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Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral Julgados do Ministro Hamilton Carvalhido Superior Tribunal de Justiça MINISTROS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL Volume 8 JULGADOS DO MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO 1ª edição Brasília STJ 2011 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ministro Francisco Falcão Marcos Perdigão Bernardes Andrea Dias de Castro Costa Eloame Augusti Gerson Prado da Silva Jacqueline Neiva de Lima Maria Angélica Neves Sant’Ana Fagno Monteiro Amorim Cristiano Augusto Rodrigues Santos Diretor Chefe de Gabinete Servidores Técnico em Secretariado Mensageiro GABINETE DO MINISTRO DIRETOR DA REVISTA Gabinete do Ministro Diretor da Revista Setor de Administração Federal Sul (SAFS) Q. 6 - Lote 1 - Bloco C - 2º andar - sala C-240 CEP 70095-900 - Brasília-DF Telefone (61) 3319-8003 - Fax (61) 3319-8992 www.stj.jus.br, revista@stj.jus.br B823j Brasil. Superior Tribunal de Justiça (STJ). Julgados do Ministro Hamilton Carvalhido. – – Brasília : STJ, 2011. 674 p. – (Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral / v. 8) ISBN 978-85-7248-135-9. 1. Julgamento, coletânea, Brasil. 2. Tribunal superior, jurisprudência, Brasil. 3. Decisão judicial, Brasil. 4. Brasil. Superior Tribunal de Justiça. 5. Brasil. Tribunal Superior Eleitoral. I. Título. II. Série. CDU 347.992(81) Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral Ministro Francisco Falcão Diretor da Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PLENÁRIO Ministro Ari Pargendler Ministro Felix Fischer Ministro Cesar Asfor Rocha Ministro Gilson Dipp Ministra Eliana Calmon Ministro Francisco Falcão Ministra Nancy Andrighi Ministra Laurita Vaz Ministro João Otávio de Noronha Ministro Teori Albino Zavascki Ministro Castro Meira Ministro Arnaldo Esteves Lima Ministro Massami Uyeda Ministro Humberto Martins Ministra Maria Th ereza de Assis Moura Ministro Herman Benjamin Ministro Napoleão Maia Filho Ministro Sidnei Beneti Ministro Jorge Mussi Ministro Og Fernandes Ministro Luis Felipe Salomão Ministro Mauro Campbell Marques Ministro Benedito Gonçalves Ministro Raul Araújo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino Ministra Isabel Gallotti Ministro Antonio Carlos Ferreira Ministro Villas Bôas Cueva Ministro Sebastião Reis Júnior Presidente Vice-Presidente Diretor-Geral da ENFAM Corregedora Nacional de Justiça Diretor da Revista Corregedor-Geral da Justiça Federal Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º. RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23. SUMÁRIO I - Ministro Hamilton Carvalhido - Perfil 11 II - Jurisprudência Crimes Eleitorais 13 Desincompatibilização 39 Doação Irregular 71 Inelegibilidade 77 Processual 259 Propaganda Eleitoral 441 Propaganda Partidária 455 Registro de Candidatura 495 Resoluções 599 III - Índice Analítico 637 IV - Índice Sistemático 663 V - Siglas e Abreviaturas 669 MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO Para os jurisdicionados brasileiros são raros os exemplos de operadores do Direito que conseguem atingir o cume do sistema judiciário infraconstitucional plasmados de tão ampla e sólida experiência profi ssional. Pois bem, Hamilton Carvalhido é um desses bons exemplos que devemos referir e admirar sempre. Inicia sua trajetória profi ssional ingressando muito jovem no Ministério Público do fi ndo Estado da Guanabara, porém aqui a primeira peculiaridade que vem marcar indelevelmente toda sua produção intelectual no campo jurídico, naqueles idos de 1966 e até a nova conformação do Parquet, ingressava-se no cargo de Defensor Público, o inaugural da carreira. Sem dúvida foi da constante convivência com os mais necessitados de Justiça e das vitórias sociais daí advindas que nosso homenageado trouxe para sua longa caminhada forense a convicção de que por mais difíceis que possam parecer as lides a solução delas começa sempre com um gesto de bondade. Meu primeiro contato foi com o então Subprocurador-Geral de Justiça na primeira quadra da década de 90 quando os interesses da Justiça fl uminense exigiram o empenho do aparato da segurança pública do Amazonas então sob nossa gestão. Passam-se os anos e nos reencontramos na Reunião do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União realizada em Manaus e assisto manifestação ímpar de apoio de todos os seus pares daquele sodalício institucional ao candidato a Ministro do c. Superior Tribunal de Justiça, o Procurador de Justiça do Rio de Janeiro Hamilton Carvalhido. No perene exercício do magistério superior e na sua vasta biblioteca pessoal buscou atualização e sabedoria a lançar achegas certeiras por ocasião dos debates de relevantes temas em quaisquer dos lados do cancelo em que atuou, normalmente apartes contaminados de raro humanismo. Dispensável qualquer consulta ao currículo do eminente Ministro Carvalhido para sabermos o que ele sabe do Direito, bem mais prático e substancial é pesquisar na jurisprudência brasileira as manifestações de Sua Excelência, o sempre Professor e Mestre Hamilton Carvalhido, para bem sustentar qualquer tese e em qualquer dos polos que atue o profi ssional. É para melhor refi nar a pesquisa em matéria de Direito Eleitoral que esta obra antológica condensa alguns dos brilhantes votos e decisões do Ministro Hamilton Carvalhido no Tribunal Superior Eleitoral, mais um dos indispensáveis livros que os profi ssionais de Direito utilizarão em defesa da Justiça que seu autor encarna com maestria e exação. Ministro Mauro Campbell Marques Superior Tribunal de Justiça Crimes Eleitorais HABEAS CORPUS N. 2.324-08.2010.6.00.0000 – CLASSE 16 – PORTO VELHO (Rondônia) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Impetrante: Defensoria Pública da União Paciente: Maria da Conceição Miranda Gomes Advogada: Defensoria Pública da União Órgão coator: Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia EMENTA Habeas corpus. Defensoria Pública. Ausência de intimação pessoal. Nulidade do julgamento. Concessão da ordem. 1. É prerrogativa da Defensoria Pública, sob pena de nulidade, ser intimada pessoalmente. 2. Deve ser renovado o julgamento da apelação por ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública. 3. Concessão da ordem. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em conceder a ordem, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 14 de outubro de 2010. Ministro Hamilton Carvalhido, Relator DJe 22.11.2010 RELATÓRIO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública da União contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Rondônia, que, dando provimento a recurso interposto pelo Ministério Público Eleitoral, condenou a paciente, Maria da Conceição Miranda Gomes, a dois anos e oito meses de reclusão 16 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais cumulada com pena de multa; a pena privativa de liberdade foi substituída por prestação de serviços à comunidade pelo prazo da condenação, à razão de uma hora de tarefa por dia de pena, além da prestação pecuniária de dois salários mínimos. A impetrante sustentou a nulidade do julgamento do recurso interposto pelo Ministério Público, porque não foi realizada a intimação pessoal da Defensora Pública da União para a sessão de julgamento. Requereu a concessão de liminar para suspender a execução das sanções restritivas de direitos e da pena de multa e demais efeitos da condenação e, no mérito, a concessão defi nitiva da ordem de habeas corpus a fi m de, se reconhecida a nulidade, anular o acórdão condenatório por ausênciade prévia e pessoal intimação do representante da Defensoria Pública para a sessão de julgamento, desconstituindo-se, em consequência, o trânsito em julgado da condenação e todos os seus efeitos. Em 03.09.2010, foi concedida a liminar. Foram prestadas informações pela Presidente do Tribunal de origem, Desembargadora Zelite Andrade Carneiro, nestes termos (fl s. 462-465): [...] 02. Conforme consta no termo de deliberação de fl . 244, a ora paciente optou por assistência judiciária gratuita, motivo pelo qual foi ofi ciado à Defensoria Pública do Estado de Rondônia. Houve apresentação de defesa preliminar (fl . 251-254) e alegações fi nais (fl s. 369-373). Ambos os réus foram absolvidos naquele Juízo (fl s. 389- 392). 03. Em razão de recurso manejado pelo Ministério Público Eleitoral, foram os recorrentes condenados nas penas do art. 299 do Código Eleitoral (corrupção eleitoral) em concurso de pessoas e continuidade delitiva, além de multa pela Corte Regional, nos autos da Apelação Criminal n. 89, Classe 31. Tal decisum, prolatado por este Regional em 27.05.2008, está materializado no Acórdão n. 171/08 (fl s. 476-497). 04. Registre-se que a paciente apresentou contrarrazões através [sic] Defensoria Pública do Estado de Rondônia (fl s. 417-420), peça subscrita pela Defensora Pública Estadual Telma Regina de Souza. A Defensora Pública foi intimada do julgamento da Apelação 17 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido Criminal por meio de Pauta publicada no Diário da Justiça do Estado de Rondônia n. 093, de 21.05.2008, p. 44 (fl s. 474 e 474-v). 05. Nesses termos, não houve intimação pessoal da Defensora Pública Estadual que atuava no processo, sendo que apenas Edison Gazoni interpôs recurso especial, admitido neste Regional, porém negado seguimento pelo c. TSE, havendo tal decisão transitado em julgado para a defesa, conforme certidão de fl . 