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LIBERATO PÓVOA EU TAMBÉM ACREDITO EM LOBISOMEM (OU COMO SE DISTORCE A LEI NO STJ) Goiânia-GO Kelps, 2016 Copyright © 2016 by Liberato Póvoa Editora Kelps Rua 19 nº 100 — St. Marechal Rondon- CEP 74.560-460 — Goiânia — GO Fone: (62) 3211-1616 - Fax: (62) 3211-1075 E-mail: kelps@kelps.com.br homepage: www.kelps.com.br Programação Visual: Marcos Digues CIP - Brasil - Catalogação na Fonte BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL PIO VERGAS POV Póvoa, Liberato. tam Eu também acredito em lobisomem (ou como se distorce a lei no STJ). - Liberato Póvoa. - Goiânia / Kelps, 2016 80 p. ISBN:978-85-400-1655-2 1. Literatura brasileira. 2. Ensaios. I. Título. CDU: 869.0(81)-4 Índice para catálogo sistemático: CDU: 869.0(81)-4 DIREITOS RESERVADOS É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Impresso no Brasil Printed in Brazil 2016 DEDICATÓRIA Dedico este modesto, mas esclarecedor trabalho ao meu advogado, Dr. NATHANAEL LIMA LACERDA, que, sempre solidário, ajudou-me a ombrear a pesada cruz que me foi colocada por alguns membros do “Tribunal da Cidadania”, conhecendo mais do que eu as entranhas apodrecidas da nossa Justiça. PREFÁCIO Podemos confiar no Superior Tribunal de Justiça? Como magistrado, fico na dúvida. Não gostaria de fazer críticas àquela Corte em razão da conduta de uns pouquíssimos ministros, já que a esmagadora maioria deve ter proceder ilibado. Mas é imperioso abrir os olhos do povo, que precisa saber a influência da política e dos ricos em determinados julgamentos. A política, porque a indicação de nomes para comporem as Cortes Superiores passa pelos gabinetes de deputados e senadores, principalmente quando se refere ao quinto constitucional da OAB. Nomeiam-se ministros não pela qualificação jurídica, mas pelo apadrinhamento, na certeza de que mais tarde lhes será cobrado um julgamento parcial. E aos ricos, principalmente entidades financeiras, porque possuem amplos interesses em julgamentos, infiltrando naquela Corte fieis escudeiros, de quem futuramente cobrarão suas indicações. Abro um parêntese: segundo os incisos I e II do artigo 104 da Constituição Federal, o STJ é composto “um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, e um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e dos Territórios, alternadamente”. Ocorre que vários ministros, que entraram no STJ como juízes de TRFs e desembargadores de Tribunais de Justiça, não tiveram sua origem na magistratura, ou seja, nunca foram juízes (como mandaria a lógica) e, com a investidura nos Tribunais estaduais e Regionais Federais, em vez de concorrerem pelo quinto de origem, passam a concorrer ao STJ como magistrados, sem terem feito concurso para tal, usurpando, desta forma, as vagas dos suados magistrados de carreira. É evidente que não têm culpa, se a lei é falha. Mas, com isto, os juízes de carreira são prejudicados. Não deveria ter chegado ao STJ como desembargador ou juiz de TRF quem não foi juiz na origem. Entraram na magistratura por esse espúrio quinto: Francisco Falcão (entrou pela OAB no TRF-5, de onde veio para o STJ), Humberto Martins (entrou no TJ/AL pelo quinto do MP), Jorge Mussi (concorreu como desembargador do TJ-SC, mas ali chegou pelo quinto da OAB), Ribeiro Dantas (veio para o STJ na cota de juiz de TRF-5, mas ali entrou pelo quinto do MP/RN) e Raul Araújo Filho (concorreu como desembargador do TJ-CE, aonde chegou pelo quinto da OAB). Entraram efetivamente pela classe da OAB, com apadrinhamento ou não, mas legalmente: Antonio Carlos Ferreira OAB/ SP), João Otávio de Noronha (OAB/MG), Maria Thereza Rocha de Assis Moura (OAB/SP), Sebastião Alves dos Reis Júnior (OAB/MG), Herman Benjamin (MP/SP), Maria Isabel Gallotti (MP/RJ), Mauro Campbell Marques (MP/AM) e Ricardo Villas Bôas Cueva (OAB/SP). Pelo quinto do Ministério Público, entraram: Félix Fischer (MP/PR), Laurita Hilário Vaz (MP/GO), Rogerio Schietti Machado Cruz (MP/MG) e Sérgio Luíz Kukina (MP/PR). Fecho o parêntese. Apresento neste opúsculo, que é uma espécie de introdução do livro ”Nos bastidores das Cortes – Como a p olítica interfere no Judiciário”, o trâmite de um recurso especial cujo julgamento, pela Terceira Turma do STJ (composta na época pelos ministros Pádua Ribeiro, Nancy Andrighi, Carlos Alberto Menezes Direito, Castro Filho e Humberto Gomes de Barros), é único dentre milhares naquela Corte, pois atropelou a lei e toda a sua orientação jurisprudencial para beneficiar uma das partes, justamente um grande banco. Fico na dúvida se os cinco ministros compunham uma Turma ou um bando. E ao citar nomes e transcrever decisões, lanço uma sombra de dúvida sobre a imparcialidade de seus julgamentos, com os nomes de todos os ministros que distorceram a lei e a jurisprudência para beneficiar a outra parte, simplesmente pelo fato de que eu, como colunista do Jornal do Tocantins, sempre fazia críticas a membros daquela Corte, e levantava sérias dúvidas sobre a imparcialidade de alguns membros do “Tribunal da Cidadania”. Mas posso dizer, também, com segurança, que a política (através de políticos do Tocantins) conduziu a tramitação do Inquérito 569-TO e Ação Penal 690-TO, relatados pelo ministro João Otávio de Noronha, e a Sindicância 293-TO, também por ele relatada, que escandalosamente beneficiou o ex-governador do Tocantins, José Wilson Siqueira Campos. E o dinheiro também seguramente movimentou a caneta do ministro João Otávio de Noronha, no inexplicado alvará concedido em 09/03/2004, ao então dono da VASP, Wagner Canhedo no Habeas Corpus nº 34.138-SP em menos de duas horas; a decisão sua que possibilitou à “TV Globo” adquirir com documentos falsos a antiga “TV Paulista” em 2010; a decisão em favor da “Companhia de Seguros Aliança do Brasil”, a cujo Conselho Deliberativo pertencera, e do Banco do Brasil, de que fora advogado muitos anos (mas são assuntos de um outro livro, que expõe quem é o ministro: sua formação, seu caráter e como chegou ao Superior Tribunal de Justiça). Da mesma forma, o leitor conhecerá o ministro Francisco Falcão e se perguntará: com que moral ele julgava magistrados como corregedor do CNJ? Este livreto é um prelúdio de “Nos bastidores das Cortes (Como a política interfere no Judiciário)”, cujas mais de quatrocentas páginas trarão uma crua radiografia dos porões do nosso Judiciário. É só esperar (isto, se não o apreenderem antes). Após 2010, verifiquei no CNJ que haviam me jogado nas costas nada menos que vinte e cinco procedimentos, mas foram todos arquivados, à míngua de motivos. E estou consciente de que haverá ministros que, na Corte Especial do STJ, poderão retaliarme, mas quem tem medo de falar a verdade não merece viver. Não é preciso ser advogado para entender este livro, tão gritante foi a injustiça deliberadamente praticada naquele e em outros processos no STJ, que o leitor conhecerá no referido livro. Basta ler. INTRODUÇÃO Anos atrás, li um livro muito interessante, de Serafim Machado, chamado “Por que acredito em lobisomem”, publicado pela Editora Globo, que narra um caso relacionado com um processo, cujo enredo pode ser assim resumido: O livro conta a história de um processo que discutia o testamento de Auristela Pereira Alves, uma pessoa muito rica, mas oligofrênica, com idade mental de 8 anos, que deixou um testamento prejudicando seus legítimos herdeiros e favorecendo pessoas estranhas a sua família. Ocorre que Auristela era incapaz de fazer um cálculo, ainda que aproximado, não sabia dizer o dia, mês e ano que nascera. Não sabia ler nem escrever; enfim, ela era classificada na classe da oligofrenia, da imbecilidade grave, tangenciando a fronteira da idiotia. Dentro destas características, ela era incapaz de reger sua pessoa e bens, carecendo de proteção que a lei facultaem tais casos. Auristela teve como curador seu pai e, posteriormente, o Sr. Sebastião Pereira Rodrigues, uma pessoa sem eira nem beira que o pai de Auristela contratou para domar cavalos e depois, vendo que sua vida estava próxima do fim, fez Sebastião casar-se com ela tornando-o podre de rico. Com o passar do tempo, Sebastião envelheceu e tratou de arrumar as coisas de modo que, ao partir, metade da sua fortuna ficasse com seu parente Manoel José Pereira Rodrigues. Manoel passou a ser o curador de Auristela após a morte de Sebastião, conseguindo no Foro de Cachoeira do Sul-RS, a interdição de sua curatelada e confirmada pelo Tribunal de Justiça. Manoel requereu, então, ao juiz da Comarca a mudança da graduação da capacidade de Auristela, de incapaz para relativamente capaz, a fim de poder testar e conseguir tirar a fortuna da pobre velhinha. Conseguindo o Alvará Judicial para outorgar suas disposições de última vontade, Auristela pôde então testar seus bens. Manoel leva-a para sua fazenda, para que lá fosse feito o testamento, passando todos os bens dela para os dois filhos adotivos do espertalhão Manoel, ou seja, foi lavrado na fazenda um testamento público do Cartório de Cachoeira do Sul, sem testemunhas presentes, às escondidas e totalmente fora das normas jurídicas. Quatro anos depois, Manoel requereu fosse revisado o processo, questionando grave erro dos peritos, obviamente já conhecendo e influenciando as pessoas que iriam verificar a petição a fim de garantir a sua fortuna e a de seus filhos. Após a morte de Auristela, Nair Alves Estrázulas, sobrinha e afilhada de Auristela, solicitou o exame do processo que dera origem ao testamento ao Dr. Serafim Machado, autor do livro. Meio desconfiado, ele aceitou examinar o processo e ingressou com um protesto judicial, afirmando que Auristela não podia testar e pedindo a anulação do testamento. Divulgando o caso na impressa através do jornal de Cachoeira do Sul, ele esperava que a opinião pública pressionasse os julgadores. A petição foi para o fórum, mencionando que na inicial que Auristela havia sido interditada em ação contenciosa transitada em julgado. Após o ganho de causa, o processo foi para o Tribunal de Justiça, em Porto Alegre onde o acórdão lavrado favoreceu Manoel. Serafim chegou até ao Supremo com sua ação. A decisão é tomada, e por