falar de "projeto" porque não o tem, 
globalmente, como partido. Haddad vai governar, inclusive, contra a intolerância e o sectarismo 
petistas, tendo de enfrentar a nefasta "tradição" do corporativismo, em áreas fundamentais como as 
da educação e da saúde pública. Ou seja: em vez de esconder o candidato atrás de um "projeto", 
trata-se, na verdade, de exibir o candidato para ocultar as graves e grandes deficiências do "projeto", 
ok?
Outra coisa: não me venham com a conversa fiada de retorno do carlismo. Não existe 
carlismo sem Antonio Carlos (carlismo só existe na fantasia das viúvas políticas de ACM, sejam 
elas de direita ou de esquerda, ambas ressentidas e revanchistas, sem saber pensar se lhes tirarem o 
velho do caminho e da cabeça). E, se existisse sem Antonio Carlos, o carlismo já teria voltado há 
tempos. Graças ao PT local, claro. Com Otto Alencar no papel de guru e vice-governador, com 
César Borges na função de aliado preferencial, com carlistas ocupando cargos de comando no 
governo estadual, com Sergio Carneiro (sim: carlista desde criancinha - e acusado de coisas 
corruptas no governo do pai João Durval) se destacando entre os quadros petistas. Mais, como bem 
viu Paulo Fábio: com Wagner aplicando a "gramática do carlismo" para assegurar sua hegemonia 
baiana. E não existe carlismo, ainda, porque - como bem sabem antropólogos, travestis, internautas 
e vendedores de cafezinho - neto não é avô.
Bem. O que espero de Neto é que ele não se olhe menos em Luís Eduardo (homo politicus) 
do que em Antonio Carlos, que pare de posar de "protagonista da CPI do mensalão", não pise na 
bola das trocas de favores e se abra de fato para o diálogo crítico sobre a cidade. Espero, 
principalmente, que ele cumpra o que está prometendo a si mesmo, como já disse em entrevistas: 
pensar o futuro da cidade, de forma plural, sem boçalidade, numa conversa séria. E é o seguinte. 
Salvador está caindo aos pedaços. Tem de reconfigurar a sua expansão urbana, reativar a sua 
memória, diminuir distâncias sociais, recuperar a sua criatividade e reconquistar o seu lugar na vida 
brasileira. Quem não vir isso, não será prefeito.
Qua , 14/11/2012.
Artigo: Pensando em política por Emiliano José, jornalista e escritor.
A política reduzida a indivíduos. O fim de projetos políticos. A separação estanque do 
passado com o presente. A desqualificação gratuita e sem fundamento deumpolítico que pautou sua 
vida em defesa da população baiana, especialmente dos mais pobres, e que acaba de ser votado por 
quase a metade da população de Salvador, embora tenha perdido as eleições. Este o resumo do 
artigo de Risério, em que aborda eleições. Risério adora a polêmica, e muitas vezes os que pensam 
diferente dele deixam suas opiniões passar batido, como costuma dizer o povo. Nesse caso, não 
acredito seja positivo silenciar. Recorro a Paulinho da Viola: "Tá legal, eu aceito o argumento, mas 
não me altere o samba tanto assim"...
Será que dá mesmo para misturar Freixo, ACM Neto e Fernando Haddad como se fossem a 
mesma coisa? Como se não houvesse diferenças entre eles? Será possível pensar que votar nesses 
três significa coerência? Por menos que pretenda Risério, são projetos distintos. Projetos diversos 
de País, de concepção da política, e num caso ao menos, o de ACMNeto, de concepções distintas de 
mundo. Este último, por obviedade, é um homem de direita, tem concepções de direita, seu partido, 
hoje e ontem, é de direita. Como misturar um político que encarna esse projeto com dois que são de 
esquerda, embora diferentes entre si, e com visões diferentes de Brasil? Quem tenha acompanhado 
pouco que seja a atuação de ACM Neto na Câmara Federal, há de louvar sua coerência de político 
conservador, nitidamente neoliberal, e nisso nunca vacilou.