600. 06. Em razão do trânsito em julgado do acórdão regional, esta Presidência determinou a remessa dos autos ao Juízo da 21ª Zona Eleitoral de Porto Velho para seu cumprimento (fl . 603). 07. Pelo que se percebe, a Defensoria Pública da União apenas passou a intervir nos autos na fase de execução do acórdão, por determinação do MM. Juiz da 21ª Zona Eleitoral (fl . 611), visto que o magistrado observou que a paciente era benefi ciária de assistência judiciária gratuita. 08. Nesse sentido, registramos que a Defensoria Pública da União não foi intimada pessoalmente do julgamento da apelação criminal neste Regional. Também é importante ressaltar que a defesa da paciente era patrocinada, à época, pela Defensoria Pública do Estado de Rondônia. 09. Acrescentamos, ainda, que consultando a legislação disciplinadora do funcionamento da Defensoria Pública do Estado de Rondônia, representada pela Lei Complementar do Estado de Rondônia, n. 117, de 04.11.2004, obtida no sítio da internet daquele órgão (http://www.defensoria.ro.gov.br), verifi camos que o referido Diploma Legal confere idêntica prerrogativa da intimação pessoal a seus membros, verbis: Art. 69 - São prerrogativas do membro da Defensoria Pública, dentre outras que lhe sejam conferidas por lei ou que forem inerentes ao seu cargo, as seguintes: I a X - omissis. XI - receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-lhe em dobro todos os prazos; XII a XVI - omissis. [...]. (grifos no original) 18 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais O Ministério Público Eleitoral veio pela concessão da ordem, em parecer da lavra da Exma. Sra. Procuradora Regional da República Dra. Fátima Aparecida de Souza Borghi, assim sumariado (fl . 470): Habeas corpus. Eleições 2006. Apelação. Defensoria Pública não intimada pessoalmente. Nulidade. Ocorrência. Pela concessão da ordem impetrada. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de Maria da Conceição Miranda Gomes contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Rondônia que condenou a paciente às penas do artigo 299 do Código Eleitoral – prática de corrupção eleitoral. A impetrante assevera a nulidade do julgamento do recurso do Ministério Público Eleitoral contra a sentença que absolveu a paciente, porque não se procedeu à intimação pessoal da Defensora Pública para a sessão de julgamento. Concedo a ordem. Esta é a letra do artigo 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/1950, acrescentado pela Lei n. 7.871, de 8 de novembro de 1989, verbis: Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos. Assim, tem-se que ao defensor público, nos termos do referido dispositivo, está assegurada a intimação pessoal de todos os atos do processo e em ambas as instâncias. Não há como afastar do alcance dessa disciplina a intimação pessoal para a sessão de julgamento de recurso interposto. Isto porque, ao assim disciplinar, o legislador deu consecução à garantia da 19 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal). A propósito, trago à colação os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça: Habeas corpus. Processual Penal. Defensor Público não intimado pessoalmente do acórdão da apelação. Cerceamento de defesa. Nulidade. Assentada jurisprudência desta Corte no sentido de que deve ser sempre pessoal a intimação do Defensor Público ou dativo, sob pena de nulidade. Habeas Corpus concedido para tão-somente afastar o trânsito em julgado da condenação. (HC n. 39.692-AC, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 03.02.2005, DJ 07.03.2005) Processo Penal. Recurso de apelação. Homicídio. Ausência de intimação pessoal do Defensor Público. Causa de nulidade. - É fi rme a jurisprudência desta Corte e do Pretório Excelso, no sentido de que a ausência de intimação pessoal do defensor público para o julgamento do recurso de apelação é causa de nulidade. - Mantém-se, entretanto, a constrição do paciente, que respondeu a todo o processo nessa condição, restando condenado a 39 anos de reclusão pela prática de 02 homicídios duplamente qualifi cados. - Ordem parcialmente concedida para anular o v. acórdão, determinando novo julgamento do recurso de apelação, procedendo- se à regular intimação pessoal do defensor público, mantendo-se, contudo, a constrição do réu. (HC n. 24.935-SP, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, Quinta Turma, julgado em 13.05.2003, DJ 18.08.2003) Processo Penal. Habeas corpus. Art. 157, § 3º, primeira parte, do Código Penal. Apelação. Procuradoria de assistência judiciária. Ausência de intimação pessoal da data designada para o julgamento. Cerceamento de defesa. Nulidade. A teor dos artigos 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/1950 e 370, § 4º, do CPP, a intimação do defensor público ou dativo deve ser pessoal, sob pena de nulidade absoluta por cerceamento de defesa. A falta dessa 20 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais intimação enseja a realização de novo julgamento (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ). Writ concedido. (HC n. 50.180-SP, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 09.05.2006, DJ 19.06.2006) Do Supremo Tribunal Federal, o seguinte precedente: Habeas corpus. Defensor Público que foi injustamente impedido de fazer sustentação oral, por ausência de intimação pessoal quanto à data da sessão de julgamento do recurso em sentido estrito interposto pelo paciente. Confi guração de ofensa à garantia constitucional da ampla defesa.Nulidade do julgamento. Pedido deferido. – A sustentação oral – que traduz prerrogativa jurídica de essencial importância – compõe o estatuto constitucional do direito de defesa. A injusta frustração desse direito, por falta de intimação pessoal do Defensor Público para a sessão de julgamento do recurso em sentido estrito, afeta, em sua própria substância, o princípio constitucional da amplitude de defesa. O cerceamento do exercício dessa prerrogativa – que constitui uma das projeções concretizadoras do direito de defesa – enseja, quando confi gurado, a própria invalidação do julgamento realizado pelo Tribunal, em função da carga irrecusável de prejuízo que lhe é ínsita. Precedentes do STF. (HC n. 98.646-BA, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento de 15.09.2009, Órgão Julgador: Segunda Turma - grifos no original) No caso, não houve a intimação pessoal da Defensora Pública daquele Estado. Ocorreu, tão somente, a publicação da pauta de julgamento da apelação criminal no Diário da Justiça do Estado de Rondônia n. 093, de 21.05.2008, p. 44, consoante se verifi ca das informações prestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (fl s. 462-465). Pelo exposto, acolhendo o parecer ministerial (fl s. 470-473), concedo a ordem para declarar a nulidade do julgamento da apelação, exclusivamente em relação à ora paciente, a ser renovado pelo egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia, com a prévia intimação pessoal da Defensoria Pública. É o voto. 21 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido HABEAS CORPUS N. 3.337-42.2010.6.00.0000 – CLASSE 16 – TOCANTINS (Palmas) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Impetrantes: Mauricío Kraemer Ughini e outro Paciente: Clayton Maia Barros Advogados: Mauricío Kraemer Ughini e outro Órgão coator: Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins EMENTA Habeas corpus. Pedido de liberdade provisória mediante pagamento e recolhimento de fi ança. Ordem concedida. 1 - Insufi cientes para justifi car a necessidade da constrição cautelar a qualidade de prefeito do paciente e a própria natureza da infração penal, não havendo porque obstar a concessão imediata da fi ança. 2 - Ordem concedida para convolar em defi nitivo a medida liminar. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em conceder a ordem, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 4 de novembro de 2010. Ministro Hamilton Carvalhido, Relator DJe 25.11.2010 RELATÓRIO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, habeas corpus impetrado em favor de Clayton Maia Barros contra ato do Presidente 22 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais do Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins, que homologou a prisão em fl agrante do paciente, mantendo a custódia cautelar até às 17 horas de 03.10.2010, quando seria concedida a liberdade provisória mediante fi ança. Segundo a impetração, são estes os fatos: a) o paciente foi preso em fl agrante delito por suposta prática da conduta descrita no artigo 299 do Código Eleitoral, em 02.10.2010, encontrando-se sob custódia da Polícia Militar. Foi formulado pedido de liberdade provisória perante o Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins, mas essa pretensão foi indeferida na madrugada de 03.10.2010, sob o fundamento de que estariam presentes os requisitos do Código de Processo Penal autorizadores da prisão preventiva, mormente no que tange à garantia da ordem pública; b) o paciente compareceu, espontaneamente, à delegacia de polícia, constando no auto de prisão em fl agrante que se deslocou até lá em seu próprio veículo, no intuito de colaborar com o esclarecimento sobre suposta doação de combustível, a convite do Sr. Edvardo Vieira de Oliveira; c) a voz de prisão em fl agrante foi dada na delegacia, o que os impetrantes consideram ilegal; d) o paciente é réu primário, com bons antecedentes, possui residência fi xa, sendo desnecessária a persistência da indigitada custódia. Aduzem os impetrantes que o artigo 299 do Código Eleitoral comporta liberdade provisória, com ou sem arbitramento de fi ança, e, mesmo em caso de condenação, a pena máxima cominada ao tipo permitiria um regime inicial de cumprimento aberto, o que não se coadunaria com a manutenção da prisão; e que o supracitado encarceramento, mormente com a previsão de liberdade somente ao término do processo de escrutínio, cercearia o direito constitucional do paciente ao voto, previsto nos artigos 1º e 60, § 4º, da Carta Magna. Foram elencados precedentes do Superior Tribunal de Justiça e deste Tribunal Superior sobre diversas situações em que foi concedido o direito de se responder a processo em liberdade. Requereram a concessão do direito do paciente de aguardar em liberdade o curso das investigações instauradas em seu desfavor, pelo crime 23 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido previsto no artigo 299 do Código Eleitoral, com a expedição de alvará de soltura, por asseverar presentes o fumus boni iuris, este “[...] fundado no princípio da presunção da inocência, previsto no artigo 5º da Constituição Federal e por ter sido de toda ilegal a prisão em fl agrante efetuada [...]” (fl . 