problemas hermenêuticos, por falta de aprofundamento do processo e devido aos grandes nomes de juristas com currículos fartos, éticos, dotados de inumeráveis qualidades, envolvidos no processo, que durou anos, a decisão é favorável para Manoel. A partir daí Serafim Machado começa acreditar em lobisomem, pois os homens que ele considerava íntegros, éticos, insubornáveis e que faziam justiça transformaram-se em outros seres naquele dia. O livro mostra que a Justiça pode algumas vezes cometer graves erros, por ser feita por homens, mas que a Justiça emanada por um poder superior é justa, embora ainda não saibamos o dia do julgamento final. O mais assombroso: o então Promotor de Justiça da Comarca de Cachoeira do Sul, foi promovido e oficiou como Procurador de Justiça no Tribunal e – coincidentemente – também oficiou como Procurador da República junto ao Supremo Tribunal Federal, sem ter-se dado por suspeito ou impedido e sempre opinando em desfavor da parte saqueada. O processo já nascera com a intenção de saquear uma das partes (dois interditados), e, passando pelas diversas esferas de julgamento, acabou confirmando aquela sentençazinha encomendada do primeiro grau. Coincidência do destino: quem oficiou pelo Ministério Público de primeiro grau foi o promotor de Justiça Henrique Fonseca de Araújo; quando a apelação foi para o Tribunal, já era Procurador-Geral de Justiça e oficiou no feito, e, no Supremo Tribunal Federal, era o Procurador Geral da República, que também funcionou no mesmo processo. Este é o resumo do caso de que trata aquele livro. Sumário PREFÁCIO .......................................................................................... 7 INTRODUÇÃO ................................................................................ 11 O “Tribunal da Cidadania” (será?) ...................................... 17 Como são escolhidos os ministros ...................................... 17 Ministro João Otávio de Noronha ....................................... 18 Um mensalão bem comprometedor .................................... 20 Suspeição existe é para ser declarada .................................. 21 Advogado de parte ................................................................. 22 A mídia gosta de quem caça corruptos .............................. 23 O estranho alvará para Wagner Canhedo ........................... 25 Interesses econômicos e políticos ........................................ 26 E o agravo só foi julgado 14 sessões depois ........................ 28 Ministro Francisco Falcão, presidente do STJ .................... 31 Mais um nome: Raul Araújo Filho ...................................... 36 Ministros, que deviam dar o exemplo, são investigados ... 37 STJ – um oásis de mordomias .............................................. 39 Surge novo lobisomem, agora no STJ ................................. 42 Primeira derrota do banco .................................................... 43 Sobe o recurso que não devia subir ..................................... 43 Segunda derrota do banco .................................................... 45 Pedido de vista “por recomendação” ................................... 46 A jurisprudência pacífica do STJ ......................................... 47 Representação contra a ministra .......................................... 52 O julgamento caolho: meia vitória do banco ...................... 52 Um magistrado de coragem: Humberto Gomes de Barros 57 A esperteza do julgamento dos embargos ......................... 59 Os embargos são admitidos... ............................................... 61 ... mas após ser ouvido o banco, são rejeitados .................. 62 Uma crítica muito cara .......................................................... 62 Sucessão de crimes ................................................................ 62 Derrota do banco no Supremo ............................................. 63 Inédito: único caso julgado dessa forma no STJ ................ 66 Conclusão ................................................................................ 68 O uso da Justiça para agasalhar situações ........................... 69 A quadrilha não está no Tribunal do Tocantins ................ 70 Uma rescisória para restabelecer a credibilidade ............... 71 Resultado previsível: o banco sabia que ia ganhar ............. 77 O “TRIBUNAL DA CIDADANIA” (SERÁ?) Ao passar os olhos nestas páginas, leitor se estarrecerá por um fato, documentalmente provado, que demonstra como o Superior Tribunal de Justiça nem sempre pode ser chamado de “O Tribunal da Cidadania”. Apresento, passo a passo, o trâmite de um processo cujo j ulgamento, pela sua Terceira Turma, é único dentre milhares naquela Corte, pois atropelou a lei e toda a sua orientação jurisprudencial para beneficiar uma das partes, citando nomes e transcrevendo decisões, lançando uma sombra de dúvida sobre a imparcialidade de seus julgamentos, com os nomes de todos os ministros que distorceram a lei e a jurisprudência para beneficiar a outra parte (uma poderosa instituição financeira), simplesmente pelo fato de eu, como colunista do Jornal do Tocantins, ter feito críticas a membros daquela Corte, e levanto sérias dúvidas sobre a imparcialidade de alguns membros do “Tribunal da Cidadania”. Mas isto é apenas a ponta do iceberg. COMO SÃO ESCOLHIDOS OS MINISTROS A escolha de ministros costuma ferir de morte a ética, tanto no STJ como no STF: prevalece o interesse de grupos, de políticos, fazendo da seleção uma verdadeira guerra. Inúmeros ministros do STJ foram nomeados devidamente “calçados” por grupos interessados. No Supremo não é diferente:na edição nº 2.235 (de 21/09/2011) da revista “Veja”, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos aparece como articulador da indicação do substituto da ministra Ellen Gracie, como já o fora de outros seis ministros do STJ, que possivelmente iriam julgar seus processos. Por trás de uma aparente função de conselheiro da presidente Dilma Rousseff, estava a esperteza raposista do ex-ministro, pois ele era defensor de uns “mensaleiros” e testemunha de outro, e como o relator do “mensalão”, ministro Joaquim Barbosa, nunca se deixara levar por pedidos políticos e até se tornou uma espécie de “estranho no ninho” por suas decisões eminentemente técnicas e sem interferências externas, a estratégia de Márcio Thomaz Bastos era colocar ali um ministro, que, sendo o próximo a votar depois do relator, poderia influir na votação do Inquérito nº 2.245 (depois transformada na Ação Penal 470-MG). Mas viu-se que a personalidade dos ministros do Supremo estava acima dessas interferências. Meses depois do julgamento do mensalão, a mídia nacional lançou suspeitas sobre a nomeação de ministros, pelo governo do PT, que teriam sido guindados àquele posto sob o compromisso de ajudar o Governo nos julgamentos. Como o cenário deste opúsculo é o “ Tribunal da Cidadania”, tomemos, aleatoriamente, dois ministros com assento naquela Corte, João Otávio de Noronha e Francisco Falcão. Mas as formas de escolha de membros do “quinto constitucional”, capitaneadas por políticos e grupos econômicos, não se atêm ao STJ, mas a todos os tribunais, estaduais, regionais e superiores, (à exceção do STF, que não obedece a essa espécie de “cota” do MP e OAB); tampouco se restringem ao “quinto”, pois a política e a “sobrenomenologia” imperam também nas indicações de magistrados de carreira. Mas vamos a apenas três exemplos. Ministro João Otávio de Noronha Conheci o ministro João Otávio de Noronha, mineiro da terra do Rei Pelé, jovem advogado do Banco do Brasil, instituição em que alcançou os píncaros da atividade jurídica naquele Banco, tendo chefiado as mais destacadas funções na sua área. Inteligente, dedicado, muito organizado e sobretudo investido a fundo na função judicante, muito bom de mídia, sempre se mostrou muito articulador e com poder de persuasão, a ponto de, em poucas horas, conseguir reunir grande número de ministros para um referendo. Traz a fama, perfeitamente justificada, de ser “mão pesada”. Participamos, juntos (ele, como advogado, e eu, como magistrado), de diversos eventos jurídicos, e até temos fotos juntos, durante o “VI seminário Jurídico da ABRADEE”, em Porto Alegre- RS, em 27/10/05. Como advogado especializado em questões bancárias, demonstrava muito conhecimento. Na época da indicação, compuseram a lista sêxtupla os seguintes nomes de peso e com vivência jurídica numa apertada votação: Luiz Carlos Lopes Madeira (DF) - 25 votos, Evandro Ferreira de Viana Bandeira (MS) - 24 votos, Paulo de Moraes Penalva Santos (RJ) - 24 votos, João Otávio de Noronha (DF) - 21 votos, Álvaro Wendhausen de Albuquerque (PR) - 11 votos, Leda Maria Soares Janot (DF) - 11 votos. Embora penúltimo colocado no escrutínio, foi para a lista tríplice, que se compunha de Paulo Penalva, (26 votos) e Álvaro Wendenhausen (21 votos). O candidato João Otávio de Noronha obteve 24 votos, tendo sido o escolhido por Fernando Henrique Cardoso. Sua nomeação ocorreu após intenso lobby do Banco do Brasil e da Febraban, com o respaldo do então ministro da Fazenda Pedro Malan. Embora os outros tivessem conhecimentos jurídicos, faltavam-lhes o essencial: padrinhos. De seu currículo, tirado do próprio site do STJ, extrai-se que desempenhou inúmeras funções fora daquela advocacia, como a de professor universitário em diversas faculdades, lecionando Direito Processual Civil e Direito Comercial e integrou o Conselho de Administração das seguintes empresas: Cia. Energética do Rio Grande do Norte – COSERN, ITAPEBI Geração de Energia S/A, Companhia de Seguros Aliança do Brasil e Valesul Alumínios S.A. Mas seu ápice como competente profissional foi como advogado do Banco do Brasil, de onde saiu diretamente para o Superior Tribunal de Justiça. Além daquelas atividades desenvolvidas na cátedra e no Banco do Brasil, o ministro Noronha possui extenso currículo, resumido apenas em participação em seminários, palestras e conferências e condecorações, títulos e medalhas, tudo indicando ser devido ao cargo, pois não consta que ele tenha publicado