Como sustentar que o PT não tem projeto? Chega a ser irresponsabilidade, pobreza teórica, 
ausência de conhecimento, incapacidade de acompanhar a história recente do País, afirmar uma 
coisa dessas. Não me altere o samba tanto assim. Risério não sabe nada do PT. Foi esse partido, tão 
atacado, que conseguiu eleger Lula em 2002, ao convencer o nosso povo, em sucessivas eleições, 
que era preciso mudar o Brasil. E conseguimos. Não apenas vencer três eleições, mas mudar o 
Brasil, e só o fizemos porque temos projeto. Se Lula é um desses seres raros, de uma capacidade 
política única, a maior liderança de todos os tempos no Brasil, não é um político solitário, muito ao 
contrário. Sabe, nunca se esqueceu disso, que sua vida está intimamente vinculada ao PT, a um 
projeto político construído coletivamente, até hoje.
Qual o projeto político do DEM? É claro, não tergiversa. A favor de tudo aquilo que, por 
exemplo, foi feito durante os oito anos de governo neoliberal, entre 1994 e 2002: privatização 
selvagem, endividamento suicida, submissão completa ao FMI, diminuição do poder do Estado, 
precarização dos serviços públicos, contra quaisquer políticas que possam melhorar a vida dos mais 
pobres, contra a política de cotas, mesmo que eventualmente, durante as eleições, queiram mascarar 
suas posições. Não há como negar que o DEM insurgiu-se contra a política de cotas, inclusive indo 
ao STF para tentar barrá-la. As posições do DEM estão na cena brasileira, em minoria, mas uma 
posição, um projeto político defendido por ACM Neto. Que ganhou as eleições em Salvador. O 
projeto que ele defende ganhou, e isso é parte da vida democrática, e quem quer que conheça o 
projeto do PT saberá que nunca houve qualquer vacilação do partido com relação à democracia, 
desde o seu nascedouro.
Por tudo isso, não é possível aceitar que vinho e água sejam a mesma coisa, que direita e 
esquerda se equivalem, ou que o PT não tenha projeto. Mais: Pelegrino, por sua história, por sua 
militância,por seus compromissos com as melhores causas do povo do Brasil, da Bahia e de 
Salvador, pelas responsabilidades políticas que assumiu na Câmara Federal, no governo da Bahia, 
sem que nada o maculasse, não merece ser tratado da maneira como o fez Risério, com tanta 
agressividade e desrespeito. Perder uma eleição é da vida política. A cidade se dividiu, paciência. 
Pelegrino seguirá em frente, defendendo o projeto político que apresentou. Estará sempre a favor de 
Salvador, com a serenidade de quem sempre defendeu a democracia, parte inseparável de sua 
trajetória.
Este artigo responde ao de Antonio Risério, "Esquecendo Eleições", publicado em 10/11/2012.
Qui , 15/11/2012. 
Artigo: Lembranças que importam por Antonio Risério.
Entendo que o jornalista e escritor Emiliano José, em sua ainda condição ou função 
comissarial, tenha se visto na obrigação de assumir as dores de Nelson Pelegrino, candidato 
derrotado à Prefeitura de Salvador. Tudo bem. Mas nem por isso precisava falsificar o artigo que 
escrevi e publiquei aqui.
Porque é realmente escandalosa a diferença entre o que eu escrevi e o que Emiliano José leu. 
O lance é distorcer para poder contestar? Não, meu caro. Veja o que você acha que eu disse: "O fim 
de projetos políticos. A separação estanque do passado com o presente. A desqualificação gratuita 
de um político que pautou sua vida em defesa da população baiana... Será que dá mesmo para 
misturar Freixo, ACM Neto e Fernando Haddad como se fossem a mesma coisa?".
Primeiro, não leve para o plural o que coloquei no singular. Não falei em "fim de projetos 
políticos" pelo simples motivo de que não acredito nisso. Projetos políticos existem desde tempos 
paleontológicos. E vão existir sempre. Aprendemos essa lição com Aristóteles, ok? O que falei foi 
específico: a crise projetual do PT. Se você quer discutir com seriedade, discuta isso. E comece 
pelas leituras de André Singer (o autor de Os Sentidos do Lulismo: Reforma Gradual e Pacto 
Conservador) e Tales Ab'Saber, em Lulismo: Carisma Pop e Cultura Anticrítica.
