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AULA 2 DIREITO PENAL V CRIME DE GENOCÍDIO

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DIREITO PENAL V 
 
GENOCÍDIO 
 
AULA 2 
 
 
Professor Eduardo Galante 
 BRASÍLIA 2015 
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CRIME DE GENOCÍDIO 
Leitura obrigatória: 
 
 LEI Nº 2.889/56; 
 
 Doutrina: livros de qualidade. Rogério S. Cunha por exemplo. 
 
 Jurisprudência: 
 
- Súmulas STF 
- Súmulas STJ 
 
- Informativos STF 
- Informativos STJ 
 
 
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GENOCÍDIO 
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 A Lei n° 2.889/56, que define e pune o crime de genocídio, tipifica 3 (três) 
condutas delituosas distintas, a saber: 
 
Art. Iº - Quem, com a intenção de destruir, no rodo ou em parte, grupo 
nacional, étnico, racial, ou religioso, como tal: 
 
a) matar membros do grupo; 
 
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do rupo; 
 
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de 
ocasionar-Ihe, a destruição física total ou parcial; 
 
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos n seio do grupo; 
 
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo. 
 
GENOCÍDIO 
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 Será punido: com as penas do art. 121, § 2°, do Código Penal, no caso da 
letra a; 
 
 com as penas do art. 129, § 2°, no caso da letra b; 
 
 com as penas do art. 270, no caso da letra c; 
 
 com as penas do art. 125 , no caso da letra d; 
 
 com as penas do art. 148, no caso da letra e. 
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"Art. 2°. Associarem-se mais de três pessoas para prática dos crimes 
mencionados no artigo anterior: 
 
Pena - metade da cominada aos crimes ali previstos". 
 
"Art. 3°. Incitar, direta e publicamente, alguém a cometer qualquer dos 
crimes de que trata o art. 1°: 
 
Pena - metade das penas ali cominadas. 
 
§ 1° A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se 
este se consumar; 
 
§ 2° A pena será aumentada de 1/3 (um terço) quando a incitação for 
cometida pela imprensa". 
GENOCÍDIO 
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 De acordo com o art. 1 °, parágrafo único, da Lei n° 8 .072/90, reputa-se 
hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 
2.889/56 , tentado ou consumado. 
 
 Ao se referir expressamente aos arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889/56, a Lei 
n° 8.072/90 rotula como hediondo não apenas o crime de genocídio 
propriamente dito, previsto no art. 1°, mas também os delitos de 
associação para fins de genocídio (Lei n° 2.889/56, art. 2°) e de incitação 
ao genocídio (Lei n° 2.889/56, art. 3°) . 
 
 A associação para a prática do genocídio é rotulada como crime 
hediondo pelo art. 1°, parágrafo único, da Lei n° 8.072/90 . 
GENOCÍDIO 
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 O crime de genocídio é considerado hediondo na sua forma tentada ou 
consumada, sendo a ele aplicáveis todas as consequências decorrentes da Lei 
nº 8.072/90. 
 
 A competência para processar e julgar o crime irá variar de acordo com a 
conduta do agente e, consequentemente, conforme o bem jurídico por ele 
diretamente ofendido. 
 
 Portanto, quando se tratar de crime doloso contra a vida, por exemplo, a 
competência será do Tribunal do Júri. 
 
 Nas demais hipóteses do art. 1º será competente o juízo monocrático estadual. 
 
 A regra é que a competência seja da justiça estadual, podendo ser deslocada 
para a justiça federal em duas hipóteses: quando houver violação aos direitos 
humanos e quando for praticado contar comunidade indígena. 
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 O art. 1º que trata do genocídio dispõe: “Quem, com a intenção de destruir, no 
todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: 
 
a)matar membros do grupo; 
 
B) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; 
 
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de 
ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; 
 
d) Adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; 
 
e) Efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; 
 
 Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra 
“a”; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra “b”; Com as penas do art. 
270, no caso da letra “c”; Com as penas do art. 125, no caso da letra “d”; Com as 
penas do art. 148, no caso da letra “e”.” 
 
