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Fasc°culo II

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Dr. ROBERTO BLANCO 
MEDICINA LEGAL 
2011 
FASCÍCULO 11 
LESÕES CORPORAIS 
E 
DELITOS CORRELATOS 
Art. 121 c/c 14,11 CP. 
Art. 122 CP. 
Art. 123 c/c 14, 11 CP. 
Art. 125 ele 127 CP. 
Art.129 CP. 
Art.136 CP. 
Art. 3°, .. i", Lei 4898/65. 
Art. 1 o, Lei 9455/97. 
Art. 303, Leis 9503/97 e 11.705/08. 
CRIANÇA ESPANCADA. 
GENÉTICA FORENSE- DNA 
ÍNDICE COM MUITOS EXERCÍCIOS 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERIO BLANCO 
LESOES CORPORAIS- ARTIGO 129 CP I CAPUT I §1" §2" . §3" 'i.t i 
POSITIVO PARA PRESENÇA DE VESTIGIOS DE LESÃO 
OFENDER A INTEGRIDADE CORPORAL OU A 
SAÚDE DE OUTREM- 3 MESES A UM ANO. VER 
ART. 61 E 88 DA LEI 9099/95 
IPmPO- JULGADO NO Jecrim OU TRIBUNAL DO 
JÚRI (CONEXÃO)- Art. 74, 76, 88 e 89 Lei 9099/95 
LESAO LEVE 
§ 1o- I- INCAPACIDADE PARA AS OCUP AÇOES 
LESÃO HABITUAIS POR MAIS DE TRINTA DIAS 
§ 1o- 11- PERIGO DE VIDA )(SO PRETERDOLOSO) GRAVE 
§ 1°- ID- DEBILIDADE PERMANENTE DE NO 
MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO SENTIDO 
§ 1"- IV- ACELERAÇAO DE PARTO AMPLO E 
PENA- RECLUSÃO DE 1 A 5 ANOS- CABE ART. 89 NO 
DA LEI 9099/95. JULGADO NA V ARA CRIMINAL OU SENTIDO 
TRIBUNAL DO JÚRI (CONEXÃO) ESTRITO 
§ 2"- I- INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO 
§ 2"- 11- ENFERMIDADE IN CURA VEL LESÃO 
§ 2°- ID- PERDA OU INUTILIZAÇÃO DE MEMBRO, SENTIDO GRAVE NO 
OU FUNÇÃO SENTIDO 
§ 2"- IV- DEFORMIDADE PERMANENTE AMPLO OU 
§ 2°- V- ABORTO (ABORTO PRETERDOLOSOl GRAVÍSSIMA 
PENA- RECLUSA O DE 2 A 8 ANOS- JULGAMENTO NA V ARA 
CRIMlNAL OU TRIBUNAL DO JÚRI j_CONEXÃO) 
§ 3o- SE RESULTA MORTE E AS CIRCUNST ANCIAS INDICAM 
QUE O AGENTE NÃO QUIS O RESULTADO NEM ASSUMIU O LESÃO CORPORAL 
RISCO DE PRODUZI-LO SEGUIDA DE MORTE OU 
PENA- RECLUSÃO DE 4 A 12 ANOS- JULGAMENTO NA V ARA HOMICÍDIO 
CRIMINAL OU TRIBUNAL DO JÚRI (CONEXÃO) PRETERDOLOSO 
ou 
PRETERINTENCIONAL 
§ 6 o- SE A LESÃO E CULPOSA (VER ART.61 E 88 DA LEI 9099195) 
PENA- DETENÇÃO DE 2 MESES A 1 ANO- IPmPO- JULGAMENTO NO Jecrim OU 
TRIBUNAL DO JÚRI (CONEXÃO)- Art. 74, 76,88 e 89 Lei 9099195-
VER CÓDIGO DE TRANSITO (ART. 303 CTB) 
§ 9o- SE HA VIOLENCIA DOMESTICA E FAMILIAR (VER LEI 10886104 E 11340/06.) 
PENA- DETENÇÃO DE 3 MESES A 3 ANOS. SALVO LEI 11.340/06 E JUSTIÇA MILITAR, CABE 
ART. 89 DA LEI 9099/95. JULGADO NA V ARA CRIMINAL OU TRIBUNAL DO JÚRI 
(CONEXÃO). VER NOVAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. 
§ 10°- NOS CASOS PREVISTOS NOS§§ 1" E 3° DESTE ARTIGO,SE AS CIRCUNSTANCIAS SAO 
AS INDICADAS NO § 9", AUMENTA-SE A PENA DE 1/3. VER LEI 10886/04) 
. 
§ 11 o- NA HIPOTESE DO§ 9" DESTE ARTIGO, A PENA SERA AUMENTADA DE 113 SE O 
CRIME FOR COMETIDO CONTRA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA (IDOSA, 
TAMBÉM) VER LEI 11340/06) 
ENTAO? QUE TAL COMPLETAR O ESTUDO COM OS DEMAIS PARA GRAFOS E 
RELACIONÁLOS COM OS QUESITOS DO LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO DE 
LESÕES CORPORAIS? VAI DEIXAR PARA DEPOIS? BEM, É VOCÊ QUE É O CANDIDATO." 
JRAUMATOLOGIA FORENSE E DELITOS CORRELATOS . ROBERTO BLANCO 
MECÂNICOS 
FfSICOS 
NÃO MECÂNICOS 
ÁCIDOS 
QUfMICOS 
ALCALINOS 
ENERGIAS 
vfRUS VULNERANTES 
ou 
BIOLóGICOS BACTtRIAS AGENTES 
VULNERANTES PROTOZOÁRIOS 
FfSICOQUfMICOS 
MISTOS BIOQUrMICOS 
BIOFfSICOS 
BIODINÂMICOS 
CONTUNDENTES 
NÃO CORTA CASSETETE 
NÃO PERFURA MARTELO 
NAVALHA 
CORTANTES SÓ CORTA lÂMINA DE BARBEAR 
AGULHA 
ENERGIAS PERFURANTES SÓ PERFURA ALFINETE 
VULNERANTES PICADOR DE GELO 
ou 
AGENTES 
VULNERANTES FACA 
Frs1cos P~RFURO-CORTANTE PUNHAL 
MECÂNICOS LIMA DE SERRALHEIRO 
MISTOS PÉRFURO- PROJ~IL DE ARMA DE FOGO 
CONTUNDENTE 
CORTO- MACHADO 
CONTUNDENTE ARCADA DENTÁRIA 
LESÕES'GORPORAISEDELITOSCORRELATOS. I< "' ROBERTO BLANCO 
.'.5'· •MEDICINALEGAL 
FASCÍCULO H 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS 
AO LEITOR 
Neste segundo fascículo, o "PRATO PRINCIPAL" será a apresentação de um estudo que analisa 
as lesões corporais que os operadores de direito podem observar nos procedimentos jundicos em que 
estiverem trabalhando ... ou, em razão de aprimoramento profissional, ainda estudando. 
Entretanto, fizemos uma alteração na distribuição dos temas nos Fascículos e, agora, você verá 
neste trabalho "Quadro Sinóptico com Dezenas de Sinais em Medicina Legal e um dos temas mais 
complexos do curso, "Noções sobre Genética Forense e DNA". 
Se quiser mesmo passar, trate de "devorar e armazenar" esse apetitoso "manjar dos deuses". 
Na maior parte, mostraremos que as lesões corporais podem estar presentes em inúmeros delitos 
"definidos" no Código Penal e na Legislação Extravagante. Excelente material auxiliar para D. Penal. 
Até você (rsrsr) parceberá que essas lesões corporais ora funcionam (natureza jurídica) como 
qualificadoras, ora como causas especiais de aumento de pena, ou como condição de punibilidade. 
Essa última circunstância pode ser percebida na pena do artigo 122 CP. Consuhe o Código! 
Assim, sem pretender esgotar o assunto, apresentamos algumas noções dos delitos correlatos à 
presença de lesões corporais na vitima. Você encontrará breves comentários a respeito dos delitos de trânsito 
(Lei 9503/97, alterada pela Lei 11.705/08), de Maus-Tratos (artigo 136 CP), Abuso de Autoridade (Lei 
4898/65), Torrura (Lei 9455/97), Homicídio na forma tentada (artigo 121 c/c 14, li CP), Induzimento, 
Instigação ou AUXilio ao Suicídio (artigo 122 CP), Aborto com a pena aumentada (artigo 125 ele 127 CP), 
roubo qualificado (art. 157 § 3" J• parte CP), extorsão qualificada (art. 158 § 2" CP), extorsão mediante 
sequestro <J,ualificada (art. 159, § 2" CP), diversos crimes de perigo comum qualificados (art. 258 CP; art. 264 
Parágrafo Unico CP) e muitos outros. Observe como as Lesões Corporais podem qualificar um crime. 
Procure outras correlações de Lesões Corporais com Leis Especiais e diretamente no CP. 
Você deve estudar, ainda, as repercussões das Lesões Corporais nas esferas jurídicas civil e 
trabalhista. Sabemos que o delito de Lesões Corporais, agora, tem repercussão na violência doméstica: vá 
estudar, mesmo, o acréscimo dos parágrafos 9" e l0°no artigo 129 CP determinados pela Lei 10.886/04. 
De grande importância para a Sociedade Brasileira, e para os concursandos, pelas inúmeras 
polêmicas que provoca, veio a Lei 11.340 de 2006, denominada vulgarmente de Lei Maria da Penha, como 
referência a uma corajosa e decidida mulher, Maria da Penha Maia Fernandes, especial vítima de Violência 
Doméstica Contra a Mulher. Infelizmente, a cultura da violência contra a mulher permanece ... 
Curiosamente, ainda não surgiu uma lei de idêntica proteção aos homens ... embora o brasileiro, que 
vive fazendo piadas com a tragédia, já esboçou um "ante-projeto" da Lei Mario da Penha ... Ver mais tarde! 
No sentido de aprofundar o assunto, mas, sem exagerar, apresentaremos as causas mais prováveis 
da agressividade e da violência fazendo um retrospecto da história social de cada envolvido no fato. 
Este interessante assunto, o ansioso candidato pode dispensar ... por enquanto ... 
SINAIS DE ORIENTAÇÃO- Para evitar que os leitores interessados exclusivamente nos pontos 
que se relacionam aos concursos públicos "percam tempo", lendo o que parece não ter utilidade imediata 
colocamos, junto ao título de determinados assuntos, indicadores de maior(!!), ou menor(##) probabilidade 
de o assunto aparecer como questão de prova. Trate de ler, pelo menos os temas marcados com(!!!). 
Assim, para evitar dificuldades e possível perda de tempo, se o leitor não estiver com tempo 
disponível, deixamos a orientação que inicie seus estudos, diretamente, a partir da página 35, ou seja, 
diretamente no estudo das Lesões Corporais, conforme o artigo 129 do CP. 
INÍCIO! Comece pelo tema "Maus-Tratos Contra Crianças e Adolescentes: Criança Espancada! 
