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Direito Penal para OAB - parte geral 2012


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Apostila para OAB - parte geral - 2012.pdf
APOSTILA – OAB – Professora Cristiane Dupret 
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APONTAMENTOS MAIS IMPORTANTES – PARTE GERAL DO CP 
1 - PRINCÍPIOS 
- PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 
Segundo este princípio, o Direito Penal deve ser a ultima ratio e nunca a prima ratio, 
só devendo intervir quando os outros ramos do Direito não conseguem solucionar o conflito. 
Um exemplo recente da utilização deste princípio foi a revogação do crime de adultério (art. 
240, CP), pois tal conduta pode ser perfeitamente solucionada na esfera do Direito de 
Família. Geralmente este princípio é dirigido ao legislador. 
O Direito Penal deve ser tido como subsidiário, ou seja, a última medida a ser adotada 
quando os demais ramos do Direito não bastam para solucionar a lesão a um determinado 
bem jurídico tutelado. 
 
- PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE 
Limita ainda mais o poder do legislador, esclarecendo quais as condutas que podem 
ser incriminadas pela lei penal. 
Possui 4 funções principais: 
A) proibir a incriminação de uma atitude interna (dessa forma, não se pune o que o 
sujeito pensa, ainda que seu pensamento seja dirigido a algo criminoso, a não ser 
que exteriorize lesando algum bem jurídico); 
B) proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor 
(ex.: a auto lesão, a tentativa de suicídio por quem quer se matar, e ainda se 
discute a validade do art. 28 da Lei no 11343/06); 
C) proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais (evitando dessa 
forma o Direito Penal do autor); 
D) proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico 
(condutas que deixem a comunidade insatisfeita, mas que não afetem bens 
jurídicos tutelados). 
Podemos ainda mencioná-lo como Princípio da ofensividade. Consoante tal princípio, é 
indispensável que haja “pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem 
jurídico penalmente protegido”. 
 
- PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 
Sua consequência principal deve ser a descriminalização, pelo legislador, daquelas 
condutas que por uma evolução social ou mudança de costumes a sociedade passa a 
tolerar, não vendo mais as condutas como agressivas a determinado bem jurídico tutelado. 
É óbvio que ainda que se possibilite ao aplicador da lei utilizar o Princípio da 
adequação social, este deve ser utilizado com razoabilidade. Vejamos a decisão abaixo, que 
bem demonstra que não é em qualquer situação que podemos utilizá-lo: 
 
- PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA 
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Por este princípio, o que apresenta insignificante desvalor da conduta ou do resultado 
não merece a sanção penal. 
Ocorre resistência quanto à sua aplicação nos crimes com violência ou grave ameaça, 
ou ainda nos crimes relativos a drogas. É geralmente empregado no furto. Há farta 
jurisprudência acerca do tema. 
Inaplicável o Princípio da insignificância ao delito de roubo (art. 157, CP), por se 
tratar de crime complexo, no qual o tipo penal tem como elemento constitutivo o 
fato de que a subtração de coisa móvel alheia ocorra “mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa, a demonstrar que visa proteger não só o patrimônio, mas 
também a integridade pessoal. (STF – AI-AgR 557972 / MG – MINAS GERAIS – 07-
03-2006) 
Para a incidência do Princípio da insignificância só se consideram aspectos 
objetivos, referentes à infração praticada, assim a mínima ofensividade da conduta 
do agente; a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica causada 
(HC 84.412, 2a T., Celso de Mello, DJ 19.11.04). A caracterização da infração penal 
como insignificante não abarca considerações de ordem subjetiva: ou o ato 
apontado como delituoso é insignificante ou não é. E sendo, torna-se atípico, 
impondo-se o trancamento da ação penal por falta de justa causa. (STF – HC 
77.003, 2a T., Marco Aurélio, RTJ 178/310) (AI-QO 559904 / RS – RIO GRANDE DO 
SUL – 26-08-2005) 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART. 
12, DA LEI No 6.368/76 E ART. 333, DO CP. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. 
EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. ATIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO 
DA INSIGNIFICÂNCIA. PEQUENA QUANTIDADE DE DROGA. 
I – O trancamento de ação por falta de justa causa, na via estreita do writ, 
somente é viável desde que se comprove, de plano, a atipicidade da conduta, a 
incidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria 
ou de prova sobre a materialidade do delito, hipóteses não ocorrentes na espécie 
(Precedentes). 
II – O Princípio da insignificância está estritamente relacionado com o bem jurídico 
tutelado e com o tipo de injusto. Dessa maneira, não pode ser utilizado para 
neutralizar, praticamente in genere, uma norma incriminadora. Se esta visa as 
condutas de adquirir, vender, guardar, expor à venda ou oferecer é porque alcança, 
inclusive, aqueles que traficam pequena quantidade de drogas. Recurso desprovido. 
(STJ _ RHC 18198/BA – Quinta Turma – Min Felix Fischer – 20/03/2006) 
Deve-se ter grande cuidado com a aplicação deste princípio no crime de furto, tendo 
em vista a existência do furto privilegiado, ou seja, de pequeno valor, art. 155, § 2o do CP. 
Não se deve confundir insignificância com pequeno valor. 
O furto de pequeno valor, previsto no art. 155, § 2o do CP, prevê a existência de um 
furto privilegiado se o criminoso é primário e a coisa furtada é de pequeno valor. A 
jurisprudência vem entendendo como de pequeno valor a quantia de até um salário mínimo: 
No crime de furto, há que se distinguir entre infração de ínfimo e de pequeno valor, 
para efeito de aplicação da insignificância. Não se discute a incidência do princípio 
no tocante às infrações ínfimas, devendo-se, entretanto, aplicar-se a figura do furto 
privilegiado em relação às de pequeno valor. (STF – HC 84424 / SP – SÃO PAULO-
07/12/2004) 
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I – No caso de furto, para efeito da aplicação do Princípio da insignificância, é 
imprescindível a distinção entre ínfimo(ninharia) e pequeno valor. Este, ex vi legis, 
implica eventualmente em furto privilegiado; aquele, na atipia conglobante (dada a 
mínima gravidade). 
II – A interpretação deve considerar o bem jurídico tutelado e o tipo de injusto. 
III – Ainda que se considere o delito como de pouca gravidade, ta l não se identifica 
com o indiferente penal se, como um todo,observado o binômio tipo de injusto/bem 
jurídico, deixou de se caracterizar a sua insignificância. No caso concreto, o valor da 
res furtiva não equivale, em linhas gerais, aproximadamente, a uma esmola, não 
configurando, portanto, um delito de bagatela. 
Recurso especial desprovido. (STJ – REsp 909357 / DF – RECURSO ESPECIAL – 
2006/0268988-7 – Relator Min. Feliz Fischer – Quinta Turma – 14/06/2007) 
Como diferenciar no caso concreto a aplicação do Princípio da insignificância, que 
conduz à atipicidade material do fato, do furto de pequeno valor? 
Imaginemos que um sujeito subtrai uma caixa de bombons de uma grande loja. Na 
primeira vez se reconhece o Princípio da insignificância. O sujeito pratica a conduta por 
várias outras vezes, sendo denunciado como autor do crime de furto em continuidade 
delitiva. Deveria o magistrado reconhecer como no caso anterior o Princípio da 
insignificância? A nosso ver não. Alguns sustentam que a aplicação do Princípio da 
insignificância deve levar em consideração o desvalor insignificante do resultado. Neste
exemplo, continuaríamos a ter insignificante desvalor do resultado, mas não podemos ter a 
conduta do sujeito como insignificante. Isso não impede de nos utilizarmos do furto 
privilegiado. Condena-se o sujeito, podendo o magistrado, consoante o § 2o do art. 155, 
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços ou aplicar 
somente a pena de multa. 
Outro exemplo: o sujeito abre a carteira de alguém para subtrair dinheiro. Ao abrir, 
depara-se com a quantia de R$ 550,00, mas retira apenas R$ 50,00. Neste caso, sua 
conduta e o resultado dela são tidos como insignificantes. Se o sujeito abrisse a carteira 
com a finalidade de subtrair todo o dinheiro, se deparasse com a quantia de R$ 50,00, que 
era tudo que a vítima possuía, e retirasse esses R$ 50,00, a nosso ver já não mereceria 
aplicação o Princípio da insignificância, mas admitir-se-ia o furto privilegiado. Então, deve a 
distinção ser analisada de acordo com o caso concreto. 
 
- PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL 
Previsto no Art. 5o, XLV da CF. 
Também denominado Princípio da intranscendência ou da pessoalidade, ou ainda 
personalidade da pena. Somente o condenado, e mais ninguém, poderá responder pelo fato 
praticado. A pena não pode passar da pessoa do condenado. 
Este princípio justifica a extinção da punibilidade pela morte do agente. Resta óbvia a 
extinção quando estamos tratando da pena privativa de liberdade, mas o Princípio da 
responsabilidade pessoal faz com que, mesmo tendo o falecido deixado amplo patrimônio, a 
pena de multa não possa atingi-lo, pois estaria passando da pessoa do condenado para 
atingir seus herdeiros. Sendo assim, sempre estará extinta a punibilidade, independente da 
pena aplicada, quando ocorrer a morte do agente. 
 
