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Da Periclitação da Vida e da Saúde

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DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Prof. Luiz Geraldo Gomes dos Santos
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
1 – Considerações Iniciais:
		Neste capítulo estudaremos os artigos 130 a 136 do Código Penal, sendo que os mesmos, podem ser enquadrados como crimes de perigo, o que está relacionado com o grau de intensidade do resultado almejado pelo agente em decorrência de sua conduta.
		Observe-se que nos crimes até agora estudados, vimos que eram todos crimes de dano, onde há a necessidade da efetiva lesão ao bem jurídico para que ocorra o crime, enquanto que aqui teremos os crimes de perigo, que são aqueles que se consumam com a simples exposição do bem jurídico penalmente tutelado à uma situação de perigo, bastando para tanto, a probabilidade de dano. 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
1.1 – Classificação dos Crimes de Perigo:
Crimes de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: são os que se consumam automaticamente, bastando a simples prática da conduta, não se exigindo a comprovação da situação de perigo, havendo em relação aos mesmos, presunção absoluta (iuris et de iure) de que houve a exposição a perigo do bem jurídico, a exemplo do tráfico de drogas (art. 33, caput, da Lei 11.343/2006)
Crimes de Perigo Concreto: são os que se consumam com a efetiva comprovação, no caso concreto, da situação de perigo, a exemplo do crime de perigo de vida previsto no artigo 132 do CP.
Crimes de Perigo Individual: aqui se incluem todos aqueles que atingem uma pessoa determinada, ou então número determinado de pessoas, a exemplo do crime de perigo de contágio venéreo e os demais crimes constantes neste capítulo.
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d) Crimes de Perigo Comum ou Coletivo: são os que atingem número indeterminado de pessoas, a exemplo do crime de inundação previsto no artigo 254 do Código Penal. Incluem-se aqui todos os crimes previstos nos artigos 250 a 259 do CP.
e) Crimes de Perigo Atual: são aqueles em que o perigo está ocorrendo, a exemplo do crime de abandono de incapaz, previsto no artigo 133 do CP.
f) Crimes de Perigo Iminente: são aqueles em que o perigo está na iminência de ocorrer.
g) Crimes de Perigo Futuro ou Mediato: aqui incluem-se todos os crimes em que a situação de perigo decorrente da ação humana delitiva se projeta para o futuro, como no porte de ilegal de arma de fogo de uso permitido. (art. 14 da Lei 10.826/2003)
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2 – Do Perigo de Contágio Venéreo
		Previsto no artigo 130 do Código Penal e consistente no ato de expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado.
2.1 – Da Classificação Jurídica
		Crime próprio e de mão própria, simples, de perigo presumido ou abstrato (caput) ou de perigo com dolo de dano (§1º), comissivo, de forma vinculada, formal, unilateral (regra), plurissubsistente, instantâneo.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
2.2 – Considerações Gerais
		Referido crime é incompatível com a forma omissiva, pois o verbo núcleo é o expor por meio de relações sexuais, ou seja, deve haver obrigatoriamente a conduta comissiva. 
		Há que assinalar ainda que há entendimento de que a expressão “deve saber” refere-se a culpa, posição que não é pacífica na doutrina e jurisprudência, visto que outros sustentam se tratar de dolo eventual, tudo conforme adiante se demonstrará.
		Para haver a consumação, não há exigência de contágio da vítima, mas apenas e efetiva exposição ao perigo (havendo contágio teremos o exaurimento do delito).
		Da mesma forma, o crime em questão traz em sua forma qualificada (§1º), um crime de perigo com dolo de dano. 
		A AIDS não é moléstia venérea e não será enquadrada neste tipo penal, visto que configura homicídio tentado ou consumado, situação que não é pacífica na doutrina e na jurisprudência.
		A ação penal é pública condicionada a representação.
		No caput, o crime é de pequeno potencial ofensivo e no §1º, é de médio potencial ofensivo, cabendo, no entanto, a aplicação da Lei 9.099/95.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
2.3 – Da Objetividade Jurídica
		O bem jurídico protegido é a incolumidade física da pessoa, sob os aspectos de sua vida e sua saúde.
2.4 – Do Objeto Material
		O objeto material recai sobre o sujeito passivo, que é a pessoa que pratica relação sexual ou qualquer ato libidinoso com o sujeito ativo portador da doença venérea.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
2.5 – Do Verbo Núcleo do Tipo
		Observe-se que o verbo núcleo do tipo penal é o expor, que nada mais significa que colocar alguém em determinada situação de perigo, que nesse caso consiste na probabilidade de contágio, o que vai se dar mediante a prática de relação sexual ou outro ato libidinoso capaz de causar o contágio com a moléstia sexualmente transmissível, sendo que, por este exato motivo é incompatível com a omissão.
		Há que assinalar que no tipo penal em questão é indispensável o contato físico entre os envolvidos, sem o qual não há como caracterizar referida prática delitiva, podendo haver atipicidade relativa e existir outro crime, como os previstos nos artigos 131 e 132 do CP.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
Relação Sexual: aqui é sinônimo de coito, podendo ser praticado entre pessoas de sexo diferente, o que pode se dar pela conjunção carnal (cópula vagínica), sexo oral e sexo anal, havendo posicionamento de que estes últimos caracterizariam na realidade o ato libidinoso.
