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Métodos da Criminologia Aulas de 1 a 5 1

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CRIMINOLOGIA – AULA 1
Criminologia como ciência e evolução histórica dos sistemas punitivos
Objetivo desta Aula
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1- Conhecer os objetos de estudo da Criminologia e a metodologia aplicada;
2- Conhecer a diferença entre Criminologia, Direito Penal e Política Criminal;
3- Conhecer a finalidade da Criminologia;
4- Compreender a natureza interdisciplinar da Criminologia.
5- Conhecer a origem do direito penal e o desenvolvimento das políticas criminais de controle social na Idade Média e Moderna;
6- Conhecer o conteúdo do pensamento iluminista da escola clássica e os limites dos poderes do Estado.
Métodos da Criminologia
A Criminologia é uma ciência do SER, ou seja, visa entender e explicar a realidade a partir de um determinado objeto, utilizando-se para tanto dois métodos:
Método Empírico
Analisa a realidade pela coleta de dados concretos, materialmente verificáveis, como estatísticas, registro de ocorrências, dados de vítimas e/ou criminosos, como idade, sexo, escolaridade etc.
Registro de ocorrências em delegacias ou Cruzamento de estatísticas
Método Indutivo
É indutivo, pois em decorrência da observação de premissas específicas é possível se construir uma teoria genérica capaz de explicar determinado fenômeno.
	Perfil sócio-econômico dos presos 
 
Cruzamento de dados 
	Tese – o sistema penal reflete a discriminação presente na imagem que a sociedade faz do criminoso. 
Enquanto o direito valora o fato, definindo-o ou não como algo lesivo para a coletividade, a criminologia o analisa e explica, como um fenômeno real.
Objeto
Dependendo do interesse do pesquisador, o objeto da criminologia pode variar, via de regra, dentro dos seguintes temas:
O Criminoso
Neste tema, tenta-se explicar seu motivo, seu psiquismo, suas motivações.
O Crime
Este estudo pode ser dirigido à análise da prática de delitos específicos, como nos casos de tráfico de drogas,
crime organizado e lavagem de dinheiro.
A Vítima
Através da vitimologia, ciência que estuda seu comportamento, sua posição frente o agente vitimizante ou até mesmo, sua colaboração com a prática do crime.
Os processos de Criminalização
Parte dos estudos mais modernos da chamada criminologia crítica, que tem como interesse explicar, quais os critérios levam um delinquente a ser inserido no sistema penal.
O Sistema Penal
São eles: o sistema policial, judiciário, o sistema carcerário e de aplicação de pena.
FUNÇÃO DA CRIMINOLOGIA
A criminologia serve de referência teórica para a implementação de estratégias de políticas criminais, que são métodos utilizados pelo poder público no controle da criminalidade. Exemplo:
1 - Espaços abertos e mal iluminados facilitam a prática de crimes.
2 - Numa decisão político criminal, o poder público intervém no cenário urbano, diminuindo assim o número de delitos.
DA INTERDISCIPLINARIEDADE
Assim, a criminologia, além de ser reconhecida como ciência, também é considerada interdisciplinar, uma vez que para qualquer dos objetos que se destina estudar, poderá fazê-lo sob vários enfoques distintos, podendo se apoderar de diversas esferas do conhecimento a fim de melhor entender determinada situação.
Sociologia < > Economia
Direito < Criminologia > Biologia/Psicologia
Filosofia < > História
SOCIOLOGIA - Para a compreensão do crime como fenômeno social; o estudo dos grupos e subgrupos que compõe a sociedade e seus valores; entender como a mobilidade social pode influenciar o crime.
DIREITO - Nos critérios utilizados pelo legislador no momento de legislar matéria criminal; o papel do judiciário na seletividade do sistema penal; o uso do direito como instrumento de poder.
FILOSOFIA - Pode ser estudada a fim de questionar os paradigmas de controle e as escolas existentes como, por exemplo, no estudo das teorias que fundamentam a pena.
ECONOMIA - Entender a influência da economia na tomada de determinadas políticas criminais; no estudo dos crimes econômicos e transnacionais, como de lavagem de dinheiro e ambientais; na influência das diferenças sociais como fator criminógeno.
BIOLOGIA/PSICOLOGIA - Verificar os fatores biológicos e psicológicos que influenciam o criminoso na prática do crime; o neo-positivismo e a busca do gene da violência no código genético humano.
HISTÓRIA - No estudo do desenvolvimento das práticas punitivas, da pena e do direito penal; a compreensão da Inquisição; a relevância da escravidão e suas permanências no cenário atual do Brasil.
Reação aos Conflitos
“Ao longo de milênios, vem surgindo uma linha demarcatória entre modelos de reação aos conflitos: um, o de solução entre as partes; o outro, de decisão vertical ou punitiva” (Eugênio Raul Zaffaroni e Nilo Batista).
O vídeo ao lado ilustra o surgimento da linha democrática:
Punição e meios de produção
Ao longo dos séculos, a forma de punir varia conforme a economia: quando há aumento da pobreza, as punições são mais cruéis, para controlar com maior rigor essa camada da população, havendo açoites e penas capitais; se por doença ou guerra houver pouca mão-de-obra, incrementa-se a pena de trabalhos forçados (galés).
1200
Neste período da Idade Média, já havia uma nítida distinção na forma como se punia segundo a situação financeira do autor do fato: se era um nobre, a pena era uma fiança pecuniária; mas se o infrator fazia parte das camadas mais pobres, recebia penas corporais.
Séculos XV e meados do XVI
Há um grande aumento da população miserável na Europa, o que repercutiu no incremento de penas mais cruéis, como mutilações e morte.
Séculos XVI e XVII
Com o baixo crescimento demográfico, face às guerras e doenças, muda-se a forma de punir, a fim de aproveitar a mão-de-obra dos condenados. As penas de morte são substituídas pelas de trabalhos forçados, através do degredo e das galés
Séculos XVIII e XIX
Inicia-se o crescimento demográfico. Havendo um excedente para a mão-de-obra, surge a necessidade de manter este contingente sob controle, através da exclusão propiciada pela prisão, instituto que surge neste período.
Durante a Idade Média, com o fortalecimento da Igreja Católica, são criados o Santo Ofício e a Inquisição, tendo como finalidade caçar os inimigos da fé católica através de um processo sem contraditório, onde o acusador e o juiz eram a mesma pessoa (presente ainda hoje no inquérito policial).
A Força da Igreja
No século XV a igreja ganha força política e usa efetivamente a a inquisição para caçar seus inimigos e acumular riquezas.
Tipos de Crime
Os crimes estavam definidos nos Édito da Fé, podendo se destacar: heresia (desprezo pelas leis da Igreja, pelo papa e pelos santos), judaísmo, islamismo luteranos, adivinhação; superstição, invocação do demônio e posse de livros proibidos (uma vez que havia um controle sobre livros, livreiros e editores, pois os privilégios papais para impressão de livros duraram até 1606; obviamente, essa era uma forma de controlar a circulação e o acesso ao conhecimento).
Tipos de Pena
A pena poderia ser a excomunhão, o confisco ( o que muito auxiliou para o enriquecimento da igreja). O banimento ou a morte. E como era relacionada à religião, sempre se buscava a confissão do herege, sendo legitimado o uso da tortura.
Ostentação dos suplícios
Nos séculos XVII e XVIII, tornou-se comum o uso do corpo do condenado para demonstrar o poder do soberano num espetáculo de suplício em praça pública, buscando o medo e o testemunho das pessoas.
A pena de morte é usada para aqueles crimes mais graves, antecipada pela aplicação de uma série de técnicas para aumentar a dor e o sofrimento do sujeito.
Iluminismo
Em meados do século XVIII, há o desenvolvimento de um conjunto de críticas àquele sistema punitivo cruel e irracional, momentos em que se clamou pelo Humanismo e por um necessário limite ao Estado.
Trata-se de um movimento que teve como base o Contratualismo, desenvolvidopor Rousseau, Hobbes e Locke, e que influenciou autores dentro do Direito Penal.
A ‘escola clássica’, como estes ficaram conhecidos, inclui Carrara, Feuerbach e, principalmente, Beccaria, que no seu livro Dos delitos e das penas, critica a pena de morte, a denúncia anônima, a tortura e os crimes de perigo abstrato, dentre outras práticas desumanas da época.
Jean Jacques Rousseau, Thomas Hobbes John Locke, Francesco Carrara, Ludwig Feuerbach e Casare Beccaria.
Contratualismo é uma classe abrangente de teorias que tentam explicar os caminhos que levam as pessoas a formar governos e manter a ordem social.
Dos Delitos e das Penas
Dos Delitos e das Penas (em italiano Dei delitti e delle pene) é um livro de Cesare Beccaria, originalmente publicado em 1764.
Sobre
Trata-se de uma obra que se insere no movimento filosófico e humanitário da segunda metade do século XVIII. Na época havia grassado a tese de que as penas constituíam uma espécie de vingança coletiva; essa concepção havia induzido à aplicação de punições de conseqüências muito superiores e mais terríveis do que os males produzidos pelos delitos.
Prodigalizara-se então a prática de torturas, penas de morte, prisões desumanas, banimentos, acusações secretas. Beccaria se insurge contra essa tradição jurídica invocando a razão e o sentimento. Faz-se porta-voz dos protestos da consciência pública contra os julgamentos secretos, o juramento imposto aos acusados, a tortura, a confiscação, as penas infamantes, a desigualdade ante o castigo, a atrocidade dos suplícios; estabelece limites entre a justiça divina e a justiça humana, entre os pecados e os delitos. "A grandeza do crime não depende da intenção de quem o comete", escreveu. Condena o direito de vingança e toma por base do direito de punir a utilidade social, ressaltando a necessidade da publicidade e da presteza das penas: "quanto mais pronta for a pena e mais de perto seguir o delito, tanto mais justa e útil ela será". Declara ainda a pena de morte inútil e reclama a proporcionalidade das penas aos delitos ("a verdadeira medida dos delitos é o dano causado à sociedade"), assim como a separação do poder judiciário e do poder legislativo.
