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Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral Julgados do Ministro Aldir Passarinho Junior Superior Tribunal de Justiça MINISTROS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL Volume 7 JULGADOS DO MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR 1ª edição Brasília STJ 2011 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ministro Francisco Falcão Marcos Perdigão Bernardes Andrea Dias de Castro Costa Eloame Augusti Gerson Prado da Silva Jacqueline Neiva de Lima Maria Angélica Neves Sant’Ana Fagno Monteiro Amorim Cristiano Augusto Rodrigues Santos Diretor Chefe de Gabinete Servidores Técnico em Secretariado Mensageiro GABINETE DO MINISTRO DIRETOR DA REVISTA Gabinete do Ministro Diretor da Revista Setor de Administração Federal Sul (SAFS) Q. 6 - Lote 1 - Bloco C - 2º andar - sala C-240 CEP 70095-900 - Brasília-DF Telefone (61) 3319-8003 - Fax (61) 3319-8992 www.stj.jus.br, revista@stj.jus.br B823j Brasil. Superior Tribunal de Justiça (STJ). Julgados do Ministro Aldir Passarinho Junior. – – Brasília : STJ, 2011. 544 p. – (Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral / v. 7) ISBN 978-85-7248-134-2. 1. Julgamento, coletânea, Brasil. 2. Tribunal superior, jurisprudência, Brasil. 3. Decisão judicial, Brasil. 4. Brasil. Superior Tribunal de Justiça. 5. Brasil. Tribunal Superior Eleitoral. I. Título. II. Série. CDU 347.992(81) Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral Ministro Francisco Falcão Diretor da Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PLENÁRIO Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º. RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23. Ministro Ari Pargendler Ministro Felix Fischer Ministro Cesar Asfor Rocha Ministro Gilson Dipp Ministra Eliana Calmon Ministro Francisco Falcão Ministra Nancy Andrighi Ministra Laurita Vaz Ministro João Otávio de Noronha Ministro Teori Albino Zavascki Ministro Castro Meira Ministro Arnaldo Esteves Lima Ministro Massami Uyeda Ministro Humberto Martins Ministra Maria Th ereza de Assis Moura Ministro Herman Benjamin Ministro Napoleão Maia Filho Ministro Sidnei Beneti Ministro Jorge Mussi Ministro Og Fernandes Ministro Luis Felipe Salomão Ministro Mauro Campbell Marques Ministro Benedito Gonçalves Ministro Raul Araújo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino Ministra Isabel Gallotti Ministro Antonio Carlos Ferreira Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva Ministro Sebastião Reis Júnior Presidente Vice-Presidente Diretor-Geral da ENFAM Corregedora Nacional de Justiça Diretor da Revista Corregedor-Geral da Justiça Federal SUMÁRIO I - Ministro Aldir Passarinho Junior - Perfil 11 II - Jurisprudência Abuso do Poder Econômico ou Político 13 Condutas Vedadas aos Agentes Públicos 109 Crimes Eleitorais 117 Desincompatibilização 151 Filiação Partidária 161 Inelegibilidade 187 Prestação de Contas Públicas 255 Processual 295 Propaganda Eleitoral 445 Registro de Candidatura 479 III - Índice Analítico 525 IV - Índice Sistemático 535 V - Siglas e Abreviaturas 539 MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR Quando cheguei ao Superior Tribunal de Justiça, nos idos de 1999, encontrei o também jovem Aldir Passarinho Junior que, um ano antes de mim, foi alçado ao cargo de ministro daquela Corte, vindo do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O Ministro Aldir Passarinho Junior sempre foi um menino prodígio, para orgulho de sua querida mãe Yesis, advogada com alma de educadora, e de seu querido pai, o Ministro Aldir Passarinho, aposentado do Supremo Tribunal Federal. Casal culto e de rara sabedoria, souberam eles muito bem introduzir o fi lho Aldir no mundo jurídico, repassando-lhe os seus altos conhecimentos que, por sua vez, foram muito bem apreendidos e utilizados. Deveras, o Ministro Aldirzinho, como é carinhosamente chamado por seus pares, sempre foi exemplo de homem público e um magistrado com grande senso de justiça. A sua preocupação jamais foi defender o seu ponto de vista, mas, antes, divergir de modo a aprofundar-se nos debates, visando à melhor solução possível dos casos que julgara. E foi assim, com humildade, serenidade e equilíbrio de espírito que Ministro Aldir conquistou a todos quantos com ele conviveram no STJ. A sua aposentadoria voluntária em 18 de abril de 2011 foi muito sentida, não somente por sua notória educação, sensatez, cordialidade e elegância, mas também em razão de sua inegável inteligência e contribuição intelectual para a Corte hoje conhecida como “Tribunal da Cidadania”. O Ministro Aldir Passarinho Junior passou mais de 12 anos como membro da 2ª Seção, tendo apresentado inúmeras teses que fl oresceram e orgulham o mundo do direito privado brasileiro. É de se lamentar a sua aposentadoria precoce, mas, como já adiantei, o Ministro Aldir Passarinho Junior sempre foi um prodígio, de modo que nos resta apenas reconhecer o seu grande valor humano e profi ssional e aceitar o fato de que a vida é mesmo um processo contínuo e que as grandes alegrias vêm do exercício da curiosidade, do ultrapassar barreiras e do vencer desafi os. Tenho a convicção de que o Ministro Aldir deixou o Superior Tribunal de Justiça para cumprir a sua missão de continuar encantando as pessoas com sua gentileza e construindo novos paradigmas com sua competência ímpar. Ministro Francisco Falcão Diretor da Revista Abuso do Poder Econômico ou Político EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 37.250 (43527-81.2009.6.00.0000) – CLASSE 32 – RONDÔNIA (Ji-Paraná) Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior Embargantes: José Vanderlei Nunes Fernandes e outro Advogados: Reginaldo Vaz de Almeida e outros Embargado: Ministério Público Eleitoral EMENTA Embargos de declaração. Decisão unipessoal. Efeito infringente. Recebimento. Agravo regimental. Recurso especial. Eleições 2008. Abuso de poder político e de autoridade. AIJE. Julgamento de procedência antes da diplomação. Cassação do registro. Efeito imediato. Possibilidade. Benefi ciário da conduta. Agravo não provido. 1. “Recebem-se como agravo regimental os embargos declaratórios, com pretensão infringente, opostos contra decisão monocrática” (ED-AI n. 12.113-CE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 11.05.2010). 2. O julgamento de procedência da AIJE anterior à diplomação dos eleitos gera a cassação do registro de candidatura, independentemente de seu trânsito em julgado (AgR-AI n. 10.963- MT, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 04.08.2009; AgRg-MS n. 3.567-MG, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de 12.02.2008). 3. Embora não fosse agente público, o recorrente foi benefi ciário direto da conduta abusiva de seu irmão, servidor da Funai, que agindo nessa qualidade desequilibrou e comprometeu a legitimidade do pleito. É o quanto basta para a confi guração do abuso de poder político com a cassação de seu registro de candidatura, tal como previsto no art. 22, XIV, da LC n. 64/1990. 4. Conforme jurisprudência do e. TSE, “o abuso de poder pode ser apurado tanto em relação ao benefi ciário como em relação ao autor, porquanto o que se busca preservar é a lisura do pleito” (AAG 16 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político n. 7.191-BA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 26.09.2008). 5. Agravo regimental a que se nega provimento. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em receber os embargos de declaração como agravo regimental e o desprover, nos termos das notas taquigráfi cas. Brasília, 1º de junho de 2010. Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator DJe 03.08.2010 RELATÓRIO O Sr. Ministro Aldir PassarinhoJunior: Senhor Presidente, José Vanderlei Nunes Fernandes, candidato ao cargo de Vereador pelo DEM no Município de Ji-Paraná-RO, opôs embargos de declaração (fl s. 437-442) em desfavor de decisão unipessoal (fl s. 426-443) que negou seguimento ao recurso especial por não vislumbrar violação ao art. 22, XV, da LC n. 64/1990, ou a ocorrência de dissídio jurisprudencial. A decisão embargada foi proferida nos seguintes termos: (...) Relatados, decido. O apelo não merece provimento. O recorrente aponta violação ao art. 22, XV, da LC n. 64/1990, além de divergência jurisprudencial, sob a alegação de que o julgamento de procedência da AIJE teria ocorrido após a diplomação dos eleitos. Assim, não seria hipótese de cassação de seu registro de candidatura, mas de remessa de cópia dos autos ao Parquet para 17 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior eventual instauração de Recurso contra Expedição de Diploma (RCED) ou Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME). Sem razão o recorrente, uma vez que o v. acórdão regional é expresso ao consignar que a sentença de procedência da AIJE foi proferida em 17.12.2008 e a diplomação dos eleitos em 30.12.2008 (fl . 316-v). Assim, considero correta a conclusão do v. acórdão regional, porquanto proferida conforme a jurisprudência do e. TSE: (...) Nos termos da jurisprudência mais recente do Tribunal Superior Eleitoral, a cassação do registro é possível quando o julgamento de procedência da ação de investigação judicial eleitoral ocorre até a data da diplomação, e não apenas até a proclamação dos eleitos, como antes se entendia (RO n. 1.362-PR, Rel. Min. José Gerardo Grossi, DJe de 06.04.2009). (AgR-AI n. 10.963-MT, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 04.08.2009). Adoção de entendimento contrário visando a afastar a data de ocorrência da diplomação, tal como consignada no v. acórdão regional, encontra óbice na Súmula n. 7-STJ. O recorrente assevera, ainda, que a cassação do registro estaria condicionada a ocorrência do trânsito em julgado da AIJE em momento anterior à diplomação dos eleitos. Ocorre que tal alegação encontra-se divorciada da jurisprudência desta c. Corte Superior: Execução imediata da condenação na AIJE. Possibilidade, caso o julgamento ocorra antes da diplomação. Precedente recente do RO n. 1.362-PR. (AgR-AI n. 10.969-MT, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 04.08.2009). (...) 