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Combinar a Economia e o Direito- Combinar a Economia e o Direito - Nuno Garoupa

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Combinar a Economia e o Direito:
A Análise Económica do Direito
Nuno Garoupa∗
1 – INTRODUÇÃO
A Análise Económica do Direito, como disciplina do Direito, investiga a resposta 
a duas questões importantes: (a) uma questão positiva, qual o impacto das normas legais no 
comportamento dos agentes económicos em termos das suas decisões e bem-estar; (b) uma 
questão normativa, quais as vantagens relativas de determinadas normas legais em termos 
de bem-estar social. Para responder a estas questões, a Análise Económica do Direito aplica 
a metodologia da análise microeconómica. De forma sucinta, os agentes económicos 
tomam as suas decisões de forma racional, comparando benefícios e custos, dado o 
conjunto de informação disponível. O bem-estar da sociedade é medido pela agregação do 
bem-estar dos seus membros. 
Sendo hoje uma das disciplinas com mais influência no pensamento jurídico 
norte-americano, a Análise Económica do Direito tem as suas origens nos escritos de 
Bentham (1789), mas foi com os artigos de Coase (1960) e Becker (1968), e os livros de 
Calabresi (1970) e Posner (1972) que ganhou notoriedade. Até 1960, Law and Economics 
era sinónimo de análise económica do Direito da Concorrência, Anti-trust Law, havendo 
algum trabalho pioneiro e exploratório no domínio da regulação de mercados e intervenção 
do Estado, Regulation of Public Utilities. Esta área de investigação continua hoje muito 
popular e intimamente associada à Economia Industrial. No entanto, o termo Law and 
Economics, após os trabalhos de Coase, Calabresi e Posner, alicerçou o seu domínio nas 
áreas de contratos, propriedade, responsabilidade civil (torts), criminal, processual, família, 
e constitucional. Existe todo um outro domínio mais recente designado de Law and 
Finance que alargou a perspectiva económica às áreas comercial, mercados financeiros, e 
organização das sociedades comerciais.
 Professor Catedrático – University of Illinois College of Law. Email: ngaroupa@law.uiuc.edu
2 – FUNDAMENTOS
A Análise Económica do Direito tem por base o método de trabalho da moderna 
microeconomia. Os agentes económicos comparam os benefícios e os custos das diferentes 
alternativas antes de tomar uma decisão, seja ela de natureza estritamente económica, seja 
ela de natureza social ou cultural. Estes benefícios e custos são avaliados segundo as 
preferências dos agentes e o conjunto de informação disponível no momento da avaliação. 
Esta análise custo-beneficio é consequencialista porque tem em conta o quem vai acontecer 
(em termos probabilísticos) depois de tomada a decisão, e não as causas que levaram à 
necessidade de tomar uma decisão. Os agentes económicos preocupam-se com o futuro, e 
não com o passado (uma vez que este não pode ser modificado). 
Evidentemente que há limitações a este modelo. O modelo do agente racional 
interpreta tendências importantes do comportamento humano, mas não explica nem quer 
explicar desvios cognitivos ou psicológicos do agente marginal. Em alguns casos estes 
desvios psicológicos da tendência majoritária podem ser bastante importantes quer em 
termos da aplicação do Direito, quer na análise normativa. Por exemplo, a incapacidade que 
têm muitos grupos sociais de estimar ou mesmo entender a noção de risco pode ter um peso 
importante na forma de regular o mercado de seguros ou na imposição de determinadas 
regras de responsabilidade civil. Nos últimos anos surgiu a escola comportamental dentro 
da Análise Económica do Direito (Behavioral Law and Economics) que procura avaliar até 
que ponto certos desvios cognitivos podem ter importância na análise positiva e normativa.