Ato Libidinoso: refere-se a qualquer prática relacionada com a satisfação do desejo sexual, a exemplo de toques nos seios, partes íntimas, beijos lascivos, etc. Observe-se que o conceito de ato libidinoso é amplo e abrangente, não se limitando apenas a relação sexual.
Moléstia Venérea: é toda doença que pode ser transmitida pelo contato sexual, a exemplo da sífilis, da gonorreia, do cancro, da crista de galo, etc., havendo que assinalar que muitas delas estão definidas no Decreto-lei nº 16.300 de 31 de dezembro de 1923.
Obs. O uso de preservativo ou de qualquer outro meio apto a impedir o contágio, é considerado como causa de exclusão da tipicidade, visto que, não haveria exposição a situação de perigo, havendo que assinalar que mesmo com o preservativo, caso o agente mantenha outra espécie de contato capaz de contaminar a vítima, a exemplo de beijos, haverá a existência do crime em questão.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
2.6 – Dos Sujeitos Ativo e Passivo.
		Estamos diante de um crime próprio ou especial, visto que há necessidade de que o sujeito ativo esteja infectado pela moléstia venérea. É também crime de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois a autoria não pode ser delegada a qualquer outra pessoa, motivo pelo qual é incompatível com a coautoria, admitindo a participação.
		Cumpre observar ainda que pode haver o erro de tipo escusável, quando não haverá que se falar em crime, pois com a exclusão do dolo teremos a exclusão do fato típico, por não haver crime culposo.
		Em relação ao sujeito passivo, é qualquer pessoa, desde que esteja suscetível à contaminação, pois caso contrário não haverá que se falar em crime, pois estaremos diante de crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto material, nos termos do artigo 17 do Código Penal.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
2.7 – Do Elemento Subjetivo
		Na modalidade simples, que refere-se ao caput do artigo, é o dolo de perigo, o qual pode ser direto ou eventual. Direto quando o agente sabe estar contaminado e, eventual quando deve saber que está. 
		Entretanto, há posições doutrinárias que sustentam que a expressão “deve saber” refere-se a culpa e não a dolo eventual, o que não é compatível com a melhor técnica jurídica.		
		Na figura qualificada (§1º), temos um crime
de perigo com dolo de dano, pois o agente tem a intenção de transmitir a doença venérea, sendo que o crime somente é de perigo em virtude de ser dispensável o contágio. Há que assinalar ainda que o crime é formal, pois basta a prática da ação para que haja a sua consumação, motivo pelo qual também é denominado de crime formal com dolo de dano.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
2.8 – Da Consumação e da Tentativa
		Na modalidade prevista no caput o crime se consuma com a realização da relação sexual ou do ato libidinoso, sendo desnecessário que haja o contágio da vítima, visto que, crime de perigo.
		Caso ocorra o contágio, ainda assim teremos o enquadramento no caput do artigo 130, visto que, inexistente a intenção de transmitir a doença sexualmente transmissível.
		Na figura qualificada prevista no §1º, o crime também se consuma com a prática do ato sexual ou libidinoso, sendo que, no entanto, caso a vítima seja contaminada pela moléstia venérea, quatro situações podem ocorrer, todas elas se referindo a consequências jurídicas distintas:
 Obs. A tentativa é admissível em qualquer de suas formas.
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Do Perigo de Contágio Venéreo
1ª) se resultar lesão corporal leve, o sujeito responderá apenas pelo tipo penal do artigo 130, visto que a pena em abstrato é superior a prevista no artigo 129 caput, do Código Penal;
2ª) se resultar lesão corporal grave ou gravíssima, porque o sujeito buscava abalar a saúde da vítima, respondera o agente pela prática do crime tipificado pelo artigo 129, §1º ou § 2º do Código Penal, o qual absorverá o tipo penal do artigo 130 do CP;
3ª) se resultar lesão corporal seguida de morte, em situação preterdolosa, ou seja, queria e conseguiu transmitir a doença sexualmente transmissível, mas culposamente ocorre a morte da vítima, responderá pelo crime de lesões corporais seguida de morte, nos termos do art. 129, §3º do Código Penal;
4ª) se resultar a morte da vítima (com dolo direto ou eventual), pois o agente queria e conseguiu transmitir a moléstia venérea, tendo desejado ainda (ou ao menos assumido o risco) matar a vítima, seja em razão de sua saúde precária, seja em razão da natureza da saúde, responderá o autor pelo crime de homicídio simples ou qualificado.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3 – Considerações Iniciais
		Aqui temos o contágio de moléstia grave e não doença venérea, caso em que, teremos a aplicação do artigo 130 do Código Penal.
		No entanto, isso não quer dizer que não possamos ter o tipo penal em questão, previsto no artigo 131 do Código Penal, mesmo que a transmissão se dê por relação sexual.
		A diferença está no tipo de doença que foi transmitida. Se for venérea, teremos o tipo penal do artigo 130, se for moléstia grave, mas sem ser venérea, poderemos ter o tipo penal previsto no artigo 131 do Código Penal.