A partir do estudo desta obra, as legislações de vários países foram modificadas; a pena para o criminoso deixa a forma de punição e assume a de sanção. O criminoso não é mais alguém parelelo à sociedade, mas alguém que não se adaptou às normas preestabelecidas, provenientes de um contrato social Rosseauriano, em que a pessoa se priva de sua liberdade (a menor parcela possível) em prol da ordem social.
Cesare Beccaria afirma que as leis são fragmentos da legislação de um antigo povo conquistador, compilados por ordem de um príncipe que reinou há doze séculos em Constantinopla, combinados em seguida com os costumes dos lombardos e amortalhados em um volumoso calhamaço de comentários obscuros, constituídos do velho acervo de opiniões de uma grande parte da Europa.
Disserta que as vantagens da sociedade devem ser igualmente repartidas entre todos os seus membros, devendo essa ser a verdade digna de nossa sociedade; contudo, Beccaria traz que, entre os homens reunidos, nota-se a tendência contínua de acumular no menor número os privilégios o poder e a felicidade, para deixar à maioria apenas miséria e fraqueza. Para impedir isso só com boas leis. Porém, normalmente, os homens abandonam a leis provisórias e à prudência do momento o cuidado de regular os negócios mais importantes, quando não os confiam à discrição daqueles mesmos cujo interesse é oporem-se às melhores instituições e às leis mais sábias. Toda lei que não for estabelecida sobre a base moralista encontrará sempre uma resistência à qual acabará cedendo.
A primeira consequência desses princípios é que só as leis podem fixar as penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão na pessoa do legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social. A segunda consequência é que o soberano, que representa a própria sociedade, só pode fazer leis gerais, às quais todos devem submeter-se; não lhe compete, porém, julgar se alguém violou essas leis. Em terceiro lugar, mesmo que a atrocidade das mesmas não fosse reprovada pela filosofia, mãe das virtudes benéficas e, por essa razão, esclarecida, que prefere governar homens felizes e livres a dominar covardemente um rebanho de tímidos escravos; mesmo que os castigos cruéis não se opusessem diretamente ao bem público e ao fim que se lhes atribui, o de impedir os crimes bastará provar que essa crueldade é inútil, para que se deva considerá-la como odiosa, revoltante, contrária a toda justiça e à própria natureza do contrato social.
Das consequências desses princípios, resulta-se que os juízes não recebem as leis como uma tradição doméstica, ou como um testamento dos nossos antepassados, que aos seus descendentes deixaria apenas a missão de obedecer. Recebem-nas da sociedade viva, ou do soberano, que é representante dessa sociedade, como depositário legítimo do resultado atual da vontade de todos. Ao juiz caberia somente a definição sobre a existência do fato e somente ao seu soberano a interpretação das leis, já que depositário das vontades atuais do povo.
Critica, por outro lado, a obscuridade de uma lei feita de forma prolixa, de maneira que o povo não entenda, pois a lei há de ser interpretada, mas não pelos minoritários detentores do conhecimento, contudo, pelo cidadão, que deve julgar por si mesmo as consequências de seus próprios atos. "Felizes as nações entre as quais o conhecimento das leis não é uma ciência", escreveu.
Ressalta que o castigo deve ser inevitável, mas que não é a severidade da pena que traz o temor, mas a certeza da punição. "A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará sempre uma impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade". Enaltece que a prevenção dos crimes é melhor do que a punição.
Por fim, deduz um Teorema Geral Utilíssimo, o legislador ordinário das nações. Explicando que para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei.
Indicação de Filme = O Nome da Rosa
Antes de terminar o estudo desta aula, assista a uma cena do filme O nome da Rosa.
Alemanha, 1986. Diretor: Jean-Jacques Annoud.
Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália, durante a baixa Idade Média. As vítimas aparecem com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges têm acesso às publicações sacras e profanas. A chegada de um monge franciscano, incumbido de investigar os casos, irá mostrar o motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da Santa Inquisição.
Atividade Proposta
4 - Inicia-se o crescimento demográfico. Havendo um excedente para a mão-de-obra, surge a necessidade de manter este contingente sob controle, através da exclusão propiciada pela prisão, instituto que surge neste período.
2 - Há um grande aumento da população miserável na Europa, o que repercutiu no incremento de penas mais cruéis, como mutilações e morte.
3 - Com o baixo crescimento demográfico, face às guerras e doenças, muda-se a forma de punir, a fim de aproveitar a mão-de-obra dos condenados, substituindo as penas de morte pelas de trabalhos forçados, através do degredo e das galés.
1 - Neste período da Idade Média, já havia uma nítida distinção na forma como se punia segundo a situação financeira do autor do fato: se era um nobre, a pena era uma fiança pecuniária, mas se o infrator fazia parte das camadas mais pobres, recebia penas corporais.
Aula 1: Conceito e História
Bibliogragia 
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica ao direito penal: introdução à sociologia do direito penal. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. SãoPaulo: Martin Claret, 2000.
BRUNO, Aníbal. Direito penal – parte geral - tomo 1º. Rio de Janeiro: Forense, 1967.
CARVALHO, Salo. Pena e garantias: uma leitura do garantismo de Luigi Ferrajoli no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
COSTA, Álvaro Mayrink. Criminologia. Vol. I, Tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2000.
LISZT, Franz Von. Tratado de direito penal alemão. Campinas: Russel Editores, 2003.
MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
RUSCHE, Georg e Kirchheimer, Otto. Punição e estrutura social. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
VERRI, Pietro. Observações sobre a tortura. Trad. Frederico Carotti. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
ZAFFARONI, E. Raúl e Batista, Nilo. Direito penal brasileiro, vol. I. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
CRIMINOLOGIA – AULA 2
Positivismo
Objetivo desta Aula
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1- Conhecer a primeira escola de criminologia e o momento histórico-científico em que ela se encontra;
2- Conhecer o método e objeto de estudo da escola positivista: o criminoso;
3- Conhecer os fundamentos do positivismo de Lombroso, Ferri e Garófalo;
4- Associar o positivismo com a criação do estereótipo do criminoso.
Introdução
O positivismo é considerado a primeira escola de Criminologia. Com a Revolução Industrial no século XIX, o desenvolvimento do capitalismo e das ciências naturais, bem como o aumento da criminalidade, nasce o estudo científico do crime e, principalmente, do criminoso.
Protagonistas
Para começarmos nossa aula, vamos conhecer três personagens muito importantes para o Positivismo e para a Criminologia:
Cesare Lombroso
Lombroso criou a escola positivista criminológica. Ele foi o médico que desenvolveu a teoria do “criminoso nato”, segundo a qual uma parte dos criminosos já nascia com uma espécie de disfunção patológica que o levaria, invariavelmente à prática do crime. Para ele, o criminoso era um subtipo humano, degenerado e atávico.
Para Lombroso, esta disfunção se exteriorizava na aparência e no comportamento do sujeito, que podiam ser estudadas para que se pudesse identificar o criminoso pela sua aparência. Assim, ele estudou as vísceras dos criminosos, crânio, linguagem, tatuagens, letra, comportamento etc. Para ele, as penas deveriam ser por tempo indeterminado para os corrigíveis e perpétuas se incorrigíveis.
Clique aqui para ver um exemplo de estudo de Cesare Lombroso.
Fotos de Crânes de Criminelles Italiennes
Erico Ferri
Enrico Ferri foi o advogado e político responsável pelas críticas à “escola clássica”, expressão criada por ele para denominar aqueles que não eram adeptos das ideias positivistas. Ele defendia que outros elementos poderiam determinar a prática do crime, não só o biológico, mas também fatores individuais (raça, sexo), sociais (família, religião) e físicos (clima, temperatura). Criou a teoria dos “substitutivos penais”. Ferri entendia que a ordem social burguesa tinha que ser defendida a todo custo, inclusive com o sacrifício dos direitos individuais, o que ele chamava de teoria do relógio quebrado.
É a defesa de que crimes leves devem ser severamente punidos para se inibir crimes mais graves.
Rafael Garófalo
Rafael Garófalo era magistrado e criou o conceito de “delito natural”, sendo o crime uma ofensa feita à parte mais comum do senso moral formada pelos sentimentos de piedade e probidade (justiça). Dessa forma, o crime seria condutas nocivas em qualquer sociedade.
Constata-se que o positivismo foi uma teoria extremamente racista que auxiliou a legitimar políticas imperialistas na Àfrica, políticas criminais repressivas, e a solidificação, posteriormente, do próprio nazismo. Os 3 defendiam a prisão perpétua, Rafael Garófolo e Enrico Ferri, a pena de morte para os irrecuperáveis.
Positivismo no Brasil
Como os estudos positivistas tinham como objeto o criminoso, o melhor e mais seguro local para encontrá-los seria na cadeia.
Mas, lá chegando, que parcela da população era encontrada em maior número? Os negros.
Assim, essa teoria ajudou a concretizar a imagem do negro como marginal, conferindo o aval da ciência de que a raça negra era inferior e voltada para o crime, reforçando o estereótipo do criminoso.
Euclides da Cunha
O escritor Euclides da Cunha, apesar de contrário a Lombroso, defendeu a inferioridade da raça nordestina pelo meio.
Nina Rodrigues
O legista Nina Rodrigues defendeu a responsabilidade diferenciada para cada raça.
Viveiros de Castro
Viveiros de Castro repelia a existência do livre arbítrio.
