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A Teoria Geral do Direito e o Marximo Fichamento

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FICHAMENTO LITERAL POR TEMA 
 
João Guilherme A. de Farias e Willians Meneses da Silva1 
 
Direito e Marxismo: considerações sobre o pensamento de Stutchka e Pachukanis 
 
PACHUKANIS, Evgeni. A teoria geral do direito e o marxismo. Trad. Soveral 
Martins. 2. ed. Centelha. Coimbra, 1977. 
 
O que historicamente foi inevitável, não tem necessariamente de ser metodologicamente 
correto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 João é estudante de Direito e pesquisador da PUC-SP. Integrante do Grupo de Pesquisa Trabalho e 
Capital (GPTC) da USP. Colaborador do jornal Diário da Liberdade. Willians é graduado em Direito pela 
PUC-SP. Pós-graduado em Direitos Fundamentais pela Faculdade de Direito da Universidade de 
Coimbra/IBCCRIM. Coordenador-adjunto do grupo de Estudos sobre Direitos Humanos do IBCCRIM. 
Monitor do Núcleo de Educação Popular 13 de maio. 
2 
 
 
 
Sumário do fichamento por temas 
 
 
Sobre o Método ................................................................................................................3 
Ideologia, Superestrutura e Concepções Psicológicas do Direito ................................4 
O Caráter Objetivo (Real) do Direito ............................................................................6 
Crítica ao Normativismo e Kelsen (e à Teoria Pura Do Direito) ................................9 
Indivíduo, Sociedade Burguesa e Sujeito de Direito ..................................................11 
Sujeito Egoísta, Direito e Capitalismo .........................................................................15 
Mercadoria e Direito .....................................................................................................19 
Propriedad, Propriedade Feudal e Propriedade Burguesa .......................................20 
A Forma na Economia Política e no Dirito .................................................................22 
Crítica às Demais Escolas do Direito ...........................................................................24 
Forma Embrionária do Direito ....................................................................................25 
Capitalismo, Estado E Direito ......................................................................................26 
Direito e Sociedeade Burguesa .....................................................................................29 
Direito Público e Direito Privado .................................................................................31 
Sobre a União Soviética e a Transição .........................................................................32 
A Respeito de Piotr Stutchka e do Direito Proletário ................................................34 
Relação Jurídica ............................................................................................................35 
Sobre a Obra e a Proposta de Pachukanis ..................................................................38 
Sobre o estado da Crítica Marxista do Direito ...........................................................39 
A Regulação Externa e Fora do Indivíduo na Esfera Coativa Estatal .....................40 
Percepção Unilateral do Direito Enquanto Conteúdo ...............................................41 
A Respeito do Conceito de “Direito” e Seus Desdobramentos ..................................42 
O Direito Privado: Direito Romano, Direito Civil e Comercial ................................43 
Direito Penal, Capitalismo, Pena e Princípio da Equivalência .................................45 
 
 
 
3 
 
 
 
Sobre o Método 
A teoria geral do direito pode ser definida como a explanação dos conceitos 
jurídicos fundamentais, ou seja, dos mais abstratos. (p. 39) 
A crítica da jurisprudência [...] deve, antes de tudo, bater-se no terreno do 
inimigo, ou seja, deve pôr de parte as generalizações e as abstrações que foram 
elaboradas pelos juristas burgueses, partindo das necessidades do seu tempo e de sua 
classe, mas analisar essas categorias abstratas [...]. (p. 63). 
[...] toda a ciência constrói a realidade concreta, com toda a sua riqueza de 
formas, de relações e de conexões, como resultado da combinação de abstrações mais 
simples. (p. 65). 
[...] não se pode decompor a realidade nos seus elementos mais simples, a 
abstração vem em nosso auxílio. (p. 66). 
[...] a totalidade concreta, ou seja, a sociedade, a população, o Estado, deve ser o 
resultado e a meta das nossas reflexões, não o ponto de partida. (p. 67). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Ideologia, Superestrutura e Concepções Psicológicas do Direito 
[...] o significado da análise de Marx era, por um lado, restrito a um domínio 
especial do direito e aos seus resultados e, por outro lado, só era utilizada para 
desmascarar a ideologia burguesa da liberdade e da igualdade, para criticar a 
democracia formal, mas não para explicar as particularidades fundamentais, primárias 
da superestrutura jurídica enquanto fenômeno objectivo. (p. 29). Nota: as consequências 
foram duas, segundo Pachukanis: a negligência no que diz respeito ao princípio da 
subjetividade jurídica não apenas enquanto “meio dissimulatório e produto da hipocrisia 
burguesa”, mas como princípio atuante na sociedade burguesa; também restou 
negligenciada a compressão deste princípio enquanto fenômeno objetivo, um processo 
real de transformação da natureza humana, tendo-lhe a corrente tradicional atribuído 
apenas uma vitória ideológica deste princípio, isto é, de representações. p. 29-30. 
[...] Desde que as relações humanas são constituídas como relações entre 
sujeitos, surgem as condições para o desenvolvimento de uma superestrutura jurídica, 
como suas leis formais, os seus tribunais, os seus processos, os seus advogados, etc. (p. 
30-31) 
As teorias jurídica sociológicas e psicológicas [...] operam com conceitos de 
ordem extra-jurídica e quando por vezes tomam em consideração definições jurídicas, 
fazem-no apenas para apresentar como ficções, fantasmas ideológicos, projeções, etc. 
(p. 46-47). 
A muitos marxistas [como Vinchinsky e até mesmo Stutchka] pareceu suficiente 
introduzir nas teorias supracitadas [subjetiva e ideológica] o momento da luta de 
classes, para que se obtivesse uma teoria do direito verdadeiramente materialista [...]. 
Contudo, daí não resulta mais do que uma história das formas econômicas com matizes 
jurídicos. (p. 47). 
A escola picológica na economia política [e] escola psicológica do direito [...] 
esforçam por transpor o objecto da sua análise para a esfera da consciência [...] e mão 
vêem que as categorias abstractas correspondentes exprimem [...] relações sociais que se 
ocultam por trás dos indivíduos e que ultrapassam o quadro da consciência individual. 
(p. 72). 
Não podemos [...] contestar o facto de que o direito é para os homens uma 
experiência psicológica vivida, particularmente sob a forma de regras, de princípios ou 
5 
 
de normas gerais. No entanto, o problema não está de modo algum em admitir ou 
contestar a existência da ideologia jurídica (ou da psicologia), mas em demonstrar que 
as categorias jurídicas não têm outra significação para além da sua significação. (p. 77). 
[…] o que importa demonstrar não é que os conceitos jurídicos gerais possam 
entrar […] nos processos […] ideológicos – o que de modo algum é contestável – mas 
sim que a realidade social, em certa medida encoberta por um véu místico, não pode ser 
descoberta através destes conceitos. (p. 79). 
A contestação da natureza ideológica de um dado conceito não nos dispensa de 
modo algum daobrigação de estudar a realidade objetiva. (p. 79-80). 
[…] se se fica no plano psicológico perde-se simplesmente qualquer razão para 
falar do Estado como de uma unidade objectiva. É somente quando se considera o 
Estado como uma organização real do domínio de classe […] que nos situamos em 
terreno sólido e podemos […] estudar o Estado tal como ele é na realidade e não apenas 
as formas subjectivas […]. (p. 83). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
O Caráter Objetivo (Real) do Direito 
Do exposto de modo algum deriva [...] que eu considere a forma jurídica como 
um simples reflexo de uma pura ideologia [...] a forma jurídica, expressa por abstrações 
lógicas, é produto da forma jurídica real ou concreta [...] um produto da mediação real 
das relações de produção. (p. 33-34). 
[...] a gênese da forma jurídica está por encontrar nas relações de troca [...], o 
momento que [...] representa a realização completa da forma jurídica: o tribunal e o 
processo. (p. 34). 
A mediação jurídica só se conclui no momento do acordo. Porém, um acordo 
comercial já não é um fenômeno psicológico; já não é uma ideia, uma forma de 
consciência, é um fato econômico objetivo, uma relação econômica indissociavelmente 
ligada à sua forma jurídica que também é objetiva. (p. 35). 
O objetivo prático da mediação jurídica é o de garantir a marcha, mais ou menos 
livre, da produção e da reprodução sociais. (p. 35). 
[...] o ponto de vista jurídico é comparativamente mais estranho à consciência do 
indivíduo médio, do que o ponto de vista económico; porque, mesmo quando a relação 
económica se realiza simultaneamente como relação jurídica, é precisamente o aspecto 
económico que, na maioria dos casos, é actualizado pelos protagonistas desta relação, 
enquanto que o momento jurídico permanece num segundo plano e só em casos 
excepcionais se revela claramente (processos, litígios jurídicos). (p. 56). 
[...] por exemplo, o conceito de energia [cuja] investigação [...] não está 
limitadapor qualquer espécie de marco cronológico. A lei da transformação da energia 
já actuava muito antes do aparecimento do homem sobre a terra [...]. Ela situa-se fora do 
tempo, é uma lei eterna [...]; para as ciências sociais [...] conceitos fundamentais [como] 
o do valor [...] é um conceito não só histórico mas igualmente se torna patente que, 
como substracto da história deste conceito, como parte da história da teoria da economia 
política, nós temos uma história real do valor. (p. 68). 
O direito igualmente [...] tem uma história real, paralela que não se desenvolve 
como um sistema particular de pensamento mas antes como um sistema particular de 
relações que homens realizam em consequência não de uma escolha consciente, mas 
sob pressão das relações de produção. O homem torna-se sujeito jurídico com a mesma 
7 
 