10), e o periculum in mora, já que, se concedida a liberdade provisória tão somente quando encerrada a votação, ser-lhe-ia tolhido o direito/dever constitucional ao voto. Em 03.10.2010, o pedido liminar foi deferido (fl s. 23-26). Foram prestadas informações pelo Presidente do Tribunal de origem, Desembargador José de Moura Filho (fl . 40). O Ministério Público Eleitoral veio pelo não conhecimento da ordem, em parecer da lavra da Procuradora Regional da República, Dra. Fátima Aparecida de Souza Borghi, assim sumariado (fl . 44): Habeas corpus. Eleições 2010. Crime previsto no artigo 299 do Código Eleitoral. I - Inconformismo contra a segregação cautelar do paciente com supedâneo no fundamento de ausência dos requisitos ensejadores da medida constritiva. Superveniência de expedição de alvará de soltura. Perda de objeto. II - Pelo não conhecimento do writ. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, habeas corpus impetrado em favor de Clayton Maia Barros contra ato do Presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins. Por primeiro, registre-se que o Supremo Tribunal Federal já afi rmou que: [...] 4. De acordo com a estrutura da Justiça Eleitoral brasileira, é competente o TSE para conhecer e julgar habeas corpus impetrado contra ato supostamente ilegal ou abusivo, perpetrado por qualquer dos órgãos fracionários do TRE, no caso, a Presidência da Corte 24 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais regional [...]. (Habeas Corpus n. 88.769-4-SP, Relª. Ministra Ellen Gracie, julgado em 09.09.2008, DJ 26.09.2008, 2ª Turma) O pedido liminar foi concedido ao fundamento de que a preservação da prisão cautelar do paciente está essencialmente fundada na qualidade de prefeito do paciente e na própria natureza da infração penal, induvidosamente insufi cientes para justifi car a necessidade da constrição cautelar, não havendo porque obstar a concessão imediata da fi ança. Os autos dão conta de que o paciente não mais se encontra segregado, tendo sido a ele concedida a liberdade provisória mediante pagamento de fi ança, fi xada e recolhida no valor de R$ 5.100,00 (cinco mil e cem reais). Pelo exposto, concedo a ordem para convolar em defi nitivo a liminar deferida. É o voto. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 35.502 (42619- 24.2009.6.00.0000) – CLASSE 32 – PARAÍBA (Remigio) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Recorrente: Célia Maria Pereira Passos Advogados: Vanina Carneiro da Cunha Modesto e outros Recorrido: Ministério Público Eleitoral EMENTA Recurso especial. Crime de corrupção eleitoral. Compra de voto.Reexame de prova. Impossibilidade. Nulidade do acórdão. Não ocorrência. Violação do artigo 59 do Código Penal. Caracterização. Recurso conhecido em parte e parcialmente provido. 1. Não há falar em falta de fundamentação pela inexistência de relatório e voto escritos, quando perfeitamente documentados pela transcrição das notas taquigráfi cas. 25 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido 2. A invocação abstrata da objetividade jurídica do crime, ínsita no tipo, não pode ser considerada como circunstância judicial. 3. Substituída a pena privativa de liberdade não superior a 1 ano nem inferior a 6 meses, impositiva a fi xação de uma restritiva de direito, conforme artigo 44, § 2º, do Código Penal. 4. A pena de multa, no seu valor unitário, deve atender às condições pessoais e econômicas do réu, reclamando adequada fundamentação. 5. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido. Habeas corpus concedido de ofício. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em conhecer parcialmente do recurso, dar-lhe parcial provimento e conceder habeas corpus, de ofício, para fi xar o valor unitário do dia multa no mínimo legal, nos termos das notas taquigráfi cas. Brasília, 20 de maio de 2010. Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente Ministro Hamilton Carvalhido, Relator DJe 10.06.2010 RELATÓRIO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, recurso especial interposto por Célia Maria Pereira Passos, com fundamento nos artigos 121, § 4º, incisos I e II, da Constituição Federal e 276, inciso I, alíneas a e b, do Código Eleitoral, impugnando acórdão do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, assim ementado: Direito Penal Eleitoral e Processual Penal. Crime de corrupção eleitoral. Recurso criminal apresentado por todos os réus conjuntamente. Apresentação posterior de 2º recurso por apenas 26 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais um dos réus. Conhecimento de ambos os recursos. Preliminar de preclusão consumativa suscitada pelo Procurador Regional Eleitoral em relação ao 2º recurso. Rejeição. Prevalência do princípio do devido processo legal substantivo. Preliminar de nulidade do processo por cerceamento de defesa suscitada pelo recorrente. Rejeição. Prazo de três dias estabelecido para apresentação de defesa em dissonância com a norma do art. 359 do Código Eleitoral. Recebimento da peça de defesa após o tríduo inicialmente estabelecido. Ausência de prejuízo. Princípio da instrumentalidade das formas. Mérito. Absolvição de José Passos da Costa. Inexistência de prova quanto à sua autoria. Provimento do recurso. Manutenção da condenação de Célia Maria Pereira Passos e Antônio Júnior da Silva. Prova da autoria e materialidade. Dosimetria. Cominação de multa em valor superior ao máximo previsto no artigo 299 do Código Eleitoral. Exacerbação indevida da pena privativa de liberdade. Inexistência de agravantes, atenuantes, minorantes ou majorantes. Redução das penas impostas. Pena privativa de liberdade fi xada em 1 ano, 4 meses e 15 dias e pena pecuniária fi xada em 6 dias-multa. Provimento parcial. Prescrição da pretensão punitiva inocorrente, considerando a data do fato – 16.06.2004 – e os marcos interruptivos previstos no art. 117 do Código Penal. (fl s. 292-293). A insurgência especial está fundada na violação dos artigos 458, 535 e 563 do Código de Processo Civil e 59 e 68 do Código Penal. É esta a letra dos artigos 458, 535 e 563 do Código de Processo Civil: Art. 458. São requisitos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem. [...] Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: 27 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. [...] Art. 563. Todo acórdão conterá ementa. E teriam sido violados, porque: À intelecção dos dispositivos acima referidos, temos que os requisitos legais de um acórdão são: ementa, relatório, motivação ou fundamentação e dispositivo. Contudo, ao proceder-se a análise do caderno processual, constatou-se que o acórdão apresenta apenas duas páginas contendo a ementa e o dispositivo. (grifo no original - fl . 364). Esta, a letra dos artigos 59 e 68 do Código Penal: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e sufi ciente para reprovação e prevenção do crime: [...] Art. 68 - A pena-base será fi xada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. E teriam sido violados, porque “A motivação foi valorada de forma equivocada [...]” e “[...] o intuito de ganhar a eleição através de captação ilícita de sufrágio é inerente ao próprio tipo penal, não havendo como se aplicar novamente de modo contrário ao denunciado quando da fi xação da pena-base, sob pena de confi guração da dupla valoração (bis in idem), amplamente expurgador por nosso ordenamento penal (grifos no original - fl . 370), bem como que: É inequívoco no tipo penal em comento que as suas conseqüências incidirão diretamente no pleito, comprometendo 28 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais a sua lisura. A mencionada corrupção de eleitores, através de oferecimento de vantagens ou bens, é ínsita ao próprio tipo penal, não havendo como se aumentar a pena, além do mínimo, com espeque em circunstância penal incrustada no preceito secundário do dispositivo imputado, sob pena de confi guração da dupla valoração (bis in idem), amplamente expurgado por nosso ordenamento penal. (fl . 