 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.1 - Da Objetividade Jurídica e do Objeto Material
		
		Como objeto jurídico temos a vida e a saúde do ser humano, sendo que o objeto material é exatamente a pessoa que tem a sua vida e saúde exposta ao perigo de contágio de moléstia grave.
3.2 – Do Núcleo do Tipo
		O núcleo do crime é o “praticar” que significa o realizar qualquer ato capaz de produzir o contágio de moléstia grave, sendo crime de forma livre, quer seja o meio direto ou indireto.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.3 – Dos Sujeito Ativo e Passivo
		Por se tratar de crime próprio, pois reclama uma situação fática diferenciada por parte do sujeito ativo, somente se pode admitir como sujeito ativo, aquela pessoa que esteja contaminada pela moléstia grave, à exceção do crime comissivo por omissão, quando o agente que não está contaminado, mas que tendo o dever jurídico de agir, deixa de agir.
		Já em relação ao sujeito passivo, é qualquer pessoa, desde que tenha a possibilidade de ser contaminada pela doença, pois caso contrário estaremos diante do crime impossível, previsto no artigo 17 do CP.
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Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.4 – Do Elemento Subjetivo
		É o dolo direto de expor a vítima ao perigo de contágio de moléstia grave, havendo a necessidade ainda de que haja um especial fim de agir, que se constitui no fim de transmitir a doença.
		Observe-se, portanto, que não basta praticar o ato capaz de produzir o contágio, sendo necessário que esteja presente a intenção de transmitir a moléstia grave, excluindo-se, portanto, o dolo eventual.
		Se houver a transmissão culposa, podemos ter a responsabilização pelo crime de lesão corporal culposa.
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Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.5 – Da Consumação e da Tentativa
	É crime formal, consumando-se no momento da prática do ato capaz de produzir o contágio, independentemente da efetiva transmissão.
	Cumpre observar ainda, que estamos diante de um crime de perigo, formal e com dolo de dano, bastando a exposição ao perigo para configurar o crime.
	Se houver a transmissão da moléstia grave, podemos ter quatro consequências jurídicas diferentes:
Obs. Em relação a tentativa somente será possível se a prática delitiva for plurissubsistente e puder ser fracionada. Sendo unissubsistente, não há que se falar em tentativa.
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Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
se resultar em lesão corporal leve, será o crime previsto no artigo 129, caput, do CP, absorvido pelo crime previsto no artigo 131 do CP, pois estaremos diante de mero exaurimento e, além disso, a pena do crime de dano é inferior a pena do crime de perigo;
se resultar em lesão corporal grave ou gravíssima, o agente responde apenas pelas lesões corporais, conforme o caso, pois o crime de dano é mais grave que o crime de perigo;
se resultar em situação preterdolosa que cause a morte da vítima, teremos o crime de lesão corporal seguida de morte;
se resultar em morte dolosa da vítima, estaremos diante de crime de homicídio doloso, sendo possível aqui a existência de tentativa.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.6 – Do Concurso de Crimes
	Em havendo, em decorrência, da contaminação pela moléstia grave, epidemia, haverá concurso formal entre os crimes previstos nos artigos 131 e 267 do CP.
3.7 – Da Ação Penal
	A ação penal é pública incondicionada, sendo admissível a aplicação da Lei 9.099/95.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.8 – Da Classificação Doutrinária
		O crime em questão é formal, de forma livre, próprio, comissivo e excepcionalmente comissivo por omissão, unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual, instantâneo, unissubsistente ou plurissubsistente e de dano.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo de Contágio de Moléstia Grave
3.9 – Considerações Finais.
Meio Direto: é o que decorre do contato direto, como um beijo lascivo, um aperto de mão, prática sexual, etc.;
Meio Indireto: é o referente a objetos em geral, a exemplo de emprestar uma roupa, uma joia, copos, talheres, etc.
Moléstia Grave: é qualquer enfermidade que acarreta séria perturbação da saúde, sendo irrelevante que seja incurável ou não, desde que seja contagiosa.
Crime Comissivo, ou comissivo por omissão (omissivo impróprio): a exemplo do pai que permite que o filho seja vítima deste crime.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
4 – Da Objetividade Jurídica e do Objeto Material
	A objetividade jurídica é a vida e a saúde da pessoa humana, enquanto que o objeto material é a pessoa que tem a sua vida ou saúde exposta a perigo direto e iminente.
4.1 – Do Núcleo do Tipo
	É o expor que nada mais significa que colocar, submeter alguém a uma situação em que haja potencial perigo de dano a sua vida ou a sua saúde.
	Assim sendo, é crime de ação livre, podendo
ser praticado de qualquer forma, sendo admissível que seja praticado nas formas comissiva e omissiva, a exemplo do empresário que deixa de fornecer a seus trabalhadores os equipamentos de proteção individual a que fazem jus.
	É ainda crime de perigo concreto devendo haver efetivamente o risco a sua vida ou saúde, bem como, que seja um perigo direto e iminente.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
4.2 – Dos Sujeitos Ativo e Passivo.
	O sujeito ativo é qualquer pessoa, enquanto que o sujeito passivo é qualquer pessoa também, desde que seja certa e determinada, visto que, se for indeterminada e disser respeito a um número indeterminado de pessoas teremos a existência de crime de perigo comum, previsto nos artigos 250 a 259 do Código Penal (numero indeterminado de pessoas).