uma só obra, opúsculo ou artigo jurídico, nem mesmo na sua área bancária. Aliás, para ser justo, no seu site individual, consta apenas, em “Discursos e Publicações”, a transcrição de seu voto, em 21/06/2011, no REsp. nº 827.962-RS, sobre união homoafetiva, sua única “produção jurídico- literária” (e caprichou no voto, demonstrando que pelo menos entende daquele assunto, não bastassem os gestos e a forma como se expressa, valendo conferir o vídeo de sua palestra no “5º Encontro Nacional de Advogados da Previdência Complementar”, em 24/05/2010, em São Paulo). É bom esclarecer que tudo o que afirmo sobre ele foi retirado de seu próprio curriculum vitae, no site do STJ, sendo o integrante daquela Corte que possui o currículo mais pobre, ao lado do ministro Francisco Falcão (coincidentemente, guindados ao cargo por mero apadrinhamento). E nas palestras e conferências (que ele adora proferir), não deixa de escapar que o Judiciário tem “ploblemas” (v. vídeo da entrevista durante a “XXI Conferência Nacional dos Advogados”, dias 20 e 21/11/2011, em Curitiba). Talvez por isso tente superar sua inconsistência curricular com decisões duras e que rendem dividendos na mídia. Existe uma distância abissal entre seu currículo e o de alguns colegas. Um mensalão bem comprometedor Circula há muito tempo em Palmas um boato (digo “boato”, porque a afirmação não é minha), de que, apesar de nomeado para o STJ, continuaria percebendo os salários da função que exercia no Banco, e pessoas ligadas à Superintendência do Banco, citam até o nome do emissário: Ary Joel de Abreu Lanzarin, (ex-superintendente que já saiu do banco, sendo nomeado em 16/08/2012 presidente do Banco do Nordeste do Brasil), que iria mensalmente levar-lhe, em espécie, o dinheiro. Com sua saída dos quadros da instituição, naturalmente o emissário agora é outro. Todo mundo sabe que a nomeação de um adv ogado como ministro de tribunal superior traz a reboque as mordomias, os congressos patrocinados por empresas com processos em andamento e por lobistas, pois não é pelos simples vencimentos que deixam um emprego mais bem remunerado ou uma promissora advocacia para ingressar num outro mundo, hipoteticamente fiscalizado, pois só a imprensa está de olho (é suspeito um ministro, apenas com os vencimentos oficiais, levar uma vida faustosa e manter o status de nababo perante a sociedade). Suspeição existe é para ser declarada O ministro jamais se deu por suspeito de funcionar em processos do Banco do Brasil, tendo se dado por impedido apenas no REsp 510.299-T e na Rescisória 4.010-TO, por ter funcionado no processo, como advogado do banco. E, se o leitor quiser conferir, é só entrar no site do STJ. Se ele decidiu em favor do Banco qualquer recurso, isto é irrelevante, pois sempre fica a sombra da suspeita. Também nunca se deu por suspeito em processos em que são partes as empresas a cujo Conselho de Administração pertencera: Valesul Alumínio S/A (Agravo de Instrumento 344.331-RJ), ITAPEBI - Geração de Energia Elétrica (Agr avo de Instrumento 1.021.336-BA) e Cia. Energética do Rio Grande do Norte – COSERN (Agravos de Instrumento 1.190.916-RN e 1.185.842-RN e Resp 1.085.002-RN). Advogado de parte Também não é demais assinalar que, verificando o site do Supremo Tribunal Federal, podemos constatar vários recursos em que é parte o Banco do Brasil e figura João Otávio de Noronha como advogado, mesmo após sua nomeação como ministro do STJ. Pode ter passado despercebido, mas ainda figura seu nome como advogado nos seguintes feitos, o que pode influenciar os julgadores, por um natural “espritde corps”: No STF - Agravo de Instrumento 434752 (protocolado em 06/03/2003); Agravo de Instrumento 471745 (protocolado em 23/09/2003); Agravo de Instrumento 583732 (protocolado em 17/02/2006); Agravo de Instrumento 647413 (protocolado em 08/01/2007); Recurso Extraordinário 577.014 (autuado em 30/01/2008), Agravo de Instrumento 709844 (protocolado em 28/02/2008) e Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 720773 (protocolado em 07/11/2012), como ainda figura, no próprio STJ, seu nome como advogado do Banco do Brasil em processos em tramitação, o que é mais grave, mesmo se sabendo que ele não iria firmar nenhuma petição. O só fato de constar seu nome no cabeçalho já é um excelente memento para influir no julgamento. O leitor pode conferir: RMS 16.014-RS (autuado em 2003), Agravo de Instrumento 1.094.112-RJ (autuado em 2008), REsp 1.115.743-ES (autuado em 2009), Agravo de Instrumento 1.185.050- SE (autuado em 2009), REsp 1.115.743-ES (autuado em 2009), Agravo de Instrumento 1.266.896-SP (autuado em 2010), Agravo de Instrumento 1.329.079-MG (autuado em 2010), AREsp 51.150-MG (autuado em 2011). NENHUM OUTRO MINISTRO DO STJ ORIUNDO DO QUINTO DA OAB CONSTA COMO ADVOGADO APÓS A ASSUNÇÃO AO CARGO NAQUELA CORTE. É só conferir as publicações no “Diário da Justiça: acórdão de 04/12/2003 no RMS 16.014-RS (publicado em 25/02/2004); decisão de 13/01/2009 no Agravo de Instrumento 1.094.112-RJ (publicada em 06/02/2009); decisão 27/08/2009 no Agravo de Instrumento 1.185.050-SE (publicada em 18/09/2009); decisão de 23/08/2010 no Agravo de Instrumento 1.329.079-MG (publicada em 01/09/2010) e decisão de 20/09/2011 no Agravo no Recurso Especial 51.150-MG (publicada em 26/09/2011), e assim por diante. E até no cabeçalho das próprias decisões dos relatores está, com todas as letras, seu nome como advogado do Banco do Brasil. É só verificar nos processos onde consta, inclusive, sua inscrição na Seccional mineira (OAB/ MG 035.179), que, naturalmente, deveria estar suspensa pela posse no STJ. A mídia gosta de quem caça corruptos O ministro Noronha sempre foi “mão pesada”: foi ele quem mandou prender o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, o do Amapá, Pedro Paulo Dias, um ex-governador candidato ao Senado, Waldez Góes (PDT), e mais 16 autoridades do Amapá, logrando elogios da mídia (quem não gosta de caçacorrupto?), como publicou a Revista “Veja” on line de 20/09/2010 e a coluna de Ricardo Setti de 17/09/2010: “Amigos, ainda há esperanças “neste país”. Num momento em que os cidadãos de bem vêm-se desalentados com tanta notícia ruim vinda do Planalto – e o escândalo de favorecimentos na Casa Civil que derrubou a ex-ministra Erenice Guerra é apenas o último de uma longa série –, este blog tem o prazer de louvar o espírito público de um magistrado: o pouco, pouquíssimo conhecido ministro do Superior Tribunal João Otávio de Noronha. É graças a ele, seu destemor e sua independência que estão na cadeia o governador Pedro Paulo Dias (PP), um ex-governador candidato ao Senado, Waldez Góes (PDT), e mais 16 autoridades do Amapá – todos eles firmes aliados do poderoso e influente senador José Sarney (PMDB-AP). A turma é suspeita de grossa roubalheira de dinheiro público que não poupou nem sequer a merenda escolar do estado e cujo montante pode chegar a 800 milhões de reais”, concluindo por mostrar a sua escassez curricular: “O ministro não ostenta um currículo espetacular. É formado em Direito pela Faculdade de Direito do Sul de Minas, em Pouso Alegre, com três cursos de especialização na mesma escola, e os cargos de mais vulto que exerceu antes de assumir sua cadeira no STJ, em 2002, foram os de consultor jurídico geral e depois diretor jurídico do Banco do Brasil”. Foi nas garras do “caçador de corruptos e de quadrilhas” que foi parar o Inquérito 569-TO (transformado na Ação Penal 690-TO), o que trouxe desalento a todos os investigados, face à dureza de suas decisões, mais chegadas à Polícia Federal do que à Justiça, ainda mais sabendo-se que o STJ nunca suspendeu o afastamento de nenhum magistrado, e aqueles que conseguiram furar a barreira das ilegalidades, como Roberto Haddad, do TRF3, e vários do Tribunal do Mato Grosso conseguiram retornar, graças ao Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a ilegalidade dos processos. Em 15/05/2013, o STJ afastou de suas funções, por proposta do ministro João Otávio de Noronha, o desembargador Arthur Del Guércio Filho, do TJ-SP. O desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí Augusto Falcão Lopes passou sete anos afastado, tendo retornado só após ter sido absolvido, por unanimidade, em 15/12/2010, pelo próprio STJ. Mas o relator era outro ministro, Aldir Passarinho Júnior (que era juiz de carreira), e não o ministro Noronha. Quem vai reparar os danos morais do colega crucificado e depois absolvido? O estranho alvará para Wagner Canhedo É bem verdade que o CNJ estava criado, mas não instalado em 2004, mas consciência e honestidade sempre existiram. Com base neste entendimento é que um certo habeas corpus decidido em 10/03/2004 deixa uma dúvida sobre se a agilidade da Justiça é questão de consciência ou de conveniência: chegou ao STJ o HC 34.138-SP, exatamente às 22 horas e 02 minutos do dia 09/03/2004, distribuído automaticamente ao ministro João Otávio de Noronha. Às 12h 07m do dia 10, foi encaminhado à Coordenadoria da Divisão de Processamento Às 13 horas e 57 minutos, ou seja; exatamente uma hora e cinquenta minutos depois de chegar à Coordenadoria (e não às suas mãos), Wagner Canhedo obtinha alvará de soltura (em pleno horário de almoço), fato noticiado na imprensa nacional: “STJ C ONCEDE LIMINAR PARA LIBERTAR DONO DA VASP O ministro João Otávio Noronha, do Superior Tribunal de Justiça, concedeu na madrugada desta quarta-feira, liminar em habeas corpus ao dono da Vasp, Wagner Canhedo. Com a decisão, o empresário que se encontrava detido desde a noite da última segunda-feira (8/3) foi colocado em liberdade. Canhedo estava preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Ao conceder liberdade para Canhedo, o ministro João Otávio acolheu o pedido dos advogados do empresário que alegavam no habeas corpus a inexistência de “um plano de administração”, “verdadeiro pressuposto legal da penhora sobre o faturamento”. No despacho, o ministro frisou que “somente depois de aprovado dito plano pelo juiz é que tem lugar a implementação da medida construtiva”. (Revista Consultor Jurídico, 10 de março de 2004)”. É muito suspeito que, em uma hora e 50 