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A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS 2016

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FACULDADE DE DIREITO DE FRANCA
A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS
NATUREZA DE SEU OBJETO
IMPORTÂNCIA
FINALIDADES
ASPECTOS HISTÓRICOS
ASPECTOS NORMATIVOS
ASPECTOS PEDAGÓGICOS.
2016
A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS: NATUREZA, IMPORTÂNCIA, FINALIDADES, ASPECTOS HISTÓRICOS, NORMATIVOS E PEDAGÓGICOS.
1. NATUREZA DO OBJETO DA INTRODUÇÃO AO DIREITO
1.1. CARÁTER ENCICLOPÉDICO
A Introdução ao Direito não é uma ciência específica, mas uma disciplina de caráter enciclopédico, pois, apresenta conhecimentos científicos de natureza jurídica, sociológica, histórica, psicológica etc., conhecimentos filosóficos, envolvendo também, aspectos técnicos e artísticos, que introduzem o aluno no mundo da ciência jurídica. Não possui, no dizer de Maria Helena Diniz, “um prisma próprio para contemplar o direito, fazendo as vezes de filosofia jurídica, quando procura expor os conceitos universais do direito, que constituem os pressupostos necessários de quaisquer fenômenos jurídicos; de dogmática jurídica, quando discute normas vigentes em certo tempo e lugar e aborda os problemas da aplicação jurídica; de sociologia jurídica, quando analisa os fatos sociais que exercem influência na seara jurídica, por intervirem na gênese e desenvolvimento do direito; de história jurídica, quando contempla o direito em sua dimensão temporal, considerando-o como um dado histórico-evolutivo que se desenrola através dos tempos; de psicologia jurídica ou forense, quando coloca à disposição do jurista e do aplicador valiosos estudos sobre a natureza do comportamento humano, abordando problemas da psicologia normal e patológica; de política jurídica, quando estuda a organização do Estado, envolvendo a origem, a função e a atividade do Estado desenvolvida para atingir os fins da coletividade. ” Não apresenta, portanto, um campo autônomo e próprio de pesquisa, carecendo de objeto e método próprios, não sendo, pois uma ciência na verdadeira acepção da palavra.
Em entrevista ao Jornal do Advogado, publicada em agosto de 2001, o advogado criminalista Waldir Troncoso Peres, já falecido, assim definiu a advocacia, realçando seus aspectos artísticos e técnicos: “a advocacia é a conjunção de uma sensibilidade estética, de uma capacidade de ser artista, de ter a eloqüência e a força do artista, além do conhecimento técnico”. Entendemos que tal opinião também se aplica aos demais operadores do Direito e realça os aspectos técnicos e artísticos, que envolvem a ciência jurídica.
1.2. CARÁTER PROPEDÊUTICO
A Introdução ao Direito é um sistema de conhecimentos essencialmente propedêutico ao ensino dos vários ramos do saber jurídico, introduzindo gradativamente o aluno egresso do Ensino Médio (antigo 2º grau), no mundo jurídico que se inicia no primeiro ano do Curso de Direito. Cabe ao professor desta disciplina, no dizer de Miguel Reale, compor artisticamente os dados dos diferentes ramos do saber, formando um todo organizado e unificado, atendendo a um objetivo de natureza pedagógica, ou seja, à unidade deste sistema de conhecimentos, logicamente ordenados. 
1.3. CARÁTER EPISTEMOLÓGICO
Esse sistema de conhecimentos, recebido de múltiplas fontes de informação, compõe uma disciplina que além de apresentar caráter enciclopédico e propedêutico é também epistemológica, por fornecer aos interessados uma visão sintética da ciência jurídica, por estudar sistematicamente:
a) o que é o Direito, definir e delimitar com precisão os conceitos jurídicos fundamentais utilizados pelos operadores técnicos do Direito;
b) os pressupostos, objeto, método, natureza, etapas, limites e validade do conhecimento jurídico-científico, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível;
c) a evolução das escolas científico-jurídicas que predominaram na história, familiarizando o estudante com as correntes fundamentais do pensamento jurídico;
d) a verificação das relações do Direito com as demais ciências, ou seja, sua situação no quadro geral do conhecimento.
O vocábulo “epistemologia” advém do grego epistême que significa ciência e logos, ou seja, estudo, teoria. Assim, etimologicamente falando, Epistemologia significa teoria da ciência vista sob o prisma filosófico. 
