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Professores do Brasil MEC Memórias da Vida Em Vida

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ESTADO DE MATO GROSSO 
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO 
GUIRATINGA/MATO GROSSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MEMÓRIAS DA VIDA EM VIDA 
Inovar é Preciso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUIRATINGA-MT 
OUTUBRO/2012 
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JOÃO ANTONIO PEREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MEMÓRIAS DA VIDA EM VIDA 
Inovar é Preciso 
 
 
 
 
 
 
 
Relatório do Projeto Desenvolvido na 
Escola Estadual de Ensino Médio Dª. Maria 
de Lourdes Ribeiro Fragelli como parte das 
atividades desenvolvidas no 3º Bimestre na 
disciplina de História. 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUIRATINGA-MT 
OUTUBRO/2012 
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AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus: 
Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia quando eu já não tinha mais por 
onde caminhar, meu refúgio e fortaleza, razão maior de minha existência. 
 
Aos meus pais: 
João Das Chagas Pereira e Isaura Pereira (in memoriam) por me encorajarem a 
desfraldar a bandeira da vida. 
 
À minha esposa: 
Daniella Cristina Santos Teixeira Pereira companheira de todas as jornadas. 
 
Aos meus filhos: 
Caroline, Jackeline, Pâmela, Asheley e Nathaly, como um singelo pedido de 
desculpas pelas minhas ausências em função da arte de educar. 
 
 
Aos meus companheiros de trabalho pois... 
“Nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco”, a família Maria de 
Lourdes é um compromisso de todos nós. 
 
Aos meus queridos alunos 
Por me estimularem a encontrar respostas novas e criativas aos velhos e novos 
problemas da sala de aula. 
 
Aos entrevistados 
Que gentilmente nos receberam em suas residência ou locais de trabalho 
contribuindo decisivamente com o resultado final do projeto. 
 
 
Muito obrigado! 
 
4 
 
RELAÇÃO DE FOTOS 
 
FOTO Nº 01 AULA NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA 18 
FOTO Nº 02 – VIAGEM DE ESTUDO AO MORRO DA ARNICA 18 
FOTO Nº 03 SEVERINA BOE 19 
FOTO Nº 04 SEVERINA BOE NA ALDEIA 19 
FOTO Nº 05 SEVERINA GUERREIRA (Vestido Florido) 19 
FOTO Nº 06– VISTA PARCIAL DO MORRO DA ARNICA 20 
FOTO Nº 07–ESCALADA AO MORRO DA ARNICA 20 
FOTO Nº 08–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS 21 
FOTO Nº 09–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS 21 
FOTO Nº 10–LOCAL DE EMBRAQUE DOS ALUNOS 22 
FOTO Nº 11–FRAGRANTE: SERVO NA ESTRADA 22 
FOTO Nº 12–FRAGRANTE: DESOBSTRUÇÃO DA ESTRADA 23 
FOTO Nº 14–CHEGADA EM CASA 23 
FOTO Nº 14–ALUNO TRABALHANDO NA PECUÁRIA EXTENSIVA 24 
FOTO Nº 15–ALUNA – CUIDANDO DE PEQUENOS ANIMAIS 24 
FOTO Nº 17–AULA DE MATEMÁTICA NO AMBIENTE DA ROÇA 25 
FOTO Nº 18–AULA DE QUÍMICA NO AMBIENTE DA ROÇA 25 
FOTO Nº 19–IRRIGAÇÃO AUTOMÁTICA NA HORTA ESCOLAR 26 
FOTO Nº 20–IMPLANTANDO A IRRIGAÇÃO 26 
FOTO Nº 21–PREPARANDO OS CANTEIROS 27 
FOTO Nº 21–CUIDANDO DAS VERDURAS 27 
FOTO Nº 22–DIA DO ESTUDANTE 28 
FOTO Nº 23–VALEU A PENA 28 
FOTO Nº 24–DIA DO ESTUDANTE 29 
FOTO Nº 25–GENTE QUE FÊZ - GENTE QUE FAZ 29 
5 
 
SUMÁRIO 
 
1. SONHAR É PRECISO .......................................................................................... 8 
2. PROBLEMÁTICA .................................................................................................. 9 
3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 10 
3.1 GERAL: ............................................................................................................ 10 
3.2 ESPECÍFICOS: ................................................................................................ 10 
4. METODOLOGIA .................................................................................................... 10 
4.1 Público alvo: ..................................................................................................... 10 
4.2 Descrição da população: .................................................................................. 10 
4.3 Amostra ............................................................................................................ 11 
4.4 Técnica e instrumento de coleta de dados. ...................................................... 11 
4.5 Descrições dos procedimentos de análises dos dados. ................................... 11 
4.6 Produção e digitalização dos textos. ................................................................ 11 
4.6.1 Aquecendo os Neurônios .............................................................................. 11 
4.6.2 Seleção de Monitores das Turmas ................................................................ 12 
4.6.3 Recursos Humanos ....................................................................................... 12 
4.6.4 Recursos Materiais ....................................................................................... 12 
4.6.5 Avaliação ...................................................................................................... 12 
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 12 
5.1 Três Severinas: Suas Memórias e o Resgate do Self ...................................... 13 
5.2 Severina Boe: Sobreviver é preciso. ................................................................ 13 
5.3 Severina Brasileira: Desistir Jamais ................................................................. 14 
5.4 Severina Coreana: Garimpeira sim Senhor ..................................................... 15 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 16 
7. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 17 
8. ANEXOS 
8.1Fotografias.......................................................................................... ...............18 
8.2 Jornaizinhos Produzidos na Escola....................................................... .. .........30 
8.3 Documentos Pessoais......................................................................... .............38 
8.4 Declaração Escolar............................................................................. . .............39 
8.5 Relação de Bloggers Relacionados Com o Relato........................... ................40 
 