minutos, tenha sido elaborada uma decisão de quatro laudas, com citações doutrinárias e jurisprudenciais. O que dá a entender é que a decisão estava pelo menos minutada, a partir do momento em que o ministro soube ser o relator. Mas não seria o primeiro caso. Basta continuar esta leitura. Em 31/08/2013, Canhedo foi preso em Brasília, por sonegação de impostos. Impetrou em 03/09 no STJ o HC 277.694-SC, distribuído ao ministro Og Fernandes, que, no dia seguinte, indeferiu a liminar. Nesse caso, o ministro não era Noronha. Mas no vaivém prende-e-solta, o ministro Dias Toffoli mandou soltá-lo no dia 6, pela Medida Cautelar no HC 119.245, após Canhedo ter quitado sua dívida fiscal. Interesses econômicos e políticos Acusado de não despachar o Inquérito 569-TO para não atender aos pedidos dos acusados e recusando-se a publicar seus despachos para não propiciar a defesa (a denúncia, por exemplo, ficou sem ser apreciada desde 02/12/2011), o interesse econômico (veja-se o episódio do alvará de Wagner Canhedo) é patente, como o é o interesse político, como o leitor verá a seguir. Entrando em cena o interesse político, observa-se que a mesma pressa que teve o ministro relator em agilizar o afastamento dos desembargadores e retardar o atendimento de nossos pedidos, mostrou agilidade no arquivamento da Sindicância nº 293-TO, que versava sobre crimes diversos, promovida contra o governador Siqueira Campos, como se vê: Data de autuação: 28/06/2011 (em recesso forense) Data da distribuição ao ministro: 01/07/2011 Dataem que a autuação foi retificada: 11/07/2011 C onclusão ao relator: 12/07/2011 Movimentações após a reautuação: 03 Tempo de tramitação (descontando-se o recesso): 16 dias Tempo para publicar a decisão: 48 horas. No dia 17/08/2011, o relator determinou o arquivamento, sem ouvir o Ministério Público num despacho assim ementado no Diário da Justiça Eletrônico de 19/08/2011: “EMENTA NOTÍCIA CRIME. PREVARICAÇÃO. NARRAÇÃO DEFICIENTE DE SUPOSTOS FATOS CRIMINOSOS. REJEIÇÃO DE OFÍCIO. 1. A comunicação ou notícia da ocorrência de fato criminoso à autoridade competente para ensejar investigação criminal e a respectiva ação penal somente pode ser admitida quando arrimada em elementos mínimos que apontem a plausibilidade do que se denuncia. 2. A delatio criminis diretamente apresentada ao juiz, quando narra fatos que obviamente não indicam a ocorrência de fato tipificado como criminoso, nem mesmo por leves indícios, deve ser arquivada de ofício. 3. Delatio criminis arquivada. Brasília (DF), 16 de agosto de 2011. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Relator”. Por que o relator não mandou investigar a veracidade dos fatos de que tratam os documentos? Por que não encaminhou ao Ministério Público ou à Polícia Federal a SD 293-TO, como fizeram os ministros Aldir Passarinho Junior e Humberto Martins com a Representação 414- TO e o Inquérito 731-TO, respectivamente? , respectivamente? TO, em desfavor de Siqueira Campos, foi publicado 48 (quarenta e oito) horas depois, como vimos, Mas o diligente Ministério Público interpôs agravo regimental. O art. 258 Regimento Interno do STJ estabelece que o relator apresentará o agravo em mesa para julgamento, ou seja, sem precisar pautá-lo. E o agravo só foi julgado 14 sessões depois Pelo Regimento, deveria ser julgado, no mais tardar, em março de 2011, mas transcorreram nada menos que 14 (quatorze) sessões (02 e 16 de março, 06 e 28 de abril, 04, 12 e 18 de maio, 1º, 09 e 15 de junho, 03, 15 e 17 de agosto, sendo que nas três primeiras de agosto o relator não compareceu), sendo finalmente julgados (após provocação formal nos autos) na sessão extraordinária de 31 de agosto, 6 meses e 14 dias depois, com o resultado mais que previsível: o voto do ministro João Otávio de Noronha foi pela rejeição dos embargos. Mas em 29/05/2012 o diligente Ministério Público interpôs embargos de declaração, que, em 18/09/2012, foram conclusos ao gabinete do relator, que não os julgou. Nesse ínterim, como um dos sindicados assumiu a vaga de senador, os autos foram remetidos em 17/12/2012 ao STF. Enquanto isto, quando os magistrados do “baixo clero” retardam qualquer julgamento, chega logo do CNJ uma Representação por Excesso d e Prazo (REP). Os juízes ficam tão apavorados com o CNJ, que temem escrever até um “junte-se” num processo, porque qualquer despacho pode ser interpretado como pedido de advogado, e às vezes querem decidir com rapidez para não ser denunciados e acabam errando as decisões. Tanto o fato de decidir “a toque de caixa”, bem como retardar o andamento de processos constitui o tipo do art. 319 do Código Penal: prevaricação (“Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”), que não é aplicável apenas aos mortais comuns. A lei é para todos. Embora o ministro relator não respeite o direito dos investigados, nenhum de nós, seguramente, deixa de respeitar os seus. E esse mesmo ministro, como relator, em conluio com a subprocuradora-geral Lindôra Maria Araújo, está fazendo misérias com a Ação Penal 690-TO, decidindo com base em documentos inexistentes, indeferindo todos os meus requerimentos, acatando de imediato os pedidos da Polícia Federal e do Ministério Público e prorrogando escutas ilegais sem sequer fundamentar, em gritante parcialidade, como a própria imprensa já divulgou; o leitor constatará em “Nos bastidores das Cortes – Como a política interfere no Judiciário ”, que se acha pronto para impressão. E não será surpresa se ele encontrar soluções salomônicas para me julgar. Mas Noronha também sabe fazer conchavos e plantar para colher depois. O jornal virtual “GGN – O jornal de todos os Brasis”, na edição de 16/02/2016, publicou matéria de Patricia Faermann, sob o título “Noronha, o homem de Aécio no TSE”, que merece ser transcrita: “O planejamento da cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff e do vice Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi arquitetado para cumprir o mesmo andamento da Operação Lava Jato na Vara Federal de Curitiba. No Paraná, o comando é exercido pelo juiz Sergio Moro. No TSE, João Otávio de Noronha estava assumindo o papel. A estratégia que hoje veio à tona pelo noticiário, já foi brecada quando a ministra Maria Thereza de Assis Moura voltou a assumir a relatoria do processo, em novembro de 2015. Noronha sempre foi considerado o mais aecista dos membros do Judiciário, nome certo para o STF caso Aécio Neves fosse eleito. A troca de documentos entre o TSE e o juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba - onde o processo da Lava Jato iniciou - já era realizada desde maio de 2015, quando o corregedor-geral da Justiça Eleitoral e ministro do TSE, João Otávio de Noronha, deu início à convocação de testemunhas para a investigação se houve irregularidades na captação de recursos para a campanha da chapa Dilma e Temer. Em 7 de maio, por exemplo, Otávio de Noronha solicitou que Moro repassasse informaões sobre o local onde as testemunhas estavam presas e a autorização para o deslocamento delas ao Tribunal Regional Eleitoral mais próximo para, em data marcada, testemunhar junto ao TSE. Com essa determinação, em 15 de junho de 2015, Marcelo Neri foi convocado a prestar depoimento. Em seguida, oito dias depois, Rogério Miranda e Ricardo Pessoa também foram chamados a audiências para depor. Durante esse período de oitivas, o ministro João Otávio de Noronha designou o juiz auxiliar Nicolau Lipianhes Neto para dar sequência ao processo. E foi por meio do novo juiz que foi suspensa a audiência então marcada com Ricardo Pessoa, porque a Procuradoria-Geral da República informou o TSE que Pessoa tinha firmado acordo de delação premiada. A partir desse momento, em setembro de 2015, por ordem de Noronha, foi retirado o sigilo do processo de cassação contra Dilma e Temer. Como justificativa, a publicidade seria um modo de pressionar pelo andamento do caso”. Como o leitor já sabe a ficha do ministro João Otávio de Noronha, vamos conhecer outro da cota dos apadrinhados. Ministro Francisco Falcão, presidente do STJ Como vimos antes, a escolha de ministros costuma ferir de morte a ética, tanto no STJ como no STF: prevalece o interesse de grupos, de políticos, fazendo da seleção uma verdadeira guerra. Inúmeros ministros do STJ foram nomeados devidamente “calçados” por grupos interessados. Aliás, é muito comum os próprios ministros lutarem por determinado candidato ligado a eles, e um exemplo mais recente ocorreu na escolha do sucessor do ministro Aldir Passarinho Junior, quando a “Folha de São Paulo” de 22 de novembro de 2011, a exemplo de vários blogs, noticiou que o presidente do STJ, na época Ari Pargendler, “Faz lobby por candidatura de cunhada. Campanha para emplacar desembargadora tem incomodado colegas” Em junho de 1999, conforme noticiou o “Jornal do Brasil, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou as indicações de quatro novos ministros do STJ, feitas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Foram aprovados os nomes de Eliana Calmon Alves, primeira mulher a integrar um tribunal superior, Jorge Tadeo Scartezzini, Francisco Cândido de Melo Falcão Neto e Paulo Ben jamin Fragoso Galotti. Os três juízes indicados são parentes de magistrados. Francisco Falcão, hoje Corregedor Nacional de Justiça, é filho do ministro aposentado do STF Djaci Falcão e parente dos então vice-presidente da República, Marco Maciel e do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro; Jorge Scartezini entrou na vagado irmão, o ministro Cid Flaquer Scartezini, que se aposentou no STJ. Paulo Benjamin Fragoso Galotti é primo do ministro Otávio Galotti, do STF. Os quatro foram empossados no mesmo dia, 30/06/1999. Não obstante a aprovação unânime do ministro Francisco Falcão pelo Senado Federal para o cargo de Corregedor Nacional, seu ingresso no STJ não foi pacífico: além da polêmica gerada pelo fato de sua indicação ter sido alavancada pelo parentesco, a imprensa, que nunca perdoou ninguém, estampou (Jornal do Brasil), a matéria “Indicações ao STJ causam polêmica”, da jornalista Sônia Carneiro, que esmiuçou o parentesco e o dedo da política em