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A Constituição de 1988 - historico

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Constituição de 1988 – contexto histórico
Antecedentes Históricos: 
A crise do petróleo de 1973 marca o início da agonia do regime militar no Brasil. 
O Governo de Ernesto Geisel, empossado em 1974, em face aos problemas enfrentados convocou Mario Henrique Simonsen para assumir o Ministério da Fazenda, anunciado o II Plano Nacional de Desenvolvimento, com o qual o governo buscava conciliar a retomada do crescimento econômico: o PIB, que crescia em média 9%, despencou para cerca de 4% acelerando a onda inflacionária e o desemprego.
O descrédito ao governo militar ante a incapacidade de solucionar os problemas da nação fortaleceu os setores de oposição política oficial que ganhavam maior força de atuação política, sobretudo os sindicatos de trabalhadores.
Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades, dando sinais de fracasso da proposta militar. O feito acabou incitando os setores mais radicais do regime a cometerem atos de extremo autoritarismo, ao mesmo tempo em que a sociedade organizada ganhou força para expor suas maiores reivindicações: a anistia aos presos políticos e a realização de uma nova Constituinte.
Projetando uma ampliação da representação política dos setores de oposição, e na tentativa de evitar o confronto, o Governo Geisel lançou, em 1977, o chamado pacote de abril, que promoveu uma desarticulação política sustentada pelas premissas estabelecidas pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5). O Congresso Nacional foi fechado, ao mesmo tempo, o sistema judiciário e a legislação foram alterados. As campanhas eleitorais foram restritas, o mandato presidencial passou para seis anos e as leis seriam aprovadas por maioria simples. 
O último governo militar:
Reafirmando seu projeto de reabertura política “lenta e gradual”, o general Geisel afastou os radicais do governo para abrir portas à eleição de João Batista Figueiredo (1979 - 1985), que viria a sancionar a Lei da Anistia e a lei do Pluripartidarismo (1979).
Diretas Já: Rumores das eleições diretas para presidente começaram a surgir. O deputado federal Dante de Oliveira (Mato Grosso) foi autor de uma emenda pró-diretas que, mais tarde, em 1984, não obteve vitória no Congresso Nacional. Este período (83/84) foi, no entanto, um momento de grande campanha nacional, o movimento conhecido como Diretas Já, protagonizado por personalidades como Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Simon, além de outros artistas e intelectuais engajados pela causa). Apesar de derrotada a emenda constitucional, o movimento pelas diretas ganha popularidade e acarreta em mobilização popular. 
Eleição de Tancredo Neves e posse de José Sarney
Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves (PMDB) vence Paulo Salim Maluf (PDS) nas eleições indiretas no Colégio Eleitoral e se torna o primeiro presidente civil depois da Ditadura. Tancredo Neves não chegou a tomar posse, vindo a falecer no dia 21 de abril de 1985. Com a morte de Tancredo, alguns grupos políticos pretendiam alçar ao poder o Deputado Ulisses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados. No entanto, uma manobra política sob a batuta do ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves garantiu a posse do vice eleito com Tancredo Neves, o político maranhense José Sarney, que, ao contrário de Tancredo, sempre estivera ao lado das forças ditatoriais retrógradas. 
A Constituinte de 1987:
Não obstante ao passado servil ao militarismo, a comoção social da perda do Presidente eleito, o Vice-Presidente José Sarney, procurou dar efetividade às promessas levantadas pelo partido (PMDB) durante a campanha, dentre estas avulta a da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. 
O Presidente da República, José Sarney, manda, então, ao Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional convocando a referida Assembléia  Constituinte. Aprovada como Emenda Constitucional n. 26 de 1985, na verdade, convocara os membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para se reunirem unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia primeiro de fevereiro de 1987. 
Instalada pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro José Carlos Moreira Alves, no dia primeiro de fevereiro de 1987, elegeu a Assembléia Constituinte, no dia posterior, o seu Presidente: o Deputado Federal Ulysses Guimarães, que fora o principal líder parlamentar de oposição ao regime militar. 
A proposta Constitucional da Comissão Afonso Arinos:
A exemplo da Constituição de 1946, que deu início aos seus trabalhos sem um projeto prévio, Assembléia Nacional Constituinte de 1987  também preferiu não partir de um projeto anteriormente elaborado, não obstante ter o Poder Executivo convocado uma Comissão Provisória de Estudos Constitucionais em julho de 1985, composta inicialmente de cinqüenta membros, incumbida de desenvolver estudos e pesquisas fundamentais "para futura colaboração nos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte", presidida pelo jurista mineiro Afonso Arinos. O texto elaborado por esta Comissão, a despeito de suas virtudes, não foi encaminhado ao Congresso Nacional pelo Presidente José Sarney, inconformado, dentre outras coisas, com a opção parlamentarista do anteprojeto.  
O processo Constitucional:
Optou o constituinte brasileiro pela formação de vinte e quatro subcomissões incumbidas de dar início à elaboração da futura Constituição. Terminados os trabalhos de tais subcomissões, a 25 de maio de 1987, passou-se para a fase subseqüente, realizada no bojo de oito comissões temáticas, cada uma delas elaborando um anteprojeto parcial, que seria encaminhado à Comissão de Sistematização. Em 25 de junho do mesmo ano, o relator desta Comissão, o Deputado Bernardo Cabral, apresentou um trabalho reunindo todos os anteprojetos  em uma só peça de 551 artigos, que acabou ganhando o apelido de "Frankenstein". Recebeu esse projeto 5.615 emendas, apresentando o relator Bernardo Cabral, diante disso, um substitutivo aprovado pela Comissão que recebeu o nome de "Cabral zero". A 26 de agosto, com base em 20.790 emendas de plenário e 122 populares, apresentou o relator um outro substitutivo, agora com 374 artigos, o "Cabral 1". No dia 15 de setembro, depois de examinar 14.320 emendas apresentadas ao denominado "Cabral 1", elaborou o relator outro substitutivo com 336 artigos: o  "Cabral 2 ".  
Já no dia 10 de novembro de 1987, o "Centrão", poderosa articulação conservadora, formada por um grupo interpartidário de parlamentares contrário aos critérios regimentais, apresentou em plenário um projeto de alteração do Regimento da Constituinte, que possibilitava a apresentação de novas emendas ao projeto da Comissão de Sistematização. Conseguiu, enfim, o "Centrão", com força de maioria no plenário, aprovar essa reforma do Regimento, que teve por objetivos dar maiores poderes a essa maioria e abreviar os trabalhos da Constituinte.
No dia 28 de janeiro de 1988, são aprovadas as primeiras matérias : o Preâmbulo e o Título I (dos Princípios Fundamentais – art. 1º ao 17). Já em 22 de março, em sessão histórica, com a surpreendente presença de todos os 559  membros da Assembléia Constituinte, foram aprovadas a manutenção do regime  presidencialista e a duração de cinco anos para o mandato do Presidente da República (modificado posteriormente pela Emenda Constitucional de Revisão n. 5, de 07-06-94, modificando o art. 82 da CF, reduziu o mandato do Presidente da República para quatro anos. A EC 16/97 permitiu a reeleição para os cargos do Executivo).
  