371). A recorrente sustenta, ainda, divergência jurisprudencial no sentido de que: [...] trata de caso idêntico ao ora telado, onde também houve condenação pela prática do ilícito tipifi cado no art. 299 do Código Eleitoral. Ademais, nas duas situações houve a equivocada valoração das circunstâncias judiciais, ensejando assim, [sic] a reforma do julgado. (fl . 375). E, por fi m, sem indicar dispositivo legal apontado como violado, alega que “A fragilidade do acervo probatório, levando ao questionamento acerca da autoria delitiva implica na aplicação do princípio da presunção de inocência do acusado, disciplinado constitucionalmente [...].” (fl . 367). É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, por primeiro, quanto à alegada fragilidade do acervo probatório, tem-se que a ausência de particularização do dispositivo de lei federal a que os acórdãos – recorrido e paradigma – teriam dado interpretação discrepante consubstancia defi ciência bastante, com sede própria nas razões recursais, a inviabilizar a abertura da instância especial, atraindo, como atrai, a incidência do Enunciado n. 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, verbis: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a defi ciência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia. 29 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido De qualquer modo, o tema encontra óbice nos Enunciados n. 7 do Superior Tribunal de Justiça e n. 279 do Supremo Tribunal Federal. Assim defi nido o âmbito de cabimento do recurso especial,dou-lhe parcial provimento. A fundamentação das decisões do Poder Judiciário, tal como resulta da letra do inciso IX do artigo 93 da Constituição da República, é condição absoluta de sua validade e, portanto, pressuposto de sua efi cácia. Substancia-se na defi nição sufi ciente dos fatos e do direito que a sustentam, de modo a certifi car a realização da hipótese de incidência da norma e os efeitos dela resultantes. Veja-se, a propósito, o disposto no artigo 458, inciso II, do Código de Processo Civil: Art. 458. São requisitos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem. In casu, está a recorrente em que o acórdão recorrido carece de fundamentação porque não constam nos autos relatório, fundamentação e ementa. No entanto, não há falar em falta de fundamentação, não ultrapassando, quando muito, os limites da irregularidade a inexistência de relatório e voto do relator escritos, visto que perfeitamente documentados pela transcrição das notas taquigráfi cas aptas a suprir a alegada falta. O acórdão, com sua ementa e dispositivo, está às fl s. 292-293; o relatório, às fl s. 302-304; o voto do relator, às fl s. 333-340; e o voto do revisor, vencedor, às fl s. 341-344. 30 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais Tampouco, em nulidade. Não só porque o feito não se ressente de nenhuma das peças reclamadas, mas também porque o suprimento da falta pelas notas taquigráfi cas afasta de forma peremptória a ocorrência de qualquer prejuízo, de modo a inibir que se fale em nulidade na espécie. Da fundamentação, diga-se, em especial, é bastante, abrangendo a análise detida de todos os elementos da prova, aptos a tornar certa a prática do ilícito pela recorrente. Senão, vejamos o voto do relator: [...] Eu considerei prejudicadas as preliminares porque ele pediu desentranhamento da peça. Aí não tinha mais o que... entendeu, doutor? Porque foi numa segunda peça também. No mérito: Inicialmente, ressalto que anterior decisão que julga pela procedência de ação de investigação judicial eleitoral para apurar a captação ilícita de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei das Eleições não obsta eventual condenação por crime de corrupção eleitoral, dada a independência da esfera criminal em relação à esfera cível eleitoral, conforme recente precedente do TSE. Diz a denúncia que os eleitores aliciados, os irmãos Francisco Sales Medeiros Dias e Francisco de Assis Medeiros Dias, teriam recebido a importância de R$ 100,00, cada, do segundo e terceiros denunciados – me refi ro a Célia Maria Pereira Passos e Antônio Júnior da Silva - e logo em seguida, procuraram o Promotor Eleitoral e a Juiza Eleitoral para denunciar o fato, razão porque [sic] a magistrada requisitou à autoridade policial a abertura do competente inquérito policial. A prova documental demonstra as quatro cédulas R$ 50,00 (cinqüenta reais), que se encontram às fl s. 15. A quantia foi dada aos irmãos Francisco Sales e Francisco de Assis Medeiros Dias em troca de voto, considerando que, conforme as próprias declarações prestadas por Francisco de Assis Medeiros Dias, ele, seu irmão e sua mãe sempre foram eleitores de Cláudio Régis, opositor político do denunciado José Passos da Costa. As declarações em juízo prestadas pelos declarantes e pelas testemunhas corroboram a versão ministerial que efetivamente houve a captação ilícita de sufrágio prevista no art. 299 do Código Eleitoral Brasileiro, cuja redação é a seguinte ... eu me abstenho de ler a redação do Código porque todos conhecem. Passo então a examinar as provas testemunhais neste sentido: Francisco de Assis Medeiros afi rmou em juízo que: “Que o declarante e seu irmão 31 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido foram assediados pelo denunciado Antônio Júnior, a fi m de que eles votassem no candidato a Prefeito Dr. Passos; que o réu ofereceu a quantia de 200 reais para cada um; que no dia marcado com o acusado, ele declarante e seu irmão Francisco Sales, [sic] foram até a casa do réu e lá chegando estava a Dona Célia Passos e a testemunha Wellington; que nesse dia havia bebida e comida para o declarante e seu irmão, na casa do réu; que a Dona Célia Passos aproximou-se do declarante e seu irmão e deu-lhes a quantia de 100 reais para cada um, afi rmando que se tratava de uma doação do Dr. Passos; bem como que aquilo deveria fi car em segredo; que não reclamaram de ter recebido metade da quantia combinada porque estavam precisando de dinheiro para montar um salão; que sua mãe sempre foi eleitora de Cláudio Régis, como também ele declarante e seu irmão; que quando saíram da casa do acusado Júnior, este encontrou- se com sua mãe e agrediu-a verbalmente e só não a agrediu fi sicamente porque foi impedido; que em razão disso ele declarante e seu irmão resolveram denunciar o ocorrido à Polícia; que não tinha conhecimento que a sua conduta ao receber dinheiro em troca de voto é correspondente a um crime eleitoral também; que quando aceitou a proposta do acusado Júnior tinha apenas a intenção de montar o seu salão, pois o declarante afi rma que não tem emprego nem condições para tanto”; Declaração de Francisco Sales Medeiros Dias, disse ele: “Que afi rma que desde o início da campanha o candidato Júnior o assediava e também ao seu irmão a fi m de que trocassem de partido para votar neste candidato, bem como no Dr. Passos; que haveria uma compensação fi nanceira para tanto, no valor de 100 reais para cada um; que não aceitou a proposta do acusado Júnior, mas um dia este lhe chamou para tomar vodka em sua casa – era também a casa Dr. Passos – mas um dia este lhe chamou para tomar vodka em sua casa, foi quando o declarante e seu irmão, ao chegarem em lá, depararam-se com Dona Célia Passos, a qual lhes deu 100 reais para cada um; que ele declarante recebeu o dinheiro das mãos de Dona Célia, bem como seu irmão; que os fatos ocorreram dentro da casa do candidato Júnior; que lá só estavam ele declarante, seu irmão, os denunciados Júnior e Dona Célia e mais ninguém; que recebeu o dinheiro da ré Célia, devido à pressão que sofreu no momento, como também, a infl uência da bebida; que esses foram os maiores motivos, apesar de estar necessitando de dinheiro; que a festa já estava no fi nal quando sua mãe ia chegando da cidade de Campina Grande e ouviu o seu nome e de seu irmão no carro de 32 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais som, momento em que ela resolveu perguntar ao acusado Júnior e mãe deste o que estava acontecendo com seus fi lhos, tendo eles a agredido verbalmente; que por razão disso sua mãe desmaiou, tendo o declarante afi rmado que o dinheiro era para que ele declarante e seu irmão mudassem de partido e votassem em Dr. Passos – está truncada aqui a redação; que depois de ter recebido o dinheiro da denunciada Célia vestiu uma camisa do candidato Dr. Passos e deu uma volta em cima do carro; que naquela ocasião o carro de som afi rmava que ele e seu irmão havia mudado de partido e aderido à campanha do Dr. Passos; que seu irmão também vestiu a camisa deste candidato e subiu no veículo; que o acusado Júnior foi quem lhe pressionou a aceitar o dinheiro e a vestir a camisa de Dr. Passos, pois sempre afi rmava que era melhor para ele que o Dr. Passos ganhasse; que o dinheiro foi entregue na casa da mãe do candidato Júnior”. - fl s. 107-108. Digo eu: Observa-se dos depoimentos prestados pelos declarantes que a iniciativa de receber o dinheiro e depois procurar as autoridades para denunciaro ilícito não se deu por razões nobres de cidadania, mas porque a mãe dos declarantes foi detratada pelo denunciado Antônio Júnior da Silva. Restou evidenciado também que a família a qual pertence os dois declarantes tinha no Município de Remígio um histórico apoio ao adversário político do denunciado José Passos, daí a importância de suas adesões ao seu projeto político para prefeito daquela comuna e que motivou o desfi le em praça pública dos dois irmãos, o que reforça mais ainda a tese da