A avaliação custo-beneficio faz-se num determinado contexto de preferências que 
se traduz num nível de bem-estar dos agentes. O bem-estar individual é medido pela 
utilidade que o agente retira da sua decisão bem como das decisões que poderia ter tomado 
e não tomou (os designados custos de oportunidade). O conceito económico de utilidade é 
bastante abrangente, reflectindo não só bens materiais ou de consumo, mas também o grau 
de altruísmo que um indivíduo tem para com terceiros e incluindo bens não materiais (ou 
não mercantis) como a alegria, o amor ou a desilusão. Não há uma medida exacta da 
utilidade individual, mas antes um conjunto axiomático que estabelece uma ordem ou 
hierarquização nas escolhas.
O bem-estar social mede-se pela agregação do bem-estar dos indivíduos. Também 
aqui não há uma medida única de agregação, sendo o utilitarismo puro (a soma simples e 
não ponderada da utilidade individual) apenas uma possibilidade, talvez a mais habitual e 
não menos isenta de polémica. Outra medida possível é aquela que se designa por 
rawlsiano e consiste na preponderância absoluta dos indivíduos com menor utilidade na 
função de bem-estar social. 
A escolha da medida de bem-estar social obedece essencialmente a dois critérios: 
eficiência e desigualdade de utilidades. Geralmente, mas não exclusivamente, não é 
possível obter mais eficiência sem aumentar a assimetria distributiva. O critério utilitarista 
prefere a eficiência à igualdade distributiva (em rigor, é neutro em relação à distribuição): a 
sociedade está melhor se em agregado tem um nível superior de utilidade. O critério 
rawlsiano prefere a igualdade distributiva: a sociedade está melhor se o grupo com menor 
utilidade está melhor. 
É importante notar que os critérios de bem-estar social são medidos em utilidade e 
não em rendimento. Falamos de desigualdade de utilidades e não de rendimento. Medir o 
bem-estar social por rendimento agregado ou distribuição de rendimento pressupõe outro 
tipo de hipóteses metodológicas que vão para além da análise de utilidades. 
3 – UM EXEMPLO: A RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil governa a forma de relacionamento dos agentes 
económicos, indivíduos e empresas, numa determinada sociedade. Consequentemente, as 
regras de responsabilidade civil afectam, de forma importante, as decisões e 
comportamentos dos indivíduos, e dessa forma o bem-estar social.
A área do Direito que trata a responsabilidade civil determina quem paga o quê 
quando um determinado acidente ou acontecimento que gera danos e perdas ocorre. Desde 
o ponto de vista económico, as variáveis importantes são a perda derivada do acidente e as 
partes envolvidas. A análise económica da responsabilidade civil visa três áreas 
primordiais: o desenho de incentivos adequados para precaver ou evitar acidentes, a 
utilização de seguros tendo em vista a compensação das vitimas, e a solução de conflitos 
resultantes desses acidentes.
Suponhamos que um determinado acidente ambiental pode provocar perdas no 
valor de três mil euros. Contudo, se determinada tecnologia for adoptada, essa perda pode 
ser reduzida para dois mil euros. O custo da tecnologia é de seiscentos euros. Por exemplo, 
com uma regra de responsabilidade objectiva, qualquer empresa prefere adoptar a nova 
tecnologia uma vez que reduz o seu custo de três mil para dois mil e seiscentos euros. 
Igualmente, qualquer regra de negligência ou dolo levaria a idêntica decisão. Contudo, se o 
sistema judicial não é eficaz e só existe uma probabilidade de 50% de uma empresa 
realmente pagar pelo acidente que vier a causar, a empresa prefere não adoptar a nova 
tecnologia (pois terá uma perda esperada de mil e quinhentos euros enquanto adoptando 
essa nova tecnologia teria uma perda esperada de mil e seiscentos euros). A eficácia das 
regras de responsabilidade depende, pois, do contexto institucionale legal em que são 
aplicadas.
Temos um resultado muito diferente se o custo da tecnologia for de mil e duzentos 
euros. Não é economicamente eficiente que a nova tecnologia seja adoptada uma vez que o 
beneficio gerado (uma redução em mil euros nas perdas provocadas por um acidente 
ambiental) não compensa o custo. O acidente ambiental deve provocar uma perda de três 
mil euros que a empresa causadora deve pagar. A prevenção de acidentes nem sempre é 
eficiente, apenas quando o benefício ex post facto supera o custo directo ex ante facto. 