Moniz Sodré
Moniz Sodré negava a igualdade entre os homens e entendia que a pena deveria ser proporcional não ao delito, mas à inadaptação do sujeito à vida social.
Direito Penal do Autor
Com o amparo científico possibilitando a identificação do criminoso pela sua aparência, o Direito Penal se vê legitimado a punir condutas que exteriorizem esta “periculosidade”, modelando-se a um “Direito Penal do autor”. Ou seja, pune-se pelo que o sujeito é, e não pelo que ele fez, sendo o crime um sintoma de um “estado do autor”.
Um exemplo disso é a criminalização da capoeira na primeira República. Tal prática era constituída pela reunião de “negros vadios que, pela aglomeração, aproveitavam-se para praticar pequenos furtos”.
Ainda presente nos dias de hoje, a análise da personalidade do réu é usada para o cálculo e definição de pena, assim como seus antecedentes, culpabilidade e sua conduta social (Art. 59 do CP).
Isso vai de encontro a um “Direito Penal do fato”, mais compatível com um Estado democrático de direito, que pune o sujeito pelo fato praticado, e não pelo que ele é.
Atividade Proposta
Correlacione os pensamentos com seus respectivos autores:
Nina Rodrigues
O legista Nina Rodrigues defendeu a responsabilidade diferenciada para cada raça.
Euclides da Cunha
O escritor Euclides da Cunha, apesar de contrário a Lombroso, defendeu a inferioridade da raça nordestina pelo meio.
Moniz Sodré
Moniz Sodré negava a igualdade entre os homens e entendia que a pena deveria ser proporcional não ao delito, mas à inadaptação do sujeito à vida social.
Viveiros de Castro	
Viveiros de Castro repelia a existência do livre arbítrio.
Aula 2: Positivismo 
Nesta aula, você:
O Positivismo criminológico, considerada a primeira escola criminológica e os estudos de Lombroso, Ferri e Garofalo.
Na próxima aula, você vai estudar:
A Escola de Chicago, criadora da Teoria Ecológica que estudará a cidade e a influência desta sobre as condutas delitivas, bem como a Teoria da anomia, que analisa o enfraquecimento das normas no meio social.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica ao direito penal: Introdução à sociologia do direito penal. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.
MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
BRUNO, Aníbal. Direito Penal - Parte Geral. Tomo 1º. Rio de Janeiro: Forense, 1967.
LYRA, Roberto. Direito penal científico (Criminologia). Rio de Janeiro: José Konfino, 1974.
CRIMINOLOGIA – AULA 3
Escola de Chicago: Teoria Ecológica
		Objetivo desta Aula
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1- Conhecer os fundamentos da escola de Chicago como crítica ao positivismo;
2- Conhecer o conteúdo da teoria ecológica;
3- Conhecer o conteúdo da teoria da anomia;
4- Identificar a relação entre a mobilidade social e o fenômeno da criminalidade.
A Escola de Chicago
A Escola de Chicago, principalmente nas décadas de 30 e 40, foi o berço da moderna sociologia americana e uma das primeiras a desenvolver trabalhos criminológicos diferentes do positivismo, tendo como seus principais autores Park, Shaw e Burgess. 
Introdução
Na aula passada vimos a relevância do positivismo paraa construção da criminologia como ciência, bem como a criação do determinismo biológico. Nesta aula vamos ver o surgimento de uma nova escola criminológica que não mais está preocupada em estudar o indivíduo, mas sim a cidade e as suas várias influências criminógenas.
 Também veremos a teoria da anomia, a qual defende ser o crime um fenômeno normal na sociedade.
 Será que todos nós já praticamos crimes ou um dia vamos praticar?
A Escola de Chicago
Essa escola vai desenvolver a Teoria Ecológica, cujo principal objeto de estudo é a cidade.
A cidade é considerada uma unidade ecológica, um corpo de costumes e tradições. Não é apenas um mecanismo físico e artificial, mas um ente vivo que está envolvido nos processos vitais das pessoas que a compõem, influenciando no comportamento dos seus integrantes, inclusive como fator criminógeno. Principalmente de duas formas: mobilidade social e áreas de delinquência.
Veremos essas duas formas mais à frente.
	
Para essa escola, os principais meios de prevenção do crime são o mapeamento e a modificação desses espaços urbanos e do desenho arquitetônico da cidade, ampliando espaços abertos, iluminando ruas, pintando o metrô (como em NY).
A política criminal confunde-se com uma política de "limpeza", como ocorreu nas destruição dos barracos do Morro do Pasmado ou nas apreensões de meninos e moradores de rua que contaminam o visual da cidade do Rio de Janeiro (geralmente no verão, e sempre na Zona Sul).
A principal crítica que se faz a essa teoria é o continuísmo de uma espécie de determinismo positivista, só que agora no âmbito da cidade. Nela, determinadas áreas são estigmatizadas e contaminam seus moradores com o "germe" da criminalidade, como ocorreu nos guetos americanos, nos bairros muçulmanos franceses e em nossas favelas.
O sistema penal passa a orientar suas operações para essas localidades.
A lógica que fundamenta esse tipo de ação é: "Se eu sei que o crime está lá, por que procurar em outro lugar?“.
A Escola de Chicago
Essa escola vai desenvolver a Teoria Ecológica, cujo principal objeto de estudo é a cidade.
A cidade é considerada uma unidade ecológica, um corpo de costumes e tradições. Não é apenas um mecanismo físico e artificial, mas um ente vivo que está envolvido nos processos vitais das pessoas que a compõem, influenciando no comportamento dos seus integrantes, inclusive como fator criminógeno. Principalmente de duas formas: mobilidade social e áreas de delinquência.
Veremos essas duas formas mais à frente.
Para essa escola, os principais meios de prevenção do crime são o mapeamento e a modificação desses espaços urbanos e do desenho arquitetônico da cidade, ampliando espaços abertos, iluminando ruas, pintando o metrô (como em NY).
A política criminal confunde-se com uma política de "limpeza", como ocorreu nas destruição dos barracos do Morro do Pasmado ou nas apreensões de meninos e moradores de rua que contaminam o visual da cidade do Rio de Janeiro (geralmente no verão, e sempre na Zona Sul).
Rampas "Anti-Mendigos" em São Paulo
Raquel Rinaldi raquelrinaldi em yahoo.com.br 
Filipe Santoro Santos <fsantoro em PREFEITURA.SP.GOV.BR> escreveu:De: Filipe Santoro Santos <fsantoro em PREFEITURA.SP.GOV.BR>
Para: Filipe Santoro Santos <fsantoro em PREFEITURA.SP.GOV.BR>
Assunto: Alguém tem medo de mendigo?
Data: Wed, 28 Sep 2005 12:33:02 -0300
ARQUITETURA DA EXCLUSÃO
Obstáculo em passagem subterrânea pode levar a "apartheid social", afirmam especialistas
Serra recebe críticas por rampa antimendigo 
A decisão do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), de colocar rampas antimendigo na passagem subterrânea que liga a avenida Paulista à Doutor Arnaldo foi criticada por urbanistas, advogados, integrantes da Igreja
Católica e sociólogos. A medida, segundo alguns deles, pode levar a um "apartheid social" na cidade. 
Os obstáculos estão sendo colocados em um local onde vive um grupo de cerca de 30 moradores de rua, entre os quais crianças e um bebê de dez meses.
Serra, com a justificativa de reduzir os assaltos na área, iniciou a construção dessas rampas, com piso chapiscado (áspero), que dificultam a tentativa de dormir no local. A obra já começou em um dos lados da passagem.
Os sem-teto estão concentrados no outro. 
Rubens Adorno, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, disse que a criação das rampas é uma ação "tapa-buraco". "A ação mostra que essa gestão tem caráter repressivo e de remoção", afirma ele, que pesquisa a questão da saúde pública e exclusão social. 
Na opinião do professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP João Whitaker, essa ação da prefeitura se insere em uma política mais ampla de "limpeza social", que reflete uma maneira de ver a cidade e a produção do
espaço urbano. 
"Serra, desde que assumiu, retomou uma política tradicional das elites, que é a da expulsão da população pobre das áreas mais ricas, do centro expandido. É uma idéia absolutamente atrasada e conservadora, que sequer
percebe que leva a um apartheid social cujas conseqüências são imprevisíveis e trágicas", diz. 
Segundo ele, a prefeitura chamou a primeira ação de retirada de pessoas da área central de "Operação Limpa", o que seria sintomático da visão que o governo têm do problema. 
Para eles [integrantes da prefeitura], não é a sociedade que, por sua injustiça, produz a desigualdade e a expulsão. A culpa é dos pobres, que não deviam estar lá", afirma o professor. O desembargador e presidente da
Comissão Justiça e Paz de São Paulo, Antonio Carlos Malheiros, acredita que a prefeitura esteja mais uma vez indo pelo "caminho errado". "Acho a atitude inadmissível. Quem está na rua não pode ser tratado como um papelão." 
Malheiros não concorda com a justificativa de impedir a criminalidade. "Isso é absurdo. A retirada dos moradores só seria aceitável se fosse para trazer condições melhores para essa população", diz.
A socióloga Camila Giorgetti, que aborda em sua tese de doutorado apresentada na PUC-SP como o paulistano trata os moradores de rua, afirma que a violência é sempre a justificativa utilizada para expulsá-los dos locais públicos. 
"Alguns prefeitos combatem a violência agindo de modo ainda mais violento, retirando da população de rua o único direito que lhe resta, de perambular pela cidade", afirma a socióloga.
Ela acredita que são infundados os motivos que levam os políticos a adotar as atitudes higienistas de expulsão, como a que ocorreu na avenida Paulista.