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
4.3 – Do Elemento Subjetivo
		
	É o dolo de perigo, direto ou eventual, o que significa dizer que o sujeito quer ou assume o risco de expor a vida ou a saúde de outrem a uma situação de perigo concreto.
	Há que assinalar que o crime em questão não admite a forma culposa.
4.4 – Da Consumação e da Tentativa
	A consumação dá-se no instante em que ocorre a produção do perigo concreto para a vítima, sendo que, em relação à tentativa, é a mesma possível, desde que, seja na modalidade comissiva.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
4.5 – Da Causa de Aumento de Pena
	Se constitui em uma causa de aumento de pena referente a segurança viária, ou mais especificamente, um crime de trânsito com previsão no próprio Código Penal e foi inserido neste texto legal como forma de prevenir a exposição dos “boias-frias”, que normalmente são transportados de forma arriscada.
	Para caracterizar tal causa de aumento, o transporte tem de estar em desacordo com o CTB (Lei 9.503/97).
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
4.6 – Da Ação Penal
	Pública incondicionada.
4.7 – Classificação Doutrinária
	É crime de perigo concreto; comum; de forma livre; doloso; simples; instantâneo; unissubsistente ou plurissubsistente; unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual; comissivo ou omissivo; e expressamente subsidiário.
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Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
4.8 – Considerações Finais
Do Disparo de Arma de Fogo
	Em razão de ser um crime subsidiário, o disparo de arma de fogo em lugar habitado ou adjacências, ou ainda em via pública ou em direção a ela, não caracterizará o crime em questão, mas o previsto no artigo 15 da Lei 10.826/2003.
b) Da Aplicação da Lei 9.099/90
	Aplica-se a lei em questão, por se tratar de crime de menor potencial ofensivo, sendo admitida a transação penal, desde que os demais requisitos estejam presentes.
	
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Do Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
c) Do Estatuto do Idoso
	Em se tratando de idoso, temos que aplicar a Princípio da Especialidade, e o crime em questão será o previsto no artigo 99 da Lei 10.741/2003.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5 – Espécies
Forma Simples – localizado no caput do artigo, se constitui em crime de médio potencial ofensivo, cabendo a aplicação da Lei 9.099/95.
Formas qualificadas – localizadas nos §§ 1º e 2º, havendo entendimento que se constitui em práticas preterdolosas, visto que não haveria o desejo do resultado morte.
Causas Especiais de aumento de pena – previstas no §3º do artigo.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.1 – Da Objetividade Jurídica
		Aqui o legislador busca proteger a vida, a saúde e a segurança da pessoa humana, sendo que o bem jurídico é indisponível, não havendo possibilidade de consentimento do ofendido, em especial por se tratar de incapaz. 
5.2 – Do Objeto Material
		É a pessoa incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.3 – Do Núcleo Verbo do Tipo Penal
		O verbo é “abandonar”, que significa deixar ao desamparo, descuidar, consistindo em um abandono físico, de forma a deixar o incapaz sozinho, sem que tenho assistência e proteção.
		Cumpre assinalar que não há que se falar na existência do crime em questão quando o incapaz é quem abandona o seu protetor, ou ainda, quando o responsável pelo incapaz permanece cuidando do mesmo, ainda que à distância.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.4 – Do Sujeito Ativo
		Estamos diante de um crime próprio, o que significa dizer que o sujeito ativo somente poderá ser a pessoa que tiver o dever de zelar pela vida, saúde ou segurança do incapaz, ou seja, aquele que o tem sob o seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, sendo imprescindível que haja tal relação jurídica entre ambos para fins de configuração do delito.
		Referida relação jurídica pode emanar de lei (pais e filhos), de contrato (enfermeira e paciente), ou mesmo de profissão (professores), ou ainda, de conduta ilícita (sequestrador em relação a sequestrado).
	
		Se não houver referido dever de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade entre sujeito ativo e sujeito passivo da prática delitiva, poderemos estar diante do crime de omissão de socorro, previsto no artigo 135 do CP.
		
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.5 – Do Sujeito Passivo
		Quando falamos no sujeito passivo, estamos nos referindo ao incapaz que, por qualquer motivo, não tem condições de se defender dos riscos do abandono.
		Portanto, é uma incapacidade de natureza real, podendo se incluir nesse conceito o menor ou o maior que por problemas de saúde física ou mental não posso se defender, quer seja referido problema permanente ou transitório.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.6 – Dos Elementos Constitutivos do Tipo Penal
		Já observamos que é essencial que haja o vínculo de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade entre autor e vítima.	
		- Cuidado: é a assistência eventual, a exemplo da enfermeira que cuida de pessoa idosa e inválida, incapaz de defender-se dos riscos do abandono;
		- Guarda: é a assistência duradoura, a exemplo dos pais em relação aos filhos menores de 18 anos;
		- Vigilância: é a assistência acauteladora e envolve pessoas que geralmente são capazes, mas que não tem, em virtude de situações específicas, condições de se defender, a exemplo do professor de natação em relação aos seus alunos;
		- Autoridade: é a relação de superioridade, podendo ser de direito público ou privado, e que pode emitir ordens em relação à outra pessoa, a exemplo de militares e seus subordinados.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.7 – Do Elemento Subjetivo
		O elemento subjetivo é o dolo de perigo, podendo ser direito ou eventual, não se admitindo em referida prática delitiva a conduta culposa.