3. A regra constitucional que garante ao cidadão não sofrer nenhuma conseqüência de ordem penal, cuja imposição dependa de juízo defi nitivo de culpabilidade, não pode ser aplicada, em toda sua extensão, em matéria eleitoral, uma vez que fi caria totalmente comprometida a efi cácia das decisões judiciais eleitorais, caso houvesse que se aguardar o trânsito em julgado, levando-se em conta a limitação 18 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político temporal dos mandatos eletivos. (REspe n. 25.215-RN, Rel. Min. Caputo Bastos, DJ de 09.09.2005) O c. TSE tem compreendido que, no caso de procedência da Ação de Investigação Judicial Eleitoral, somente a pena de inelegibilidade tem sua execução condicionada ao trânsito em julgado da decisão. Nesse sentido, cito trecho do voto do e. Min. Cezar Peluso no AgRg- MS n. 3.567-MG, DJ de 12.02.2008: (...) Esta Corte tem reafi rmado que, em hipóteses de ação de investigação judicial eleitoral, se deve aguardar o trânsito em julgado da decisão para que se lhe proceda à execução. Mas esse entendimento limita-se aos casos de ação de investigação judicial eleitoral que trate de inelegibilidade. Nessas hipóteses, a Corte tem por aplicável o art. 15 da Lei Complementar n. 64/1990, o qual determina que a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato apenas surtirá efeito após seu trânsito em julgado. Confi ram-se os Acórdãos n. 25.765, de 29.06.2006, Rel. Min. Carlos Ayres Britto; n. 3.275, de 17.05.2005, Rel. Min. Carlos Madeira; e n. 3.278, de 24.02.2005, Rel. Min. Peçanha Martins. O recorrente ainda assevera que os arts. 128, 293 e 460 do CPC teriam sido violados, pois ausente pedido de cassação do seu registro de candidatura. Quanto ao tema, o e. TRE-RO arrematou que, a despeito da ausência de pedido expresso nesse sentido, “a cassação do registro de candidatura é consequência direta por força da lei (art. 22, XIV, LC n. 64/1990)”. O v. acórdão regional não merece retoques, uma vez que converge com a jurisprudência desta c. Corte Superior. Confi ra-se: (...) 3. A decretação de inelegibilidade constitui sanção prevista no art. 22, XIV, da LC n. 64/1990, sendo perfeitamente cabível quando a causa de pedir reside na prática de abuso do poder político, não fi cando caracterizado, in casu, o julgamento extra petita. (REspe n. 35.980-MG, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 22.03.2010). 19 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Certo também que o réu se defende dos fatos que lhe são imputados e não de sua qualifi cação jurídica, logo, a ausência de pedido expresso na petição inicial não viola o princípio da congruência. Confi rmo: (...) 6. Não houve violação aos arts. 128, 460, 512 e 513, do CPC, ou reformatio in pejus, alegada em função da ausência de pedido expresso sobre a decretação de inelegibilidade na petição inicial, pois o réu se defende dos fatos que lhe são imputados. A primeira página da petição inicial menciona a prática de abuso de poder econômico, o que, nos termos do art. 1º, I, da LC n. 64/1990, conduz à decretação de inelegibilidade. (REspe n. 28.395-PR, Rel. Min. José Delgado, DJ de 09.11.2007). (...) Os limites do pedido são demarcados pela ratio petendi substancial, vale dizer, segundo os fatos imputados à parte passiva, e não pela errônea capitulação legal que deles se faça. (Ag n. 3.066-MS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 17.05.2002). Como bem destacou o e. Min. Arnaldo Versiani no ED-RO n. 1.447-AP, DJe de 14.09.2009: (...) O pedido, em se tratando de processo eleitoral, há de ser interpretado sempre como solicitação da aplicação das sanções legais, independentemente de maior rigor quanto à especifi cidade de qualquer uma delas, cassação, multa, inelegibilidade, e outras. De outro giro, o recorrente afi rma que não havendo recurso específi co do Ministério Público Eleitoral, não poderia o e. TRE- RO alterar o conteúdo da condenação de primeira instância, que reconheceu a prática de abuso do poder econômico e político, vindo a reconhecer apenas a prática de abuso do poder político. Assim decidindo, o v. acórdão regional padeceria de nulidade. Sucede que, no ponto, não existe interesse recursal, pois a redução do campo de incidência da norma eleitoral implicou conclusão mais benéfi ca ao ora recorrente. 20 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político Alega-se, também, violação ao art. 22, XIV, da LC n. 64/1990, além de divergência jurisprudencial, sob o entendimento de que, não sendo exercente de cargo ou função pública, descabe sua condenação nas penas de abuso do poder político. Embora o recorrente, de fato, não fosse agente público, benefi ciou- se da prática de abuso de poder político do irmão, servidor da Funai, desequilibrando e compromentendo a legitimidade do pleito. Logo, a decisão recorrida revela-se em consonância com a jurisprudência do e. TSE no sentido de que “o abuso de poder pode ser apurado tanto em relação ao benefi ciário como em relação ao autor, porquanto o que se busca preservar é a lisura do pleito” (AAG n. 7.191-BA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 26.09.2008). Nesse mesmo sentido, cito o seguinte precedente: (...) 2. A caracterização de abuso do poder político depende da demonstração de que a prática de ato da administração, aparentemente regular, ocorreu de modo a favoreceralgum candidato, ou com essa intenção, e não em prol da população. (RCED n. 642-SP, Rel. Min. Fernando Neves, DJ de 17.10.2003). Quanto à aventada divergência jurisprudencial, o recurso não é passível de conhecimento, uma vez que o recorrente não logrou demonstrar a existência do alegado dissídio, deixando de proceder ao devido cotejo analítico entre a tese das decisões tidas por paradigmas e o entendimento adotado pela decisão impugnada. Por fi m, quanto à negativa genérica de inexistência do abuso de poder, o e. TRE-RO, soberano na análise de fatos e provas, assim consignou no v. acórdão recorrido (fl s. 321/v-322/v): Com efeito, consta demonstrado nos autos que Vicente Batista manipulou os indígenas a votarem em seu irmão- candidato, valendo-se de diversos artifícios. Primeiro se valeu de sua infl uência pessoal junto aos índios e caciques das tribos, prerrogativa essa auferida, em especial, pelo cargo que ocupa na Funai. Vale acrescentar nesse aspecto que a instituição, além de suas atribuições afetas 21 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior aos índios, também transportava os índios para votarem (fl s. 116-117). Com esse acesso privilegiado aos índios e contando com a estrutura e facilidades que a função lhe proporcionava, fez visitas nas tribos, acompanhado de seu irmão candidato, José Vanderlei, e fi rmou compromisso eleitoral em benefício deste, conforme relatou com clareza o Cacique Catarino e o fi lho deste Josia Sebirop. Para que a infl uência tivesse a máxima potencialidade, foram engendradas medidas indispensáveis para o sucesso do induzimento indevido dos índios. Inicialmente buscaram impedir que outros candidatos pudessem desfazer a infl uência que tinham realizado junto aos índios. Para tanto, foram espalhados cartazes e santinhos exclusivos de José Vanderlei nas tribos e contaram com o Cacique Catarino para proibir que outros candidatos falassem com os índios no sentido de fazerem campanha. Em seguida, na véspera das eleições, foi utilizado um simulacro de urna eletrônica para treinamento prévio dos indígenas, sendo que alguns já treinavam o voto com os santinhos de José Vanderlei. Para a garantia da infl uência, foi escrito na lousa, que fi cava na sala de votação, o nome e número de José Vanderlei, sendo que a cabine de votação fi cava de fronte ao que estava escrito. Não bastasse tudo isso, para que os votos da tribo não fossem perdidos por difi culdades na hora de votar, um índio adolescente fi cou ao lado da cabine de votação e auxiliou os índios mais velhos a digitar na urna eletrônica. A infl uência nos índios foi tamanha que o boletim de urna anexado à fl . 