Lalande definia Epistemologia como “o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados de cada ciência”, esclarecendo que tal palavra é freqüentemente empregada para designar toda a “Teoria do Conhecimento” ou “Gnosiologia”. 
 A Epistemologia Jurídica nos informa que tanto na linguagem comum como na linguagem técnica, o vocábulo “direito” é empregado com significações diferentes, como demonstram as seguintes expressões:
 a) O estudo do Direito requer método próprio – nesta expressão, direito significa ciência e o estudo filosófico dessa disciplina científica (ciência jurídica) é um estudo epistemológico – Epistemologia Jurídica. Como vimos, epistemologia é um termo de origem grega - epístême (ciência) e logos (teoria/estudo), que etimologicamente significa “teoria ou estudo da ciência”. Vimos anteriormente o sentido e o alcance deste termo.
 Segundo a civilista Maria Helena Diniz, “a fundamentação filosófica da ciência, é tarefa da filosofia da ciência, ou seja, da epistemologia. Nenhum ramo da ciência pode viver sem filosofia, pois é nela que o cientista vai buscar as linhas mestras que orientam e norteiam o saber científico. Todas as ciências estão em estreito contato com a filosofia, uma vez que possuem princípios gerais, axiomas, pressupostos, que não entram no objeto que investigam, daí a necessidade de uma consideração filosófica que permita justificá-los. Dentro desse teor de idéias, parece-nos útil salientar que uma explicação científica não é filosófica e vice-versa. Os problemas científicos não são idênticos aos da filosofia. Deveras, o encadeamento dos fenômenos, como a ciência os visa descobrir, deixa intacta a questão da natureza profunda do seu objeto, de seu método, de seus pressupostos. Uma explicação crítica sobre o conhecimento de seu método, de seu objeto de estudo, de seus pressupostos ou postulados não nos saberia dar a ciência. Tudo isso, portanto, é tarefa da teoria da ciência, ou seja, da epistemologia.” 
 Não confundir também filosofia ou ciência com doxa (do grego dóksa: opinião, juízo), conjunto de juízos que a sociedade elabora em um determinado momento histórico supondo tratar-se de uma verdade óbvia ou evidência natural, mas que para a filosofia não passa de crença ingênua, a ser superada para a obtenção do verdadeiro conhecimento. Segundo Leibniz (1646-1716), Doxologia se refere a uma compreensão meramente superficial da realidade, já que se restringe a uma reprodução irrefletida de sua aparência, como por exemplo, quando digo que o sol nasce ou se põe, a despeito da teoria de Copérnico.
 b) A educação é direito da criança – aqui “direito” significa o “que é devido por justiça”, ou quando afirmo que “não é direito condenar um anormal”, estou querendo dizer que condenar um anormal não está de conformidade com a justiça. 
 O estudo do Direito como justo ou valor, pertence ao campo da Axiologia Jurídica (do grego axis: precioso, valioso e logos: estudo, teoria), significando Teoria Crítica dos Valores Jurídicos. Frederico Nietzsche (1844-1900) cunhou e fez circular na linguagem filosófica o termo “valor”.
 Na acepção de direito como justo, como vimos, distinguimos dois sentidos, ambos relacionados com o conceito de direito como justiça: a) direito designando o bem devido por justiça – Ex: O salário é direito do trabalhador (o salário é devido por justiça). Nesse sentido, o respeito à vida é devido a todo homem, o pagamento é devido ao vendedor, a aposentadoria é devida ao empregado, o imposto é devido ao Estado.
 A definição de Santo Tomás de Aquino (1225-274), extraída de sua obra De Justitiase refere a esse sentido: “o direito é o que é devido a outrem, segundo uma igualdade”. Também se filia a esse sentido, o famoso conceito de Ulpiano (150-228), constante do Digesto, parte integrante do Corpus Iuris Civilis - trabalho legislativo de recompilação e reorganização das leis romanas, confiado a um colegiado de dez juristas dirigido por Triboniano, empreendido por Justiniano (Imperador Romano do Oriente – 483-565): “Justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o seu direito”. “Justitia est constans et perpétua voluntas jus suum cuique tribuendi”; b) direito com o significado de “conformidade com a justiça” – Ex: Não é direito discriminar os índios, condenar um anormal Nesta expressão verbal quero dizer que discriminar os índios ou condenr um anormal “não é conforme a justiça”.