5.8 – Da Consumação
		Quando falamos em consumação , ela ocorre no momento em que se dá o abandono, desde que do mesmo haja perigo concreto, visto que, é crime instantâneo de efeitos permanentes. Há que assinalar que a permanência irá perdurar até que o incapaz seja socorrido.
		Observe-se ainda, que o crime subsistirá mesmo que o sujeito, depois do abandono resolva reassumir o dever de assistência, desde que o abandono se dê por tempo juridicamente relevante.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.9 – Da Tentativa
		Admissível na modalidade comissiva.
5.10 – Classificação Doutrinária
		É crime próprio; instantâneo de efeitos permanentes; de forma livre; de perigo concreto; comissivo ou omissivo; unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual; e unissubsistente ou plurissubsistente.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.11 – Da Ação Penal
É pública incondicionada.
5.12 – Formas Qualificadas
		São crimes qualificados pelo resultado e, portanto, preterdolosos.
		Observe-se, no entanto, que se houver dolo de dano teremos que imputar ao sujeito ativo a prática de crime de lesão corporal grave, gravíssima ou homicídio.
		Em caso de lesão corporal leve, fica a mesma absorvida pelo abandono de incapaz, por se tratar de crime de dano com pena inferior à do crime de perigo.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Abandono de Incapaz – art. 133 do CP.
5.13 – Das Causas de Aumento de Pena
Se o abandono ocorre em lugar ermo: lugar ermo é o que habitualmente não é frequentado, ou seja, o lugar solitário, onde haja pouco trânsito de pessoas. Deve ser relativamente ermo, pois caso contrário teremos meio de execução de homicídio, tentado ou consumado.
Se o agente é ascendente, descendente, cônjuge, tutor ou curador da vítima.
Se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
		
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.0 – Considerações Iniciais
		Estamos aqui, diante de uma forma privilegiada do crime de abandono de incapaz, previsto no artigo 133 do CP, sendo que, o elemento caracterizador da forma privilegiada é que a exposição ou abandono se deem para fins de ocultar desonra própria.
		Observe-se, portanto, que temos no referido tipo penal um desdobramento de um tipo penal base que é o abandono de incapaz, sendo que, esta forma privilegiada se justifica por questões de honra.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.1 – Espécies
		São três as modalidades de exposição ou abando no de recém nascido, uma simples, prevista no caput do artigo e duas formas qualificadas, previstas nos §§ 1º e 2º
		Há que observar que nas formas previstas no caput e no §1º, temos respectivamente crimes de menor potencial ofensivo e de médio potencial ofensivo, sendo cabível a aplicação da lei 9.099/95, desde que estejam previstos os requisitos previstos em lei. Na forma do §2º o crime é de elevado potencial ofensivo, não sendo cabível a aplicação da Lei 9.099/95.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.2 – Da Objetividade Jurídica
		Aqui se tutela a vida e a saúde da pessoa humana.
6.3 – Do Objeto Material
		É o recém-nascido, que é sobre quem recai a conduta criminosa.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém-Nascido
6.4 – Dos Elementos do Tipo Penal
		Observe-se que referido tipo penal contém dois núcleos, o expor e o abandonar, bem como, que tal conduta se dê em relação a recém-nascido.
Expor: equivale a transferir a vítima para lugar diverso daquele em que se encontra e em que esteja recebendo os devidos cuidados (assistência), é conduta essencialmente comissiva;
Abandonar: significa deixar a vítima ao desamparo, no sentido de deixar-lhe sem os cuidados necessários, sendo conduta essencialmente omissiva.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
		O tipo penal estabelece ainda, que o crime tem que ser praticado para ocultar desonra própria, o que significa dizer que tem de haver honra anterior a ser mantida.
		Assim sendo, temos um tipo penal aberto, o qual necessitará, no caso concreto, da valoração do magistrado, que por sua vez, deverá dizer se há ou não há honra a ser preservada.
		Cumpre observar ainda, que a honra em questão é de cunho sexual, referindo-se a boa fama, a reputação que desfruta o autor(a) do crime perante a sociedade. Referida honra está ligada a um comportamento decente e dentro dos conceitos sociais de bons costumes. 
		Se a finalidade for diversa do ocultar desonra própria, teremos a aplicação do artigo 133 do CP.
		Observe-se, ainda, que se a gravidez for pública, não haverá que se falar em ocultação.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.5 – Do Sujeito Ativo
		No presente tipo penal, somente podemos ter como autores os pais da criança, ou a mãe ou o pai, que tenham tido filhos fora do casamento, de forma adulterina, independentemente de serem casados ou não.
		Observe que a desonra tem que ser própria e não de terceira pessoa, sendo que, da mesma forma, a prostituta não poderá responder por este crime, havendo que aplicar em qualquer das situações o artigo 133 do CP.