18 indica o comparecimento de 176 votantes, sendo que desse total 168 votos foram destinados a José Vanderlei. Veja-se que esse induzimento indevido aos índios, ocorrido em razão do abuso de poder político perpetrado por Vicente Batista, tinha o inteiro conhecimento e participação de José Vanderlei, conforme pode se extrair das provas dos 22 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político autos. Em várias passagens dos depoimentos, José Vanderlei foi citado em companhia de seu irmão Vicente Batista visitando as tribos indígenas, sobretudo nos dias anteriores ao pleito eleitoral. O abuso de poder político em afronta ao art. 73, inciso III, da Lei n. 9.504/1997, fi ca claro em trechos, por exemplo, em que, valendo-se de sua chefi a na Funai, Vicente Batista proíbe que outros candidatos façam campanha junto aos índios. Nota-se que o e. Tribunal de origem entendeu que, no caso, houve a prática da conduta abusiva e, efetivamente, consoante os fatos descritos no acórdão, há. Para se chegar a diferente conclusão, ter-se-ia, aí sim, de reexaminá-los para um novo delineamento da moldura fática, o que é impossível a esta Corte, nos termos da Súmula n. 7-STJ. Ante o exposto, nego seguimento ao recurso especial, com base no art. 36, § 6º, do RI-TSE. Nas razões dos declaratórios aponta os seguintes vícios: a) a v. decisão embargada padece de omissão porque não teria defi nido o termo a partir do qual o julgamento de procedência da AIJE geraria o efeito de cassação do registro de candidatura: se da sentença, do acórdão ou do trânsito em julgado; b) ao concluir que a cassação do registro de candidatura não se vincula ao trânsito em julgado da decisão de procedência da AIJE, a v. decisão embargada deixou de apontar quais seriam os precedentes da jurisprudência dominante do e. TSE ou o dispositivo legal de amparo à mencionada tese; c) também não foi citado o dispositivo legal ou a jurisprudência dominante no sentido de que a pena de cassação de registro independe de pedido expresso; d) ao considerar que o efetivo exercício de cargo ou função pública não seria elemento essencial na confi guração de abuso do poder político, a v. decisão embargada carece de fundamento legal e de entendimento jurisprudencial específi co sobre o tema; 23 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior e) “o embargante está sendo acusado de ter praticado abuso de poder político sem que lhe tenha sido aberta oportunidade para se defender a respeito de tal fato” (fl . 441); Requer, ao fi nal, a complementação da decisão embargada e a suspensão do prazo do agravo regimental. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Senhor Presidente, primeiramente, verifi co que eventual acolhimento da pretensão deduzida nesses embargos declaratórios implicaria a atribuição de efeitos modifi cativos ao julgado, razão pela qual é cabível a sua apreciação como agravo regimental. Conforme jurisprudência desta Corte, recebem-se como agravo regimental os embargos declaratórios, com pretensão infringente, opostos contra decisão monocrática (ED-AI n. 12.113-CE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 11.05.2010). Entretanto, a irresignação não merece prosperar. O julgamento de procedência da AIJE em momento anterior à diplomação dos eleitos gera a cassação do registro de candidatura, independentemente de seu trânsito em julgado. Firme nesse entendimento, a v. decisão agravada tem espeque na jurisprudência predominante do e. TSE. (AgR-AI n. 10.963-MT, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 04.08.2009; REspe n. 25.215-RN, Rel. Min. Caputo Bastos, DJ de 09.09.2005). Também segue entendimento jurisprudencial dominante a conclusão de que “o pedido, em se tratando de processo eleitoral, há de ser interpretado sempre como solicitação da aplicação das sanções legais, independentemente de maior rigor quanto à especifi cidade de qualquer uma delas, cassação, multa, inelegibilidade, e outras.” (ED-RO n. 1.447- AP, Rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe de 14.09.2009). De outro giro, verifi co que, embora o recorrente não ostentasse a qualidade de agente público, foi benefi ciário direto da conduta abusiva 24 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político de seu irmão, servidor da Funai, que desequilibrou e comprometeu a legitimidade do pleito. É o quanto basta para a confi guração de abuso do poder político com a cassação do registro de candidatura de que trata o art. 22, XIV, da LC n. 64/1990. Conforme jurisprudência do e. TSE, “o abuso de poder pode ser apurado tanto em relação ao benefi ciário como em relação ao autor, porquanto o que se busca preservar é a lisura do pleito” (AAG n. 7.191-BA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 26.09.2008). Por fi m, a alegada impossibilidade de defesa pela prática de abuso do poder político não merece conhecimento, pois constitui inovação recursal (AgR-REspe n. 35.095-SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJe de 14.04.2010). Ante o exposto, recebo os embargos de declaração como agravo regimental e nego-lhe provimento,ratifi cando a decisão agravada. É como voto. RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N. 661 (34712- 03.2006.6.00.0000) – CLASSE 21 – SERGIPE (Aracaju) Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior Recorrente: Ministério Público Eleitoral Recorrido: Marcelo Déda Chagas Advogados: José Rollemberg Leite Neto e outros Recorrido: Belivaldo Chagas Silva Advogado: José Carlos Felizola Soares Filho EMENTA Recurso Contra Expedição de Diploma. Preliminares. Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Improcedência. Identidade de fatos. 25 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Rediscussão. Possibilidade. Incorporação do partido autor por outro. Desistência. Homologação. Polo ativo. Ministério Público Eleitoral. Assunção. Partido Político. Litisconsórcio passivo necessário. Inexistência. Mérito. Propaganda institucional. Desvirtuamento. Abuso de poder político. Inaugurações de obras públicas. Apresentações musicais. Desvio de fi nalidade. Potencialidade. Não comprovação. Desprovimento. 1. O Recurso Contra Expedição de Diploma e a Ação de Investigação Judicial Eleitoral são processos autônomos, com causas de pedir e sanções próprias, razão pela qual a procedência ou improcedência dessa não é oponível àquele. Precedentes. 2. A desistência manifestada pelo recorrente no Recurso Contra Expedição de Diploma não implica extinção do feito sem resolução do mérito, tendo em vista a natureza eminentemente pública da matéria. Na espécie, o recorrente originário, o Partido dos Aposentados da Nação (PAN), foi incorporado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que requereu a desistência da ação. O pedido foi homologado por esta Corte e o Ministério Público Eleitoral assumiu a titularidade da ação. 3. Não há litisconsórcio passivo necessário entre os titulares do mandato eletivo e os respectivos partidos políticos em Recurso Contra Expedição de Diploma, pois o diploma é conferido ao eleito e não à agremiação partidária, que tem prejuízo apenas mediato na hipótese de cassação de mandato de seu fi liado, por ter conferido legenda a quem não merecia. Precedentes. 4. O abuso de poder político, para fi ns eleitorais, confi gura- se no momento em que a normalidade e a legitimidade das eleições são comprometidas por condutas de agentes públicos que, valendo-se de sua condição funcional, benefi ciam candidaturas, em manifesto desvio de fi nalidade. 5. Fatos anteriores ao registro de candidatura podem, em tese, confi gurar abuso de poder político, desde que presente a potencialidade para macular o pleito, porquanto a Justiça Eleitoral deve zelar pela lisura das eleições. Precedentes. 6. Na espécie, em março de 2006, o recorrido Marcelo Déda Chagas, na condição de prefeito municipal de Aracaju, à conta de 26 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político realizar solenidades de inauguração de obras públicas, convocou a população da capital do Estado e também a do interior para participar de shows com a presença de cantores e grupos musicais famosos nacionalmente e, nessas oportunidades, aproveitou para exaltar os feitos de sua gestão, depreciar a atuação administrativa do Governo do Estado e apresentar-se como alternativa política para aquela Unidade da Federação, transmitindo ao público a mensagem de que seria o mais apto a governar Sergipe. 7. O reconhecimento da potencialidade em cada caso concreto implica o exame da gravidade da conduta ilícita, bem como a verifi cação do comprometimento da normalidade e da legitimidade do pleito, não se vinculando necessariamente apenas à diferença numérica entre os votos ou a efetiva mudança do resultado das urnas, embora essa avaliação possa merecer criterioso exame em cada situação concreta. Precedentes. 8. No caso dos autos, não há elementos sufi cientes para comprovar o grau de comprometimento dessas condutas ilícitas na normalidade e legitimidade do pleito, inexistindo, portanto, prova da potencialidade lesiva às eleições. 9. Recurso desprovido. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em rejeitar as preliminares e desprover o recurso, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 21 de setembro de 2010. Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator DJe 16.02.2011 RELATÓRIO O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Senhor Presidente, o Partido dos Aposentados da Nação (PAN) - Estadual interpõe, com base no art. 27 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior 262, IV, do Código Eleitoral1, Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED) em desfavor de Marcelo Déda Chagas e Belivaldo Chagas Silva, respectivamente governador e vice-governador do Estado de Sergipe, eleitos nas eleições de 2006. Alega o Recorrente que Marcelo Déda Chagas, no mês de março de 2006, pouco antes de renunciar ao cargo de prefeito de Aracaju/SE para se candidatar ao Governo de Sergipe, realizou, às custas do Erário, atos de promoção pessoal que caracterizam propaganda eleitoral antecipada e abuso de poder político e econômico. Os mesmos fatos, antes, foram objeto de Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE n. 08/2006), que restou improcedente por acórdão do e. TRE-SE transitado em julgado em 05.12.2007. O Recorrente enumera as seguintes condutas atribuídas ao Recorrido Marcelo Déda Chagas, que confi gurariam propaganda irregular: a) declarações na imprensa local sobre sua pré-candidatura ao cargo de Governador do Estado de Sergipe; b) propaganda institucional no rádio, na televisão e na imprensa escrita sob o slogan “Em cinco anos Aracaju deu certo para todos”, com nítido caráter eleitoral, conforme degravações constantes na inicial. Anota que a propaganda televisiva foi insistentemente reproduzida em todo o Estado, embora dissesse respeito apenas ao Município de Aracaju-SE, num total de 650 (seiscentas e cinquenta) inserções durante o mês de março de 2006; c) confecção e distribuição, às custas do Erário, de impressos para divulgação do Relatório de Gestão de Assistência Social 2005, nos quais há destaque para o nome e imagem do recorrido; d) distribuição da “Revista Balanço da Administração Aracaju, uma cidade para todos”, dedicada a comparar a gestão de Marcelo Déda Chagas com as anteriores do Executivo Municipal, destacando-se a sua assinatura 1 Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos seguintes casos: (...) IV - concessão ou denegação do diploma em manifesta contradição com a prova dos autos, nas hipóteses do art. 222 desta Lei, e do art. 41-A da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. (Redação dada pela Lei n. 9.840, de 28.09.1999). 