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- PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS 
Previsto no Art. 5o, XLVII da CF. 
Atende ao Princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1o, III da CF). Não são 
admitidas as penas de morte (salvo os casos previstos na própria CF), as de caráter 
perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis. 
A Constituição Federal estabelece em seu art. 5o, XLVII: 
Não haverá penas: 
a) De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, 
XIX; 
b) De caráter perpétuo; 
c) De trabalhos forçados; 
d) De banimento; 
e) Cruéis. 
O art. 84, XIX estabelece que compete privativamente ao presidente da república: 
declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo 
Congresso nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo 
das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou 
parcialmente,a mobilização nacional. 
 
- PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE 
Impede a responsabilidade penal objetiva. Em síntese, ninguém pode ser punido por 
um crime se não agiu com dolo ou culpa. 
Encontra amparo legal no art. 18, parágrafo único do CP: 
Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato 
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 
- PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
Na análise de qualquer norma de natureza penal, devemos no primeiro momento 
verificar se há desrespeito a qualquer dos princípios, sejam eles previstos implícita ou 
explicitamente na Constituição. 
O Princípio da legalidade está insculpido no art. 1o do CP e no art. 5o, XXXIX da CF, 
estabelecendo que nenhuma conduta pode ser considerada criminosa e nenhuma pena pode 
ser imputada ao agente sem que lei anterior à conduta traga a previsão da conduta 
criminosa e a pena cominada. O referido princípio é apontado como base estrutural do 
próprio Estado de Direito, pedra angular do Direito Penal como um todo, abrangendo a pena 
cominada pelo legislador, a pena aplicada pelo juiz e a pena executada. 
não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
Este Princípio costuma ser mencionado por meio da expressão nullum crimem, nulla 
poena sine lege, esta última citada por grande parte da doutrina como construída pelo 
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professor alemão Paulo João Anselmo Feuerbach, em 1801, em seu Tratado29. Nilo 
Batista30 contesta a fórmula acima referida, afirmando que ela não consta da obra de 
Feuerbach, mas sim articulações dessa fórmula. São as seguintes, consoante o insigne 
mestre: 
Nulla poena sine lege 
Nullum crimem sine poena legali 
Nulla poena (legalis) sine crimine 
Francisco de Assis Toledo destaca que embora Feuerbach tenha tido o mérito da 
construção da fórmula latina, o Princípio da legalidade já se encontrava na Magna Charta 
Libertatum (séc. XIII),31 no bill of rights das colônias Inglesas da América do Norte e na 
Déclaration des droits de l´home et du citoyen, da Revolução Francesa, de onde se difundiu 
para os demais países.32 Abaixo o texto que consagra o princípio na Declaração Universal 
dos Direitos do Homem e na Convenção Americana sobre Direitos humanos, 
respectivamente: 
Art. XI, 2: Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, 
no momento, não constituam delito perante o direito nacional ou 
internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela 
que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. 
Art. 9o: Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no 
momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o 
direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável 
no momento da perpetração do delito. 
 
 
2 – LEI PENAL NO TEMPO 
 Embora a lei penal exista desde a sua promulgação, só será obrigatória com a 
publicação oficial. Em vigor, passa a surtir efeitos no presente e para o futuro. Chama-se 
vacatio legis o período de tempo entre sua publicação oficial e o início de vigência. 
 Antes de falar em lei penal no tempo, temos quer ter a noção de vigência da lei – 
todas as normas jurídicas. 
O Artigo 2 º LICC – permanece em vigor 
 Ocorre que pode existir um tempo entre a publicação e a vigência da lei, é o que 
chamamos de vacatio legis. 
 De acordo com a LICC, se a lei nada falar, ela entrará em vigor em 45 dias. Mas, 
pode a lei dispor sobre o prazo de sua entrada em vigor. 
 Esse período de tempo da vacatio legis é o período que a lei não tem eficácia, é o 
período de tempo em que o ordenamento e os operadores estão adequando o sistema 
vigente para a entrada em vigor daquela lei. Então, quanto mais complexa a lei, mais 
tempo levará para que ela entre em vigor. 
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 Depois que ela entra em vigor, via de regra, ela deve vigorar por prazo 
indeterminado, sendo revogada por outra lei a revogue expressamente. 
 Essa vigência da lei até que outra a modifique ou revogue encontra exceção nas leis 
temporárias ou excepcionais, porque elas mesmas possuem um prazo de vigência, elas são 
auto-revogáveis, seja pq na lei temporária já tem um prazo determinado, por isso elas são 
chamadas de temporárias, seja pq nas leis excepcionais elas só vão vigorar enquanto 
durarem determinadas situações específicas. Então, não vigorará até que outra lei a 
revogue ou modifique pq ela se auto-revogará. 
 
OBS : Ab-rogação – revogação total 
 Derrogação - revogação parcial 
 Essa revogação das leis – artigo 2 º parágrafo 1 º LICC - pode ser expressa ou 
tácita. 
 Ocorre que foi editada Lei complementar 95 que estabelece que a revogação tem 
que ser expressa. Então, a partir do advento dessa LC 95, a revogação deverá ser expressa 
e não mais tácita porque
sabemos que o legislador brasileiro não tem hábito de analisar os 
diplomas existentes. Então a LC 95 veio para conscientizar o legislador que ele precisa 
revogar expressamente aquilo que contraria o diploma que ele está editando. 
 
Irretroatividade e retroatividade da lei penal 
 
 O conflito temporal de normas pressupõe uma seqüência de leis penais e rege-se 
pelo princípio constitucional da irretroatividade: 
Art. 5o. XL da CF 
“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” 
O parágrafo único do art. 2o. do CP preconiza a aplicação da lei posterior aos fatos 
anteriores, desde que essa nova lei de qualquer modo favoreça o agente. 
Só não terá aplicação a lei nova se o agente já houver cumprido a pena. 
De acordo com a súmula 611 do STF, o juiz da execução poderá aplicar a lei benéfica 
quando já tiver ocorrido o trânsito em julgado. 
 
Conceito de lei mais benéfica 
 
Não é necessariamente somente aquela que diminui a pena. Deve ser aferida no caso 
concreto, analisando causas de diminuição, causas de justificação, causa de exclusão da 
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culpabilidade, lapso prescricional mais curto, melhores condições para concessão do 
sursis, liberdade condicional,... 
Dessa forma, resolve-se o caso hipoteticamente, conforme uma e outra lei, para se 
aferir qual é a mais benéfica ao agente. 
 
Tempo do crime 
 
O art. 4o. do CP adotou a teoria da ação ou da atividade, sendo o tempo da infração 
penal tanto o da ação como o da omissão, independente do momento do evento. 
O momento da conduta, comissiva ou omissiva, será, portanto, o nosso marco inicial 
para todo tipo de raciocínio que se queira fazer em sede de extra-atividade da lei penal. 
 
Espécies de extra-atividade 
retroatividade e ultra-atividade 
Exemplo: 
Alguém, na direção de veículo automotor, praticou homicídio culposo, em maio de 
1997, ocasião em que ainda não havia entrado em vigor o Código de trânsito (lei 9503/97 
de 23/09.97). Os autos foram conclusos para sentença em outubro de 1997. Qual norma 
vai se aplicar à espécie? O CP, que nesse caso, possuirá ultra-atividade, uma vez que é lex 
mitior, pois pune o homicídio culposo com pena de 1 a 3 anos, diferentemente da Lei 
9503/97, que traz uma pena de 2 a 4 anos. 
 
Crime permanente e crime continuado 
Em novembro de 2003, o STF editou o verbete 711: 
“a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a 
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência” 
 
 
Lei temporária ou excepcional 
lei temporária é aquela com tempo de vigência pré determinado. Lei excepcional é 
aquela que terá vigência durante certa situação tida como excepcional. 
Encerrado o período de vigência, as leis são tidas como revogadas, ocorre auto 
revogação. 
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Tais leis são ultra-ativas, possuem em comum a ultra-atividade gravosa, para que se 
impeça a impunidade, pois frente a uma curta vigência, seria muito difícil conseguir punir o 
agente que praticou o fato se fosse considerar que a lei temporária ou excepcional não o 
poderia alcançar após a sua revogação. 
 
3 – LEI PENAL NO ESPAÇO 
 
Lugar do crime 
Três teorias disputam o tratamento da determinação do lugar do crime: 
- teoria da atividade 
- teoria do resultado 
- teoria mista ou da ubiqüidade 
 
Nosso CP, no seu artigo 6o. adotou a teoria da ubiqüidade, ao considerar praticado o 
crime no lugar em que ocorrei a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde 
se produziu ou deveria se produzir o resultado. 
 
Princípio da territorialidade 
O princípio da territorialidade está contido no artigo 5o do CP, que determina a 
aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, Tratados e regras de direito 
internacional, ao crime cometido no território nacional. 
Princípio da Extraterritorialidade 
Tal extraterritorialidade da lei penal pode ser condicionada (caso de adoção relativa 
do princípio da extraterritorialidade) ou incondicionada (adoção absoluta do princípio da 
extraterritorialidade). Será incondicionada quando a aplicação da lei penal for independente 
do advento de qualquer condição. Ao contrário, nos casos de extraterritorialidade 
condicionada, a aplicação da lei penal brasileira dependeria do advento de determinada 
condição. 
As hipóteses de extraterritorialidade incondicionada estão previstas no art. 7o, I, do 
CP, que abrange o princípio da defesa, real ou de proteção (alíneas a,b e c) e princípio 
cosmopolita (art. 7o, I, d). 
 