captação ilícita de sufrágio – foi discutida em ação própria. Nesse mesmo sentido, entendeu o douto Procurador, cujo trecho do parecer cito, neste ponto: “De outra banda, não se pode olvidar, ainda, que, consoante se pode auferir inequivocamente das informações prestadas em juízo, os irmãos gêmeos em testilha sempre foram eleitores de Cláudio Regis, e que, pelo fato de não estar apoiando a candidato do recorrente José Passos, estavam sendo constantemente procurados para mudança de partido e de candidato. Circunstâncias estas que reforçam a tese de que houve efetivamente compra de votos em questão, pois, em nenhum momento do presente contexto probatório, é possível identifi car qualquer indicativo de outro motivo para a adesão dos referidos irmãos ao lado político dos recorrentes. E prossegue o Ministério Público Eleitoral: Tal entendimento encontra respaldo quando se depreende dos autos o fato incontroverso de que a confusão envolvendo a genitora daqueles eleitores se deu justamente porque o assédio 33 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido eleitoral dos recorrentes em busca de apoio político dos gêmeos em tela provocou a ira daquela mãe, que ao chegar de viagem, percebeu tal situação e reagiu de maneira ríspida e descontente, uma vez que esta, juntamente com sua prole, sempre foram eleitores do político opositor”. E eu digo: O anúncio em carro de som de adesão dos dois declarantes à candidatura de José Passos foi presenciada pela testemunha Welington Dias da Silva, cabo eleitoral do terceiro denunciado. A referida testemunha também afi rma que ouviu dois irmãos que os mesmos teriam recebido das mãos de Célia Maria Pereira Passos as quatro notas de R$ 50,00 reais [sic] quando estavam na casa de Antônio Júnior da Silva. Cito o depoimento de um deles: “Que era cabo eleitoral do candidato Júnior, quando após uma passeata fi cou na frente da casa da mãe deste e viu quando lá entraram Dona Célia, o candidato Júnior e os declarantes Francisco de Assis e Francisco Sales; que apenas sabe informar que quando os irmãos declarantes saíram de lá foram para sua casa e lá mostraram quatro notas de 50,00 reais [sic] e afi rmaram que receberam de Dona Célia; Que antes de receber o dinheiro, após tomar algumas doses de bebida alcoólica, os dois irmãos subiram no carro em passeata, sendo naquela oportunidade anunciado no carro de som que os mesmos tinham mudado de candidatos”. Eu digo: A testemunha Francisco de Assis Ferreira da Silva também declarou em juízo que no dia dos fatos narrados estava próximo à casa do denunciado Antônio Júnior da Silva quando viu os citados irmãos subirem num carro e desfi larem em comemoração às suas adesões à candidatura do denunciado José Passos da Costa e que o carro de som anunciava a aludida adesão. Afi rmou também que ouviu a discussão entre Antônio Júnior da Silva e a Mãe de Francisco Medeiros Dias e Francisco de Assis Medeiros Dias e que depois da referida discussão os mencionados irmãos declararam que tinham recebido dinheiro da recorrente Célia Passos para que os mesmos votassem em seu marido”. E segue depoimento também da testemunha Adailton de Farias Araújo, que presenciou outros fatos. E eu digo: As demais testemunhas ouvidas em juízo às fl s. que eu cito em nada acrescentaram à prova testemunhal, visto que são testemunhas de “ouvir dizer”. A testemunha Alexandre Gonçalves Dias confi rma que o fato dos gêmeos circularem em cima de um veículo nas ruas da cidade se deu em razão da adesão à candidatura do Sr. José Passos e que, até aquele dia, os irmãos mesmos eram eleitores do seu adversário político. Vale registrar que sobre o fato em análise, a Justiça Eleitoral da 67ª Zona 34 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais já havia se pronunciado e reconhecido também a captação ilícita de sufrágio com base no art. 41-A da Lei das Eleições, razão [sic] porque cassou o registro de candidatura do denunciado José Passos, decisão essa que foi mantida pelo plenário desta Corte. Está aqui transcrito o trecho da decisão desta Corte em relação a [sic] penação do candidato José Passos, que eu me permito deixar de ler. E prossigo: No TSE, o recorrente José Passos não obteve êxito e o seu Recurso Especial sequer foi conhecido. De igual forma, nestes autos, a prova testemunhal, aliada aos demais elementos de prova (as cédulas constantes às fl s. 15) somente corrobora a existência de captação ilícita de sufrágio praticada pelos denunciados, ora recorrentes. As declarações prestadas na esfera extrajudicial foram confi rmadas em juízo e foram conclusivas quanto à existência do tipo previsto no art. 299 do CE. No caso concreto, os requisitos exigidos pela lei e pela jurisprudência do TSE restaram preenchidos, confi gurando, assim, o art. 299 do Código Eleitoral, quais sejam a doação de dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem a eleitor e o elemento subjetivo do tipo que é a fi nalidade de obter-lhe o voto. Entendo que, até por uma questão de coerência, considerando a prova dos autos e os tipos descritos nos art. 299 do CE e 41-A da Lei das Eleições, que são os mesmos, não teria sentido a Justiça Eleitoral cassar o registro do candidato com base neste último dispositivo, como de fato ocorreu, e, por outro lado, entender que não fi cou caracterizado o crime eleitoral previsto no art. 299 do Código Eleitoral, principalmente quando a prova que ensejou a cassação do registro do Sr. José Passos da Costa no inquérito policial é a mesma que fundamenta esta ação criminal. [...] (fl s. 334-338). E também, o voto do revisor, no que interessa à espécie: Em primeiro lugar, eu peço paciência e desculpa à Corte e aos Advogados, porque, pelo número alentado de processos que ingressaram no meu gabinete, eu não tive condições de trazer um voto escrito, tenho necessidade de fazer o voto oral. Com relação à materialidade do fato, eu também entendo que não há nenhuma dúvida da sua ocorrência, não só porque a sentença proferida em sede de ação civil eleitoral que culminou com a cassação do mandato por captação ilícita de sufrágio, mas também pelas provas produzidas nesse processo é no sentido da apreensão das cédulas que 35 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido teriam sido entregues às vítimas, depoimento das vítimas e também das testemunhas, ainda que tirando os possíveis aliciadores e os aliciados, não havia terceiros naquele local, naquele momento, mas nós temos também testemunhas circunstanciais que corroboram o fato de que essas pessoas estiveram na casa do acusado Antônio Júnior da Silva, viram quando eles saíram e imediatamente, na saída dessa casa, já apresentaram as cédulas e narraram para essas pessoas o que tinha ocorrido no interior daquela casa, ou seja, de que eles foram cooptados por Célia Maria Pereira Passos, Antônio Júnior da Silva. Inclusive, o relator teve o cuidado de narrar e descrever os vários depoimentos e os trazidos também pelo Ministério Público, em especial de Wellington Dias da Silva, Francisco de Assis Pereira da Silva, Adailto de Farias Araújo, Josivan Sousa da Silva, Diva Maria Gomes da Silva. Inclusive com relação ao primeiro, que diz assim: que era cabo eleitoral do candidato Júnior, quando após uma passeata fi cou na frente da casa da mãe deste e viu quando entraram Dona Célia,o candidato Júnior e os declarantes Francisco Assis e Francisco Chaves; que quando os irmãos declarantes saíram de lá foram para sua casa e lá mostraram quatro notas de cinqüenta reais e afi rmaram que receberam de Dona Célia. Então, unindo todos esses elementos de prova, eu não tenho dúvida nenhuma no meu espírito de que houve, realmente, o crime previsto no art. 299 do Código Penal Eleitoral. Com relação à autoria, o conjunto probatório foi muito bem examinado pelo relator no sentido da autoria do crime que é imputado a Célia Maria Pereira Passos e Antônio Júnior da Silva. [...] (fl s. 341-342). [...]. Agora, com relação à Célia Maria Pereira Passos e Antônio Júnior da Silva, pelos fundamentos que já expus de forma sucinta, o meu voto é pelo provimento parcial de ambos os recursos. Por quê? Enquanto havia a discussão aí, eu estava fazendo a dosimetria da pena. Na análise, na observância do critério trifásico, o juiz, na primeira fase, afi rmou que a culpabilidade é presente pois agiu com dolo. Veja, a culpabilidade que nós examinamos nessa fase da dosimetria da pena não é a culpabilidade elemento do crime, e sim aquela culpabilidade que excede a culpabilidade elemento do crime, e não há nenhum indicativo de uma culpabilidade que exceda ao normal daquele crime, ou seja, prevista no próprio tipo. Com relação ao dolo, há muito que já está abandonada a teoria causal da ação, o dolo 36 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais é elemento do fato típico, da conduta, ele é examinado para efeito de verifi car se há crime ou não. Então, me parece que essa circunstância judicial aqui ela foi equivocadamente valorada. Com relação aos antecedentes, não há antecedentes. A conduta social, também não há nenhum elemento aqui indicativo da conduta social e da personalidade, nenhum elemento desabonador, como reconheceu o juiz. As circunstâncias não foram boas, posto que aliciou diretamente os eleitores. Ora, isso é a própria elementar do crime é você oferecer, dar, etc., a vantagem para cooptar o voto. Então, isso aqui não traduz circunstância judicial negativa. As conseqüências