28 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político pessoal no impresso, em desrespeito à impessoalidade que deve reger as propagandas institucionais dos entes públicos. O Recorrente sustenta, ainda, que Marcelo Déda Chagas promoveu, a pretexto da inauguração de obras e da comemoração do aniversário de Aracaju-SE, eventos assemelhados a comícios, nos quais se anunciava a sua candidatura ao cargo de governador. De acordo com o Recorrente, tais eventos incluíam: a) discursos com mensagens implícitas de pedido de voto; b) comparação entre a gestão do recorrido como prefeito de Aracaju- SE e a gestão do governador do Estado à época, candidato à reeleição; c) críticas a obras promovidas pelo então governador do Estado, seu futuro adversário nas eleições, as quais classifi cou como “obras de fachada”; d) convocação da população para participar dos eventos por meio de panfl etos e da mídia televisiva; e) corpo-a-corpo do Recorrido junto à população; f) aclamação e foguetório antes dos discursos do Recorrido; g) presença de diversos políticos do interior do Estado; h) nos eventos realizados em 23.03.2006, no bairro Bugio, eem 30.03.2006, no bairro Coroa do Meio, utilizou-se uma bandeira vermelha com estrelas brancas que identifi cava o Partido dos Trabalhadores; i) realização de shows de artistas conhecidos em âmbito nacional, contratados por Secretarias Municipais com superfaturamento, no total de R$ 772.716,00 (setecentos e setenta e dois mil, setecentos e dezesseis reais). Segundo a exordial, o Município de Aracaju-SE, nos meses de janeiro e fevereiro de 2006 despendeu mais de quatrocentos mil reais (R$ 444.554,95) com publicidade no rádio, televisão, jornal e produção, ao passo que, no mês de março do referido ano, período objeto da investigação, foram gastos R$ 1.247.071,20 (um milhão, duzentos e quarenta e sete mil, setenta e um reais e vinte centavos) apenas com shows e publicidade televisiva, além da quantia gasta com propaganda no rádio e nos jornais e com a produção e distribuição de revistas e panfl etos, sendo que, deste valor, R$ 474.355,29 (quatrocentos e setenta e quatro mil, trezentos e cinquenta e cinco reais e vinte nove centavos) foram gastos apenas com pagamentos à TV Sergipe e à TV Atalaia. 29 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Após o pedido de renúncia ao cargo de prefeito de Aracaju-SE, Marcelo Déda Chagas usou outdoors em diversos pontos do Estado, com fotos e mensagens direcionadas a sua candidatura ao cargo de governador. Na ótica do Recorrente, tais fatos, em conjunto, confi gurariam ilícitos com potencialidade para comprometer a lisura do pleito de 2006, no qual se sagraram vencedores os ora Recorridos. O Recorrente acostou aos autos cópia da AIJE n. 08/2006, e requereu o aproveitamento, como prova emprestada, dos elementos que ali foram produzidos. Devidamente intimados, Belivaldo Chagas Silva e Marcelo Déda Chagas, respectivamente vice-governador e governador do Estado de Sergipe, apresentaram contrarrazões às fl s. 830-836 e 842-866. O Recorrido Belivaldo Chagas Silva, vice-governador do Estado de Sergipe, argúi preliminar de coisa julgada, sob alegação de que a Ação de Investigação Judicial Eleitoral que apurou os fatos invocados nestes autos foi julgada improcedente, não podendo ser alvo de novo pronunciamento judicial. No mérito, sustenta que os fatos invocados ocorreram antes do período eleitoral de 2006 e que a respectiva Ação de Investigação Judicial Eleitoral foi ajuizada em maio daquele mesmo ano, ou seja, antes do pedido de registro das candidaturas daquele pleito, razão pela qual não podem ser objeto de Recurso Contra Expedição de Diploma. Além disso, destaca que não há prova de que Marcelo Déda Chagas tenha praticado atos de abuso de poder que pudessem comprometer a lisura do pleito eleitoral de 2006, conforme assentado na decisão que julgou improcedente a Ação de Investigação Judicial Eleitoral que instrui estes autos. Ao fi m, requer a improcedência deste Recurso Contra Expedição de Diploma. Por sua vez, o Recorrido Marcelo Déda Chagas aduz preliminarmente: a) a existência de coisa julgada, uma vez que a Ação de Investigação Judicial Eleitoral que instrui estes autos foi julgada improcedente; 30 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político b) que o Partido dos Aposentados da Nação (PAN), então Recorrente, foi incorporado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, portanto, não mais existe razão pela qual se impõe a extinção do feito; c) necessidade de citação dos partidos aos quais os Recorridos são fi liados, por serem litisconsortes passivos necessários, o que não ocorreu na espécie. No mérito, alega a inexistência de propaganda antecipada e de abuso do poder econômico e político. Sustenta, em suma, que: a) a sua participação nas inaugurações de obras suscitadas na inicial foi legal, porquanto promovidas antes do período vedado pela legislação eleitoral, à época em que exercia o cargo de prefeito de Aracaju-SE, conforme o art. 77 da Lei n. 9.504/19972; b) os shows patrocinados pelo Executivo Municipal de Aracaju durante os eventos de inauguração de obras e de comemoração do aniversário da cidade seguiram o modelo adotado nos eventos promovidos nos anos anteriores; c) as publicações “Relatório de Gestão da Assistência Social de 2005” e “Revista Balanço da Administração Aracaju uma cidade para todos” possuíam conteúdo eminentemente informativo das medidas implementadas pelo Executivo Municipal de Aracaju-SE; d) a divulgação televisiva de atos ofi ciais não teve conotação eleitoral, mas sim de prestação de contas à população sobre a sua administração; e) não há prova de que os discursos proferidos durante os eventos de inauguração de obras tiveram cunho eleitoral, mediante mensagem subliminar de pedido de voto, nem de que a decoração de tais eventos continha fi gura apta a identifi car o Partido dos Trabalhadores (PT); 2 Art. 77. É proibido aos candidatos a cargos do Poder Executivo participar, nos três meses que precedem o pleito, de inaugurações de obras públicas. Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à cassação do registro. (Redação da Lei n. 9.504/1997 à época dos fatos) Art. 77. É proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses que precedem o pleito, a inaugurações de obras públicas. (Redação dada pela Lei n. 12.034, de 2009) Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à cassação do registro ou do diploma. (Redação dada pela Lei n. 12.034, de 2009) 31 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior f) os fatos alegados pelo Recorrente não possuem potencialidade para infl uir na lisura do pleito, pois foram realizados antes do período eleitoral, em data na qual sequer havia candidatura formalizada. Pelas razões expostas, requerem a extinção do feito sem resolução do mérito. Caso superadas as preliminares, pedem a citação dos partidos políticos aos quais são fi liados os Recorridos e o improvimento deste Recurso Contra Expedição do Diploma. À fl . 984, o então relator, Ministro Felix Fischer, determinou a regularização da representação processual do recorrente, tendo em vista a incorporação do Partido dos Aposentados da Nação (PAN) pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o qual se manifestou pela ausência de interesse no prosseguimento do feito, requerendo a sua extinção sem resolução de mérito (fl . 986). Instada a se manifestar, em 02.03.2009, a d. Procuradoria-Geral Eleitoral insurgiu-se contra o pedido de desistência formulado pelo PTB e pugnou pelo prosseguimento do processo por se tratar de matéria de ordem pública. Além disso, opinou pelo “retorno dos autos para decidir sobre eventual legitimidade ativa superveniente” (fl s. 1.897-1.900). Diante da manifestação ministerial, em 03.03.2009, o e. Ministro Felix Fischer indeferiu o pedido de extinção do processo (fl . 1.011). Contra essa decisão, Marcelo Déda Chagas, Belivaldo Chagas Silva e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) - Estadual interpuseram agravos regimentais, aos quais foi negado provimento por esta c. Corte, em acórdão assim ementado (fl s. 1.044-1.045): Agravos regimentais com o mesmo objeto. Recurso Contra Expedição de Diploma. Eleições 2006. Pedido de desistência. Extinção do feito sem resolução do mérito. Impossibilidade. Matéria de ordem pública. Ministério Público Eleitoral. Legitimidade ativa superveniente. Possibilidade. Não provimento. 