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Curso: Ciências Contábeis Disciplina: Direito Administrativo Docente: Ítalo de Medeiros Brito. 2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA1 2.1 Noções de Estado O Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo. Esses três elementos são indissociáveis e indispensáveis para a noção de um Estado independente: o povo, em um dado território, organizado segundo sua livre e soberana vontade. O Estado é um ente personalizado (pessoa jurídica de direito público, nos termos dos arts. 40 e 41 do nosso Código Civil), apresentando-se tanto nas relações internacionais, no convívio com outros Estados soberanos, quanto internamente – como sujeito capaz de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem jurídica. A organização do Estado é matéria de cunho constitucional, especialmente no tocante á divisão política do seu território, à organização de seus Poderes, à forma de governo adotada e ao modo de aquisição do poder pelos governantes. Forma de Estado A Constituição Federal de 1988 adotou como forma de Estado o federado, integrado por diferentes centros de poder político. Assim, temos um poder político central (União), poderes políticos regionais (estados) e poderes políticos locais (municípios), além do Distrito Federal, que, em virtude da vedação constitucional á sua divisão em municípios, acumula os poderes regionais e locais (CF, art. 32, § 1.º). No Brasil, a forma federativa de Estado constitui a cláusula pétrea, insuscetível de abolição por meio de reforma constitucional (CF, art. 60, § 4.º, I). Não existe subordinação, isto é, não há hierarquia entre os diversos entes federados no Brasil. A relação entre eles é caracterizada pela coordenação, tendo, cada um, autonomia política, financeira e administrativa. Em decorrência dessa forma de organização, verificamos a existência de administrações públicas autônomas em cada uma das esferas da Federação. 1 Resumo do livro: ALEXANDRINO, Marcelo. Direito administrativo descomplicado. 20. ed. rev. e atual. São Paulo: MÉTODO, 2012. 2 Temos, portanto, uma administração pública federal, uma administração distrital, administrações estaduais e administrações municipais. Todas essas administrações públicas, em sua atuação, estão adstritas às regras e princípios orientadores do direito administrativo como um todo. Além da sujeição de todas as administrações às normas de direito administrativo constantes na Constituição Federal, existem determinadas matérias, especialmente as concorrentes e normas gerais, que devem ser disciplinadas por meio de leis de caráter nacional, editadas pelo Congresso Nacional, de observância obrigatória por parte de todas as esferas da Federação. É o caso, por exemplo, da Lei 8.666/1993, editada no uso da competência prevista no art. 22, XXVII, da Carta Política. Essa lei veicula normas gerais, de caráter nacional, sobre licitações e contratos administrativos – regulamentando o art. 37, XXI, do Texto Magno -, as quais devem ser observadas pela União, pelo Distrito Federal, pelos estados e pelos municípios. Poderes do Estado Integram a organização política do Estado os denominados “Poderes”, que representam uma divisão estrutural interna, visando ao mesmo tempo à especialização no exercício das funções estatais e a impedir a concentração de todo o poder do Estado nas mãos de uma única pessoa ou órgão. No clássico modelo de tripartição, concebido em 1748 por Charles de Montesquieu, esses Poderes do Estado são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Seguindo a tradicional doutrina, a Carta de 1988 estabelece, expressamente, que “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (CF, art. 2.º); veda, ademais, proposta de emenda constitucional tendente a abolir a separação dos Poderes (CF, art. 60, § 4.º, III), significa dizer, confere natureza de cláusula pétrea ao princípio da separação dos Poderes, ou princípio da divisão orgânica das funções do Estado. A função administrativa é predominantemente exercida pelo Poder Executivo, mas, como nossa Constituição não adota um modelo de rígida separação, os demais Poderes do Estado também exercem, além de suas atribuições típicas (legislativa e jurisdicional), algumas funções materialmente administrativas. O desempenho dessas funções administrativas, seja qual for o Poder que as esteja exercendo, deverá sempre observar as normas e princípios pertinentes ao direito administrativo. Por outras palavras, a administração pública brasileira não se restringe ao Poder Executivo; temos a administração pública em cada um dos entes federados, em todos os Poderes do Estado. Seja qual for o órgão que a exerça, a atividade administrativa está sempre sujeita às regras e princípios norteadores do direito administrativo. 3 2.2 Noções de governo No âmbito do direito administrativo, a expressão “governo” é usualmente empregada para designar o conjunto de órgãos constitucionais responsáveis pela função pública do Estado. O governo tem a incumbência de exercer a direção suprema e geral do Estado, determinar a forma de realização de seus objetivos, estabelecer as diretrizes que pautarão sua atuação, os planos governamentais, sempre visando a conferir unidade á soberania estatal. Essa função política, própria do governo, abrange atribuições que decorrem diretamente da Constituição e por esta se regulam. Como se constata, a noção de governo está relacionada com a função política de comando, de coordenação, de direção e de fixação de planos e diretrizes de atuação do Estado (as denominadas políticas públicas). Não se confunde com o conceito de administração pública em sentido estrito, que vem a ser o aparelhamento de que dispõe o Estado para a mera execução das políticas públicas, estabelecidas no exercício da atividade política. Sistemas de governo O modo como se dá a relação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo no exercício das funções governamentais representa outro aspecto importante da organização estatal. A depender das características desse relacionamento, da maior independência ou maior colaboração entre eles, teremos dois sistemas de governo: o sistema presidencialista e o sistema parlamentarista. No presidencialismo predomina o princípio da divisão dos Poderes, que devem ser independentes e harmônicos entre si. O Presidente da República exerce a chefia do Poder Executivo em toda a sua inteireza, acumulando as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo, e cumpre mandato fixo, não dependendo da confiança do Poder Legislativo para a sua investidura, tampouco