Conceito de território nacional 
A princípio seria o solo, mas ele não se basta a isto, seria também o subsolo, rios, 
lagos, lagoas. No sentido Jurídico, além do seu sentido estrito, território também englobaria 
o mar territorial e o espaço aéreo. 
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território em sentido estrito – solo, subsolo e águas fluviais e lacustres (rios e lagos), 
todos lImitados pelas fronteiras políticas. 
mar territorial –Em âmbito internacional, o mar territorial é a faixa ao longo da costa 
que compreende 12 milhas. Conceito dado pela Lei nº 8617/93 (combine com o art. 5º do 
CP) 
Espaço aéreo –Teoria da soberania sobre a coluna atmosférica – tem uma 
delimitação correspondente à projeção do país (território em sentido estrito e mar 
territorial) no espaço. É ilimitada para cima, ou seja, toda a seção atmosférica. 
Art. 5º, § 1º do CP: Aqui já se tem a aplicação da Lei brasileira fora do conceito lato 
de território nacional. Trata-se de uma ficção do que seria também território brasileiro, ou 
seja, uma extensão, por ficção, do território nacional em sentido lato. Seriam os navios e 
aeronaves públicos ou a serviço do governo brasileiros onde quer que se encontrem e os 
navios e aeronaves privados ou mercantes brasileiros em alto mar ou aeronaves no espaço 
aéreo correspondente . Neste último caso (privados e mercantes) Só vão ser extensão do 
território se estiverem em alto mar, ou seja, no mar de ninguém, fora do mar territorial de 
outro Estado ou no espaço aéreo correspondente. Vão ter a aplicação da Lei da Bandeira 
que ostentam. 
Se estiverem em território de outro país, será aplicada a Lei de onde eles estiverem. 
Se estiverem em alto-mar e forem estrangeiros, será aplicada a lei de seu território. Logo, 
considera-se território estrangeiro e o princípio será da extraterritorialidade (art. 7º.) 
Na hipótese de extraterritorialidade incondicionada (artigo 7º, I do CP), o agente 
será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Se 
já tiver sido condenado no estrangeiro, aplica-se o artigo 8o, que determina que a pena 
cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando 
diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Tal regra evita a dupla punição do agente 
pelo mesmo fato. 
 
5 - TEORIA DO CRIME 
INFRAÇÃO PENAL 
 
DISTINÇÃO ENTRE CRIMES E CONTRAVENÇÕES PENAIS 
 
Nosso CP não adota o critério tripartido, adota o critério bipartido, diferenciando crime 
de contravenção. Delito é sinônimo de crime. 
As contravenções também são chamadas de delitos-anões 
Infração penal é conceito amplo, que abrange os crimes e contravenções. 
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Em síntese:
Distinção entre crime e contravenção: 
Crime - infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer 
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. 
Contravenção – infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples 
ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
 
OBJETO MATERIAL E OBJETO JURÍDICO 
 
Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta. Pode se confundir, 
muitas vezes, com o próprio sujeito passivo do crime. 
Já o objeto jurídico é o bem jurídico tutelado pela norma. 
Ex.: crime de furto – o objeto material é a coisa furtada. O objeto jurídico é o 
patrimônio. 
 
 
CONCEITO DE CRIME PRETERDOLOSO OU PRETERINTECIONAL 
 
 É espécie de crime qualificado pelo resultado. 
 
 Há dolo no antecedente e culpa no conseqüente. Exemplo: lesão corporal seguida de 
morte – artigo 129, parágrafo 3º do CP. 
 
 
CONCEITO DE CRIME 
 
Infração 
penal 
Crime 
(delito) contravenção 
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Pelo conceito analítico de crime, podemos defini-lo como fato típico, antijurídico e 
culpável. 
 
 
FATO TÍPICO 
 
CONDUTA – A conduta pode ser comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa. 
Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista no tipo. 
Vontade não se confunde com desejo. Na vontade, o sujeito quer o resultado delitivo 
como consequência de sua própria ação e se atribui alguma influencia em sua produção. 
Artigo 18, CP 
“salvo os casos previstos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, 
senão quando o pratica dolosamente” 
Dessa forma, o dolo é a regra; a culpa é a exceção. 
Crime 
Fato: 
Típico 
Elementos: 
-Conduta 
-Nexo causal 
-Resultado 
-Tipicidade em sentido estrito 
(previsão legal) 
Antijurídico 
Excludentes da ilicitude ou 
antijuridicidade: 
-Legítima defesa 
-Estado de necessidade 
-Exercício regular de direito 
-Estrito cumprimento 
do dever legal 
-Consentimento do ofendido 
Culpável 
Elementos da culpabilidade: 
-Imputabilidade 
-Potencial consciência 
da ilicitude 
-Exigibilidade 
de conduta diversa 
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Pela teoria da vontade, dolo é tão somente a vontade livre e consciente de praticar a 
conduta descrita no tipo. 
Pela teoria do assentimento, dolo é também a assunção do risco de causar o resultado, 
ainda que não se trate de vontade direta do agente. 
Podemos visualizar na primeira teoria, o dolo direto e na segunda, o dolo eventual. Estas 
são as duas teorias adotadas pelo nosso CP. É o que se depreende do artigo 18, I, do CP. 
 de 1o. grau 
Dolo direto de 2o. grau 
 
O dolo direto de 1o grau é aquele em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos, já 
o dolo direto de 2o grau é conhecido como aquele em relação aos efeitos colaterais, 
representados como necessários. 
Ex.: matar o presidente, colocando uma bomba no avião. 
Fim proposto – matar o presidente 
Meio – colocar a bomba no avião 
Efeitos colaterais necessários – matar os demais passageiros 
Em relação aos demais passageiros, haverá dolo direto de 2o. grau. 
Dolo eventual – o agente não deseja diretamente o resultado, mas assume o risco de 
produzi-lo. 
É necessário distinguir o dolo eventual da culpa consciente. Na culpa consciente, o 
resultado até é previsível, mas o sujeito não assume o risco de sua produção, porque 
acredita sinceramente em sua habilidade, tendo como certo que o resultado não vai se 
produzir. 
 
NEXO CAUSAL E RESULTADO: 
 
Há a classificação dos crimes em relação ao resultado: 
- Crime material: o tipo descreve a conduta e o resultado. Para a consumação 
de um crime material é necessária a realização tanto da conduta quanto do resultado. 
Exemplo: art. 171 do CP. 
- Crime formal: o tipo descreve a conduta e o resultado. A diferença é que no 
crime formal, basta a realização da conduta para haver a consumação do crime, por 
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isso, é também chamado de crime de "consumação antecipada", a modificação do 
mundo exterior não vai acontecer necessariamente, mas pode até ocorrer, sendo, neste 
caso, apenas um exaurimento do crime. Exemplo: crime de extorsão art. 158 do CP, de 
acordo com a súmula 96 do STJ. 
- Crime de mera conduta: o tipo só descreve a conduta. Não há descrição do 
resultado. Ex. art. 150 CP . A semelhança com o crime formal é que em ambos, basta a 
prática da conduta para o crime estar consumado. 
 
Relação de causalidade 
Teoria da condição (conditio sine qua non) 
O nosso Código Penal, no art. 13, trata do nexo de causalidade. Dispõe que o 
resultado de que depende a existência do crime somente é imputável quem lhe deu causa 
e dispõe que causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Para saber o que é causa é necessário um processo de eliminação hipotética, método 
indutivo hipotético de eliminação. Do contrário, tudo será causa, levando a uma 
responsabilidade penal infinita. Portanto, causa é toda a ação ou omissão sem a qual o 
resultado não teria ocorrido da maneira como ocorreu. Causa de um resultado é toda 
condição que, suprimida mentalmente, faria desaparecer o resultado. É esta a teoria 
adotada, mas existem outras teorias que tentam definir o que é causa. 
Não basta dar causa, é necessário ter agido com dolo ou culpa. Ex: amigo A 
pendurado num galho prestes a cair num abismo, o amigo B ao tentar ajudar, esticando 
a mão, faz com que B, que está pendurado solte o galho que acaba caindo. Deu causa? 
Deu, mas não há responsabilidade penal porque não há dolo, nem culpa. 
 