necessidade de transformar o produto natural numa mercadoria dotada das propriedades 
enigmáticas do valor. (p. 69). 
A relação jurídica [é] uma relação abstrata [...] que não aparece [...] como 
resultado do trabalho conceitual de um sujeito pensante mas como o produto da 
evolução social [...]. o sujeito, neste caso, a sociedade burguesa moderna, é um dado 
existente tanto na realidade como no pensamento. (p. 72). 
As categorias da mercadoria, do valor e do valor de troca são, sem qualquer 
dúvida, formações ideológicas, representações deformadas, mistificadas (segundo 
expressão de Marx) […]; basta passar a outras estruturas económicas para que estas 
categorias […] percam todo o seu significado […]. Porém, […] não significa que as 
categorias […] tenham exclusivamente uma significação psicológica […]; a categoria 
da mercadoria, por exemplo […] reflecte uma relação social objectiva. (p. 78). 
O Estado não é apenas uma forma ideológica, mas também, e simultaneamente, 
uma forma de ser social. (p. 81). 
Mesmo Hans Kelsen, o mais coerente partidário do método puramente 
normativo, teve de reconhecer que era necessário conferir, de uma maneira ou de outra, 
à ordem normativa ideal, um elemento de vida real, isto é, de conduta humana efectiva 
[...]. Na realidade material a relação prevalece sobre a norma. Se nenhum devedor 
pagasse as suas dívida, então, a regra correspondente deveria ser considerada inexistente 
de facto. (p.96-97). 
É preciso ter em conta que as leis apenas geram o Direito, na medida em que se 
realizem e que as normas saiam da existência da papelada para se afirmarem na vida 
humana como poder. (FERNECK apud PACHUKANIS, 1977, p. 97). 
O direito, enquanto fenómeno social objectivo, não pode esgotar-se na norma ou 
na regra, que ela seja ou não escrita. A norma como tal, isto é, o seu conteúdo lógico, ou 
é deduzida directamente das relações já existentes ou então, representa quando é 
promulgada como lei estadual apenas um sintoma que permite prever com certa 
probabilidade o futuro nascimento da relações correspondentes [...]. Quando o jurista 
dogmático tem de decidir se uma determinada forma jurídica está ou não em vigor, ele 
não procura geralmente determinar a existência ou não existência de um determinado 
fenómeno social objectivo, mas apenas a presença, ou não presença, de um vínculo 
lógico entre a proposição normativa dada e as premissas normativas mais gerais. (p. 98). 
O teórico máximo do normativismo, Kelsen, conclui daí que o Estado em geral 
só existe como objecto do pensamento, como sistema fechado de normas ou de 
8 
 
obrigações. Uma tal imaterialidade do objecto da teoria do direito público deve, 
certamente, horrorizar os juristas prácticos [que] compreendem o valor [...] dos seus 
conceitos não apenas no reino da pura lógica [...]. O Estado dos juristas, não obstante a 
sua natureza ideológica, está ligado a uma realidade objectiva. (p. 189). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Crítica ao Normativismo e Kelsen (e à Teoria Pura Do Direito) 
No plano do dever ser jurídico, nada mais existe do que a passagem de uma 
norma a outra segundo os degraus de uma escala hierárquica, no cimo da qual se 
encontra a autoridade suprema que formula ass normas e que engloba o todo – um 
conceito limite de que a jurisprudência parte como de um dado. (p. 45). 
Uma tal teoria geral do direito, que nada explica, que, à-priori, volta as costas às 
realidades de facto, isto é, à vida social, e que se preocupa com normas sem se 
preocupar com sua origem ou das suas relações com quaisquer interesses materias, não 
pode ter pretensões a título de teoria [...] não pretende de modo algum estudar a 
realidade [...]. Não há muito que se possa tirar dela. (.46). 
O extremo formalismo da escola normativa (Kelsen) exprime, sem sombra de 
dúvida, a decadência geral do mais recente pensamento científico burguês, o qual, 
glorificando o seu total afastamento da realidade, se evai em estéreis artifícios 
metodológicos e lógicos-formais. (p. 72). 
[...] nos ocuparmos da opinião daqueles para quem o direito deve ser concebido 
exclusivamente como uma norma objectiva [...]. Se se parte desta concepção, então, de 
um lado, temos como norma a regra imperativa, autoritária e, do outro lado, a obrigação 
subjectiva que corresponde a essa regra e foi criada por ela. (p. 114). 
[sobre o direito subjetivo] se a tentativa para reduzir o direito de propriedade a 
uma série de interdições dirigidas a terceiras pessoas é apenas um procedimento lógico, 
uma construção mutilada e deformada, a representação do direito de propriedade 
burguês como uma obrigação social não passa então, além disso, de hipocrisia. Duguit 
[...] afirma que o possuidoro capital só deve ser juridicamente protegido porque exerce, 
através de justas colocações do seu capital, funções socialmente úteis. Estas 
considerações [...] são os sintoma do declínio da época capitalista. Mas a burguesia, por 
outro lado, tolera tais considerações acerca das funções sociais da propriedade, apenas 
porque elas em nada a comprometem [...]; a antítese real da propriedade não é a 
propriedade concebida como função social, mas a economia planificada socialista, ou 
seja, a supressão da propriedade [...]. A explicação de Duguit, segundo a qual o 
proprietário não deve ser protegido senão quando cumpre as suas obrigações sociais, 
não tem, sob esta forma geral, qualquer sentido [...]. Seria uma ilusão afirmar que 
qualquer indivíduo que, dentro das fronteiras da União Soviética, tenha acumulado uma 
certa quantidade de dinheiro, só é protegido pelas nossas leis e pelos nossos tribunais 
10 
 
porque ele encontrou ou encontrará uma utilização social proveitosa para o dinheiro 
acumulado. (p. 115-116). 
A tendência para fazer da ideia de regulamentação externa o momento lógico 
fundamental do direito conduz a identificar o direito com a ordem social estabelecida 
autoritariamente [...]. O capital financeiro aprecia muito mais um poder forte e a 
disciplina do que os direitos eternos e intocáveis do homem e do cidadão. (119). 
[...] a ideia de submissão incondicional a uma autoridade normativa externa não 
tem a mínima relação com a forma jurídica. Basta, para isso, tomar como exemplos 
casos limites que por esse facto são mais claros. Consideramos o exemplo de uma 
formação militar onde numerosos homens se encontram subordinados, nos seus 
movimentos, a uma única ordem comum e onde o único princípio activo e autónomo é a 
vontade do comandante [ a partir daí pode-se] concluir que quanto mais o princípio da 
regulamentação autoritária, que exclui qualquer referência a uma vontade particular 
autónoma, é aplicado de maneira coerente, mais se restringe o campo de aplicação da 
categoria do direito. Isto é particularmente perceptível na esfera do direito público. (p. 
119-120) [ isso porque a vontade é o elemento essencial à atividade mercantil] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Indivíduo, Sociedade Burguesa e Sujeito de Direito 
O sujeito como portador e destinatário de todas as pretensões possíveis, a cadeia 
de sujeitos ligados uns aos outros por pretensões recíprocas, tal é a estrutura económica, 
isto é, às relações de produção de uma sociedade assente na divisão do trabalho e na 
troca. (p. 117). 
O sujeito como portador e destinatário de todas as pretensões possíveis, a cadeia 
de sujeitos ligados uns aos outros por pretensões recíprocas, tal é a estrutura económica, 
isto é, às relações de produção de uma sociedade assente na divisão do trabalho e na 
troca. (p. 117). 
Toda a relação jurídica é uma relação entre sujeitos. O sujeito é o átomo da 
teoria jurídica, o seu elemento mais simples, indecomponível. Eis porque igualmente 
iniciaremos a nossa análise pelo sujeito. (p. 131). 
[...] a propriedade só se torna o fundamento da forma jurídica enquanto livre 
disponibilidade dos bens no mercado. A categoria de sujeito serve então precisamente 
como expressão geral desta liberdade. (p. 132). 
[...] o capitalismo transforma [...] a propriedade fundiária feudal em propriedade 
fundiária moderna justamente ao libertá-la totalmente das relações de domínio e 
servidão. O escravo está totalmente subordinado ao seu senhor e é precisamente por esta 
razão que esta relação de exploração não carece de qualquer construção jurídica 
particular. O trabalhador assalariado, pelo contrário, aparece no mercado como livre 
vendedor da sua força de trabalho e esta é a razão pela qual a relação de exploração 
capitalista se mediatisa sob a forma jurídica do contrato. (p. 133). 
As premissas materiais [...] das relações entre os sujeitos jurídicos foram 
definidas pelo próprio Marx no primeiro tomo do Capital, muito embora só de 
passagem, sob a forma de anotações muito gerais [...]. A análise da forma do sujeito 
deriva, em Marx, imediatamente da análise da forma da mercadoria. (p. 135). 
A sociedade capitalista é, antes de tudo, uma sociedade de proprietários de 
mercadorias. Isto significa que as relações sociais dos homens no processo de produção 
revestem uma forma coisificada nos processos do trabalho que surgem, uns em relação 
aos outros, como valores. A mercadoria é um objecto no qual a diversidade concreta das 
propriedades úteis se torna simplesmente a envoltura coisificada da propriedade 
abstracta do valor, que se exprime como capacidade de ser trocada numa determinada 
proporção por outras mercadorias. Esta propriedade exprime-se como uma qualidade 
inerente às próprias coisas em virtude de uma espécie de lei natural que age nas costas 
12 
 