 Na definição de Liberatore, encontramos o direito com o significado ”de conformidade com a justiça”: “direito é tudo o que é reto, na ordem dos costumes”.
 c) O direito não permite o duelo (3ª expressão) – na 3ª expressão apresentada, direito significa norma, lei, regra social obrigatória e tal estudo pertence ao campo da Dogmática Jurídica, que muitos autores denominam de “Direito Objetivo” em oposição ao “Direito Subjetivo” ou “direito-faculdade”, que é sempre uma prerrogativa do sujeito (subjectum), denominação imprópria, porque outras acepções do direito como justo ou fato social, são também objetivas e não apenas a lei.
 Várias definições referem-se à acepção do Direito como lei e dentre elas, citamos a de Clóvis Beviláqua, que em sua Teoria Geral do Direito Civil, conceitua o Direito como: “uma regra social obrigatória”, a de Ihering, que considera o Direito como: “um conjunto de normas coativamente garantidas pelo poder público” ou a de Radbruch, que define o Direito como “o conjunto de normas gerais e positivas, que regulam a vida social dos indivíduos”.
 Direito nesta acepção de norma ou lei, indica realidades diferentes, quando se refere ao Direito Positivo, que compreende: o Direito Objetivo, do qual deriva o Direito Subjetivo, que estudaremos na 4ª expressão verbal (direito como faculdade), o Direito Estatal e o Direito não estatal; o Direito Público, o Direito Privado e o Direito Misto, como entendem alguns doutrinadores atualmente .O Direito Público, o Direito Privado e o Direito Misto serão tratados, quando estudarmos as finalidades da Introdução ao Direito ( 1ª finalidade). 
 Direito Positivo – constituído pelo conjunto de normas jurídicas (legais e consuetudinárias) vigentes, elaboradas por uma determinada sociedade, num espaço de tempo, para reger a sua vida interna, impondo às pessoas naturais ou jurídicas, através da força pública ou social, coação ou sanção. Com fundamento nesta conceituação, o Direito Positivo não pode ser confundido com o Direito Natural, que abordaremos posteriormente.
 Podemos conceituar o Direito Positivo como o direito efetivamente observado em uma comunidade, ou seja, o direito efetivamente aplicado pelas autoridades do Estado e pelas organizações internacionais, seja na forma legislada e voluntária, seja na consuetudinária, inconsciente e indeterminada, sem autoria, paternidade.
 No dizer de Paulo Dourado de Gusmão, melhor precisando sua conceituação, é o “direito histórica e objetivamente estabelecido, efetivamente observado, ou então, passível de ser imposto coercitivamente”, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, resoluções, regulamentos, decretos, decisões dos tribunais, etc, cuja existência não é contestada por ninguém, segundo Ripert.
 Maria Helena Diniz define o Direito Positivo como o conjunto de normas estabelecidas e garantidas pelo poder político que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada época.
 O sentido que se dá ao termo positivo não é o de valor, mas sim o de existência material, isto é, o direito materialmente existente, regulando as relações intersubjetivas de natureza jurídica de um determinado povo, numa determinada época. É o direito que o Estado aplica, garante e confere coercibilidade.
 O Direito Positivo tem uma dimensão temporal, pois é promulgado, tem vigência a partir de determinado momento histórico, perdendo-a quando revogado e reflete valores, necessidades e ideais de seu tempo. Tem uma dimensão espacial ou territorial, pois vige e tem eficácia em determinado espaço geográfico próprio da autoridade que o estabelece, reconhece ou o apóia, sendo também possível a eficácia extraterritorial. Tem também uma dimensão formal, pois é instituído por meio de fonte formal (tratado, lei, decreto-lei, costume, precedente judicial, regulamento, etc), obedecendo a regras de elaboração legislativa, que controlam sua própria criação (autocontrole), as quais não se aplicam à forma consuetudinária de Direito Positivo. Finalmente, tem uma dimensão hierárquica, pois apresenta-se hierarquizado em suas normas, desde as superiores (constitucionais), mais ricas em conteúdo e generalidade e menos numerosas, até as inferiores, menos gerais e mais numerosas, com conteúdos mais particularizados. Alguns juristas colocam ainda, acima de todas as normas do Direito Positivo, os princípios gerais de direito e acima de todo o Direito Estatal, numa espécie de super constituição a Declaração Universal dos Direitos do Homem, estabelecida pela ONU e ratificada pelos Estados-membros.