Concurso de causas 
 
Quando só há uma causa, resolve-se pelo art. 13, caput, mas se houver um concurso 
de causas? 
As causas são definidas pela doutrina em: 
- preexistentes 
- concomitantes 
- supervenientes 
Exemplo: pessoa que leva um facada, depois um tiro, depois toma veneno? Qual são 
as causas preexistentes? E as supervenientes? Dependerá do ponto de referência 
adotado. Ex: Com relação ao veneno, o tiro é preexistente. 
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No entanto, antes de aplicar a regra, verifica-se se é a exceção – art. 13, parágrafo 1º. 
– causa superveniente relativamente independente, que causa o resultado por si só, pois 
neste caso, ela exclui a imputação pelo resultado. Ex.: o agente levou um tiro, depois foi 
levado ao hospital, onde houve um incêndio e ele morreu. Estabelecido o ponto de 
referência (o tiro), o incêndio está depois (é uma causa superveniente), o agente só morreu 
no incêndio, porque estava no hospital, porque levou o tiro (relativamente independente), 
mas o incêndio mata por si só. Desta forma, estamos diante da exceção, não aplicamos a 
regra. O agente só responde por tentativa de homicídio, considerando que tinha o dolo de 
matar. 
 
TIPO CULPOSO 
Consoante o artigo 18, II, CP, diz-se o crime culposo: 
“Quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligencia ou imperícia. 
Dispõe o parágrafo único: 
“salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente.” 
 
imprudência, imperícia e negligência
imprudência – conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o seu 
dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível. A imprudência e um 
fazer algo. 
 
Negligência – é um deixar de fazer algo que a diligencia normal impunha que fosse 
feito. 
 
Imperícia – quando ocorre inaptidão, momentânea ou não, do agente para o 
exercício de arte ou profissão. Está ligada à atividade profissional do agente. 
 
Imputação objetiva e crime culposo 
 
A teoria da imputação objetiva, em síntese, aproxima-se da seguinte assertiva 
conceitual: “só pode ser objetivamente imputável um resultado causado por uma ação 
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humana (no sentido da teoria da condição), quando a mesma cria para o objeto protegido 
uma situação de perigo juridicamente proibida e o perigo materializa-se no resultado típico”. 
 
A imputação objetiva traz para o delito culposo mais um elemento: a evitabilidade. 
Não basta a conduta, resultado, nexo, previsibilidade e inobservância do dever de cuidado. 
Se presentes todos esses elementos, mas percebe-se que o resultado ocorreria de qualquer 
maneira, pela teoria da imputação objetiva, o agente não deve ser responsabilizado. 
 
Essa teoria gira em torno da ideia de uma situação de risco para o bem jurídico 
tutelado. Para que haja a imputação, o agente deve criar ou incrementar um risco proibido 
ao bem. Além disso, esse risco tem que ser realizado no momento do resultado, para que 
seja possível a imputação. Se o risco for permitido, ou ainda se o agente não criar um risco 
ou diminuir o risco, ele não deve responder pelo resultado. 
A imputação objetiva também faz com que o agente não responda nos casos de 
aplicação do princípio da confiança. Exemplo: o agente (médico) confia que sua 
instrumentadora vai agir corretamente e ela não age. Ele não deve, em regra, responder 
pelo resultado causado por ela durante a cirurgia. 
 
ANTIJURIDICIDADE OU ILICITUDE 
 
LEGÍTIMA DEFESA 
 
Agressão: 
O primeiro requisito para o reconhecimento da legítima defesa é a existência de uma 
agressão injusta atual ou eminente. Primeiro é preciso que nós estendamos o alcance da 
palavra agressão. O que é a agressão que dá ensejo à legítima defesa? 
Ela tanto pode advir de uma ação como de uma omissão. Um exemplo de uma legítima 
defesa advinda de uma conduta omissiva é aquele em que um carcereiro deixa de cumprir 
um alvará de soltura. É uma agressão injusta praticada com omissão. 
Essa agressão também pode surgir tanto da conduta dolosa como da conduta culposa. 
Uma agressão culposa é de exemplo mais difícil. Podemos tomar por exemplo o caso do 
motorista de ônibus que conduza o veículo em alta velocidade colocando em risco iminente 
a integridade física dos passageiros. É possível que eles reajam a essa agressão injusta e 
iminente, visando paralisar o veículo retirando as chaves ou a empregar os meios físicos 
para conter aquele motorista de forma a forçá-lo a conduzir em velocidade aceitável. 
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Quando falamos em agressão surge a idéia de reação violenta, o que não é 
necessariamente verdade. Pode surgir a legítima defesa de reações não violentas como por 
exemplo um furto. Não há violência ou grave ameaça, mas autoriza a legítima defesa. 
A agressão como requisito para a legítima defesa surge tanto de atividades comissivas, 
tanto de atividades dolosas como de atividades culposas. Tanto de condutas violentas como 
de condutas não-violentas. 
Injusta: 
O segundo elemento necessário para a configuração da legítima defesa é que essa 
agressão se mostre injusta. Isso será essencial para o estudo da legítima defesa putativa 
que veremos logo adiante. A noção de injustiça está ligada à noção de ilicitude. Quando 
dizemos que a agressão é injusta queremos dizer que ela é uma agressão não amparada na 
lei. Toda vez que alguém cometer uma agressão não amparada pela lei, estará autorizada a 
legítima defesa. Se o agente realiza uma agressão autorizada pela lei, aquele que é 
ofendido não pode reagir em legítima defesa, pois ela exige que a agressão seja injusta, isto 
é, que não seja amparada na lei. 
Eu vou saber se uma agressão é justa ou injusta avaliando se ela está amparada ou não 
no ordenamento. É possível que a lesão corporal eventualmente causada a um cidadão 
louco seja acobertada pela exclusão da ilicitude pela legítima defesa? Quando nessas etapas 
de indagação do crime vai se aferir a questão da sanidade mental do agente? Na 
culpabilidade, a imputabilidade é seu primeiro elemento. Se eu digo que a injustiça da 
agressão é aferível segundo a licitude ou ilicitude daquela conduta, eu tenho que 
forçosamente concluir que os inimputáveis praticam agressão injusta, só não serão 
culpáveis. Assim, é perfeitamente possível a reação contra agressão de inimputáveis (sejam 
loucos, menores, sejam aqueles que atuam em erro de proibição que também é uma causa 
de exclusão de culpabilidade, sejam os que atuam em coação moral irresistível). Enfim, 
nenhuma daquelas situações de exclusão de culpabilidade impede a reação em legítima 
defesa, porque a despeito de inculpáveis, essas pessoas praticam conduta ilícita. Isso 
porque a antijuridicidade segundo a ótica formal é aferível em uma relação de contradição 
entre o que o agente fez e o ordenamento, sem considerações acerca de sua capacidade 
individual. A capacidade individual do agente só vai ser indagada em sede de discussão 
sobre imputabilidade. 
 
Atual ou Iminente: 
A agressão além de injusta deve ser atual ou iminente. Atual é aquela agressão que já 
está acontecendo e iminente é aquela que está para acontecer. A reação em legítima defesa 
deve sempre ter o caráter de cessar a agressão, seja a que já começou ou aquela que está 
para começar. 
Quando tratarmos de uma reação a um fato futuro ou pretérito, não poderemos falar em 
legítima defesa. Aquela pessoa que reage contra um inimigo que prometeu no futuro matá-
la não está agindo em legítima defesa pois não é atual nem iminente a agressão. Da mesma 
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maneira não age em legítima defesa quem reage a uma agressão já cessada. Quem apanha 
em um bar, vai até em casa para pegar uma arma e voltar no local em que estava para 
atirar em quem o agrediu não está agindo em legítima defesa. 
Que se volte contra direito do próprio ofendido ou de terceiro: 
O segundo requisito à legítima defesa é que essa agressão injusta, atual ou iminente, 
se volte contra direito do próprio ofendido ou de terceiro. Isso dá ensejo à distinção entre 
legítima defesa própria e legítima defesa de terceiro. 
O terceiro requisito é o uso moderado dos meios necessáriosNesse requisito entram 
dois aspectos: necessidade e moderação. 
O que é um meio necessário que autoriza a legítima defesa? Genericamente é aquele 
meio disponível para a defesa. Qual o meio disponível para a defesa? Seriam aqueles que eu 
tivesse a minha disposição naquele momento para exercitar minha defesa. Segundo o 
professor Rogério Greco, mesmo que a arma seja o único meio disponível portanto 
necessário, ela não poderá ser usada se esse uso representar uma grave desproporção com 
a agressão. Digamos que um fazendeiro paraplégico está no meio de suas matas quando 
um invasor está colhendo os frutos de uma de suas árvores. Nesse caso, Greco afirma que 
mesmo que a arma fosse o único meio de defesa que ele tem, a arma representa uma 
grande desproporção. Capez discorda desse entendimento
dizendo que se o conceito de 
meio necessário é o suficiente ou disponível para a defesa, não se pode restringir o uso da 
arma quando ela seja o único meio disponível. O que vai importar nesse caso é saber se 
houve moderação ou não. 
E quando houvesse vários meios disponíveis? 
Como um dos elementos que caracteriza a legítima defesa é a moderação, se existirem 
vários meios disponíveis, ele deve empregar o menos lesivo entre aqueles que se mostrem 
eficazes à defesa. Não se espera que ele utilize um meio inócuo. 
Além de ser necessário, é preciso que o uso desse meio seja moderado. Como nós 
medimos a moderação no uso dos meios? Ela é medida com a comprovação de que o 
agente fez tudo o que podia para se defender e só isso. Enquanto restar evidente que há 
uma possibilidade de agressão, a vítima deve poder reagir e portanto estará em legítima 
defesa. Quando as evidências do caso concreto demonstrarem que cessou a agressão e 
portanto não há mais uma agressão injusta contra ele, qualquer exercício de atividade 
“defensiva” extrapolará a legítima defesa e permitirá a punição do agente. Uso moderado, 
portanto, significa usar daqueles meios necessários até a cessação daquela agressão 
injusta, a partir dali se ele continuar agindo responderá pelo excesso. 
 Finalmente o último requisito necessário para a legítima defesa é o ânimo de defesa. 
Para que a pessoa seja beneficiada por uma causa de exclusão de ilicitude, é preciso que ela 
demonstre que além dos requisitos objetivos (que em nosso direito são os do artigo 25), ele 
estivesse atuando com a intenção de defesa. O ânimo de defesa é o último requisito da 
legítima defesa. 
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Existe uma discussão sobre a admissibilidade do concurso de motivos. O que é concurso 
de motivos? Há hipóteses em que o agente além do ânimo defensivo tem também um 
motivo concorrente. É o caso do agente que se defendendo de uma agressão injusta, 
aproveita-se da ocasião para se vingar daquela pessoa que a está agredindo. Nesse caso a 
concorrência desse outro motivo, que não o de defesa, afasta a legítima defesa? Havendo 
moderação na reação, ou seja, se o agente observar os requisitos do artigo 25, ele deve ter 
a legítima defesa reconhecida, ainda que concorra com o ânimo defensivo um motivo torpe. 
É claro que se ele se exceder, mesmo que não haja motivo concorrente, vai responder pelo 
excesso. A concorrência de motivo diferente do ânimo defensivo, não impede o 
reconhecimento da legítima defesa. 
O excesso afasta a legítima defesa. 
 