"Alguém já ouviu falar em assalto a banco realizado por uma quadrilha de moradores de rua? Há 12 anos estudo o tema na cidade e a informação que tenho é que a violência existe, mas ocorre sobretudo entre os próprios
moradores de rua", afirma ela. 
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), não é adequado tratar os sem-teto como uma bola de futebol, chutada para lá e para cá.
"O problema deve ser tratado em toda a sua amplitude. A paisagem está ruim, as pessoas reclamam, mas quais as conseqüências das ações tomadas? Deve-se oferecer uma oportunidade de reinserção social", afirma. 
O prefeito disse ontem que é "uma bobagem completa" afirmar que a rampa se trata de uma política higienista.
Memórias da Providência
Dona Almerinda: 85 anos de Providência
A vista privilegiada é o que mais impressiona quem entra na casa de Almerinda da Costa, 85 anos. Moradora da Providência desde que nasceu, ela vê de seu quarto um belo fragmento da zona portuária, com a Baía de Guanabara e seus navios.
A história de Almerinda se confunde com a do morro. Seu pai, um marinheiro que passava a maior parte do ano no mar, construiu a casa no início do século 20, quando a Providência ainda possuía muitos espaços desabitados. “Antes, era tudo mato”, conta Almerinda. “Depois venderam tudo e cada um foi comprando seu pedaço”.
Almerinda mora com a filha Telma, 61 anos, cujo quarto também dá para a Baia de Guanabara. “A paisagem bonita é nossa alegria”, diz Telma. “É uma maravilha, a melhor coisada vida da gente, ficar vendo navio entrar e sair… Pelo menos alguma coisa de bom aconteceu para gente. ” Da janela, Almerinda e Telma testemunharam os efeitos do tempo sobre a paisagem portuária. A construção da ponte Rio-Niterói e dos viadutos, o crescimento da favela… Mas, junto com as construções, elas acompanharam também a evolução do tráfico e o aumento da criminalidade.
Telma viu o desenvolvimento de sua janela
Almerinda acredita que a vida no morro está mais difícil do que era antigamente. “Quando eu era pequena, a vida era mais simples”, conta. “Não havia as vantagens que têm hoje. Não havia água, nem luz. Os supermercados não entregavam as compras aqui em cima, nem havia kombi, a gente tinha que subir nós mesmos com as mercadorias… Mas mesmo com todas as dificuldades era melhor, porque hoje a gente não tem segurança. Às vezes nem dentro de casa a gente tem segurança. É muito tiroteio… Já pensou ver um neto meu cair, assim, atirado no chão”.
Providência, passado e presente na visão de Almerinda da Costa:
Pai e mãe
“Meu pai era um homem muito bom. Ele trabalhava no navio, só vinha de três em três meses, às vezes passava um ano fora. Meu pai queria comprar uma casa mais para baixo, no asfalto, mas minha mãe não se incomodava, só queria passear. Ela ia para a terra dela, mandava coisa para os parentes dela, nunca ligou em comprar uma casa mais adiante.
“Quando eu tinha nove anos, meu pai morreu. Ele morreu na Argentina, não com a gente. Não gosto nem de me lembrar, porque era um pai muito bom. Os Argentinos nunca mandaram os ossos dele, veio a carta que eles iam mandar, mas nunca mandaram. Nem nunca tivemos direito ao que ele trabalhou. Depois que meu pai morreu ficamos na espera para receber, para receber… Mas o governo nunca se incomodou e nunca recebemos. Minha mãe nunca mais quis casar com ninguém”.
A casa
“Meus pais alugavam cômodos da nossa casa para marinheiros. Às vezes, nem alugavam, só deixavam ficar. Vinha rapaz solteiro que não tinha onde ficar, e minha mãe dizia: ‘Você fica aí até se arranjar. Você se emprega e, quando tiver bem, aí você sai.’ Vivia tudo como família”.
Estudo e trabalho
“Estudei nos Ingleses, assim como quase todo mundo da minha família. Com 13 anos, eu já trabalhava na catação de café. Como a lona era muito alta, eles botavam um banco para eu trepar na lona e catar de grão em grão. Eu trazia o dinheiro para minha mãe. Todas as noites, ela dizia: ‘Olha, amanhã não tem comida’. Então, na volta do trabalho eu já trazia um quilo de carne, trazia pacote de fumo, e assim nós nos criamos.
“Agora, os mais novos estão estudando e tem sua horinha de trabalho. Cada um ganha sua parte e divide com o resto”.
Malandragem e tráfico
“Antigamente, a gente nem via o malandro, via passar, mas nem sabia que era malandro. Era tudo mato e eles tinham os esconderijos deles. Eles não vinham com arma e não se metiam com ninguém. Agora, eles querem enfrentar a policia, e aí já viu.
“Eu fico deitada aqui e até me assusto com os tiroteios. De dia até que é calmo, mas à noite… Sai tiro de todo lado, eles matam um ao outro. Às vezes, digo aos meus netos: ‘Desce cedo e volta para a casa cedo antes que fique noite. Agora está uma bagunça, a gente não dorme muito, não – tem que ficar de olho”.
A dama da Portela
Dona Dodó iniciou-se no samba antes dos 13 anos de idade
É por acaso que Maria Dolores Rodrigues, a famosa Dona Dodô da Portela, entrou no mundo do carnaval. Antes de completar 13 anos, ela nem sabia o que era samba. Hoje, aos 87 anos, é considerada uma das maiores porta-bandeiras da história.
O envolvimento de Dodô com a Portela começou quando ela foi trabalhar, ainda adolescente, numa fábrica de caixas onde também trabalhava Dora, na época rainha da Portela. Por influência da rainha, todos os trabalhadores da fábrica acabavam torcendo pela escola. “Ali, todo mundo era Portela. Na hora do almoço e nas folgas, os funcionários aproveitavam para tocar e dançar. Nesse momento eu descobri o que era o samba”, lembra Dodô.
Foi numa dessas horas de folga que descobriram a futura Dona Dodô dançando com uma vassoura. “Acharam que eu tinha jeito para Porta-Bandeira. E então Dora me levou para a escola para fazer um teste”.
Lá, o presidente da escola Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela, pediu para o Mestre-sala Antônio dançar com Dodô e avaliá-la. Uma hora depois do “ensaio”, ela já estava amplamente aprovada. Antônio garantiu que a adolescente tinha tudo para ser uma grande porta-bandeira. Dodô confirmou as expectativas e, um ano mais tarde, já desfilava pela escola, em 1935. Um ano inesquecível para ela, que não só viu a escola ser campeã – era o primeiro desfile oficial das escolas de samba no Rio de Janeiro – como foi eleita a melhor porta-bandeira.
Dodó: lembranças
Dodô mostra uma foto tirada logo após o triunfo, em que aparece vestida com a fantasia do desfile e segurando a bandeira da escola vencedora. Ela posa sorridente em frente a casa da mãe na Providência, no alto do morro, com o relógio da Central aparecendo por trás.
“Na época, eu era menor e nem poderia desfilar”, confidencia. “Mas olha, vê se na foto eu pareço uma garota de quinze anos?”. De fato, não parecia. Alta e elegante, Dodô enganaria qualquer um a respeito da sua verdadeira idade.
Morando na Providência desde os quatro anos, Dodô tornou-se um problema para seus pais. “Nessa época não era como hoje”, conta. “Se você era menor, os pais tinham que te acompanhar em tudo que é ensaio”. No princípio sob a vigilância constante da mãe, ela participou da incrível série de vitórias da Portela, sempre se destacando como porta-bandeira.
A força feminina do samba
Dodó: símbolo da Portela
Hoje, Dodô é uma das figuras mais folclóricas da Portela. Poucas pessoas receberam mais homenagens. Ela já esteve com grande parte dos nomes importantes da política brasileira. As homenagens não escolhem partido: Brizola, César Maia, Lula – todos eles aparecem em fotos na casa de Dodô, no dia em que cumprimentaram a grande Dama da Portela.
Adorada pelos moradores do morro, Dodô é especialmente querida pelas crianças. “Essas crianças me dão muito trabalho! E prejuízo – estão sempre pedindo uma casmisa da Portela. E eu tenho que dar de graça!”. A frase mostra o temperamento franco e explosivo de Dodô, que permanece uma pessoa difícil de ser entrevistada. Aliás, ela raramente dá uma entrevista sem cobrar. Para nós, porém, fez “uma exceção”.
Recentemente, sua casa no Morro da Providência foi transformada em museu, que faz parte do projeto do “Museu a céu aberto” da Providência. Lá, encontra-se grande parte das roupas usadas no desfiles, além de fotos que contam a sua história. Dodô conheceu os grandes nomes do carnaval da Portela, teve uma convivência proveitosa com a Velha Guarda. Seu legado continua vivo, embora ela reclame dos defeitos do carnaval moderno:
“O carnaval não é mais o que era antes. Roupa, tratamento, harmonia, tudo era melhor no passado… Além do mais, na minha época, não tinha essa de menina sair desfilando em várias escolas. Antigamente, quem era de uma escola era da escola, não queria sair em nenhum outro lugar”.
Racismo segundo Nei Lopes
Nei Lopes: racismo em debate
Paulinha e Pedrinho são filhos de pai negro e mãe judia. Fruto da mistura de raças, as duas crianças não conseguem entender por que certas pessoas são, em função da sua cor, tratadas de maneiras diferentes. O pai, Paulão, e a mãe, Lia, tentam explicar aos filhos a origem dessa distorção, chamada “racismo”.