Regressemos ao exemplo inicial e vejamos o que aconteceria se a empresa tivesse 
contratado um seguro que cobre as perdas contra terceiros. As perdas geradas pelo acidente 
seriam suportadas pela seguradora e apenas de forma indirecta pela empresa através do 
eventual agravamento do prémio de seguro. Tendo em conta os montantes envolvidos, o 
agravamento do prémio de seguro seria muito possivelmente inferior a seiscentos euros. 
Sendo assim, a empresa não adoptaria a nova tecnologia. O seguro tem a vantagem de 
garantir a indemnização das vitimas, mas dificulta a imposição de incentivos eficientes. 
Este resultado é conhecido na análise económica pelo problema do risco moral. Uma vez 
que o segurado passou o risco para a seguradora, ele tem agora menos incentivos a precaver 
e evitar a ocorrência de acidentes. Consequentemente, a existência deste tipo de seguro 
aumenta a probabilidade ex ante facto de haver um acidente, garantindo, porém, a 
indemnização ex post facto da vitima. O leitor poderá fazer uma aplicação imediata ao 
seguro automóvel.
Os custos sociais de um acidente não se limitam à perda directa, incluem também 
os custos de determinação da responsabilidade e da indemnização, seja essa determinação 
feita através do sistema judicial ou de mútuo acordo privado. Por cada euro que a vitima 
recebe, mais de um euro foi gasto em atribuir esse euro à vitima. Uma indemnização não é 
uma simples transferência de recursos de um indivíduo para outro. Desta forma, não é 
economicamente eficiente impor indemnizações excessivas que consumirão elevados 
recursos à sociedade em geral.
Numa perspectiva económica, uma regra de responsabilidade civil é eficiente se 
os benefícios sociais superam os custos de determinação dessa mesma responsabilidade e 
da indemnização. O beneficio social de impor uma determinada regra de responsabilidade 
não é a compensação das vitimas, uma vez que existem formas mais eficientes (e.g., seguro 
privado num contexto de uma economia de mercado eficientemente regulada) de 
indemnizar a vitima do que o sistema legal, mas evitar ou dissuadir comportamentos que 
possam causar acidentes. Desta forma uma regra de responsabilidade é eficiente se tem uma 
influência assinalável na diminuição da taxa de acidentes. 
A visão mais tradicional da responsabilidade civil tem como preocupação 
primordial a compensação das vitimas. Esta visão é oposta à perspectiva económica. Não 
só a compensação das vitimas pode ser assegurada por sistemas alternativos mais 
eficientes, como pode não ter o impacto necessário para assegurar uma redução 
significativa do número de acidentes. Dai que a analise económica defenda a separação 
formal entre a indemnização a receber e a indemnização a pagar (decoupling liability) por 
forma a que ambas as partes, causador e vitima, tenham um comportamento eficiente. A 
diferença entre a indemnização a pagar e a indemnização a receber pode ser justificada pela 
imposição de uma indemnização punitiva (punitive damages) ou de uma indemnização ao 
Estado (state awards). 
O segundo aspecto da visão tradicional é a importância atribuída à ideia de quem 
causa um acidente deve pagar o dano ou a perda que causou. Numa perspectiva económica, 
esta ideia implica um comportamento ineficiente por parte dos agentes económicos. Por um 
lado, temos que ter em conta a procura de seguro que reduz o custo verdadeiramente 
suportado pelo causador. Por outro lado, os custos de litígio na determinação da 
responsabilidade e da indemnização têm um papel importante no comportamento dos 
agentes, o que é ignorado na visão tradicional.
Finalmente, o nexo de causalidade é um elemento importante na determinação da 
responsabilidade civil. Na visão tradicional, importa determinar até que ponto o 
comportamento de uma agente é causa próxima do acidente, isto é, se o dano não teria 
ocorrido se tivesse sido outro o comportamento do causador. Na visão económica, o nexo 
de causalidade é visto como um cálculo de probabilidades que limita o conjunto de agentes 
que podem ser responsabilizados por determinado acidente (scope of liability). 