dos homens de maneira totalmente independente da sua vontade. Mas se a mercadoria 
adquire o seu valor independentemente da vontade do sujeito que a produz, a realização 
do valor no processo de troca pressupõe, pelo contrário, um acto voluntário, consciente, 
da parte do proprietário de mercadorias; ou, como diz Marx: “as mercadorias não 
podem, de modo algum, ir, por elas próprias, ao mercado, nem trocar-se, elas próprias, 
entre si. Necessitamos assim de voltar os nossos olhares para os seus guardiões e 
condutores, isto é, para seus possuidores. As mercadorias são coisas e, 
consequentemente, não opõem ao homem qualquer resistência. Se elas carecem de boa 
vontade ele poderá entregar por força, por outras palavras, poderá apoderar-se delas”. 
Deste modo, o vínculo social entre os homens ao processo de produção, vínculo que se 
coisifica nos produtos do trabalho, e que reveste a forma de uma legalidade elementar, 
exige, para a sua realização, uma relação particular entre os homens, enquanto 
indivíduos que dispõem de produtos, enquanto sujeitos cuja “vontade habita nas 
próprias coisas”. “O facto de os bens económicos conterem trabalho constitui uma 
propriedade que lhes é inerente; o facto de eles poderem ser trocados constitui uma 
segunda propriedade, que apenas depende da vontade dos seus proprietários, sob a única 
condição de tais bens serem apropriáveis e alienáveis”. Eis porque, ao mesmo tempo 
que o produto do trabalho reveste as propriedade da mercadoria e se torna portador de 
valor, o homem se torna sujeito jurídico e portador de direitos. “A pessoa, cuja vontade 
é declarada, é o sujeito de direito. A vida social desintegra-se simultaneamente, por um 
lado, numa totalidade de relações coisificadas [...], isto é [...], onde os homens [são] 
coisas, e, por outro lado, numa totalidade de relações onde o homem se determina tão só 
quando é oposto a uma coisa, isto é, onde é definido como sujeito. [Estas] duas formas 
fundamentais [...] se distinguem [e] ao mesmo tempo, se condicionam mutuamente e 
estão ligadas entre si. Deste modo, o vínculo social enraizado na produção, apresenta-se 
simultaneamente sob duas formas absurdas [...], como valor de mercadoria e [...] como 
capacidade do homem para ser sujeito de direito. (p. 135-137). 
“Todos devem ser livres e ninguém deve entravar a liberdade dos outros. Cada 
um possui o seu corpo como livre instrumento da sua vontade” [...]. Esta condição 
jurídica, ela própria, ou para empregar as palavras do mesmo autor, “a existência 
simultânea de numerosas criaturas livres, que devem todas ser livres e cuja liberdade 
não deve entravar a liberdade dos outros”, mais não é do que o mercado idealizado, 
transposto para as nuvens da abstração filosófica e liberto da grosseira empírica, onde se 
encontram os produtores independentes, - poiscomo nos ensina um outro filósofo: “no 
13 
 
contrato comercial, as duas partes fazem o que querem e cada parte não exige para si 
própria mais liberdade do que aquela que concede à outra, (p. 140). 
Dernburg tem tendência em tratar o sujeito jurídico como “personalidade em 
geral”, isto é, como uma categoria eterna [..]. Na realidade, a categoria de sujeito 
jurídico é, evidentemente, abstraída do acto de troca que ocorre no mercado. (p. 143). 
É somente na econômica mercantil que nasce a forma jurídica abstracta, por 
outras palavras, que a capacidade geral de ser titular de direitos se separa das pretensões 
jurídicas concretas. Só a contínua mutação dos direitos que ocorre no mercado cria a 
ideia de um portador imutável destes direitos. No mercado, aquele que obriga alguém 
obriga-se simultaneamente [...]. Assim se cria a possibilidade de abstrair das diferenças 
concretas entre os sujeitos jurídicos e de os reunir num único conceito genérico. (p. 
144). 
Assim como os actos de troca da produção mercantil evoluída foram precedidos 
por actos [...] e formas primitivas de troca [...], o sujeito jurídico [foi] precedido pelo 
indivíduo armado [...]. Esta íntima relação morfológica cria uma clara ligação entre o 
tribunal e o duelo, entre as partes de um processo e os protagonistas de uma luta 
armada. Mas, como o aumento das forças sociais disciplinadoras, o sujeito perde a sua 
concretização material. Em vez da sua energia pessoal surge o poder da organização 
social, isto é, da organização da classe, que encontra a sua expressão mais elevada no 
Estado [...]. A partir deste momento a figura de sujeito jurídico começa já a não se 
revelar o que é na realidade, isto é, o reflexo de uma relação que nasce nas costas dos 
homens, mas parece ser uma invenção artificial da razão humana. (p. 145). 
No mundo feudal cada direito era um privilégio [...], cada cidade, cada estado 
social, cada corporação viva segundo o seu próprio direito, que acompanhava o 
indivíduo onde quer que ele fosse. Nesta época, faltava completamente a ideia de um 
estatuto jurídico formal comum a todos os cidadãos, a todos os homens [...]. A 
igualdade dos sujeitos era pressuposta apenas no concernente a relações compreendidas 
numa esfera relativamente limitada [...]; o sujeito jurídico só aparece como o portador 
geral abstracto de todas as pretensões jurídicas concebíveis na qualidade de titular de 
privilégios concretos [...]; na Idade Média [...], a ideia de uma norma objectiva, dirigida 
a um círculo indeterminado e alargado de pessoas, confundia-se igualmente com a 
instituição de privilégios e de liberdades concretas. No séc. XIII ainda não se encontra 
[uma] diferença existente entre o direito objectivo e o direito subjectivo. (p. 146-148). 
14 
 
Naturalmente que os possuidores de mercadorias, mesmo antes de se 
reconhecerem mutuamente como proprietários, já eram também proprietários, mas num 
sentido diferente, orgânico, extra-jurídico. (p. 150). 
Para que os produtos do trabalho humano possam entrar em contacto uns com os 
outros como valores, devem os homens comportar-se reciprocamente como pessoas 
independentes e iguais. Quando um homem se encontra sujeito ao poder de outrem, isto 
é, quando é escravo, o seu trabalho deixa de ser criador de substancia de valores. (p. 
193). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
Sujeito Egoísta, Direito e Capitalismo 
[...] o Homem, enquanto sujeito moral, isto é, enquanto pessoa igual às outras 
pessoas, não é mais do que a condição prévia da troca com base na lei do valor. O 
homem enquanto sujeito jurídico, isto é, enquanto proprietário, representa igualmente 
semelhante condição. Estas duas determinações estão, finalmente, muito intimamente 
ligadas a uma terceira onde o homem figura como sujeito económico egoísta. Estas três 
determinações [...] exprimem o conjunto das condições necessárias à realização do 
valor. (p. 194). 
[...] o agente da troca incarna o princípio da igualdade fundamental das pessoas 
humanas dado que na troca todas as variedades do trabalho são assimiladas umas às 
outras e reduzidas ao trabalho humano abstracto. (p. 195). 
O sujeito egoísta, o sujeito jurídico e a pessoa moral são as três principais 
máscaras sob as quais aparece o homem na sociedade de produção mercantil [...], a 
chave para compreender a estrutura jurídica e moral, não no sentido do conteúdo 
concreto da norma jurídica ou moral, mas no sentido da própria forma do direito e da 
moral. (p. 195). 
O conceito de pessoa moral ou o de pessoa igual é, sem qualquer dúvida, uma 
construção ideológica que, como tal, não é adequada à realidade. Também o conceito de 
sujeito económico egoísta é, em igual medida, uma deformação ideológica da realidade. 
(????????) 
Se a pessoa moral mais não é do que o sujeito da sociedade de produção 
mercantil, então a lei moral deve manifestar-se como regra das relações entre os 
proprietários de mercadorias. (p. 197). 
O universalismo da forma ética (e, por consequência, também da forma jurídica) 
– todos os homens são iguais, todos possuem uma mesma alma, todos podem ser 
sujeitos jurídicos, etc. – foi imposta aos Romanos pela práctica das relações comerciais 
com os estrangeiros. [...] o próprio jus gentium constituía uma consequência do 
desprezo que os Romanos votavam a todo o direito estrangeiro e da sua hostilidade em 
conferir aos estrangeiros os privilégios do jus civile do seu país. (p. 201). 
[...] a ética racionalista da sociedade de produção mercantil foi posteriormente 
apresentada como uma grande conquista e como um valor cultural muito elevado. (p. 
202). 
[...] Kautsky observa muito corretamente que a regra: “considera o teu próximo 
como um fim em si” só ganha sentido aí onde o homem possa, na práctica ser 
16 
 