6 
 
SÍNTESE DA EXPERIÊNCIA 
 
Guiratinga-MT é um município de pequeno porte localizado na Amazônia Legal brasileira com 
economia centrada na agropecuária e na extração de diamantes. Segundo o Censo 2010 possui 
12.471 habitantes distribuídos por oito Escolas de Ensino Fundamental e apenas uma Escola de 
Ensino Médio. Com a extinção dos grandes garimpos de diamantes provocada pela mudança na 
legislação ambiental o município experimentou um êxodo maciço dos garimpeiros e ainda hoje busca 
novas alternativas econômicas que possa estancar a saída de seus moradores; O índice de 
analfabetismo local segundo o IBGE 2.000 chegava a 14,6% da população e muitos de nossos 
alunos passam mais tempo dentro de um ônibus escolar do que na sala de aula. As dificuldades por 
eles enfrentadas muito se assemelham as vividas em minha adolescência, refletidos em sala de aula 
nos altos índices de abandono e repetência. A principal queixa dos professores com relação às 
dificuldades no tocante ao processo ensino aprendizagem no primeiro bimestre do ano letivo de 2012 
da Escola Estadual Dª. Maria de Lourdes Ribeiro Fragelli estava relacionada ao uso indevido do 
celular em sala de aula. Depois de muitas tentativas frustradas, resolvi utilizar as ferramentas 
tecnológicas, celulares, smartphone Ipod, tablets e microcomputadores disponíveis na escola para 
produzir conhecimento utilizando os pressupostos da metodologia da pesquisa bibliográfica e da 
pesquisa oral na área de Ciências Humanas, postando os resultados em bloggers criados pelos 
próprios alunos. Para estimulá-los também fui produzindoconcomitantemente os meus textos e o 
meu blogger, que servia de suporte para aqueles que tivessem mais dificuldade e o resultado foi tão 
surpreendente que foi motivando toda escola a trabalhar por projetos de forma integrada entre as 
diversas áreas do conhecimento. Este relato trata da experiência realizada em Memórias da Vida Em 
Vida, Projeto executado inicialmente no período vespertino totalizando aproximadamente duzentos 
alunos, exatamente no turno em que aproximadamente trinta por cento dos educandos são oriundo 
da Escola do Campo e apresenta o pior desempenho da escola, mas ganhou uma dimensão tão 
grande que as ações se expandiram para outros turnos incluindo o noturno com o objetivo de 
resgatar a autoestima e melhorar a interação, tendo ótima aceitação entre os mesmos, demonstrando 
que é perfeitamente adaptável também ao Ensino Médio Regular. Contou com participação de 
técnicos educacionais, pais, avós, funcionários aposentados, além de coordenadores e diretor 
escolar. A Avaliação foi realizada em dois níveis: interno pela comunidade escolar e externa através 
de um seminário de fechamento envolvendo toda a comunidade local, postagens em bloggers, Face 
book, entre outros. 
 
 
PALAVRAS CHAVES: História Oral; Celulares em sala de aula; Ensino Médio Inovador; 
Bloggers. 
7 
 
ABSTRACT 
 
Guiratinga-MT is a small city located in the Brazilian Amazon with economy centered on agriculture 
and the extraction of diamonds. According to the 2010 Census has 12,471 inhabitants in eight Schools 
Elementary School and only a High School. With the extinction of the great diamond mines caused by 
changes in environmental legislation the municipality experienced a mass exodus of prospectors and 
still seeks new economic alternatives which may stanch the output of its residents; Illiteracy rate 
according to IBGE Local 2000 came to 14 6% of the population and many of our students spend more 
time in a school bus than in the classroom. The difficulties they face much resemble those 
experienced in my teens, in the classroom reflected in high rates of dropout and repetition rates. The 
main complaint of the teachers regarding the difficulties with regard to the learning process in the first 
two months of the school year of 2012 the State School D ª. Maria de Lourdes Ribeiro Fragelli was 
related to the misuse of mobile classroom. After many failed attempts, I decided to use technological 
tools, phones, Ipod, tablets and micro-computers to generate knowledge using the assumptions of the 
methodology of literature and research in the area of oral Humanities, posting the results on bloggers 
created by the students. To encourage them also was concurrently producing my writings and my 
blogger, who served as support for those who had more difficulty and the result was so surprising that 
it was motivating to work for every school projects seamlessly between different areas of knowledge. 
This report deals with the experiment in Memoirs of the Life On Life Project initially run in the 
afternoon totaling approximately two hundred students, exactly the turn that around thirty percent of 
the students are coming from the Field School and presents the worst performance of the school, but 
won a scale so large that actions have expanded to other shifts including night aiming to rescue the 
self-esteem and improve interaction, with great acceptance among them, demonstrating that it is also 
perfectly adaptable to the Regular School. Counted with the participation of technical education, 
parents, grandparents, retirees, and coordinators and school principal. The evaluation was performed 
on two levels: the internal and external school community through a closing seminar involving all the 
local community, postings bloggers, Face book and others. 
 
KEYWORDS: Oral History; Phones in the classroom; School Innovator; Bloggers. 
 
 
 
 
 
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1. SONHAR É PRECISO 
 
Ibitinguense, negro, filho mais velho de uma família de cinco irmãos; órfão 
de mãe aos treze anos, pai lavrador, me vi obrigado ao estudo noturno a partir da 
quinta série em uma escola pública para ajudar no sustento dos irmãos mais jovens 
entre eles uma pequenina de dois anos e o caçula com menos de um aninho de 
vida. Percebi logo cedo nas salas de aula que minha história se confundia com a 
história de vida dos meus alunos e não podia ficar indiferente ao problema 
enfrentado por eles. 
Quando adolescente, os cafezais, os laranjais, os canaviais do oeste 
paulista me eram muito familiares. Quatro e meia da manhã pegava o “pau-de-arara” 
e por volta das seis horas estava na frente ao eito. De dia o sol escaldante fritava os 
miolos, à noite me debruçava nos livros na ânsia de reescrever a história da família 
Pereira. 
Inúmeras vezes tive que dividir o almoço com as formigas, isso quando ele 
não azedava no velho caldeirão de alumínio; a moringa, a enxada o facão de cortar 
cana sempre estavam ao meu lado tecendo inicialmente o sonho de ser sargento do 
Exército brasileiro, e mais tarde professor para ajudar aqueles que assim como eu 
enfrentavam problemas sociais tão graves que lhes feriam a alma quando não lhes 
abreviava a vida. 
Fui sargento do Exército Brasileiro, sou professor de escola pública e depois 
de trinta anos de serviços prestados à nação ainda me deparo na sala de aula com 
as mesmas circunstâncias que vivi quando criança, agora com uma nova roupagem. 
O cenário é diferente, mas os problemas são os mesmos; os canaviais do oeste 
paulista aqui são representados pelas extensas plantações de soja e algodão nos 
chapadões mato-grossenses; a paisagem gradativamente foi sendo desumanizada 
como consequência da mecanização das lavouras e o fim da atividade garimpeira, 
mas nos olhos dos alunos consigo enxergar as mesmas cenas que assistia em 
minha infância, crianças, jovens e adolescentes com famílias desestruturadas, 
muitos dos quais nunca visitaram um médico ou dentista e o mais grave, dezenas 
deles permanecem mais de seis horas por dia dentro do ônibus de transporte 
escolar. 
Na paisagem exibida nos buracos das janelas do ônibus passam bois, 
tamanduás, passam araras em revoadas, mas passa também o período mais lindo 
de suas vidas, a infância e adolescência. 
Ao revisitar a memória recordo de minha cartilha “Caminho Suave” que de 
suave não tinha nada; os professores usavam castigos físicos na sala de aula, 
quadro que vi repetir no MT no início da década de 1990, ora a palmatória, ora a 
régua de um metro, ora os bambuzinhos ou os joelhos dobrados sobre os caroços 
de milho ou feijão atrás da porta, mas nada é tão grave como ouvir uma adolescente 
interromper uma aula para sair da sala por causa da fome ou desistir da escola 
porque o pai acredita que a “educação não dá camisa pra ninguém, se quiser comer 
tem que enfrentar o cabo da enxada”. 
É inegável que nas duas últimas décadas avançamos muito, as escolas 
públicas possuem computadores interligados a internet, Datashow, TV digital, 
impressoras, filmadoras, aos poucos estamos substituindo o “decoreba”, mas 
também é verdade que no tocante ao aprendizado professores e alunos ainda 
precisam realizar uma verdadeira revolução no campo do diagnóstico, do 
planejamento, da didática e da avaliação, para responder satisfatoriamente aos 
anseios da sociedade digital em constante transformação. 
9 
 