três casos, e a política, que Eliana Calmon tanto combatia, levou-a ao STJ: o dedo do então todo-poderoso Antônio Carlos Magalhães, seu padrinho, como afirmou a revista Época. Depois, o patrocínio do senador Edson Lobão, que encampou sua candidatura. Durante a sabatina da época, Francisco Falcão confirmou denúncia encaminhada à CPI do Judiciário, admitindo ser alvo de uma ação de investigação de paternidade em Pernambuco. “Esse juiz deveria ter uma postura mais compatível com o cargo que vai ocupar”, protestou o senador José Dutra (PT-SE). A senadora Emília Fernandes (PDT-RS) disse que o mais grave foi a indicação ter recebido o voto favorável de senadores da cúpula da CPI do Judiciário, Ramez Tebet (PMDB-MS) presidente, e Carlos Wilson (PSDB-PE), vice-presidente. “Eles investigam de um lado e acobertam de outro”, afirmou a senadora. “Considero que a reputação desse juiz está totalmente comprometida”, disse a senadora Heloísa Helena (PT-AL). A indicação do juiz Francisco Falcão de Melo Neto para o cargo de ministro do STJ foi polêmica. Falcão era acusado pela procuradora da República Armanda Soares Figueiredo de ter ameaçado de morte os gêmeos Rodrigo e Renato, de 17 anos, que moviam ação de investigação de paternidade contra ele. Apesar da acusação, o juiz foi aprovado no Senado por 59 votos a favor, 16 contrários e uma abstenção. Junto com Falcão foram aprovados outros juízes inclusive a primeira mulher a ter uma cadeira no STJ, a baiana Eliana Calmon. Apoiada por Antônio Carlos Magalhães, ela teve 65 votos a favor”. A procuradora da República Armanda Soares Figueiredo (falecida em 04/10/2006) empenhou- se em uma verdadeira cruzada contra a nomeação do ministro Francisco Falcão, encaminhando cartas às mais diversas autoridades. Em 29 de junho de 1999, véspera de sua posse, foi endereçada por nada menos que 35 representantes de entidades jurídicas de vários Estados (e até uma advogada de Ottawa-Canadá) ao então presidente do STJ, ministro Antônio de Pádua Ribeiro, extensa missiva, em que, após tecer comentários sobre os outros empossandos, evoca o art. 104 da Constituição Federal, focando no requisito da reputação ilibada, quando menciona ameaças e abuso de poder perpetrado contra seus supostos filhos; incluindo a determinação de ordem de prisão, quando os mesmos foram procurá-lo na Sede do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em janeiro passado; seu nome obteve a expressiva rejeição de 16 senadores, que votaram contrariamente à indicação; jamais se submeteu a qualquer concurso público. O ministro Falcão – como se viu - entrou “pela janela” no Tribunal Regional Federal do Recife, alavancado pelo parentesco (filho do ex-ministro do STF Djaci Falcão e primo do então Vice- Presidente da República Marco Maciel e do Procurador-Geral da República Geraldo Brindeiro). Se o leitor quiser saber a ficha do sucessor de Eliana Calmon, basta ver as edições da revista “Veja” de 9 e de 16 de junho de 1999, época de sua escolha e nomeação para o STJ. O que está escrito lá é de arrepiar: como advogado nunca teve uma ação relevante; a revista “Veja” chama-o de “advogado obscuro”, que nunca publicou sequer um artigo, e, para completar, basta dizer que na sabatina da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (que nunca reprovou ninguém) ele teve expressivo número de votos contrários a sua nomeação. E já estava vindo do TRF-5, do qual fora até presidente, com uma gestão mal explicada, com carros importados na garagem, apartamento de luxo à beira-mar no Recife, licitações dirigidas etc. E com esse histórico foi escolhido para apurar corrupção e desvios de conduta de magistrados no CNJ. E no STJ, apesar do péssimo relacionamento com seus pares, está impondo seu estilo, indispondo-se com o seu colega João Otávio, dentre outros, buscando marcar território O prestigiado blog do jornalista Luiz Nassif, em edição de 05/06/2012, sob o título “Seção Especial – Vamos tirar Francisco Falcão do Superior Tribunal de Justiça”, reproduz toda a correspondência encaminhada pela procuradora Armanda Soares Figueiredo às mais diversas autoridades, bem como os e-mails disparados para todo o Brasil denunciando-o pelos fatos acima citados. O jornal digital “247”, tão logo foi decidida a escolha do substituto de Eliana Calmon na Corregedoria Nacional de Justiça, publicou (03/01/2012): “Eliana Calmon será sucedida por exato oposto no CNJ - A mudança de estilos não significa que Falcão seja um ministro mais transigente em relação aos eventuais abusos da magistratura. Em 2010, ele comandou uma inspeção no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo. “A hora que eu tomar conhecimento que algum desembargador está usando carro oficial para fins particulares, eu vou dar ordem para a Polícia Federal apreender imediatamente o carro, com o magistrado dentro”. Fora do CNJ, Eliana Calmon poderá optar pela volta ao STJ ou pela carreira política. Ela tem convites de vários partidos para disputar o governo da Bahia, em função da popularidade conquistada com a crítica aos “bandidos de toga”. No entanto, todos os comentários àquela matéria trazem dissabor, depondo contra a “ilibada“ conduta do Corregedor Nacional de Justiça, que não tem respaldo moral para julgar ninguém. É só conferir: o jornal “O Estado de São Paulo”, edições de 02 de junho (pág, 12), 06 de junho (pág, 10) e 09 de junho de 1999 (pág, 11), bem como as edições da revista “Veja” de 09/06/1999 (“Ficha suspeita - Candidato a ministro do STJ é acusado de maltratar filhos que diz não serem seus) que arremata:: “Até então, era um advogado obscuro, sem nenhuma grande causa no currículo. Credita-se sua ascensão e atual nomeação ao fato de ser filho de um ministro aposentado do STF, além de primo do procurador-geral da República Geraldo Brindeiro e também do vice-presidente Marco Maciel”, e, nessa própria edição, declarou a “Veja”, sobre os pretensos filhos: “Só digo que não conheço essas pessoas. Nunca as vi”; a matéria de 16/06/1999, da jornalista Dina Duarte (“Aos parentes, tudo - Novo ministro do STJ empregou a mulher, a irmã e a filha em tribunal de Pernambuco”, também questiona sua probidade, seu patrimônio e outros aspectos nada agradáveis de sua vida. E quanto aos supostos filhos, que ele renegava, a publicação virtual “Consultor Jurídico” de 27 dezembro de 2002, desmentia na substanciosa matéria “Sem dúvida - DNA comprova que ministro do STJ é pai de rapazes em Recife”. Não se pode dizer que o ministro Francisco Falcão não seja um homem de sorte: além de ter entrado na magistratura pela janela, alavancado por parentesco ilustre, sem jamais ter prestado um concurso, lecionado nem mesmo em cursinho e escolhido para o STJ dentro do mesmo critério de apadrinhamento, o destino lhe acenou para um fato jamais acontecido: Fischer deixou a presidência em 31/08/2014; com isto, Falcão ganhou quatro anos na carreira, pois era o 4º em antiguidade: precediam-no Ari Pargendler, Eliana Calmon e Gilson Dipp; Pargendler já foi presidente; com a aposentadoria de Eliana em dezembro de 2013, a presidência iria para Gilson Dipp, que se aposenta em 1º/10/2014. Com isto, Falcão ganhou de presente de Natal antecipado a presidência do STJ, após deitar fama como implacável Corregedor Nacional de Justiça, cargo que deixou em 05/09/2014, depois de fazer estragos na reputação de tantos magistrados. Só no Brasil!... Mais um nome: Raul Araújo Filho Embora hajavários outros nomes que deixam a desejar no STJ, pela falta de antecedentes jurídicos, vou ficar nestes já citados e neste novo nome, reservando outros comentários para o alentado “Nos bastidores das Cortes (Como a política interfere no Judiciário”), que não vai demorar a sair. Quando Raul Araújo foi indicado ministro, em 2010, esteve no gabinete da ministra Eliana Calmon, e ela, com a franqueza de sempre, lhe disse, olhando nos olhos: “O senhor não é desembargador, entrou pelo quinto e tem três anos de magistratura. Acho um absurdo votarem no senhor e falarei com todos meus colegas para não o fazerem.” Mas Raul Araújo Filho foi eleito, e ela publicou um artigo intitulado “A magistratura pede socorro”, no qual desancou a forma como se dava a escolha dos ministros de seu próprio tribunal (Revista Piauí nº 6, na matéria “Não gosto de firula” da jornalista Daniela Pinheiro, página 8). Isto mostra claramente que muitas vezes não se segue o preceito constitucional do “notável saber jurídico” (art. 104, § Único), pois, dentre exatos 1.575 desembargadores virtuais candidatos, foi escolhido, na época, um com três anos de magistratura, e, ainda por cima, originário do “quinto”, que nem sempre traz na bagagem conhecimentos jurídicos, mas “padrinhos”. Deve ser um gênio. No seu currículo do site do STJ não há referência a qualquer data anterior ao seu ingresso no STJ, talvez para que não se saiba quando ingressou no Tribunal alencarino. Como Noronha e Falcão, é da grande turma dos quase um terço de ministros do STJ sem obra publicada. Quem terá sido seu “padrinho? Ministros, que deviam dar o exemplo, são investigados Segundo a publicação “Congresso em Foco”, de 28/07/2015, sob o título “Mensagem de Marcelo Odebrecht cita presidente e ministros do STJ”, estampou: “Investigadores da Operação Lava Jato encontraram nos registros pessoais do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, indícios de que o empreiteiro pretendia usar contatos políticos no Judiciário para se livrar da prisão. No telefone celular apreendido de Marcelo, havia mensagem cifrada que listava o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Francisco Falcão, como uma das autoridades que poderiam agir em seu favor em caso de problemas judiciais. Outros três ministros do STJ foram citados pelo empresário: Nancy Andrighi, João Otávio de Noronha e Raul Araújo. As informações são do site da revista Veja”. Jornais virtuais diversos, dentre eles o Jota, publicaram em 07/02/2016, sob o título “STJ: mais um ministro do tribunal está sendo investigado”: “A nota foi publicada pelo jornalista Lauro Jardim, em O Globo. Mais um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estaria sendo