As Sindromes de Caffey e Silvennan estão na página 150 ... ou próximo rsrsrs 
Por outro lado, apresentamos uma série de prováveis questões destinadas às provas de concursos.Uma boa idéia é tentar resolvê-las, consultando a apostila, pois, como sabemos, é quase impossível 
imaginar o que as bancas examinadoras farão para tentar nos surpreender no próximo concurso ... %$#@**% 
Se tiver dúvidas, (kkkk) ou quiser fazer alguma crítica ou sugestão use o e-mail 
robertoblanco@infolink.com.br ou os telefones (021) 2264-2625 e (021) 9762-1295. 
Endereço para correspondência: 
Praça General Portinbo, n° 6- apto 203- Maracanã- Rio de Janeiro -RJ- Brasil- CEP- 20 271 -010. 
Boa sorte - Roberto Blanco. 
I.ESOES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
DAS LESOES CORPORAIS 
ARTIGO 129 DO CÓDIGO PENAL E CORRELATOS 
UM NOVO CICLO - 2811! Estamos acompanhando a primeira década de um novo milênio. 
Como se estivéssemos reiniciando um novo ciclo, entendo que participar do nascimento de qualquer 
empreendimento lmmano nos dá a !lellsação de que partilban:mos do crescimento e do desenvolvimento, em 
todos os sentidos, deste novo momento da infinita espiral da vida. E, cá entre nós, viver é muito bom! 
Pensar e viver o início deste novo ciclo, desta nova etapa da caminhado do ser lmmano em direção 
ao seu objetivo maior, é muito mais estimulante e gratificante do que imaginar que o segundo milênio 
acabou; que já envelhecemos e, portanto, alcançamos o ponto máximo de evolução nesta maravilhosa dádiva 
que é a Vida. Infelizmente os primeiros anos deste século, principalmente no Brasil, mostraram que o ser 
lmmano não tem com:spoodido às esperanças que o Criador depositou nessa espécie da evolução da vida. 
Recomeçar, relàzer, reconstruir, entre outras formas de manifestar a presença do pensamento 
positivo tudo isso forma um conjunto de palavras e ações indispensáveis nesta sempre nova e interminável 
busca que é a aventura humana A caminhada é sempre mais estimulante do que a chegada. Contrarie 
Rousseau: não se deixe arorrentar pelas idéias dos outros. É a sua vez de caminhar! Sua hora! Vamos! 
No eolallto, não deixe de analisar as revelações que, metaforicamente ou explicitamente o passado 
nos apn:sentoo. Do contrário dificilmente poderemos lapidar, rom o brilho necessário, os próximos atos de 
nossa jornada no ecossistema existente na Terra. Sem cuidadosa obsavação, sem proficiente correyão das 
fulbas cometidas no passado, dificilmente oonseguiremos extrair úJdo o esplendor, nem materializar toda a 
esperança e realizações que o futuro ainda pode oferecer aos nossos descendentes. 
É muito importante, portanto, que tenhamos aprendido, e apreendido, algumas dolorosas lições 
extraídas da experiência das gerações que nos antecederam. Se fur possível aprender com o erro dos outros, 
certamente será melhor do que aprender com nossos próprios erros. 
As man:as do passado, ainda muito vivas em nossas mentes, mosiiam tristes inúmeras e 
preocupantes lembranças de insensibilidade, avareza, crueldade, agressividade e violência, fazendo duvidar, 
ás vezes. que o ser humano seja a personificayão da imagem e semelhança do Criador. 
Neste fàsciculo D discutiremos, inícialmente, os conceitos fimdamentais e elementares de agressão 
e violência pam, depois, discutir como o legislador brasileiro decidiu classificar as lesões resultantes das 
ações agressivas do ser humano, bem como penalizar, ou despenalizar os seus autores. 
Na legislação penal encontraremos diversos tipos incriminadores que podem represenlllr um 
conflito apau:nte de normas, pois, as mesmas lesões, de acordo com o aspecto subjetivo do dolo do agente, 
podem permitir a caracterização de tipos penais, os mais diferentes entre si. Não devemos esquecer que é 
majoritária, no momento, a teoria finalista da conduta típica: -Dolo ou culpa na Tipicidade! 
Estaremos diante de um crime de "Lesões Corporais" de acordo com o artigo 129 do CP? 
Poderíamos falar em crime de "Maus-Tratos" conforme o artigo 136 do CP? Utilizaremos a Lei 9099 de 
1995, seja atmvés dos Juizados Especiais Civil e Criminal, ou da própria Vara Criminal tradicional, ou até 
.._ ... ,do Tribunal do Júri? Saberemos aplicar as modificações que a Lei 11.705 de 2008 fez na Lei 9503 de 
1997, o Código de Trânsito Brasileiro? A Justiça punirá os infratores de acordo com a Lei 9455 de 1997, a 
Lei da Tortwa? Compreenderemos a colocayão das "Lesões Corporais" como causas especiais de aumento 
de pena? Saberemos mostJar quando seria circunstâncias qualificadoras, como ocorre, entre outros, com os 
artigos 157 § 3", primeira parte do CP, 158 § 2" CP, 159 § 2" CP? E, finalmente, teremos que aplicar as 
modificações introduzidas pela Lei 10.259 de 12 de Julho de 2001, a Lei dos Juizados Especiais Federais, 
que ampliou o limite máximo das penas das infrações penais de menor potencial ofensivo de um (O I), para 
dois (02) anos, graças ao preceito da lei 11.313 de 2006. Puxa! Quanta coisa para estudar! 
Com este único tema, as "Lesões Corporais", deveremos enfu:ntar, com coragem, com tudo isso! 
Enfim, em meio a estes aparentes conflitos penais tentaremos entender como será interpn:tada a 
aplicayio da lei penal quando a vitima apresenlllr, como elemento material (vestigial) do delito, alterações da 
integridade corporal ou da saúde classificadas, em termos médico-leg;lis, como "Lesões Corporais" e a 
autoridade policial indiciar o agressor em outro tipo penal: art. 121 ele 14 D CP; art. 133, § 1• CP etc. 
Discutiremos estes aspectos, com a merecida profundidade, porém, um pouco mais tarde. 
Se estiver com pressa, ou sem tempo disponível, passe direto para o assunto que lhe interessa. 
Se a sua preocupayão é exclusivamente a prova para o cargo de Delegado de Polícia Civil você 
pode começar seus estudos a partir das discussões sobre o artigo 129 CP, sem precisar analisar as possíveis 
cansas de agressividade e violência entre os seres humanos. 
Observe os pontos solicitados no edital do concurso. Estude-os com prioridade. Lesões corporais 
aparecem em inúmeros tipos penais e, acredito, seria interessante dar especial atenção esse tema. 
Se tiver dúvidas, comunique-se pelo e-mail <robertoblanco@infolink.com.br> 
2 
. ) '. -
LF.SÕE8COili'ORAIS E DELITQSCOKRELATOS ·. ROBERTO BLANCO 
(11#1#) A VIOLÊNCIA É INATA. GENÉTICA, NO SER HUMANO? - Observou os sinais entre 
parêotesis? (#1##1). Então, essa leitura é para quem não está aflito e desesperado com a falta de tempo. 
Se estiver sem tempo para estudar, passe para a pág. 36 ou para "Síodrome da Criança Espancada:: 
e; só depois, para "Lesões Corporais». Essa parte inicial exige reftexão e ponder.lção nas conclusões. · 
Assim, por enquanto, no início deste capítulo, vamos apresentar algumas dúvidas a respeito da 
existência, ou não, de fundamento científico quanto á afumação, de alguns autAxes, de que bá raízes 
genéticas, inalas, de que bá uma tendência, aparentemente natural, do ser humano em agredír, violentamente., 
o seu semelbante. Talvez você já tenha péroebido que os n!veis de violência mbana estão aumentando. 
Um resumo hlstórico a respeito da natureza humana em relação à agressividade pode ser 
encootr.Jdo nas páginas 63 a 70, no curioso livro "A ARTE DA FELICIDADE, UM MANUAL PARA A 
VIDA", assinado por Sua Santidade o DALAI LAMA e por HOWARD C. CUTLER, edítom MARTINS 
FONTES, 2000, São~- Acredi1a ~terá tempo para ler sobre isso, agom? rsrsrs · 
(11#1#) VIOLENCIA DOMESTICA - Uma excelente análise a respeito da violência doméstica, 
wna das grandes preocupações do mundo moderno pode ser encontrada na obra de MARIA CRISTINA 
RAVAZZOLA, HISTÓRIAS INFAMES: LOS MALTRATOS EM LAS RELACIONES, impresso pela 
edilmaPaidos Terapia Jàmilíar, Buenos Aires, 1997. Outia hipótese: ler os jornais danossaCídade! 
Nosso resumo, no momento, bem mais singelo, discutiní apenas alguns 1àtores que interferem no 
comportamento global de uma pessoa e que são considerados, por diversos autores, como agentes causais, 
.&vorecedores ou determinantes da agressão de um ser humano contra outro. 
(###)AGRESSIVIDADE CRESCENTE - Impossível, porém, começar a discutir estes fàtores, as 
possíveis causas da agressio, ou da violência, sem comentar, mesmo que superficialmente, que a 
agressividade, em n!veis considerados excessivos, está se tomando, a cada día que passa, mais uma das 
caracteristicas do ser humano e, lamentavelmente, vem ocupando lugar de destaque nas manchetes da mídia 
local e nacional. A mídia, diariamente, refere casos dramáticos de violência sem aparente justificativa. 
E o futuro, neste aspecto, apresenta-se preocupante e sombrio, pois o mesmo problema, conforme 
mostram as notíeias diárias, está ocorrendo em nível Nacional, Continental e Mundial. 
Talvez seja mais um efeito colateral, neste caso, negativo, da implantação da globalímção. 
(###) OS GERADORES DE AGRESSIVIDADE - O aumento desorganizado da densidade 
demográfica criando verdadeiros caldeirões populacionais; o acúmulo cada vez maior de população, de um 
modo geral de origens e culturas diferentes nos grandes centros metropolitanos; a luta desesperada pela 
sobrevivência no meio social, cada vez mais desigual e competitivo; os avanços tecnológicos, disponíveis 
para alguns, inalcançáveis para a maioria; as enormes dificuldades que o ser humano enfrenta para tentar 
acompanbar as incríveis novidades que surgem em avalanche; estes, entre tantos outros 1àtores, parecem 
estimular o crescimento dos níveis de ansiedade, estresse, frustr.lção e agressividade entre apreciável parcela 
dos seres humanos. 
(###)MÁQUINAS DE MATAR- Considerando-se o avanço tecnológico mundial, vivemos um 
momento de aperfeiçoamento ilimitado das máquinas capazes de multiplicar, por muitas vezes, as 
<:apacidades e babilidades humanas. 