1. Em recurso contra expedição de diploma, a desistência manifestada pelo recorrente não implica extinção do feito sem resolução do mérito, tendo em vista a natureza eminentemente pública da matéria. Precedentes: REspe n. 26.146-TO, Rel. Min. José Delgado, DJ de 22.03.2007; AgRgREspe n. 18.825-MG, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ de 27.04.2001. 32 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômicoou Político 2. Não há interesse recursal antes que seja proferida decisão que contrarie interesse jurídico do recorrente. Na espécie, a decisão agravada não assentou ser indispensável que o Parquet assuma o polo ativo para que este RCED tenha prosseguimento, mesmo porque o Ministério Público Eleitoral ainda não se pronunciou a respeito do seu interesse em assumir a titularidade da ação. Assim, neste ponto, falta interesse recursal aos agravantes. 3. Agravos regimentais não providos. Após a publicação do acórdão em 07.05.2009, os autos foram encaminhados à d. Procuradoria-Geral Eleitoral, que opinou pela rejeição das preliminares e, no mérito, pelo acolhimento do Recurso Contra Expedição de Diploma (fl s. 1.946-1.962). À fl . 1.966, João Alves Filho, segundo colocado no pleito de 2006, requereu fosse desconsiderado o pedido de ingresso no feito formulado em 02.02.2009 (fl s. 992-994). Remetidos os autos ao d. Ministério Público Eleitoral, em 27.08.2009, para que se manifestasse sobre o interesse em assumir a autoria desta ação (fl . 1.968), o mesmo requereu, na mesma data, o prosseguimento do feito, com sua inclusão no polo ativo, com o acolhimento dos “pedidos estampados na inicial” (fl . 1.970). O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) formulou petição insistindo no pedido de extinção do processo, sem julgamento de mérito, e na exclusão de seu nome e de seu presidente da capa dos autos (fl s. 1.974- 1.975), argumentando que o Ministério Público “não se pronunciou tempestivamente sobre o assunto” (fl . 1.978). Em decisão monocrática de 08.09.2009, proferida às fl s. 1.977- 1.981 o e. Ministro Felix Fischer deferiu o pedido de desistência formulado à fl . 986 e determinou a exclusão do nome do então postulante da capa dos autos. Não obstante, determinou o prosseguimento do feito com a inclusão do Ministério Público no polo ativo da demanda. Entendeu Sua Excelência que “diante da natureza eminentemente pública da matéria versada nestes autos, pode o Ministério Público Eleitoral assumir a titularidade deste RCED, na condição de substituto processual”. (fl . 1.980) 33 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Irresignado, o Partido Trabalhista Brasileiro interpôs agravo regimental (fl s. 1.983-1.984), que não foi provido por esta c. Corte, nesses termos (fl s. 1.116-1.117): Agravos regimentais com o mesmo objeto. Recurso Contra Expedição de Diploma. Eleições 2006. Pedido de desistência. Extinção do feito sem resolução do mérito. Impossibilidade. Matéria de ordem pública. Procurador-Geral Eleitoral. Legitimidade ativa superveniente. Competência. Preclusão. Inexistência. Não provimento. 1. Em recurso contra expedição de diploma, a desistência manifestada pelo recorrente não implica extinção do feito sem resolução do mérito, tendo em vista a natureza eminentemente pública da matéria. Precedentes: REspe n. 26.146-TO, Rel. Min. José Delgado, DJ de 22.03.2007; AgRgREspe n. 18.825-MG, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ de 27.04.2001. 2. Embora não haja previsão expressa para que o Ministério Público assuma o polo ativo da demanda, tal medida é justifi cada pela relevância do interesse público ínsito na demanda e por analogia, nos art. 9º da Lei n. 4.717/1965 (GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 341), e nos arts. 82, III e 499, § 2º, CPC. (REsp n. 8.536, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ 24.03.1993; REspe n. 15.085-MG, Rel. Min. José Eduardo Alckmin, DJ de 15.05.1998. No caso, a primeira oportunidade em que se poderia dar vista ao Ministério Público para que, expressamente, se manifestasse sobre seu interesse em assumir a autoria desta ação ocorreu com o despacho datado de 20.08.2009, após a decisão monocrática (fl s. 1.902-1.903) que indeferiu o pedido de extinção do feito, em razão do pedido de desistência do PTB, e o acórdão que confi rmou tal decisão (publicado em 29.04.2009 fl s. 1.936-1.944). Houve manifestação do Parquet no mesmo dia em que recebeu os autos na Secretaria (27.08.2009), não havendo falar em preclusão da pretensão ministerial de assumir o polo ativo da demanda. Frise-se que o deferimento do pedido de desistência ocorreu somente em 08.09.2009 (fl s. 1.977-1.981). 3. O c. Supremo Tribunal Federal, a partir do julgamento do HC n. 67.759, DJ 1º.07.1993, Rel. Min. Celso de Mello, tem afi rmado que o princípio do promotor natural não existe no ordenamento 34 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político jurídico brasileiro, com aplicabilidade imediata. Orientação reafi rmada no HC 84.468, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 29.06.2007 e HC n. 90.277, Relª. Minª. Ellen Gracie, DJe 1º.08.2008. No mesmo sentido, o e. Tribunal Superior Eleitoral já se manifestou: AG n. 8.789-PB, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 20.05.2009 e AREspe n. 28.468-PB, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 13.08.2008. 4. Ainda que fosse admitido o princípio, no caso, a competência do c. TSE para julgamento do recurso contra expedição de diploma tem natureza originária (ARCED n. 656, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 21.11.2003, Referendo MC-DF, Rel. Min. Eros Grau, 30.09.2009 e 1º.10.2009). Daí decorre a atribuição do Procurador- Geral Eleitoral para dar continuidade ao RCED (art. 74, II e III, da Lei n. 1.341/1951). 5. Embora não tenha sido objeto da decisão agravada, defere-se como pedido autônomo o desentranhamento dos documentos de fl s. 992-1.884 e 1.999, uma vez que João Alves Filho não integra a lide em nenhuma condição. 6. Agravos regimentais não providos. Às fl s. 1.141-1.142, o e. Ministro Felix Fischer renovou o prazo para que o Ministério Público Eleitoral trouxesse aos autos o inteiro teor da AIJE n. 08/2006, bem como determinou a intimação dos requeridos para que se pronunciassem sobre o seu interesse na produção de prova testemunhal. Após as manifestações do Parquet (fl s. 1.146-1.147) e de Marcelo Déda Chagas (fl s. 1.149-1.156), o e. Ministro Relator originário deferiu maior prazo para que o Ministério Público Eleitoral juntasse a prova documental pretendida, bem como deferiu a oitiva apenas das testemunhas Antônio Fernando Valeriano, Álvaro Joaquim Fraga e Marcos Antônio Fontes da Silva. Foram juntados documentos pelo Ministério Público Eleitoral (fl s. 1.161-2.112) e deferido pedido de vista aos Recorridos (fl . 2.125). Marcelo Déda Chagas manifestou-se às fl s. 2.127-2.138 e também juntou documentos (fl s. 2.139-2.654). Em razão do término do biênio do e. Ministro Felix Fischer, os autos foram a mim redistribuídos em 14.04.2010 (fl . 2.656). 35 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Às fl s. 2.659-2.660, Marcelo Déda Chagas requereu a desistência da prova testemunhal, o que foi por mim deferido (fl . 2.667). Nesse mesmo despacho, determinei às partes que apresentassem alegações fi nais. O Ministério Público Eleitoral apresentou suas alegações fi nais às fl s. 2.673-2.683, Marcelo Déda Chagas às fl s. 2.689-2.756, e Belivaldo Chagas Silva à fl . 2.761. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Senhor Presidente, trata-se de Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED) interposto pelo Partido dos Aposentados da Nação (PAN) - Estadual, com base no art. 262, IV, do Código Eleitoral, em desfavor de Marcelo Déda Chagas e Belivaldo Chagas Silva, respectivamente governador e vice-governador do Estado de Sergipe eleitos em 2006, pela suposta prática de atos de promoção pessoal, às custas do erário municipal, que caracterizariam propaganda eleitoral antecipada e abuso de poder político e econômico. Passo, inicialmente, ao exame das preliminares suscitadas pelos Recorridos. 1. Da possibilidade de apreciação, em Recurso Contra a Expedição de Diploma, de matéria examinada em Ação de Investigação Judicial julgada improcedenteO Recurso Contra Expedição de Diploma é instrumento processual adequado à proteção do interesse público na lisura do pleito, assim como o é a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE). Cada uma dessas ações, todavia, constitui processo autônomo, com causas de pedir próprias e consequências distintas. Na AIJE, apura-se o uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida dos meios 36 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político de comunicação social, de acordo com o estabelecido no art. 22 da Lei Complementar n. 64/19903. O objeto do RCED, por sua vez, é mais amplo em comparação à AIJE, a teor do que dispõe o art. 262 do Código Eleitoral4. Além disso, o Recurso Contra Expedição de Diploma possui larga dilação probatória, o que dá azo à possibilidade de se chegar a conclusão diversa do arremate de outras ações eleitorais, mesmo na hipótese de os mesmos fatos terem sido analisados. Nesse sentido: Agravos regimentais. Recurso ordinário recebido como especial. Provimento. Recurso Contra Expedição de Diploma. Eleição municipal. 2008. Dilação probatória. Possibilidade. Produção de prova oral. Indeferimento. Improcedência da ação. Ausência de provas. Cerceamento de defesa. Manutenção da decisão agravada. 