Segundo: Pelegrino, no Congresso, não fez nada de importante para Salvador. Seus projetos 
foram em boa parte recusados. E ele ainda quis inventar uma esdrúxula Universidade da Região 
Metropolitana de Salvador. Quando Mário Kertész ainda estava na dúvida se seria ou não candidato, 
encomendei a uma especialista no assunto (a melhor que temos hoje no Brasil: Susi Aissa) um 
levantamento completo - estatístico e analítico - do desempenho de Pelegrino como deputado. Ela 
ficou chocada. Pelegrino não tinha feito nada. Passou em brancas nuvens seus muitos anos de 
deputado. Portanto, Emiliano, não minta. Não venha dizer que o bobão que vocês inventaram 
passou a vida lutando em defesa do povo de Salvador.
Em momento algum escrevi que era possível "misturar" Freixo, Neto e Haddad. São pessoas 
e personalidades completamente distintas. Tanto que, se Pelegrino tivesse sido o candidato do PT 
em São Paulo, eu teria votado em Serra. Mas a discussão não é essa, Emiliano, e você deveria saber 
isso. A discussão é: por que tanta gente (incluindo artistas e intelectuais) hoje, no Brasil, se dispõe a 
votar em candidatos de partidos diferentes entre si (para o PSOL, Emiliano, vocês do PT estão 
quase na direita)? Qualquer análise séria tem de começar por aqui, pela crise do partidocratismo 
tristetropical.
Aliás, podemos levantar aqui outra discussão, meu caro. Sobre pessoas na política. A 
psicanálise e o existencialismo acabaram com qualquer ingenuidade "holística" sobre o tema. E 
Adam Przeworski está certo quando diz que o marxismo é uma teoria da história que não foi capaz 
de elaborar uma teoria das ações das pessoas que fazem esta mesma história. E sempre será 
insatisfatória, na minha modesta opinião, qualquer teoria da história que seja incapaz de dar conta 
da ação dos indivíduos.
Mas, enfim, acho que realmente não sei nada do PT. Apenas por acaso participei de 2002, 
quando meu amigo Palocci discutiu, com os redatores da campanha, os termos da hoje célebre 
"Carta aos Brasileiros". Ah, e Dilma não era do PT, mas do PDT de Brizola e Darcy (preencheu a 
ficha petista para poder fazer o que ainda está fazendo: ao se mover assim, Dilma prega "o fim dos 
projetos políticos"?). Por fim, Emiliano, deixe Paulinho da Viola em paz. Ele é claro, limpo e 
lógico. Belo e profundo exemplo de conservador, no campo estético.
Pelegrino, ao contrário, não é belo, nem profundo, nem exemplo. Muito menos exemplo, 
para dizer a verdade. Quanto a dizer que ele teve quase a metade dos votos da população de 
Salvador, pense no seguinte: foi esta mesmíssima população que elegeu, por duas vezes!, o atual 
desprefeito João Henrique. Respeitemos o voto, sim. Mas sem manipular as coisas, nem reverenciar 
a burrice.
Este artigo responde ao de Emiliano José, "Pensando em Política", piblicado em 14/11/2012, como réplica ao artigo 
anterior de Antonio Risério, "Esquecendo Eleições", publicado em 10/11/2012.
Seg , 19/11/2012
Artigo: De demônios e política por Emiliano José | jornalista e escritor.
O escritor Antonio Risério sabe que o discurso é traiçoeiro. Sempre deixa o autor totalmente 
exposto, nu. Este, o incauto autor, é prisioneiro de suas palavras, que o revelam para além de seus 
desejos conscientes. Insisto: Risério não considera projetos políticos, ao menos no caso brasileiro, 
onde vive. Quando diz que se estivesse em São Paulo, e o demônio que ele elegeu como preferido - 
Pelegrino - fosse candidato, tranquilamente votaria em Serra.