Infelizmente, muitas destas maravilhas da ciência do século XXI, combinando aspectos mecânicos, 
eletrOOícos e químicos, furam criadas com potencialidade exponencial para rem ou matar os semelhantes. 
Esta perversa e macabra modernização é considernda indispensável por apreciável parcela da 
sociedade IDJmana, principalmente nos chamados países desenvolvidos. 
Alguns povos entendem que só o poderio militar, do mais alro nível, pode garantir a paz mundial. 
Esta est1atégia .tàcilita, sobremaneira, o aumento dos índín:s quantitativos de vítimas e do crescente 
extermínio de enormes parcelas da população uumdial. 
Homicidíos múltiplos cometidos com emprego de armas de fogo, de uso doméstico ou até mesmo 
militar, já não causam mais espanto nos eventos diários de qualquer cidade. 
Estes verdadeiros massacres, outrora caracteristicos de cenários de guerra ou de revoluções 
armadas, atualmente fàzem parte da preocupante e inesperada rotina dos tempos de paz. 
"Caíram os atendimentos de emergência a baleados", informoo o Dr.ROSSI MURILO, chefe do 
Serviço de Emergência do H. M. Souza Aguiar em Congresso de Traumato-ortoped no Hotel 
lutercon!inental (ORTRA 2.001). Em 2008, o quadro estatístico piorou. A violência parece coisa normal! 
Naquele importante encontro científico foi apresentada uma estatística que revelava L 386 casos de 
pacientes baleados atendidos em 1.993 e "apenas" 712 em 2.000. Em 2008 o ntímero de "vivos" baixou. 
Para os politícos interessados em demonstrar melhor desempeoho da atividade de segurnnça 
pública, estes valores, mais baixos, significariam que houve redução na violência mbana. 
3 
4 
IOOJS CORP()RAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTOBLANCO 
Qual seria a causa desta interessante variação? Houve, mdmente, r...!nção na violêocia urbana ou as 
vítimas, baleada• com armas mais poderosas, nio chegam vivas aos Hospitais para alterar as estatísticas? 
"A lesão produzida pela entrada de um projétil (ou projetil) disparado por um fuzil AR-15 abre um 
rombo de 25 (VÍDte e cinco) em; a lesão de entrada produzida pela eotrada de um projétil calibre .38 abre 
uma fi:rida de 5 (cinco) em. As mortes são mais imediatas". O Globo 22/10/2001. Ah•alize a estatística. 
MITO -Na verdade nem sempre o projétil de calibre ponto 556 (cinco vírgula cinquenta. e seis 
milímetros) (AR 15) produz, um rombo de 25 (vinte e cinco) em. 
Há wna série de filtores em jogo para determinar as dimensões de uma lesão produzida por projétil 
dispal3do por fuzil AR 15, ou FAL (Fuzil Automático Leve) 7,62 (sete vírgula sessenta e dois milímetros), 
bem como para causar as dramáticas lesões que conhecemos. 
O mesmo pode ser dito para os projéteis calibre ponto 38 disparados por revólveres. 
A verdadeira conclusão, confinnada pelos índices obtidos nos registros de entrada de cadáveres no 
Instituto Médico-Legal, fui que aumentou a utilização de annas de fugo de maior poder lesivo e letalidade, 
inclusive de uso militar, DOS confrontos urbanos. 
TRATA-SE DE VERDADEIRA GUERRA CIVIL! 
Mnitos pacientes baleados com os projéteis disparados por estas armas de fogo, de uso 
militar e restrito, muito mais poderosas que as comuns, morrem no local do confronto, 
nio chegando a influenciar, numericamente, os índices de pacientes hospitalares vivos. 
(#I#) ÍNDICES DE VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO - As vítimas de ações dolosas ou culposas, 
incluindo-se os eventos de trânsito, considerados, em sua maioria como decorrentes de acidentes (crimes de 
lesões corporais culposas, ou de homicídio culposo, de acordo com os artigos 302 e 303 da Lei 9503/97, 
respectivamente), apesar das modificações introduzidas pela lei 11.705 de 2008, a Lei Seca, alcançam níveis 
muito devados, às vezes, maiores do que os números alcançados em algumas guerras do passado. 
"0 número de vítimas de acidentes de trinsito aumentou em relaçio aos índices 
anteriores. A quantidade de multas aplicadas, orém, diminníu". Qual a "mágica"? 
Para autores especializados em Psicologia Social esta progressão eresceote nos índices de lesões 
decorrentes de acidentes de trânsito, pode significar a "verbaaização" do desoootrole do comportamento 
agressivo apresentado pelos motoristas, acreorenPmdo-se a parcela correspondente à relativa impunidade 
para os inftatores, graças às medidas de despenalização e facilidades processuais que estão ocorrendo. 
São frequentes as sátiras que a mídia representa com as caricaturas de motoristas personificados 
como verdadeiras feras quando estão "pilotando" suas poderosas "máquinas de guerra". 
Você jà reparou como algumas pessoas ficam completamente transfurmadas, agressivas, perigosas, 
com o comportamento profundamente alterado, quando estão na direção de seus carros? 
Já observou que a propagando dos carros mais modernos induz ao motorista para alcançar 
velocidades cada vez maiores, em tempos progressivamente menores? 
Observe algumas circunstâncias que podem causar acidentes de trânsito: 
Alta velocidade = 39 o/o; 
Desrespeito à sinalizaçlo = 28 o/o; 
Ultrapassagem proibida= 10 %; 
Defeito no veículo = 11 %; 
Defeito na via = 2 •;.; 
Problemas de sínalizaçlo = 1 'Vo. 
Dados os necessanos descontos para mm•m•zar as fulhas metodológicas, reduzindo a 
tesponsabilidade da qualidade das rodovias e dos problemas de sinalização, responsabilidades 
governamentais, percebe-se que, de um modo geral, o motorisla é o protagonista natural do acideote de 
trânsito, principalmente quando seu veículo é gr.mde, poderoso e veloz. · 
LE§.OJS ÇORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
______ Jo~ f·· _ .-~,_·,':'..o.;,tr~ 
. Já percebeu o crescente receio que sentimos quando uma carreta, um daqueles enormes caminhõés, 
oo W" ~bus. te mesmo um táxi, aproxima-se 'íkl nôsso 'earro e começa á forçar a passagem quando o 
tiânsito, .X,r algum motivo não lhe é satisfuti>rio? ' · 
E se o "adversário" que se aproxima estiver com os vidros laterais abaixado<;, e o som ligado no 
volume máximo, com uma companhia feminina no banco do carona. o cuidado deve ser intensificado ... 
SEM VIOLÊNCIA - Curiosamente a lei Peual vigente oo Brasil enteude que os delitos 
culposos de trânsito. por mais lesivos que sejam para avítima. nio sie considerados como 
prllticados mediaDre "violência". Na culpa nio existe violência! Ver art. 44 CP. 
Pelo exposto, com ou sem a desculpa dos automóveis, ou dos esportes de contato e radicais, temos 
a impressão que a agn:ssividade está ocupando lugar de destaque no comportamento rotineiro dos humanos. 
POR QUE NÃO ACONTECE COM TODOS? - No entanto, e você pode ser um destes 
exemplos, mnitos milhares de pessoas, ao longo de suas vidas, jlllDlÚS praticaram qualquer ato que, 
conscientemente, pudessem rotular de agressivos. 
Por que algumas pessoas manifestam-se mais agn:ssivamente e outras não? 
Por que alguns seres humanos demonstram tão pouca agressividade e outros, tanta? Por quê? 
(11#) AGRESSIVIDADE OU VIOLÊNCIA? 
Diante desta resumida introdução, álgumas perguntas surgem de imediato: agressividade seria 
sinônimo de violência? O que devemos compreender como condula agressiva? Como este sucinto estudo 
entende conceitualmente a agn:ssividade? Qual o melhor conceito que escolhemos para violência? 
Faremos, a seguir, algumas perguntas para que o leitor, refletindo, encontre as melhores respostas, 
pois, como sabemcs, diante da pluralidade de conceitos, não existe unanimidade. 
Máis tarde discutiremos os conceitos dos diversos autores sobre agressão e violência. 
(#I##) PENSE E RESPONDA -Há comportamento violento na conduta da mãe que defende o seu 
filho, adolescente, contra o ataque de outros x:apami. maiores, em bando, repelindo-os com •mhadas, 
·dentadas, socos e até mesmo pontapés? Há violência nesta reação? 
Existe violência no policial, em serviço, que produz lesões no individuo que, resistindo a uma 
ordem legal, reage e tenta causar lesões no agente da Lei empenhado em cumprir o seu dever legal? 
Será que poderemos utilizar o mesmo raciocínio, e chegar à mesma conclusão, quando ontro 
polieial, conseguindo subjugar o opositor, que já está desarmado, algemado e, portanto, impossibilitado de 
oferecer qualquer perigo. espanca-o com golpes de cassetete, socos ou pontapés? 
Como devemos classificar a conduta da mãe, pai, padrasto ou madrasta que, em determinado 
momento, suna o filho, ou enteado, ainda criança ou adolescente, admitindo estar aplicando apenas um 
corretivo educacioual para o próprio bem da vítima? 
Como devemos interpretar o comportamento de alguém que, aos gritos, ou aos prantos, ou em voz 
baixa, dirige palavras ofensivas a outrem, muitas vezes sarcasticamente, ou então, explosivamente? 
Será considerado violento alguém que, em meio a uma discussão, atirn pilltos, tálheres, copos etc, 
ao solo? E se atirá-los em direção à pessoa com quem estava discutindo? 
Como voe€! interpretaria o comportamento de outro indivíduo que, insinuando ameaça, dirige-se ao 
oponente e faz gestos com as mãos, como se estivesse acionando o galilho de uma arma de fogo? 
E como voe€! entenderia o gesto de alguém que, dirigindo-se a ontra pessoa, passasse o dedo 
indicador esticado, diante do pescoço, como se representasse o deslizamento de uma naválha? 
Será classificado como violento o indivíduo que faz gestos obscenos endereçados a uma 
determinada pessoa, ou em direção a todos os torcedores presentes durante uma competição esportiva, como 
tem acontecido com determinados jogadores de futebol aqui no Brasil? 
Considera-se violento o individuo que exibe, publicamente, futos ou figuras pornográficas ou de 
conteúdo tiágico ou aterrador na forma de manchetes de jornais ou tablóides? 
O que estará passando pela cabeça daquele individuo que dirige o seu veículo perigosamente, em 
alta velocidade, sem necessidade aparente, pondo em risco as pessoas nas proximidades? 
Como estará o nível de consciência daquele outro que usa drogas, das mais diversas espécies, 
provocando danos à própria saúde e, não raro, a prõpria morte? 
A violência pode ser praticada contra si mesmo, como ocorre no suicidio? 
E se o agente utilizar-se das drogas somente para traficar sabendo que, mesmo indiretamente, esta 
conduta pode causar dano à saúde dos usuários podendo, inclusive, matá-los? 