investigado no Supremo Tribunal Federal. A suspeita é de venda de sentença. Já é investigado no STF o ministro Benedito Gonçalves. O processo, entretanto, tramita de forma oculta. O JOTA consultou alguns ministros para saber de quem desconfiavam. Os nomes citados foram variados. Um mau sinal sobre o STJ”. Mas a coisa não para aí: como alguns ministros sugeriram vários nomes, dev e haver muita coisa debaixo do tapete. O jornal virtual Cristalvox de 18/02/2016, estampou em matéria assinada pelos jornalistas Filipe Coutinho e Talita Fernandes, a manchete: GRAVÍSSIMO: Ministro do STJ é investigado, suspeito de vender decisão que “soltou” ladrão de cargas em Goiás” - A revista Época divulga no final desta quinta, 18 de fevereiro, mancheteando como Exclusivo, que Ministro Sebastião Alves dos Reis do STJ está sendo investigado pelo STF – relatora é a Ministra Rosa Weber – figurando no procedimento como suspeito de vender decisão em “foro” de habeas corpus, em favor de um perigoso assaltante. Afirma Época ter obtido, por meio de fontes acreditadíssimas na Corte, que uma semana depois de manter prisão o bandido e após advogada pedir “boa vontade” a ele, Sebastião dos Reis mandou soltar suspeito de roubo de carga em Goiás. No primeiro despacho no HC 243.074, em 24/05/2012, o ministro indeferiu a liminar requerida por Cleonor Onório Avelino, mas no dia 31 do mesmo mês, uma semana depois, reconsiderou a decisão, mandando soltá-lo. A matéria da revista Época é extensa e elucidativa. Depois, já no dia 10/02/2016, a ação constitucional foi redistribuída ao desembargador convocado Ericson Maranho “por suspeição”. Mais recentemente, a mesma revista Época, em matéria do mesmo jornalista Filipe Coutinho, com a manchete “As irregularidades ocorreram quando o ministro João Noronha era o responsável pela área”, diz: “Uma perícia da Polícia Federal encomendada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) aponta um superfaturamento de pelo menos R$ 8 milhões em contratos de R$ 30 milhões na área de informática da Corte. Os peritos chegaram a esse valor comparando os preços contratados pelo STJ e os de mercado. Eles apontaram, também, indícios de acerto prévio entre as empresas concorrentes. As irregularidades ocorreram quando o ministro João Noronha era o responsável pela área de informática. Integrantes da comissão interna escalados para apurar as irregularidades reclamaram que estavam sendo sabotados na investigação e, por isso, a PF foi acionada. A Procuradoria-Geral da República também investiga os principais suspeitos do caso. O STJ e o ministro João Noronha não quiseram se manifestar sobre o episódio”. O ministro Francisco Falcão deve estar rindo de satisfação, pois é sabido e consabido que ele não se dá com Noronha, e o fato de pedir a Polícia Federal para entrar no caso era-lhe duplamente favorável: aparentaria ser um administrador cioso e, por outro lado, vingar-se-ia. . O caso do superfaturamento na área de informática veio a calhar. Nada mais lógico. Se pudéssemos ter acesso a todos os conchavos por baixo das cortinas, certamente haveria muita surpresa. Mas o livro “ Nos bastidores das Cortes (como a política interfere no Judiciário), que não vai tardar a estar nas livrarias, vai esmiuçar com detalhes assuntos que o público nem imagina que possam existir nesse cipoal que une Justiça e politica(gem). STJ – UM OÁSIS DE MORDOMIAS Antes de ver o que se passou nos subterrâneos do STJ, é muito importante ler o lúcido artigo. “Triste Judiciário!”, do historiador e professor Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, que circulou em 11/11/2013 nas redes sociais e demonstra o porquê da briga por uma vaga de ministro, ao denunciar: “O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é formado por 33 ministros. Foi criado pela Constituição de 1988. Poucos conhecem ou acompanham sua atuação, pois as atenções nacionais estão concentradas no Supremo Tribunal Federal. No site oficial está escrito que é o tribunal da cidadania. Será? Um simples passeio pelo site permite obter algumas. Um simples passeio pelo site permite obter algumas informações preocupantes. O tribunal tem 160 veículos, dos quais 112 são automóveis e os restantes 48 são vans, furgões e ônibus. É difícil entender as razões de tantos veículos para um simples tribunal. Mais estranho é o número de funcionários. São 2.741 efetivos. Muitos, é inegável. Mas o número total é maior ainda. Os terceirizados representam 1.018. Desta forma, um simples tribunal tem 3.759 funcionários, com a média aproximada de mais de uma centena de trabalhadores por ministro! Mesmo assim, em um só contrato, sem licitação, foram destinados quase R$ 2 milhões para serviço de secretariado. Não é por falta de recursos que os processos demoram tantos anos para serem julgados. Dinheiro sobra. Em 2010, a dotação orçamentária foi de R$ 940 milhões. O dinheiro foi mal gasto. Só para comunicação e divulgação institucional foram reservados R$ 11 milhões, para assistência médica a dotação foi de R$ 47 milhões e mais 45 milhões de auxílio-alimentação. Os funcionários devem viv er com muita sede, pois foram destinados para compra de água mineral R$170 mil. E para reformar uma cozinha foram gastos R$ 114 mil. Em um acesso digno de Oswaldo Cruz, o STJ consumiu R$ 225 mil em vacinas. À conservação dos jardins - que, presumo, devem estarmuito bem conservados - o tribunal reservou para um simples sistema de irrigação a módica quantia de R$ 286 mil. Se o passeio pelos gastos do tribunal é aterrador, muito pior é o cenário quando analisamos a folha de pagamento. O STJ fala em transparência, porém não discrimina o nome dos ministros e funcionários e seus salários. Só é possível saber que um ministro ou um funcionário (sem o respectivo nome) recebeu em certo mês um determinado salário bruto. E só. Mesmo assim, vale muito a pena pesquisar as folhas de pagamento, mesmo que nem todas, deste ano, estejam disponibilizadas. A média salarial é muito alta. Entre centenas de funcionários efetivos é muito difícil encontrar algum que ganhe menos de 5 mil reais. Mas o que chama principalmente a atenção, além dos salários, são os ganhos eventuais, denominação que o tribunal dá para o abono, indenização e antecipação das férias, a antecipação e a gratificação natalinas, pagamentos retroativos e serviço extraordinário e substituição. Ganhos rendosos. Em março deste ano um ministro recebeu, neste item, 169 mil reais. Infelizmente há outros dois que receberam quase que o triplo: um recebeu R$ 404 mil; e outro, R$ 435 mil. Este último, somando o salário e as vantagens pessoais, auferiu quase meio milhão de reais em apenas um mês! Os outros dois foram “menos aquinhoados”, um ficou com R$ 197 mil e o segundo, com 432 mil. A situação foi muito mais grave em setembro. Neste mês, seis ministros receberam salários astronômicos: variando de R$ 190 mil a R$ 228 mil. Os funcionários (assim como os ministros) acrescem ao salário (designado, estranhamente, como “remuneração paradigma”) também as “vantagens eventuais”, além das vantagens pessoais e outros auxílios (sem esquecer as diárias. Assim, não é incomum um funcionário receber R$ 21 mil, como foi o caso do assessor-chefe CJ-3, do ministro 19, os R$ 25,8 mil do assessor-chefe CJ-3 do ministro 22, ou, ainda, em setembro, o assessor chefe CJ-3 do desembargador 1 recebeu R$ 39 mil (seria cômico se não fosse trágico: até parece identificação do seriado “Agente 86”). (...) Certamente o STJ vai argumentar que todos os gastos e privilégios são legais. E devem ser. Mas são imorais, dignos de uma república bufa. Os ministros deveriam ter vergonha de receber 30, 50 ou até 480 mil reais por mês. Na verdade devem achar que é uma intromissão indevida examinar seus gastos. Muitos, inclusive, podem até usar o seu poder legal para coagir os críticos. Triste Judiciário. Depois de tanta luta para o estabelecimento do estado de direito, acabou confundindo independência com a gastança irresponsável de recursos públicos, e autonomia com prepotência. Deixou de lado a razão da sua existência: fazer justiça” Quem não quer ser ministro do STJ? SURGE NOVO LOBISOMEM, AGORA NO STJ Pois bem, agora surge um fato, originado no Estado do Tocantins, que muito se assemelha àquele, não pela participação caolha do representante do Ministério Público (que sequer oficiou nesse feito), mas pelo casuísmo dos grandes lá do Superior Tribunal de Justiça, que, sem querer generalizar, estão deixando em xeque a própria Justiça, pelo tanto que torcem as coisas para chegar a um ponto que lhes convém. O Banco do Brasil perdeu, exatamente para mim, uma ação indenizatória por danos morais no primeiro grau, no valor equivalente a 3.600 salários-mínimos; apelou (Apelação Cível nº 3.111/01), e o Tribunal confirmou a sentença, por unanimidade, havendo apenas uma divergência quanto ao montante da indenização, sem, no entanto, alterar o mérito. Depois de interpor Embargos de Declaração (improvidos), o Banco entrou com Embargos Infringentes (mas que não eram cabíveis, pois não houvera reforma da sentença), cujo seguimento foi negado. Após, também foi vencido em Agravo Regimental interposto contra decisão monocrática denegatória de seu seguimento. Perdendo os Embargos Infringentes, o Banco do Brasil interpôs Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça. Mas como a lei estabelece que os Embargos Infringentes não suspendem o prazo do processo, e remansosa e pacífica jurisprudência navega nesse sentido, o ingresso do Recurso Especial já se dera fora do prazo, com atraso de exatos 80 dias. Primeira derrota do banco Em 06/08/2002, o Banco do Brasil ingressou no Supremo Tribunal Federal com o Agravo de Instrumento nº 398.654, atacando a decisão que negara seguimento, pelo Tribunal de Justiça a quo, aos Embargos Infringentes; distribuídos ao ministro Nelson Jobim, teve seu seguimento negado em 21/03/2003. Sobe o recurso que não devia subir Voltando um pouco no tempo, o Tribu nal tocantinense, não se sabe por que razão, admitiu o recurso especial, mesmo 80 dias após o prazo de lei (o julgamento da Apelação 3.111/01 terminou em 15/04/2002, e