Em fins de julho de 1988 inicia-se, enfim, o segundo turno de votações, no final de julho de 1988. Terminados os trabalhos, finalmente, foi promulgada a nova Constituição da República Federativa do Brasil em data de 05 de outubro de 1988, às 16 horas, em solenidade realizada  no plenário da Câmarados Deputados e presidida pelo Deputado Ulysses Guimarães, Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, que, em seu  nome, fez a histórica declaração de promulgação. Cumpriu-se, na referida ocasião, o disposto no art. 1º. do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:
  
                "art. 1º. O Presidente da República, o Presidente do Supremo Tribunal Federal e os membros do Congresso Nacional prestarão o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, no ato e na data de sua promulgação."
  
  
Fundamentos e Princípios da Constituição de 1988
  
               O documento aprovado em 1988 ainda hoje recebe duras críticas. A uma pela extensão do texto, extremamente prolixo e analítico, a duas pelas instabilidades das disposições, alvo de mais de 60 emendas em pouco mais de 20 anos de vigência; a três pela a grande quantidade de matérias dependentes, para sua aplicabilidade, de legislação infraconstitucional ulterior.
Do conteúdo constitucional:
A mais dura critica que recebe a Carta de 1988 é o fato de ter o legislador originário incluído no texto constitucional matérias que sempre foram objeto de legislação ordinária (quer no direito civil , quer no penal, no do trabalho ou previdenciário). Numa amplitude inigualável em face dos textos anteriores, foram as matérias espalhadas por excessivos artigos, parágrafos, incisos e alíneas (só o art. 5º. tem 77  incisos, 24 alíneas e dois parágrafos), não percebendo o constituinte, na ânsia de tudo prever, que nem sempre a prolixidade ganha em clareza.  
Do alcance das disposições dirigentes:
  