É a partir desse diálogo entre pais e filhos que o compositor, cantor e escritor Nei Lopes constrói “O racismo explicado aos meus filhos”, seu livro mais recente, em que expõe origens e conceitos para que as crianças compreendam os males sócio-político-culturais que o racismo causa. Apesar do nome, a obra traz informações úteis para muitos adultos. Partindo desde os primórdios da Humanidade até os dias de hoje, viajando do Antigo Egito à sociedade contemporânea, Nei tenta jogar luz sobre algumas questões pertinentes: oBrasilé um país racista? Cotas para negros em universidades podem ajudar a acabar com a injustiça social? Questões cada vez mais em pauta na agenda do país, e que merecem ser discutidas.
Talvez a pergunta mais difícil, no entanto, seja também a mais básica: por que, afinal, existe racismo? Por que algumas pessoas julgam que diferenças étnicas permitem-lhes discriminar o próximo? Numa entrevista exclusiva para o Viva Favela, Nei tenta responder:
“O racismo existe porque, um dia, alguém achou que havia uma hierarquia dentro dos grandes grupos humanos. Que uns eram melhores e mais bem desenvolvidos que outros. Houve até quem desenvolvesse teorias científicas sobre isso. Principalmente procurando mostrar que quanto mais fossem brancas, de cabelos lisos e narizes afilados, as pessoas seriam mais aristocráticas e mais inteligentes que as demais. E a partir desse argumento, os ‘civilizados’ dominaram os ‘selvagens’, contando-se entre estes principalmente os negros e os índios. Mas hoje a ciência sabe que essa hierarquia não existe, do ponto de vista científico, ocorrendo apenas circunstâncias históricas, sociais e econômicas que determinam o maior ou menor desenvolvimento dos povos. Pessoas menos esclarecidas, entretanto, continuam pensando como os antigos. Essas são as pessoas racistas. E elas estão em todos os lugares, influenciando muito”.
Livro de autoria de Nei
Racismo não era discutido abertamente
Nascido em Irajá, Nei Lopes só descobriu de fato o que é racismo quando saiu da periferia e foi competir na sociedade. “Só quando nos víamos em situação de competição que percebíamos o quanto éramos discriminados”, explica. Além do mais, Nei lembra que, só a partir dos anos 70 é que se começou a discutir abertamente a questão do racismo. “Antigamente, nem sabíamos ao certo o que era racismo. Até porque não se falava sobre o assunto. O negro era discriminado e nem sabia.”
Militância e samba
Ao entrar na universidade, Nei iniciou o seu caminho da militância pela igualdade de direitos da raça negra. No entanto, sua militância sempre foi individual, pois “nunca se sentiu a vontade em grupos”. Bacharel pela Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil, Nei tornou-se um dos principais pesquisadores de cultura africana. No início dos anos 70, abandonou a carreira de advogado para dedicar-se à música e à literatura. Na primeira, teve a trajetória ligada às escolas de samba Acadêmicos do Salgueiro (como compositor) e Vila Isabel (como dirigente), e ganhou fama pela parceria com Wilson Moreira, além de composições com artistas da importância de Zé Renato, Fátima Guedes e Guinga. Na segunda, tem uma obra voltada para a temática afro-brasileira, em que elabora todo um campo de reflexão sobre a participação do elemento africano e afro-descendente na cultura do país. Participação, aliás, que Nei considera fundamental para a formação do Brasil:
Nei Lopes: cantor, compositor e escritor
“À época escravista só o africano e seus descendentes brasileiros trabalhavam. Aí, tudo o que se criava no Brasil e que não vinha da Europa ficou impregnado do que havia na África”, explica. “O africano não apenas ‘contribuiu’ para a civilização brasileira: ele criou essa civilização”.
Sócio correspondente do CICIBA, Centro Internacional das Civilizações Bantu, com sede na República do Gabão, Nei ainda escreveu ensaios como “O Samba, na Realidade” (1981), “Bantos, Malês e Identidade Negra” (1988), “O Negro no Rio de Janeiro e Sua Tradição Musical” (1992), “Zé Kéti, O Samba Sem Senhor” (2000), “Logunedé; santo menino que velho respeita”(2000), além de um “Dicionário Banto do Brasil” (1996). Desde 1995, Nei trabalha na elaboração da “Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana”, a qual contempla centenas de verbetes sobre o universo do samba e do choro.
Agora, em “O racismo explicado aos meus filhos”, ele mostra a discriminação racial no mundo inteiro e levanta discussões sobre o que pode ser feito para evitar que eles se repitam. Estão lá exemplos como a escravidão colonial, o apartheid sul-africano, o genocídio dos judeus na Alemanha de Hitler. Nei também fala sobre os movimentos anti-racistas a favor da igualdade entre pessoas com diferentes cores de pele, culturas e crenças.
“Um país extremamente racista”
Outro tema abordado pelo livro é a suposta “Democracia Racial” brasileira, idéia que se estabeleceu durante muito tempo no imaginário brasileiro – com diferentes interpretações – e que o autor tenta desmistificar. “O Brasil é um país extremamente racista. E passa por ser “bonzinho” porque dissimula esse racismo”, afirma Nei. “As coisas agora começam a mudar um pouquinho, com os negros disputando também os bons lugares. Mas aí, a briga começa a ficar feia”. Nei, que vê com bons olhos as novas políticas afirmativas, acredita que ainda há resistência da sociedade para a integração dos negros: “A imprensa desmoraliza as idéias de inclusão do negro na universidade; estelionatários interferem na questão das comunidades remanescentes de quilombos… O racismo está sentindo a mudança e aí começa a botar o pé na frente, pra gente cair”.
Analisando as tensões raciais presentes no mundo de hoje, Nei acredita que um dia, talvez, o ser humano possa se livrar do racismo. “O mundo está em crise, em todos os aspectos. Então, tudo pode acontecer. Até mesmo esta Humanidade que somos nós. Quem sabe, depois nasce uma outra?”
A principal crítica que se faz a essa teoria é o continuísmo de uma espécie de determinismo positivista, só que agora no âmbito da cidade. Nela, determinadas áreas são estigmatizadas e contaminam seus moradores com o "germe" da criminalidade, como ocorreu nos guetos americanos, nos bairros muçulmanos franceses e em nossas favelas.
O sistema penal passa a orientar suas operações para essas localidades.
A lógica que fundamenta esse tipo de ação é: "Se eu sei que o crime está lá, por que procurar em outro lugar?“.
Mobilidade Social
Voltando ao assunto que vimos na tela anterior, vamos nos aprofundar no conceito de mobilidade social
O incessante movimento dentro das cidades (residência, emprego, ascensão e decadência social) impossibilita a criação de vínculos e identidade entre os seus moradores, diferentemente do que ocorre na zona rural.
O anonimato rompe determinados mecanismos tradicionais (informais) de controle do sujeito que pretende praticar um crime, além de não haver qualquer laço de identidade entre o indivíduo e sua vítima, o que facilita a prática do delito.
Áreas de delinquência
Agora é a hora de entendermos as áreas de delinquência.
"O belo representa a bondade, e o feio, o mal".
A deterioração do ambiente reflete os valores daqueles que lá residem, ao mesmo tempo em que influencia na decadência moral desses.
Essas áreas estão relacionadas à degradação física e segregações econômicas, étnicas e raciais.
Teoria da Anomia por Robert King Merton
Segundo Merton, anomia é o sintoma do vazio produzido quando os meios socioestruturais não satisfazem as expectativas culturais da sociedade, fazendo com que a falta de oportunidades leve à prática de atos irregulares, muitas das vezes ilegais, para atingir a meta cobiçada.
Robert King Merton
Há dois pontos principais da Teoria da Anomia. Um deles é a desmistificação do crime - ele é um fato normal, e nunca será extinto, pois sempre haverá conflitos na sociedade.
O outro ponto é o alerta quanto à valorização do consumo desregrado, processo no qual somos bombardeados por promessas de felicidade e sucesso se comprarmos o produto certo.
A sociedade nos exige cada vez mais, para que sejamos reconhecidos como vencedores. A aquisição de alguns bens, como o carro do ano, o tênis importado e a roupa de certa marca, representa o alcance de status.
Porém, se tal exigência é cobrada indiscriminadamente de todos, o mesmo não ocorre com a distribuição de oportunidades para se conquistar tais bens, o que leva muitos indivíduos a buscar meios alternativos para atingir essas metas.
Teoria da Anomia por Émile Durkheim
Trata-se da ausência de reconhecimentodos valores inerentes a uma norma, fazendo com que esta perca sua coercibilidade. Isto porque o agente não reconhece legitimidade na sua imposição, considerando o crime, assim, um fenômeno “normal” na sociedade.
Sempre haverá alguém que desconhece a autoridade da norma. Isto acaba sendo funcional, pois é necessário constantemente analisar e refletir sobre os valores normatizados face às mudanças sociais.
Émile Durkheim
Como exemplo, temos o caso do adultério, que era definido como crime pelo Código Penal. Mas pelo avanço dos costumes, verificou-se que era uma prática corrente na sociedade moderna e que não exigia sua proibição por norma tão coercitiva como a penal, a qual findou revogada.
Segundo Durkheim, a divisão do trabalho na sociedade capitalista não respeita as aptidões de cada um, o que não produz solidariedade, fazendo com que a vontade do homem se eleve ao dever de cumprir a norma.
Para ele, anormal não é o crime, mas sim seu incremento ou sua queda, pois sem ele a sociedade permaneceria imóvel e sem perspectivas.
Um exemplo se verifica nos países europeus como a Suécia e a Noruega, que possuem as maiores taxas de suicídio do planeta, sendo um indício de que a ausência de conflitos mantém uma sociedade estagnada, o que repercute, principalmente, nos jovens.
Para ele, a pena é relevante, sendo uma reação necessária que atualiza os sentimentos coletivos e recorda a vigência de certos valores e normas.