5 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
Qual a principal motivação do indivíduo que pratica esportes radicais, nos quais a sua integridade 
fisica está permanentemente ameaçada e, algumas vezes, culminam em morte como aconteceu recentemente 
com tiadicional fumília americana, lutadores de boxe ou artes marciais? 
E como devem ser consideradas as pessoas que pagam ingressos para assistir às demonstrações de 
proezas radicais, consideradas pratieamente mor1llis e quase impossíveis de aleançar um final feliz? 
Não esqueça que a lei penal incrimina, em determinadas ocasiões, a indução ou a instigação para a 
prática de uma conduta típica. Observe o texto dos art. 29 e 122 do CP. 
O que ocorre quando em conflitos armados, guerrilhas, atos de terrorismo, hatalhas ou guerras, o 
ser humano causa a morte de milhares e milhares de pessoas, que de um modo geral, não conhece, muitas 
vezes sem aproximar-se delas? São criminosos? São violentos? Serão condecorados como heróis militares? 
O que está acontecendo no mundo psíquico de uma autoridade, civil ou militar, quando tortura, ou 
determina que se torture um prisioneiro para que confesse alguma circunstância, ou evento, que, na ocasião, 
está sendo considerada importante e indispensável, para a solução do problema? 
A situação parece complicar-se quando esta tortwa está sendo justificada, aceita, compreendida, 
por uma grande parcela de autoridades envolvidas, como está anotado em recente livro que se refere à 
biografia de ilustre ex-Presidente do Brasil. 
O que pensa o ser humano comum quando assalta? E sequestra? E estupra? E provoca aborto? E 
tortwa? E espanca crianças, esposas, pessoas mais frágeis? E fere? E mata? 
O que estará acontecendo no mundo psíquico destas pessoas, no momento em que tomam 
determinadas decisões, que resultam em danos para a integridade corporal ou para a saúde de outrem? 
CONCLUINDO - Enfim, há violência nesses diversos comportamentos frequentemente 
apresentados pelo ser humano? 
De imediato, a maioria das pessoas diria que sim, claro, sem dúvidas que sim! 
No entanto, de acordo com os diversos conceitos científicos de agn:ssão e de violência, conforme 
veremos mais tarde, talvez a certeza da resposta que o leitor escolheu anteriormente seja, pelo menos 
parcialmente, abalada. Aliàs, sempre que aprofundamos o estudo de alguma coisa que julgamos que já 
sabemos, surgem novas conclusões que, não raro, nos levam a mudar de idéia. 
MUITAS FACES- A agressão e a violência têm múltiplas filcelas. E são tão polimorfus que, por 
vezes, - 'passar idas, mesmo para os fiuniliares e observadores mais próximos do agressor. 
DISFARCE - Em razio do acentuado polimorfismo, dos múltiplos disfarces, muitas 
vezes inconscientes, a violência e a agressividade podem nio revelar, c:om facilidade, 
suas representaçiies concretas no mundo exterior. 
AUTOLESAO - Com relativa frequência, a pessoa, sob as mais diversas condições, pode 
direcionar, inconscientemente, suas frustrações e ações agressivas para o interior do próprio organismo, 
fisiopatologicamente, provocando autolesões. 
Não raro, inúmeros sinais e sintomas de doenças psicossomáticas podem significar a representação 
externa, ou seja, a evidência do comportamento agressivo, ou violento, que está impedido, por alguma razão, 
de manifestar-se em direção ao meio exterior. 
Em geral, apenas os especialistas no assunto, e algumas poucas pessoas leigas que convivem há 
algum tempo com o sujeito em questão, conseguem identificar a violência, ou a agressividade, 
metamorfoseadas, mimetizadas, ocultas, naquele individuo, aparentemente, tão calmo e tranqüilo para 
aqueles que não o aco~ na vida íntima, no ambiente fumiliar, entre as "quatro paredes". 
O PAVIO ESTA ACESO?- Suores excessivos sem relação com aumento da atividade fisica ouelevação da temperatma ambiental; reações alérgicas sem causa aparente; frequentes dores de cabeça, 
distúrbios gastrintestinai como vômitos, náuseas e diarréias, aparentemente sem relação com alimentação; 
insônia frequente, ansiedade e muitos outros sinais e sintomas similares podem representar a "ponta do 
iceberg" da agressividade ou violência reprimidas, tal qual molas comprimidas, armazenadas, como um 
"barril de pólvora" prestes a explodir. 
E estes sinais e sintomas parecem indicar que "o pavio" já está aceso ... O ESPORTE COMO INDICADOR DE EXPLOSÃO- Vamos usar a metáfora do futebol para 
mostrar como a agressividade e a violência caminham lado a lado. Escolha um determinado jogador de 
futebol. Pode até ser um fiunoso craque. Observe que, dando tudo certo, sua equipe vencendo em campo, o 
craque desliza graciosamente sobre o gramado. Entretanto, em determinados momentos, as coisas parecem 
não estar saindo tão bem. O craque já não brilha tanto. Começa a reclamar dos companheiros; inicia uma 
série de fàltas contra os adversários e, se provocado, parte para agressões que, em geral, deveriam ser 
punidas com a expulsão de campo e, eventualmente, com um processo criminal. E tudo começa de novo ... 
6 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
Uma fonna interessante de 
aproveitar a agressividade 
individual é a prática de 
detenninados esportes. 
Você já percebeu, na rotina 
desportiva, que alguns 
atletas conseguem suportar 
a pressão dos confrontos 
com maior 
capacidade 
ou 
que 
menor 
outros? 
Lembra daquele jogador, 
o ••• prontol Já foi expulso, e de 
novo! E também aquele outro, 
o •.•• pronto! Já foi até preso, 
P tfp nnvnl F nrltrne 
(##f) AGRESSÃO E VIOLÊNCIA: SINÔNIMOS OU ESPÉCIES DO MESMO GÊNERO? 
Para a população que não se dedica a esse estudo, as palavras agressividade ou violência têm a 
conotação de palavras sinônimas. 
Para os especialistas, porém, há enorme diferença entre as condutas que carncterizam a agressão e a 
violência. Portanto, agressividade não é sinônimo de violência. 
A violência, cujas características cientificas conheceremos mais tarde, resulta de uma manifestação 
exacerbada de um com rtamento ser natural e até útil à sobrevivência do indivíduo. 
A VIOLÊNCIA É UMA DAS EXCLUSIVIDADES DA ESPÉCIE HUMANA. 
(#ff) OS IRRACIONAIS NÃO SÃO VIOLENTOS! SÃO AGRESSIVOS! 
Deixando de lado o ser humano, apenas por alguns momentos, observemos os outros animais - os 
denominados irracionais. 
Revela-se agressividade ou violência quando o leão, o tigre, o leopardo, o crocodilo, a cobra, a 
águia, enfim, quando o predador atira-se rápida e mortalmente sobre a sua presa? 
Há agressividade ou violência quando os filhotes desses animais, entre si, praticam movimentos 
que, em tudo, assemelham-se a uma luta, com a diferença que, em geral, não há ferimentos nos 
aparentemente vencidos? 
Há agressividade ou violêacia nas lesões abaixo? 
.... 
....... "• i .... 
0Ma&V&Ovut1Qo !.Y~-:=~~ ... ...,.,.eu. ..... ..._ 
DCn'AL DD•• DU10. 
IEqi!IMOSES J1o1D1CAM>0 AS 
I'OU'ASl>ICITAD:KOJ'ltSC«O 
SIILCO 
7 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
Há agressividade ou violência quando esses mesmos animais, em época de acasalamento, 
enfrentam, ferozmente, outros machos da mesma espécie em combates acirrados pela conquista da remea 
destinada à reprodução? 
E nas lutas pela manutenção do território de dominio sexual, às vezes ameaçado pela chegada de 
outro macho da mesma espécie? 
Há agressividade ou violência nesses comportamentos? 
Os animais, irracionais, mesmo os predadores mais ferozes, quando muito, poderão ser 
considerados agressivos, nas ocasiões que discutiremos a seguir, mas, violentos, jamais! 
(##)AGRESSÃO E VIOLÊNCIA 
Retiramos do Dicionário de Psiquiatria de CAMPBELL, 1986, os conceitos as seguir: 
AGRESSÃO - "0 uso de força, não necessariamente tísica, destinada a superar a 
resistência de um objeto, pessoa, ou organização à vontade de um dos participantes de 
luta ou conflito". 
Note-se que o autor baseia a existência da agressão em uma tentativa de submeter alguém, ou 
alguma coisa, a um determinado padrão de vontade, sem discutir a motivação desta vontade. 
VIOLÊNCIA- "É o pólo extremo do espectro agressivo 
do comportamento humano". 
O autor coloca a violência como um nível mais alto, exacerbado, de agressividade. 
Para nós, seres humanos, porém, a violência pode ser conceituada como a intenção deliberada de 
causar danos a outrem, porém, com intensidade que vai além dos limites necessários. 
Nesta consideração estamos excluindo as situações que envolvem os casos de canibalismo 
(antropofagia, na espécie humana), natural entre algumas espécies animais. 
8 
Também não estamos considerando a ação dos predadores contra suas presas naturais. 
A morte do oponente (a presa), nestes casos (busca de alimentação), é indispensável. 
Concluindo: a violência tende a aparecer quando, 
durante o combate, o oponente mostra que já está vencido 
e a agressão continua, embora já não seja mais necessária! 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
(##)O LIMITE DA AGRESSIVIDADE- Considera-se ultrapassado o limite daagressividade, e 
a entrada no território da violência, quando o oponente ou alvo (excluída a relação presa-predador, onde a 
presa, naturalmente, deverá ser morta pelo predador) já está subjugado, não oferece mais resistência ou 
perigo de revide e, apesar disso, a agressão, voluntariamente, prossegue, agravando as lesões, podendo levar 
à morte, desnecessariamente.. 
No Direito Penal, na análise das excludentes de ilicitude, o excesso da causa 
de justificação (conduta típica) ingressa no campo da violência. 
É muito importante conhecer-se os exatos limites entre uma ou outra conduta Entendemos que 
agressividade difere, quantitativa e qualitativamente, em sua essência, da violência. 
A tortura. nos seus diversos aspectos e motivações, as manobras sádicas, bem como determinados 
exemplos de maus-tratos, de abuso de autoridade, de iocursões policiais, civis ou militares, podem evidenciar 
claros exemplos de violência. 
É indispensável, porém, que o iodivíduo possua a base comportamental agressiva, para que possa 
aparecer, como manifestação excessiva, a violência. 
TORTURA - Observe, mais tarde, para adaptação à legislação penal vigente, os 
termos da Lei 9.455 de 1.997 que define e pune (?) o crime de tortura. 
(##) AGRESSIVIDADE SEM VIOLÊNCIA - Muitas vezes, na luta pela sobrevivência na 
sociedade humana, a agressividade é necessária e iodispensável para a conquista dos objetivos imediatos. 