ESPÉCIES DE LEGÍTIMA DEFESA 
Legítima Defesa REAL – É aquela em que concorrem todos os requisitos de ordem 
objetiva e subjetiva. 
Legítima Defesa PUTATIVA – Assim como o delito putativo é o delito falso, a legítima 
defesa é aquela que só existe na cabeça da vítima. Ela acha que está se defendendo de uma 
agressão e não está. O problema aqui é saber qual o tratamento a ser dado à legítima 
defesa, pois se digo que ela é uma situação em que o agente acha que está se defendendo 
e não está, estou me referindo a uma situação de erro. Portanto a legítima defesa putatitva 
é uma situação de erro. 
 
Esse erro é de proibição ou de tipo? Importa responder a essa pergunta porque o 
tratamento que a lei dá para eles é diferente. O erro de tipo está no artigo 20 do CP. No 
erro de tipo o agente vê mal a realidade. Toda vez que estivermos diante de uma situação 
em que concluirmos que o agente errou ao ler mal a realidade, estaremos diante de um 
caso de erro de tipo. Qual o efeito do reconhecimento do erro de tipo? Ele vai sempre 
excluir o dolo (é uma das poucas regras que não comporta exceção), porque a própria 
noção de erro é uma noção incompatível com a noção de dolo. O que é o dolo? É a atuação 
com consciência e vontade. O que é o erro? É a falsa leitura da realidade. Quem atua com 
dolo não pode estar em erro e quem atua em erro não pode estar atuando com dolo. Assim, 
toda vez que tivermos uma situação com erro de tipo, esse erro excluirá o dolo. Se esse 
erro se mostrar vencível, superável (você incidiu em erro, mas se você tivesse prestado um 
pouco mais de atenção não teria incorrido nesse erro), a punição do agente será na 
modalidade culposa (se houver, pois sabemos que o delito culposo é excepcional). 
 
O outro tipo de erro essencial é o erro de proibição. Nele ao contrário do que ocorre com 
o erro de tipo, não há uma falsa leitura da realidade, ele sabe o que está acontecendo, ele 
lê a realidade corretamente. O problema do agente no erro de proibição está no juízo que 
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ele faz sobre o que é permitido ou proibido. Então a consequência do erro de proibição não 
é afetar o dolo. O dolo no erro de proibição fica intacto porque o agente tem consciência e 
vontade acerca dos fatos O problema no erro de proibição é a consciência sobre a ilicitude. 
Esse é o motivo pelo qual o erro de proibição é tratado na culpabilidade. O segundo 
elemento da culpabilidade é a potencial consciência da ilicitude. Se eu digo que no erro de 
proibição o agente se equivoca com relação ao que é permitido e o que é proibido, o erro 
dele versa sobre a ilicitude do fato. O erro de proibição que está lá no artigo 21 do CP, vai 
ter seus efeitos em sede de culpabilidade. Quais serão os efeitos de se reconhecer um erro 
de proibição? Se esse erro era invencível, isso é, se eu digo que você errou mas qualquer 
um na sua situação também erraria, esse erro é invencível e em função disso exclui-se a 
potencial consciência da ilicitude. Como a potencial consciência da ilicitude é um elemento 
da culpabilidade exclui-se também a culpabilidade. Sem a culpabilidade não há crime. 
Quando esse erro de proibição se mostrar um erro vencível (você errou em relação ao que 
era permitido ou proibido, mas você devia ter tomado um pouco mais de cuidado), não se 
exclui a culpabilidade, apenas atenua-se a pena. 
 
ERRO DE TIPO ------------------------------------------EXCLUI O DOLO 
ERRO DE PROIBIÇÃO (invencível) -------------------- EXCLUI A CULPABILIDADE 
ERRO DE PROIBIÇÃO (vencível) -----------------------ATENUA A PENA 
 
Quem atua em erro de proibição atua dolosamente, ou seja, com consciência e vontade. 
O problema está na leitura do que é lícito ou ilícito. 
 
Exemplo: Uma vizinha chega para mim e diz que está fazendo uma obra em casa e 
pergunta se eu me importo em guardar uma caixa aonde ela guardava suas joias e eu 
aceito por confiar nela e por considera-la minha amiga. No dia seguinte sou surpreendido 
quando policiais tocam a campainha com um mandado de busca e apreensão atrás da caixa. 
Ao abri-la (ela estava fechada como me havia sido entregue), encontram drogas 
pesadíssimas guardadas. Eu explico que eu não sabia que o material que eu guardava em 
casa era material entorpecente. Eu não sabia estar praticando o artigo 12 da Lei 6368. Esse 
erro é de tipo ou de proibição? Esse erro é de tipo. Eu tinha feito uma leitura incorreta da 
realidade. Eu imaginava que guardava joias, mas na realidade guardava material 
entorpecente. Definir se o erro é evitável ou inevitável vai depender da análise do caso 
concreto. 
 
Situação diversa é a do holandês que vem passar férias no Brasil e reserva um quarto 
em um hotel em Copacabana. Maravilhado com as belezas da cidade, assim que chega 
veste-se e vai para o calçadão da praia e lá chegando, senta-se confortavelmente em uma 
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cadeira e acende um cigarro de maconha. Passa uma patrulha que enxerga
e o prende 
imediatamente. Ao ser preso o holandês explica que não sabia que era proibido fumar 
maconha no Brasil, pois em seu país era permitido. Esse erro é de tipo ou de proibição? É 
um erro de proibição porque a leitura que ele fez da realidade não está equivocada. Ele 
sabia onde estava, ele sabia o que carregava, ele sabia que aquilo era entorpecente e ele 
fumou porque quis. A leitura equivocada dele deu-se com relação à licitude de seu ato. Se 
era evitável ou não, vai depender da análise do caso concreto. 
 Nosso CP adotou a teoria limitada da culpabilidade Essa teoria faz uma distinção 
entre as modalidades de erro. Quando agente erra seja com relação à realidade, 
acreditando que há uma situação fática que não existe, esse erro dele será um erro de tipo. 
Ora se o erro de um agente acerca dos elementos de um tipo permissivo é erro de tipo, 
significa dizer que aquele que atua em descriminante putativa poderá incorrer no chamado 
erro de tipo. Existe entretanto uma outra hipótese em que o erro será de proibição. 
Segundo essa teoria quando ele será de proibição? 
Erro de proibição indireto - Quando o agente atua amparado por uma causa de 
permissão inexistente. É o caso por exemplo daquele sapateiro que coloca uma placa em 
sua loja dizendo que a mercadoria que não for resgatada em trinta dias será vendida para 
cobrir os custos. Aquele sapateiro acha que pode fazer isso, mas não pode. Não existe 
nenhuma autorização legal para isso. Se ele efetivamente vender o sapato que alguém 
deixou lá para consertar, ele pode estar praticando um delito. Ele estará em erro de 
proibição. Ele acredita estar amparado por uma causa de justificação que não existe. Ele 
pode, por exemplo, achar que está amparado pelo exercício regular do direito. 
Outra hipótese de erro de proibição indireto é aquela em que o agente excede os limites 
de uma verdadeira causa de exclusão. Alguém por exemplo está efetivamente em legítima 
defesa, porém, por analisar mal os requisitos, acredita que pode agir para além do 
necessário para sua defesa. Ele acha que a partir do momento em que se viu agredido pode 
reagir e que essa reação não precisará parar no momento em que a agressão que sofria for 
interrompida. 
 