Aula 3: Escola de Chicago: Teoria Ecológica
Nesta aula, você:
A Escola de Chicago, criadora da Teoria Ecológica que estudará a cidade e a influência desta sobre as condutas delitivas, bem como a Teoria da anomia, que analisa o enfraquecimento das normas no meio social
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
A Teoria Subcultural, que analisa o comportamento dos jovens delinquentes e a Teoria do Conflito, que parte da constatação da falta de imparcialidade na criação de leis e nos julgamentos.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica ao direito penal: introdução à sociologia do direito penal. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.
MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
COSTA, Álvaro Mayrink. Criminologia, Vol. I, Tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
CRIMINOLOGIA – AULA 4
Teorias Subculturais e do Conflito
Objetivo desta Aula
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1- Identificar o direito como fato político;
2- Reconhecer o crime como a manifestação de valores distintos dentro do corpo social;
3- Identificar a lei penal como instrumento que reflete os valores da classe dominante.
Teoria Subcultural
A Teoria Subcultural inicia seus estudos com Cohen e sua análise da delinqüência juvenil.
Teoria Subcultural
Segundo esta teoria a ordem social é formada por um mosaico de grupos e subgrupos, os quais possuem seus próprios códigos de valores, que nem sempre coincidem com os demais, sendo o crime não o produto de “desorganização” ou “falta de valores”, mas reflexo de valores distintos.
Trata-se de um estudo criminológico específico, destinado a estudar o delito como opção coletiva, sendo considerado crime, somente, a manifestação destes valores em condutas consideradas legítimas pelo respectivo grupo, porém não aceitas pela maioria.
Respectivo grupo
Podemos citar como exemplos os Hooligans ingleses, grupos violentos de torcidas organizadas semelhantes às do Brasil, porém bem mais agressivas; ou os grupo de jovens cariocas, muitos praticantes de artes marciais, que saem de noite em boates para provocar brigas, conhecidos como “pitboys”.
Apesar de consideradas criminosas as agressões provocadas por esses grupos, não há ausência de valores, mas a exteriorização de princípios específicos desenvolvidos por seus integrantes, como o de que suas idéias devem ser defendidas através da força física.
Subcultura e contracultura
Vamos entender cada teoria e identificar a diferença entre elas:
Subcultura
As escolas que  defendem a subcultura recebem críticas, por ser esta uma teoria muito reducionista.
A teoria da subcultura não justifica os crimes provocados fora das realidades subculturais. Também considera que nem sempre há coesão de valores dentro do mesmo grupo.
Ou seja, é possível que membros do grupo não comunguem com todos os princípios lá desenvolvidos. Isto quer dizer que nem todos os lutadores de jiu-jitsu, por exemplo, se tornarão “pitboys”.
Clique aqui e leia mais para se aprofundar no assunto.
Violência e condição social: o homem é fruto do meio?
Juliana F. Pantaleão e Marcelo C. Marcochi
Juliana F. Pantaleão é advogada e pós graduanda em Direito Processual Penal pela Escola Paulista da Magistratura.
Marcelo C. Marcochi é advogado, pós graduado em Direito Penal e pós graduando em Direito Processual Penal pela Escola Paulista da Magistratura, membro da Comissão de Direitos e Prerrogativas Criminais da Câmara Criminal da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção São Paulo/ Subsecção de Santos, Professor de Direito Penal e Processual Penal, membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.
Email: julianafpanta@hotmail.com
Inserido em 26/05/2004
Parte integrante da Edição no 78
Código da publicação: 271
CAPÍTULO I
O Crime e os Criminosos
"O homem é o único ser capaz de fazer mal a seu semelhante pelo simples prazer de fazê-lo". (Schopenhauer)
Introdução
Sem procrastinar o entendimento do tema em estudo, importante situar a violência frente ao seu agente, porquanto é o homem que agride o seu próximo e fere a si mesmo.
Não temos a pretensão de demonstrar as causas da crescente onda de criminalidade violenta que assola nossa sociedade, tão pouco o de apontar a fórmula mágica que combata tais causas. A razão é simples; tal tema suscita discussões intermináveis, uma vez que envolve não somente o agente violento do crime e sua condição social, como também posições ideológicas pessoais.
A moderna Criminologia "cientifica", ao explicar o comportamento criminal se utiliza basicamente de três grandes grupos de modelos teóricos, a saber: modelos de cunho biológico ("Biologicistas"), modelos de cunho psicológicos ("Psicologicistas") e, por último, modelos de cunho sociológicos ("Sociologia Criminal").
Para podermos situar o tema, far-se-á no transcorrer do trabalho um breve estudo dos modelos sociológicos (Sociologia Criminal) e suas implicações. Contudo, não devemos nos esquecer que a criminologia é uma ciência interdisciplinar, motivo pelo qual os demais modelos não devem ser deixados de lado.
A violência que emana do homem, mesmo que em detrimento de outro (único) homem, tomada pelo caráter jurídico, nos remete a uma visão mais ampla de seu conceito; a violência reveste-se de um caráter criminoso.
A par dos tempos em que a violência era combatida no "olho por olho, dente por dente", o Estado passou a ser o ente responsável pela punição daquele que comete um crime, e este, por sua vez, passou a ser classificado partindo do criminoso que o perpetra.
Sendo assim, necessário, mesmo que brevemente, determinar as características de cada agente delinqüente.
1. Classificação dos criminosos
Nesse diapasão, num breve resumo podemos classificar os criminosos em:
"Ocasionais: são aqueles que não possuem tendência para o cometimento de crimes, perpetrando-os, ocasionalmente, em virtude da influência do meio social em que vivem. Quase que em sua totalidade cometem furtos e estelionatos, mostram posteriormente um arrependimento e, na medida em que são detidos, assim que retornam à liberdade tendem a não mais delinqüir;
Habituais: são os criminosos que cometem crimes desde a juventude e muitas vezes desde a infância. O que ocorre é uma "evolução da vida criminosa"; não raras vezes se unem a quadrilhas e organizações criminosas e cometem todos os tipos de crimes. Não se arrependem do crime cometido, faz da delinqüênciaum meio de vida;
Impetuosos: são aqueles que cometem crimes levados pela forte emoção, sem premeditar seu contento; cometem na sua maioria crimes passionais, arrependendo-se posteriormente.
Fronteiriços: são os psicopatas, possuem deformidades no senso ético-moral. Agem com anormal frieza e insensibilidade; a reincidência é uma realidade próxima e cometem, na maioria dos casos, crimes específicos;
Loucos criminosos: possuem patologias que os levam ao cometimento de crimes"(1) .
Como se verifica, muitos são os criminosos e os crimes por eles praticados, sendo certo afirmar que o estudo de determinado delinqüente nos remete a determinados crimes.
Cumpre-nos analisar, assim, o homem e o crime por ele perpetrado, e determinar se o meio social em que ele vive é capaz de torná-lo criminoso.
CAPÍTULO II
As Escolas Sociológicas
Introdução
Faz-se necessário uma breve análise das escolas sociológicas vez que estas ressaltam não somente a importância do "meio" na gênese da criminalidade, como também observam o crime como "fenômeno social".
A moderna sociologia criminal aponta para duas vertentes, a saber:
Europeu - ligado a Durkhein (teoria da anomia, ou seja, a normalidade do delito no contexto sócio-cultural);
Norte-americano - liga-se a Escola de Chicago (que admite a existência de subculturas criminais, conforme Cliford Shaw), a partir da qual nasceram progressivamente diversos esquemas teóricos (Teoria Ecológica, subculturas, da reação social, do etiquetamento rotulagem e outras);(2)
1. Escola de Chicago - Teoria Ecológica
A Escola de Chicago, berço da moderna sociologia criminal, não obstante não trate especificamente de violência mas sim da criminalidade urbana, tem como temática preferida o estudo daquilo que poderíamos denominar a "sociologia da grande cidade", a análise do desenvolvimento urbano, da civilização industrial e, correlativamente, a morfologia da criminalidade nesse novo meio"(3) .
Na teoria ecológica a cidade é "produtora" de criminalidade.
2. Teorias Estrutural-Funcionalistas ou da Anomia
Tal teoria, da qual Durkhein (1858-1917) é o seu maior expoente, defende que em qualquer tipo de sociedade bem como em qualquer momento histórico haverá um volume constante da criminalidade e, por conseqüência, do nível de delinqüência. Admite o delito como comportamento normal que pode ser cometido por qualquer pessoa de qualquer das castas sociais, derivando não de anomalias do indivíduo, tão pouco da desorganização social, mas sim das estruturas e comportamentos cotidianos no seio de uma ordem social intacta.
'o crime é o fenômeno que apresenta, da forma mais irrefutável, todos os sintomas da normalidade, sendo, pois, necessário e útil, verdadeiro fator de saúde pública, uma parte integrante de toda a sociedade sadia'(4) .
Conforme Durkheim, a anomia seria uma crise moral da sociedade, uma patologia gerada por regras falhas de conduta.
Merton, por sua vez, entende que a anomia ocorre quando existe uma disfunção entre as normas e as metas culturais com os meios institucionalizados, de forma que os indivíduos acabam por recorrer a comportamentos de adaptação para atingir as metas culturais existentes na sociedade.
2.1. Teoria do Conflito
Tal teoria contempla o crime como fruto dos conflitos existentes na sociedade, sendo certo que nem sempre tais conflitos são nocivos a ela. "O comportamento delitivo é uma reação à desigual e injusta distribuição de poder e riqueza na sociedade"(5) .
A teoria do conflito se subdivide em duas linhas de pensamento, a saber:
Teorias do conflito não-Marxistas - O crime nada mais é do que um resultado normal das tensões sociais e carece de significado patológico;
Teorias do conflito Marxistas - Estas contemplam o crime como função das relações de produção da sociedade capitalista. O delito é sempre um produto histórico, patológico e contingente da sociedade capitalista. Têm suas raízes no pensamento de Marx e Engels;
2.2. Teoria Subcultural
A sociedade, como um todo, é formada por diversos sistemas de normas e valores dentro de si mesma, sendo que tais grupos se organizam com seus próprios valores e normas de condutas aceitas como corretas em seu meio, criando assim aquilo que se chama de "subculturas".