		Da mesma forma, podemos ter a existência de concurso de pessoas, visto que, a desonra própria é elementar do tipo penal, se comunicando com os demais envolvidos no delito por força do artigo 30 do CP.
		
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.6 – Do Sujeito Passivo
		Aqui o sujeito passivo será obrigatoriamente o recém-nascido, sendo que assim será considerado até a queda do cordão umbilical, havendo posicionamento de que o conceito de recém nascido deverá ser estabelecido conforme o caso concreto.
6.7 – Do Elemento Subjetivo
		O elemento volitivo é o dolo direto, havendo a necessidade de que esteja presente ainda o especial fim de agir, consistente no ocultar a desonra própria. Não há o referido crime na modalidade culposa e, nem mesmo, mediante dolo eventual.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.8 – Da Consumação e da Tentativa
		A consumação se dá quando a vitima é submetida ao perigo concreto, sendo admissível a tentativa quando estivermos diante de crime comissivo.
6.9 – Das Formas Qualificadas
		Nos §§ 1º e 2º, temos as formas qualificadas, sendo que aqui novamente se entende tratarem-se de condutas preterdolosas, conclusão a que se chega pelas penas cominadas em abstrato, se comparadas aos crimes de lesão corporal grave e gravíssima ou ainda ao de homicídio simples.
		Observe-se ainda que a lesão corporal leve fica absorvida pela exposição ou abandono de recém-nascido, por se tratar de crime de dano com pena inferior à do crime de perigo.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Exposição ou Abandono de Recém Nascido
6.10 – Da Ação Penal
		A ação penal é pública incondicionada.
6.11 – Da Classificação Doutrinária
		É crime de perigo concreto (é necessário que haja a comprovação do perigo); doloso; próprio (somente pode ser praticado pela mãe ou pelo pai); comissivo ou omissivo; de forma livre (admite qualquer meio de execução); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (é praticado, em regra, por apenas uma pessoa, admitindo, no entanto, o concurso de agentes); instantâneo de efeitos permanentes (consuma-se no momento da ação ou omissão, mas os seus efeitos subsistem no tempo); e unissubsistente ou plurissubsistente.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7 – Da Objetividade Jurídica
		O objeto de proteção é a vida e a saúde da pessoa humana, sob o aspecto da solidariedade humana.
7.1 – Do Objeto Material
		É a vítima do delito, ou seja, a pessoa a quem se deixa de prestar socorro de forma injustificada.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7.2 – Dos Elementos Constitutivos do Tipo Penal
		Observe-se que o tipo penal em questão tem dois verbos núcleos, que são o “deixar” e o “pedir”, que no contexto do artigo significa que o crime será o deixar de prestar assistência, ou então, o não pedir socorro, podendo fazê-lo.
		Há que assinalar que pela simples análise do artigo, vemos que estamos diante de um crime omissivo próprio ou puro, visto que o próprio tipo penal estabelece claramente a conduta omissiva, onde o sujeito deixa de fazer aquilo que lhe era imposto por lei.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
		Observe-se ainda, que o tipo penal estabelece que somente haverá o crime em questão quando o agente deixar de prestar o auxílio, sem que haja risco pessoal justificador de sua conduta.
		Há que assinalar ainda que havendo o risco pessoal, deve o agente que procurar a autoridade pública, para que esta preste o socorro necessário, visto que, tem a mesma o dever legal de enfrentar o perigo.
		Da mesma forma, não é qualquer
autoridade que deva ser acionada, mas apenas a autoridade que tem o dever legal de prestar o socorro e enfrentar o perigo.
		Por fim, o risco pessoal de que trata a lei é físico e não material ou moral.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7.3 – Do Sujeito Ativo
		O crime é comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa, mesmo que tenha o dever jurídico de prestar assistência, caso em que, poderá responder pelo resultado final de sua omissão, podendo haver homicídio por crime comissivo por omissão.
		Se houver vinculação jurídica entre autor e vítima, a exemplo de pais e filhos, teremos o crime de abandono de incapaz (art. 133 do CP) ou de abandono material (art. 244 do CP).
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7.4 – Do Sujeito Passivo
		Quando falamos de sujeito passivo, temos uma limitação estabelecida pelo texto legal, visto que, somente as pessoas elencadas no artigo 135 é que podem ser sujeito passivo deste crime, sendo elas:
Criança abandonada: é a com idade inferior a 12 anos, conforme estabelece o artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). A criança é abandonada.
Criança Extraviada: é a pessoa com idade inferior a 12 anos, que está perdida, ou seja, que não sabe retornar por conta própria ao local em que reside ou ainda, onde possa encontrar proteção, como a casa de um parente. A criança se perde.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
c) Pessoa Inválida e ao Desamparo: invalidez aqui significa que a pessoa não tem condições, por conta própria, de praticar os atos diários de um ser humano, o que pode decorrer de problemas físicos ou mentais. Há que assinalar ainda que é fundamental que ela esteja ao desamparo, não bastando a invalidez. Quando citamos o desamparo, significa dizer que está a vítima incapacitada para se livrar por sua própria conta, da situação de perigo. Invalidez decorrente de doença, como perda de memória.
d) Pessoa Ferida e ao Desamparo: é aquele que sofreu lesão corporal, qualquer que seja ela, a qual também tem que estar ao desamparo.
e) Pessoa em Grave e Iminente Perigo: o perigo deve ser sério e fundado, no sentido de que seja apto a causar um mal relevante em curto espaço de tempo, não sendo necessário que a vítima esteja inválida e nem mesmo ferida.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7.5 – Do Elemento Subjetivo
		É o dolo de perigo, direto ou eventual, não havendo a possibilidade de modalidade culposa.