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 É preciso lembrar que a quantidade de vítimas não importa, basta que o agente 
tenha a intenção de eliminação de indivíduos de mesma nacionalidade, etnia, 
raça ou religião. 
 
 Isso porque poderá o autor matar um a um do grupo, estando ainda assim 
caracterizado o genocídio. 
 
 O genocídio é um crime comum, ou seja, o sujeito ativo pode ser qualquer 
pessoa. Já o sujeito passivo é qualquer um vinculado a certo grupo étnico, racial 
ou religioso. 
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 A letra “b” do art. 1º da Lei nº 2.889/56 dispõe: “causar lesão grave à 
integridade física ou mental de membros do grupo.” 
 
 O termo lesão grave pode ser lesão gravíssima ou lesão grave propriamente 
dita. 
 
 Temos aqui o dolo como elemento subjetivo, não se podendo punir na forma 
culposa por ausência de previsão legal. 
 
 Ainda, o delito pode ser praticado por qualquer pessoa, portanto trata-se de 
um crime comum. 
 
 A letra “c” do mesmo artigo traz: “submeter intencionalmente o grupo a 
condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou 
parcial.” 
 
 O sujeito ativo é qualquer pessoa, por se tratar de um crime comum. 
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 O dolo é o elemento subjetivo, tendo como elemento específico destruir, no 
todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso. 
 
 A letra “d” dispõe: “adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no 
seio do grupo.” Pode ocorrer em dois momentos: o primeiro momento ocorre 
antes da concepção e o segundo durante a gravidez. 
 
 A letra “e” traz: “efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para 
outro grupo”. 
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 O art. 2º traz: “Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes 
mencionados no artigo anterior: Pena: Metade da cominada aos crimes ali 
previstos.” O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo é a 
humanidade. 
 
 O art. 3º dispõe: “Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos 
crimes de que trata o art. 1º: Pena: Metade das penas ali cominadas.” 
 
 Seu § 1º traz: “A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, 
se este se consumar.” Ainda, o § 2º traz: “A pena será aumentada de 1/3 (um 
terço), quando a incitação for cometida pela imprensa.” 
GENOCÍDIO 
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DISTINÇÃO ENTRE O CRIME DE GENOCÍDIO E O HOMICÍDIO PRATICADO EM 
ATIVIDADE TÍPICA DE GRUPO DE EXTERMÍNIO. 
 
 O homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio não se 
confunde com o crime de genocídio previsto na Lei n° 2 . 8 89/56, senão 
vejamos: 
 
a) no homicídio de grupo de extermínio, o objetivo do agente não é o de 
destruir o grupo, no todo ou em parte, mas sim o de eliminar apenas 
alguns de seus integrantes, daí por que o crime estará caracterizado ainda 
que uma única vítima seja morta. 
 
De seu turno, o crime de genocídio pressupõe o dolo específico de destruir, 
no todo ou em parte, determinado grupo. 
 
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b) desde que presente a impessoalidade da conduta delituosa, a atividade 
típica de grupo de extermínio pode visar pessoa integrante de qualquer espécie 
de grupo (v .g., social, racial, econômico, étnico, etc.). 
 
O crime de genocídio, por sua vez, tem como sujeito passivo apenas grupo 
nacional, étnico, racial ou religioso Lei n° 2.889/, art. 1°, caput); 
 
c) o crime de homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio é 
obrigatoriamente cometido mediante a morte de alguém (CP, art. 121, caput). 
 
Em sentido diverso, consoantedisposto na Lei n° 2.889/56, o delito de 
genocídio pode ser praticado não apenas através da morte de membros do 
grupo, como também por meio da causação de lesão grave à integridade física 
ou mental de seus integrantes. 
 
