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1 ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO GUIRATINGA/MATO GROSSO MEMÓRIAS DA VIDA EM VIDA Inovar é Preciso GUIRATINGA-MT OUTUBRO/2012 2 JOÃO ANTONIO PEREIRA MEMÓRIAS DA VIDA EM VIDA Inovar é Preciso Relatório do Projeto Desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Dª. Maria de Lourdes Ribeiro Fragelli como parte das atividades desenvolvidas no 3º Bimestre na disciplina de História. GUIRATINGA-MT OUTUBRO/2012 3 AGRADECIMENTOS A Deus: Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia quando eu já não tinha mais por onde caminhar, meu refúgio e fortaleza, razão maior de minha existência. Aos meus pais: João Das Chagas Pereira e Isaura Pereira (in memoriam) por me encorajarem a desfraldar a bandeira da vida. À minha esposa: Daniella Cristina Santos Teixeira Pereira companheira de todas as jornadas. Aos meus filhos: Caroline, Jackeline, Pâmela, Asheley e Nathaly, como um singelo pedido de desculpas pelas minhas ausências em função da arte de educar. Aos meus companheiros de trabalho pois... “Nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco”, a família Maria de Lourdes é um compromisso de todos nós. Aos meus queridos alunos Por me estimularem a encontrar respostas novas e criativas aos velhos e novos problemas da sala de aula. Aos entrevistados Que gentilmente nos receberam em suas residência ou locais de trabalho contribuindo decisivamente com o resultado final do projeto. Muito obrigado! 4 RELAÇÃO DE FOTOS FOTO Nº 01 AULA NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA 18 FOTO Nº 02 – VIAGEM DE ESTUDO AO MORRO DA ARNICA 18 FOTO Nº 03 SEVERINA BOE 19 FOTO Nº 04 SEVERINA BOE NA ALDEIA 19 FOTO Nº 05 SEVERINA GUERREIRA (Vestido Florido) 19 FOTO Nº 06– VISTA PARCIAL DO MORRO DA ARNICA 20 FOTO Nº 07–ESCALADA AO MORRO DA ARNICA 20 FOTO Nº 08–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS 21 FOTO Nº 09–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS 21 FOTO Nº 10–LOCAL DE EMBRAQUE DOS ALUNOS 22 FOTO Nº 11–FRAGRANTE: SERVO NA ESTRADA 22 FOTO Nº 12–FRAGRANTE: DESOBSTRUÇÃO DA ESTRADA 23 FOTO Nº 14–CHEGADA EM CASA 23 FOTO Nº 14–ALUNO TRABALHANDO NA PECUÁRIA EXTENSIVA 24 FOTO Nº 15–ALUNA – CUIDANDO DE PEQUENOS ANIMAIS 24 FOTO Nº 17–AULA DE MATEMÁTICA NO AMBIENTE DA ROÇA 25 FOTO Nº 18–AULA DE QUÍMICA NO AMBIENTE DA ROÇA 25 FOTO Nº 19–IRRIGAÇÃO AUTOMÁTICA NA HORTA ESCOLAR 26 FOTO Nº 20–IMPLANTANDO A IRRIGAÇÃO 26 FOTO Nº 21–PREPARANDO OS CANTEIROS 27 FOTO Nº 21–CUIDANDO DAS VERDURAS 27 FOTO Nº 22–DIA DO ESTUDANTE 28 FOTO Nº 23–VALEU A PENA 28 FOTO Nº 24–DIA DO ESTUDANTE 29 FOTO Nº 25–GENTE QUE FÊZ - GENTE QUE FAZ 29 5 SUMÁRIO 1. SONHAR É PRECISO .......................................................................................... 8 2. PROBLEMÁTICA .................................................................................................. 9 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 10 3.1 GERAL: ............................................................................................................ 10 3.2 ESPECÍFICOS: ................................................................................................ 10 4. METODOLOGIA .................................................................................................... 10 4.1 Público alvo: ..................................................................................................... 10 4.2 Descrição da população: .................................................................................. 10 4.3 Amostra ............................................................................................................ 11 4.4 Técnica e instrumento de coleta de dados. ...................................................... 11 4.5 Descrições dos procedimentos de análises dos dados. ................................... 11 4.6 Produção e digitalização dos textos. ................................................................ 11 4.6.1 Aquecendo os Neurônios .............................................................................. 11 4.6.2 Seleção de Monitores das Turmas ................................................................ 12 4.6.3 Recursos Humanos ....................................................................................... 12 4.6.4 Recursos Materiais ....................................................................................... 12 4.6.5 Avaliação ...................................................................................................... 12 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 12 5.1 Três Severinas: Suas Memórias e o Resgate do Self ...................................... 13 5.2 Severina Boe: Sobreviver é preciso. ................................................................ 13 5.3 Severina Brasileira: Desistir Jamais ................................................................. 14 5.4 Severina Coreana: Garimpeira sim Senhor ..................................................... 15 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 16 7. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 17 8. ANEXOS 8.1Fotografias.......................................................................................... ...............18 8.2 Jornaizinhos Produzidos na Escola....................................................... .. .........30 8.3 Documentos Pessoais......................................................................... .............38 8.4 Declaração Escolar............................................................................. . .............39 8.5 Relação de Bloggers Relacionados Com o Relato........................... ................40 6 SÍNTESE DA EXPERIÊNCIA Guiratinga-MT é um município de pequeno porte localizado na Amazônia Legal brasileira com economia centrada na agropecuária e na extração de diamantes. Segundo o Censo 2010 possui 12.471 habitantes distribuídos por oito Escolas de Ensino Fundamental e apenas uma Escola de Ensino Médio. Com a extinção dos grandes garimpos de diamantes provocada pela mudança na legislação ambiental o município experimentou um êxodo maciço dos garimpeiros e ainda hoje busca novas alternativas econômicas que possa estancar a saída de seus moradores; O índice de analfabetismo local segundo o IBGE 2.000 chegava a 14,6% da população e muitos de nossos alunos passam mais tempo dentro de um ônibus escolar do que na sala de aula. As dificuldades por eles enfrentadas muito se assemelham as vividas em minha adolescência, refletidos em sala de aula nos altos índices de abandono e repetência. A principal queixa dos professores com relação às dificuldades no tocante ao processo ensino aprendizagem no primeiro bimestre do ano letivo de 2012 da Escola Estadual Dª. Maria de Lourdes Ribeiro Fragelli estava relacionada ao uso indevido do celular em sala de aula. Depois de muitas tentativas frustradas, resolvi utilizar as ferramentas tecnológicas, celulares, smartphone Ipod, tablets e microcomputadores disponíveis na escola para produzir conhecimento utilizando os pressupostos da metodologia da pesquisa bibliográfica e da pesquisa oral na área de Ciências Humanas, postando os resultados em bloggers criados pelos próprios alunos. Para estimulá-los também fui produzindoconcomitantemente os meus textos e o meu blogger, que servia de suporte para aqueles que tivessem mais dificuldade e o resultado foi tão surpreendente que foi motivando toda escola a trabalhar por projetos de forma integrada entre as diversas áreas do conhecimento. Este relato trata da experiência realizada em Memórias da Vida Em Vida, Projeto executado inicialmente no período vespertino totalizando aproximadamente duzentos alunos, exatamente no turno em que aproximadamente trinta por cento dos educandos são oriundo da Escola do Campo e apresenta o pior desempenho da escola, mas ganhou uma dimensão tão grande que as ações se expandiram para outros turnos incluindo o noturno com o objetivo de resgatar a autoestima e melhorar a interação, tendo ótima aceitação entre os mesmos, demonstrando que é perfeitamente adaptável também ao Ensino Médio Regular. Contou com participação de técnicos educacionais, pais, avós, funcionários aposentados, além de coordenadores e diretor escolar. A Avaliação foi realizada em dois níveis: interno pela comunidade escolar e externa através de um seminário de fechamento envolvendo toda a comunidade local, postagens em bloggers, Face book, entre outros. PALAVRAS CHAVES: História Oral; Celulares em sala de aula; Ensino Médio Inovador; Bloggers. 7 ABSTRACT Guiratinga-MT is a small city located in the Brazilian Amazon with economy centered on agriculture and the extraction of diamonds. According to the 2010 Census has 12,471 inhabitants in eight Schools Elementary School and only a High School. With the extinction of the great diamond mines caused by changes in environmental legislation the municipality experienced a mass exodus of prospectors and still seeks new economic alternatives which may stanch the output of its residents; Illiteracy rate according to IBGE Local 2000 came to 14 6% of the population and many of our students spend more time in a school bus than in the classroom. The difficulties they face much resemble those experienced in my teens, in the classroom reflected in high rates of dropout and repetition rates. The main complaint of the teachers regarding the difficulties with regard to the learning process in the first two months of the school year of 2012 the State School D ª. Maria de Lourdes Ribeiro Fragelli was related to the misuse of mobile classroom. After many failed attempts, I decided to use technological tools, phones, Ipod, tablets and micro-computers to generate knowledge using the assumptions of the methodology of literature and research in the area of oral Humanities, posting the results on bloggers created by the students. To encourage them also was concurrently producing my writings and my blogger, who served as support for those who had more difficulty and the result was so surprising that it was motivating to work for every school projects seamlessly between different areas of knowledge. This report deals with the experiment in Memoirs of the Life On Life Project initially run in the afternoon totaling approximately two hundred students, exactly the turn that around thirty percent of the students are coming from the Field School and presents the worst performance of the school, but won a scale so large that actions have expanded to other shifts including night aiming to rescue the self-esteem and improve interaction, with great acceptance among them, demonstrating that it is also perfectly adaptable to the Regular School. Counted with the participation of technical education, parents, grandparents, retirees, and coordinators and school principal. The evaluation was performed on two levels: the internal and external school community through a closing seminar involving all the local community, postings bloggers, Face book and others. KEYWORDS: Oral History; Phones in the classroom; School Innovator; Bloggers. 