7.6 – Da Consumação e da Tentativa
		O crime se consuma no momento da omissão, devendo-se avaliar se o perigo é presumido ou concreto. Nas quatro primeiras situações (letras A a D) é crime de perigo presumido ou abstrato, o que faz com que no caso de o agente deixe de prestar o socorro necessário, seja o perigo presumido de forma absoluta (iuris et de iure). Já na última situação (letra E), o crime é de perigo concreto, o que impões que a situação de perigo seja provada.
		Não é possível a tentativa, por que você ajuda ou não ajuda, ou te omite ou não te omite, não é fracionado.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7.7 – Da Causa de Aumento de Pena
		Novamente temos que tais causas de aumento serão preterdolosas
7.8 – Classificação Doutrinária
		É crime comum; omissivo próprio ou puro; de perigo abstrato ou de perigo concreto; de forma livre, unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual; unissubsistente e instantâneo.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
7.9 – Considerações Gerais
		Se houver resistência da vítima, ainda assim subsiste a obrigação de socorrer, desde que tal resistência não impeça a prestação de socorro.
		Se a vítima for idosa, ou seja, pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, teremos o crime previsto no artigo 97 da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso).
		Se houver a morte instantânea da vítima, não haverá crime, visto que, não haverá bem jurídico a ser protegido.
		Temos, por fim, a aplicação do artigo 304 da Lei 9.503/97 (CTB) em se tratando de crime de omissão de socorro no trânsito. No entanto, o artigo 135 do CP ainda será aplicado a todas as pessoas que não estiverem envolvidas no acidente e que deixarem de prestar socorro a vítima.
		Por fim, cumpre observar que o disposto no CTB, poderá ensejar várias situações, visto que, poderemos ter a conduta prevista no artigo 302 de referida lei.
		
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Da Omissão de Socorro
Assim sendo, podemos ter as seguintes conclusões:
matar ou lesionar culposamente alguém na direção de veículo automotor, não prestando o devido socorro. – Aplica-se o artigo 302, parágrafo único, inciso III ou o artigo 303, parágrafo único, ambos da Lei 9.503/97 (CTB);
Envolver-se em acidente, sem culpa, e deixar de prestar imediato socorro à vítima. – Aplica-se o artigo 304 do CTB;
Deixar terceira pessoa, não envolvida no acidente, de prestar socorro à vítima. – Aplica-se o artigo 135 do CP. Quando não se envolver .
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
8 – Da Objetividade Jurídica
		É a vida e a saúde da pessoa humana.
8.1 – Do Objeto Material
		É a pessoa que se encontra em alguma das situações previstas no tipo penal e que está sofrendo maus-tratos.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
8.2 – Dos Elementos Constitutivos do Tipo Penal
		O verbo núcleo do tipo penal é o “expor”, no sentido de que há a necessidade de colocar alguém em perigo para fins de concretizar o tipo penal em questão.
		No entanto, em que pese haver apenas um verbo núcleo, referido crime é previsto por um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado), visto que a ação humana pode ser praticada mediante uma única conduta (a exemplo de privar dos cuidados necessários), ou ainda, por meio de variadas condutas (como privar da alimentação e sujeitar a trabalho excessivo), caso em que haverá crime único, desde que dentro de um mesmo contexto fático e contra as mesmas vítimas.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
		É ainda crime de forma vinculada, pois a conduta de “expor a perigo a vida ou a saúde da pessoa” somente admite os modos de execução expressamente previstos no tipo penal, sendo eles:
Privação de Alimentos ou Cuidados Indispensáveis: aqui o privar é sinônimo de não fornecer, de impedir, ou seja, aqui o agente retira de alguém um bem ou objeto determinado, no caso específico, alimentação ou produtos outros que estejam ligados ao cuidado indispensável, como roupas, materiais de higiene, etc. Essa privação de alimentos pode ser absoluta ou relativa, sendo que, se for absoluta, temos que verificar qual a sua duração, pois poderemos estar diante de crime de homicídio. 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
b) Sujeição a Trabalho Excessivo ou Inadequado
		O trabalho excessivo é aquele que ultrapassa as horas normais de trabalho e que, portanto, pode prejudicar a vida ou a saúde da vítima.
		Já o trabalho inadequado é aquele que é impróprio para determinada pessoa, considerando as suas características individuais, como sexo, idade, saúde, força, etc.).
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
c) Abuso dos Meios de Correção e Disciplina
		A correção tem por finalidade tornar certo o que está errado, ou seja, corrigir determinada conduta.
		Já a disciplina é utilizada para preservar a normalidade de uma conduta, ou seja, manter certo o que até então estava certo.