Os celulares, as redes sociais, a prostituição e até mesmo as drogas estão 
preenchendo de forma vertiginosa o espaço que deveria ser ocupado com educação 
de qualidade; O ensino Médio Inovador, conquista local da comunidade escolar foi a 
opção escolhida como estratégia pedagógica, pois decididamente não vamos perder 
essa batalha. 
No embate teórico com os alunos compreendemos que a principal diferença 
entre um sonho e um projeto é o fato de que o projeto tem data para começar e 
terminar; é em síntese, a materializaçãodo sonho e então começamos a sonhar 
junto o Projeto: MEMÓRIAS DA VIDA EM VIDA -Inovar é Preciso. Você é nosso 
convidado especial para conhecer as ações desenvolvidas, as conquistas e os 
percalços do caminho. 
2. PROBLEMÁTICA 
Em uma tarde qualquer da primavera de 2012 ao chegar à sala de aula do 
1º Ano do Ensino Médio Inovador percebi que havia uma aluna debruçada sobre sua 
carteira, predisposta a não participar das atividades previstas para aquele momento. 
Ao perguntar o motivo ela prontamente respondeu: “Estou com fome professor, 
chega até doer a barriga. Posso sair da sala”? 
Inicialmente procurei descontraí-la, mas percebi que o assunto era sério e 
não pontual; aquela aluna era apenas parte do enorme iceberg que diversos 
estudantes do ensino oficial do município enfrentavam diariamente. 
Realizamos um diagnóstico na escola através da metodologia da pesquisa 
ação e encontramos problemas de diversas naturezas que se traduziam em pontos 
de estrangulamento do processo ensino aprendizagem contribuindo decisivamente 
com a evasão, repetência, e baixos rendimentos entre eles destacaram-se: 
 Transporte escolar: Uma parcela significativa dos alunos é 
proveniente da zona rural e permanecem mais tempo no ônibus escolar do que 
dentro da sala de aula, sem horário adequado para as refeições, realizar as tarefas, 
ficar com a família ou desenvolver atividades de lazer, percorrendo mais de 120 km 
diários em condições adversas: durante a seca a poeira provocada pelo intenso 
trânsito de caminhões que transportam soja, algodão e milho; durante o período 
chuvoso a lama, a destruição de pontes e estradas interditadas. 
 Falta de perspectivas em relação ao futuro: A cidade de Guiratinga 
MT se localiza em uma zona remanescente de garimpo de diamantes e a principal 
atividade econômica desenvolvida ao longo de todo o século XX, trouxe na primeira 
metade do século passado um desenvolvimento capaz de incluir em pleno sertão 
brasileiro uma linha aérea regular da Varig e da Vasp, exportando para os principais 
centros econômicos do país, mais de 55 milquilates de diamantes por mês, além do 
intenso fluxo de passageiros; mas o diamante acabou os mineradores foram embora 
e as empresas seguiram o mesmo destino. Até mesmo escolas tradicionais foram se 
fechando e os cursos profissionalizantes e ou faculdades se transformaram num 
sonho distante, pois as condições de deslocamento para os polos regionais são 
inviáveis para a maioria dos jovens estudantes; 
 Baixa autoestima: Os especialistas apontam diversas causas do 
problema, mas na sala de aula ele vem se materializando principalmente através do 
imobilismo, da apatia, desinteresse pelas aulas, perda da confiança em si mesmo, 
da capacidade reflexiva e criativa, atrofiando gradativamente sua capacidade de 
produzir, construindo um quadro de impotência diante dos desafios intelectuais 
propostos, demonstrando um “self” (o verdadeiro eu) descaracterizado, como se 
fosse uma máscara da realidade, para se defender, perdendo a consciência de seu 
10 
 