o Recurso Especial só foi interposto em 09/09/2002), tendo o Presidente, desembargador Luiz Gadotti, admitido o recurso, embora intempestivo, como se vê da anotação no andamento da apelação: Ao(s) 20 dia(s) do mês de Dezembro de 2002, no (a) ASS. JURÍDICA DA PRESIDÊNCIA faço remessa destes autos a (o) DIV. DE RECURSOS CONSTITUCIONAIS. Decisão admitiu os recursos especial e extraordinário e deferiu o pedido de extração de carta de sentença, e lavro o presente termo. Eliane Aparecida Bastazini.” A admissão do recurso do Banco teve uma nuance que ninguém sabe, que envolveu, como sempre, a interferência do Executivo no Judiciário. O Presidente do Tribunal à época, desembargador Luiz Gadotti, tendo sido “indicado” (para não dizer imposto) pelo governador Siqueira Campos, recebeu o recurso do Banco em 12/09/2002, remetendo-o para a Divisão de Recursos Constitucionais, à qual competia admiti-lo, ou não; caso admitido, seria remetido ao Superior Tribunal de Justiça. Eu exercia, na época, a Presidência do Tribunal Regional Eleitoral, e estava em minha mesa, para admissão, ou não, um recurso eleitoral da Procuradoria Regional Eleitoral para impugnar o mandato da então Prefeita de Palmas, Profª Nilmar Gavino Ruiz e seu Vice, Raimundo Nonato Pires dos Santos, que, em agosto, sob a relatoria do então corregedor eleitoral, des embargador José Maria das Neves, julgou, por maioria, improcedente a impugnação (vencida a juíza federal). Um assessor da Presidência do Tribunal de Justiça (cujo nome não posso revelar para evitar represálias), encarregado do despacho de inadmissão do Recurso Especial do Banco, chegou a mostrar-me a minuta, já no ponto de ser as sinada por Gadotti, da decisão presidencial inadmitindo o recurso, por intempestivo. Nesse ínterim, várias “recomendações” do então governador Siqueira Campos chegaram a mim: eram para que não admitisse o recurso eleitoral, para não subir para o TSE. Como sempre, decidi de acordo com minha consciência e respaldado na lei, admiti o recurso e remeti ao TSE. Diante de dois pescoços, candidatos à guilhotina, preferi salvar o meu. Tão logo encaminhei o recurso eleitoral, fui surpreendido pela decisão do desembargador Luiz Gadotti, que (depois eu soube que por “recomendação” do Executivo) desta vez e em razão de minha atitude, admitiu o recurso do Banco, atropelando todas as decisões anteriores nesse sentido: ao recurso intempestivo sempre foi negado seguimento. Chumbo trocado não doi: se mandei subir o recurso da Nilmar, o meu também tinha que subir. E subiu, ordenado por Gadotti, a mando de Siqueira. Segunda derrota do banco O Banco do Brasil, diante do Recurso Especial interposto, ingressou no STJ com a Medida Cautelar nº 5.726-TO, buscando conferir efeito suspensivo ao Recurso Especial. O ministro Ari Pargendler, na época relator, simplesmente indeferiu a inicial ao argumento de que o requerente, ao ajuizar os embargos infringentes (que não suspendem o prazo), perdera o prazo do recurso especial, e sua decisão foi pelo indeferimento da inicial, como se vê do despacho: “O pedido não pode prosperar, à vista da intempestividade do recurso especial. Mantida a sentença de fls., ainda que por acórdão não unânime, não cabiam embargos infringentes, a teor do art. 530 do Código deProcesso Civil, na redação dada pela Lei nº 10.352, de 2001. Nessas condições, o tempo perdido no processamento dos embargos infringentes consumiu o prazo do recurso especial. Indefiro, por isso, a petição inicial. Intimem-se”. (Diário da Justiça de 14/03/2003) O Recurso Especial nº 510.299-TO chegou ao STJ, e, como o ministro Ari Pargendler, a quem por prevenção, seria distribuído, estava em função não judicante, e o recurso foi redistribuído ao Ministro Humberto Gomes de Barros, que não conheceu do recurso por intempestivo, o que levaria ao cumprimento da sentença do primeiro grau. Mas aí comecei a acreditar em lobisomem, Papai Noel, saci pererê, mula-sem-cabeça e outras coisas que povoam a mente do povo. Pedido de vista “por recomendação” Na sessão do dia 17/02/2004, o relator levou os autos a julgamento e, como dito, não conheceu do recurso, face à flagrante intempestividade. O próximo a votar seria o ministro Carlos Alberto Menezes Direito, que, não se sabe o porquê, discutiu bastante (e as notas taquigráficas comprovam), insistindo em que “deveria ser encontrada uma forma de conhecer do recurso para examinar o mérito”, e sugeriu à Ministra Nancy Andrighi, que era “muito estudiosa e perspicaz”, que pedisse vista antecipada dos autos, para encontrar uma forma de co nhecer do recurso e julgar-lhe o mérito. Pura maldade do ministro Menezes Direito, que demonstrou ter interesse no processo. E ela retirou os autos com vista. Alguns ministros das Cortes Superiores costumam “adotar” processos como seus. O Regimento Interno do STJ, no seu art. 162, dispõe que o ministro que formular o pedido de vista restituirá os autos ao Presidente dentro de dez dias, no máximo, contados do dia do pedido, devendo prosseguir o julgamento do feito na primeira sessão subsequente a esse prazo. Mas a ministra Nancy Andrighi ficou com o processo quase quatro meses, talvez buscando encontrar a solução alvitrada pelo seu colega Menezes Direito, para que fosse julgado de qualquer jeito o mérito, no sentido de baixar o valor da indenização, que já tinha sido considerada líquida e certa. A jurisprudência pacífica do STJ É pacífica a jurisprudência daquela Corte Superior no sentido de que os Embargos Infringentes não suspendem o prazo do Recurso Especial, existindo inúmeros julgados nesse sentido, todos à unanimidade, não só da Terceira Turma, mas também das demais. 1ª TURMA: Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 528.403/ PR – Rel.: Ministra DENISE ARRUDA: “PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO CONHECIDO - EMBARGOS INFRINGENTES INADMISSÍVEIS - APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA - RECURSO ESPECIAL INTEMPESTIVO - DESPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. 1. “Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de seguranç a, decidiu por maioria de votos, a apelação» (Súmula 597/STF) e «São inadmissíveis embargos infringentes no processo de mandado de segurança” (Súmula 169/STJ). 2. A INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS INFRINGENTES INCABÍVEIS NÃO SUSPENDE O PRAZO PARA A INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ESPECIAL, CUJO TERMO INICIAL SE DÁ COM A INTIMAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. 3. Recurso especial intempestivo. 4. Agravo regimental desprovido” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 10/02/2004). 2ª TURMA: 1) Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 14.151/MG – Rel.: Min. PAULO MEDINA:“MANDADO DE SEGURANÇA - EMBARGOS INFRINGENTES - RECURSO ORDINÁRIO. 1 - São incabíveis embargos infringentes contra acórdão não unânime que decide mandado de segurança de competência originária de Tribunal de Justiça de Estado. 2 - A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO INCABÍVEL NÃO SUSPENDE OU INTERROMPE O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO PRÓPRIO. Intempestividade do recurso ordinário. 3 - Recurso não conhecido” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 24/09/2002) 2) Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 67.963/SP – Rel: Min. PEÇANHA MARTINS:“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINARIO. SUSPENSÃO DO PRAZO DE INTERPOSIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. EMBARGOS INFRINGENTES NÃO RECEBIDOS NÃO SUSPENDEM O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINARIO. 2. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 04/09/1995). 3) Recurso Ordinário em MS Nº 14.151/MG – Rel.: Min. PAULO MEDINA- “MANDADO DE SEGURANÇA - EMBARGOS INFRINGENTES - RECURSO ORDINÁRIO. 1 - São incabíveis embargos infringentes contra acórdão não unânime que decide mandado de segurança de competência originária de Tribunal de Justiça de Estado. 2 - A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO INCABÍVEL NÃO SUSPENDE OU INTERROMPE O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO PRÓPRIO. INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO ORDINÁRIO. 3 - Recurso não conhecido” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 24/09/2002). 3ª TURMA: 1) Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 590.969/RS - Rel.: Min. CASTRO FILHO:- “AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL INTEMPESTIVO. I – A viabilidade do agravo de instrumento, em que se objetiva o exame do recurso especial por esta Corte, requer, entre outras exigências, a tempestividade do recurso excepcional. II - Os embargos infringentes incabíveis, assim reconhecidos por decisão do relator, NÃO TÊM O CONDÃO DE INTERROMPER OU SUSPENDER O PRAZO PARA O RECURSO ESPECIAL. Agravo improvido” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 07/10/2004 - Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Carlos Alberto Menezes Direito e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros). 2) Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 549.356/SP – Rel.: Min. CASTRO FILHO:- “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES NÃO CONHECIDOS. INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO ESPECIAL. A oposição de embargos infringentes tidos por incabíveis NÃO TEM O CONDÃO DE SUSPENDER A CONTAGEM DO PRAZO para a interposição do recurso especial. Agravo a que se nega provimento” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 26/08/2004 - Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Humberto Gomes de Barros). 3) Agravo Regimental no Recurso Especial nº 547191/ DF - Rel.: Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO:- “Agravo regimental. Recurso especial. Intempestividade. Embargos infringentes. Descabimento. Negativa de seguimento. Interrupção ou suspensão de prazo. Lei nº 10.352, de 26/12/01. 