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Resumo Estado, Direito e Justiça na obra de Thomas Hobbes, de Andytias Matos

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Resumo: Estado, Direito e Justiça na obra de Thomas Hobbes, de Andytias Matos
Hobbes foi um dos maiores pensadores do autoritarismo e um dos primeiros autores a separar a esfera religiosa da jurídica-política, além de arquitetar um conceito de justiça relativista e desvinculado dos pressupostos jusnaturalistas que dominaram o século XVII. Segundo os jusnaturalistas, as normas de direito natural independem do Estado, a quem cabe apenas cumpri-las e preserva-las. Andytias não considera que Hobbes seja plenamente jusnaturalista mas sim um precursor do positivismo jurídico, uma vez que Hobbes atribui ao direito características próximas as que o positivismo propõe: o coativismo, o monismo, o estatalismo e o relativismo. Ele quer que não haja outro poder a não ser o do Estado (monismo), e que a religião seja reduzida a um serviço. Quer que apenas o Estado crie o direito (estatalismo), que haja consequência jurídica ao descumprimento da lei (coativismo) e que os valores sejam relativos, socialmente posto e portanto, mutável(relativismo). O clero e os profissionais do direito (juízes e advogados) são os grandes inimigos de Hobbes, uma vez que ambas as corporações se apõem ao poder absoluto que, para Hobbes, é a única garantia para a sobrevivência da sociedade humana.
O impressionante no Leviatã, publicado em 1651, é o vigor e a elegância da argumentação de Hobbes, assim como a clareza de suas colocações e a honestidade intelectual. As ideias propriamente ditas não eram originais. Hobbes enxerga a natureza de forma mecanicista e o Estado como simples artefato desprovido de significação ética. Hobbes é o primeiro autor a passar de uma explicação naturalista do surgimento do estado (homem animal político; sociabilidade) para uma explicação contratualista (pacto; construção social).
O Leviatã é um tratado político-jurídico cuja principal preocupação consiste na exposição da origem, natureza e finalidade do Estado. A estratégia argumentativa usada para explicar a origem deste é a do "contrato social". Para Hobbes, antes da criação do Estado os homens viviam em situação de guerra perpétua de todos contra todos (estado de natureza). O homem seria o lobo do homem. Vale dizer que o estado de natureza não era uma condição do homem antigo, mas sim uma possibilidade presente, latente e plenamente atualizável. Seria um risco iminente constante.
Os homens, por serem dotados de razão, abrem mão de sua liberdade e criaram consensualmente, por meio de um "pacto" um ente mais poderoso que qualquer indivíduo isolado: O Estado. Este seria o árbitro final, que decide as demandas dos cidadãos, e que a eles garante certos direitos, como a segurança por exemplo, muito importante para a época.
A inovação proposta por Hobbes é a substituição de uma racionalidade político-jurídico teológica, de maneira medieval, por outra de feição moderna, técnico-racionalista e laical. Uma lei natural seria uma regra geral descoberta pela razão que proibiria o homem de fazer algo que destrua sua vida ou que lhe tire os meios para conservá-la, e não fazer aquilo que se considera melhor para conservá-la. Assim, o Estado não é um dado da natureza, mas um resultado de convenção.
A natureza fez os homens iguais nas faculdades do corpo e da mente. Mas estas leis, no estado de natureza, só são de cumprimento obrigatório se forem pensadas no foro interno. No foro externo, e esse é o ponto fundamental, as leis naturais somente são obrigatórias se os indivíduos alem daquele que as pretende cumprir, as respeitam. Isso porque Hobbes assume um nítido viés utilitarista, em que o indivíduo não vê sentido em cumprir algo se nada garante que os outros também cumprirão. O respeito à lei natural se daria, não por que ela é boa em si, mas por um cálculo interesseiro de lucro e prejuízo social. O Estado é capaz de exigir que as leis naturais sejam cumpridas e punir os transgressores.
Talvez o maior mérito de Hobbes, um dos fundadores do direito moderno, portanto, tenha sido a substituição do direito natural do Cosmus, universalista e generalizante, pelo direito natural do indivíduo, racional e mecanicista. A razão humana seria capaz de construir por si só a mecânica estrutural da comunidade sem que seja necessário apelo à divindade. O locus reservado às forças divinas nos sistemas jusnaturalistas antigos e modernos, em Hobbes é destinado ao soberano, que não precisa ser um homem, pode ser até o próprio parlamento, por exemplo. Contemporaneamente podemos chamar tal absoluto de poder soberano ou vontade popular, mas não é coerente confundir com a figura do monarca.
Só existe justiça em Hobbes quando de antemão tenha o Estado sido posto mediante um pacto coercitivo capaz de obrigar a todos a se submeterem. O injusto é simplesmente um ato que implica um rompimento do pacto, e se ato justo é simplesmente aquele que não implica esse rompimento.
Posteriormente ao surgimento do corpo estatal qualquer direito natural é inútil, pois apenas o governante estaria autorizado a dizer o que é devido a cada membro da comunidade política. "O que faz a lei não é a sabedoria, mas a autoridade".
Para Hobbes o direito é a ordem daquele ou daqueles que têm o poder soberano, dada àquelas pessoas que são seus súditos, declarando publicamente e de modo claro o que todos podem fazer e o que devem se abster de fazer. Hobbes julga natural a existência dos que mandam e dos que obedecem: direito enquanto meio de dominação e também de segurança para os que obedecem.
O poder absoluto se constitui no Estado hobbesiano com o objetivo de contrapor-se a um inimigo bem definido e poderoso: o clero. Hobbes propôs a independência da esfera político-jurídica diante da autoridade religiosa, o poder político-jurídico deveria monopolizar a coerção. Para Hobbes, direito Estado e religião (as três grandes formas de dominação) devem sempre estar sob-responsabilidade de um mesmo órgão decisório. Assim, o rei, por exemplo, deveria ter autoridade civil e religiosa, recusando-se a se submeter às normas ditadas por um corpo de poder autônomo.
Considerações finais
Andytias considera inadequado buscar o fundamento do Estado e do direito positivo em um vínculo contratual. A história demonstra que o Estado não nasce da simples vontade associativa dos sujeitos de direito, mas sim de causas muitas vezes remotas, inconscientes e violentas. A origem e a manutenção do Estado não são consensuais, são arbitrárias. Qualquer vinculo contratual pressupõe duas condições que não se verificam no contrato social de Hobbes: a igualdade das partes e a dissolubilidade do vínculo. Não é possível a manutenção de qualquer vínculo contratual com o Estado, entidade muito mais poderosa e complexa que os indivíduos singulares. Além do mais, nenhum pacto é eterno, deve prever a possibilidade de dissolução do vínculo, seja por cumprimento ou descumprimento do combinado. Hobbes acaba por transformar o instrumento num fim: o contrato social mantém o Estado-Leviatã. 
Apesar disso, o mecanismo de Hobbes representava, no momento histórico que lhe calhou viver, a mais avançada forma de compreender o homem e a sociedade.

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