valor, das conquistas pessoais e se envolvendo cada vez mais cedo com o álcool, 
com as drogas e a prostituição infanto-juvenil; 
 Uso indevido do celular na sala de aula: Constata-se que o 
problema é nacional, vem gerando em alguns estados uma regulamentação 
específica por parte dos estabelecimentos estudantis e por órgão municipais e 
estaduais e diversas reuniões na escola visando encontrar o contraponto da 
questão; de que forma utilizar a ferramenta a favor da educação sem gerar 
discriminação em sala de aula ou favorecer este ou aquele aluno que em função da 
questão econômica possa ter equipamento mais ou menos potente? 
 Desajuste familiar: O diagnóstico escolar apontou que em função da 
natureza do trabalho regional (agropecuária nos topos dos chapadões e extração de 
diamantes) o diálogo entre pai e filho, além de raro, quase sempre é conflitante. Por 
outro lado, Alves (2009) nos ensina que o saber tem que ter sabor, que o cardápio 
da aprendizagem tem que ter tempero e desafia os professores a despertar a fome 
de aprendizagem nos alunos. 
3. OBJETIVOS 
3.1 GERAL: 
Utilizar ferramentas da era digital na construção de um conhecimento mais 
cidadão e uma educação libertária a partir de nossas próprias atitudes. 
3.2 ESPECÍFICOS: 
Estabelecer diálogos entre o saber histórico e as práticas de construção da 
narrativa oral; proporcionar elementos conceituais para identificação dos gêneros 
possíveis de história oral; estimular pesquisas a partir das noções de intervenção, 
mediação e colaboração, considerando emoções, valores pessoais e sociais dos 
sujeitos envolvidos; despertar na comunidade escolar a capacidade de construção 
de visão estratégica no fazer escolar; estimular o empreendedorismo e a 
conectividade; incentivar a troca de conhecimento; construir blogs e e-mails; 
compartilhar experiências; provocar o diálogo na família; utilizar adequadamente os 
celulares, e as ferramentas digitais em sala de aula. 
4. METODOLOGIA 
Visando a realização efetiva desse projeto foram adotados os pressupostos 
teóricos dos métodos da pesquisa bibliográfica e da História Oral por entendermos 
que os mesmos se adéquam melhor a natureza da investigação. 
4.1 Público alvo: 
Pessoas que de alguma forma tivessem uma relação direta com a história de 
vida do aluno e que preferencialmente, mas não obrigatoriamente estivessem vivas. 
4.2 Descrição da população: 
Levando em consideração a natureza da investigação, a definição da 
amostragem foi realizada de forma não aleatória intencional conforme prescrevem 
Marconi & Lakatos (2007) levantando dados caracterizadores dos entrevistados: 
nome; idade; estado civil; etc. dados da história de vida com enfoque no resgate da 
memória do trabalho, profissão, ocupações ao longo da vida; idade com que 
começaram a trabalhar; o significado do trabalho em suas vidas; estudo, distância 
entre casa, escola ou falta dela e o significado da mesma em suas vidas. 
11 
 
4.3 Amostra 
A população pesquisada se constituiu de pais, avós, bisavós, tios ou amigos 
da família de alunos do Ensino Médio Inovador regularmente matriculado na Escola 
Estadual Dona Mara de Lourdes Ribeiro Fragelli no ano letivo de 2012. 
4.4 Técnica e instrumento de coleta de dados. 
Visando estimular os alunos a realizar os trabalhos comecei fazendo 
interrogações sobre as novelas que eles mais assistiam, fui perguntando os nomes 
dos personagens mais importantes, principais características e através das 
respostas traçávamos o perfil sociológico dos mesmos. Concluímos que muitas 
daquelas características estavam presentes em nossas famílias com nomes 
diferentes, mas com traços muito semelhantes. Analisamos as condições que 
contribuíram para que o personagem agisse daquela forma e lancei um desafio para 
cada um deles: Encontrar alguém do convívio deles que merecesse ser 
homenageado através de um texto. Elaboramos algumas questões que seriam 
aplicadas de forma coletiva levando em consideração os seguintes pressupostos de 
Chartier (2002) “... a memória só atua resgatando aquilo que tem importância para o 
agora” e Thompson (1992) “... as perguntas precisam ser tão simples e diretas 
quanto possível”. 
Após o primeiro contato os questionários eram entregues pessoalmente aos 
entrevistados em suas residências os quais após responder devolviam no dia 
seguinte no mesmo local e horário combinado. Algumas vezes optava-se pela 
entrevista em função do baixo nível de escolaridade dos entrevistados. Em função 
das distâncias por vezes as entrevistas foram realizadas via e-mails ou ligações 
telefônicas com os celulares dos próprios alunos. 
4.5 Descrições dos procedimentos de análises dos dados. 
Após o retorno dos questionários e, antes de sua análise, era realizada uma 
contextualização e decodificação dos dados, conformeGIL (1996). Caso ocorresse 
algum problema no tocante a legibilidade de palavras ou frases, entrávamos em 
contato com o respondente visando dirimir as dúvidas. As respostas mais 
significativas de acordo com os objetivos da pesquisa, conforme propõem GIL 
(1996) foram utilizadas como citações, nos textos produzidos pelos alunos e as 
informações foram disponibilizadas preferencialmente via blogger na internet para 
que outros alunos, professores e ou pesquisadores possam ter acesso e fazer o uso 
adequado das informações em futuros trabalhos dessa natureza. 
 
4.6 Produção e digitalização dos textos. 
4.6.1 Aquecendo os Neurônios 
Partindo da premissa de que o conhecimento democrático deve ser 
construído de forma solidária e participativa fui lendo para os alunos algumas 
biografias por mim produzidas de personagens comuns da vida guiratinguense, um 
garimpeiro de diamantes, uma lavadeira de roupas do século XX e um guardador de 
aviões da década de 1920, na outrora Lajeada, atual Guiratinga, elaborados 
conforme as orientações de Thompson, 1992 no tocante a textualização como 
materialização do discurso oral. 
Negociamos estratégias de aprendizagens em sala de aula e no laboratório 
de Informática, criamos regras coletivas e procedimentos adequados durante as 
aulas evitando assim as tradicionais saídas para ir ao banheiro ou atender telefone 
12 
 
durante as explicações. Acordamos ainda que antes de cada aula no laboratório 
haveria uma aula técnica em sala e imediatamente passaríamos a prática do 
conteúdo teórico através da produção do texto inicialmente manuscrito e 
posteriormente digitalizado. 
 
4.6.2 Seleção de Monitores das Turmas 
Constatei que nem todos tinham conhecimentos básicos de informática; 
muitos não sabiam sequer ligar o computador e isso gerava apatia pela máquina e 
pela internet. Elegemos monitores entre aqueles que demonstraram maior 
conhecimento e trabalhamos em dupla de acordo com a afinidade. Após assimilarem 
conhecimentos básicos sobre editores eletrônicos de texto e navegadores de 
internet criamos e-mail e blogger para publicarem suas ideias. 
 
4.6.3 Recursos Humanos 
Contamos com o apoio técnico da Pedagoga Karen Brito de Arruda, dos 
técnicos Lucinai Pereira de Moraes e Eduardo de Jesus Amora e dos professores da 
área de Ciências Humanas nas Viagens de Campo, Marli Gonçalves, Eremisis 
Gomes Santana e Epitácio Gervásio e da Coordenação e Direção Escolar. 
 
4.6.4 Recursos Materiais 
Foram utilizados celulares e microcomputadores com navegador de internet, 
Editores de Texto e o laboratório de Informática da escola. 
4.6.5Avaliação 
Esta etapa se subdividiu em duas fases: Avaliação Interna – Realizada pelos 
próprios alunos e membros da Comunidade Escolar; Avaliação Externa: Realizada 
pelos internautas. 
 