foram graves diante da interferência direta na lisura do processo democrático. Nesse aspecto eu entendo que, realmente, há essa circunstância judicial negativa e, portanto, eu reconheço apenas uma circunstância judicial negativa para esse fato. Considerando que o mínimo da pena não é identifi cado, mas como é pena de reclusão então o mínimo é um ano e o máximo quatro anos, são oito circunstâncias judiciais, então, objetivamente, porque a dosimetria é sempre um calo, então, se são oito circunstâncias judiciais, se nós aquilatarmos cada circunstância na base de 1/8, então a pena-base fi ca um ano, quatro meses e 15 dias, o reconhecimento de uma única circunstância e considerando que há também uma circunstância judicial negativa, para efeito de aplicação de dias-multa, considerando que a variação, a defesa tem toda razão, eu até me surpreendi, doutor, porque no direito penal comum o legislador não teve essa preocupação de fi xar os limites mínimos e máximos no tipo penal. No tipo penal não tem, é lá na parte geral do Código Penal, a partir do 59, que ele estabelece de um a trezentos e sessenta dias-multa, mas o legislador penal eleitoral teve esse cuidado de estabelecer limites mínimos e máximos. Ora, se não há na segunda fase nenhum agravante e nenhum atenuante, na terceira fase nenhuma majorante e nenhuma minorante, então essa imposição da pena de multa ela não poderia desbordar dos limites mínimo e máximo por infringência ao art. 59, II, que diz que o juiz deve fi xar nessa fase dentro dos limites da pena cominada no tipo penal. Então, fazendo o cálculo, daria, considerando cinco a quinze dias multa, daria seis dias-multa. E aí a razão de um salário mínimo vigente à data do fato, porque a fi xação de um parâmetro menor do que esse ia tornar absolutamente inócua a norma penal. Então, o meu voto com relação aos Recursos de Célia Maria Pereira Passos e Antônio Júnior da Silva, já que os fundamentos para a dosimetria são idênticos para um e para outro, é pelo provimento parcial do 37 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido recurso apenas para reformar a sentença no que tange à dosimetria da pena, reduzindo a pena de prisão para um ano, quatro meses e quinze dias e a pena de multa para seis dias-multa, à razão de um salário mínimo vigente à data do fato. E com relação, mas o juiz já, diante da observância dos requisitos e pressupostos do art. 44, já fez a conversão em pena restritiva de direito, então quanto a isso eu não tenho nenhuma objeção a fazer.[...] (fl s. 343-344). Relativamente à individualização da pena, estou em que houve efetivamente violação da lei federal. A própria objetividade jurídica do crime foi invocada como circunstância judicial para exasperar o mínimo legal de 1 ano para 1 ano, 4 meses e 15 dias de reclusão, e de 5 dias multa para 6 dias multa. É caso, pois, de redução das penas ao mínimo legal e, consequentemente, da aplicação de uma única pena restritiva de direito, que as circunstâncias e natureza do crime indicam a prestação de serviços à comunidade, apta a fortalecer o sentimento de cidadania. Remanesce, ainda, a meu sentir, uma questão, a saber: a falta de fundamentação do valor unitário do dia multa, que deverá ser fi xado, de acordo com o artigo 286, § 1º, do Código Eleitoral, segundo o prudente arbítrio do juiz, devendo ser consideradas as condições pessoais e econômicas do condenado. Para a certeza das coisas, a fi xação do valor unitário do dia multa está assim justifi cada: [...] Então, fazendo o cálculo, daria, considerando cinco a quinze dias-multa, daria seis dias-multa. E aí à razão de um salário mínimo vigente à data do fato, porque a fi xação de um parâmetro menor do que esse ia tornar absolutamente inócua a norma penal. (fl . 344). Ante a evidente falta de fundamentação, o valor unitário do dia multa deverá ser fi xado em seu mínimo legal. Pelo exposto, conheço parcialmente do recurso e lhe dou parcial provimento, para, reformando o acórdão impugnado, fi xar as penas da recorrente no mínimo legal, mantido, no mais, o decisum de primeiro 38 MSTJTSE, a. 3, (8): 13-38, agosto 2011 Crimes Eleitorais grau e, de acordo com o artigo 44, § 2º, do Código Penal, excluir a pena restritiva de direito de prestação pecuniária, por se cuidar de pena privativa de liberdade igual a um ano. Concedo, entretanto, habeas corpus de ofício, para fi xar o valor unitário do dia multa no mínimo legal. É o voto. Desincompatibilização AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 1.866-87.2010.6.18.0000 – CLASSE 32 – PIAUÍ (Teresina) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Agravante: Coligação Para o Piauí Seguir Mudando (PSB/PMDB/ PT/PC do B/ PRB/PR/PTN/PRP) Advogado: Guilardo Cesá Medeiros Graça Agravado: Ministério Público Eleitoral EMENTA Agravo regimental. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Deputado estadual. Impugnação. Desincompatibilização. Ocupante de cargo na Administração Pública. Prova. Intimação para sanar o vício. Juntada de novos documentos com os embargos de declaração. Contraditórios. Desprovimento. 1 - O prazo de desincompatibilização deve ser cumprido de modo a não imprimir dúvida ao julgador. 2 - Agravo regimental a que se nega provimento. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 1º de fevereiro de 2011. Ministro Hamilton Carvalhido, Relator DJe 18.02.2011 RELATÓRIO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto pela Coligação Para o Piauí Seguir Mudando, com fundamento no artigo 36, §§ 8º e 9º,do RITSE, contra decisão que negou seguimento a recurso ordinário, in verbis (fl . 148-151): 42 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 [...] De início, envolvendo o caso dos autos discussão acerca de prazo de desincompatibilização, conforme a disciplina estabelecida pelo artigo 49, I, da Res.-TSE n. 23.221/2010, recebo o recurso como ordinário. A orientação fi rme deste Tribunal é de que “[...] A necessidade de desincompatibilização é uma forma de preservar a lisura do pleito e o equilíbrio entre os postulantes a cargos eletivos [...]” (REspe n. 20.060-RS, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo, publicado na sessão de 20.9.2002). No caso, o Ministério Público Eleitoral formulou impugnação à candidatura de Roberto Ramos de Queiroz Júnior ao cargo de deputado estadual nas eleições de 2010, por considerar que o requerente, ocupante de cargo na administração pública, apresentara documentos contraditórios na tentativa de comprovar sua desincompatibilização. O Tribunal a quo, considerando a prova nos autos, indeferiu o pedido de registro, valendo-se da seguinte fundamentação (fl . 45): [...] No caso em tela, o requerente não observou o prazo legal de desincompatibilização, devendo, portanto, ser considerado inelegível, nos termos da Lei Complementar n. 64/1990. Apreciando nova documentação trazida pelo candidato em sede de embargos, assim se posicionou aquela Corte (fl . 66-66 v.): [...] Agora, com a petição dos embargos de declaração, a coligação recorrente apresenta três outros documentos, às fl s. 53-55. O primeiro consiste na petição de afastamento, subscrita pelo candidato, datada de 02.07.2010, e supostamente recebida pelo Diretor da Unidade Escolar Antonio de Almendra Freitas, na mesma data. O segundo, trata-se de uma declaração, lavrada também em 02.07.2010, pelo referido Diretor daquela escola, 43 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido afi rmando que o Sr. Roberto Ramos de Queiroz Junior lhe apresentara o pedido de desincompatibilização, em razão do qual se encontraria licenciado a partir de 03.07.2010, declaração esta recebida pela titular da Coordenação de Benefícios da Unidade de Gestão de Pessoas, vinculada à Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Piauí, também em 02.07.2010. Esses documentos foram, todos, e em sequência, emitidos na mesma data, em tramitação expressivamente célere. O terceiro documento ora apresentado consiste em uma declaração fi rmada pela titular da Coordenação de Benefícios da Unidade de Gestão de Pessoas, vinculada à Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Piauí, desta vez com data de 27.07.2010, mesma data da declaração acostada às fl s. 40, também por ela subscrita, atestando que o servidor Roberto Ramos de Queiroz Junior “requereu licença para Atividade Política através do Processo n. 0034101/10, de 23.07.2010, mas o referido servidor encontra-se afastado de suas funções desde 03.07.2010, conforme Declaração da escola (em anexo), portanto, o mesmo já está em gozo da referida licença desde 03.07.2010”. Vale dizer, o processo administrativo é mesmo datado de 23.07.2010. As contradições, destarte, são evidentes e relevantes. Ora, se na mesma data, ou seja, em 23.07.2010, a titular da Coordenação de Benefícios da Unidade de Gestão de Pessoas, vinculada à Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Piauí, emitiu duas declarações, uma das quais esclarecendo que o candidato já se encontrava afastado desde 03.07.2010, por que então o postulante, quando intimado, trouxe aos autos apenas a declaração menos elucidativa, qual seja, a de que a desincompatibilização fora requerida através de processo datado de 23.07.2010? Ademais, se o candidato, ou a coligação pela qual concorre, já possuía documentos contemporâneos à data do pedido de registro, quais sejam, a petição de licença para atividade política e a declaração do Diretor da escola na qual o servidor é lotado, ambos de 02.07.2010, por que estes documentos não acompanharam o RRC nem foram apresentados pelo candidato quando de sua intimação? [...] 