8 1. SONHAR É PRECISO Ibitinguense, negro, filho mais velho de uma família de cinco irmãos; órfão de mãe aos treze anos, pai lavrador, me vi obrigado ao estudo noturno a partir da quinta série em uma escola pública para ajudar no sustento dos irmãos mais jovens entre eles uma pequenina de dois anos e o caçula com menos de um aninho de vida. Percebi logo cedo nas salas de aula que minha história se confundia com a história de vida dos meus alunos e não podia ficar indiferente ao problema enfrentado por eles. Quando adolescente, os cafezais, os laranjais, os canaviais do oeste paulista me eram muito familiares. Quatro e meia da manhã pegava o “pau-de-arara” e por volta das seis horas estava na frente ao eito. De dia o sol escaldante fritava os miolos, à noite me debruçava nos livros na ânsia de reescrever a história da família Pereira. Inúmeras vezes tive que dividir o almoço com as formigas, isso quando ele não azedava no velho caldeirão de alumínio; a moringa, a enxada o facão de cortar cana sempre estavam ao meu lado tecendo inicialmente o sonho de ser sargento do Exército brasileiro, e mais tarde professor para ajudar aqueles que assim como eu enfrentavam problemas sociais tão graves que lhes feriam a alma quando não lhes abreviava a vida. Fui sargento do Exército Brasileiro, sou professor de escola pública e depois de trinta anos de serviços prestados à nação ainda me deparo na sala de aula com as mesmas circunstâncias que vivi quando criança, agora com uma nova roupagem. O cenário é diferente, mas os problemas são os mesmos; os canaviais do oeste paulista aqui são representados pelas extensas plantações de soja e algodão nos chapadões mato-grossenses; a paisagem gradativamente foi sendo desumanizada como consequência da mecanização das lavouras e o fim da atividade garimpeira, mas nos olhos dos alunos consigo enxergar as mesmas cenas que assistia em minha infância, crianças, jovens e adolescentes com famílias desestruturadas, muitos dos quais nunca visitaram um médico ou dentista e o mais grave, dezenas deles permanecem mais de seis horas por dia dentro do ônibus de transporte escolar. Na paisagem exibida nos buracos das janelas do ônibus passam bois, tamanduás, passam araras em revoadas, mas passa também o período mais lindo de suas vidas, a infância e adolescência. Ao revisitar a memória recordo de minha cartilha “Caminho Suave” que de suave não tinha nada; os professores usavam castigos físicos na sala de aula, quadro que vi repetir no MT no início da década de 1990, ora a palmatória, ora a régua de um metro, ora os bambuzinhos ou os joelhos dobrados sobre os caroços de milho ou feijão atrás da porta, mas nada é tão grave como ouvir uma adolescente interromper uma aula para sair da sala por causa da fome ou desistir da escola porque o pai acredita que a “educação não dá camisa pra ninguém, se quiser comer tem que enfrentar o cabo da enxada”. É inegável que nas duas últimas décadas avançamos muito, as escolas públicas possuem computadores interligados a internet, Datashow, TV digital, impressoras, filmadoras, aos poucos estamos substituindo o “decoreba”, mas também é verdade que no tocante ao aprendizado professores e alunos ainda precisam realizar uma verdadeira revolução no campo do diagnóstico, do planejamento, da didática e da avaliação, para responder satisfatoriamente aos anseios da sociedade digital em constante transformação. 9 Os celulares, as redes sociais, a prostituição e até mesmo as drogas estão preenchendo de forma vertiginosa o espaço que deveria ser ocupado com educação de qualidade; O ensino Médio Inovador, conquista local da comunidade escolar foi a opção escolhida como estratégia pedagógica, pois decididamente não vamos perder essa batalha. No embate teórico com os alunos compreendemos que a principal diferença entre um sonho e um projeto é o fato de que o projeto tem data para começar e terminar; é em síntese, a materializaçãodo sonho e então começamos a sonhar junto o Projeto: MEMÓRIAS DA VIDA EM VIDA -Inovar é Preciso. Você é nosso convidado especial para conhecer as ações desenvolvidas, as conquistas e os percalços do caminho. 2. PROBLEMÁTICA Em uma tarde qualquer da primavera de 2012 ao chegar à sala de aula do 1º Ano do Ensino Médio Inovador percebi que havia uma aluna debruçada sobre sua carteira, predisposta a não participar das atividades previstas para aquele momento. Ao perguntar o motivo ela prontamente respondeu: “Estou com fome professor, chega até doer a barriga. Posso sair da sala”? Inicialmente procurei descontraí-la, mas percebi que o assunto era sério e não pontual; aquela aluna era apenas parte do enorme iceberg que diversos estudantes do ensino oficial do município enfrentavam diariamente. Realizamos um diagnóstico na escola através da metodologia da pesquisa ação e encontramos problemas de diversas naturezas que se traduziam em pontos de estrangulamento do processo ensino aprendizagem contribuindo decisivamente com a evasão, repetência, e baixos rendimentos entre eles destacaram-se: Transporte escolar: Uma parcela significativa dos alunos é proveniente da zona rural e permanecem mais tempo no ônibus escolar do que dentro da sala de aula, sem horário adequado para as refeições, realizar as tarefas, ficar com a família ou desenvolver atividades de lazer, percorrendo mais de 120 km diários em condições adversas: durante a seca a poeira provocada pelo intenso trânsito de caminhões que transportam soja, algodão e milho; durante o período chuvoso a lama, a destruição de pontes e estradas interditadas. Falta de perspectivas em relação ao futuro: A cidade de Guiratinga MT se localiza em uma zona remanescente de garimpo de diamantes e a principal atividade econômica desenvolvida ao longo de todo o século XX, trouxe na primeira metade do século passado um desenvolvimento capaz de incluir em pleno sertão brasileiro uma linha aérea regular da Varig e da Vasp, exportando para os principais centros econômicos do país, mais de 55 milquilates de diamantes por mês, além do intenso fluxo de passageiros; mas o diamante acabou os mineradores foram embora e as empresas seguiram o mesmo destino. Até mesmo escolas tradicionais foram se fechando e os cursos profissionalizantes e ou faculdades se transformaram num sonho distante, pois as condições de deslocamento para os polos regionais são inviáveis para a maioria dos jovens estudantes; Baixa autoestima: Os especialistas apontam diversas causas do problema, mas na sala de aula ele vem se materializando principalmente através do imobilismo, da apatia, desinteresse pelas aulas, perda da confiança em si mesmo, da capacidade reflexiva e criativa, atrofiando gradativamente sua capacidade de produzir, construindo um quadro de impotência diante dos desafios intelectuais propostos, demonstrando um “self” (o verdadeiro