Outra observação a respeito do texto é o acentuado caráter programático de vários dispositivos, formulando aspirações, enunciando intenções de cunho prospectivo sendo certo que a aplicabilidade e a efetivação dos comandos programáticos constituem, por vezes, intrincadas questões e pouca aplicabilidade.
Na Constituição de 1988, partilham desta natureza, por exemplo, o dispositivo que estabelece que o  Estado "apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais" (art. 215), o que consagra ter a ordem social  "como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais" (art. 193), ou o que consagra :  "O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente ..." (art. 227, § 1º.). 
Por outro lado, teve a Constituição de 1988, no entanto, algumas preocupações básicas, como por exemplo o combate à discriminação em todas as suas formas, seja no que diz respeito ao homem e à mulher (art. 5º., I, e art. 226, § 5º.), seja no tocante à raça (art. 3º., IV, e art. 5º., XLII), ou ainda em relação à filiação (art. 227, § 6º.);  
A democracia participativa                
Estabelece o texto constitucional uma tendência a uma democracia constantemente participativa, por intermédio de instrumentos como o plebiscito (art. 14, I; art. 18, §§ 3º. e 4º.), o referendo (art. 14, II) e a iniciativa popular (art. 14, III; art. 61, § 2º.). Adotou, ainda,  a Constituição de 1988 outras formas de democracia participativa, como por exemplo, as consagradas nos arts. 31, § 3º.(" As contas do Município ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei "); no art. 74, § 2º. ("Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União"); ou ainda no art. 194, parágrafo único, VII ("caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa da seguridade social, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados").
Fortalecimento da cidadania  
Significativo avanço da Constituição de 1988 reporta-se ao fortalecimento da cidadania, tanto individual como coletiva : art. 1º.,II  (cidadania como fundamento da República Federativa do Brasil); art. 5º., LXXIII  ("qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular..."); art. 5º. LXXVII  (estabelece a gratuidade, na forma da lei, dos atos necessários ao exercício da cidadania).
A Carta Política deu ainda especial relevo ao aspecto da propriedade privada e sua função social  (art. 5º. XXII e XXIII, e art. 170, II e III);  inseriu tratamento de novos temas, por exemplo: consumidor (art. 5º., XXXII, e art. 170, V), cooperativismo (art. 174, § 2º.), ciência e tecnologia (art. 218), criança e adolescente (art. 227), idoso (art. 230), índios (art. 231), etc.;  valorizou o federalismo cooperativo ao propor a descentralização política, revalorizando os Estados e,  principalmente, os Municípios, incrementando suas competências e receitas (arts. 18, 23, 30, 157, 158 e 159); e propiciou novos meios de se garantir a execução dos direitos fundamentais por intermédio como a ação de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º.) e o mandado de injunção (art. 5º. LXXI).  
Dos Princípios constitucionais fundamentais
Princípios ou fundamentos são aqueles que contêm as decisões políticas mais importantes do Estado, servindo de base à sua organização. Os princípios fundamentais de maior relevância no constitucionalismo brasileiro, instaurado com a vigência da Constituição de 1988, explicitadores das valorações políticas fundamentais do legislador constituinte, são: 
 