para o exercício do cargo. Por sua vez, o Poder Legislativo não está sujeito à dissolução pelo Executivo, uma vez que seus membros são eleitos para um período certo de tempo. O parlamentarismo é o sistema de governo em que há, predominantemente, uma colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo. Nele, o Poder Executivo é dividido em duas frentes: uma chefia de Estado, exercida pelo Presidente da República ou pelo Monarca; uma chefia de governo, exercida pelo Primeiro Ministro ou pelo Conselho de Ministros. No Brasil, optou-se pelo sistema presidencialista de governo. O Presidente da República é o Chefe do Poder Executivo federal e exerce, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração pública federal, cabendo a ele sua organização e estruturação, nos termos dos arts. 61 e 84 da Constituição. Em 4 decorrência da forma federativa de Estado e do princípio da simetria das esferas políticas, os Chefes dos Poderes Executivos e das administrações públicas do Distrito Federal e dos estados serão, respectivamente, o Governador do Distrito Federal eos Governadores dos estados; pela mesma razão, os Chefes dos Poderes Executivos municipais, bem como das administrações públicas municipais, serão seus Prefeitos. Forma de governo O conceito de forma de governo está relacionado com a maneira como se dá a instituição e a transmissão do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. A república é a forma de governo caracterizada pela eletividade e pela temporalidade dos mandatos do Chefe do Poder Executivo, com o dever de prestação de contas (responsabilidade do governante). Diferentemente, a monarquia é caracterizada pela hereditariedade e vitaliciedade, com ausência de prestação de contas (irresponsabilidade do monarca). No Brasil, a forma de governo adotada é a republicana. 2.3 Administração pública Administração pública em sentido amplo e em sentido estrito Administração pública em sentido amplo abrange os órgãos de governo, que exercem função política, e também os órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa, Deve-se entender por função política, nesse contexto, o estabelecimento das diretrizes e programas de ação governamental, dos planos de atuação do governo, a fixação das denominadas políticas públicas. De outra parte, função meramente administrativa resume-se à execução das políticas públicas formuladas no exercício da referida atividade política. Administração pública em sentido estrito só inclui órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa, de execução dos programas do governo. Ficam excluídos os órgãos políticos e as funções políticas, de elaboração das políticas públicas. Administração pública em sentido formal, subjetivo ou orgânico Administração pública em sentido formal, subjetivo ou orgânico é o conjunto de órgãos, pessoas jurídicas e agentes que o nosso ordenamento jurídico identifica como 5 administração pública, não importa a atividade que exerçam (como regra, evidentemente, esses órgãos, entidades e agentes desempenham função administrativa). O Brasil adota o critério formal de administração pública. Portanto, somente é administração pública, juridicamente, aquilo que nosso direito assim considera, não importa a atividade que exerça. A administração pública, segundo nosso ordenamento jurídico, é integrada exclusivamente: (a) pelos órgãos integrantes da denominada administração direta (são os órgãos integrantes da estrutura de uma pessoa política que exercem função administrativa); e (b) pelas entidades da administração indireta. Somente são entidades da administração indireta estas, e nenhuma outra, não importa a atividade que exerçam: (a) autarquias; (b) fundações públicas; (c) empresas públicas; (d) sociedades de economia mista. Dessa forma, temos entidades formalmente integrantes da administração pública brasileira que não desempenham função administrativa, e sim atividade econômica, como ocorre com a maioria das empresas públicas e das sociedades de economia mista (CF, art.173). Por outro lado, há entidades privadas, não integrantes da administração pública formal, que exercem atividades identificadas como próprias da função administrativa, a exemplo das concessionárias de serviços públicos (que atuam por delegação) e das organizações sociais (que exercem atividades de utilidade pública, previstas em contrato de gestão celebrado com o Poder Público, mas que não são formalmente administração pública), não integram a administração pública brasileira, justamente porque no Brasil é adotado o critério formal. Administração pública em sentido material, objetivo ou funcional Administração pública em sentido material, objetivo ou funcional representa o conjunto de atividades que costumam ser consideradas próprias da função administrativa. O conceito adota como referência a atividade (o que é realizado), não obrigatoriamente quem a exerce. São usualmente apontadas como próprias da administração pública em sentido material as seguintes atividades: 6 1) serviço público (prestações concretas que representem, em si mesmas, diretamente, utilidades ou comodidades materiais para a população em geral, oferecidas pela administração pública formal ou por particulares delegatários, sob regime jurídico de direito público); 2) polícia administrativa (restrições ou condicionamentos impostos ao exercício de atividades privadas em benefício do interesse público; exemplo típicas são as atividades de fiscalização); 3) fomento (incentivo à iniciativa privada de utilidade pública, por exemplo, mediante a concessão de benefícios ou incentivos fiscais); 4) intervenção (abrangendo toda intervenção do Estado no setor privado, exceto a sua atuação direta como agente econômico; está incluída a intervenção na propriedade privada, a exemplo da desapropriação e do tombamento, e a intervenção no domínio econômico como agente normativo e regulador, por exemplo, mediante a atuação das agências reguladoras, a adoção de medidas de repressão e práticas tendentes á eliminação da concorrência, a formação de estoques reguladores etc.). Assim, sociedades de economia mista que exercem atividade econômica em sentido estrito, como o Banco do Brasil S/A, ou a Petrobras S/A, não são consideradas administração pública em sentido material. Por outro lado, as delegatárias de serviços públicos – pessoas privadas que prestam serviços públicos por delegação do Poder Público, como as concessionárias e permissionárias - são consideradas administração pública em sentido material.
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