eu) descaracterizado, como se fosse uma máscara da realidade, para se defender, perdendo a consciência de seu 10 valor, das conquistas pessoais e se envolvendo cada vez mais cedo com o álcool, com as drogas e a prostituição infanto-juvenil; Uso indevido do celular na sala de aula: Constata-se que o problema é nacional, vem gerando em alguns estados uma regulamentação específica por parte dos estabelecimentos estudantis e por órgão municipais e estaduais e diversas reuniões na escola visando encontrar o contraponto da questão; de que forma utilizar a ferramenta a favor da educação sem gerar discriminação em sala de aula ou favorecer este ou aquele aluno que em função da questão econômica possa ter equipamento mais ou menos potente? Desajuste familiar: O diagnóstico escolar apontou que em função da natureza do trabalho regional (agropecuária nos topos dos chapadões e extração de diamantes) o diálogo entre pai e filho, além de raro, quase sempre é conflitante. Por outro lado, Alves (2009) nos ensina que o saber tem que ter sabor, que o cardápio da aprendizagem tem que ter tempero e desafia os professores a despertar a fome de aprendizagem nos alunos. 3. OBJETIVOS 3.1 GERAL: Utilizar ferramentas da era digital na construção de um conhecimento mais cidadão e uma educação libertária a partir de nossas próprias atitudes. 3.2 ESPECÍFICOS: Estabelecer diálogos entre o saber histórico e as práticas de construção da narrativa oral; proporcionar elementos conceituais para identificação dos gêneros possíveis de história oral; estimular pesquisas a partir das noções de intervenção, mediação e colaboração, considerando emoções, valores pessoais e sociais dos sujeitos envolvidos; despertar na comunidade escolar a capacidade de construção de visão estratégica no fazer escolar; estimular o empreendedorismo e a conectividade; incentivar a troca de conhecimento; construir blogs e e-mails; compartilhar experiências; provocar o diálogo na família; utilizar adequadamente os celulares, e as ferramentas digitais em sala de aula. 4. METODOLOGIA Visando a realização efetiva desse projeto foram adotados os pressupostos teóricos dos métodos da pesquisa bibliográfica e da História Oral por entendermos que os mesmos se adéquam melhor a natureza da investigação. 4.1 Público alvo: Pessoas que de alguma forma tivessem uma relação direta com a história de vida do aluno e que preferencialmente, mas não obrigatoriamente estivessem vivas. 4.2 Descrição da população: Levando em consideração a natureza da investigação, a definição da amostragem foi realizada de forma não aleatória intencional conforme prescrevem Marconi & Lakatos (2007) levantando dados caracterizadores dos entrevistados: nome; idade; estado civil; etc. dados da história de vida com enfoque no resgate da memória do trabalho, profissão, ocupações ao longo da vida; idade com que começaram a trabalhar; o significado do trabalho em suas vidas; estudo, distância entre casa, escola ou falta dela e o significado da mesma em suas vidas. 11 4.3 Amostra A população pesquisada se constituiu de pais, avós, bisavós, tios ou amigos da família de alunos do Ensino Médio Inovador regularmente matriculado na Escola Estadual Dona Mara de Lourdes Ribeiro Fragelli no ano letivo de 2012. 4.4 Técnica e instrumento de coleta de dados. Visando estimular os alunos a realizar os trabalhos comecei fazendo interrogações sobre as novelas que eles mais assistiam, fui perguntando os nomes dos personagens mais importantes, principais características e através das respostas traçávamos o perfil sociológico dos mesmos. Concluímos que muitas daquelas características estavam presentes em nossas famílias com nomes diferentes, mas com traços muito semelhantes. Analisamos as condições que contribuíram para que o personagem agisse daquela forma e lancei um desafio para cada um deles: Encontrar alguém do convívio deles que merecesse ser homenageado através de um texto. Elaboramos algumas questões que seriam aplicadas de forma coletiva levando em consideração os seguintes pressupostos de Chartier (2002) “... a memória só atua resgatando aquilo que tem importância para o agora” e Thompson (1992) “... as perguntas precisam ser tão simples e diretas quanto possível”. Após o primeiro contato os questionários eram entregues pessoalmente aos entrevistados em suas residências os quais após responder devolviam no dia seguinte no mesmo local e horário combinado. Algumas vezes optava-se pela entrevista em função do baixo nível de escolaridade dos entrevistados. Em função das distâncias por vezes as entrevistas foram realizadas via e-mails ou ligações telefônicas com os celulares dos próprios alunos. 4.5 Descrições dos procedimentos de análises dos dados. Após o retorno dos questionários e, antes de sua análise, era realizada uma contextualização e decodificação dos dados, conformeGIL (1996). Caso ocorresse algum problema no tocante a legibilidade de palavras ou frases, entrávamos em contato com o respondente visando dirimir as dúvidas. As respostas mais significativas de acordo com os objetivos da pesquisa, conforme propõem GIL (1996) foram utilizadas como citações, nos textos produzidos pelos alunos e as informações foram disponibilizadas preferencialmente via blogger na internet para que outros alunos, professores e ou pesquisadores possam ter acesso e fazer o uso adequado das informações em futuros trabalhos dessa natureza. 4.6 Produção e digitalização dos textos. 4.6.1 Aquecendo os Neurônios Partindo da premissa de que o conhecimento democrático deve ser construído de forma solidária e participativa fui lendo para os alunos algumas biografias por mim produzidas de personagens comuns da vida guiratinguense, um garimpeiro de diamantes, uma lavadeira de roupas do século XX e um guardador de aviões da década de 1920, na outrora Lajeada, atual Guiratinga, elaborados conforme as orientações de Thompson, 1992 no tocante a textualização como materialização do discurso oral. Negociamos estratégias de aprendizagens em sala de aula e no laboratório de Informática, criamos regras coletivas e procedimentos adequados durante as aulas evitando assim as tradicionais saídas para ir ao banheiro ou atender telefone 12 durante as explicações. Acordamos ainda que antes de cada aula no laboratório haveria uma aula técnica em sala e imediatamente passaríamos a prática do conteúdo teórico através da produção do texto inicialmente manuscrito e posteriormente digitalizado. 