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
A História oral como procedimento de coleta se mostrou eficiente 
contribuindo decisivamente com o resgate de elementos significativos da memória 
social que por vezes não foram registrados na história oficial guiratinguense, 
corroborando com os pressupostos de Chartier (2002) ao demonstrar a existência de 
uma relação específica com a verdade e a reconstituição de um passado que existiu; 
Meihy (1996, p.10) ao abordar “percepção do passado como algo que tem 
continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado”, e Debert (1988) ao 
assinalar que ao utilizarmos histórias de vida estamos possibilitando o 
estabelecimento de um diálogo entre informante e analista, onde o primeiro nos 
fornece novas dimensões sobre o objeto de análise para que, através de um quadro 
real, possamos reformular nossos pressupostos e nossas hipóteses sobre 
determinado assunto. 
Em função da natureza do trabalho faremos um recorte analisando apenas 
três ícones entre dezenas de personagens entrevistados pelos alunos do Ensino 
Médio Inovador demonstrando através dos mesmos o alcance e a dimensão que o 
projeto alcançou na comunidade escolar. As personagens abordadas têm em 
comum o fato de ser mulher numa sociedade garimpeira dominada por jagunços e 
capangueiros de diamantes em meados do século XX; ter sobrevivido em 
circunstâncias de estrema pobreza, pouco estudo e ser retirante. 
13 
 
5.1 Três Severinas: Suas Memórias e o Resgate do Self 
Visando evitar a superexposição dos personagens e seus descendente ao 
Bullying tão comum em tempos de relacionamento em rede atribuiremos à todas 
personagens o nome “Severina” em homenagem aos retirantes nordestinos que 
ajudaram a edificar a outrora Lajeado atual Guiratinga. 
Severinas são recortes dos olhares femininos sobre a antiga Lajeado, 
abordagens realizadas por aquelas que viveram e sentiram muito mais do que aquilo 
que as palavras podem expressar, nós vimos lágrimas nos olhos dessas 
personagens ao revisitar o passado, mas vimos também uma enorme esperança no 
coração e na mente de seus filhos e netos. Por sua postura diante das dificuldades 
enfrentadas merecem nosso destaque. 
5.2 Severina Boe: Sobreviver é preciso. 
No início do século passado Lajeado, atual Guiratinga tinha donos e esses 
donos falavam a língua bororo, autodenominada “boe wadáru”, pertencentes 
ao tronco linguístico macro-jê e se distribuíam da Bolívia ao antigo Mato Grosso no 
século passado. 
Os bandeirantes que por aqui chegaram por volta de 1894, atribuíram aos 
ameríndios dessa porção do Brasil o nome de Bororo, coxipones, coroados entre 
outros tantos, mas não sabiam que eles se autodenominavam “Boes”, um ser meio 
homem meio naturezaque preservou até nossos dias o pequi, “a carne dos pobres” o 
cajuzinho do cerrado, a mangaba, o pintado, o jaú, a caranha, a Matrinchã, a onça 
pintada, o gavião real, que ajudam a reconstituir a identidade dos povos do cerrado. 
Descobrimos juntos que “Boe” é vida enquanto “Bororo” é morte. O nome 
era atribuído ao pátio da aldeia, local onde se enterrava provisoriamente o corpo do 
ente querido numa cerimônia que poderia durar meses e fora confundido pelos 
chamados “civilizados”; aprendemos que entre esse povo a educação das crianças 
era tarefa realizada pelos tios e era a menina quem tomava a iniciativa do namoro. 
Percebemos que assim como os“Boes” o cerrado está morrendo e que por 
vezes, a morte de ambos foi planejada pelo sistema capitalista e orquestrada pelas 
autoridades governamentais; até mesmo envenenamento foi utilizado em nome do 
progresso. Na ânsia de defender os seus filhos ameríndios, o nativo teve que 
aprender a lidar com um inimigo no interior da própria aldeia o conflito de gerações. 
Pais foram acusados de assassinar seus próprios filhos, mas a História ajudou a 
demonstrar que o que realmente aconteceu foi um verdadeiro genocídio causado 
pelo contato desordenado entre ambos. 
Nem mesmo as terras demarcadas por Rondon na área indígena de 
Jarudore foram respeitadas; invadida por garimpeiros e agricultores a área que 
originariamente compreendia 100 mil hectares atualmente foi reduzida a cerca de 
300 hectares e contraditoriamente no berço das águas doces do país os nativos 
estão morrendo de sede e fome. 
Os pais de Severina Boe, avós de Katielly Boe, queriam que ela se cassasse 
seguindo as tradições da aldeia, seu tio era cacique, tinha dezoito filhos e todos eles 
se mantiveram fiéis a tradição, mas ela queria estudar igual homem branco para um 
dia ser tradutora e defender o seu povo; migrou por diversas regiões do estado, se 
afastou de seus familiares e aos cinquenta e três anos vive em uma residência 
doado pelo governo municipal em um bairro afastado da cidade de Guiratinga. 
Sua história pode ser mais aprofundada no blogger 
http://www.katiellymartins.blogspot.com.br/, é uma das raras remanescentes de um 
povo que nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro (1970 p.293) ao analisar o 
14 
 