Assim "a conduta delitiva não seria produto de desorganização ou ausência de valores sociais, mas antes o reflexo e a expressão de outros sistemas de normas e de valores: os subculturais"(6) .
3. Teoria da Associação Diferencial ou Aprendizagem Social
Os defensores de tal teoria entendem que o comportamento criminoso e a delinqüência são frutos de um processo de aprendizagem e, em sendo assim, "o comportamento delituoso se aprende do mesmo modo que o indivíduo aprende também condutas e atividades lícitas, em sua interação com pessoas e grupos, e mediante um complexo processo de comunicação. O indivíduo aprende não só a conduta delitiva, senão também os próprios valores criminais, as técnicas comissivas e os mecanismos subjetivos de racionalização (justificação ou autojustificação) do comportamento desviado"(7) .
CAPÍTULO III
Condição Social versus Violência
Introdução
Há quem considere a violência uma característica contemporânea, que emana da evolução do homem, da globalização, da exclusão e dos diversos níveis sociais.
Ocorre que a violência, e por conseqüência a criminalidade, não se encontram restritas a esse ambiente. Quem assim pensa só conhece da violência atual das megalópoles, e já se equivoca porquanto desde os primórdios a violência acompanha a conduta humana, ou melhor, faz parte da natureza do homem independente deste encontrar-se em ambiente urbano ou rural. Naquele sentido, quando falamos de violência estaríamos deixando à margem aquela violência do campo onde as contendas são resolvidas "na base do facão", porquanto, ademais, não se revestem na degradação lato sensu do homem.
Como anteriormente citado, alguns homens cometem crimes levados pela influência do meio em que vivem. Nesse passo, "condição social" abarca uma gama de características, quais sejam:
condição econômica - renda insuficiente ou inexistente (oportunidade de trabalho);
formação de caráter - estrutura familiar na qual foi criado e na qual vive atualmente, (educação - escola / creche);
condições dignas de moradia - habitação com infra-estrutura adequada (ser humano);
outras;
Não podemos olvidar, como conseqüência da falta de tais "condições mínimas de sobrevivência" a precária alimentação do corpo que influi, ademais, na má formação "física, psíquica e biológica" do homem, tornando-o "apto", também, a delinqüir; cuida-se do louco criminoso que da patologia que possui - independente de sua fonte - acarreta o crime.
Nesta esteira, cumpre-nos examinar:
1. A Influência da Educação nos Instintos Criminosos.
"...a educação não representa senão uma das influencias que actuam nos primeiros annos da vida e que, como a hereditariedade e a tradicção, contribuem para a gênese do caracter. Mas, uma vez formado, este sibsiste, como a physionomia physica, perpetuamente aquillo que é. De resto, é ainda duvidoso que um instincto moral definitivo possa crear-se pela educação na primeira infância"(8) .
Como se verifica da citação de GAROFALO, a educação não se reveste de critério determinante à formação dos criminosos, mas deve ser considerado "um dos" fatores de influência em seu caráter. Vale dizer que o fato de um indivíduo possuir uma educação "exemplar" não resta definido seu futuro em face do cometimento futuro de crimes.
Vale sopesar que a educação que faz referência o tópico desde título não se restringe tão somente ao sentido pedagógico; trata-se, ademais, de uma série de influências externas, "de cenas continuamente vistas" pelas crianças e que são capazes de criar hábitos morais.
Fazendo um exercício hipotético de realidade, o que podemos esperar de duas crianças (um menino e uma menina) que são criados em um lar aonde seu pai, depois de um longo e cansativo dia de "vadiagem"chega em casa e prontamente passa a espancar sua esposa, a gritar com seus filhos, chegando - não raras vezes - a violentá-los.
- Não é difícil crer que aquele menino vai crescer com a figura de seus pais (ele violento e ela submissa) na mente, como uma mancha negra indelével, tendo para si a certeza de que aquele é o papel da esposa e do marido no casamento.
De outra feita, a posição daquela menina frente à sociedade conjugal que um dia possa vir a contrair fica desde logo afetada; não se poderá responsabilizá-la pelo medo e submissão da figura masculina que a acompanhará para sempre, ademais, caso venha ela a ser violentada pelo futuro marido, nada de novo terá tal "bestialidade" posto que na sua concepção de família esta conduta é "legal"; não se cobrará dela sequer denunciá-lo.
"a educação doméstica é uma continuação da herança; o que não é transmitido por geração, é-o, de um modo também quase sempre inconsciente, pelos exemplos dos paes"(9) .
- Uma questão se impõe: Podemos afirmar que o marido que bate em sua esposa o faz porque sua mãe apanhava de seu pai? - Não há exceção?
Torna-se equivocado (fazendo referência novamente à citação de Garofalo) dizer que tais "cenas" são determinantes no caráter criminoso de um homem.
Do sentido de educação podemos extrair algumas considerações, o que impõe desde logo algumas indagações:
- Toda criança "mal educada" vai um dia cometer crime?
- Alguém com "boa educação" pode cometer um delito?
- A educação (ou a falta dela) é "o" caráter definidor da conduta delituosa de um indivíduo?
Dados da Secretaria de Segurança Pública refletem as características dos internos da FEBEM e nos dão certa idéia dos fatores determinantes do crime; como se verá, a falsa idéia de que só o "pobre" comete crime não se funda na realidade.
Os menores infratores apontam como fatores que os levaram ao crime: exclusão social, uso de drogas e falta de estrutura familiar.
As palavras dos internos da FEBEM são o retrato da mentalidade social:
"nem todos que estão é um bicho como a imagem nossa lá fora".
"O que fez eu entrar pro crime (...) foi as necessidades que eu encontrei e que estava passando... uma certa ambição também de ter as coisas (...) andar do jeito que todo mundo anda, com dinheiro. A proposta que foi feita pra mim não foi a proposta de um trabalho, de ter um trampo. A primeira proposta que teve pra mim foi pegar num revólver, foi vender uma droga".
"não ter emprego, falta de estudo e não ter oportunidade pra nós da periferia. Essa situação chegou a um ponto que na vida do crime a gente ganhava alguma coisa".
"eu costumava roubar para usar drogas e usar drogas para roubar. Quando eu ia roubar eu gostava de cheirar cocaína porque ela estimulava a violência, deixa você mais agressivo. Então, eu tinha mais apetite"(10) .
"já tirei a vida de duas pessoas num assalta, mas, por mim não fez nem falta"
"o primeiro ato infracional que eu cometi na minha vida foi esse homicídio. O que eu senti num primeiro momento foi a revolta. Eu até não queria mas a revolta foi trazendo tudo isso na minha cabeça e pelo ódio e pelas mágoas eu ajuntei tudo e cometi esse crime".
Sendo assim, em relação à educação podemos assegurar que não se trata de critério único e determinante na delinqüência futura do homem; há se levar em consideração outros fatores que, somados, PODEM criar uma personalidade criminosa.
2. A Influência Econômica nos Instintos Criminosos
"crêem os socialistas que, removidas certas instituições e attingido o ideal que elles proclamam, cessaria a maior parte dos delictos"(11) .
- Marginal é quem mora na favela!!!
Em tais locais, por exemplo, ademais do contato diário da violência com os moradores, suas próprias condições refletem a falta absoluta de condições humanas de vida; as pessoas vivem ao lado de esgotos, "moram em residências" sem o mínimo de estrutura, sem falar da precariedade de subsistência frente sua condição social.
Tal realidade denota a falta de oportunidade de emprego e a ineficácia do seu ganho refletir em melhores condições de SOBREVIVÊNCIA.
Muitos acreditam que o aumento da desigualdade social é o responsável pela violência que impera hodiernamente. Ora, se assim o fosse, certo seria dizer que a violência se voltaria tão somente contra os mais abastados; no entanto, o que se vê é a indiscriminada violência, ou seja, o "não abastado", ou mais, "o miserável" possui chances iguais de ser violentado em seus mais diversos bens quanto aquele que ostenta boa situação econômica.
O que ocorre - certamente - que a falta de condições econômicas refletem e geram outros maus; a desigual repartição da riqueza condena uma parte da população à miséria, e com esta à falta de educação, de moradia, de alimento, de condições mínimas de sobrevivência, de falta total de esperança num futuro pouco melhor.
Tal assertiva reveste-se da realidade conquanto os "ricos" também cometem crimes; há aqueles que não estão privados de excelente moradia, educação pedagógica e familiar exemplar, mas nem por isso deixam, absolutamente, de estarem "aptos" à delinqüência.
Os abastados trazem consigo diferentes fatores que os levam ao crime. Algumas vezes, "o pobre" rouba visando o sustento de seus familiares, ou ainda, o faz em busca de melhores condições de vida. O "rico", de outra feita, já dispõe de tudo que necessita porquanto se alimenta com dignidade, sua família detêm certas "regalias", não possuindo, a priori "desculpa para roubar".
Possui, todavia, o que o homem tratou chamar de ganância.
- Utópica e hipoteticamente refletindo, não podia ele dispor de seus bens em excesso a favor daquele que não os tem? - Assim não sendo, necessita ainda de mais, e, sobretudo, precisa delinqüir para alcançar este algo mais?
O que diverge da antagônica realidade do "pobre" e do "rico" é o crime (meio) dos quais se utilizam para "saciar" seus desejos; O primeiro se vale do furto, do roubo, do seqüestro; o segundo das falsificações e das fraudes de toda espécie, visando essencialmente a obtenção de mais riqueza (monetária). De certo que os crimes mais violentos estão ligados à camada mais baixa da sociedade, mas são, senão, variantes de um mesmo delito natural.