Mais importante que a causalidade próxima é a capacidade de evitar o acidente ao 
menor custo. O agente que tem a capacidade de evitar o acidente ao menor custo não é 
necessariamente aquele que satisfaz o teste da causalidade mais próxima. Por exemplo, no 
contexto da manufactura de brinquedos, a fábrica, e não o consumidor, é provavelmente o 
agente económico que pode evitar o acidente ao menor custo. 
4 – OUTRO EXEMPLO: CONTRATOS E A NOÇÃO DE INCUMPRIMENTO 
ÓPTIMO
O primeiro tema de contratos é a sua formalização (contract formation). A regra 
essencial é que um contrato é legalmente reconhecido se ambas as partes manifestam 
explicitamente o seu consentimento. Este princípio é desejável porque não só permite a 
realização de contratos, bem como impede comportamentos estratégicos que visem 
manipular consentimentos implícitos ou tácitos. A consequência mais importante deste 
princípio é que só há um contrato quando ambas partes acreditam que saem beneficiadas.
O facto de ambas partes acreditarem que saem beneficiadas não significa que 
realmente o sejam. Em primeiro lugar, o conjunto de informação disponível é usualmente 
assimétrico. De especial relevância é a obrigatoriedade ou não de as partes terem de revelar 
informação que diga directamente respeito ao objecto do contrato. Esta revelação nem 
sempre é eficiente. Por exemplo, defeitos de fabrico devem ser revelados porque podem 
evitar acidentes. Contudo, no contexto da industria petrolífera, a informação sobre a 
qualidade do subsolo de uma determinada propriedade que foi obtida a um custo elevado de 
prospecção nem sempre deve ser relevada. As companhias petrolíferas apenas comprariam 
propriedades já prosperadas, e no longo prazo teríamos um nível sub-óptimo de prospecção. 
Do ponto de vista económico, a revelação da informação deve obedecer a critérios de 
eficiência e não a uma necessidade premente de “dizer a verdade”.
O segundo aspecto importante diz respeito à evolução do conjunto de informação 
disponível. Essa evolução pode levar a que uma das partes conclua que não obterá um 
beneficio desse contrato e, portanto, pode preferir descumpri-lo. A noção de incumprimento 
óptimo resulta de em determinado momento pode ser melhor que uma parte descumpra e 
pague uma indemnização (damages for breach of contract) em vez de impor a 
obrigatoriedade do cumprimento (specific performance). 
Suponhamos que um supermercado encomenda um determinado produto a uma 
distribuidora. O custo unitário de produção é cem euros, o custo unitário de distribuição é 
de vinte euros, e o preço de venda unitário pode vir a ser entre duzentos e cinquenta euros 
(em expansão) ou dez euros (em recessão). O preço unitário esperado se existe uma 
distribuição simétrica das probabilidades é de cento e trinta euros. O supermercado poderia 
estar de acordo em fixar umpreço unitário de cento e vinte e cinco euros a pagar à 
distribuidora. 
Em caso de expansão, a distribuidora teria um lucro de cinco euros por unidade 
(125-100-20) e o supermercado teria um lucro de cento e vinte e cinco euros por unidade 
(250-125). O problema está no caso de haver uma recessão. A distribuidora mantém um 
lucro de cinco euros por unidade, mas o supermercado perde cento e quinze euros por 
unidade (10-125). Ora o supermercado estaria melhor assegurando um lucro de cinco euros 
à distribuidora sem a distribuição realmente ocorrer, isto é, pagando uma indemnização de 
cento e cinco euros por unidade. A distribuidora é indiferente (105-100=125-100-20), mas 
o supermercado está melhor (-105>10-125). 