censo de 1932, afirmou que “o alto grau de vulnerabilidadedos Bororos indicava as 
últimas etapas do processo de extinção”. 
Os alunos se surpreenderam ao descobrir que o povo de Severina Boe 
conhecia e utilizava princípios da geografia moderna ao distinguir suas ações sociais 
de acordo com duas estações bem definidas ao longo do ano, a chuvosa “Butao 
butu” e a seca ‘Joru butu” estando diretamente ligados aos rituais de passagem 
“Akiri-doge”, ‘Èwure kowudu”, cerimônias da seca e “Kuiada paru”, cerimônias das 
chuvas. 
Outro aspecto interessante relaciona-se ao fato de Guiratinga se localizar 
em uma zona de transição ecológica com plantas, e animais comuns aos 
ecossistemas do cerrado, pantanal e Floresta Amazônica e isso também não 
passava despercebido pelos nativos, pois identificavam com muita propriedade a 
ocorrência desses biomas Bokú (cerrados), Boe Éna Jaka (transição) e Itúra (mata). 
Viajamos pela Sociologia ao analisar a estrutura social entre os “Boe” onde a 
classificação do indivíduo é realizada a partir de seu clã com regra de descendência 
matrilinear, de modo que, ao nascer, a criança receberá um nome que a identificará 
ao clã de sua mãe; pela Filosofia ao estudarmos as relações de poder distribuído 
entre três personagens distintos: o Boe eimejera, chefe da guerra, da aldeia e do 
cerimonial; o Bári, xamã dos espíritos da natureza; e o Aroe etawarare, xamã das 
almas dos mortos e pela História ao analisar a trajetória desse povo que luta para 
não ser apenas mais um dado estatístico entre os povos extintos. 
Discutimos temas polêmicos seguindo a visão dos antropólogos Darcy 
Ribeiro e Eduardo Viveiros de Castro e seus apontamentos sobre quem é índio e 
quem não é na sociedade brasileira atual e os critérios de pertencimento; fiquei 
muito feliz ao descobrir através de um seminário realizado com a turma ao final das 
pesquisas que a neta de Severina, atualmente estudando no primeiro ano pretende 
ser jornalista e um dia ajudar a contar a história de seu povo em diversos idiomas 
demonstrando que o sonho de Severina Boe não morreu, agora está no patamar de 
projeto de vida de uma estudante do ensino médio inovador. 
5.3 Severina Brasileira: Desistir Jamais 
Que nome poderíamos atribuir a alguém que nasceu em 12 de março de 
1921 em uma família humilde no interior do sertão baiano e setenta e um anos mais 
tarde resolve recuperar o tempo perdido e voltar para a escola para aprender a 
escrever o seu nome? “As coisas eram diferentes, escola não era coisa de menina, 
tinha que aprender lavar, passar cozinhar; entrei na escola com treze anos, só 
aprendi uns rabiscos, mas tive que sair para ajudar a família” nos relata. 
Da infância recorda que nunca tivera brinquedo comprado, as espigas de 
milho e os sabugos viravam bonecas, as costelas das vacas jogadas pelo pasto 
viravam rebanho de vaquinhas, era tudo muito simples, mas muito bom, pôde 
experimentar o sabor da felicidade vivendo no sertão guiratinguense no século 
passado sem nenhuma regalia do mundo moderno. 
Através de Severina percebemos as dificuldades para realizar os 
deslocamentos até os monchões e grupiaras que escondiam as gemas 
diamantíferas, as distâncias eram longas e cansativas. As viagens aconteciam 
sempre em grupo, os meios de transporte eram carros de bois, lombo de mulas e 
burros, mas a maioria vinha a pé mesmo. Assistiu muitas pessoas morrerem: “(...) 
matava-se gente igual mata queixada, o Getúlio é que acabou com isso”, mas 
também viu muitas mães dar a luz pelas mãos das parteiras, pois médico não tinha 
nos garimpos. 
15 
 
Na memória ainda muito preservada fica num cantinho escondido o ruído 
das rodas do carro de boi que transportavam famílias inteiras do sertão nordestino 
para o antigo leste mato-grossense com a intenção de “bamburra”, tirar a sorte 
grande e da roca tecendo o algodão cru que mais tarde viraria roupa. 
Em 1944 chegou a Guiratinga, tempos difíceis, o mundo estava em guerra e 
até mesmo por essas bandas houve perseguição política. Cinco famílias se 
destacavam naquele tempo: Cajango, Barros, os Moraes e os Gabriel, vindo todos 
das regiões do triângulo mineiro. 
Casada desde 1937 aos dezesseis anos com "Gemi" seu eterno amor, 
trabalhou em diversas funções para ajudar no sustento da família, mas nos 
ocuparemos em resgatar aspectos de uma profissão que ela desempenhava e que 
atualmente está praticamente extinta em nosso meio, o ofício de lavadeira. 
Naquele tempo não tínhamos água encanada em Guiratinga, nem máquina 
de lavar ou eletricidade, a roupa era lavada na beira dos córregos Lageadinho, 
Manilha Seminário e Augusto Alves e as mulheres segundo Severina vinham de 
longe com os buchos de roupas na cabeça para disputar os quaradouros e tábuas 
de bater roupa. 
Severina relata também a forma como se fabricava o produto: “Separava a 
madeira, aroeira ou paineira e colocava para queimar depois colocava a cinza no 
barrileiro construído com palha de buriti, jogava água sobre a cinza e aparava 
embaixo com uma vasilha, aquela água tinha o mesmo papel da soda cáustica”. 
O Produto final na forma de bolinhas ainda hoje é utilizado por algumas 
famílias não somente para lavar roupas, mas também com fins terapêuticos 
eliminando frieiras, caspas, seborreias, coceiras, micoses, sarnas, lepra sanguínea, 
hemorroidas externas, cabelos encravados, cravos, dentre outros. 
Infelizmente a arte de fazer sabão d`cuada está desaparecendo, pois os 
jovens preferem as facilidades do produto industrializado, mas a receita da Vovó 
Severina está disponível no blogger de sua neta no seguinte endereço: 
http://diennysantos16.blogspot.com.br/. 
Severina estudou até a sétima série, pois com a morte de seu amado 
esposo perdeu o encanto pela escola, atualmente não mora mais em Guiratinga, 
migrou para o norte de Mato Grosso e assim como ela Dienny Guerreira sua neta, 
faz da estrada o passaporte em busca de dias melhores. 
Severina viajava nos carros de boi, Dienny de forma não menos heroica 
enfrenta o banco do ônibus escolar todos os dias em viagens que duram mais de 
seis horas em estradas sem asfalto, sem horário certo para almoçar, jantar, fazer 
tarefas ou estudar; duas guerreiras que não desistem nunca, pois sabem que atrás 
de cada uma delas tem uma torcida enorme acreditando que a vitória será apenas 
uma questão de tempo, pois garra e predisposição para a luta faz parte do código 
genético dessas brasileiras. 
5.4 Severina Coreana: Garimpeira sim Senhor 
Diversos estudos acadêmicos se preocuparam em caracterizar a atividade 
ligada a garimpagem de diamantes a partir da ótica dos homens que trabalhavam na 
prospecção do minério, mas poucos retratam efetivamente o trabalho feminino fora 
da rotina ligada aos afazeres da casa, nesse sentido esta personagem é 
interessante pois relata aspectos da vida de uma mulher nos garimpos da Coreia, 
um Distrito diamantífero oficialmente conhecido como “Vila Nova”, mas por razões 
ligadas a luta pela posse da terra no mesmo período em que ocorreu a Guerra da 
Coreia acabou recebendo esse pseudônimo. 
16 
 
