Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Thiago José de Souza Oliveira – Bacharelando do 9º período em Direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo Campus Lorena/SP; Historiador Centro Universitário Salesiano de São Paulo Campus Lorena/SP; Escritor; Acadêmico – Membro Fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena/SP; Pesquisador. Ao som do batidão: breves considerações sobre a criança no funk. Temos acompanhado o alvoroço envolto as letras e rimas, mesmo pobres na maior parcela do tempo, dos funks entoados principalmente por menores. Exemplos são extensos, MC Melody, MC Brinquedo, MC isso MC aquilo e tantos outros. Mas o que ganhou recentemente a mídia nacional foi o caso do MC Pedrinho, de 13 anos de idade, em que teve a proibição em se apresentar decretada pela Vara da Infância e Juventude do Estado de São Paulo. Como por óbvio, o caso ganhou gigantesca repercussão, destacadamente por aqueles pouco informados sobre o tema. Asseveraram que o magistrado juntamente com o representante do Ministério Público estava cerceando um direito assegurado a todos, qual seja, a livre expressão. Será mesmo? Partamos a refletir sobre alguns pontos relevantes. Primeiro quanto a constitucionalidade do ato. Este tem sido o mais refutado nos jornais e mídias virtuais. O direito à liberdade de expressão é uma segurança oferecida pelo Estado Liberal, ou seja, por nossa atual e vigente aglomeração sócio estatal. Deste fator central advém o ideal complementar, qual seja, o mesmo Estado Liberal que resguarda a livre expressão idearia de conceitos esparsos, também assegura a não expressão desta. Isso somente será plausível quando do compreender social. Ou seja, o que pauta o limitar da expressão social não são somente os dispositivos frios da Lei, mas, principalmente, o vetor racional da sociedade. O limiar do correto e incorreto, do justo e do injusto, do compreensível e incompreensível oferecido pela demonstração social é que define num prisma final a atuação judicial em casos que abrangem o seio comum de vivência. Tanto o é assim aplicado que, em casos de homicídio, quem decide, ocupando o lugar superior de magistrado, são os sociáveis. A liberdade de expressão é sim um direito individual, fundamental e coletivo e ainda mais, é um direito assegurador, resguardando o indivíduo em si e prol do conjunto social. Assim está expresso nos incisos IV, IX, X e XLI do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Ainda, também se está pautada a liberdade de expressão pelo artigo 19 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos firmado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992, adotado em Resolução pela XXI Sessão da Assembleia Geral da ONU em 16 de dezembro de 1966. Pode-se destacar em complementação o artigo 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos – Protocolo de São José da Costa Rica, aprovada por decreto legislativo nº 27/92, no qual assegura que ninguém será limitado a expressar sua livre opinião ou pensamento. Já quanto ao Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, Lei nº 8.069/90, preconiza em variado rol de dispositivos, artigos 4º ao 7º, 17 e 18, 53 e 76, quanto a proteção do menor a figuração da liberdade, livrando-os da vida indigna, do fator vexatório e de outras causalidades que os impulsionam a uma vivência social prejudicial a formação de seu ser em si. Diante de tais fatores, pode-se considerar que, em fundamentação conjunta, Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente, ao menor será invocado tratamento especial, isso em fator do que preconiza o próprio Código Civil Brasileiro em considerar o menor de 16 anos absolutamente incapaz. Sendo este o caso em cena analisado, tratando-se o MC Pedrinho um adolescente de 13 anos de idade. Muitos indagam ser esta uma metodologia não correta, pois, aplicar a alguém essência incapacitória para atos da vida cível detendo somente da idade não perfaz a realidade. Mas, diante de nossa contemporânea realidade, a idade se justifica sim perante os atos praticados numa causalidade corriqueira. A precaução detida em atenção do Promotor juntamente com o magistrado da Vara da Infância e Juventude do Estado de São Paulo incorre em correta refutação, pois, cada vez mais se vem apresentando a estes a figura educadora e ainda mais, a figura de complementação a pobre ou fraca formação ética e moral recebida nos âmbitos familiares. É problemática e até mesmo incorreta a prática vivenciada atualmente nos aglomerados familiares no Brasil em que os pais transferem para a justiça papel que lhes são de inteira responsabilidade. Juiz, Promotor e advogados não são fundamentos a formação educacional e pessoal de um ser. O que lhes pautam não se justifica por tal, mas, a pura proteção e resguardo a integridade. A decisão que tamanhamente vem ganhando pano de discussão nada mais é que a mera disposição contrária de funções. Os pais depositam cada instante mais as custas do sistema judiciário a ferramenta de educador e moderador ético dos filhos não limitados por estes. A obrigação do advogado no seio social é assegurar os direitos intrínsecos à persona, do Promotor de Justiça aquiesce quanto a promoção desta, ou seja, de colocar ordem num eixo que repousa a desordem, e ao Juiz lhe recai a obrigação da ponderação destes fios soltos. Em nada detém aos olhos quanto a Inconstitucionalidade do ato detido pelo magistrado ou pelo Promotor de Justiça ao limitar um adolescente de 13 em continuar caminhando por trilhas nada correspondentes a idade. O que gerou e ainda gera estranheza é justamente este papel impostamente adquirido de pais. E felizmente o sistema judiciário vem aplicando com maestria a função que lhe fora atribuída por falha da interna formação familiar. Encerro com as palavras duras e instigantes do filósofo belga Raoul Vaneigem: Não se combate nem se desestimula a estupidez e a ignomínia proibindo-as de se exprimir: a melhor crítica de um estado de fato deplorável consiste em criar a situação que o previna. A estupidez, a infâmia, o pensamento ignóbil são o pus de uma sensibilidade ferida. Impedi-lo de escorrer é envenenar a ferida em vez de diagnosticar suas causas para lhe dar remédio. Se não quisermos que uma aberração venha a infectar o tecido social como um tumor maligno, devemos reconhecê-la como ela é: o sintoma de uma doença no indivíduo e na sociedade. Não é o sintoma que deve ser condenado, é nossa pouca pressa em erradicar as condições que propagam o prurido, o abscesso, a peste. Mais que cuidar em esmagar o infame, vale apoiar o desejo de viver melhor – isto é, mais humanamente.[1: VANEIGEM, Raoul. Nada é sagrado, tudo pode ser dito. São Paulo: Parábola Editorial, 2004, pp. 30-31.]
Compartilhar