convertido num meio ao serviço de outro homem. O pathos moral está 
indissoluvelmente ligado à imoralidade da prática social e alimenta-se dela. As 
doutrinas morais têm a pretensão de modificar o mundo ou de melhorá-lo mas, na 
realidade, mais não são do que um reflexo deformado, do que um aspecto deste mundo 
verdadeiro, aspecto que precisamente mostra as relações humanas sujeitas à lei do valor. 
(p. 202). 
[...] o homem como fim em si é apenas um outro aspecto do sujeito económico 
egoísta. Uma acção [...] real [...] do princípio ético engloba também a negação deste 
princípio. O grande capitalista arruína de “boa fé” o pequeno capitalista sem que por 
isso se preocupe com o valor absoluto da pessoa. A pessoa do proletário é “igual em 
princípio” à pessoa do capitalista; isso exprime-se no “livre” contrato de trabalho. Mas 
desta mesma “liberdade materializada” resulta para o proletário a possibilidade de 
morrer tranquilamente à fome [...]. A supressão desta duplicidade da forma ética 
significa a passagem à economia socializada e planificada [...]; a supressão dos fetiches 
éticos não podem realizar-se na prática senão com a supressão simultânea do fetichismo 
mercantil e do fetichismo jurídico. (p. 203). 
[...] poderão retorquir-me dizendo que, actualmente, a moral de classe do 
proletariado se liberta de todos os fetiches [...]. É indubitável que a moral do 
proletariado ou, mais exatamente, a moral da sua vanguarda perde o seu duplo carácter 
fetichista ao purificar-se, por exemplo, dos elementos religiosos. Porém, mesmo uma 
moral liberta de qualquer impureza, nomeadamente dos elementos religiosos, 
permanece mesmo assim uma moral, isto é, uma forma das relações sociais onde ainda 
nem tudo é referido ao próprio homem. Efectivamente logo que o vínculo vivo que liga 
o indivíduo à classe seja tão forteque os limite do seu Eu como que por assim dizer se 
apaguem e logo que, efectivamente, o interesse da classe se torna idêntico ao interesse 
pessoal, então será absurdo falar do cumprimento de um dever moral e seja como for o 
fenômeno da moral será inexistente. (p. 205). 
[...] “age de tal maneira que isso aproveite, no máximo, à tua classe [...]”. 
Resulta por si que, numa sociedade dilacerada por lutas de classes, uma ética sem 
conteúdo de classe só pode existir não na prática mas apenas na imaginação. O operário, 
que apesar das privações a que se expõe, se decide a participar num greve, pode 
certamente formular a sua decisão como um dever moral que lhe prescreve a 
subordinação dos seus interesses privados ao interesse geral. Porém, é inteiramente 
17 
 
claro que este conceito de interesse geral não pode englobar igualmente os interesses do 
capitalista contra os quais a luta operária é conduzida. (p. 205). 
[...] as condições de vida do proletariado constituem as premissas do 
desenvolvimento de uma forma nova, superior e mais harmoniosa, das relações entre o 
indivíduo e a colectividade [...]. Mas ao lado do novo, continua a subsistir também o 
antigo. Ao lado do homem social do futuro [...], continua a existir igualmente o homem 
moral que carrega sobre os ombros o fardo de um dever mais ou menos abstracto. A 
vitória da primeira forma equivale à libertação completa do homem de todos os 
resquícios das relações jurídico-privadas e à transformação definitiva da humanidade na 
senda do comunismo [...]; certamente que esta tarefa não contitui, de modo algum, uma 
tarefa puramente ideológica ou pedagógica. O novo tipo de relações humanas necessita 
da criação e da consolidação de uma nova base material, económica. (p. 206). 
[...] a Moral, o Direito e o Estado constituem formas da sociedade burguesa. 
Ainda que o proletário seja forçado a utilizar estas formas, isso de modo algum significa 
que elas possam continuar a desenvolver-se integrando um conteúdo socialista. Elas[...] 
deverão perecer à medida que tal conteúdo se vá concluindo. Todavia, no actual período 
de transição, o proletariado deve utilizar, em proveito dos seus interesses de classe, estas 
formas herdadas da sociedade burguesa, esgotando-se assim completamente. [...] por 
isso o proletariado deve [...] ter uma representação muito clara, liberta de qualquer véu 
ideológico, da origem histórica estas formas [...], deve ter uma atitude friamente crítica 
não apenas face à Moral e ao Estado burguês, mas também face ao seu próprio Estado e 
À sua própria Moral [...], ele deve estar consciente da necessidade histórica da sua 
existência mas também do seu desaparecimento. (p. 206-207). 
[...] Marx indica que [a] justiça não é, de modo algum, um critério absoluto e 
eterno, a partir do qual se possa edificar uma relação de troca ideal, isto é, justa [...], a 
justiça é a via que conduz da ética ao direito. A conduta moral deve ser “livre”, 
enquanto a justiça pode ser obtida pela força. A coacção que compele à conduta moral 
conduz a negar a própria realidade desta; a justiça em contrapartida “cabe” claramente 
em partilha ao homem [que] autoriza a realização externa e uma actividade egoísta 
interessada. Aí residem os mais importante pontos de contacto e de discordância entre a 
forma ética e a forma jurídica. (p. 207-208). 
Uma vez que a relação jurídica pode constituir-se de maneira puramente teórica 
como o reverso da relação de troca, então a sua realização prática exige a presença de 
modelos gerais, mais ou menos fixos, uma elaborada casuística e [...] que garanta a 
18 
 
execução coactiva das decisões. Estas necessidades são satisfeitas, da melhor forma, 
pelo poder do Estado embora frequentemente a relação jurídica se realize também sem 
sua intervenção graças ao direito consuetudinário, à arbitragem voluntária, à justiça 
pessoal. (p. 209). 
[...] contrariamente à exigência moral, a exigência jurídica não se revela sob a 
forma de uma “voz exterior” mas sim como uma exigência exterior, procedente de um 
sujeito concreto que, em regra, é também o titular de um interesse material 
correspondente. (p. 210). 
No primeiro caso [a relação entre o direito e a moral], quando é afirmada a 
autonomia do direito em relação à moral, o direito confunde-se com o Estado, em 
virtude da forte acentuação do momento da coacção externa. No segundo caso quando o 
direito é oposto ao Estado, isto é, à dominação de facto, o momento do dever entra 
inevitavelmente em cena [...], temos [...] uma frente única do direito e da moral. (p. 
212). 
[...] o direito tem um carácter bilateral imperativo-atributivo enquanto que a 
moral tem um carácter unicamente obrigatório ou imperativo. (p. 2012). 
A contradição entre o individual e o social, entre o privado e o público que a 
filosofia burguesa do direito, apesar de todos os seus esforços, não pode suprimir, 
constitui o fundamento real da sociedade burguesa enquanto sociedade de produtores de 
mercadorias. Esta contradição é aqui incarnada pelas relações reais dos homens, que não 
podem considerar as suas actividades privadas sociais senão sob a absurda e mistificada 
forma do valor mercadoria. (p. 213-214). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
Mercadoria e Direito 
[...] a apropriação de um produto, no interior de uma dada formação social [é] 
uma lei fundamental. Mas esta relação só reveste a forma jurídica da propriedade 
privada num determinado estádio de desenvolvimento das forças produtivas e da divisão 
do trabalho que lhe está ligada. (p. 132). 
Se a coisa domina economicamente o homem, visto que coisifica, a título de 
mercadoria, uma relação social que não está subordinada ao homem, em contrapartida, 
o homem reina juridicamente sobre a coisa [...]. As relações dos homens, no processo de 
produção, revestem assim, num certo estádio de desenvolvimento, uma forma 
duplamente enigmática. (p. 138-144). 
A esfera do domínio, que reveste a forma do direito subjectivo, é um fenómeno 
social que é atribuído ao indivíduo da mesma maneira que o valor, outro fenómeno 
social, é atribuído à coisa, enquanto produto do trabalho. O fetichismo da mercadoria é 
completado pelo fetichismo jurídico. (p. 143). 
A formação de um mercado estável cria a necessidade de uma regulamentação 
do direito de dispor das mercadorias e, por consequência, do direito de propriedade. (p. 
151). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
Propriedad, Propriedade Feudal e Propriedade Burguesa 
É preciso procurar a explicação da contradição existente entre a propriedade 
feudal e a propriedade burguesa nas suas respectivas relações com a circulação. Aos 
olhos do mundo burguês, o defeito principal da propriedade feudal não reside na sua 
origem (espoliação, violência, etc.) mas na sua imobilidade, na sua incapacidade de se 
tornar o objecto de uma garantia recíproca passando de uma mão para outra no acto de 
alienação e de aquisição. A propriedade feudal ou corporativa viola o princípio 
fundamental da sociedade burguesa: “igual oportunidade de aceder à desigualdade”. (p. 
153). 
A luta de classe provocou, muitas vezes, na história uma redistribuição dos 
usurários e dos grandes proprietários fundiários [...]. Os mesmos homens que se 
insurgiram contra a propriedade acabaram por afirmá-los quando no dia seguinte se 
encontraram no mercado como produtores independentes. (p. 153). 
A propriedade em sentido jurídico nasceu, não porque tenha surgido aos homens 
a ideia de se atribuírem reciprocamente tal qualidade jurídica, mas porque só podiam 
trocar mercadorias revestindo-se da máscara do proprietário. O poder ilimitado de 
disporda coisa é apenas o reflexo da circulação ilimitada das mercadorias. (p. 155). 
A relação do homem com uma coisa, que ele próprio produziu [...] representa 
[...] historicamente um elemento do desenvolvimento da propriedade privada [...]. 
Porém, a propriedade privada só reveste um carácter acabado e universal com a 
passagem à economia mercantil [...] capitalista [que] rompe todos os vínculos com as 
sociedades orgânicas [...]. Ela aparece, na sua significação universal como [...] 
realização prática da capacidade abstracta de ser um sujeito de direitos. (p. 157). 
A propriedade fundiária capitalista não pressupõe qualquer espécie de ligação 
orgânica entre a terra e o seu proprietário [...]. Os fundos de terra comuns [..] não eram 
[...] propriedade de uma pessoa jurídica [...] mas eram utilizados pelos membros [...] 
enquanto pessoa colectiva [...]. A propriedade capitalista é, no fundo, a liberdade de 
transformação do capital de uma forma para outra [...] com vista a obter o maior lucro 
possível sem trabalhar. Esta liberdade de dispor da propriedade capitalista é impensável 
sem a existência de indivíduos carecidos de propriedade, isto é, de proletários. A forma 
jurídica da propriedade não está, de modo algum, em contradição com o facto da 
expropriação de um grande número de cidadãos, pois a qualidade de ser sujeito jurídico 
é uma qualidade puramente formal. Ele define todas as pessoas como igualmente 
21 
 