1. Mesmo com as modificações introduzidas pela Lei nº 10.352, de 26/12/01, em relação aos artigos 498 e 530 do Código de Processo Civil, os embargos infringentes incabíveis, assim reconhecidos em decisão monocrática irrecorrida, NÃO TÊM O CONDÃO DE INTERROMPER OU SUSPENDER O PRAZO PARA O RECURSO ESPECIAL. LOGO, NA HIPÓTESE DE DESCABIMENTO DE EMBARGOS INFRINGENTES, DEVE O RECURSO ESPECIAL SER INTERPOSTO DENTRO DO PRAZO DE 15 (QUINZE) DIAS, CONTADOS DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. 2. Agravo regimental desprovido” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 21/10/2003 - Os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, ocasionalmente os Ministros Nancy Andrighi e Ari Pargendler). 4ª TURMA: Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 505.055/ SC – Rel.: Min. JORGE SCARTEZZINI: - “PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - NEGATIVA DE PROVIMENTO - AGRAVO REGIMENTAL - EMBARGOS INFRINGENTES INCABÍVEIS – NÃO CONHECIMENTO - SUSPENSÃO OU INTERRUPÇÃO DO PRAZO RECURSAL - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO ESPECIAL INTEMPESTIVO - DESPROVIMENTO. 1 - Esta Corte já pacificou o entendimento no sentido de que A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO INCABÍVEL NÃO SUSPENDE E NEM INTERROMPE O PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DO RECURSO PRÓPRIO, BEM COMO NÃO IMPEDE O TRÂNSITO EM JULGADO DE ACÓRDÃO IMPUGNADO INADEQUADAMENTE. In casu, os embargos infringentes opostos ao v. aresto não unânime, que manteve inalterada a r. sentença de primeiro grau, na vigência da Lei 10.352/2001, que deu nova redação ao art. 530, do Código de Processo Civil, não têm o condão de interromper o prazo para a interposição do recurso especial. 2 - Precedentes (AGA 535.370/RS, RMS 14.151/MG e REsp 56.791/SP). 3 - Agravo regimental conhecido, porém, desprovido” (ACÓRDÃOUNÂNIME de 14/09/2004). 5ª TURMA: RECURSO ESPECIAL Nº 638.239/RS – Rel.: Min. FELIX FISCHER:“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES. APELAÇÃO. PUBLICAÇÃO. LEI Nº 10.352/2001. ANTERIORIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PERÍODO POSTERIOR. LEI NOVA. REGÊNCIA. I - Consoante entendimento pacífico, a lei processual nova tem incidência imediata, devendo ser aplicada ao processos em curso, resguardados os atos praticados sob a legislação revogada. II - Publicados os embargos de declaração contra acórdão não-unânime que, ao julgar a apelação, manteve a sentença, quando em vigor a Lei nº 10.352/2001, NÃO SÃO CABÍVEIS OS EMBARGOS INFRINGENTES, AINDA QUE A PUBLICAÇÃO DO JULGADO QUE DECIDIU O APELO TENHA SIDO ANTERIOR À ALTERAÇÃO DA SISTEMÁTICA RECURSAL. III - A parte do recurso especial que se dirige contra o julgamento da apelação, é intempestiva, porquanto OS EMBARGOS INFRINGENTES, QUANDO INCABÍVEIS, NÃO INTERROMPEM O PRAZO RECURSAL. IV - O dissenso pretoriano não restou caracterizado, uma vez que os acórdãos trazidos à colação não tratam da peculiaridade da modificação da Lei de regência dos embargos infringentes no interregno entre a publicação do julgamento da apelação e a apreciação dos embargos declaratórios opostos ao julgado, estando ausente a indispensável similitude fática. Recurso não conhecido” (ACÓRDÃO UNÂNIME de 23/06/2004). Meu advogado, Dr. Nathanael Lima Lacerda, peregrinou semanalmente a Brasília na esperança de que o recurso especial fosse devolvido com o voto da ministra que pedira vista antecipada, por insistência do ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Representação contra a ministra Como a ministra Nancy Andrighi estava retardando, sem justificativa, o retorno dos autos a julgamento, e já transcorridos mais de 100 (cem) dias e 15 sessões, foi feita em 1º/06/2004, uma representação (RP nº 296-TO), para que o presidente do STJ compelisse a ministra a retomar o julgamento, tendo sido distribuída ao Ministro César Asfor Rocha. O julgamento caolho: meia vitória do banco Tomando conhecimento da representação, e naturalmente melindrada, a ministra Nancy Andrighi levou a julgamento o Recurso Especial logo na sessão seguinte (08/06/2004), 112 dias após o pedido de vista, e encontrou a “solução” pedida pelo ministro Carlos Alberto Meneses Direito, ficando assim resumido o julgamento: “RESULTADO DE JULGAMENTO: “A TURMA, POR MAIORIA, AFASTOU A PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO, VENCIDO O SR. MINISTRO RELATOR; EM SEGUIDA, AFASTOU ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 530 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, VENCIDOS OS SRS. MINISTROS RELATOR E ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO; EM SEGUIDA, POR UNANIMIDADE, AFASTOU ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC E AO ART. 56 DA LEI DE IMPRENSA ; FINALMENTE, NO TOCANTE AO MÉRITO, CONHECEU DO RECURSO ESPECIAL E DEU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, NOS TERMOS DO VOTO DA SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI.” LAVRARÁ O ACÓRDÃO A SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI.” Para respaldar seu posicionamento (“ encontrar de qualquer forma um jeito de conhecer do recurso”), foi afrontado o entendimento pacífico de todo o STJ, no sentido de que “os embargos infringentes não suspendem o prazo para a interposição do recurso especial”, havendo inúmeros precedentes de todos os integrantes de todas as Turmas do STJ, inclusive dela própria, que, no seu acórdão, diz: “Ainda que incabíveis, os embargos infringentes interpostos contra parte não unânime do acórdão, têm o condão de sobrestar o prazo para interposição de recurso especial contra a parte unânime. Interpretação sistemática dos artigos 498 e 530 do CPC, em atenção às peculiaridades do caso concreto”. As “peculiaridades do caso concreto” não foram explicadas, mas supõe-se que seja o fato de estar do outro lado da demanda o Banco do Brasil, e, também, o valor da indenização (que já ultrapassava mais de dois milhões de reais), levando a crer que alguns integrantes daquele Tribunal, antes de verem as questões processuais, buscam verificar quem está litigando. A ilustre ministra relatora do acórdão esqueceu-se de que, em casos idênticos, sempre votou no sentido de não conhecer do recurso em tal situação, como se pode ver dos acórdãos supracitados. Os ministros Castro Filho e Menezes Direito votaram em precedentes opostos. Aliás, escapou o voto vencedor do posicionamento pessoal da própria condutora , ministra Nancy Andrighi, que, antes do seu voto, já decidira monocraticamente em pelo menos três feitos de sua relatoria, no sentido de não conhecer de recurso especial quando não conhecidos embargos infringentes: MEDIDA CAUTELAR NO 7.477/MG, 21 de novembro de 2002: “............................................................................ Da análise perfunctória dos requisitos de admissibilidade do recurso especial, verifica-se que este é intempestivo, uma vez que o acórdão proferido em sede de embargos de declaração foi publicado em 07/05/2003, tendo expirado o prazo para a interposição de recurso especial em 22/05/2003. Contudo o recurso somente foi protocolado em 27/06/2003. Saliente-se que os embargos de infringentes não foram conhecidos por serem incabíveis, pois o acórdão que julgou a apelação, apesar de não unânime, não reformou a sentença de mérito. Assim, não houve suspensão do prazo para interposição do recurso especial iniciou-se em 20/12/2002 (data da publicação do acórdão proferido em sede de apelação, como anota a jurisprudência do STJ: Resp nº. 442.886/SC, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 31/03/2003, Conclui-se, pois, que, a princípio, o apelo extremo não apresenta condições de admissibilidade. Forte em tais razões, INDEFIRO o pedido liminar. Após, remeta-se o processo ao i. Min. Relator. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 21 de novembro de 2003. MINISTRA NANCY ANDRIGHI” AGRAVO DE INSTRUMENTO NO 567.068/SP, 2 de fevereiro de 2004: “............................................................................. Da análise dos requisitos de admissibilidade do recurso especial, verifica-se que o apelo não apresenta condições de admissibilidade, por ser intempestivo, dado que os embargos infringentes não foram conhecidos. Em conseqüência, o termo inicial para a contagem do prazo Resp nº. 227.611/PB, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 14/02/2000, AGA nº. 502.661/PE, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 02/06/2003, AGA nº. 365.697/CE, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 25/06/2001, AGA nº. 214.044/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, Segunda Turma, DJ 19/04/1999). Como o recurso especial foi interposto apenas em 11/07/2003, resta patente a sua intempestividade. Forte em tais razões, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 2 de fevereiro de 2004. MINISTRA NANCY ANDRIGHI – Relatora” AGRAVO DE INSTRUMENTO NO 543.971/RS, 26 de março de 2004: “Cuida-se do agravo de instrumento interposto por Loraci Ostroga contra decisão monocrática que negou seguimento ao recurso especial por ela interposto. Compulsando os autos, verifica-se a existência de óbice para o conhecimento do recurso especial. O acórdão recorrido foi proferido em 21.03.2002. Contra esse julgado foram interpostos embargos de declaração, que foram rejeitados por acórdão publicado em 17.04.2002. Em razão da não unanimidade de julgamento do acórdão recorrido, a agravante interpôs embargos infringentes. Contudo, não foram conhecidos por decisão unipessoal do il. Desembargador Relator relator, por não ser cabível na hipótese. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que a interposição de embargos infringentes tidos por incabíveis não interrompe o prazo recursal, cuja fluência se conta da data de publicação do acórdão proferido em sede de embargos de declaração. Nesse sentido, confiram-se o Recurso Especial 442.886, Rel. Min. Félix Fischer, DJ de 31.03.2003 e o Agravo no Agravo de Instrumento 502.661, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 13.05.2003, esse último assim ementado: “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES NÃO CONHECIDOS. TERMO A QUO PARA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ESPECIAL. INTEMPESTIVIDADE. PRECEDENTES.
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