Desvios causais: 
“A” reage a uma injusta agressão de “B” e acaba atingindo “C”. Estando caracterizada a 
legítima defesa de A com relação à B, esse desvio no curso causal, indo atingir C, vai 
implicar na punição de A? 
Não, porque ao lado dos erros essenciais existem quatro modalidades de erro acidental. 
São chamados erros acidentais, pois irrelevantes. Não trazem relevância à punição do 
agente. 
O primeiro é o erro sobre o objeto: 
Esse é aquele que incide no objeto material do delito. A coisa ou pessoa sobre a qual 
recai a ação delituosa. No crime de furto o objeto material é a res furtiva. Querendo furtar 
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uma bolsa, me equivoco e furto uma bolsa parecida. Esse erro é irrelevante, pois o art. 155 
diz “furtar coisa alheia”, qualquer que seja essa coisa alheia, não importando a que o 
agente efetivamente desejava furtar. 
 
A segunda modalidade é o erro sobre a pessoa: 
Nessa modalidade o equívoco do agente não está sobre o objeto material, mas na 
pessoa que o agente deseja atingir. Há um erro sobre a identificação da vítima. O agente 
acredita estar diante da vítima pretendida, quando na verdade está diante de uma outra 
pessoa. Esse erro também é irrelevante, já que o CP, por exemplo, no crime de homicídio: 
“matar alguém”, matar qualquer pessoa, não importa quem, por tal motivo esse erro é 
também irrelevante. 
A terceira modalidade é o chamado erro na execução: arts. 73 e 74 do CP. 
O erro na execução é um erro que também atinge a vítima, mas tem uma diferença. No 
erro sobre a pessoa, o agente confunde as pessoas, enquanto que no erro de execução há 
um desvio no curso causal, a vítima pretendida também está na cena delituosa, mas o 
agente erra na execução. Não há equívoco quanto à identidade da vítima. 
Os arts. 73 e 74, c/c o art. 20, § 3º, pregam a irrelevância desse erro. Nessas hipóteses 
considera-se a conduta que o agente desejava praticar e não a que foi praticada. No 
exemplo que foi dado, mesmo que A atinja C, se estava acobertado por legítima defesa, 
ainda assim deve ser reconhecida esta, sendo, portanto, excluída a ilicitude de sua conduta. 
O resultado diverso do pretendido é a quarta modalidade de erro acidental. 
A diferença do erro na execução para o resultado diverso do pretendido é que no 
primeiro ocorre um desvio no golpe. Desvio no curso causal. Exatamente o que o ocorre no 
segundo, mas nesse se acaba por praticar crime diferente do pretendido. No resultado 
diverso do pretendido há um desvio no golpe, que acaba resultando um desvio no crime. 
“A” pretendendo atingir uma pessoa acaba por atingir um objeto, ou vice-versa. Nessa 
hipótese se o agente estiver sobre o amparo da legítima defesa, ao atingir um objeto, da 
mesma forma deverá ser reconhecida a excludente da ilicitude. 
ESTADO DE NECESSIDADE 
O estado de necessidade reside em uma colisão de dois interesses legítimos. Poder-se-ia 
dizer que no estado de necessidade não há ninguém errado. Todos os personagens agem 
licitamente. O problema é que uma causa humana ou proveniente da natureza pode 
desencadear um fator de perigo. Em razão dessa situação de perigo e reconhecendo o 
Estado que não pode estar presente em todos os momentos e lugares, permite-se que 
todos os interesses em jogo se confrontem para que saia um deles vencedor. 
No estado de necessidade, em regra, nenhum dos personagens envolvidos na luta pela 
defesa do seu interesse provocou o perigo. De qualquer maneira, ainda que algum dos 
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personagens seja o causador da situação de perigo, terá o direito de defender o seu 
interesse. 
São requisitos para o estado de necessidade: 
A existência de um perigo atual: 
É importante se determinar a noção de perigo. Na legítima defesa, o legislador fala em 
“agressão injusta”, no estado de necessidade o legislador fala em “perigo atual”. O perigo é 
um estado antecedente ao de dano. Quando o legislador diz que surge o estado de 
necessidade em qualquer situação de perigo, ele não está exigindo que o agente já se 
encontre em situação de dano ou lesão a seu interesse. Pode-se dizer que o perigo é a 
iminência de dano. Presente este dano iminente o agente pode invocar o estado de 
necessidade. 
 O perigo deverá ser atual. Na legítima defesa o legislador usou as expressões “atual ou 
iminente”. No estado de necessidade o legislador só usa a expressão “atual”. Na verdade o 
legislador trocou a expressão, que na legítima defesa é agressão, pela expressão “perigo”. 
Portanto, perigo é ameaça de dano. 
2 - não provocação voluntária do perigo: 
Quanto a esse requisito existe discussão na doutrina sobre o que significa a expressão 
“voluntariamente”. Para a maioria da doutrina essa expressão do art. 24 significa dolo. 
Portanto, substituindo-se a expressão voluntariamente por dolosamente, chegar-se-ia a 
conclusão de que aquele que provocou dolosamente o perigo, não poderia se valer do 
estado de necessidade. 
3 - inevitabilidade do comportamento lesivo: 
O estado de necessidade decorre de um confronto de dois ou mais bens jurídicos, 
estando todos tutelados pelo ordenamento. Um dos requisitos para se caracterizar o 
instituto é a necessidade de que quem o alega, somente o faça se não tiver outro meio de 
afastar o perigo. Esse requisito difere da legítima defesa. Na legítima defesa, ao contrário, 
não se têm dois interesses
legítimos, em que um terá que ser destruído para que se 
preserve o outro, mas um legítimo e o outro não. Em razão dessa distinção, o legislador não 
exigiu do agente que ele pudesse de outra forma enfrentar o perigo, ou seja, presente a 
agressão injusta, a vítima poderá sempre reagir, ainda que ela pudesse fugir do local. 
No estado de necessidade isto não ocorre. Se a fuga é um meio para que se evite a 
causa do dano, o agente deve se afastar do local. No estado de necessidade há um maior 
rigor do legislador, pois todos os bens envolvidos são tutelados pelo ordenamento. Se todos 
são tutelados, só deve se chegar a uma situação de estado de necessidade quando não haja 
outro meio de se salvar o bem jurídico. Esse requisito faz surgir a hipótese de estado de 
necessidade recíproco, o que não é possível na legítima defesa. 
4 - inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado: 
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Esse requisito pode ser resumido na proporcionalidade na ação. É necessário que ao agir 
o agente sopese, avalie os interesses em jogo, ou seja, para que se salve um objeto 
patrimonial, não se pode sacrificar a integridade física ou a vida humana. Aqui, como na 
legítima defesa, é preciso que se faça uma avaliação dos bens em perigo, para que se saiba 
que o bem preservado seja, no mínimo, de igual valor ao bem sacrificado. 
 
5- é idêntico ao da legítima defesa, no que diz respeito à titularidade do direito a ser 
preservado: 
Também nesse instituto pode-se alegar estado de necessidade na defesa de interesse de 
direito próprio ou de outrem. Alguns autores entendem prudente que nos casos de bens 
disponíveis, o agente só atue mediante expressa anuência do titular do direito, que pode 
eventualmente preferir suportar o dano.Outros autores, por exemplo, como Fernando Capez 
acham que não há a necessidade de se aguardar o consentimento do titular do bem dos 
bens disponíveis, pois sempre há uma presunção de interesse do titular na preservação de 
seus bens, portanto, qualquer um poderia agir na defesa desse interesse alheio e 
disponível. 
 
6 - finalidade de salvamento: 
A finalidade de salvamento decorre da estrutura da teoria do delito. Como as causas de 
justificação estão impregnadas pelo aspecto subjetivo, também nelas é preciso que se 
comprove a finalidade valorosa. Se o que importa para que se puna alguém, é que a 
conduta se mostre desvalorada, também para se isentar a conduta deverá ser valorosa. 
Esse requisito revela a necessidade de se indagar se o agente, além de preencher os 
requisitos de ordem objetiva, também tinha a finalidade de salvamento, ou seja, pretendia 
agir em Estado de necessidade. 
Há um exemplo do cachorro que late a noite toda, e o vizinho atira para matá-lo, 
descobrindo-se que por coincidência o animal estava para morder uma criança. Nessa 
situação não se pode afirmar ou reconhecer o estado de necessidade, pois a despeito de 
cumprir os requisitos de ordem objetiva, a finalidade do agente não era de salvamento, 
portanto, recusa-se a doutrina a reconhecer o estado de necessidade nessas situações. 
 
7- ausência de um dever de enfrentar o perigo: 
Só pode alegar o estado de necessidade a pessoa cuja função não tinha, dentre as suas 
atribuições, a obrigação de enfrentar situações de perigo. O art. 24, §1º dispõe que essas 
pessoas não podem alegar em seu benefício o estado de necessidade, devendo enfrentar o 
perigo. Em regra, o bombeiro ou policial não podem, a pretexto do perigo inerente àquela 
atividade, recusar-se. 
 