44 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 Por outro lado, se o embargante traz aos autos elementos inéditos, mas contemporâneos ao pedido de registro, sem declinar as razões de sua não-apresentação quando da postulação ou do cumprimento da diligência, estes documentos devem ser examinados com as cautelas necessária e devem, também, harmonizar-se com outros elementos do conjunto probatório, sob pena de serem tidos por imprestáveis para modifi car a decisão vergastada. [...] No caso destes autos, os novos documentos, pelas contradições já apontadas, não se prestam para infi rmar a intempestividade do afastamento do pretenso candidato Roberto Ramos de Queiroz Junior de suas atividades no Serviço Público, devendo ser mantida a decisão desta Corte que indeferiu seu pedido de registro de candidatura em razão de sua desincompatibilização tardia. [...]. Como se depreende, a Corte de origem fundamentou o decisum na ausência de comprovação do afastamento de fato do candidato no prazo legal, ante a contradição dos documentos por ele trazidos. É importante ressaltar que, consoante o artigo 26, V, da Res.- TSE n. 23.221/2010, a prova da desincompatibilização deve ser apresentada no momento do pedido de registro, verbis: Art. 26. A via impressa do formulário Requerimento de Registro de Candidatura (RRC) será apresentada com os seguintes documentos: [...] V – prova de desincompatibilização, quando for o caso; [...]. A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral admite a regularização de documentação na instância superior somente quando esta não foi oportunizada pelo juízo a quo. Senão vejamos: Eleições 2006. Registro de candidatura. Indeferimento. Agravo regimental. Recurso especial. Desincompatibilização. Escolha em convenção. Ausência. Fundamentos não infi rmados. 45 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido - Nos termos da Súmula-TSE n. 3, a possibilidade de sanar a falha com a juntada da documentação com o recurso, só se dá no caso de não ter sido dada oportunidade para o suprimento da omissão, o que não se aplica ao caso dos autos. [...] - Agravo Regimental a que se nega provimento. (AgRgRO n. 1.285-RN, Rel. Ministro Gerardo Grossi, publicado na sessão de 25.9.2006) Com efeito, no caso, o Tribunal Regional Eleitoral do Piauí intimou o recorrente, e este apresentou documentos que, contrariamente ao que foi sustentado nas razões do recurso, corroboraram a impugnação ofertada. Nesse contexto, não merece reparo o acórdão impugnado, porquanto, à vista dos elementos constantes dos autos, não foi atendido o preceito legal no tocante ao afastamento tempestivo do cargo público, fundamento, por si só, sufi ciente para o desprovimento do recurso interposto. Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao recurso. [...]. A agravante alega ofensa ao artigo 1º, II, l, c.c. o inciso VI, da Lei Complementar n. 64/1990, insistindo, em síntese, que, verbis (fl . 161): [...] O que se verifi ca no presente caso é que o e. TRE-PI se apegou demasiadamente à forma, quando da apreciação da documentação apresentada pelo candidato requerente para indeferir o seu registro de candidatura, esquecendo-se de verifi car a situação fática, qual seja, o efetivo afastamento do candidato de suas atividades profi ssionais no serviço público estadual desde o dia 03.07.2010, o que contraria o entendimento deste Colendo Tribunal acerca do tema [...]. (grifos do original) Reporta-se ao julgado por este Tribunal no REspe n. 20028, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence, publicado no DJU de 5.9.2002; REspe n. 19988, Rel.Ministro Sálvio de Figueiredo, publicado no DJU de 3.9.2002; 46 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 RO n. 541, Rel. para o Acórdão Ministro Fernando Neves, publicado no DJU de 3.9.2002; quanto à necessidade de se verifi car a desincompatibilização no plano fático. Requer o provimento do agravo regimental para que seja dado seguimento ao recurso ordinário e deferido o registro de candidatura. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o agravo não merece prosperar. In casu, o candidato ocupava o cargo público de auxiliar de serviços de vigilância na Secretaria da Educação e Cultura (SEDUC) do Estado do Piauí, lotado na Unidade Educacional Antonio de Almendra Freitas, em Teresina. Consta da fl . 35 despacho do Relator no Tribunal a quo, Juiz Haroldo Oliveira Rehem, de 21.7.2010, determinando que o candidato esclarecesse (fl . 35): [...] mediante documento hábil, sua condição de servidor público, indicado o cargo que ocupa, a função que exerce e o órgão ou instituição a cujo quadro pertence [...], devendo apresentar, em consequência, comprovante de sua desincompatibilização. A intimação foi efetuada em 22.7.2010, havendo o candidato, no dia seguinte, apresentado declaração da Coordenadora de Benefícios da SEDUC, datada de 23.7.2010, atestando que o servidor “[...] requereu licença para Atividade Política através do Processo n. 0034101/10, de 23.07.2010” (fl . 40). O Tribunal Regional Eleitoral do Piauí indeferiu-lhe o registro por concluir que a declaração, apresentada à fl . 40, não se prestava a provar a desincompatibilização. No caso, o referido documento não faz menção à data em que o servidor teria se afastado de fato. E mais, ainda que se infi ra que se trate da 47 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido data referida no documento, 23.7.2010, o prazo de três meses anteriores do pleito não teria sido cumprido, pois o afastamento deveria ter ocorrido em 3.7.2010. Saliente-se, também, que os documentos trazidos a posteriori, com os embargos de declaração, tampouco socorrem ao candidato. Aos autos, foram juntadas: nova declaração da Coordenadora de Benefícios da SEDUC, datada também de 23.7.2010, atestando que o candidato “[...] requereu licença para Atividade Política através do Processo n. 0034101/10, de 23.07.2010, mas o referido servidor encontra-se afastado de suas funções deste 03.07.2010, conforme Declaração da escola (em anexo), portanto, o mesmo já está em gozo da referida licença desde 03.07.2010” (fl . 55); petição de afastamento, subscrita pelo candidato, de 2.7.2010, recebida pelo diretor da Unidade Escolar Antonio de Almeida Freitas, no mesmo dia 2; declaração, com data de 2.7.2010, assinada pelo dirigente da unidade de ensino afi rmando que o candidato lhe apresentara o pedido de desincompatibilização, em razão do qual se encontraria licenciado a partir do dia 3, documento este recebido pela Coordenadora de Benefícios. Os documentos apresentados com os declaratórios mostram-se contraditórios em relação ao juntado à fl . 40 no que diz respeito à data do efetivo afastamento. Com efeito, o prazo de desincompatibilização deve ser cumprido de modo a não imprimir dúvida ao julgador. Assim tenho por correto o acórdão recorrido, não merecendo, portanto reparos a decisão agravada. Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. É o voto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 1.494-47. 2010.6.07.0000 – CLASSE 37 – DISTRITO FEDERAL (Brasília) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Agravante: Maria do Socorro Marques Miranda Advogados: Andrea Brito Lustosa da Costa e Sousa e outros 48 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 EMENTA Eleições 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental no recurso ordinário. Membro de Conselho. Desincompatibilização. Comprovação. Insufi ciência. Fundamento não infi rmado. Enunciado n. 182 da Súmula do STJ. Desprovimento. 1. Após o indeferimento do pedido de registro de candidatura, somente é permitida a apresentação de documento a fi m de provar o afastamento do cargo desde que ao candidato não tenha sido dada a oportunidade para suprir a falta, na fase prevista nos artigos 11, § 3º, da Lei n. 9.504/9731 e 31 da Res.-TSE n. 23.221/2010. 2. A persistência da falha na instrução do registro, não obstante concedidas oportunidades para saná-la, acarreta o indeferimento do registro de candidatura. 3. Torna-se inviável o provimento do agravo regimental quando não afastados os fundamentos da decisão impugnada, fazendo incidir o Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 4. Agravo regimental desprovido. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 3 de novembro de 2010. Ministro Hamilton Carvalhido, Relator Publicado em Sessão RELATÓRIO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão de minha lavra pela qual neguei seguimento a 49 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido recurso ordinário interposto por Maria do Socorro Marques Miranda, nos termos seguintes (fl s. 94-95): [...] Tudo visto e examinado, decido. À recorrente foram concedidas duas oportunidades pela Corte Regional para sanar a ausência de documentação (fl s. 24 e 51). Porém, apenas acostou os documentos de fl s. 54-61, o que não se mostrou, como não se mostra, sufi ciente para comprovar seu efetivo afastamento do cargo ocupado no Consea-DF. Sobre o tema, é esta a jurisprudência desta Corte, verbis: [...] 1. Em processo de registro de candidatura é permitida a apresentação de documentos até em sede de embargos de declaração perante a Corte Regional, mas desde que o juiz eleitoral não tenha concedido prazo para o suprimento do defeito. Precedentes. [...]