Neste exemplo, o incumprimento contratual com uma regra de indemnização de 
expectativas (expectation damages) é mais eficiente (ambas as partes podem estar melhor) 
do que uma regra de cumprimento obrigatório. A orientação da análise económica é, pois, 
forçar o incumprimento quando seja mais eficiente através da especificação adequada de 
uma regra de indemnização. 
Contrariamente à visão tradicional, a indemnização contratual tem como objectivo 
assegurar o incumprimento óptimo e não compensar a parte lesada. Por outro lado, o 
incumprimento não é visto como algo negativo, mas, antes, como parte de um desenho 
institucional eficiente. Note-se, no nosso exemplo, que a possibilidade de incumprimento 
aumenta o beneficio esperado do contrato. A distribuidora tem assegurado um lucro de 
cinco euros por unidade, e o supermercado tem um ganho esperado de dez euros por 
unidade, e não de cinco euros por unidade como teria caso o incumprimento não seja 
possível.
5 – ÚLTIMO EXEMPLO: LITÍGIO
A litigiosidade é um aspecto do sistema legal sobejamente estudado e analisado 
pela perspectiva económica. Importa perceber porque os indivíduos estão dispostos a 
processar outros indivíduos quando o custo de oportunidade é significativo, avaliar as 
probabilidades objectiva e subjectiva de cada uma das partes prevalecer, e estimar as 
indemnizações ou compensações decorrentes do litígio.
Suponhamos que determinado indivíduo acha que foi difamado por outro. A 
respectiva indemnização compensatória é de mil euros. Os custos de um processo são 
duzentos euros para cada parte, difamador e difamado. Temos, pois, que o beneficio de 
litigar para o difamado é de oitocentos euros, enquanto o custo de litigar para o difamador é 
de mil e duzentos euros. Nestas condições, seria mais vantajoso para ambas as partes não 
litigar e chegar a um mútuo acordo privado, por exemplo, o difamador paga novecentos 
euros ao difamado.
Existem várias teorias para explicar o facto de uma pequena percentagem dos 
casos chegarem de facto a tribunal. No nosso exemplo assumimos que a probabilidade de o 
difamado prevalecer é um, mas vamos supor que essa probabilidade é de 80% do ponto de 
vista do difamado, mas apenas de 30% do ponto de vista do difamador. Agora, o beneficio 
esperado do difamado é de seiscentos euros enquanto o custo esperado do difamador é de 
quinhentos euros. Não há acordo possível uma vez que o difamado requer pelo menos 
seiscentos euros enquanto o difamador não está disposto a pagar mais de quinhentos euros. 
A inexistência de acordo deve-se ao facto de ambas as partes estarem bastante confiantes na 
sua vitória. É vantajoso, do ponto de vista social, que o sistema legal reduza excessos de 
confiança, uma vez que estes têm um impacto negativo na possibilidade de acordos 
privados.
Existe do ponto de vista económico um número óptimo de casos em tribunal. Este 
número depende dos custos marginais de um processo (custos das partes e os custos 
suportados pelo Estado) e dos benefícios marginais (dissuasão de acidentes ou delitos). O 
problema está em que a decisão de processar é eminentemente individual e não social. Ora, 
um indivíduo ignora geralmente todos os custos que não são suportados por ele, e não se 
preocupa com o benefício social que possa causar o seu processo, mas antes com a 
compensação que possa receber. Consequentemente, o número óptimo de casos em tribunal 
não será observado sem regular adequadamente o mercado. Numa situação de excessiva 
litigiosidade temos claramente um problema de má regulação com fixação de custos 
inferiores ao seu valor real para a capacidade do sistema. 
A análise económica do litígio tem também estudado como as regras processuais 
(discovery of evidence), a possibilidade de recurso, o funcionamento do tribunal, a 
organização do sistema judicial, bem como do mercado de advogados, afectam o número 
óptimo de processos.
6 – O DIREITO E A POLÍTICA SOCIAL
A perspectiva económica vê o Direito como uma instituição que deve promover a 
eficiência contribuindo dessa forma a melhorar o bem-estar social. Contudo, o Direito não 
deve ser usado para corrigir aspectos de distribuição ou desigualdade social. A razão é 
muito simples: existem outros mecanismos, como a política fiscal ou orçamental, que 
podem corrigir esses aspectos com um menor custo social.