4.6.2 Seleção de Monitores das Turmas Constatei que nem todos tinham conhecimentos básicos de informática; muitos não sabiam sequer ligar o computador e isso gerava apatia pela máquina e pela internet. Elegemos monitores entre aqueles que demonstraram maior conhecimento e trabalhamos em dupla de acordo com a afinidade. Após assimilarem conhecimentos básicos sobre editores eletrônicos de texto e navegadores de internet criamos e-mail e blogger para publicarem suas ideias. 4.6.3 Recursos Humanos Contamos com o apoio técnico da Pedagoga Karen Brito de Arruda, dos técnicos Lucinai Pereira de Moraes e Eduardo de Jesus Amora e dos professores da área de Ciências Humanas nas Viagens de Campo, Marli Gonçalves, Eremisis Gomes Santana e Epitácio Gervásio e da Coordenação e Direção Escolar. 4.6.4 Recursos Materiais Foram utilizados celulares e microcomputadores com navegador de internet, Editores de Texto e o laboratório de Informática da escola. 4.6.5Avaliação Esta etapa se subdividiu em duas fases: Avaliação Interna – Realizada pelos próprios alunos e membros da Comunidade Escolar; Avaliação Externa: Realizada pelos internautas. 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A História oral como procedimento de coleta se mostrou eficiente contribuindo decisivamente com o resgate de elementos significativos da memória social que por vezes não foram registrados na história oficial guiratinguense, corroborando com os pressupostos de Chartier (2002) ao demonstrar a existência de uma relação específica com a verdade e a reconstituição de um passado que existiu; Meihy (1996, p.10) ao abordar “percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado”, e Debert (1988) ao assinalar que ao utilizarmos histórias de vida estamos possibilitando o estabelecimento de um diálogo entre informante e analista, onde o primeiro nos fornece novas dimensões sobre o objeto de análise para que, através de um quadro real, possamos reformular nossos pressupostos e nossas hipóteses sobre determinado assunto. Em função da natureza do trabalho faremos um recorte analisando apenas três ícones entre dezenas de personagens entrevistados pelos alunos do Ensino Médio Inovador demonstrando através dos mesmos o alcance e a dimensão que o projeto alcançou na comunidade escolar. As personagens abordadas têm em comum o fato de ser mulher numa sociedade garimpeira dominada por jagunços e capangueiros de diamantes em meados do século XX; ter sobrevivido em circunstâncias de estrema pobreza, pouco estudo e ser retirante. 13 5.1 Três Severinas: Suas Memórias e o Resgate do Self Visando evitar a superexposição dos personagens e seus descendente ao Bullying tão comum em tempos de relacionamento em rede atribuiremos à todas personagens o nome “Severina” em homenagem aos retirantes nordestinos que ajudaram a edificar a outrora Lajeado atual Guiratinga. Severinas são recortes dos olhares femininos sobre a antiga Lajeado, abordagens realizadas por aquelas que viveram e sentiram muito mais do que aquilo que as palavras podem expressar, nós vimos lágrimas nos olhos dessas personagens ao revisitar o passado, mas vimos também uma enorme esperança no coração e na mente de seus filhos e netos. Por sua postura diante das dificuldades enfrentadas merecem nosso destaque. 5.2 Severina Boe: Sobreviver é preciso. No início do século passado Lajeado, atual Guiratinga tinha donos e esses donos falavam a língua bororo, autodenominada “boe wadáru”, pertencentes ao tronco linguístico macro-jê e se distribuíam da Bolívia ao antigo Mato Grosso no século passado. Os bandeirantes que por aqui chegaram por volta de 1894, atribuíram aos ameríndios dessa porção do Brasil o nome de Bororo, coxipones, coroados entre outros tantos, mas não sabiam que eles se autodenominavam “Boes”, um ser meio homem meio naturezaque preservou até nossos dias o pequi, “a carne dos pobres” o cajuzinho do cerrado, a mangaba, o pintado, o jaú, a caranha, a Matrinchã, a onça pintada, o gavião real, que ajudam a reconstituir a identidade dos povos do cerrado. Descobrimos juntos que “Boe” é vida enquanto “Bororo” é morte. O nome era atribuído ao pátio da aldeia, local onde se enterrava provisoriamente o corpo do ente querido numa cerimônia que poderia durar meses e fora confundido pelos chamados “civilizados”; aprendemos que entre esse povo a educação das crianças era tarefa realizada pelos tios e era a menina quem tomava a iniciativa do namoro. Percebemos que assim como os“Boes” o cerrado está morrendo e que por vezes, a morte de ambos foi planejada pelo sistema capitalista e orquestrada pelas autoridades governamentais; até mesmo envenenamento foi utilizado em nome do progresso. Na ânsia de defender os seus filhos ameríndios, o nativo teve que aprender a lidar com um inimigo no interior da própria aldeia o conflito de gerações. Pais foram acusados de assassinar seus próprios filhos, mas a História ajudou a demonstrar que o que realmente aconteceu foi um verdadeiro genocídio causado pelo contato desordenado entre ambos. Nem mesmo as terras demarcadas por Rondon na área indígena de Jarudore foram respeitadas; invadida por garimpeiros e agricultores a área que originariamente compreendia 100 mil hectares atualmente foi reduzida a cerca de 300 hectares e contraditoriamente no berço das águas doces do país os nativos estão morrendo de sede e fome. Os pais de Severina Boe, avós de Katielly Boe, queriam que ela se cassasse seguindo as tradições da aldeia, seu tio era cacique, tinha dezoito filhos e todos eles