A virilidade do desportista durante os momentos dramáticos da competição, a garra do trabalhador, 
não qualificado, na penosa jornada de trabalho, o ardor do jornalista, do repórter, ao apresentar, com o 
máximo de realismo, determinados temas de grande repercussão, a complicada e entusiasmada disputa pelos 
melhores contratos no pregão diário nas bolsas de valores, enfim, todos esses exemplos podem representar a 
necessidade de comportamento agressivo para que se alcance o sucesso imediato. 
São exemplos de agressividade humana, porém, sem violência. 
PRELIMINARES - Neste resumido trabalho, onde deliberadamente perdemos em precisão para 
ganhar em clareza, nosso objetivo prelimioar é apresentar as múltiplas formas como as pessoas, 
normalmente, entendem o significado da agressividade e da violência. 
Partindo do conhecimento popular adquirido na observação dos atos presentes na rotina diária do 
ser humano que vive em nossa cidade discutiremos, superficialmente, as teorias apresentadas pelos 
Psicólogos (estudam a mente animal) e Etologistas {estudam o comportamento animal} especialistas no 
assunto. 
Assim, talvez seja mais fácil entender que aspectos do comportamento humano o legislador 
brasileiro considerou ao estabelecertantas diferenças na comioação e aplicação das penas, ou não aplicação 
das penas privativas de liberdade, Note que no crime de "Lesões Corporais", bem como na classificação de 
outros crimes, onde as lesões corporais, ou seja, as lesões feitas no corpo (ou na mente) da vitima, são os 
principais vestígios identificados pela perícia médico-legal, a comioação das penas é muito diferente e, nem 
sempre obedece aos Princípios da Proporcionalidade e da ]esividade. 
A controvérsia, em face das diversas opiniões, será constante neste estudo. 
I 
ESCALPE 
VIOL~NCIA OU FATO ATIPICO? 
if:·. 
IJ\0 
t 
SEDENHO 
LESÃO EM ESCALPE, LESÃO 
EM SEDENHO E MUTILAÇÃO 
DIGITAL, DA ESQUERDA 
PARA A DIREITA. SÃO 
LESÕES CORPORAIS QUE 
PODEM REPRESENTAR, 
COM PRECISÃO, A 
MATERIALIDADE DE 
DELITOS DIFERENTES, COM 
PENAS EXTREMAMENTE 
DIFERENTES ... OU SER FATO 
ATÍPICO? 
9 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
(##)AGRESSÃO: SEUS OBJETIVOS E MOTW AÇÕES 
Uma das maiores preocupações dos estudiosos do comportamento humano é tentar entender as 
principais razões da crescente agressividade, e da presença marcante da violência, exibidas, rotineiramente, 
pelos seres humanos, apesar do avanço tecnológico da sociedade nos mais diversos campos. 
No sentido de iniciar uma pesquisa a respeito, esboçaremos algumas teorias e conclusões que 
poderão auxiliar àquele que desejar maior aprofundamento no assunto. 
Assim, iniciaremos nossa busca com a tradicional pergunta: 
"Quais seriam os objetivos que o agressor procura alcançar quando exibe o \ 
comportamento agressivo ou violento contra o seu semelhante"? , 
1) OBJETIVOS: 
l.a) PRINCWAL OBJETIVO- CAUSAR DANO A OUTREM- Como veremos, há inúmeras 
formas de analisar e de entender o significado da agressão. Um conceito, entre os mais utilizados, é o de 
DOLLARO, OOOB e SEARS que, por volta de 1939, diziam: 
"Agressão é qualquer seqüência de comportamento cujo objetivo é causar 
dano à pessoa contra quem é dirigida". 
A motivação da conduta agressiva obedeceria, para estes autores, a um fator desencadeante. 
DOLLARD, em seu livro "FRUSTRA TION ANO AGGRESSION" admitia que a agressão não resultaria 
simplesmente de uma reação inata, instintiva, exclusiva produção de dentro para fora do indivíduo. 
AGRESSÃO COMO RESPOSTA -Haveria, isso sim, a agressão como resposta a uma frustração 
às mais diversas necessidades do indivíduo que, assim, reagiria contra outrem, no intuito de reduzir a 
frustração sofrida. Se em algnns casos a hipótese anterior é perfeitamente válida, em muitas outras situações 
a frustração não aparece como responsável, pelo menos perceptível, pela conduta agressiva. 
MOTIVAÇÃO - Apenas para orientar o leitor, esclarecemos que a motivação é um sentimento, 
resultante do somatório de um conjunto de fatores que se originam dentro do indivíduo, relativamente 
independente da ação de estímulos externos. Funciona como se fosse um detonador, dísparador ou gatilho, 
para que o indivíduo inicie uma determinada ação com representação no mundo exterior. E um sentimento de 
origem centrífuga. Você pode apresentar-se motivado para determinada ação, apesar da inexistência de 
qualquer movimento ambiental destinado a produzir aquele comportamento. 
ESTIMULAÇÃO -Diferentemente da motivação, a estimulação consiste na aplicação de ações 
(estímulos) externas destinadas a produzir determinadas reações no comportamento individual A 
estimulação constitui-se de ações de origem centrípeta. As ações estimulantes iniciam-se no exterior do 
indivíduo, e têm a finalidade de produzir determinados efeitos no comportamento individual, de acordo com 
a qualidade e a quantidade de estímulos aplicados. 
ESTIMULAÇÃO ESPECÍFICA- O processo de estimulação, para ser bem sucedido, deve obedecer 
a vários princípios científicos. Entre os fatores adequados para estimulação recomendamos atenção para a 
especificidade dos objetivos. 
Todos sabemos que os estímulos necessários para desenvolver as potencialidades de um atleta de 
velocidade são completamente diferentes daqueles utilizados para preparar um atleta de maratona; a 
estimulação oferecida para um goleiro de futebol é, seguramente, diferente daquela que se aplica ao atacante. 
Da mesma forma, não se deve usar o mesmo tipo de estímulo pedagógico para crianças e adultos, para 
ricos e pobres, nem para os seguidores de MAQUIA VEL ("Os fins justificam os meios'') ou de KANT 
("Que as suas ações possam ser convertidas em uma repa de conduta Universal"). 
l.b) OUTROS OBJETIVOS DA AGRESSAO- Outros autores buscaram diferentes objetivos ou 
finalidades para justificar a conduta humana agressiva. BANOURA, grande estudioso do comportamento 
social, á épooa, já criticava a idéia de que o desejo de infligir dano a outrem era a única razão para a 
agressividade. 
BANOURA admitia que, embora a agressividade fosse considerada um comportamento voltado a 
produzir dano pessoal, poderia ter, além desta, as mais diversas motivações psicológicas. 
PENSE E RESPONDA - Analise, por exemplo, o caso do assaltante que esfaqueia a vítima, 
desconhecida, para roubar algum valor patrimonial. Seu principal objetivo era o dano físico da vítima ou a 
subtração do bem jurídico, um objeto de valor econômico? 
10 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTOBLANCO 
E no caso do lutador de boxe que, após a lum, extremamente dura, ao vencer, em plena eufpria da 
vitória, abraça, afetuosamente, o adversário derrotado e com graves lesões no rosto? Seu objetivo, durante a 
luta, onde aplicou toda a sua agressividade acumulada, era o dano ao adversário ou o desejo de alcançar a 
vitória e, com ela, obter todas as demais vantagens resultantes da conquista? 
Pode-se chegar á mesma conclusão quando o lutador de boxe, durante a lum, surpreendentemente, 
morde a orellta do oponente, arrancando-lhe um pedaço ... ? 
Percebeu o leitor como os limites entre violência e agressividade são movediços, nebulosos 
- ' , 
confusos? Observe REFLEXOES SOBRE A VIOLENCIA URBANA com textos de Jandira Feghali e outros 
(Ed. Maud, 2006), VIOLÊNCIA E PSICANÁLISE, Jurandir Freire Costa, Ed, Graal, 2003, entre outros ... 
BERKOWITZ (1965) e FESHBACH (1970), diante dessas controvérsias iniciais, tentaram 
solucionar o problema apresentando duas formas possíveis de agressividade: 
l.b.a) AGRESSIVIDADE INSTRUMENTAL- A agressão contém o dano a outrem, não como 
objetivo principal, mas como o resultado secundário de alguma ação destinada a obter recompensas 
extrínsecas. Não se esqueça que à época destes autores os estudos de neurociências ainda engatinhavam ... 
Na opinião destes autores, o objetivo principal do comportamento violento não seria causar dano a 
outrem, como admitia o pensamento inicial de DOLLARD, DOOB e SEARS. 
O DANO NÃO É O FIM: É O MEIO- Entre as recompensas a serem obtidas pelo agressor, não 
estaria incluído o dano corporal à vítima. O dano, eventualmente existente, seria, apenas, o meio utilizado 
para obter o fim desejado. Não existia, como objetivo primeiro, provocar o sofrimento da vítima. 
Assim, explicavam a "violência" que ocorre durante um assalto, ou outro crime, onde a agressão é 
o recurso usado pelo infrator para obter o resultado pretendido. A ação do agressor não objetiva o sofrimento 
da vítima, mas a obtenção da vantagem patrimonial indevida. 
l.b.b) AGRESSIVIDADE HOSTIL - A outra forma de agressividade seria denominada de 
agressividade hostil. Esta modalidade de agressividade sim, seria praticada com o objetivo principal de 
itifligir sofrimento à vítima. 
O DANO É O FIM- Exemplificavam-na com as agressões destinadas a castigar, além do 
necessàrio, o oponente, as manobras sádicas, plenas de perversidade, no sentido de prolongar o sofrimento da 
vítima, bem como os métodos ilícitos de obtenção de confissão em esfera policial ou militar. 
E NA REALIDADE? - Observe no estudo daPsicologia Judiciária a fnlqüência 
dos métodos coercitivos destinados à obtenção de confissão. São, também, 
chamados de métodos de terceiro grau, muito utilizados, embora 
considerados ilícitos em todos os níveis fonnais ... normalmente. 
l.b.c) AGRESSIVIDADE NEM HOSTIL, NEM INSTRUMENTAL - Em nossa opinião, por 
outro lado, há que se observar, cuidadosamente, que as lesões causadas no oponente ou vítima podem 
acontecer involuntariamente, acidentalmente, sem intenção. 
Nesses casos, embora ocorra dano à integridade corporal de outrem, não teremos um caso de 
agressão, no sentido em que os autores já referidos a entendiam. 
Se as lesões resultavam de m;ões culposas, isto é, eram decorrentes da imprudência, da imperícia 
ou da negligência do agente, que não pretendia provocar os ferimentos, os autores, à época, concordavam 
que as mesmas eram o resultado de um ato de vontade, embora discordassem de suas finalidades. 
CASO FORTUITO? - E, por último, há ainda que se discutir a situação em que estaremos diante 
de um ser humano ferido, ou morto, porém, não se poderá, de forma alguma responsabilizar alguém por esse 
resultado. Nestes casos,não lograremos comprovar nem dolo, nem culpa do agente sob investigação. Como 
pensar em poni-lo de acordo com o pensamento penal atual? 