“dignas” de serem proprietários, mas não as torna, outrossim, proprietários. (p. 158-
159). 
Em virtude da evolução do modo de produção capitalista, o proprietário liberta-
se progressivamente da funções técnicas de produção e perde assim igualmente o 
domínio jurídico total sobre o capital. Numa empresa de acionistas, o capitalista 
individual possui apenas a titularidade de uma quota-parte determinada do rendimento 
que obtém sem trabalhar [...]. A massa mais importante do capital torna-se inteiramente 
uma força de classe impessoal [...]. Na realidade, é um grupo, relativamente restrito de 
grandes capitalistas, que dispõe de grande massa do capital e que, além disso, actua não 
directamente mas por intermédio de representantes ou de procuradores com poderes 
estipulados. A forma jurídica distinta da propriedade privada já não refecte mais a 
situação real das coisas, sendo um dado o de que a dominação efectiva se estende 
através de métodos de participação, de controle, etc., muito para lá do quadro puramente 
jurídico. Aproximamo-nos então do momento em eu a sociedade capitalista se encontra 
já amadurecida para se transformar no seu contrário [...]. Porém, muito antes desta 
mutação, o desenvolvimento do modo de produção capitalista, edificado sobre o 
princípio da livre concorrência, transforma estre princípio em seu contrário. (p. 160-
161). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
A Forma na Economia Política e no Dirito 
Marx mostra [...] o profundo vínculo interno que existe entre a forma jurídica e a 
forma mercantil. Uma sociedade que é constrangida, pelo estado das suas forças 
produtivas, a manter uma relação de eqiuvalência entre o dispêndio de trabalho e a 
remuneração sob uma forma que lembra, mesmo de longe, a troca de valores-
mercadorias, será igualmente constrangida a manter a forma jurídica. (p. 62). 
A evolução histórica não implica apena uma mudança no conteúdo das normas 
jurídicas e uma modificação das instituições jurídicas, mas também um 
desenvolvimento da forma jurídica como tal. Esta [...] permanece, durante longo tempo, 
num estado embrionário com uma fraca diferenciação interna e sem delimitação 
relativamente às esferas próximas (costume, religião). (p. 74). 
A este dois cilos de desenvolvimento correspondem duas épocas de 
desenvolvimento superior dos conceitos jurídicos gerais: Roma e o seu sistema de 
direito privado e, os séculos XVII e XVIII, na Europa, quando um pensamento 
filosófico descobriu a significação universal da forma jurídica como potencialidade que 
a democracia burguesa era chamada a realizar. (p. 74-75). 
[…] Engels examina o problema das relações entre o conceito e o fenómeno 
[ele] demonstra precisamente que o feudalismo nunca correspondeu ao seu conceito 
sem, no entanto, deixar de ser feudalismo. O conceito de feudalismo, é ele próprio, uma 
abstracção que se baseia em tendências reais deste sistema social a que chamamos 
feudal […]; a unidade do conceito e do fenómeno é no fundo um processo infinito. (p. 
83-84). 
[…] se observamos, digamos na esfera da pequena produção, uma passagem 
progressiva do trabalho destinado ao cliente consumidor para o trabalho destinado ao 
comerciante, nós constatamos que as relações correspondentes se revestiram de uma 
forma capitalista. (p. 85). 
Uma vez que ele próprio [o direito] é uma relação social pode comunicar-se 
mais ou menos a outras relações sociais ou transferir para elas a sua forma. Porém, 
jamais poderemos abordar o problema sob esta perspectiva, deixando-nos guiar por uma 
representação confusa do direito como forma em geral, tal como a economia vulgar não 
pôde captar a essência das relações Capitalistas, partindo do conceito de capital como 
trabalho acumulado em geral. (p. 85) 
23 
 
[…] evitaremos esta contradição aparente se chegarmos a demonstrar, através da 
análise das definições fundamentais do direito, que […] este representa a forma […] de 
uma relação social específica. (p. 85). 
A norma jurídica deve a sua especificidade [...] precisamente ao facto de 
pressupor uma pessoa munida de direitos fazendo valer através deles, activamente, 
pretensões. (p. 119). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
Crítica às Demais Escolas do Direito 
A escola do direito natural não foi somente a expressão mais saliente da 
ideologia burguesa [...] mas legou-nos também o mais profundo e claro modelo para a 
compreensão da forma jurídica. (p. 70). – II (Ver citação de Bergbohm na mesma 
página). 
[...] na segunda metade do séc. XIX, se extinguiu definitivamente a chama 
revolucionária da burguesia [que agora] aspira a uma estabilidade e aum poder forte. Eis 
porque já não é a análise da forma jurídica que se encontra no centro dos interesses da 
teoria jurídica mas antes o problema do fundamento da força coactiva dos preceitos 
jurídicos. Daí resulta [o] positivismo jurídico, que se reduz à negação de todo o direito 
que não seja o direito oficial. (p. 71). 
[...] esta teoria [o direito natural] foi a bandeira revolucionária sob a qual a 
burguesia conduziu as suas lutas revolucionárias contra a sociedade feudal. Eis o que 
igualmente determina o destino da doutrina. Desde que a burguesia se tornou uma 
classe dominante, o passado revolucionário do direito natural começa a despertar nela 
apreensões e as terias dominantes apressaram-se a pôr de lado esta doutrina [...], a teoria 
jurídica do Estado, que substituiu a teoria do direito natural e que repudiou a teoria dos 
direitos inatos e inalienáveis do homem e do cidadão, ao denominar-se teoria “positiva”, 
não menos deforma a realidade efectiva. (p. 184). 
O essencial da doutrina do direito natural consistia, com efeito, em admitir ao 
lado das diferentes espécies de dependências de um homem em face de outro [...] ainda 
um outro tipo de dependência, dependência em face da vontade geral, impessoal, do 
Estado [...], esta construção precisamente constitui também o fundamento da teoria 
jurídica do Estado como pessoa. O elemento de direito natural [...] reside no próprio 
conceito de poder público, ou seja, de um poder que não pertence a ninguém em 
particular, quese situa acima de todos e a todos se dirige. (p. 185-186). 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
Forma Embrionária do Direito 
[...] uma forma desenvolvida e acabada, verdadeiramente não exclui formas 
embrionárias e rudimentares; pelo contrário, pressupõe-nas. (p. 36). 
A forma mais desenvolvida permite-nos compreender os estados anteriores onde 
ela surge unicamente de forma embrionária. (p. 73). 
[…] a disciplina das relações sociais, em certas condições, reveste um carácter 
jurídico […]. Se passarmos aos povos primitivos vemos aí certamente o embrião de um 
direito, mas a maior parte das relações é disciplina extra-juridicamente, nomeadamente 
sob a forma de preceitos religiosos. (p. 86). 
Os direitos públicos do senhor feudal perante os seus camponeses eram ao 
mesmo tempo os seus direitos como proprietário privado; inversamente, os seus direitos 
privados podem ser interpretados, se assim se quiser, como direitos políticos, isto é, 
públicos [...]. Na realidade, nós cuidamos de uma forma jurídica embrionária que ainda 
não desenvolveu nela própria as determinações opostas e correlactivas de direito 
privado e de direito público. Eis porque qualquer poder que possua os traços das 
relações patriarcais ou feudais é, simultaneamente, caracterizado pela predominância do 
elemento teológico sobre o elemento jurídico [que] só se torna possível com o 
desenvolvimento da economia monetária e do comércio. (p. 172). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Capitalismo, Estado E Direito 
O Estado moderno, no sentido burguês da palavra, nasce no momento em que a 
organização do poder de grupo ou de classe engloba relações mercantis suficientemente 
extensas. (p. 173). 
O domínio da burguesia revela-se tanto na dependência do governo em face dos 
bancos e dos grupos capitalistas, como na dependência de cada trabalhador particular 
em face da entidade que o emprega. (p. 175). 
Engels [...] considera o Estado como expressão do facto de a sociedade se achar 
dilacerada por insolúveis contradições de classes [e] para que [...] as classes com 
interesses económicos opostos não se destruam entre si e à sociedade numa luta estéril, 
impõe-se a necessidade de um poder que, colocado aparentemente acima da sociedade, 
deva atenuar o conflito, mantê-lo dentro dos limites da ordem [...]. Sabemos que o 
aparelho do poder de Estado foi sempre criado pela classe dominante. Cremos que o 
próprio Engels teria repudiado uma tal interpretação das suas palavras. Mas, de qualquer 
modo, a sua formulação não é muito clara. De acordo com ela o Estado surgiu porque, 
se assim não fosse, as classes aniquilar-se-iam [...]. Neste caso, de duas uma: ou bem 
que o Estado alcança esta relação de equilíbrio e será então uma fora situada acima das 
classes, o que não podemos admitir; ou bem que ele é o resultado na vitória de uma das 
classes [...], neste caso, a necessidade do Estado para a sociedade desaparece visto que, 
com a vitória decisiva de uma classe, de novo se restabelece o equilíbrio e se salva a 
sociedade [...]. Porque é que ele [o domínio de classe] assume a forma de um domínio 
estadual oficial ou, o que vem a dar no mesmo, porque é que o aparelho de coacção 
estadual não se constitui como aparelho privado da classe dominante, porque é que ele 
se separa desta última e assume a forma de um aparelho de poder público impessoal, 
destacado da sociedade? Não podemos contentar-nos com a explicação segundo a qual é 
vantajoso para a classe dominante erigir um cenário ideológico e esconder o seu 
domínio de classe por trás do guarda-vento do Estado [embora], uma tal explicação seja 
sem dúvida correcta [...]. Se quisermos pôr a nu as raízes de uma ideologia, devemos 
procurar as relações reais que ela exprime. (p. 174-178). 
[...] a sujeição dos camponeses ao senhor feudal foi a consequência directa e 
imediata do facto de o senhor feudal ser um grande proprietário fundiário e dispor de 
uma força armada [...], esta relação de domínio de facto, assumiu progressivamente um 
véu ideológico: o poder do senhor feudal foi deduzido progressivamente a partir de uma 
autoridade divina supra-humana: toda a autoridade dimana de Deus. A subordina 
27 
 