1. A atual jurisprudência deste Tribunal vem-se orientando no sentido de ser cabível a ampla dilação probatória nos recursos contra expedição de diploma, ainda que fundados no art. 262, IV, do Código Eleitoral, desde que o autor indique, na petição inicial, as provas que pretende produzir. 2. Se a produção de provas requerida a tempo e modo pela parte não é oportunizada, e a ação é julgada improcedente por insufi ciência 3 Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: 4 “Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos seguintes casos: I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato; II - errônea interpretação da lei quanto à aplicação do sistema de representação proporcional; III - erro de direito ou de fato na apuração fi nal, quanto à determinação do quociente eleitoral ou partidário, contagem de votos e classifi cação de candidato, ou a sua contemplação sob determinada legenda; IV - concessão ou denegação do diploma em manifesta contradição com a prova dos autos, nas hipóteses do art. 222 desta Lei, e do art. 41-A da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. (Redação dada pela Lei n. 9.840, de 28.09.1999)” 37 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior de prova, confi gurado está o cerceamento de defesa. Precedentes. 3. A ação de impugnação de mandato eletivo, a ação de investigação judicial eleitoral e o recurso contra expedição de diploma são instrumentos processuais autônomos com causa de pedir própria. Precedentes. 4. Os argumentos trazidos no recurso não são sufi cientes a ensejar a modifi cação da decisão agravada. 5. Agravos regimentais desprovidos. (AgR-RO n. 2.359-SP, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 1º.02.2010) Ainda, no mesmo sentido: AgR-AI n. 11.734-PA, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 10.12.2009; QO-RCED n. 671-MA, Rel. Min. Ayres Britto, DJ de 05.11.2007; AgR-REspe n. 25.301-PR, Rel. Min. Gerardo Grossi, DJ de 07.04.2006; AgR-REspe n. 26.276-CE, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJ de 07.08.2008; REspe n. 35.923-SP, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 14.04.2010; RCED n. 696-GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 05.04.2010; AgR-AI n. 11.734-PA, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 10.12.2009; AgR-REspe n. 28.025-RJ; Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJE de 11.09.2009; RCED n. 703-SC, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 1º.09.2009; AgR-AI n. 7.191-BA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 26.09.2008; REspe n. 28.015-RJ, Rel. Min. José Delgado, DJ de 30.08.2008. Portanto, no caso dos autos, não prospera a preliminar apontada pelos Recorridos de que seria impossível rever, em sede de Recurso Contra Expedição de Diploma, a decisão judicial já proferida em Ação de Investigação Judicial Eleitoral, ainda que os fatos sejam comuns a ambas as ações. Rejeito a preliminar. 2. Da alegada necessidade de extinção do processo pela superveniente incorporação do Partido dos Aposentados da Nação (PAN) – recorrente originário – ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) Conforme noticiado nestes autos, o Partido dos Aposentados da Nação (PAN), Recorrente originário, foi incorporado ao Partido 38 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político Trabalhista Brasileiro (PTB), nos termos da Resolução-TSE n. 22.519, Rel. Min. José Delgado, DJ de 28.03.2007. Em razão disso, o Recorrido Marcelo Déda Chagas pugna pela extinção do feito pela superveniente inexistência do Recorrente. No ponto, não há o que discutir, porquanto a questão já foi decidida incidentalmente por esta c. Corte, que homologou a desistência da ação requerida pelo PTB, bem como a assunção do polo ativo da ação pelo Ministério Público Eleitoral, como relatado. Afasto a preliminar. 3. Do litisconsórcio passivo necessário entre os recorridos e seus respectivos partidos políticos A última preliminar levantada pelo Recorrido Marcelo Déda Chagas diz respeito à suposta existência de litisconsórcio passivo necessário entre os Recorridos e seus respectivos partidos políticos. O Recorrido baseia-se na premissa de que, sendo os partidos políticos os verdadeiros detentores do mandato eletivo, tal como assentado por esta c. Corte no julgamento da Consulta n. 1.407-DF, Rel. Min. Ayres Britto, DJ de 28.12.2007, a citação dele é imprescindível, por serem litisconsortes necessários. Prima facie, anoto que a hipótese dos autos é diversa daquela disciplinada pela Res.-TSE n. 22.610/2007. Nela, a c. Corte Eleitoral, em cumprimento à determinação do c. STF5, disciplinou o processo de perda de cargo eletivo em decorrência de desfi liação partidária sem justa causa, bem como a ação de justifi cação de desfi liação. Tal regramento, portanto, teve por objetivo proteger o vínculo entre o candidato e o partido político pelo qual se elegeu. Daí a fi delidade partidária. Não por outra razão, o principal legitimado a propor a ação é o partido, nos termos do art. 1º, caput, da aludida Resolução, verbis: Art. 1º. O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfi liação partidária sem justa causa. 5 Cf. Mandados de Segurança n. 26.602, n. 26.603 e n. 26.604. 39 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Nos processos que versam sobre cassação de diploma, além de não haver disposição legal que imponha o litisconsórcio necessário entre o partido e seu candidato/representante, a natureza da relação jurídica não permite que se chegue à mesma conclusão acerca da infi delidade partidária. A cassação decorrente de abuso de poder, tal como se pleiteia nestes autos, não implica a perda ou a restrição de um direito do partido, mas, sim, trata-se de consectário lógico da conduta ilícita praticada pelo candidato. O diploma, pois, é conferido ao eleito e não ao respectivo partido político, que tem prejuízo apenas mediato na hipótese de cassação de mandato de seu fi liado, por ter conferido legenda a quem não merecia. A respeito da ausência de litisconsórcio necessário entre o fi liado e seu partidopolítico, o e. Min. Marco Aurélio Mello, assim decidiu no REspe n. 11.422-ES, DJ de 12.11.1993: Distintas são as situações em que se impugna o registro de determinado candidato e aqueloutra em que em jogo já se encontra o próprio diploma expedido. No que concerne a este, o titular do direito substancial é o próprio candidato, não se podendo, ainda que se vislumbre legitimação concorrente à defesa, concluir pela necessidade da citação do partido político. Descabe cogitar, na espécie, da prolação de sentença a surtir efeitos no tocante a pessoas diversas. Tenho como desnecessária a citação do partido político, razão pela qual concluo pela ausência de vulneração ao artigo 47 do Código de Processo Civil, e não conheço do recurso no particular. A jurisprudência atual do c. TSE converge com o entendimento esposado ao assentar que “o litisconsórcio necessário entre o candidato e o partido pelo qual concorreu às eleições somente incide na hipótese de pedido de perda de mandato por infi delidade partidária, com a disciplina dada pela Resolução n. 22.610-TSE.” (destaquei) (RO n. 1.589-RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 1º.02.2010). Trago à colação, ainda, nesse mesmo sentido, os seguintes julgados: RCED n. 739-RO, Rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe 20.05.2010; RCED n. 743-RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 19.11.2009; RO n. 1.497- PB, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 02.12.2008; AgR-REspe n. 25.910-PR, Rel. Min. Gerardo Grossi, DJ de 06.12.2006. Por essas razões, rejeito a preliminar. 40 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político 4. Do mérito Ultrapassadas as preliminares, examino o mérito da demanda. Inicialmente, cabe destacar tratar-se de fato incontroverso, nos presentes autos, que o governador, ora Recorrido, à época dos fatos objetos desta ação, já havia assumido publicamente a intenção de concorrer à reeleição. Os documentos de fl s. 127-141 corroboram as alegações do Recorrente nesse sentido. Constituem eles cópias de jornais impressos que circulam no Estado de Sergipe, tais como Jornal do Dia, Correio de Sergipe, Cinform e Jornal da Cidade, em que há diversas declarações de Marcelo Déda Chagas e de seus aliados denotando intuito de concorrer ao Governo do Estado. Fixada tal premissa, passo à análise de cada fato tido por irregular pelo Recorrente. 4.1. Do desvirtuamento da publicidade institucional Alega o Recorrente que Marcelo Déda Chagas, ainda prefeito de Aracaju-SE, promoveu “durante todo o mês de março de 2006 uma maciça campanha promocional – a título de propaganda institucional do Governo Municipal – de todas as realizações da sua gestão à frente do Município de Aracaju, ressaltando que ‘em cinco anos Aracaju deu certo para todos’, slogan este repetido insistentemente na mídia televisiva, radiofônica e impressa, inclusive outdoors, cujas peças publicitárias apresentam conteúdo alheio ao obrigatório caráter educativo, informativo ou de orientação social (art. 37 § 1º da CF), e, ao revés, detêm nítido caráter eleitoreiro, conforme se infere dos anúncios de jornais (...) e dos 11 diferentes VTs constantes das fi tas anexas (...)” (fl s. 6-7). Tal matéria, como já salientado ao longo do voto, foi objeto da AIJE n. 08/2006, julgada improcedente pelo e. TRE-SE (fl s. 876-898). Compulsando os autos, verifi ca-se que a publicidade institucional consubstanciou-se em: a) publicações na mídia impressa relacionadas a melhorias urbanísticas e educacionais promovidas no Município de Aracaju- SE (fl s. 142-148); b) veiculação de publicidade institucional em rádio 41 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior e televisão a respeito das realizações da gestão de Marcelo Déda Chagas à frente da Prefeitura de Aracaju (degravação na inicial – fl s. 7-11 – mídias em formato DVD às fl s. 970-971); c) uso de outdoors com dizeres favoráveis a Marcelo Déda Chagas (fl s. 222-223); d) distribuição do informativo “Relatório de gestão da assistência social 2005” (fl s. 290-315 e 1.163- 1.189) e do informativo “Aracaju deu certo – Um balanço dos cinco anos da administração ‘Aracaju, uma cidade para todos’” (fl s. 241-288). 