Com isso, esclarece que não se importa com programas, ideias, propostas. Não importa que 
Serra seja contra os homossexuais, contra os direitos das mulheres, que seja um político do medievo 
trevoso, intérprete da direita brasileira, felizmente derrotado. A Risério, não importa projeto 
político. Mais vale o seu olhar sobre cada personalidade, quem sabe o gosto individual, do que 
projetos políticos, e na formulação sobre Serra novamente deixou-se trair, tanto quanto o fizera no 
primeiro texto de ataque ao demônio que o aflige.
Reafirmo, sem elevar o tom como o fez Risério no último artigo, que, ao refutá-lo o fiz com 
base em seu pensamento. Sempre recebo bem indicações bibliográficas, quanto mais vindas de 
Risério, que sei um sujeito lido. As feitas no último artigo, no entanto, são dispensáveis, porque 
sobejamente conhecidas. Conheço André Singer e seu pensamento - ainda na semana que passou 
estávamos reunidos em São Paulo, no Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.
Quanto a Adam Przeworski e seu "Capitalismo e Democracia", não há nele qualquer 
desmentido da essencialidade dos projetos políticos. Em nenhum momento, aí sim, leu-se uma 
palavra minha que dissesse que os indivíduos não tem qualquer papel na história. Em tempos 
pregressos, Risério leu Plekhanov, leu Marx, e compreendeu que o homem faz a história, mas a faz 
em determinadas circunstâncias objetivas, como aliás o diz Maria Hermínia Tavares de Almeida, no 
prefácio ao livro de Przeworski. Freud e Sartre, com suas notáveis contribuições, concentraram seus 
esforços na análise dos indivíduos, disso poucos não tem conhecimento.
Ninguém é capaz de negar que os partidos, não apenas hoje, sofrem transformações 
contínuas, e o PT não é diferente. O que está em causa é o fato de o partido ser liderança de um 
projeto político, na última década, que mudou e está mudando o Brasil, a vida dos pobres 
especialmente, nunca desconhecendo que o faz ao lado de outros partidos de esquerda e de centro. 
As três eleições de Lula e Dilma não são expressões apenas das inegáveis capacidades dos dois, 
mas, sobretudo, e especialmente, do projeto político que encarnam, que o PT soube elaborar, 
cultivar,defender, e seguir em frente, como o faz hoje. A população brasileira, malgrado nossos 
erros, continua a dar apoio ao nosso partido, e as recentes eleições municipais são uma prova disso.
Quando elegemos um demônio, e o abrigamos na alma, ele tolda a nossa mente. Passamos a 
atacá-lo cegamente e nos tornamos escravos dele. Não conheço Susi Aissa. Não quero avaliá-la. No 
caso citado, ela errou clamorosamente, pois, sem me alongar porque a história de Pelegrino é 
riquíssima quanto às contribuições que deu ao povo da Bahia, lembro que é o parlamentar com 
maior número de emendas orçamentárias executadas e em execução em Salvador e que em 2011 foi 
eleito, pela terceira vez em quatro mandatos, um dos cem parlamentares mais influentes do 
Congresso Nacional pelo DIAP.
Insisto com Paulinho da Viola, de cuja obra musical sou profundo admirador, sem querer 
contrariar Risério que entende muito mais de música do que eu. Tá legal, eu aceito o argumento, 
mas não me altere o samba tanto assim. Quando um demônio nos toma, ou quando o construímos, é 
melhor tomar muito cuidado para que, ao exagerar tanto, não fiquemos refém dele. E é sempre 
aconselhável procurar as razões mais de fundo pelas quais o atacamos com tanta insistência. Isso é 
Freud, como Risério sabe. Ou pode ser Jung, também, até mais próximo dos demônios do que 
Freud, ambos, no entanto, íntimos da alma humana, tão imperscrutável. Salvo melhor juízo, ponto 
final. O leitor já compreendeu nossas diferenças.

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