 Retomaremos a questão da dimensão hierárquica das normas jurídicas do Direito Positivo, quando tratarmos da classificação das normas jurídicas quanto à hierarquia, pois há posições divergentes entre os doutrinadores, quanto à existência de hierarquia entre a lei ordinária e a lei complementar, prevalecendo atualmente na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) a não existência desta hierarquia.
 Direito Objetivo - Segundo Maria Helena Diniz, o Direito Objetivo é o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, prescrevendo uma sanção no caso de violação. 
 O Direito Objetivo restringe-se tão somente à norma escrita (direito legislado) ou não escrita (direito costumeiro), que como vimos anteriormente, é objetivamente representado pela norma agendi, reguladora da conduta humana intersubjetiva.
 O Direito Objetivo (jus est norma agendi), ora se apresenta sob a forma codificada (Código Civil, Código Penal etc.), ora sob a forma consolidada (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT), ou em leis esparsas, como também sob a forma de normas do direito consuetudinário. 
 Direito Subjetivo – Trataremos deste assunto na 4ª expressão – direito como faculdade.
 Direito Estatal – normas jurídicas obrigatórias elaboradas pelo Estado, para reger a vida social, como por exemplo, o Código Civil, a Constituição, o Código Comercial, as demais leis federais, estaduais e municipais, os decretos, etc... .
 Direito não-estatal – normas jurídicas obrigatórias elaboradas por diferentes grupos sociais, pelo poder negocial, gerador de normas particulares.Tais normas jurídicas não-estatais são destinadas a reger a vida interna desses grupos e da atividade negocial, em especial as normas contratuais. Exemplos: estatutos, regimentos, regulamentos, contratos e demais normas que regulamentam a vida de uma universidade, quando elaborados por esta, constituem um direito autônomo (direito universitário); normas e códigos esportivos que regulam, com força obrigatória, a atividade esportiva, inclusive, através de tribunais esportivos (direito esportivo); normas que disciplinam a atividade espiritual de milhões de criaturas católicas (direito canônico), muçulmanas (direito muçulmano), budistas (direito budista), fazem parte do direito religioso; normas trabalhistas derivadas de convenções coletivas, acordos e outras fontes não estatais, exceto a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que foi outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas (Decreto-lei 5452, de 01/05/43).
 d) O Estado tem direito de legislar, cobrar impostos,etc. – nesta quarta expressão “direito” significa a faculdade, o poder, a prerrogativa, que o Estado tem de criar leis e cobrar imposto. O direito-faculdade ou direito-poder pertence à Teoria dos Direitos Subjetivos que se dedica a estudar a faculdade de agir de uma pessoa natural ou física (individual) ou de uma pessoa jurídica de direito público ou privado (coletiva) – a facultas agendi, em oposição ao direito-lei que é uma norma agendi. Exemplo: direito de usar um imóvel, cobrar uma dívida, propor uma ação, o poder familiar exercido pelo pai ou pela mãe (antigo pátrio poder do chefe de família), o direito de legislar ou de punir, de que o Estado é titular.
Quando o termo “direito” é utilizado no contexto de “direito brasileiro”, “direito civil”, estamos nos referindo à expressão “direito objetivo”, à norma agendi, externa e independentemente de atuação subjetiva. Ao contrário, quando o termo “direito” encontra-se impregnado de subjetivismo como nestas expressões “Elisiário tem direito às férias” ou “Virgínia tem direito à pensão alimentícia”, estamos nos referindo ao “direito subjetivo”, à facultas agendi (possibilidade do exercício do direito de agir). 
Nesse sentido Ortolan define o direito como “a faculdade de exigir dos outros uma ação ou inação” e Kant define o direito como “a faculdade de exercer aqueles atos, cuja realização universalizada não impeça a coexistência dos homens”. Assim, conforme o pensamento Kantiano, não seria possível erigir o furto em regra universal, porque tornar-se-ia impraticável a coexistência entre os homens.