Severina Coreana poderia ser simplesmente mais uma entre tantas outras 
mulheres de meados do século passado, filha única em meio a doze irmãos casou-
se bem cedo por volta dos treze anos num tempo em que se “juntar” ao marido era a 
opção existente, pois casamento no “papel” só ocorria em Santa Rita do Araguaia, 
sede do antigo Distrito de Lageado e demorava aproximadamente quinze dias de 
viagens levando as testemunhas, os pais dos noivos e os convidados no lombo dos 
animais e nos carros de bois. 
Em função da falta de emprego na cidade, os maridos sumiam para os 
monchões, canoões e grupiaras diamantíferas e passavam um longo período sem 
voltar para casa, muitos jamais voltavam; esse foi o caso do marido de Severina. 
Após muitos anos na localidade chamada Monchão Dourado e cansada de esperar 
a volta do marido migrou para a Coréiacom o intuito de conseguir um pedaço de 
terra e tentar a sorte no garimpo para ajudar no sustento da família. 
Aos poucos a vila foi ajuntando gente dos mais distantes rincões do país; 
nas casas mulheres e crianças, pois o garimpeiro acompanha o veio diamantífero e 
quando o cascalho era “bajerê” (ruim) o garimpeiro migrava para outra região. 
“Dinheiro quase não existia, era raro; os negócios aconteciam na base da 
troca nos ‘bolichos” do local. O arroz, o feijão era vendido por litro e o pagamento 
era realizado com a entrega de diamantes, os “xibios” (pedras pequenas) eram 
desprezados e não raro eram colocados no cano do revólver para “virar farinha”. 
Para sustentar a família Severina assim como tantas outras amigas entre 
uma tarefa e outra se dirigiam para o Monchão das Mulheres e lá realizavam todas 
as etapas do garimpo a seco, quebrando e carregando o cascalho para lavar na 
beira do Rio das Garças. Ela nos conta que havia mulheres que trabalhavam como 
mergulhadoras, buscavam cascalho no fundo do rio, atividade extremamente 
exaustiva, e perigosa, pois sobreviviam lutando contra a correnteza e tinham que ter 
muita força nos braços para subir com o carumbé (espécie de balde) na cabeça até 
a superfície, sem a ajuda de escafandro ou tubos de oxigênio. 
Severina relata também outra particularidade da Coreia, o famoso Monchão 
das Crianças; naquele período, sobreviver era um verbo conjugado por toda família 
e “bamburrar” (tirar a sorte grande) era para poucos. Havia muito diamante, mas 
mulheres e crianças eram impelidas ao trabalho, quase sempre em situações 
desumanas porque os homens mesmo pegando grandes quantidades de pedras 
valiosas quase sempre gastavam tudo com jogatinas, mulheres e bebidas. 
Sem nunca ter ido à escola teve que aprender a “escrever” (a escrita no 
garimpo de diamantes é um processo pelo qual com um pequeno pedaço de galho 
representando uma caneta o garimpeiro vai ciscando o cascalho fino que fica 
alojado no fundo da peneira para separar o diamante das pedras comuns) para 
ajudar no sustento dos filhos. 
Com o tempo arrumou um companheiro com quem vive até hoje e além de 
criar seus filhos ainda ajuda criar seu neto que foi o responsável pela pesquisa que 
gerou esse texto. Morador da Coreia desloca-se todos os dias para Guiratinga 
percorrendo aproximadamente sessenta km por dia para realizar seus estudos 
sonhando com dias melhores através da educação para retribuir tudo àquilo que sua 
segunda mãe fez e continua fazendo por ele ao longo de seus dias. Maiores 
informações sobre a personagem, seu neto e sobre o Distrito diamantífero podem 
ser obtidas no blogger http://evilazaromendesoliveira.blogspot.com.br/ . 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A experiência realizada extrapolou os objetivos propostos e envolveu 
17 
 
diversos segmentos da comunidade escolar; cada encontro na Sala do Educador 
servia para avaliar as ações de forma coletivas e lançar novas estratégias. Ao 
conhecer as dificuldades enfrentadas pelos nossos alunos, principalmente os 
oriundos da Escola do Campo, decidimos fazer o caminho inverso, ir até a 
residência deles e sentir de perto as condições adversas que estavam intimamente 
ligadas ao fracasso escolar e a partir de então passamos a adotar metodologias 
adequadas ao quadro em questão. 
Os alunos se portaram como atores principais e os professores como 
facilitadores na produção do conhecimento, muitas das sugestões apontadas por 
eles foram colocadas no Projeto Político Pedagógico e transformadas em ações com 
financiamento do próprio MEC entre as quais destacamos duas viagens de campo: 
Morro da Arnica, local em que ocorreu um sangrento episódio na luta pelo controle 
do diamante na década de 1920 e ao Sítio Arqueológico “Abrigo do Garças” nas 
margens do Rio das Garças, um patrimônio que está prestes a ser inundado em 
função da construção de uma usina hidrelétrica. 
Os celulares, além do laboratório de informática foram aliados valiosos e as 
áreas de Ciências da Natureza e Linguagem ofereceram importantes contribuições 
ao sucesso do Projeto. Dois jornaizinhos foram editados pelos professores da Área 
de Ciências Humanas visando ampliar as informações sobre as viagens e 
contextualizar os temas abordados nos resgates realizados pelos alunos, mais de 
uma centena de bloggers e e-mails estão em funcionamento, além de vídeos e fotos 
espalhadas em galerias na internet. 
Assim como o rio se renova a cada dia, já não somos mais os mesmo depois 
da experiência; ousamos conjugar na visão de Rubens Alves os verbos amar, 
libertar e agir e não somos mais eucaliptos, mas jacarandás em construção. Fomos 
impactados pela urgência da mudança que se impões diante dos dados estatístico 
do Ensino Médio e adotamos medidas no tocante ao reforço da alimentação com o 
desenvolvimento da Horta escolar e execução de um projeto de estímulo à leitura, 
mas ainda precisamos de um refeitório e rever com carinho a grave questão do 
transporte escolar. O fato é que avançamos muito no resgate da autoestima, da 
convivência familiar e do trabalho em grupo. Sorrimos, choramos juntos e 
aprendemos mais ainda, certamente valeu a pena para cada um que viveu a 
experiência. 
 