Princípio republicano (art. 1º., caput);  
Princípio federativo (art. 1º., caput; 60, § 4º, I);  
Princípio do Estado Democrático de Direito (art. 1º., caput) ;  
Princípio da separação de Poderes (art. 2º; 60, § 4º, III);  
Princípio presidencialista (art. 76);  
Princípio da livre iniciativa (art. 1º., IV, e art. 170, caput). 
a) Princípio republicano
O art. 1º. da Constituição de 1988 ao dispor "A República Federativa do Brasil...", não instaura, propriamente, a República, mas recebe-a da evolução constitucional desde 1889. O princípio republicano, concernente à forma de governo, significa a eletividade dos governantes, a periodicidade de seus mandatos e a responsabilidade no exercício do poder, ao contrário da forma monárquica de governo,  caracterizada pela  hereditariedade e vitaliciedade dos detentores do poder.  
A Constituição de 1988, embora consagre o princípio republicano não o elencou no rol daqueles que merecem proteção especial (art. 60, § 4º.), ao contrário, prevê no art. 2º. do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a realização de um plebiscito , por intermédio do qual o eleitorado definiria a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que deveriam vigorar no País. Entretanto, o princípio republicano foi protegido em relação aos Estados, que devem observá-lo, sob pena de intervenção federal (art. 34, VII, "a").  
b) Princípio federativo
Desde a Constituição de 1891 assumiu o Brasil a forma de Estado federal, inspirada no modelo norte-americano, ignorando-se o passado unitário e centralizador do País. A Constituição de 1988 consagra o princípio federativo em seu art. 1º. ("A República Federativa do Brasil..."), e o tutela com proteção especial – art. 60, § 4º, I. 
Caracteriza-se ainda o Estado Federal pela existência de, em geral, dois níveis de poder, de duas ordens jurídicas : a federal ou central, titularizada pela União, e a federada, representada pelos Estados-membros. No Estado brasileiro, fugindo à tradicional técnica federalista, existe ainda um terceiro nível de poder, representado pelos Municípios. Dispõe, a respeito, o caput do art. 18 da Constituição de 1988:
  