se mantiveram fiéis a tradição, mas ela queria estudar igual homem branco para um dia ser tradutora e defender o seu povo; migrou por diversas regiões do estado, se afastou de seus familiares e aos cinquenta e três anos vive em uma residência doado pelo governo municipal em um bairro afastado da cidade de Guiratinga. Sua história pode ser mais aprofundada no blogger http://www.katiellymartins.blogspot.com.br/, é uma das raras remanescentes de um povo que nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro (1970 p.293) ao analisar o 14 censo de 1932, afirmou que “o alto grau de vulnerabilidadedos Bororos indicava as últimas etapas do processo de extinção”. Os alunos se surpreenderam ao descobrir que o povo de Severina Boe conhecia e utilizava princípios da geografia moderna ao distinguir suas ações sociais de acordo com duas estações bem definidas ao longo do ano, a chuvosa “Butao butu” e a seca ‘Joru butu” estando diretamente ligados aos rituais de passagem “Akiri-doge”, ‘Èwure kowudu”, cerimônias da seca e “Kuiada paru”, cerimônias das chuvas. Outro aspecto interessante relaciona-se ao fato de Guiratinga se localizar em uma zona de transição ecológica com plantas, e animais comuns aos ecossistemas do cerrado, pantanal e Floresta Amazônica e isso também não passava despercebido pelos nativos, pois identificavam com muita propriedade a ocorrência desses biomas Bokú (cerrados), Boe Éna Jaka (transição) e Itúra (mata). Viajamos pela Sociologia ao analisar a estrutura social entre os “Boe” onde a classificação do indivíduo é realizada a partir de seu clã com regra de descendência matrilinear, de modo que, ao nascer, a criança receberá um nome que a identificará ao clã de sua mãe; pela Filosofia ao estudarmos as relações de poder distribuído entre três personagens distintos: o Boe eimejera, chefe da guerra, da aldeia e do cerimonial; o Bári, xamã dos espíritos da natureza; e o Aroe etawarare, xamã das almas dos mortos e pela História ao analisar a trajetória desse povo que luta para não ser apenas mais um dado estatístico entre os povos extintos. Discutimos temas polêmicos seguindo a visão dos antropólogos Darcy Ribeiro e Eduardo Viveiros de Castro e seus apontamentos sobre quem é índio e quem não é na sociedade brasileira atual e os critérios de pertencimento; fiquei muito feliz ao descobrir através de um seminário realizado com a turma ao final das pesquisas que a neta de Severina, atualmente estudando no primeiro ano pretende ser jornalista e um dia ajudar a contar a história de seu povo em diversos idiomas demonstrando que o sonho de Severina Boe não morreu, agora está no patamar de projeto de vida de uma estudante do ensino médio inovador. 5.3 Severina Brasileira: Desistir Jamais Que nome poderíamos atribuir a alguém que nasceu em 12 de março de 1921 em uma família humilde no interior do sertão baiano e setenta e um anos mais tarde resolve recuperar o tempo perdido e voltar para a escola para aprender a escrever o seu nome? “As coisas eram diferentes, escola não era coisa de menina, tinha que aprender lavar, passar cozinhar; entrei na escola com treze anos, só aprendi uns rabiscos, mas tive que sair para ajudar a família” nos relata. Da infância recorda que nunca tivera brinquedo comprado, as espigas de milho e os sabugos viravam bonecas, as costelas das vacas jogadas pelo pasto viravam rebanho de vaquinhas, era tudo muito simples, mas muito bom, pôde experimentar o sabor da felicidade vivendo no sertão guiratinguense no século passado sem nenhuma regalia do mundo moderno. Através de Severina percebemos as dificuldades para realizar os deslocamentos até os monchões e grupiaras que escondiam as gemas diamantíferas, as distâncias eram longas e cansativas. As viagens aconteciam sempre em grupo, os meios de transporte eram carros de bois, lombo de mulas e burros, mas a maioria vinha a pé mesmo. Assistiu muitas pessoas morrerem: “(...) matava-se gente igual mata queixada, o Getúlio é que acabou com isso”, mas também viu muitas mães dar a luz pelas mãos das parteiras, pois médico não tinha nos garimpos. 15 Na memória ainda muito preservada fica num cantinho escondido o ruído das rodas do carro de boi que transportavam famílias inteiras do sertão nordestino para o antigo leste mato-grossense com a intenção de “bamburra”, tirar a sorte grande e da roca tecendo o algodão cru que mais tarde viraria roupa. Em 1944 chegou a Guiratinga, tempos difíceis, o mundo estava em guerra e até mesmo por essas bandas houve perseguição política. Cinco famílias se destacavam naquele tempo: Cajango, Barros, os Moraes e os Gabriel, vindo todos das regiões do triângulo mineiro. Casada desde 1937 aos dezesseis anos com "Gemi" seu eterno amor, trabalhou em diversas funções para ajudar no sustento da família, mas nos ocuparemos em resgatar aspectos de uma profissão que ela desempenhava e que atualmente está praticamente extinta em nosso meio, o ofício de lavadeira. Naquele tempo não tínhamos água encanada em Guiratinga, nem máquina de lavar ou eletricidade, a roupa era lavada na beira dos córregos Lageadinho, Manilha Seminário e Augusto Alves e as mulheres segundo Severina vinham de longe com os buchos de roupas na cabeça para disputar os quaradouros e tábuas de bater roupa. Severina relata também a forma como se fabricava o produto: “Separava a madeira, aroeira ou paineira e colocava para queimar depois colocava a cinza no barrileiro construído com palha de buriti, jogava água sobre a cinza e aparava embaixo com uma vasilha, aquela água tinha o mesmo papel da soda cáustica”. O Produto final na forma de bolinhas ainda hoje é utilizado por algumas famílias não somente para lavar roupas, mas também com fins terapêuticos eliminando frieiras, caspas, seborreias, coceiras, micoses, sarnas, lepra sanguínea, hemorroidas externas, cabelos encravados, cravos, dentre outros. Infelizmente a arte de fazer sabão d`cuada está desaparecendo, pois os jovens preferem as facilidades do produto industrializado, mas