A falta de freio moral é o mesmo!!!
Independente ou não da sua boa ou má educação lato sensu - como explicitado no tópico anterior - o abastado comete o delito e não se frustra, igualmente, a novos crimes se necessário for.
Inserida assim a questão podemos asseverar que os fatores econômicos e educacionais não determinam, individualmente, o caráter delinqüente do homem.
Ficam, pois, algumas questões:
1. Os critérios estudados influenciam na violência e no crime?
2. O homem é fruto do meio ou o meio social é fruto do homem que nele vive?
3. Para aqueles que acreditam na influência ímpar de cada critério, como explicar sua eficácia (ou não) frente os criminosos natos?
Devemos assim nos voltar para a base da formação que é a família e com igual razão ao Estado como garantidor de condições mínimas de humanidade. A família por sua vez - berço de um futuro sólido - só se fortifica se o Estado se coloca como sua base primária.
3. Homem violento e criminoso: Fruto do meio social em que vive?
'Qualquer motivo é idôneo para impulsionar alguém a ter ou deixar de ter determinado comportamento, ainda que considerado socialmente inadequado ou absurdo; na verdade, toda ação possui uma lógica interna, orientada para a satisfação de uma necessidade primordial de sobrevivência, de segurança ou de amadurecimento, tais como o amor, estima social, auto-estima ou sensação de pertencer a um grupo, qualquer que seja ele'(12) .
É óbvio que as dificuldades econômicas pelas quais passam nosso país, refletem na população em geral, sobretudo nas camadas mais pobres, na grande parte miseráveis; contudo isso não importa necessariamente em que se tornem criminosos.
Vários são os exemplos de que pobreza não implica em conduta criminosa, sendo o maior de todos,no nosso ponto de vista, aquele em que o indivíduo se coloca como um animal de carga e passa a puxar um carrinho no qual deposita papelão ou ferro velho, para sustentar a si e à sua família. Tais pessoas preferem o caminho mais difícil, ou seja, passar fome a cometer delitos.
Os que o leva a não cometer crimes é difícil responder, mas sem dúvida, tal resposta se baseia, necessariamente, na sua personalidade (sentimento, valores, tendências e volições).
Exatamente por serem vários os exemplos, entendemos não ser lícito ao criminoso escorar-se na condição social para justificar seus atos violentos. Em sua maioria, aquele que comete crime por passar fome, não usa da violência para cometê-los, opta no mais das vezes por cometer pequenos furtos (chamado furto famélico).
Também é verdade que podemos encontrar atitudes violentas e crimes violentos em todas classes sociais, do contrário como explicar crimes como o cometido pelo jornalista Pimenta Neves, o do promotor de justiça Igor Ferreira que matou a esposa grávida de oito meses, dentre tantos outros.
Contudo, não podemos nos apartar da realidade e negar que é no seio da população mais carente e miserável que a violência e os crimes violentos encontram campo propício para se desenvolver, ademais dos motivos anteriormente expostos.
Nesse passo, os crimes violentos não se resumem em homicídios, no entanto esse é um bom parâmetro para demonstrarmos nossa posição. Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública, no tocante ao ano de 1999, podemos observar a maior incidência de homicídios (100.000 habit.) no município de São Paulo nas áreas dos Distritos Policiais em que se encontram as populações mais carentes tais como Jardim Angela - 116,23; Cidade Ademar - 106,06; Iguatemi - 100,11; Parque São Rafael - 96,16 e Grajaú - 95,62 ao passo que há uma menor incidência nas áreas dos Distritos Policiais em que se encontram populações de classes média e alta, tais como Moema - 4,11; Jardim Paulista - 8,22; Vila Mariana - 11,55; Perdizes - 14,73 e Alto de Pinheiros - 16,49 (Apêndice, p. VI e VII).
Não podemos assim responder se o homem violento é produto do meio em que vive ou se ele forja tal meio ao seu talante, ou seja, se o meio é produto do homem; no entanto, com certeza, podemos dizer que a grande massa de miseráveis, principalmente aqueles que coabitam em favelas, convivem no seu dia a dia com um alto grau de violência, comparável somente a Estados que se encontram em constante guerra.
Diante das estatísticas e números não há argumentos.
CAPÍTULO IV
Conclusão
Hodiernamente, as causas da criminalidade violenta vêm sendo discutidas sob dois aspectos principais: penas insuficientes e falta de oportunidade social.
Para alguns, os crimes violentos, dentre os quais o roubo, a extorsão mediante seqüestro, o homicídio etc., dar-se-iam em razão das "pequenas" penas previstas em nossa legislação. Apregoam uma reforma legislativa e, por conseqüência, uma exasperação das penas naqueles crimes tidos como violentos, insinuando que tal providencia seria a panacéia de todos os males. Para estes sempre bem intencionados - políticos muitas vezes - os "direitos humanos são para os humanos direitos".
Outros entendem que esse não é o caminho; defendem a posição segundo a qual o delinqüente comete crimes em razão da falta de oportunidades oferecidas a ele e que as dificuldades encontradas estão acima do tolerado por qualquer um. Apregoam que os delinqüentes só se tornam criminosos porquanto teriam sido abandonados pelo Estado e pela sociedade. Para estes - outros políticos bem intencionados - correto é afirmar: - "coitado do ladrão"!
De fato, a situação em que se encontra o país em muito contribui para que as ações tidas como ilícitas ou criminosas aumentem cada vez mais.
Poderíamos, inclusive, dizer tratar-se de um efeito "bola de neve", pois, a criminalidade não pode ser tratada como um fator isolado, fora de um contexto social que relaciona educação, trabalho, existência digna etc.
O Brasil é, notadamente, um agrupamento de diferentes culturas e costumes, de forma que a criminalidade deve ser "tratada" conforme tais aspectos específicos em cada parte do país.
Não bastam discursos sofistas para sanar as falhas do sistema, mas sim, uma postura ativa da sociedade com um todo, pois, sem dúvida alguma, a mentalidade social em muito contribui para o aumento da criminalidade.
O indivíduo que uma vez cometeu um lapso será tido sempre como criminoso no meio social em que vive, sofrendo os preconceitos refletidos por suas atitudes.
Falta confiança, credibilidade, entre os homens, mas, principalmente, no sistema político nacional, visto como um sistema falido e sem soluções mediatas ou imediatas.
A sociedade clama por soluções e, enquanto o Estado não as promovem, os cidadãos tentam fazer seu papel, conforme podemos analisar pelas palavras (exatas) de um indivíduo considerado um dos "fundadores" da organização denominada Primeiro Comando da Capital, vulgo PCC:
"Não somos uma organização criminosa, muito menos uma facção, não somos uma Utopia e sim uma transformação e uma nova filosofia: Paz, Justiça e Liberdade. Fazemos parte de um comportamento carcerário diferente, aonde um irmão jamais deixará outro irmão sobre o peso da mão de um opressor, somos um sonho de luta, somos uma esperança permanente de um sistema mais justo, mais igual, aonde o oprimido tenha pelo menos uma vida mais digna e humana. Nascemos num momento de opressão em um campo de concentração, sobrevivemos através de uma união, a semente foi plantada no asfalto, no cimento, foi regada a sangue, a sofrimento, ela gerou vida, floreceu, e hoje se tornou o "braço forte" que luta a favor de todos oprimidos que são massacrados, por um sistema covarde, capitalista e corrupto, um sistema que só visa massacrar o mais fraco. O sistema ensiste em nos desmoralizar com calúnias e difamações, nos rotulam como monstros, como anti-sociais, mas tudo isso é parte de uma engrenagem que só visa esconder uma realidade uma verdade ou seja o sistema prescisa de um bode-expiatório. Muitos irmãos já morreram nessa luta desigual muitos se sacrificaram de corpo e alma por um ideal.. Hoje o que o sistema negava, o que ele repudiava. Hoje ele é obrigado a admitir a sua existência. O próprio sistema criou o "Partido". O 'Partido", é parte de um sonho de luta, hoje somos fortes aonde o inimigo é fraco, a nossa revolução está apenas começando, hoje estamos preparados, psicologicamente, espiritualmente e materialmente, para dar nossa própria vida em pról da causa. A revolução começou no sistema Penitenciário e o objetivo é maior, revolucionar o sistema, governamental, acabar com este regime capitalista, aonde o rico cresce e sobrevive, massacrando a classe mais carente. Em quanto crianças morrerem de fome, dormirem na rua, não terem oportunidade de uma alfabetização, de uma vida digna, a violência só se tornará maior, as crianças de hoje, que vendem "doces" no farol, que se humilham por uma esmola, no amanhã bem próximo, através do crime, irá por todo ódio, toda rebeldia para transformar seus sonhos em realidade, pois o oprimido de hoje será, o opressor de amanhã, o que não se ganha com palavras se ganhará através da violência e de uma arma em punho. Nossa meta é atingir os poderosos, os donos do mundo e a justiça desigual, não somos criminosos por opção e sim somos o que somos por uma sobrevivência somos subversivos e idealistas. Se iremos ganhar essa luta não sabemos, creio que não, mas iremos dar muito trabalho, pois estamos preparados para morrer e renascer na nossa própria esperança de que nosso grito de guerra irá se espalhar por todo País. Pois se derramarem nosso sangue, e o nosso partido ser escutado, com certeza aparecerão outros que irão empunhar armas em prol de uma única filosofia: "Paz, Justiça e Liberdade" - SE TIVER QUE AMAR, AMAREMOS, SE TIVER QUE MATAR MATAREMOS".
Enquanto isso, não há sequer uma proposta séria que vise o combate da violência e da criminalidade

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