. (AgR-REspe n. 31.213-RJ, Rel. Ministro Eros Grau, publicado na sessão de 4.12.2008) [...]. A insurgência está fundada na possibilidade de conhecimento e provimento do recurso interposto, no que assim argumenta a agravante (fl s. 100-102): [...] a Recorrente requereu o seu afastamento das atividades de Membro Suplente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Distrito Federal em 1º de julho de 2010. É certo que no documento mencionado, foi apostado o recebido na data de 1º.07.2010, sem, contudo, juntar-se o carimbo de identifi cação do Consea-DF. Por esse motivo foi requerida a expedição de declaração pelo referido Conselho para comprovar a desincompatibilização em tempo hábil, sendo emitido o Ofício n. 806, no qual constou que a candidata não poderia ser comparada a um servidor público, posto 50 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 que não era um membro remunerado do Consea-DF, mas que serviria também para referenciar a prova de sua desincompatibilização. Uma vez que a Agravante foi comparada a um servidor público, o simples recebimento do seu pedido de afastamento de suas atividades seria sufi ciente para habilitar sua candidatura para as eleições de 2010. Tal fato decorre da impossibilidade da Administração Pública em negar o pedido de afastamento, ainda mais quando feito para participação em disputa eleitoral. [...] A formulação do pedido de afastamento, devidamente comprovada com o protocolo, já trouxe a presunção de desincompatibilização. [...]. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, tenho que o agravo regimental não merece prosperar. O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal indeferiu o registro de candidatura de Maria do Socorro Marques Miranda ao cargo de deputado distrital nas eleições de2010, ao fundamento de que a ora agravante, ocupante de cargo no Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Distrito Federal, tinha “[...] a obrigação de dele se afastar, em até (03) três meses antes das eleições, sob pena de fi car inelegível” (fl . 72). Para conferir, é esta a letra do voto condutor do acórdão recorrido (fl . 72): [...] Não pode o registro ser deferido. Dou os motivos para assim entender. Sabe-se que a desincompatibilização busca estabelecer igualdade de condições dentre aqueles que buscam se eleger. 51 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido Ensina Pinto Ferreira: A norma visa a coibir o abuso do poder de pessoas que possam infl uenciar o resultado das eleições pela sua permanência em cargo público. (In Comentários à Constituição do Brasil, Editora Saraiva, São Paulo, 1989, 1º Volume, pág. 310). Ensina Marino Pazzaglini Filho: Assim, no dizer de Marcos Ramayana: Tutela-se com a desincompatibilização a isonomia entre os pré-candidatos ao pleito eleitoral especifi co, bem como a lisura das eleições contra a infl uência do poder político e/ou econômico e a captação ilícita de sufrágio, porque incide uma presunção jure et de jure que o incompatível utilizará em seu benefício a máquina da Administração Pública. (In Eleições Gerais, São Paulo, Editora Atlas S.A, 2010, pág. 37). Assim, quem pertence a Conselho, como é o caso da candidata, que tenha ingerência do Poder Público, e isto se dá com Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Distrito Federal - Consea-DF, que tem membros designados pelo Senhor Governador do Distrito Federal, e cuida de políticas públicas, tem a obrigação de dele se afastar, em até 03 (três) meses antes das eleições, sob pena de fi car inelegível. (fl . 72) Após o indeferimento do pedido de registro de candidatura, somente é permitida a apresentação de documento a fi m de provar o afastamento do cargo desde que, ao candidato, não tenha sido dada a oportunidade para suprir a falta, na fase prevista nos artigos 11, § 3º, da Lei n. 9.504/1997 e 31 da Res.-TSE n. 23.221/2010. No caso, foi-lhe concedida pela Corte Regional não uma oportunidade, mas duas (fl s. 24 e 51), para sanar as irregularidades no pedido de registro. A agravante, porém, após essa intimação, acostou os documentos de fl s. 27-45 e 55-61, dos quais não se aferia a data do afastamento das suas funções perante o Consea-DF, daí por que o indeferimento. 52 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 Somente na oportunidade do recurso ordinário é que apresentou declaração fi rmada pelo Secretário de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência e Renda do Governo do Distrito Federal (fl . 84). Todavia, é incabível neste momento a análise do documento, consoante se extraí do Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal, verbis: No processo de registro de candidatos, não tendo o juiz aberto prazo para o suprimento de defeito da instrução do pedido, pode o documento, cuja falta houver motivado o indeferimento, ser juntado com o recurso ordinário. A propósito do tema, dentre outros, destaco o seguinte precedente deste Tribunal, verbis: Agravo regimental. Eleições 2006. Indeferimento. Registro. Candidato. Deputado estadual. Insufi ciência. Prova. Desincompatibilização. Cargo público. Recurso ordinário. Decisão que se mantém por seus próprios fundamentos. - Hipótese em que o juiz relator foi diligente e intimou o agravante, por duas vezes, para sanar a falta de comprovação de seu afastamento. Entretanto, os documentos juntados não foram hábeis para comprovar a tempestiva desincompatibilização. - Descabida, outrossim, a pretensão do agravante em ver admitida a nova documentação trazida com o recurso ordinário, o que seria admissível apenas em caso de não lhe ter sido dada oportunidade para complementar a documentação na origem, conforme entendimento desta C. Corte (REspe n. 19.975-MT, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, Sessão de 3.9.2002). - Agravo a que se nega provimento. (AgRgRO n. 1.161-MS, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, publicado na sessão de 3.10.2006) Ainda no mesmo sentido, o acórdão no AgR-RO n. 3.154-48-SP, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, publicado na sessão de 13.10.2010. Tem incidência, assim, o Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, verbis: É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada. 53 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido Pelo exposto, nego provimento ao agravo regimental. É o voto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 2.646-87. 2010.6.05.0000 – CLASSE 37 – BAHIA (Salvador) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Agravante: Ministério Público Eleitoral Agravado: Adalberto Souza Galvão Advogado: Luiz Carlos de Macedo EMENTA Eleições 2010. Agravo regimental. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Deputado Federal. Impugnação. Desincompatibilização. Ocupante de função de direção em entidade representativa de classe. Comprovação. Ônus do impugnante. Desprovimento. 1 – O ônus de comprovar a existência de causa de inelegibilidade é do impugnante, conforme remansosa jurisprudência desta Corte. 2 – Agravo regimental a que se nega provimento. ACÓRDÃO Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 1º de fevereiro de 2011. Ministro Hamilton Carvalhido, Relator DJe 18.02.2011 54 Desincompatibilização MSTJTSE, a. 3, (8): 39-69, agosto 2011 RELATÓRIO O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto pelo Ministério Público Eleitoral contra decisão de minha lavra que negou seguimento ao recurso ordinário, in verbis (fl . 83- 85): [...] Trata-se de desincompatibilização de ocupante de função de direção em entidades representativas de classe. Sobre o tema, assim dispõe a Lei Complementar n. 64/1990: Art. 1º São inelegíveis: [...] II – [...] g) os que tenham, dentro dos 04 (quatro) meses anteriores ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, administração ou representação em entidades representativas de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados pela Previdência Social; [...]. A orientação fi rme deste Tribunal é de que “[...] A necessidade de desincompatibilização é uma forma de preservar a lisura do pleito e o equilíbrio entre os postulantes a cargos eletivos [...]” (REspe n. 20.060-RS, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo, publicado na sessão de 20.09.2002). No caso, o recorrente afi rma que o candidato, sendo ocupante de cargos diretivos em entidades representativas de classe, “[...] não se desincumbiu do ônus de demonstrar que se encontra verdadeiramente afastado de suas atividades” (fl . 57), visto que não apresentou documento hábil para tanto. O Tribunal a quo, considerando a prova nos autos, deferiu o pedido de registro, valendo-se da seguinte fundamentação (fl . 47): 55 Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido [...] No que tange aos documentos apresentados pela requerente, a fi m de instruir o pedido de registro de seus candidatos, entendo que foram cumpridas as exigências legais mínimas, em relação aos candidatos adiante elencados: CANDIDATO NÚMERO PROCESSO OBSERVAÇÃO [...] [...] [...] 2. Adalberto Souza Galvão n. 2646- 87.2010.6.05.0000 O Procurador opinou pelo indeferimento, todavia, o candidato apresentou os requerimentos de desincompatibilização (fl s. 13-26), sanando o vício apontado. [...]. Ao que se tem, a Corte de origem fundamentou o decisum na comprovação do afastamento do recorrido, em 02.06.2010,
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