a receita da Vovó Severina está disponível no blogger de sua neta no seguinte endereço: http://diennysantos16.blogspot.com.br/. Severina estudou até a sétima série, pois com a morte de seu amado esposo perdeu o encanto pela escola, atualmente não mora mais em Guiratinga, migrou para o norte de Mato Grosso e assim como ela Dienny Guerreira sua neta, faz da estrada o passaporte em busca de dias melhores. Severina viajava nos carros de boi, Dienny de forma não menos heroica enfrenta o banco do ônibus escolar todos os dias em viagens que duram mais de seis horas em estradas sem asfalto, sem horário certo para almoçar, jantar, fazer tarefas ou estudar; duas guerreiras que não desistem nunca, pois sabem que atrás de cada uma delas tem uma torcida enorme acreditando que a vitória será apenas uma questão de tempo, pois garra e predisposição para a luta faz parte do código genético dessas brasileiras. 5.4 Severina Coreana: Garimpeira sim Senhor Diversos estudos acadêmicos se preocuparam em caracterizar a atividade ligada a garimpagem de diamantes a partir da ótica dos homens que trabalhavam na prospecção do minério, mas poucos retratam efetivamente o trabalho feminino fora da rotina ligada aos afazeres da casa, nesse sentido esta personagem é interessante pois relata aspectos da vida de uma mulher nos garimpos da Coreia, um Distrito diamantífero oficialmente conhecido como “Vila Nova”, mas por razões ligadas a luta pela posse da terra no mesmo período em que ocorreu a Guerra da Coreia acabou recebendo esse pseudônimo. 16 Severina Coreana poderia ser simplesmente mais uma entre tantas outras mulheres de meados do século passado, filha única em meio a doze irmãos casou- se bem cedo por volta dos treze anos num tempo em que se “juntar” ao marido era a opção existente, pois casamento no “papel” só ocorria em Santa Rita do Araguaia, sede do antigo Distrito de Lageado e demorava aproximadamente quinze dias de viagens levando as testemunhas, os pais dos noivos e os convidados no lombo dos animais e nos carros de bois. Em função da falta de emprego na cidade, os maridos sumiam para os monchões, canoões e grupiaras diamantíferas e passavam um longo período sem voltar para casa, muitos jamais voltavam; esse foi o caso do marido de Severina. Após muitos anos na localidade chamada Monchão Dourado e cansada de esperar a volta do marido migrou para a Coréiacom o intuito de conseguir um pedaço de terra e tentar a sorte no garimpo para ajudar no sustento da família. Aos poucos a vila foi ajuntando gente dos mais distantes rincões do país; nas casas mulheres e crianças, pois o garimpeiro acompanha o veio diamantífero e quando o cascalho era “bajerê” (ruim) o garimpeiro migrava para outra região. “Dinheiro quase não existia, era raro; os negócios aconteciam na base da troca nos ‘bolichos” do local. O arroz, o feijão era vendido por litro e o pagamento era realizado com a entrega de diamantes, os “xibios” (pedras pequenas) eram desprezados e não raro eram colocados no cano do revólver para “virar farinha”. Para sustentar a família Severina assim como tantas outras amigas entre uma tarefa e outra se dirigiam para o Monchão das Mulheres e lá realizavam todas as etapas do garimpo a seco, quebrando e carregando o cascalho para lavar na beira do Rio das Garças. Ela nos conta que havia mulheres que trabalhavam como mergulhadoras, buscavam cascalho no fundo do rio, atividade extremamente exaustiva, e perigosa, pois sobreviviam lutando contra a correnteza e tinham que ter muita força nos braços para subir com o carumbé (espécie de balde) na cabeça até a superfície, sem a ajuda de escafandro ou tubos de oxigênio. Severina relata também outra particularidade da Coreia, o famoso Monchão das Crianças; naquele período, sobreviver era um verbo conjugado por toda família e “bamburrar” (tirar a sorte grande) era para poucos. Havia muito diamante, mas mulheres e crianças eram impelidas ao trabalho, quase sempre em situações desumanas porque os homens mesmo pegando grandes quantidades de pedras valiosas quase sempre gastavam tudo com jogatinas, mulheres e bebidas. Sem nunca ter ido à escola teve que aprender a “escrever” (a escrita no garimpo de diamantes é um processo pelo qual com um pequeno pedaço de galho representando uma caneta o garimpeiro vai ciscando o cascalho fino que fica alojado no fundo da peneira para separar o diamante das pedras comuns) para ajudar no sustento dos filhos. Com o tempo arrumou um companheiro com quem vive até hoje e além de criar seus filhos ainda ajuda criar seu neto que foi o responsável pela pesquisa que gerou esse texto. Morador da Coreia desloca-se todos os dias para Guiratinga percorrendo aproximadamente sessenta km por dia para realizar seus estudos sonhando com dias melhores através da educação para retribuir tudo àquilo que sua segunda mãe fez e continua fazendo por ele ao longo de seus dias. Maiores informações sobre a personagem, seu neto e sobre o Distrito diamantífero podem ser obtidas no blogger http://evilazaromendesoliveira.blogspot.com.br/ . 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência realizada extrapolou os objetivos propostos e envolveu 17 diversos segmentos da comunidade escolar; cada encontro na Sala do Educador servia para avaliar as ações de forma coletivas e lançar novas estratégias. Ao conhecer as dificuldades enfrentadas pelos nossos alunos, principalmente os oriundos da Escola do Campo, decidimos fazer o caminho inverso, ir até a residência deles e sentir de perto as condições adversas que estavam intimamente ligadas ao fracasso escolar e a partir de então passamos a adotar metodologias adequadas ao quadro em questão. Os alunos se portaram como atores principais e os professores como facilitadores na produção do conhecimento, muitas das sugestões apontadas por eles foram colocadas no Projeto Político Pedagógico e transformadas em ações com financiamento do próprio MEC entre as quais destacamos duas viagens de campo: Morro da