 
GENOCÍDIO 
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d) como o homicídio pratica o em atividade típica de grupo de extermínio é 
crime doloso contra a vida, a competência para processo e julgamento é do 
Tribunal do Júri. 
 
Apesar de ser possível que o crime de genocídio seja praticado mediante morte 
de membros do grupo (Lei n° 2.889/56, art. 1°, "a"), não se trata de crime 
doloso contra a vida, pois, na verdade, o bem jurídico tutelado pela referida lei 
te natureza supranacional - preservação da pessoa humana -, qualquer que seja 
o seu grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Por isso, o delito deve ser 
julgado por um juiz singular. 
 
GENOCÍDIO 
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 Todavia, caso esse delito de genocídio seja praticado mediante morte de 
membros do grupo, em circunstâncias semelhantes de tempo e de lugar, e com 
o mesmo modus operandi, o agente deve rá responder pelos diversos 
homicídios - em continuidade delitiva (CP, art. 71) -e pelo crime de genocídio, 
em concurso formal impróprio (CP, art. 70, 2a parte), não sendo possível a 
aplicação do princípio da consunção. 
 
 Nesse caso, a série de continuidade delitiva dos crimes dolosos contra vida será 
processada e julgada por um Tribunal do Júri, que exercerá força atrativa em 
relação o crime conexo de genocídio, tal qual dispõe o art. 78, inciso I, do 
Código de Processo Penal. 
 
 
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EXERCÍCIOS 
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01 - A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio foi o primeiro 
tratado internacional de direitos humanos aprovado no âmbito da ONU como consequência 
das atrocidades perpetradas ao longo da Segunda Guerra Mundial, particularmente, o 
genocídio, que resultou na morte de seis milhões de judeus. A Convenção afirma ser o 
genocídio um crime que viola o Direito Internacional que pode ser caracterizado por 
qualquer um dos atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um 
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como 
 
a) dano grave à integridade física de membros do grupo. 
 
b) medidas que impedem o nascimento no seio do grupo. 
 
c) assassinato de indivíduo que lidera grupo nacional. 
 
d) transferência forçada de crianças de um grupo para outro. 
EXERCÍCIOS 
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02 - Assinale a opção correta considerando a aplicação da lei que cuida do delito de genocídio e outros elementos 
contidos no objeto de direito penal. 
 
a) Para configurar crime de genocídio, impõe-se fim especial de agir do sujeito ativo, seja com o escopo de destruir, no 
todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, com assassinato de grupo específico de pessoas, seja com 
o de provocar dano grave à integridade física ou mental do grupo, sendo o delito inafiançável e imprescritível. 
 
b) Na lei que regulamenta a infração penal de genocídio, este não é considerado crime político para efeitos de 
extradição, e a tentativa, de forma diversa da prevista no CP, deve ser punida com dois terços da pena prevista para o 
crime. 
 
c) Há crime de genocídio caso o governador de estado da Federação ordene a retirada compulsória de tribo indígena de 
determinada região, de modo a evitar a demarcação do território e com o escopo de submeter intencionalmente o 
grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial. Nessa hipótese, a pena é 
agravada da metade por se tratar de delito praticado por governante. 
 
d) Ocorrendo a morte de uma única vítima integrante de certa etnia de silvícolas, causada de forma dolosa e praticada 
em atividade típica de grupo de extermínio, com a intenção de destruir o grupo, haverá crime hediondo de homicídio 
qualificado, infração penal dolosa contra a vida, mesmo que cometido por um só agente, porque, nessa situação, o que 
se tutela é a vida do indivíduo considerado em si mesmo. 
 
e) De acordo com o princípio da especialidade, haverá crime previsto na lei de manipulação genética caso o agente 
adote medidas com a finalidade específica de impedir nascimentos no seio de determinado grupo nacional, étnico, 
racial ou religioso. 
 
EXERCÍCIOS 
GABARITO: 
 
1 – A 
2 – B 
 
20 
 
21

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