 do operário assalariado ao capitalista e a sua dependência perante ele existe 
igualmente sob a forma imediata: o trabalho morto acumulado domina aqui o trabalho 
vivo. Porém, a subordinação deste mesmo operário ao Estado capitalista não é idêntica à 
sua dependência em face do capitalista individual, que se encontra simplesmente 
disfarçada sob a forma ideológica desdobrada [...], aqui há um aparelho particular 
separado dos representantes da classe dominante, situado acima de cada capitalista 
individual e que figura como força impessoal [...], esta força impessoal não mediatiza 
cada uma das relações de exploração [...], o assalariado não é compelido, política e 
juridicamente, a trabalhar para um determinado empresário [...]. A livre concorrência, a 
liberdade da propriedade privada, “a igualdade dos direitos” no mercado e a garantia da 
existência da classe unicamente como tal criam uma nova forma de poder de Estado, a 
democracia, que permite, o acesso de uma classe colectivamente. (p. 178-180). 
Na medida em que a sociedade representa um mercado, a máquina do Estado 
realiza-se efectivamente como a vontade geral impessoal, como a autoridade do direito, 
etc. Como já vimos, no mercado, cada adquirente e cada vendedor é um sujeito jurídico 
por excelência. Aí, onde entram em cena as categorias de valor e do valor de troca, a 
vontade autónoma dos que trocam é uma condição indispensável. O valor de troca deixa 
de ser valor de troca, a mercadoria deixa de ser mercadoria quando as proporções da 
troca são determinada por uma autoridade situada fora das lei imanentes ao mercado 
quando as proporções da troca são determinadas por uma autoridade situada fora das 
leis imanentes ao mercado. A coação, enquanto imposição baseada na violência e 
dirigida por um indivíduo contra outro indivíduo, contradiz as premissas fundamentais 
das relações entre os proprietários de mercadorias. Eis porque numa sociedade de 
proprietários de mercadorias e dentro dos limites do acto de troca, a função de coação 
não pode surgir como impessoal. Na sociedade de produção mercantil a subordinação a 
um homem como tal, enquanto indivíduo concreto, significa a subordinação a um 
arbítrio, visto que isso equivale à subordinação de um proprietários de mercadorias 
perante outro. Eis porque também a coacção não pode aparecer aqui sob a forma não 
mascarada, como um simples acto de oportunidade. Ela deve aparecer antes como uma 
coacção que provém de uma pessoa colectiva abstracta e que é exercida não no interesse 
do indivíduo donde provém – porque numa sociedade de produção mercantil cada 
homem é um homem egoísta – mas no interesse de todos os membros que participam 
nas relações jurídicas. O poder de um homem sobre outros exprime-se na realidade 
28 
 
como o poder do direito, ou seja, como o poder de uma norma objectiva imparcial. (p. 
181-182). 
O Estado jurídico constitui uma miragem que convém bastante bem à burguesia, 
visto que substitui a ideologia religiosa em decomposição e esconde aos olhos das 
massas a realidade o domínio da burguesia. [Não obstante] ela não reflecte 
completamente a realidade objectiva muito embora se apoie nela. (p. 186). 
uma realidade objectiva. (p. 189). 
Na época feudal, as funções administrativas e judiciárias era desempenhadas 
pelos servidores do senhor feudal. Pelo contrário, os serviços públicos no sentido 
próprio do termo, só aparecem nas comunidades urbanas; o carácter público da 
autoridade encontra,então, a sua incarnação material. A procuração, no sentido do 
direito privado, como mandato dado para conclusão de negócios jurídicos, destaca-se do 
serviço público. Então, a monarquia absoluta só teve de apossar-se desta forma de 
autoridade pública que tinha nascido nas cidades e aplica-la a um território mais vasto. 
Todo o posterior aperfeiçoamento do Estado burguês, que se operou quer através de 
explosões revolucionárias, quer através de uma adaptação pacífica aos elementos 
monárquicos feudais, pode ser relacionado com um único princípio, no mercado pode 
regulamentar a relação de troca. (p. 190). 
A burguesia colocou este conceito jurídico de Estado na base das suas teorias e 
tentou transpô-lo para a prática. (p. 191). 
[...] a burguesia jamais perdeu de vista [...] que a sociedade de classe [é] o 
campo de batalha de uma encarniçada guerra de classes, na qual o aparelho do Estado 
representa uma arma muito poderosa. Neste campo de batalha as relações não se 
formam de modo algum dentro do espírito da definição Kantiana do direito como a 
restrição mínima à liberdade da pessoa, indispensável à coexistência humana. 
Gumplowwicz tem inteira razão quando explica que uma tal espécie de direitos jamais 
existiu porque “o grau de liberdade de uns depende apenas do grau de domínio de 
outros. A norma da coexistência não é determinada pela possibilidade da coexistência 
mas pelo domínio de uns sobre os outros” [...]. Quanto mais o domínio da burguesia foi 
sacudido, mais estas correções se tornaram comprometedoras e mais depressa “o Estado 
jurídico” se transformou numa sobre imaterial [...]. (p. 192). 
 
 
 
29 
 
Direito e Sociedeade Burguesa 
[...] é apenas na sociedade burguesa capitalista, onde o proletariado surge como 
sujeito que dispõe da sua força de trabalho como mercadoria, que a relação econômica 
da exploração é juridicamente mediatizada sob forma de um contrato. (p. 36). 
[...] a forma jurídica adquire um significado universal. (p. 36). 
Enquanto a relação entre os produtores individuais e a sociedade continuar a 
manter a forma de troca de equivalentes, esta relação manterá igualmente a forma do 
direito. (p. 60). 
[as categorias jurídicas] na sua aparente universalidade [...] exprimem um 
determinado aspecto da existência de um determinado sujeito histórico: a produção 
mercantil da sociedade burguesa. (p. 73). 
De um modo geral, um mesmo e único fenômeno, que Marx caracterizava como 
a separação do Estado político da sociedade civil, reflecte-se na teoria geral do direito 
sob a forma de dois problemas distintos [...]. O direito subjectivo é a característica do 
homem egoísta membro da sociedade burguesa, do indivíduo voltado para si, para o seu 
interesse provado e para a sua vontade privada e isolado da comunidade. O direito 
objectivo é a expressão do Estado burguês como totalidade que se revela como Estado 
político e que apenas faz valer a sua generalidade por oposição aos elementos que o 
compõem. O problema do direito subjectivo e do direito objectivo, formulado de 
maneira filosófica, é o problema do homem como indivíduo burguês privado e do 
homem como cidadão do Estado. (p. 120-121). 
A forma jurídica, como o seu aspecto de autorização subjectiva, nasce numa 
sociedade composta de titulares de interesses privados egoístas e isolados. Quando toda 
a vida económica se edifica sobre o princípio do acordo entre vontades independentes, 
cada função social reveste, de uma maneira mais ou menos reflectora, um carácter 
jurídico, isto é, torna-se simplesmente não apenas uma função social mas também um 
direito pertencente a quem exerce estas funções sociais [...]. Qualquer tentativa que vise 
apresentar a função social pelo que ela é, isto é, simplesmente como função social e que 
vise apresentar a norma simplesmente como regra organizatória significa a morte da 
forma jurídica. (p. 122-123). 
“Todos devem ser livres e ninguém deve entravar a liberdade dos outros. Cada 
um possui o seu corpo como livre instrumento da sua vontade” [...]. Esta condição 
jurídica, ela própria, ou para empregar as palavras do mesmo autor, “a existência 
simultânea de numerosas criaturas livres, que devem todas ser livres e cuja liberdade 
30 
 