                "art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição."  
A autonomia (que se traduz nas capacidades de auto-organização, autogoverno e auto-administração) consiste num governo próprio que se exercedentro do círculo de competências traçado pela Constituição Federal. Outra característica marcante concernente ao federalismo é a repartição de competências entre os entes autônomos, que, no caso do Estado brasileiro, opera-se da seguinte forma: a Constituição enumera expressamente as competências da União e dos Municípios, tocando aos Estados a competência remanescente. No âmbito de cada entidade autônoma, estas competências subdividem-se em três categorias: político-administrativas, legislativas e tributárias. Neste ponto, a Constituição de 1988 inovou: enumera expressamente as competências da União (arts. 21 e 22) e dos Municípios (art. 30), cometendo aos Estados os poderes remanescentes (art. 25, § 1º.); mas, ao lado das competências político-administrativas exclusivas de cada entidade, bem como das competências legislativas privativas que se lhes outorgou, o novo texto também previu competências político-administrativas comuns  (art. 23) e competências legislativas concorrentes (art. 24). Já as competências tributárias encontram-se dispostas da seguinte forma: União (arts. 145, 148, 153 e 154, I), Estados   (arts. 145 e 155) e Municípios (arts. 145 e 156).  
c) Princípio do Estado Democrático de Direito
A Constituição de 1988, em seu art. 1º., ao afirmar que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito, não promete organizar tal Estado, pois aí a Constituição já o está fundando e proclamando. Caracteriza-se tal princípio por um regime de legalidade qualificada, onde se abrigam as idéias básicas de participação popular e justiça social. Baseia-se na soberania popular (que impõe a participação efetiva e operante do povo na coisa pública), no respeito e na garantia dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e organização política democráticas.  
A democracia no Estado Democrático de Direito há de se consubstanciar num processo de convivência social em uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º., II), onde todo o poder emane do povo, que o exerça diretamente ou por representantes eleitos (art. 1º., parágrafo único), buscando-se sempre a igualização das condições dos socialmente desiguais (art. 3º., III e IV, e art. 170, VII).  
d) Princípio da separação de Poderes
Estatui o art. 2º. da Constituição de 1988 que "são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,  o Executivo e o Judiciário".  Insculpida no constitucionalismo brasileiro desde a Carta Imperial de 1824, a doutrina da separação de poderes funda-se em dois elementos: a) especialização funcional, isto é, cada uma das funções estatais é atribuída a um órgão próprio. Com efeito, a função legislativa está ligada aos fenômenos de criação do direito (editar o direito positivo), ao passo que as outras duas, administrativa (aplicar a lei de ofício) e jurisdicional (aplicar a lei contenciosamente), associam-se à fase de sua realização. O exercício dessas funções é distribuído por órgãos próprios, que se denominam Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário; b) independência orgânica, significando que um Poder jamais se encontra numa posição de subordinação relativamente aos demais.  
Manteve o novo texto a tradicional cláusula "independentes e harmônicos entre si", própria da divisão de poderes no sistema presidencialista, já que no parlamentarismo fala-se em "colaboração de poderes". A idéia de harmonia entre os poderes expressa não só o respeito mútuo que se devem os órgãos e agentes de cada poder, como também uma certa integração e interdependência entre eles, que interagem e se controlam reciprocamente, constituindo o denominado sistema de freios e contrapesos .
Estabeleceu, porém, a  Constituição de 1988 algumas exceções ao princípio da separação de Poderes, por exemplo, a adoção de medidas provisórias, com força de lei, pelo Chefe do Poder Executivo (art.  62); ou a convocação dos Ministros de Estado perante o plenário das Casas do Congresso ou de suas Comissões para prestar informações (art. 50); ou ainda a autorização de delegação de atribuições legislativas ao Presidente da República (art. 68).  
Apesar das exceções estabelecidas pelo legislador constituinte ao princípio da separação de poderes, tal princípio foi elevado à categoria de "cláusula pétrea", insuscetível de modificação por via de emenda constitucional (art. 60, § 4º.).  
e)  Princípio presidencialista
A Constituição de 1988, com relação ao sistema de governo, estabelece que "o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado" (art. 76).
Sistema de governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, principalmente o Executivo e o Legislativo, dando origem a duas espécies principais de sistemas : o presidencialismo e o parlamentarismo. 
No sistema presidencialista, típico das Repúblicas, o Poder Executivo é exercido pelo Presidente em toda a sua inteireza, acumulando as funções de Chefe de Estado, Chefe de governo e Chefe da  Administração Pública (caracterizando o Executivo monocrático). Já no parlamentarismo a função de Chefe de Estado é exercida pelo Presidente ou Monarca e a de Chefe de Governo, pelo Primeiro Ministro que chefia o Gabinete (tem-se então o Executivo dual). Na verdade, no sistema parlamentarista verifica-se o deslocamento de uma parcela da atividade executiva para o Legislativo, fortalecendo-se a figura do Parlamento que, além da atribuição legislativa, passa a desempenhar também função executiva, ou seja, a separação de poderes é mais tênue, ao contrário do Presidencialismo, onde fica mais nítida a separação de funções.  
Começou a Constituinte de 1987 (88)  sob o signo da reação contra o Executivo centralizador, tendo as várias versões do projeto de Constituição notada tendência ao Parlamentarismo (comissão Afonso Arinos), com fortalecimento do Poder Legislativo. A propensão parlamentarista que dominou a Constituinte, no entanto, não vingou, disso resultando estranha situação: quando se decidiu pelo Presidencialismo, no final das votações do texto constitucional, já estavam fixados os limites de atuação dos poderes, com predomínio da orientação parlamentarista. Não obstante a revisão feita no texto, restou certo feitio parlamentarista em algumas de suas passagens, principalmente nas atribuições do Congresso Nacional, art. 49, X ("fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da Administração indireta").  
f) Princípio da Livre Iniciativa:   
É consagrado como princípio constitucional a livre iniciativa na busca de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 1º., IV, e art. 170, caput ). 
Logo no primeiro título da Constituição, que dispõe sobre os princípios fundamentais, encontra-se o princípio da livre iniciativa elencado como fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º., IV). Reproduz-se o mesmo princípio no caput do art. 170, que inaugura o título dedicado à ordem econômica e financeira. O princípio da livre iniciativa (que envolve a liberdade de indústria e comércio e a liberdade de contratar) tem relevante significação, pois expressa a opção do constituinte por um específico modelo econômico: o capitalista. 
Certamente é o princípio básico do liberalismo econômico, caracterizando-se, como o próprio nome indica, pela iniciativa privada na organização dos fatores de produção. No entanto, a liberdade de iniciativa é um dos desdobramentos da liberdade amplamente considerada, como um atributo inalienável do homem, desde que se o conceba inserido no todo social, e não exclusivamente em sua individualidade. Assim, o princípio da livre iniciativa não é tomado, enquanto fundamento da República Federativa do Brasil, como expressão individualista, mas sim no quanto expressa de socialmente valioso.  
Referencia Bibliográfica: 
            LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. Ed. Rio de Janeiro, 2009RIBEIRO, Fávila. A constituição e a realidade brasileira. Rio de Janeiro, Ed. Freitas Bastos, 1990.
  
                SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1990.
  
                TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1990.

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