4.1.1. Da publicidade institucional veiculada em jornais impressos Para comprovar o aludido desvirtuamento da publicidade institucional divulgada em jornais de Sergipe, que teria se transmudado em propaganda eleitoral antecipada em favor de Marcelo Déda Chagas, o Recorrente trouxe aos autos as cópias de jornais impressos (Jornal da Cidade e Jornal do Dia) – fl s. 142-148 (novas cópias foram juntadas às fl s. 1.477- 1.483) –, todos do mês de março de 2006, nos quais há divulgação de obras públicas realizadas no município de Aracaju-SE e melhorias na área da educação. Em virtude de o conteúdo das publicações ser semelhante, menciono apenas duas, a título de ilustração: Compromisso Foi por isso que Aracaju deu certo Orla do Bairro Industrial Cartão postal da Zona Norte Quem chega no Bairro Industrial, fi ca encantado com a beleza da nova orla. Tudo isso, graças ao inédito investimento que a Zona Norte recebeu em turismo, fazendo gerar novos empregos e movimentando o comércio local. Um verdadeiro presente da Prefeitura para todos os moradores que acreditaram na mudança e no compromisso desta administração em promover orgulho e dignidade para todos. Aracaju Prefeitura da Cidade (Jornal da Cidade – 12 e 13.03.2006 – fl . 144) Educação Foi por isso que Aracaju deu certo 42 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político 60,9% de aprovação nas escolas públicas Nos últimos cinco anos o número de matrículas na pré-escola aumentou em 25%. Além disso, foram construídas cinco novas escolas, entre elas a Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel Bonfi m, no conjunto Bugio. Também foi realizado concurso público para a contratação de novos professores e desenvolvido um extenso programa de reforma e ampliação das unidades escolares. A Prefeitura investe em educação porque acredita que assim o futuro pode ser muito mais feliz para todos. Aracaju Prefeitura da Cidade (Jornal da Cidade – 24.03.2006 – fl . 145) Estou em que não houve, no ponto, desvirtuamento da publicidade institucional. Para melhor compreensão, transcrevo o art. 37, § 1º, da Constituição Federal: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência e, também, ao seguinte: (...) § 1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. A publicidade dos atos de governo, pois, decorre de princípio constitucional, que confere transparência à atividade estatal. A respeito, diz J. Cretella Júnior, em Comentários à Constituição de 1988, v. 4, pp. 2.252-3: O caráter educativo, informativo ou de orientação social da publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos é imposição da regra jurídica constitucional. O Chefe do Executivo, ao inaugurar escola ou biblioteca, dará especial ênfase ao empreendimento, assinalando a importância educativa do 43 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior ato. Do mesmo modo, será educativa e informativa toda publicidade em torno da importância da instalação de pontos de saúde e de vacinação para enfrentar surtos epidemiológicos. A orientação social também deverá estar presente na publicidade de atos e campanhas dos órgãos públicos, dando-se instruções ao povo a respeito da importância,para a coletividade, das medidas que estão sendo tomadas, no setor visado. Não se pode olvidar, é bem verdade, que a propaganda institucional da administração benefi cia indiretamente o chefe do poder executivo. O que não é tolerado pela Constituição é que, à conta de publicidade institucional, o administrador se promova. Por essa razão é necessário analisar o conteúdo de cada divulgação para verifi car eventual excesso. Assim, no caso, observo que em nenhum dos informes citados houve alusão explícita ao então prefeito de Aracaju-SE ou a uma provável candidatura. Embora existissem referências à Prefeitura Municipal de Aracaju, o que é até natural, em momento algum houve vinculação entre o órgão e a pessoa do então prefeito. O foco das informações está nos empreendimentos realizados no Município. Não há promoção de Marcelo Déda Chagas, ora Recorrido, mas somente nota, de cunho informativo, à população sobre a gestão pública. Assim, concluo que, no particular, as provas revelam exclusivo caráter informativo do texto, que individualiza obras e melhorias promovidas pelo governo municipal, buscando dar publicidade aos empreendimentos estatais concretizados, inexistindo qualquer irregularidade. 4.1.2. Da publicidade institucional veiculada em rádio e televisão O Recorrente argumenta que durante todo o mês de março de 2006 o Recorrido Marcelo Déda Chagas promoveu, no rádio e na televisão, maciça campanha de divulgação de todas as suas realizações na Prefeitura Municipal de Aracaju-SE a título de publicidade institucional e às custas do Erário. Aduz que o slogan “Em cinco anos Aracaju deu certo para todos” foi repetido com frequência na publicidade institucional, sem observância dos ditames constitucionais previstos no art. 37, § 1º, pois teria havido “nítido caráter eleitoreiro” (fl . 7). 44 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político Assevera, ainda, que as peças publicitárias indicadas na inicial “foram insistentemente reproduzidas nos dois canais abertos de maior audiência em todo o Estado (TV Sergipe e TV Atalaia), em que pese dizerem respeito apenas ao município de Aracaju, num total de 650 inserções distribuídas ao longo de toda a programação nos trinta dias do mês de março, mormente no horário nobre” (fl s. 11-12). Cabe, então, identifi car se essa publicidade conferiu, como alegado, exposição abusiva ao ora Recorrido. Em que pesem tais alegações, os vídeos (mídias DVD) juntados aos autos não fazem referência à fi gura de Marcelo Déda Chagas, então prefeito de Aracaju-SE, ora Recorrido – seja à sua imagem ou ao seu nome. Limitam-se a divulgar as ações do governo e a informar à população a respeito de obras e serviços públicos. Vejamos: I - Nos DVD’s de fl . 970, nos quais foram gravados 7 VT’s, verifi ca-se que as vinhetas divulgam o seguinte conteúdo: 1) Comercial 7: Recebimento do Bolsa Família por parte de mais de 20 mil famílias; 2) Comercial 9: Construção de mais quarenta praças no Município de Aracaju-SE; 3) Comercial 17: Convite à população para a festa de inauguração Hospital Municipal Augusto Franco com show da banda Exaltasamba; 4) Comercial 18: Convite à população para a festa de entrega das obras da Coroa do Meio com show do cantor Daniel; 5) Comercial 19: Entrega do Cemar - Centro de Especialidades Médicas, no Bairro Siqueira Campos (com uma breve imagem da inauguração com show do cantor Dudu Nobre); 6) Comercial 20: Entrega da Unidade de Saúde da Família no Bairro Cidade Nova (a placa de inauguração, com o nome do Prefeito Marcelo Déda Chagas, aparece por apenas 1 segundo); 7) Comercial 21: Entrega do Hospital Municipal da Zona Norte (com uma breve imagem da inauguração com show do cantor Fábio Júnior). Ao fi nal de cada uma das vinhetas, o locutor encerrava a apresentação com o seguinte slogan: “Prefeitura da cidade. Em cinco anos, Aracaju deu certo para todos”. II - No DVD de fl . 971, no qual foram gravados 22 VT’s, verifi ca- se que as vinhetas divulgam o seguinte conteúdo: 45 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior 1) Urbanização da Avenida São Paulo; 2) Recapeamento de 280km de ruas e avenidas; 3) Criação do Samu; 4) Recebimento do Bolsa Família por parte de mais de 20 mil famílias; 5) Aumento em 25% do número de matrículas na pré-escola; 6) Entrega da Unidade de Saúde da Família no Bairro Cidade Nova (a placa de inauguração, com o nome do Prefeito Marcelo Déda Chagas, aparece por apenas 1 segundo); 7) Entrega do Cemar - Centro de Especialidades Médicas, no Bairro Siqueira Campos (com uma breve imagem da inauguração com show do cantor Dudu Nobre); 8) Reurbanização da Coroa do Meio; 9) Construção da Orla do Bairro Industrial; 10) Clipe promocional do Município de Aracaju6; 11) Convite à população para a festa de entrega do Cemar com show do cantor Dudu Nobre; 12) Convite à população para a festa de entrega das obras da Coroa do Meio com show do cantor Daniel; 13) Convite à população para a festa de entrega do Hospital da Zona Norte com show do cantor Fábio Júnior; 14) Convite à população para a festa de entrega do Hospital Municipal Augusto Franco com show da banda Exaltasamba; 15) Convite à população para show da cantora Ana Carolina em comemoração aos 151 anos de Aracaju-SE; 6 Letra da música de fundo: “Sentimentos são momentos, são memórias, dentro de um peito aberto que não se perdem com o tempo porque a história reserva um lugar certo para quem transformou a confi ança na mais pura satisfação para quem trabalhou com perseverança e com o coração Sou feliz, sou feliz, sou feliz aqui Meu sorriso refl ete a vida de quem viu Aracaju progredir Sou feliz, sou feliz, sou feliz aqui Bata no peito e diga Aracaju sou feliz aqui Sou feliz, sou feliz, sou feliz aqui Bata no peito e diga Aracaju sou feliz aqui.” 46 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político 16) Convite à população para a festa de entrega das