Podemos fazer uma aplicação directa desta análise ao problema das custas 
judiciais. É absolutamente contraproducente que o acesso ao sistema de justiça se faça com 
preços baixos uma vez que dessa forma o Estado subsidia a procura de serviços de justiça e 
cria uma fila de espera (com o consequente backlog de processos bem conhecido em 
Portugal). A política eficiente é fixar o preço de acesso ao nível do custo marginal (isto é, o 
custo que um processo mais vai criar ao sistema de justiça). Se esse preço é considerado 
demasiado elevado do ponto de vista social, então o Estado deve utilizar uma política de 
redistribuição ao nível fiscal (imposto sobre rendimento) a favor do grupo prejudicado, ou 
estudar a expansão da capacidade do sistema. Existe ainda a possibilidade de desenhar 
políticas com vista a diminuir a procura de serviços de justiça através da redução dos 
conflitos ou contenciosos (e.g., alternative dispute resolutions, melhor regulação do 
mercado de advogados).
7 – A ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO NO MUNDO DE DIREITO 
CODIFICADO
Não passará despercebido a um observador cuidadoso e interessado que a Análise 
Económica do Direito tem tido uma recepção céptica senão mesmo difícil e hostil fora dos 
Estados Unidos. Uma das justificações mais popularizadas para este difícil processo de 
expansão da Análise Económica do Direito é a dicotomia entre os países de common law e 
civil law (direito costumeiro vs. direito codificado). Essencialmente, o argumento diz que a 
Análise Económica do Direito é mais adequada para um sistema de direito costumeiro 
como o norte-americano, e menos útil num sistema de direito codificado como o português 
ou o brasileiro. A tese baseia-se nas necessidades jurídicas de um poder judiciário mais 
realista e menos formalista, bem como naquilo que alguns autores caracterizam como um 
certo grau de under-theorizing do direito costumeiro (isto é, a ausência de uma teoria geral 
do direito nos países anglo-saxónicos). 
Contudo, a judicialização crescente das políticas públicas e da vida económica e 
social em muitos países (Portugal e Brasil são apenas exemplos neste contexto) colocou o 
poder judiciário numa situação qualitativamente diferente. A minha tese é de que a Análise 
Económica do Direito será um instrumento de análise jurídica útil e importante para o 
poder judiciário quando confrontado com essa crescente judicialização. Neste contexto,parece-me míope insistir que, num sistema de direito codificado, a Análise Económica do 
Direito deve limitar-se a uma metodologia legislativa e, até que o legislador a introduza de 
forma explicita na lei, não compete ao poder judiciário utilizá-la. Num mundo de políticas 
públicas judicializadas (independentemente do valor normativo que possa ter esse 
judicialização), ignorar o papel económico e social do poder judiciário é irrealista e 
corresponde a uma negação da realidade que temos.
As considerações jurídicas puramente formalistas e dogmáticas sobre o papel do 
poder judiciário num sistema de direito codificado devem ser temperadas com uma certa 
dose de pragmatismo. Na verdade, não devemos maximizar, mas também não devemos 
minimizar a capacidade do poder judiciário de criar direito, influenciar o direito e as 
políticas públicas, isto é, ter um impacto significativo na vida económica e social. A ilusão 
dogmática das fontes do direito e a retórica tradicional sobre a interpretação da lei e a 
integração de lacunas escondem a realidade da influência das decisões do poder judiciário 
no mundo e na sociedade em que vivemos. Sabemos que o conteúdo de muitas dessas 
decisões, processuais e substantivas, é social e economicamente importante e requer uma 
reflexão sobre o seu impacto e as suas consequências.