		Observe-se que tais condutas tem que ter por finalidade a educação, ensino, tratamento ou custódia de pessoa que se encontra sob a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo, desde que haja abuso de tais práticas, sendo exatamente aí que a conduta se torna ilícita, pois caso contrário estaríamos diante do exercício regular de direito, previsto no artigo 23 do CP.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
8.3 – Do Sujeito Ativo
		Estamos diante de crime próprio, pois o tipo penal exige a existência de
vinculação entre autor e a vítima dos maus tratos, a qual deverá estar sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente, bem como que, a mesma se dê para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.
Educação: tem a finalidade de ampliar, aperfeiçoar, e acabar a formação individual, quer seja sob o aspecto, intelectual, moral, técnico ou profissional;
Ensino: é o ato de ministrar conhecimentos que devem formar a base cultural do indivíduo, o qual, pode ser básico, fundamental ou superior e podem ser ministrados pelos pais, professores, instrutores, etc.
Tratamento: tem por finalidade o processo de cura de qualquer enfermidade, quer seja física ou mental, bem como para a subsistência das pessoas.
Custódia: é o ato de proteger alguém que se encontra legalmente detido, a exemplo da relação existente entre o carcereiro e o preso.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
8.4 – Do Sujeito Passivo
		É apenas a pessoa que se encontra sob autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo do crime, para fins de educação ensino, tratamento ou custódia.
		Observe-se que tem de haver subordinação entre autor e vítima, havendo que assinalar que entre pai e filho, tem que ser o mesmo menor de 18 anos, ou ainda, caso seja maior, que permaneça sob a autoridade do genitor.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
		Em tendo o sujeito passivo idade igual ou superior a 60 anos, teremos a aplicação do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), mais especificamente de seu artigo 99. Regra geral (a lei especial revoga a lei geral).
8.5 – Do Elemento Subjetivo
		É o dolo, direto ou eventual, o qual tem de estar acompanhado de um especial fim de agir, qual seja, a vontade de maltratar o sujeito passivo, de forma a lhe expor a perigo a vida ou a saúde, todo com a intenção de educação, ensino, tratamento ou custódia.
		
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus Tratos
8.6 – Consumação
		Consuma-se o delito com a exposição da vítima ao perigo, não sendo necessária a existência do dano efetivo.
		No que tange ao aspecto de permanência do delito, Damásio de Jesus o classifica como crime permanente, nas hipóteses de privação de alimentos ou cuidados indispensáveis em como delito instantâneo em todas as demais. 		Nélson Hungria, contudo, afirma que o crime é permanente na modalidade de privação de alimentos ou cuidados indispensáveis e sujeição a trabalho excessivo ou inadequado, enquanto que nos demais casos seria instantâneo com caráter eventual de permanência.
		Já Guilherme de Souza Nucci, afirma tratar-se de crime instantâneo, em todas as suas variantes, bastando que o agente, por meio de uma única conduta, consiga colocar em perigo a vida ou a saúde alheia, caso em que estará consumado o crime, em qualquer uma de suas formas.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus-Tratos
8.7 – Da Tentativa
		É possível somente nas modalidades comissivas, uma vez que crimes omissivos próprios ou puros não admitem o conatus.
8.8 – Das Formas Qualificadas (§§ 1º e 2º)
		São figuras preterdolosas, sendo que a lesão corporal leve é absorvida pelo crime em questão.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus-Tratos
8.9 – Da Causa de Aumento de Pena
		A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, o que é justificado pela maior reprovabilidade da conduta criminosa, tendo sido acrescentada no Código Penal por determinação da Lei 8.069/90.
8.10 - Da Ação Penal
		É pública incondicionada.
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus-Tratos
8.11 – Classificação Doutrinária
		
			É crime próprio; de perigo concreto; comissivo ou omissivo; de forma vinculada; unissubjetivo, unilateral, ou de concurso eventual; de ação múltipla ou de conteúdo variado; unissubsistente ou plurissubsistente; e instantâneo ou permanente (com divergências doutrinárias).
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos Maus-Tratos
8.12 – Considerações Finais 
		Em caso de maus-tratos, não há que se falar em aplicação das agravantes genéricas previstas no artigo 61, inciso II, alíneas “e”, “f”, “g” “h” e “i”, pois as circunstâncias nelas previstas se constituem em elementares do tipo penal do crime previsto no artigo 136 do CP.
		Se tivermos situação em que a criança ou adolescente sujeita a autoridade, guarda ou vigilância seja submetida a vexame ou constrangimento, devermos aplicar o artigo 232 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), visto que os sujeito ativo da conduta delitiva se limita a constrangê-la ou humilha-la, sem que haja intenção de expor a vida ou a saúde ao perigo.
		Não há que confundir ainda, o crime de maus-tratos com o de tortura, visto que, nesta temos intenso sofrimento físico e mental, o que é incompatível com aquele onde se busca apenas a exposição a perigo da vida ou da saúde da pessoa. Observe-se, ainda, que na tortura temos dolo de dano, enquanto que nos maus-tratos temos o dolo de perigo, havendo que assinalar ainda que no crime de maus tratos o fim é de educação, ensino, tratamento ou custódia, enquanto que na tortura a intenção é a de castigar ou ainda, de prevenir determinada conduta.

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