obras realizadas no loteamento Ângela Catarina com show do cantor Agnaldo Timóteo; 17) Convite à população para a festa da entrega da recuperação ambiental do Morro do Avião e da pavimentação de ruas do Conjunto Padre Pedro com show do cantor Luiz Caldas; 18) Convite para a cerimônia de transmissão do cargo de prefeito em virtude da renúncia de Marcelo Déda Chagas; 19) Apresentação da política de habitação do Município de Aracaju-SE; 20) Entrega do Hospital Municipal da Zona Norte (com uma breve imagem da inauguração com show do cantor Fábio Júnior); 21) Construção de mais quarenta praças no Município de Aracaju-SE; 22) Reurbanização do Bairro Santa Maria, macrodrenagem e recuperação do Morro do Avião, pavimentação de ruas, abertura de novas avenidas, construção de canais, casas populares, escolas e espaços de lazer. Ao fi nal das vinhetas, exceto a de n. 18, o locutor encerrava a apresentação com o seguinte slogan: “Prefeitura da cidade. Em cinco anos, Aracaju deu certo para todos”. Do material colacionado pelo Recorrente, à exceção dos convites destinados à população para os shows de inauguração de obras, que serão analisados em tópico a seguir (4.2), extrai-se o exclusivo caráter informativo do texto, ao identifi car as obras realizadas pelo governo e os serviços que se encontravam disponíveis para a população. Por meio do informe publicitário, buscou-se dar publicidade sobre atos e empreendimentos estatais concretizados, identifi cando o responsável e realizador, no caso o governo municipal de Aracaju-SE. Não houve promoção da fi gura do então prefeito municipal Marcelo Déda Chagas, ora Recorrido. A propaganda institucional limitou-se a informar, de modo geral, à população, sobre a gestão pública. Verifi ca-se que a ênfase da mensagem estava na obra, no empreendimento ou serviço realizadopelo Município de Aracaju-SE, não se vislumbrando a presença de informes publicitários que extrapolassem os limites permitidos pela Constituição Federal. Quanto à alegação de que o Recorrido teria utilizado o slogan “Aracaju deu certo para todos” em sua campanha ao governo do Estado, não há prova nos autos. 47 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior No que se refere à importância de R$ 474.355,29 (quatrocentos e setenta e quatro mil, trezentos e cinquenta e cinco reais e vinte e nove centavos) despendida com a publicidade institucional do Município de Aracaju-SE no mês de março de 2006, embora tenha sido elevada, não é sufi ciente, isoladamente, para a caracterização do abuso, mormente porque a veiculação observou os limites impostos pela Constituição Federal (art. 37, § 1º). Na espécie, não foi demonstrado o eventual proveito à candidatura do Recorrido em razão dos supostos gastos excessivos nem mesmo com provas indiretas, motivo pelo qual é improcedente a alegação de abuso. Como esclarecido anteriormente, possível que a publicidade institucional seja desvirtuada para o enaltecimento de determinada pessoa pública. Todavia, na espécie em exame, o foco do conteúdo da divulgação não mirava o então prefeito, ora Recorrido, mas, como demonstrado, as obras realizadas em sua gestão à frente da Prefeitura de Aracaju-SE que chegava ao fi m. Assim, no caso concreto, tendo em conta o exclusivo caráter informativo da divulgação, torna-se irrelevante para efeito de abuso de poder o fato de a publicidade ter sido veiculada por centenas de vezes (frise-se: apenas durante o mês de março de 2006), já que sequer houve promoção pessoal ou propaganda subliminar em favor do ora Recorrido Marcelo Déda Chagas. 4.1.3. Da suposta publicidade institucional veiculada em outdoors Sustenta o Recorrente que Marcelo Déda Chagas utilizou-se de propaganda institucional em seu favor também por meio de outdoors. Contudo, da análise das provas carreadas aos autos, não se pode chegar à conclusão pretendida pelo Recorrente. Às fl s. 222-223 (novas cópias às fl s. 1.557-1.558), existem apenas quatro cópias de fotografi as dos mencionados engenhos publicitários, que veicularam as seguintes mensagens: “Valeu, Déda. Aracaju continua com você” e “Valeu Déda. Os aracajuanos estarão sempre ao seu lado”. 48 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político Para que tal publicidade fosse considerada institucional era imprescindível a comprovação de que seu gasto foi custeado pela Administração, o que, na espécie, não foi demonstrado. Ao contrário, extrai-se do ofício de fl s. 341-343, assinado pelo representante da empresa Aracaju Outdoor Ltda., responsável pela confecção das peças publicitárias, que o Diretório Estadual do Partido Comunista do Brasil (PC do B) subvencionou a feitura de dez outdoors em homenagem a Marcelo Déda Chagas. Outros dez teriam sido veiculados “a título de bonifi cação” (fl . 342). Logo, comprovado que o custeio do material publicitário, (sem cunho eleitoral, diga-se de passagem), deu-se com dinheiro privado, concluo que não houve publicidade institucional. Sobre o tema, colaciono a doutrina de José Jairo Gomes: (...) a publicidade institucional dever ser realizada para divulgar de maneira honesta, verídica e objetiva os atos e feitos da Administração, sempre se tendo em foco o dever de bem informar a população. Para confi gurar-se, deve ser custeada com recursos públicos e autorizada por agente público. A propaganda paga com dinheiro privado não é institucional (destaquei) (GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 348). Essa também é a jurisprudência do c. TSE. Confi ra-se: AgR-REspe n. 25.085-SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 10.03.2006; AG n. 5.565-SP, Rel. Min. Caputo Bastos, DJ de 26.08.2005. Por outro lado, não há qualquer outro elemento nos autos que permita reconhecer a ocorrência de abuso de poder econômico decorrente de promoção pessoal, pois foram apresentadas cópias de fotografi as de apenas quatro outdoors sem a indicação do alcance da divulgação. Logo, descabe falar em abuso de poder. 4.1.4. Da confecção e distribuição do informativo “Relatório de Gestão da Assistência Social 2005” e do “Aracaju deu certo – Um balanço dos cinco anos da administração ‘Aracaju, uma cidade para todos’” O Recorrente defende que Marcelo Déda Chagas confeccionou às custas do Erário “Relatório de Gestão de Assistência Social 2005”, no qual haveria destaque para o nome e imagem do Recorrido. 49 Ministros do STJ no TSE - Ministro Aldir Passarinho Junior Da mesma forma, alega o Recorrente que o informativo “Aracaju deu certo – Um balanço dos cinco anos da administração ‘Aracaju, uma cidade para todos’” feriria o princípio da impessoalidade, seja pelo relevo que foi dado à assinatura do então prefeito, ora Recorrido, seja pelo confronto entre as obras realizadas pelo Poder Público municipal daquela época e seus predecessores. Em primeiro lugar, ressalto é incontroverso nos autos que tanto o “Relatório de Gestão de Assistência Social 2005” quanto o informativo “Aracaju deu certo” foram confeccionados e distribuídos pela Administração Municipal de Aracaju, ainda na gestão de Marcelo Déda Chagas. Deve-se, então, perquirir se houve desvirtuamento da fi nalidade da publicação. A leitura dos documentos de fl s. 290-315 e 1.163-1.189 não deixa dúvida. De fato, o impresso institucional “Relatório de Gestão da Assistência Social 2005” possui cunho informativo, de prestação de contas do trabalho realizado na gestão municipal, que atende ao princípio da transparência, tão caro à Administração Pública. Da análise dos documentos juntados aos autos, extrai-se que o impresso, publicado em março de 2006, no fi m da gestão de Marcelo Déda Chagas, teve o propósito de apresentar a política de assistência social do Município de Aracaju-SE, destacando as ações promovidas pela Secretaria de Assistência Social e Cidadania daquela municipalidade. Dentre tais ações veiculadas, destacam-se: a política de proteção ao idoso, a atuação fi scalizatória da Prefeitura Municipal em relação à distribuição do Bolsa Família, a criação da Rede Cidade Criança de serviços e programas voltados à criança e ao adolescente, o crescimento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) no Município de Aracaju- SE, o combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, a divulgação das atividades dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), além de outras ações relacionadas. Conquanto o conteúdo do informativo atenda, a princípio, ao propósito de divulgação das atividades desempenhas pelo Município, alega- se que a imagem do então prefeito Marcelo Déda Chagas foi atrelada ao desempenho da Secretaria de Assistência Social e Cidadania, através da veiculação de seu nome e fotografi a no folheto. 50 MSTJTSE, a. 3, (7): 13-107, agosto 2011 Abuso do Poder Econômico ou Político No mencionado Relatório, em duas oportunidades, fl s. 292 e 295, há a fotografi a do Recorrido. Na primeira, fl . 292, a imagem do prefeito Marcelo Déda Chagas aparece no canto superior direito da página, acima da apresentação feita por ele próprio dos avanços conquistados pela cidade de Aracaju na seara da assistência social. Na segunda, fl . 295, há uma pequena fotografi a do prefeito ao lado de um adolescente. Em outras três passagens, às fl s. 298 (por duas vezes) e 308, faz-se referência ao nome do prefeito. Transcrevo-as: 2. A Cidade-Criança A gestão de Marcelo Deda, desde o seu início, optou pela proteção à criança como política púbica estratégica de assistência social. Signifi ca que aceitou a responsabilidade de cuidar da criança e do adolescente como medida preventiva, garantindo-lhes
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