não deve entravar a liberdade dos outros”, mais não é do que o mercado idealizado, 
transposto para as nuvens da abstração filosófica e liberto da grosseira empírica, onde se 
encontram os produtores independentes, - pois como nos ensina um outro filósofo: “no 
contrato comercial, as duas partes fazem o que querem e cada parte não exige para si 
própria mais liberdade do que aquela que concede à outra, (p. 140). 
A propriedade burguesa capitalista [...] transforma-se num direito absoluto [...]; 
é protegida em todo o mundo pelas leis, pela polícia e pelos tribunais [...]. O 
desenvolvimento do pretenso direito de guerra não é outra cosa senão uma consolidação 
progressiva do princípio da inviolabilidade da propriedade burguesa. (p. 140-141). 
Foi somente quando se desenvolveram totalmente as relações burguesas que o 
direito se revestiu de um carácter abstracto. Cada homem converte-se num homem em 
geral, cada sujeito converte-se em sujeito jurídico abstracto. Simultaneamente reveste-se 
igualmente da forma lógica acabada de lei geral e abstracta. Daí que, o sujeito jurídico 
seja um proprietário de mercadorias abstracto e transposto para as nuvens. A sua 
vontade, em sentido jurídico, tem o seu fundamento real no desejo de alienar, na 
aquisição, e de adquirir, na alienação. Para que esse desejo se realiza é indispensável 
que haja acordo recíproco entre os desejos dos proprietários de mercadorias. 
Juridicamente esta relação exprime-se como contrato, ou como acordo, entre vontade 
independentes. É por isso que o contrato é um conceito nuclear do direito [como] um 
dos meios de manifestação concreta da vontade com o auxílio do qual o sujeito age 
sobre a esfera jurídica que o cerca. (p. 148-149). 
O estado de paz [que] ao pensamento jurídico abstracto parece ser contínuo e 
uniforme de modo algum existia [...] nos primeiros estádios do desenvolvimento do 
direito. O antigo direito germânico conhecia diferentes graus de paz [o qual] exprimia-
se através do grau de gravidade da pena que atingia quem o violasse [...]. O estado de 
paz torna-se uma necessidade quando a troca se torna um fenómeno regular [...]. Os 
comerciantes, que se dirigiam ao mercado, obtiveram salvos-condutos e a sua 
propriedade foi protegida contra apreensões arbitrárias, enquanto que juízes especiais 
asseguraram a execução dos contratos [...]. Originalmente, os centros de feiras e os 
mercados constituíam partes integrantes os domínios feudais [...]. Quando a paz do 
mercado era concedida a uma localidade qualquer, isso visava apenas encher os cofre do 
senhor feudal e, por consequência, servir os seus interesses privados. (p. 170-172). 
 
 
31 
 
Direito Público e Direito Privado 
O conceito de direito público não pode, ele próprio, ser desenvolvido senão no 
seu movimento: aquele através do qual ele é continuamente repelido do direito privado, 
à medida que tende a determinar-se como o seu oposto e através do qual regressa a ele 
como o seu centro de gravidade. A tentativa inversa, isto é, a tentativa para encontrar as 
definições fundamentais do direito privado – que ouras não são senão as definições do 
direito em geral – partindo do conceito de norma, apenas pode gerar construções inertes 
e formais que, ainda por cima, não estão isentas de contradições internas. O direito, 
como função, deixa de ser direito, assim como a autorização jurídica sem o interesse 
privado que lhe serve de sustentáculo se transforma em qualquer coisa de incaptável, de 
abstractoque facilmente se transforma no seu contrário, isto é, em obrigação (todo o 
direito público é, com efeito, ao mesmo tempo, uma obrigação). (p. 126-127). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
Sobre a União Soviética e a Transição 
[...] as sobrevivências da troca de equivalentes na esfera da distribuição, que 
subsistirão igualmente numa organização socialista da produção (até a passagem para o 
comunismo evoluído) constrangerão a sociedade socialista a encarar-se, 
momentaneamente, no limitado horizonte do direito burguês, tal como Marx havia 
igualmente previsto. (p. 31) Nota: entre o estágio primitivo do direito, encontrado nas 
“leis bárbaras”, e o comunismo evoluído é que se desenvolveu a forma jurídica, sendo o 
seu ápice o surgimento da sociedade burguesa. 
O aniquilamento de certas categorias [...] do direito burguês, em caso algum 
significa a sua substituição pelas novas categorias do direito proletário. (p. 58). 
[...] o período de transição [...] é caracterizado pelo facto de as relações humanas 
permanecerem, durante um certo período [...] no horizonte limitado do direito burguês. 
(p. 59). 
A transição para o comunismo evoluído não se apresenta, sgundo Marx, como 
uma passagem para novas formas jurídicas mas como um aniquilamento da forma 
jurídica enquanto tal [...]. (p. 61). 
[...] a experiência mostrou que a produção e a distribuição, organizadas e 
planificadas, mão podiam substituir, de um dia para o outro, as trocas de mercadorias e 
a ligação entre as diferentes unidades económicas através do mercado. (p. 163). 
Ora, enquanto não estiver resolvida a tarefa da edificação de uma economia 
planificada única, enquanto se mantiver entre as diferentes empresas e grupos de 
empresas a ligação do mercado, igualmente se manterá em vigor a forma jurídica. (p. 
163-164). 
Na medida em que as empresas estaduais estão sujeitas às condições da 
circulação, as suas interrelações revestem não a forma de uma coordenação técnica mas 
a forma de contratos. E então a regulamentação puramente jurídica das relações, isto é, 
judiciária torna-se igualmente possível e necessária. (p. 164). 
[...] na medida em que a nova sociedade seja edificada com base em elementos 
da antiga sociedade, isto é, a partir de homens que concebem os vínculos sociais 
somente como meios para os seus fins privados, as simples directivas técnicas racionais 
revestirão igualmente a forma de um poder estranho ao homem e situado acima dele. O 
homem político será ainda um “homem abstracto, artificial”, segundo a expressão de 
Marx. Mas, quanto mais as relações mercantis e o incentivo do lucro forem sendo 
33 
 
radicalmente suprimidas da esfera da produção, mais depressa soará a hora dessa 
libertação definida de que Marx falou [...]. (p. 165-166). 
No que diz respeito ao nosso período de transição, devemos referir o que segue. 
Se na época do capital financeiro [...] subsistem as oposições de interesses [...], no 
capitalismo do Estado proletário, e não obstante a sobrevivência da troca de 
mercadorias, as oposições de interesses são suprimidas no interior da indústria 
nacionalizada, e a separação ou autonomia dos diferentes organismos económicos [...] é 
mantido apenas como método. (p. 166). 
[...] a forma jurídica como tal não contém, no nosso período de transição, essas 
ilimitadas possibilidades que se lhe ofereciam nos primórdios da sociedade burguesa 
capitalista. Pelo contrário, ela apenas temporariamente nos encerra no seu horizonte 
limitado; ela apenas existe para se esgotar definitivamente. (p. 167). 
[...] as empresas pertencentes ao Estado Soviético desempenham, na realidade, 
uma tarefa colectiva; mas, como no seu trabalho têm de observar os métodos do 
mercado, cada uma delas tem interesses particulares. Elas opõem-se umas às outras 
como comprador e vendedor, actuam por seus próprios riscos e perigos e, por 
consequência, devem necessariamente encontrar-se reciprocamente em relação jurídica. 
A vitória final da economia planificada fará de sua ligação recíproca uma ligação 
exclusivamente técnica, racional e matará assim a sua personalidade jurídica. (p. 170). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
A Respeito de Piotr Stutchka e do Direito Proletário 
O desenvolvimento histórico da regulamentação jurídica, sob o ponto de vista de 
seu conteúdo de classe, é, na sua exposição, posto em primeiro plano relativamente ao 
desenvolvimento lógico e dialético da própria forma [...]; Stutchka procedeu [...] em 
função de uma concepção do direito que faz dele essencialmente um sistema de relações 
de produção e de troca [...]. Se, à primeira vista, se considera o direito com a forma de 
toda e qualquer relação social, então pode dizer-se à-priori que as suas características 
específicas passarão desapercebidas. (p. 47-48). 
O direito proletário, dizem-nos, deve encontrar outros conceitos gerais e a tarefa 
da teoria marxista do direito deveria consistir na procura de tais conceitos [...]; ao exigir 
para o direito proletário novos conceitos [...] na realidade [...] proclama a imortalidade 
da forma jurídica. (p. 58). 
Para nós, o camarada Stucka equacionou corretamente o problema jurídico, ao 
considera-lo como um problema de relações sociais. Porém, em vez de se pôr a 
investigar a objectividade social específica destas relações, regressou à definição formal 
habitual [...] de classe [...]. Na fórmula geral dada por Stucka, o direito já não figura 
como relação social específica, mas como o conjunto das relações em geral, como um 
sistema de relações que corresponde aos interesses das classes dominantes e 
salvaguarda estes interesses através da violência organizada. (p. 92). 
A definição de Stucka, talvez porque proveniente do Comissariado dos Povos 
para a Justiça, é adequada às necessidades dos juristas práticos. [Ela] desvenda o 
conteúdo de classes das formas jurídicas, mas não nos explica a razão porque este 
conteúdo reveste semelhante forma. (p. 93). 
Quando o direito tornou-se aquilo que é [...]? Segundo ele [Stucka], o direito 
como particular sistema de relações sociais, caracteriza-se pelo facto de assentar sobre a 
violência organizada, isto é, estadual, de uma classe. Naturalmente, eu conhecia este 
ponto de vista; porém, após uma segunda explicação, mantenho ainda que num sistema 
de relações correspondentes aos interesses da classe dominante os assentes na violência 
organizada, podem e devem ser extraídos momentos que fundamentalmente oferecem 
matéria ao desenvolvimento da forma jurídica. (p. 93). 
 