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ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 
O estrito cumprimento do dever legal decorre de uma noção de harmonia no 
ordenamento. Nenhuma norma deve conflitar com outra. As normas vigentes em um 
ordenamento devem ser compatíveis. Não se pode admitir que em um mesmo ordenamento 
haja uma norma que determine a atuação de um agente público para cumprir um dever 
legal, e outra que considere essa atuação uma prática criminosa. 
A primeira exigência é que seja um agente público ou particular em exercício de função 
pública. A segunda exigência é que o dever seja emanado de lei ou norma de amplitude 
geral. Não pode se escorar nesse instituto, uma pessoa que diz estar agindo por 
determinação a uma norma de natureza privada. 
 
 
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 
O exercício regular de direito parte do mesmo pressuposto de harmonia no ordenamento 
jurídico. Não se pode admitir que no mesmo ordenamento, de um lado se permita o 
exercício de um direito e de outro se puna o exercício, pois viola uma norma penal. Aquele 
que exercita regularmente um direito, não pode ser punido por esse exercício. 
 No exercício regular do direito se tem uma aplicação mais ampla que o estrito 
cumprimento do dever legal. Nesse, a norma deve ter caráter genérico, só podendo 
alcançar os agentes públicos ou particulares em função pública. No exercício regular do 
direito não há essa restrição, portanto, pode alegar exercício regular de direito não só 
aquele que exercita um dever outorgado por lei, como pode também alegar o exercício 
regular de direito aquele que o faz em decorrência de uma convenção particular. É o caso 
das lesões provenientes de competições desportivas ou intervenções médicas e cirúrgicas. 
Algumas observações devem ser feitas. É preciso que o exercício seja regular. Se o 
agente extrapola o que a norma autoriza, irá responder pelo excesso. Outra questão diz 
respeito às condutas culposas, não é somente aquele que extrapola dolosamente a norma 
que será punido, mas também o que extrapola culposamente... 
 
Ofendículas 
Ofendículas são aparatos predispostos para a defesa em regra do patrimônio (elas 
podem ser usadas para a defesa de qualquer direito). Quais são os eventos desses 
chamados ofendículos? São os cacos de vidro, as pontas de lança no alto de muro, as 
grades, enfim tudo aquilo que de alguma maneira se preste à defesa do patrimônio e que 
possa como o próprio nome diz ofender aquele que pretenda causar uma lesão a esse 
direito. 
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O complicador no que tange as ofendículas é a definição de sua natureza jurídica. Tem 
duas correntes doutrinárias. Alguns autores entendem que as ofendículas são uma hipótese 
de exercício regular de direito, ou seja, aquele que predispõe defesa mecânica ou física para 
a tutela de seus interesses está no exercício regular no direito, por exemplo, de defesa de 
sua propriedade. 
Para outros autores, isso é legítima defesa. Essas hipóteses de ofendículas são hipóteses 
de legítima defesa pois eles só atuam na ocorrência de agressão. O caco de vidro ou a 
ponta de lança no alto do muro só vai ofender aquele que pretenda lesionar seu direito. 
Não há entre essas duas correntes uma que se possa dizer que seja majoritária. A 
doutrina está dividida com relação à natureza jurídica das ofendículas. Só há uma 
convergência nesse assunto que diz respeito aos chamados aparatos predispostos. Qual a 
diferença entre os aparatos predispostos e os outras ofendículas? A doutrina cita o exemplo 
dos aparatos mecânicos ou elétricos que atuam na ocorrência ou na iminência de uma 
agressão (cerca eletrificada, portas com maçaneta eletrificada, etc.). Nesses casos, em que 
os aparatos são ocultos e só atuam no caso de uma efetiva agressão, a doutrina é unânime 
ao afirmar que a hipótese é de legítima defesa pré-ordenada. 
É claro que nessas hipóteses há que sempre ressalvar a ocorrência de excesso. O agente 
que predispõe
esse tipo de aparato e dá ensejo à ocorrência de um resultado contra alguém 
que não estava pretendendo lesionar o seu direito, vai responder pelo crime. Irá responder 
pelo crime aquela pessoa que eletrifique um muro ao redor de sua propriedade, apesar 
desse muro dar acesso à parte externa (calçada), na ocorrência de um incidente como o de 
uma velhinha que tropeça e cai em cima do muro vindo a morrer eletrificada. O agente vai 
responder pelo resultado que ele causar, a título de dolo ou culpa, conforme as 
circunstâncias. De qualquer forma, tendo esse resultado atingido o inicial agressor, ocorrerá 
a legítima defesa pré-ordenada. Qualquer tipo de aparato de defesa que atinja terceiro 
inocente, quem o colocou ali irá responder. Um exemplo dessa hipótese é aquele em que 
uma pessoa coloca um arame farpado ao redor da piscina de sua casa o que acaba por 
provocar ferimentos em crianças que tentavam entrar para nadar (não há agressão injusta 
das crianças). Ele responderá pelo menos a título culposo pela lesão que ele causar às 
crianças. As ofendículas só vão isentar seja como exercício regular de direito seja como 
legítima defesa quando se voltem contra o agressor injusto. 
 
CULPABILIDADE 
 
Primeiramente, cabe diferenciar os momentos em que se afere a culpabilidade no direito 
penal. 
Podemos falar do princípio da culpabilidade, pelo qual ninguém responde por um crime 
sem ter agido com dolo ou culpa, que pela teoria finalista estão presentes na conduta, sem 
os quais, ocorre a atipicidade. 
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Pode-se falar ainda da culpabilidade como circunstância judicial a ser avaliada na 
primeira fase de determinação da pena, permitindo a consideração de diferentes graus de 
reprovação, que deverão ser utilizados pelo juiz para fixação da pena-base. 
Por fim, e em seu aspecto mais amplo, considera-se a culpabilidade como fundamento 
da pena e elemento integrante e essencial do crime. A doutrina majoritária e 
esmagadora considera a culpabilidade como elemento do conceito analítico de crime, 
embora ainda haja posições em sentido contrario, principalmente por parte de Damásio de 
Jesus. 
Considerando a culpabilidade como elemento do conceito de crime, aquele que adquire 
produto de crime praticado em concurso com um inimputável, responde por receptação? 
Esse é um dos principais argumentos da corrente que não adota a culpabilidade como 
elemento do crime, mencionando que nesse caso o agente não responderia pela receptação. 
No entanto, adotando-se a teoria da acessoriedade limitada, para que haja a participação, 
basta que o fato seja caracterizado como um injusto penal, ou seja, um fato típico e ilícito, 
para que o partícipe seja chamado a responder. 
 
1 – elementos da culpabilidade 
- imputabilidade 
- potencial consciência da ilicitude 
- exigibilidade de conduta conforme o direito 
 