EXEMPLO - Um bom exemplo pode ser dado pelo acidente decorrente do caso fortuito, isto é, 
sem dolo ou culpa do agente envolvido no acontecimento. 
Imagine um acidente de trânsito onde o motorista do automóvel, que fere ou mata um transeunte, 
em razão da quebra inexplicável da barra de direção do veículo, novo, recém saído da fábrica. Comprova-se, 
no caso concreto, que não houve qualquer falha do motorista que conduzia o automóvel em exame. Devemos 
puni-lo, penalmente? 
No caso vertente, ocorrendo caso fortuito, ou seja, absoluta imprevisibilidade objetiva, ficam 
ausentes o dolo e a culpa e, portanto, não haverá crime em razão da presença de excludente da conduta típica. 
Como veremos, mais tarde, o legislador pátrio, demonstrou compreender claramente a diferença 
entre as condutas dolosa e culposa, ao penalizar, de forma bastante diferenciada, as diversas situações que 
resultam em dano físico ou mental para as vítimas, conforme a conduta seja dolosa ou culposa. 
l1 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
PELO MENOS, CULPA - A legislação brasileira detenninou, também, que não 
havendo pelo menos culpa de alguém no resultado lesivo, nio haverá illcito 
penal a punir. Repele-se, de imediato, punição penal em razio da 
responsabilidade objetiva. Veja o artigo 19 CP. 
CAUSALISMO E FINALISMO EM DIREITO PENAL- Você aprenderá, em Direito Penal, 
como a teoria finalista da conduta infonna, que, sem dolo ou culpa não existe conduta típica e, portanto, não 
existe tipicidade, embora o resultado lesivo esteja previsto na legislação penal. 
Assim, sem a conduta típica, sem típicidade, não existe infração penal a apurar. 
Na teoria causalista da conduta, no entanto, o fato seria típico. Entretanto, o agente não seria 
punido porque a falta de dolo ou de culpa excluiria a culpabilidade. À época, a culpabilidade era psicológica. 
Desta forma, embora por silogismos jurídicos diferentes, não haveria infração penal a apurar. 
E NO DIREITO CIVIL?- Nos aspectos Civil ou Trabalhista, porém, há entendimento diferente 
em razão das legislações e dos princípios vigentes. 
A responsabilidade sem culpa pode ser arguidajudicialmente: ver art. 37 § 6° da CRFB/88. 
RESPONSABILIDADE PENAL SEM CULPA - Nestes casos pode haver 
responsabilidade do agente, mesmo que tenha agido sem culpa ou sem dolo. 
Procure rever os conceitos de Responsabilidade Objetiva, atualmente eliminada 
no nosso Código Penal, confonne ensina o artigo 19 CP. 
(##) 2 -OUTRAS TEORIAS PARA A GÊNESE DA AGRESSÃO 
O estudo da origem da agressão entre os animais, incluindo o ser humano, mostra ainda, outras 
interessantes explicações. 
Em KAPLAN e SADOCK, no interessante livro didático denominado COMPÊNDIO DE 
PSIQUIA IRIA DIN ÀMICA, surgem três aspectos a considerar: 
2.a) Impulsos ou disposições inatas; 
2.b) Impulsos originários do meio externo; 
2.c) Condições sociais e ambientais atuais, juntamente 
com a aprendizagem social prévia. 
2.a) IMPULSOS OU DISPOSIÇÕES INATAS PARA A AGRESSIVIDADE 
2.a.l) OPlNIÃO DOS PSICANALISTAS - Seria, então, o comportamento agressivo 
exclusivamente inato? Instintivo? Preliminarmente, para FREUD, sim! De início FREUD, segundo 
BIAGGIO, 1988, considerava que: 
ERA ASSIM - "A agressividade era relacionada aos impulsos sexuais ou 
resultava de resposta à frustração de comportamentos que buscavam o prazer ou 
que fugiam da dor." Hoje, 2009. a importância da testosterona retoma com vigor. 
Mais tarde, no intuito de abranger outros instintos, classificou-os em dois grupos principais: EROS 
e TIIANATOS, ou seja, pulsões de vida ou de morte. 
FREUD observou que toda a essência da vida seria derivada destes dois impulsos internos, inatos. 
a) PULSÃO DE VIDA, ou EROS, que levaria o ser humano à vida, à reprodução, à busca da 
autopreservação pessoal e da espécie. EROS era CUPIDO, o ardiloso e perigoso Deus do Amor. .. 
Todos sabemos a importância dos hormônios sexuais na aparência dos comportamentos humanos ... 
b) PULSÃO DE MORTE, ou TIIANATOS, cujo objetivo, aparentemente, era o término da vida 
ou, como diz LAPLANCHE, é o desejo que o ser vivo manifesta em tentar retomar ao estado de estabilidade 
inorgânica, ou seja, a vitória de THANATOS, a morte. 
PARA DENTRO OU PARA FORA?- A autodestruição, o suicídio, a autolesão, bem como as 
agressões a outrem, inclusive os atos homicidas, singulares e plurais, decorreriam do predominio de 
TIIANATOS sobre EROS. Assim, segundo FREUD, o indivíduo exibiria, durante a vida, este ou aquele 
comportamento, mais ou menos agressivo, de acordo com as variações do desequilíbrio entre EROS, Deus 
do Amor, a pulsão de vida, e THANATOS, o Deus da morte, presente nas crises depressivas endógenas .... 
12 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
Nos casos de suicídio, tentado ou consumado, pode-se pensar que o predomínio de THANATOS 
faz com que a pessoa crie situações que podem promover a sua autodestruição. 
A agressividade, nestes casos, está voltada para dentro do próprio organismo. 
Quando, porém, esse sentimento de autodestruição volta-se para fora do índivíduo e, eventualmente 
contra outrem, podemos ter como resultado final a manifestação da agressividade e, até mesmo da violência 
refletidas em crimes de lesões corporais, infunticídios, homicídios e outros crimes similares. 
EROS x THANATOS - Este permanente confronto entre estas duas pulsões fundamentais, de vida 
e de morte, resultaria em variações comportamentais que iriam do extremo do suicídio (autodestruição), ao 
homicídio (destruição da vida de outrem). 
Esta luta incessante poderia estar presente na manifestação dos quadros psiquiátricos de depressão, 
acompanhados de suicídio, como pode ocorrer, eventualmente, após o parto, em conseqüência da 
interiorização da agressivídade reprimida. Não confundir a Depressão Pós-Parto ou Depressão Puerperal que 
pode acompanhar os casos de Homicídio (art. 121 do CP) com Estado Puerperal, t-.cção jurídica que aparece 
nos casos de Infanticídio (art. 123 do CP). O Estado Puerperal não é uma entidade médica: é jurídica! 
Outras vezes, esta mesma agressividade, exteriorizando-se, pode estar representada na prática de 
maus-tratos contra o filho (art. 136 do CP), ou até mesmo no delito de Tortura (Lei 9455197). 
Materializa-se, assim, o predomínio de THANA TOS sobre EROS, ou da pulsão de Morte sobre a 
de Vida. Para aprofundamento, consulte os modernos trabalbos sobre neurobiologia. Procure, no encéfalo, 
regiões consideradas importantes como Sistema Límbico, Lobo Pré-Fronta~ Hipocampo, Hipotálamo etc. 
OS ESPORTES RADICAIS - Quandoum jovem, nos dias atuais, atira-se do alto de uma ponte, 
de um penhasco, de um edifício, e abre o pára-quedas, ou similar, a poucos metros do solo, percebe-se que 
não destja morrer. Parece, salvo melhor juízo, que pretende gozar o máximo de emoção que a vida pode 
proporcionar-lhe naquele instante que , segundo ele, "é pura adrenalina!". 
SEGURANÇA - Nota-se que não se descuida dos preparativos de seu equipamento. Trahalha com 
o máximo de segurança possível, de acordo com a empreitada que escolheu realizar. 
Nestes casos, predominaria THANATOS OU EROS? O mesmo raciocínio (predomínio entre as 
forças provenientes de THANATOS ou de EROS) vale para todos os chamados "Esportes Radicais~, tão 
comuns, tão divulgados e exaltados pela mídia, no inicio deste novo século. 
Nestes casos, o "corajoso", "destemido", "audaz", quer viver bem ou está procurando a morte? 
DÚVIDA - Mais uma das grandes dúvidas que levamos ao leitor, e que ainda não sabemos 
responder, pelo menos com certeza científica é: 
"0 praticante destes esportes, os mais perigosos e com probabilidade de 
morte iminente, deseja realmente morrer ou está desafiando a morte, para 
valorizar e gozar, com mais Intensidade, aquele intenso momento da sua 
Vida"? O que se busca, na verdade, é adrenalina ou a estricnina? 
OUTRA FALHA DE FREUD - Mais uma vez equivocado, FREUD admitia ser trabalho 
inftutífero tentar eliminar (ou atenuar) a agressivídade humana no intuito de evitar futuras guerras. 
"A inclinação à agressividade é uma disposiçio original, instintiva e que 
subsiste por seus próprios meios." 
BANDURA, 1973, informa que muitos psicanalistas não aderiram a esta posição de FREUD. 
Aceitar a existência inata de um programa de autodestruição do ser humano era algo inaceitável 
para muitos ... Apesar da opinião do respeitado e imortal eriador da Psicanálise. 
Talvez, de acordo com o que estamos vendo acontecer no mundo atual (2006) o eterno mestre da 
Psicanálise não estaria tão equivocado ... 
Na Declaração Sobre a Violência de Sevilha, em 1986, que foi redigida por vínte cientistas de 
renome mundial, pode-se encontrar a seguinte conclusão: 
"É incorreto em termos científicos dizer que temos uma tendência herdada para 
entrar em guerras ou para agir com violência. Este comportamento não está 
programado geneticamente na natureza humana·. 
"Nada há, em nossa neurofisiologia que nos obrigue a agir com violência". 
13 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
., 
FREUD sofreu, além deste, outros contundentes ataques em razão da noção inicial de motivação 
sexual infantil para os diversos transtornos neuróticos humanos. Há, ainda hoje, hipóteses conflitantes em 
discussão. Aliás, no mundo moderno, crescem exponencialmente as teorias que procuram explicar a origem 
dos comportamentos neuróticos, da agressividade, da violência, sem prenúncio de concordância ... 
2.a.2) OPINIÃO DOS ETOLOGISTAS. 
Os mais influentes etologistas (estudiosos do comportamento dos seres vivos) da época também 
concordam que a agressividade é inata, natural, entre os animais. 
Os etologistas admitem que existe, sem dúvidas, entre os irracionais, o instinto de lutar. 
Tentam, porém, estabelecer uma nítida linha demarcatória entre a agressividade apresentada pelos 
irracionais, notadamente nas épocas de acasalamento, ou em defesa de seus territórios, e a agressividade 
evidenciada entre os humanos (não seria violência?), não raras vezes, sem qualquer motivação aparente. 