 
 
 
35 
 
Relação Jurídica 
A relação jurídica é a célula nuclear do tecido jurídico e é unicamente nela que o 
direito realiza o seu movimento real. Em contrapartida o direito, enquanto conjunto de 
normas, é apenas uma abstracção sem vida. (p. 96). 
Se certas relações foram efectivamente constituídas, tal significa que nasceu um 
direito correspondente; porém, se uma lei ou um decreto foram somente promulgados 
sem que na prática tivesse aparecido qualquer relação correspondente, então, tal 
significa que foi feita uma tentativa para criar um direito mas sem sucesso [...]. A acção 
política revolucionária pode vencer muitas dificuldades; ela pode realizar amanhã aquilo 
que hoje não existe ainda; mas não pode repentinamente dar existência àquilo que 
efectivamente não existiu no passado. (p. 99). [ver exemplo do edifício]. 
Com efeito, não pode afirmar-se que a relação entre o credor e o devedor seja 
criada pelo sistema coactivo de cumprimento de dívidas existentes no Estado em 
questão. Esta ordem, existente objectivamente, garante certamente a relação,preserva-a 
mas em caso algum a cria. (p. 100). 
Podemos igualmente imaginar um caso limite onde não exista, ao lado das duas 
partes que mutuamente entram em relação, uma terceira força capaz de estabelecer uma 
norma e de garantir a sua observância [...]. Todavia [...] a relação subsiste [...], basta 
imaginar o desaparecimento de uma das partes [...] para que imediatamente desapareça 
também a possibilidade da própria relação. (p. 101). 
Todo o sistema jurídico feudal assentava sobre tais relações contratuais não 
garantidas por qualquer terceira força [...], a estabilidade das relações jurídicas privadas, 
no Estado burguês moderno bem organizado, de modo algum assenta apenas na polícia 
e nos tribunais. As dívidas não são pagas pelos indivíduos apenas porque elas de 
qualquer modo seriam pagas, mas também para que eles possam conservar o seu crédito 
no futuro. (p. 101). 
É pois a necessidade natural, são as propriedades essenciais do homem, por 
muito alienados que pareçam, é o interesse que mantem unidos os membros da 
sociedade burguesa cujo vínculo real é, portanto, constituído pela vida civil e não pela 
vida política. O que assegura a coesão dos átomos da sociedade burguesa não é, pois, o 
Estado, mas o facto de tais átomos serem átomos apenas na representação [...] e o de 
[...] serem homens egoístas . Nos nossos dias, apenas a superstição política imagina que 
a coesão da vida civil é produto do Estado, quando, pelo contrário, é a coesão do Estado 
36 
 
que, na realidade, é mantida como facto da vida civil. (MARX apud PACHUKANIS, 
1977, p. 104-105). 
O homem que produz em sociedade é o pressuposto de que parte a teoria 
económica. A teoria geral do direito, na medida em que cuida de definições 
fundamentais, deveria partir igualmente dos mesmos pressupostos fundamentais. Assim, 
por exemplo, é preciso que a relação económica da troca exista para que possa nascer a 
relação jurídica do contrato de compra e venda. O poder político pode, com a ajuda das 
leis, regular, modificar, determinar, concretizar do modo mais diversa, a forma e o 
conteúdo deste contrato jurídico. A lei pode determinar, de forma muito precisa, o que 
pode ser comparado e vendido, como também sob que condição e por quem. A 
jurisprudência dogmática conclui daí que todos os elementos existentes da relação 
jurídica, inclusive, também, o próprio sujeito, são gerados pela norma. Na realidade, a 
existência de uma economia mercantil e monetária é, naturalmente, a condição 
fundamental, sem a qual todas estas normas concretas carecem de qualquer sentido. É 
unicamente sob esta condição que o sujeito jurídico tem na pessoa do sujeito económico 
egoísta um substracto material que não é criado pela lei, mas que ela encontra perante 
si. Aí, onde falte este substracto, é à-priori inconcebível a relação jurídica 
correspondente. (p. 106-107). 
[...] a relação económica é, no seu movimento real, a fonte da relação jurídica, a 
qual nasce somente no momento do litígio. É precisamente o litígio, a oposição de 
interesses, que produz a forma jurídica, a superestrutura jurídica. No litígio, isto é, no 
processo, os sujeitos económicos privados aparecem já como partes, quer dizer, como 
os protagonistas da superestrutura jurídica. O tribunal representa, mesmo na sua forma 
mais primitiva, a superestrutura jurídica por excelência. Pelo processo judicial, o 
momento jurídico separa-se do momento eocnómico e aparece como momento 
autónomo. Historicamente, o direito começou com o litígio [...]. (p. 107-108). 
[...] a lógica dos conceitos jurídicos corresponde à lógica das relações sociais de 
uma sociedade de produção mercantil. É precisamente nestas relações, e não na 
autorização da autoridade pública, que é preciso procurar a raiz do sistema do direito 
privado [...], a relação jurídica é directamente gerada pelas relações materiais de 
produção existentes entre os homens onde quer que se encontre uma camada primária 
da superestrutura jurídica. (p. 11-112). 
[...] a relação jurídica não nos mostra só o direito no seu movimento real, mas 
igualmente descobre as propriedades características do direito como categoria lógica 
37 
 
[...]. Nós mostraremos nas páginas seguintes que, para a ordem jurídica, o fim em si é 
apenas a circulação de mercadorias. (p. 119).forma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Sobre a Obra e a Proposta de Pachukanis 
[...] não pensava que fosse necessária uma segunda edição [...], isso se deve ao 
fato de esse trabalho [...] ter sido utilizado como manual, coisa com que eu nunca 
contei. (p. 25). 
[...] foi escrito com o fim de clarificação pessoal [...]. Daí a sua abstração [...], o 
seu aspecto unilateral. (p. 25). 
O meu livro, que põe à discussão algumas questões da teoria geral do direito, 
tem por tarefa principal a de preparar todo esse trabalho [profundo estudo dos ramos do 
direito para uma resistente crítica marxita]. (p. 26). 
[...] uma tentativa para aproximar a forma do direito da forma mercadoria [...]. 
Na literatura marxista e, em primeiro lugar, no próprio Marx, é possível encontrar 
bastantes elementos para uma tal aproximação [...] Aquela filosofia do direito [...], 
verdadeiramente mais não é do que a filosofia da economia mercantil, que estabelece as 
condições mais gerais, mais abstractas, sob as quais se pode efectuar a troca de acordo 
com a lei do valor e ter lugar a exploração sob a forma de “contrato livre”. (p. 27-28). 
Como marxista não me dei por tarefa construir uma teoria da jurisprudência pura 
e, como marxista, não podia sequer fixar-me semelhante tarefa. [Meu] objectivo 
consistia em dar uma interpretação sociológica da forma jurídica e das categorias 
específicas que exprimem esta forma jurídica. Foi precisamente por isso que eu dei o 
meu livro o subtítulo Ensaios de crítica dos conceitos jurídicos fundamentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
Sobre o estado da Crítica Marxista do Direito 
[...] a crítica marxista da teoria geral do direito está ainda no início [...] 
conclusões definitivas [...] terão de apoiar-se num profundo estudo de cada ramo da 
ciência do direito. (p. 26). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
A Regulação Externa e Fora do Indivíduo na Esfera Coativa Estatal 
O principal obstáculo [ao estudo da superestrutura jurídica como fenômeno 
objetivo] [é que] consideram sem dúvida alguma o momento da regulamentação 
coactiva social (estadual) como a característica central, fundamental e a única típica dos 
fenômenos jurídicos. (p. 28). 
Em vez de nos proporem o conceito de direiteo na sua forma mais acabada e 
clara [...], oferecem-nos unicamente um lugar comum, deveras vazio, o de uma 
regulamentação autoritária externa que convém indiferentemente a todas as épocas e a 
todos os estádios de desenvolvimento da sociedade humana. (p. 52). 
A teoria lógico-formal do positivismo jurídico assenta no facto empírico de as 
relações, que se encontram sob a proteção do Estado, serem as que são melhor 
garantidas. A questão examinada por nós reduz-se [...] ao problema das relações 
recíprocas entre a superestrutura jurídica e a superestrutura política. Se consideramos 
[...] a norma como o momento primário [...], temos de pressupor a existência de uma 
autoridade [...]; uma superestrutura jurídica é uma consequência da superestrutura 
política. (p. 103). 
Estamos em face de uma estranha dualidade do conceito, cujos dois aspectos, 
conquanto situados em

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