Uma análise consequencialista é tanto mais importante quando num mundo 
globalizado e dinâmico a judicialização da vida pública opera não só directamente através 
da integração de lacunas no direito substantivo, mas também indirectamente com o uso dos 
confusos mecanismos processuais que permitem ao magistrado ganhar capacidade de 
influenciar o direito substantivo. Acresce a tudo isto a séria confusão legislativa em que os 
nossos países (Portugal e Brasil) se encontram devido a um legislador esquizofrénico que 
tudo quer legislar contra o tempo numa luta titânica que está destinado a perder.
Goste-se ou não, a interpretação da lei e do direito é hoje feita num contexto 
económico e social de uma economia de mercado. Uma reflexão consequencialista é, pois, 
uma metodologia útil e importante para ultrapassar análises míopes. O exemplo típico é a 
correcção de uma injustiça social pontual (digamos a protecção da parte mais fraca num 
litígio contratual) que aumenta a iniquidade social e económica no longo prazo. Não se 
trata de dizer que existe uma divergência entre objectivos de eficiência e justiça social, mas 
sim de verificar que um objectivo de justiça social pontual ou casuística sacrifica a 
equidade e a igualdade social de longo prazo. Pode, pois, um magistrado, ao pretender 
corrigir uma percepção de injustiça social no caso em julgamento, criar ainda mais injustiça 
social.
A insistência no formalismo e na dogmática jurídica, numa perspectiva 
teleológica, e a recusa de uma análise consequencialista configuram, na minha perspectiva, 
um atentado potencial à independência do poder judiciário. O formalismo purista gera 
necessariamente um fosso entre a judicatura e o social, uma incompreensão profunda pela 
sociedade sobre as decisões do poder judiciário. Independentemente dos aspectos 
normativos, a judicialização da vida pública é uma realidade que não se coaduna com 
metodologias jurídicas que ignoram essa mesma realidade. A negação da realidade conduz 
a um processo de deslegitimação democrática do poder judiciário que termina, 
frequentemente, em intervenções redutoras pelo poder político que consubstanciam assaltos 
à independência do poder judiciário.
Tenho a convicção de que a Análise Económica do Direito pode ser um 
instrumento importante no reforço da independência de um poder judiciário responsável e 
responsabilizado. A Análise Económica do Direito é uma metodologia instrumental, não 
substitui a legislação e a lei, mas pode e deve ajudar o poder judiciário a encontrar-se num 
mundo com maior judicialização da vida pública e onde a insuficiência do legislador é e 
será cada vez mais frequente.
8 – CONCLUSÃO
Já aqui foi dito que a perspectiva económica vê o Direito como uma instituição 
que deve promover a eficiência, contribuindo, dessa forma, a melhorar o bem-estar social. 
No longo prazo podemos mesmo dizer que o Direito tende a ser eficiente. Esta teoria é 
bastante polémica dada a diversidade de sistemas jurídicos que existem no mundo. 
Evidentemente que não há apenas um sistema eficiente, isto é, pode haver muitas soluções 
eficientes para o mesmo problema, pelo que sistemas muito diversos podem ser igualmente 
eficientes. Contudo, existem na realidade muitas normas jurídicas e aspectos institucionais 
que não tem um conteúdo facilmente explicável pela perspectiva económica. E existem 
muitos aspectos do ordenamento jurídico que são claramente ineficientes. Até que ponto a 
evolução histórica do Direito corresponde realmente a um processo de melhoria do bem-
estar social (será o Direito causa ou consequência das melhorias sociais?) é uma questão 
empírica para a qual ainda não há uma resposta. 
9 – BIBLIOGRAFIA
BECKER, Gary. Crime and Punishment: An Economic Approach. Journal of Political 
Economy 76 (1968), pp. 169-217.
BENTHAM, Jeremy. An Introduction to the Principles of Morals and Legislation, 1789. 
Reempresso em The Utilitarians. New York / Garden City: Anchor Books, 1973.
CALABRESI, Guido. The Costs of Accidents. New Haven: Yale University Press, 1970.
COASE, Ronald. The Problem of Social Cost. Journal of Law and Economics, 3 (1960), 
pp. 1-44.
POSNER, Richard. Economic Analysis of Law. Boston: Little Brown, 1972.

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