 
DA INIMPUTABILIDADE 
 
artigo 228, CF 
artigo 27 do CP 
As normas acima dispõem acerca da inimputabilidade do menor de 18 anos, fixada 
por caráter puramente biológico, estabelecendo que a eles se aplica a legislação especial. 
Tal lei a ser aplicada é o estatuto da Criança e do Adolescente – lei 8069/90. 
A prova da menoridade, a princípio, se dá por documento hábil. Na dúvida, pode ser 
solicitado exame médico ósseo, para comprovação da idade do agente. 
O ECA, em seu artigo 2o, define que criança é o ser humano com até 12 anos 
incompletos. Adolescente é aquele a partir dos 12 anos completos até os dezoito anos 
incompletos. 
Criança e adolescente não praticam crime, mas ato análogo a crime, denominado de ato 
infracional. As consequências desse ato são diversas, conforme se trate de criança ou 
adolescente. À criança que pratica ato infracional, se imporá medida protetiva (artigo 101 
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do ECA). Ao adolescente que pratique ato infracional, se imporá medida sócio educativa 
(art. 112 do ECA). 
Ressalte-se que o ECA, em seu artigo 104, parágrafo único, adota a teoria da atividade, 
igual à adotada pelo art. 4o. do CP. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou 
da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Dessa forma, se o agente 
pratica o fato típico, quando tem 17 anos e 11 meses, mas o resultado só ocorre quando ele 
já tem 18 anos completos, a ele não se aplicará as disposições do CP, pois na época da 
prática do ato ele era considerado inimputável. 
A doença mental, consoante o artigo 26, caput do CP, é causa de exclusão da 
imputabilidade, assim como o desenvolvimento mental incompleto ou retardado, sempre 
que em virtude dessas situações, o agente for inteiramente incapaz de entender o caráter 
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Não se deve confundir o caput do artigo 26 com o seu parágrafo primeiro. O caput trata 
de inimputabilidade, ao passo que o parágrafo primeiro trata da semi-imputabilidade. No 
primeiro caso, o agente fica isento de pena. Ele é absolvido e a ele é aplicada uma medida 
de segurança. No segundo caso, o agente é condenado, mas pela semi-imputabilidade, a 
pena é reduzida. 
Diz o artigo 28 que a emoção e paixão não excluem a imputabilidade penal. Quis o 
CP possibilitar a punição dos chamados crimes passionais. 
Embora não sejam causas de inimputabilidade, o CP não deixou de os valorar. A violenta 
emoção é prevista como circunstancia atenuante (art. 65, III, c, CP) quando o agente 
comete o fato sob a influencia de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima. 
O artigo 28, II, CP, dispõe que não excluem a imputabilidade a embriaguez 
voluntária ou culposa, pelo álcool ou substancia de efeitos análogos. 
Primeiramente, para conseguirmos visualizar se a embriaguez pode ou não excluir a 
imputabilidade, faz-se necessário analisarmos todas as hipóteses de embriaguez: 
Embriaguez voluntária – é aquela em que o agente quer beber com a finalidade de se 
embriagar 
Embriaguez culposa – o agente bebe voluntariamente, mas ele não tem a intenção de se 
embriagar, embora inobserve o seu dever de cuidado e acabe se embriagando. Ele bebe 
voluntariamente e fica bêbado culposamente. 
Embriaguez preordenada – o agente bebe para ficar embriagado, para cometer o crime. 
Embriaguez patológica – é causada por doença. O agente está bem, até que ingere certa 
quantidade (pequena) de álcool ou substancia de efeitos análogos. Não está embriagado, 
mas age como se estivesse. O exame médico legal dá negativo. 
Embriaguez proveniente de caso fortuito – caso fortuito é o evento atribuído ao acaso. 
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Embriaguez proveniente de força maior – força maior é a que provêm do homem. É 
utilizado certo constrangimento em face do agente para que ele fique embriagado. 
Agora que já vimos cada caso de embriaguez, analisemos suas conseqüências: 
Embriaguez voluntária e culposa – artigo 28, II – não isentam o réu de pena 
Embriaguez preordenada – é circunstancia agravante – art. 65, II, l, CP 
Embriaguez proveniente de caso fortuito ou forca maior – se for completa e ao tempo da 
ação, o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento, ficará isento de pena – art. 28, parágrafo 
1o. 
Se o agente não possuía a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento, a pena será reduzida de um a dois terços. 
Quanto à coação irresistível, prevista no artigo
22 do CP, ela pode ser física ou 
moral. A primeira é chamada de vis absoluta, ao passo que a segunda é chamada de vis 
compulsiva. 
A coação física irresistível exclui a vontade, tornando o fato atípico. Vimos que o 
dolo é a vontade livre e consciente. Se há uma coação física irresistível, não se pode falar 
em vontade livre e consciente. 
Já a coação moral irresistível exclui a culpabilidade, pela falta de um de seus 
elementos, qual seja, a exigibilidade de conduta conforme o direito (chamada de 
exigibilidade de conduta diversa, por alguns). Nesse caso, a vontade do agente é viciada, 
sendo punível apenas o autor da coação. Trata-se de autoria mediata. 
Em caso de obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal, só é 
punível o autor da ordem. Já se a ordem for manifestamente ilegal, também é punível o 
inferior hierárquico. O subordinado só será punido se percebe que a ordem constitui um ato 
ilícito, diante das circunstâncias por ele conhecidas. Se presentes indícios suficientes para 
que ele perceba a ilicitude e ainda assim, ele não percebe, também será responsabilizado. 
Cumprindo ordem manifestamente ilegal, o subordinado responde em co-autoria com o 
superior hierárquico. 
 
CONCURSO DE CRIMES (dentro do tema Penas) 
 
1 - Concurso Material – art. 69 
 
 Quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão (pluralidade de 
condutas) pratica dois ou mais crimes (pluralidade de crimes). Os crimes podem ser 
idênticos ou não. Adota o sistema do cúmulo material. 
 
 O que seria pluralidade de condutas? Como diferenciar pluralidade de 
condutas da pluralidade de atos? 
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 Conduta é comportamento humano voluntário voltado a uma finalidade – 
conceito finalista. 
 
 Quando um agente dá cinco pauladas em uma pessoas ela pratica uma 
conduta dividida em cinco atos. 
 
 2 - Concurso Formal – art. 70 
 
 Distingue-se do material porque aqui há uma única conduta e com ela o agente 
pratica vários crimes idênticos ou não. Será homogêneo se os crimes forem idênticos ou 
heterogêneo se diferentes. 
 
O formal próprio adota o sistema da exasperação – art. 70, 1 parte. O legislador 
aqui foi mais brando porque a vontade do agente não foi a de realizar vários resultados. O 
que justifica o tratamento mais brando do que no concurso material é a unidade de 
desígnio, ou seja, de querer realizar um só resultado e não vários. O abrandamento não 
ocorre em razão do agente atuar com apenas uma conduta enquanto que no material ele 
realiza várias. 
 
Regra: os dois crimes tem que ocorrer a título de culpa. ex.: no trânsito atropela e 
mata duas pessoas. Também quando o primeiro crime decorre de dolo e o segundo de 
culpa, como ocorre na aberratio ictus ou aberratio criminis com duplo resultado. 
 
Se o agente tiver desígnios (vontade/desejo/ fim almejado/ objetivo) autônomos, ou 
seja, atuar com dolo em cada um dos crimes querendo praticar vários resultados, o 
concurso será o impróprio/imperfeito e o sistema a ser adotado será o do cúmulo 
material – art. 70, 2 parte. A regra então é que será impróprio quando os crimes são todos 
dolosos. Pergunta-se: esse segundo crime também abrange o dolo eventual? Doutrina: 
para Capez e Patrícia Glioche será impróprio se houver dolo, seja ele direto ou eventual; 
para Fragoso só será impróprio se houver dolo direto em todos os crimes. 
 
Por que que em um assalto dentro do ônibus o agente responde em concurso formal 
próprio? Para a doutrina, se o agente assalta várias pessoas ele tem dolo em assaltar cada 
uma delas, e portanto o concurso deveria ser impróprio com cúmulo material, o que é 
bastante grave. Tecnicamente esse é o entendimento correto. Ocorre que por questões de 
política criminal a juris utiliza-se de um jogo de palavras para aplicar o sistema da 
exasperação, afirmando que o dolo do agente é de assaltar o ônibus e não de assaltar 
várias pessoas, portanto, não haveria desígnio autônomo. Entende-se que há única 
conduta com vários atos – isso quando o agente anuncia o assalto para todos. Se o agente 
senta ao lado de um passageiro e rouba-o, depois senta do lado de outro e assim vai indo, 
pratica crime continuado e não concurso formal. 
 
Em um edifício entende-se que ao entrar em cada uma das unidades o agente 
pratica uma conduta. Portanto ele pratica crime continuado. 
 
 
3 – Multa 
 
Art. 72: as penas de multa nos concursos não sofrem a exasperação, ou seja, são 
aplicadas distinta e integralmente. Aplicação do sistema do cúmulo material mesmo nos 
crimes formais próprios. 
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 4 - Crime continuado – art. 71 CP 
 
 Requisitos: 
 
 i) Mais de uma ação ou omissão 
 
 ii) Pratica dois ou mais crimes da mesma espécie: o que são crimes da mesma 
espécie? Majoritário: são crimes que protegem o mesmo bem jurídico, a vida, o patrimônio 
etc. 
 
 No STF são da mesma espécie aqueles previstos no mesmo tipo. 
 
 iii) Mesmas condições de tempo: a doutrina e juris estabelecem como parâmetro 30 
dias. 
 
 iv) Mesmas condições de lugar: proximidade. Em Estados diferentes não haverá 
continuidade. Mas se dentro de um mesmo Estado, em Municípios diferentes poderá haver 
ou não. 
 v) Modus Operandi: se o agente atua com parceiros diferentes nos crimes, o modus 
operandi já não é o mesmo. 
 
 Parte da doutrina entende que o elemento subjetivo é desnecessário. Outra parte 
da doutrina exige o dolo total também chamado de programação inicial. Ainda que não 
haja a programação inicial, se o crime seguinte decorrer do primeiro haverá continuidade, 
também quando o agente se aproveita das circunstâncias do primeiro para efetuar o 
segundo, ex, o agente vai roubar um cofre e lá dentro há um bilhete dizendo que o resto do 
dinheiro está em outro Município e o agente vai lá furtá-lo. Desconsiderar esse elemento é 
incentivar o delinqüente habitual. A continuidade foi feita para beneficiar o delinqüente 
eventual devendo o habitual ser punido mais severamente e não o contrário. 
 
 Art. 71, par. 1: permite ao juiz que triplique a pena se os crimes forem dolosos, 
contra vítimas diferentes e praticados com violência ou grave ameaça. Pode ser aplicado no 
roubo continuado por ex. 
 
DAS PENAS 
 DOSIMETRIA DA PENA 
O art. 68 dispõe acerca do cálculo da pena, estabelecendo o critério trifásico para sua 
aplicação. 
A dosimetria da pena, ou seja, sua aplicação, deve ser feita de acordo com o critério 
traçado pelo art. 68 do CP. Primeiramente são consideradas as circunstâncias do art. 59, as 
denominadas circunstâncias judiciais. Posteriormente, as circunstâncias agravantes e 
atenuantes (circunstâncias legais genéricas – art. 61 a 66 do CP), e por último as causas de 
aumento e de diminuição. 
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A pena base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59, em seguida serão 
consideradas atenuantes e agravantes (pena intermediária) e por último, as causas de 
aumento e diminuição. Expressamente, o código adotou o critério trifásico. 
O critério é trifásico. 
Passemos à análise de cada uma das fases da dosimetria da pena, a serem realizada 
pelo magistrado ao proferir uma sentença condenatória: 
 
4.1. 1a fase – pena base 
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta 
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e 
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, 
estabelecerá, conforme seja

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