Arnica, local em que ocorreu um sangrento episódio na luta pelo controle do diamante na década de 1920 e ao Sítio Arqueológico “Abrigo do Garças” nas margens do Rio das Garças, um patrimônio que está prestes a ser inundado em função da construção de uma usina hidrelétrica. Os celulares, além do laboratório de informática foram aliados valiosos e as áreas de Ciências da Natureza e Linguagem ofereceram importantes contribuições ao sucesso do Projeto. Dois jornaizinhos foram editados pelos professores da Área de Ciências Humanas visando ampliar as informações sobre as viagens e contextualizar os temas abordados nos resgates realizados pelos alunos, mais de uma centena de bloggers e e-mails estão em funcionamento, além de vídeos e fotos espalhadas em galerias na internet. Assim como o rio se renova a cada dia, já não somos mais os mesmo depois da experiência; ousamos conjugar na visão de Rubens Alves os verbos amar, libertar e agir e não somos mais eucaliptos, mas jacarandás em construção. Fomos impactados pela urgência da mudança que se impões diante dos dados estatístico do Ensino Médio e adotamos medidas no tocante ao reforço da alimentação com o desenvolvimento da Horta escolar e execução de um projeto de estímulo à leitura, mas ainda precisamos de um refeitório e rever com carinho a grave questão do transporte escolar. O fato é que avançamos muito no resgate da autoestima, da convivência familiar e do trabalho em grupo. Sorrimos, choramos juntos e aprendemos mais ainda, certamente valeu a pena para cada um que viveu a experiência. 7. BIBLIOGRAFIA ALVES, Rubens. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1980. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. 2. ed. Memória e Sociedade. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002. DEBRET, J. Baptiste. Viagem Pitoresca e História do Brasil, Belo Horizonte, ed. Itatiaia, São Paulo; Edusp, 1988. Tomo I. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa.3.ed. São Paulo: Atlas, 1996. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 6ª. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996. RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a Civilização, Petrópolis, Vozes,1970 THOMPSON, Paul. A voz do passado: História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 18 ESTUDAMOS EM SALA FOTO Nº 01 AULA NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA Fonte: Coordenação Escolar 2012 PRATICAMOS NO CAMPO FOTO Nº 02– VIAGEM DE ESTUDO AO MORRO DA ARNICA Fonte: Felipe dos Anjos – 2º Ano 19 REALIZAMOS PESQUISA DE CAMPO FOTO Nº 03 SEVERINA BOE FOTO Nº 04 SEVERINA BOE NA ALDEIA Fonte: Arquivo pessoal de KatiellyBoe Fonte: Arquivo pessoal de KatiellyBoe FOTO Nº 05– SEVERINA GUERREIRA (Vestido Florido/Sentada) Fonte: Arquivo pessoal da família da entrevistada 20 VISITAMOS LOCAIS HISTÓRICOS FOTO Nº 06– VISTA PARCIAL DO MORRO DA ARNICA Fonte: Asheley Henrique – 1º Ano FOTO Nº 07–ESCALADA AO MORRO DA ARNICA Fonte: Paulo André – 3º Ano 21 FOTO Nº 08–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS Fonte: Asheley Henrique – 1º Ano FOTO Nº 09–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS Fonte: Paulo André – 3º Ano 22 CONHECEMOS OS PERCURSOS FOTO Nº 10–LOCAL DE EMBRAQUE DOS ALUNOS Fotografia realizada pelos alunos com uma câmera cedida pela Prof.ª Marly Gonçalves FOTO Nº 11– FRAGRANTE: SERVO NA ESTRADA Fotografia realizada pelos alunos com uma câmera cedida pela Prof.ª Marly Gonçalves 23 OS PERCALÇOS DO CAMINHO FOTO Nº 12–FRAGRANTE: DESOBSTRUÇÃODA ESTRADA Fotografia realizada pelos alunos com celular FOTO Nº 14–CHEGADA EM CASA Fotografia realizada pelos alunos com celular 24 E AS OCUPAÇÕES DIÁRIAS DE NOSSOS ALUNOS NO CAMPO FOTO Nº 14–ALUNO TRABALHANDO NA PECUÁRIA EXTENSIVA Imagem cedida pelo aluno para o Projeto FOTO Nº 15–ALUNA–CUIDANDO DE PEQUENOS ANIMAIS Imagem cedida pelo aluno para o Projeto 25 INTEGRAMOS AS DISCIPLINAS FOTO Nº 17–AULA DE MATEMÁTICA NO AMBIENTE DA ROÇA Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto FOTO Nº 18–AULA DE QUÍMICA NO AMBIENTE DA ROÇA Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 26 COM TECNOLOGIA FOTO Nº 19–IRRIGAÇÃO AUTOMÁTICA NA HORTA ESCOLAR Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto FOTO Nº 20–IMPLANTANDO A IRRIGAÇÃO Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 27 TROUXEMOS A ROÇA PRA ESCOLA FOTO Nº 21–PREPARANDO OS CANTEIROS Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto FOTO Nº 21–CUIDANDO DAS VERDURAS Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 28 FOTO Nº 22–DIA DO ESTUDANTE Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto FOTO Nº 23–VALEU A PENA Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 29 E CELEBRAMOS O SUCESSO FOTO Nº 24–DIA DO ESTUDANTE Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto FOTO Nº 25–GENTE QUE FÊZ - GENTE QUE FAZ Fonte: Thais Michele – 3º Ano 30 JORNALZINHO EDITADO A PARTIR DAS ENTREVISTAS REALIZADAS PELOS ALUNOS 31 32 33 34 JORNALZINHO EDITADO A PARTIR DAS ENTREVISTAS REALIZADAS PELOS ALUNOS 35 36 37 38 BLOGGERS DIRETAMENTE ENVOLVIDOS COM O RELATO Professor João Antonio Pereira Vídeos no Canal Pessoal do Youtube https://www.youtube.com/watch?v=kwSqQzuohUA https://www.youtube.com/watch?v=3ohFCsM9_fA https://www.youtube.com/watch?v=V7hZZBH3mYs&feature=plcp https://www.youtube.com/watch?v=0DRfLwl0wbI https://www.youtube.com/watch?v=xeGUnDkxh9g https://www.youtube.com/watch?v=xeGUnDkxh9g&feature=relmfu FacebookPessoal http://www.facebook.com/joaoantonio.pereira.18/photos_albums Aluna do 1º Ano Vespertino http://www.katiellymartins.blogspot.com.br/ Aluna do 2º Ano Vespertino “D” http://diennysantos16.blogspot.com.br/2012/09/memorias-da-vida-em-vida.html Aluno do 2º Ano Vespertino “C” http://evilazaromendesoliveira.blogspot.com.br/ ARTIGO PUBLICADO NA INTERNET COM A TEMÁTICA CELULAR EM SALA DE AULA http://www.webartigos.com/artigos/enem-geracao-y-e-celular-em-sala-de-aula-uma-combinacao- explosiva/98864/
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