OS DA MESMA ESPÉCIE NÃO SE MATAM - Os etologistas tentam mostrar que, entre os 
irracionais, durante uma encarniçada luta, existe um código de respeito mútuo entre os litigantes. 
Tão logo um dos animais envolvidos exiba os tradicionais sinais de que está vencido, expondo o 
pescoço, abaixando a cabeça em sinal de submissão, exibindo determinadas cores significativas de 
desistência, ou abandonando, fugindo, do local da contenda, o vencedor cessa a agressão e não o persegue 
para tentar agravar as lesões eventualmente existentes, ou mesmo para matá-lo (KONRAD WRENZ, 1966). 
DESISTIU? ENTÃO, ACABOU!- Tão logo o oponente demonstre qualquer sinal de que não irá 
mais lutar, que perdeu a luta, que desiste da lide, o vencedor deixa o vencido ir embora, demonstrando estar, 
aparentemente, satisfeito com o resultado obtido. 
É importante que se entenda que estamos discutindo o resultado das lutas entre animais da mesma 
espécie pela conquista de !emeas, território, alimentação etc. Normalmente, não há mortes ... 
Não é comum que o animal irracional, em condições normais, mate um outro, da mesma espécie. 
Uma pergunta intrigante nos perturba: como o animal consegue controlar-se 
para não matar o oponente vencido? 
Esta pergunta foi respondida por KONRAD LORENZ. 
SÃO MAIS PODEROSOS? SÃO MAIS CONTROLADOS - Numa teoria bastante aceita 
(LORENZ, 1966) informa que, quanto mais feroz e mais equipado com garras e presas poderosas; quanto 
mais preparado para matar, em razão de ganhos evolutivos, maiores serão os freios instintivos que o animal 
possuirá em relação a conduta de matar. Quanto mais poderoso, menos mata ... 
SÃO MAIS FRACOS? SÃO MENOS CONTROLADOS - Inversamente, ocorre no ser humano, 
que é um animal dotado de poucos potenciais lesivos em sua estrutura anatômica, eis que não possui garras e 
presas eficientes, não possuiria tais freios instintivos inibitórios tão fortes quanto os animais considerados 
ferozes. Sendo mais fracos, tendo menos habilidades, sempre que podem, matam mais ... 
E O SER HUMANO? - Esta falta de inibição, natural, tornaria o ser humano, embora frágil 
fisicamente, dotado de grande facilidade para liberar a agressividade inata existente. 
POSSUEM FREIOS INADEQUADOS - Portadores de inteligência privilegiada, e aptos a 
produzir a gama mais variada de armas idôneas para produzir lesões mortais, até mesmo em seus 
semelhantes, não dispondo de freios inibitórios tão poderosos como os existentes nos animais ferozes, pode-
se entender porque, biologicamente, os seres humanos matam sem necessidade, e com mais facilidade que o 
leão. É curioso perceber que o ser humano, sem motivo, ou por motivo fútil é capaz de matar um semelhante. 
CAPACIDADE INATA PARA ATACAR- Outros autores(?) admitiam que a agressão dos 
animais considerados ferozes decorreria de baixa capacidade para desencadear os impulsos agressivos e, 
conseqüentemente, iniciar o ataque aos outros animais. 
O ser humano, evolutivamente menos preparado anatomicamente para caçar, teria alta capacidade 
para liberar os instintos inatos de ataque. até mesmo aos semelhantes, desnecessariamente. 
POR QUE? - As razões pelas qnais o ser humano agride, infelizmente, são as mais variadas 
possíveis e, muitas vezes, sem qualquer razão que possa explicar o ataque, a violência, a morte ... 
EXCEÇÕES - Mais tarde veremos que, por exceção, existe o canibalismo (alimentar-se dos 
corpos de indivíduos da mesma espécie) entre inúmeras espécies animais, inclusive na espécie humana. 
CONTROVÉRSIA - Algnns autores (BARNETT, 1967, citado por BANDURA, em 1973) 
discordam desta teoria e dizem que o animal vencido só escapa porque ainda teve forças para fugir, do 
contrário, seria morto pelo oponente ... 
A maioria dos autores, porém, admite que a morte do animal da mesma espécie não é o objetivo da 
luta e, normalmente, não acontece. 
14 
·.LESÕES CORPQRAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
Se você acompanhar os excelentes documentários da NATIONAL GEOGRAPffiC perceberã que, 
terminada a luta, o animal vencido afasta-se um pouco do local da luta. O vencedor não continua a feri-lo, 
nem o persegue. Apenas não permite que ele volte ao território de onde estã sendo expulso, 
momentaneamente. 
Mais tarde, ultrapassado este momento crítico, podem voltar a conviver, pacificamente, no mesmo 
locaL sem aparentes ressentimentos ... 
MORTE ENTRE PREDADOR E PRESA -Evidentemente, quando dissemos que os animais 
irracionais não atacam para matar, não estãvamos analisando os casos em que estã em ação o predador diante 
de sua caça natural, a presa. 
Nestes casos, naturalmente, o caçador é obrigado a matar a sua caça. 
Entretanto, mesmo nestes casos, quando o predador consegue matar a sua presa, cessa 
imediatamente toda a ameaça que ele representa para os demais animais da espécie da presa que foi morta. 
O predador não mata sem absoluta necessidade de alimentação, ou seja, de sobrevivência. Se 
estiver bem nutrido, sem fome, saudãvel, pode passear, sem ameaça, entre suas inúmeras presas naturais. 
Satisfeitas as necessidades bãsicas, os animais convivem harmoniosamente, não apenas os de 
mesma espécie, como também os predadores e presas. 
MORTE NA MESMA ESPÉCIE - Entretanto, como jã dissemos, pode ocorrer, em situações 
especiais, que animais da mesma espécie matem uns aos outros. Isto pode acontecer, como exceção, na 
minoria das espécies animais. 
Este comportamento aparentemente anormal pode ocorrer em situações tfpicas e relacionadas à 
necessidade de alimentação ou com rituais de acasalamento e reprodução. 
Inúmeras espécies de artrópodes, entre os insetos, e de peixes, entre outros animais, devoram 
muitas de suas larvas e ftlhotes logo após o nascimento. Felizmente, para a espécie, a quantidade de larvas e 
filhotes é muito wande e os sobreviventes encarregam-se da perpetuação da espécie. 
UMA úNICA VEZ - Entre determinadas espécies de aranhas (?) as lemeas acasalam-se uma única 
vez durante a vida. Imediatamente após a recepção do esperma que a fecundarã pelo resto de sua existência, 
a lemea, maior e mais poderosa, devora o parceiro. 
Assim, geralmente, os machos desta espécie de aranhas só acasalam uma única vez na vida. Hã 
relatos de que, às vezes, excepcionalmente, o macho consegue escapar após a experiência sexual radical. 
Fora das situações descritas anteriormente, as mortes decorrentes das lutas entre animais da mesma 
espécie resultam das tentativas de preservação do território de sobrevivência e/ou da obtenção de alimento. 
Entre os grandes felinos, como o leão, não é raro que os adultos devorem os filhotes dos leões de 
uma outra família, embora da mesma espécie. 
Nestes casos, mais do que necessidade de alimentação, a morte é causada, principalmente, pela 
tentativa de preservação do território ameaçado pelos integrantes da outra família. (NATIONAL 
GEOGRAPffiC). 
TUBARÕES NO AQUÁRIO - Com certa freqüência, surpreendendo os estudiosos, os animais 
irracionais alteram seu comportamento habitual e praticam ações inusitadas. Recentemente tivemos noticia 
de que uma lemea de tubarão, colocada em um aquãrio, junto com outros tubarões, da mesma espécie, apesar 
da alimentação considerada satisfatória pelos veterinãrios que acompanhavam o desenvolvimento do grupo 
em cativeiro, começou a devorar os companheiros. Os estudos iniciais a respeito do caso indagam se a causa 
para o canibalismo inesperado poderia ser o espaço disponível no aquãrio, pequeno demais para a 
convivência pacífica do grupo de predadores. 
ESPAÇO E COMIDA- Em situações de confmamento e superpopulação, entre algumas espécies 
de mamíferos, o aparecimento do canibalismo, comportamento incomum no grupo em estudo, é uma forma 
de tentar manter o equilíbrio populacional no ecossistema. 
Seria a resposta para o caso dos tubarões acima? 
OCORRE COM RATOS - Existe uma clãssica experiência sobre crescimento populacional em 
ratos, criando-se um ambiente artificial no qual haveria excesso de população inicial e limitação de espaço 
disponível e de alimentação. 
Os animais foram confmados em determinado ambiente, e tiveram limitação da alimentação. A 
sobrevivência do grupo foi mantida através do aparecimento de intenso canibalismo e acentuada redução nos 
níveis de fertilidade das lemeas. 
OCORRE COM GENTE- Em um interessante artigo, no editorial do jornal "O Globo", no dia 09 
de dezembro de 2.002, afirmava-se que as prisões brasileiras, com a sua estrutura inadequada e com 
superpopulação de presos, eram verdadeiras "bombas-relógio" prontas para explodir em rebeliões 
15 
LESÕES CORPQRAIS E DELITOS COJmELATOS ROBERTO BLANCO 
sangrentas, com inúmeras mortes entre os detentos. Evidente que no interior da prisão não ocorria o 
canibalismo, mas a luta pelo escasso território disponível, era inevitável. 
O ACIDENTE NOS ANDES - Uma situação de intensa dramaticidade envolveu os sobreviventes 
da queda de um avião nos Andes. Sem qualquer fonte de alimento disponível, eis que estavam em meio ás 
geleiras andinas, os sobreviventes lograram escapar comendo partes dos cadáveres dos companheiros. O 
assunto comoveu e dividiu as opiniões da população mundial à época. 
MORTE E CANlBALISMO NAS CAVERNAS - Gostaria de apresentar a síntese de um relato 
que serve de base para discussões morais e jurídicas em Direito Penal. Qual seria a melhor solução para o 
caso que envolveu assassinato, e conseqüente canibalismo, ocorrido entre os exploradores que, após um 
acidente, ficaram isolados, sem previsão de socorro, em uma caverna? 
Para que não morressem de fome, situação prevista por todos, considerando as condições em que 
estavam, decidiram, através de sorteio, que um deles seria morto, e o cadáver seria a fonte de alimento dos 
demais. Esta alternativa, na opinião dos envolvidos, lhes proporcionaria mais algum tempo de sobrevida, na 
esperança de que o resgate dos sobreviventes ainda pudesse acontecer. 
O socorro, eficiente, chegou logo após a morte do companheiro, conforme a decisão aceita por 
todos. Temos, no caso, manifestação de agressividade, ou violência, no comportamento dos sobreviventes? 
Estamos diante de criminosos perversos? Qualquer um, nas mesmas condições, faria a mesma coisa? 
O que você faria na mesma situação? 