 
7. BIBLIOGRAFIA 
ALVES, Rubens. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 
1980. 
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. 2. ed. 
Memória e Sociedade. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002. 
DEBRET, J. Baptiste. Viagem Pitoresca e História do Brasil, Belo Horizonte, ed. 
Itatiaia, São Paulo; Edusp, 1988. Tomo I. 
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa.3.ed. São Paulo: Atlas, 1996. 
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 6ª. 
ed. São Paulo: Atlas, 2007. 
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996. 
RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a Civilização, Petrópolis, Vozes,1970 
THOMPSON, Paul. A voz do passado: História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1992. 
18 
 
ESTUDAMOS EM SALA 
 
FOTO Nº 01 AULA NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA 
 
 
 Fonte: Coordenação Escolar 2012 
 
 
PRATICAMOS NO CAMPO 
 
 
FOTO Nº 02– VIAGEM DE ESTUDO AO MORRO DA ARNICA 
 
 
 Fonte: Felipe dos Anjos – 2º Ano 
 
 
19 
 
REALIZAMOS PESQUISA DE CAMPO 
 
 
 FOTO Nº 03 SEVERINA BOE FOTO Nº 04 SEVERINA BOE NA ALDEIA 
 
 
Fonte: Arquivo pessoal de KatiellyBoe 
 
 
Fonte: Arquivo pessoal de KatiellyBoe 
 
 
 
FOTO Nº 05– SEVERINA GUERREIRA (Vestido Florido/Sentada) 
 
 
 Fonte: Arquivo pessoal da família da entrevistada 
 
 
20 
 
VISITAMOS LOCAIS HISTÓRICOS 
 
 
FOTO Nº 06– VISTA PARCIAL DO MORRO DA ARNICA 
 
 
 Fonte: Asheley Henrique – 1º Ano 
 
 
 
FOTO Nº 07–ESCALADA AO MORRO DA ARNICA 
 
 
 Fonte: Paulo André – 3º Ano 
 
 
21 
 
FOTO Nº 08–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS 
 
 
 
 Fonte: Asheley Henrique – 1º Ano 
 
 
FOTO Nº 09–SÍTIO ARQUEOLÓGICO ABRIGO DO GARÇAS 
 
 
 Fonte: Paulo André – 3º Ano 
 
 
22 
 
CONHECEMOS OS PERCURSOS 
 
 
FOTO Nº 10–LOCAL DE EMBRAQUE DOS ALUNOS 
 
 
 Fotografia realizada pelos alunos com uma câmera cedida pela Prof.ª Marly Gonçalves 
 
 
 
FOTO Nº 11– FRAGRANTE: SERVO NA ESTRADA 
 
 
 
Fotografia realizada pelos alunos com uma câmera cedida pela Prof.ª Marly Gonçalves 
23 
 
OS PERCALÇOS DO CAMINHO 
 
FOTO Nº 12–FRAGRANTE: DESOBSTRUÇÃODA ESTRADA 
 
 
 
 Fotografia realizada pelos alunos com celular 
 
 
FOTO Nº 14–CHEGADA EM CASA 
 
 
 
Fotografia realizada pelos alunos com celular 
24 
 
E AS OCUPAÇÕES DIÁRIAS DE NOSSOS ALUNOS NO CAMPO 
 
 
FOTO Nº 14–ALUNO TRABALHANDO NA PECUÁRIA EXTENSIVA 
 
 
 
 
 Imagem cedida pelo aluno para o Projeto 
 
 
 
FOTO Nº 15–ALUNA–CUIDANDO DE PEQUENOS ANIMAIS 
 
 
 Imagem cedida pelo aluno para o Projeto 
25 
 
INTEGRAMOS AS DISCIPLINAS 
 
 
FOTO Nº 17–AULA DE MATEMÁTICA NO AMBIENTE DA ROÇA 
 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
FOTO Nº 18–AULA DE QUÍMICA NO AMBIENTE DA ROÇA 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
26 
 
COM TECNOLOGIA 
 
 
FOTO Nº 19–IRRIGAÇÃO AUTOMÁTICA NA HORTA ESCOLAR 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
FOTO Nº 20–IMPLANTANDO A IRRIGAÇÃO 
 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
 
 
27 
 
TROUXEMOS A ROÇA PRA ESCOLA 
 
 
FOTO Nº 21–PREPARANDO OS CANTEIROS 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
FOTO Nº 21–CUIDANDO DAS VERDURAS 
 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
 
 
 
28 
 
FOTO Nº 22–DIA DO ESTUDANTE 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
 
 
 
FOTO Nº 23–VALEU A PENA 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
 
 
 
 
29 
 
E CELEBRAMOS O SUCESSO 
 
 
 
FOTO Nº 24–DIA DO ESTUDANTE 
 
 
 
 Imagem cedida pela Coordenação para o Projeto 
 
 
 
 
FOTO Nº 25–GENTE QUE FÊZ - GENTE QUE FAZ 
 
 
Fonte: Thais Michele – 3º Ano 
30 
 
JORNALZINHO EDITADO A PARTIR DAS ENTREVISTAS REALIZADAS PELOS ALUNOS 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
33 
 
34 
 
JORNALZINHO EDITADO A PARTIR DAS ENTREVISTAS REALIZADAS PELOS ALUNOS 
 
35 
 
 
36 
 
 
37 
 
38 
 
BLOGGERS DIRETAMENTE ENVOLVIDOS COM O RELATO 
 
Professor João Antonio Pereira 
 
Vídeos no Canal Pessoal do Youtube 
 
https://www.youtube.com/watch?v=kwSqQzuohUA 
https://www.youtube.com/watch?v=3ohFCsM9_fA 
https://www.youtube.com/watch?v=V7hZZBH3mYs&feature=plcp 
https://www.youtube.com/watch?v=0DRfLwl0wbI 
https://www.youtube.com/watch?v=xeGUnDkxh9g 
 
https://www.youtube.com/watch?v=xeGUnDkxh9g&feature=relmfu 
 
FacebookPessoal 
 
http://www.facebook.com/joaoantonio.pereira.18/photos_albums 
 
 
Aluna do 1º Ano Vespertino 
http://www.katiellymartins.blogspot.com.br/ 
 
Aluna do 2º Ano Vespertino “D” 
http://diennysantos16.blogspot.com.br/2012/09/memorias-da-vida-em-vida.html 
Aluno do 2º Ano Vespertino “C” 
http://evilazaromendesoliveira.blogspot.com.br/ 
 
ARTIGO PUBLICADO NA INTERNET COM A TEMÁTICA CELULAR EM SALA DE AULA 
http://www.webartigos.com/artigos/enem-geracao-y-e-celular-em-sala-de-aula-uma-combinacao-
explosiva/98864/

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