Para maior conhecimento a respeito das contradições da conduta humana nestas circunstâncias leia 
o Caso dos Exploradores Das Cavernas. 
Este pequenino Iivreto contém poucas páginas, mas é capaz de provocar muita reflexão. 
FATORES ESTIMULANTES DA AGRESSIVIDADE- Ruídos repetitivos, de 
alta freqüência e intensidade, calor excessivo, bebidas alcoólicas, ou de efeitos análogos, drogas 
psicotrópicas, são alguns fatores exógenos estimulantes da agressividade. 
Repetidas frustrações, constantes provocações, desejo de vingança, necessidade de recompensa ou 
punição, resultado de reforços positivos, ou negativos provenientes do meio ambiente podem desencadear a 
explosão de agressividade. 
Mensagens veiculadas através de filmes e peças teatrais, participação em determinados esportes, 
efeitos colaterais causados pela estimulação constante da televisão, cinema, rádio, jornais e revistas, são 
estimulos perigosos que decorrem da atividade cultural do indivíduo. 
A convivência com grupos de comportamento rebelde, presença de multidões, necessidade de 
integração tribal etc. são outros fatores que também devem ser considerados por ocasião da análise de um 
comportamento humano considerado agressivo. 
Entretanto, ainda segundo KONRAD LORENZ e ROBERT ARDREY, in "A ARTE DA 
FELICIDADE", assinado pelo DALAI LAMA, página 64, aprende-se: 
" ••• os seres humanos eram, também, predadores como os demais animais, 
providos de um Impulso inato ou Instintivo de lutar por um território". 
(!!) O RISO DO SER HUMANO - Uma outra curiosidade nos ocorre neste momento; o ser 
humano é o único animal que ri (mostra os dentes) como sinal de amizade, simpatia ou prazer. 
Os demais animais, os irracionais, quando mostram os dentes, estão sinalizando perigo, 
probabilidade de ataque imediato, mesmo que seja em meio às "lutas de brincadeira". 
Cuidado, portanto, com os grandes sorrisos humanos, aparentemente sem explicação. Os dentes à 
mostra podem significar, em análise filogenética, o prenúncio do ataque iminente! 
MORDENDO SUAVEMENTE -Já observou o que acontece quando você está brincando com o 
seu cão de estimação, rolando com ele pelo chão, como se estivessem lutando? Notou como o animal rosna e 
mostra os dentes? 
Ele está brincando com você, mas certamente, não está sorrindo: prepare-se para ser atacado e 
mordido, mesmo que seja de brincadeira, suavemente ... 
Observe o que acontece quando a sua cadelinha de estimação, sempre tão dócil e carinhosa, está 
amamentando os ftlhotes e você chega muito perto, mesmo que seja para acariciá-la ... 
Já percebeu que você trouxe um osso para casa e o entregou para a sua cadelinha de estimação. De 
posse do osso, a mesma leva-o para um canto mais reservado e cuida dele como se fosse um filhote? Em 
certos casos pode, até mesmo, desenvolver as glândulas mamárias demonstrando uma gravidez psicológica? 
E se você, nestas circunstâncias, descuidadamente chegar perto ... GGGGRRRRR!!!!! 
Dentes à mostra, portanto, nem sempre significam sinal de amizade! Cuidado com o riso! 
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LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
(##) 2.a.3) ASPECTOS CROMOSSOMIAIS- TENTE LER GENÉTICA FORENSE rsrsr 
Os trabalhos a respeito de Antropologia Criminal que foram discutidos amplamente pelo médico 
italiano CESARE LOMBROSO em sua obra clássica, "L'HOMMO DELINQUENTE", (bibliografia), 
procuravam mostrar que a criminalidade era inata ao ser humano. Mais tarde, ainda em vida, o ilustre médico 
foi severamente contestado, e chegou a reformular algumas de suas opiniões. 
A idéia básica, entretanto, a criminalidade inata, ainda permanece na mente de muitos estudiosos 
da Criminologia. E você, como pensa e reage ao encontrar, na rua, à noite, aquele homem, com determinados 
traços antropológicos que, naturalmente, nlio se encaixam no seu padrão de normalidade? "Lombrosiou"? rs 
Geneticamente, segundo aqueles que ainda consideram a origem inata da agressividade, há teorias 
que identificam a fonte primordial do comportamento agressivo nos cromossomos. 
TESTOSTERONA E CROMOSSOMO Y - Chegou-se, inclusive, a admitir que a simples 
presença do cromossomo "Y", masculinizante, e responsável pela presença de hormônios masculinos, como 
a testosterona, seria um dos fatores determinantes da maior agressividade dos homens sobre as mulheres. 
EQUÍVOCO CIENTÍFICO - Em conclusão "científica", que mais tarde foi considerada 
equivocada, chegou-se a admitir que os indivíduos 'TIY", ou seja, aqueles homens que possuíssem um 
cromossomo '<y" a mais seriam, potencialmente, criminosos violentos (JACOBS, BRUNTON e 
MELVILLE, 1965). Nestes casos, nos indivíduos com duplo Y, nlio há excesso de Testosterona. 
UM FILME CURIOSO - Na década de 70 o tema da agressividade resultante de fatores 
cromossomiais foi abordado em um filme de ficção que discutia agressividade e criminalidade relacionadas a 
um cromossomo Y extra no cariótipo humano. Se tiver coragem, consulte Genética Forense no final. 
Como curiosidade pedagógica assista (será possível?) "O GATO DE NOVE CAUDAS" e tente 
analisar o que é causa e o que é efeito quando se trata de gênese da criminalidade. 
Em 1973, JARVIK, KLODIN e MATSUYAMA, publicaram um trabalho a respeito do mesmo 
assunto: "AGRESSÃO HUMANA E O CROMOSSOMO Y EXTRA (47, XYJ?: FATO OU FANTASIA?" 
CONCLUSÃO ATUAL - Hoje, a hipótese de que o cromossomo "Y" extra (47, XYY) seria 
responsável pela existência de potencialidade criminosa está, definitivamente, ultrapassada. 
Os resultados controversos obtidos nas pesquisas iniciais deveram-se às falhas metodológicas 
aplicadas nos estudos realizados. 
DÚVIDAS - Simples falha da ciência ou manipulação de resultados? Será que 
manipulam resultados de suas laboratoriais? Será? E fariam 
Quando interesses econômicos estilo em jogo, 
científicas da credibilidade 
SE TIVER CORAGEM, REPITO, CONSULTE GENÉTICA FORENSE NO FINAL DESTE 
FASCÍCULO. 0 TEMA É DIFÍCIL, MAS MUITO INTERESSANTE. r-C_O_LE_T_A_D_E_C_É_L_UL_A_S--, 
, ·· --- - --t~~.•o:=-_o~c:4W.~--- - ---- -~-
' .·..,.:-.· : .... ',. , ....._ • ..., DA MUCOSA BUCAL 
PARA PESQUISA DA 
CROMATINA SEXUAL u••m•DI'! 
.. nxfti··.·. 
DE BARR. TRATA-SE 
DE CROMOSSOMO X. 
ABAIXO, ESQUEMA DA 
SÍNDROME DO DUPLO 
YESUAS 
POTENCIALIDADES. 
17 
LESÕES CORPORAIS E DELITOS CORRELATOS ROBERTO BLANCO 
(##) 2.a.4) ASPECTOS HORMONAIS 
NOS IRRACIONAIS - Outro aspecto que não pode ser esquecido em se tratando do estudo da 
agressividade e da violência é a predominância da ação hormonal na atividade dos animais irracionais, 
notadamente nas épocas de reprodução. 
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO - Sabemos que neste interessante momento da vida dos 
animais considerados irracionais o comportamento biológico é extremamente diferente daquele observado 
fora do período do cio ou estro. 
Todos conhecemos o poder dos 'ferormônios" (hormônios dos animais) e os seus efeitos nas 
alterações do comportamento dos animais irracionais, vertebrados e invertebrados. Já tentou conter um cão 
ue se a roxima de uma cadela no cio? Já entendeu como é ue ele sabe disso? E viva o olfato! 
Quando você não percebe que a sua "amiga" tem algum interesse maior em você, talvez seja hora 
de consultar um médico. Será que você está com o nariz entupido? rsrsrsrs 
NOS HUMANOS - Na espécie humana, porém, salvo as situações em que determinados 
hormônios são introduzidos artificialmente, e excessivamente, no organismo, não há mudanças significativas 
do comportamento humano nos períodos de atividade sexual e fertilidade. 
Deve-se considerar que, fisiologicamente, a maior ou menor presença de determinado hormônio no 
organismo animal dependerá, inicialmente, do patrimônio genético em ação no indivíduo. 
Secundariamente, entidades mórbidas (doenças) podem, também, alterar os níveis hormonais e, 
consequentemente, o comportamento do indivíduo em estudo. 
HORMÔNIO OU AMBIENTE? - Em se tratando de seres humanos, porém, de um 
modo geral, o componente hormonal não é tão significativo na alteração do 
comportamento quando comparado ao efeito nocivo do ambiente social. 
Há, no entanto, possibilidade de modificação de imputabilidade em razão de alteração do 
comportamento humano determinado por efeitos hormonais. 
TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL - Como exemplo, apenas para discussão pedagógica, veja o caso 
de ilícitos cometidos por mulheres sob o efeito da tensão pré-menstrual (TPM). 
HIPERTIREOIDISMO - Não devemos esquecer, também, dos intensos transtornos psíquicos 
que podem ser provocados pelo hipertireoidismo (excesso de atividade da glândula tireóide ). 
Insônia, distúrbios menstruais, intensa irritabilidade, desconfiança persistente, labilidade 
emocional, tremores nas mãos, ondas de calor pelo corpo, excesso de apetite, inquietação, enf'un, todas essas 
alterações podem tornar a paciente confusa, agressiva e potencialmente perígosa, mesmo em família. 
OUTRAS ALTERAÇÕES GLANDULARES - Ainda, devemos considerar as alterações 
decorrentes de distúrbios do eixo hipotálamo-hipofisário que podem repercutir, de modo variado, em outras 
glândulas secretoras de hormônios. 
O hipotálamo produz determinados hormônios estimulantes e os envia para a hipófise. 
O hipotálamo é uma importante região localizada no interíor do encéfalo, mais precisamente, na 
base do cérebro. O hipotálamo relaciona o cérebro com outras regiões do encéfalo. 
A hipófise ou pituitária é uma glândula ligada à base do cérebro e que se localiza em uma pequena 
reentrância óssea situada na base do crânio, no osso esfenóide, na sela turca. 
As alterações hormonais hipotálamo-hipofisárías, por sua vez, podem alterar, de forma mais ou 
menos temporáría, o metabolismo fisico e psíquico da paciente. Nestas circunstâncias, sob a ação anormal 
destes hormônios, o (a) paciente pode cometer atos comprometedores, agressivos, eventualmente criminosos 
que, normalmente, talvez não fossem praticados. 
MODIFICANDO A IMPUTABILIDADE -Assim, podemos

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