 O Direito Subjetivo, segundo Goffredo Telles Jr., é a permissão, dada por meio de norma jurídica válida, para fazer ou não fazer alguma coisa (ação ou inação), para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou através dos processos legais, o cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido, em caso de prejuízo causado por violação de norma,.
 As permissões para casar e constituir família; adotar pessoa como filho; ter domicílio inviolável; vender os seus pertences; usar, gozar e dispor de seus bens; exigir pagamento do que lhe é devido; mover ação para reparação de danos sofridos; prolatar uma sentença, na condição de juiz investido de função jurisdicional; educar seus filhos etc.,são direitos subjetivos.
 As permissões dadas por meio das normas jurídicas podem ser explícitas, se expressas no texto da norma jurídica ou implícitas, quando as normas não se referem a elas de modo expresso, mas regulam o seu uso, por não proibi-lo, tais como as permissões de fazer, de não fazer, de ter e de não ter. Como exemplos de permissões explícitas podemos citar o consentimento dado a maior de idade para praticar atos da vida civil; a permissão aos nubentes, para estipularem, antes da celebração do matrimônio, quanto a seus bens, o que lhes aprouver. Como exemplo de permissão implícita, a permissão de casar, implícita nos artigos do Código Civil, que dispõem sobre as formalidades, impedimentos, celebração, provas, nulidades e efeitos jurídicos do matrimônio, sem mencionar explicitamente a permissão para se casar.
 Goffredo Telles Jr. critica aqueles que afirmam que Direito Subjetivo é facultas agendi, entendendo que as faculdades humanas não são direitos, e sim qualidades próprias do ser humano que independem de norma jurídica para a sua existência, pois o seu uso é lícito ou ilícito, conforme for permitido ou proibido.
 A atividade legiferante, própria do poder legislativo, do poder normativo dos grupos sociais e do poder contratual dos particulares, cria a norma objetiva, de caráter abstrato e genérico, estabelecendo uma regra de comportamento ou de organização. Tal norma objetiva quando entra em vigor traz implicitamente no seu enunciado aquilo que convencionamos chamar de Direito Subjetivo, pois, não há norma de Direito Subjetivo no ordenamento jurídico. Assim, o Direito Objetivo está explicitado na norma e o Direito Subjetivo está implicitado na mesma norma.
O Direito Subjetivo, de conformidade com sua finalidade se subdivide em: direito-interesse – concedido ou reconhecido no interesse de seu titular, como meio de permitir-lhe a satisfação de suas necessidades materiais ou espirituais (direito à vida, à integridade física, à liberdade, direito de usar um imóvel ou reivindicar uma propriedade); direito-função – instituído em benefício de outras pessoas, como o poder familiar, que é conferido ao pai ou à mãe no interesse do filho, o direito de julgar atribuído ao juiz (função jurisdicional) ou de legislar, próprio do legislador (função legiferante), em benefício da coletividade.
 Por fim, cumpre ressaltar que os demais aspectos e elementos do Direito Subjetivo serão abordados numa avaliação complementar, tendo como referencial a obra de André Franco Montoro, Introdução à Ciência do Direito, na parte dedicada à Teoria dos Direitos Subjetivos.
 e) O direito constitui um setor da vida social – nesta última expressão, direito é considerado como fenômeno da vida coletiva, sendo estudado pela Sociologia Jurídica.
Ao realizar o estudo de qualquer sociedade, a Sociologia distingue diversas espécies de fatos sociais (religiosos, econômicos, artísticos, esportivos) e entre eles, o fato jurídico.
Algumas definições de Direito abordam o termo “direito” com mais de um significado. Sob esse aspecto, Gurvitch define o Direito como “uma tentativa para realizar num dado meio social (fato social – Sociologia), a idéia de justiça (Justiça – Axiologia), através de um sistema de normas imperativo-atributivas” (norma – Dogmática Jurídica). Tobias Barreto também se coloca nesta perspectiva, quando define o direito como “o conjunto das condições existenciais e evolucionais da sociedade (fato social – Sociologia), coativamente asseguradas” (norma – Dogmática Jurídica).
 Usamos, também, o termo “direito” com outras acepções secundárias:
 Direito como reto (sentido geométrico – segmento direito)
 Direito como certo (cálculo direito)
 Direito como correto (homem direito – conduta moral)
 Direito como oposto à esquerda (lado direito).
 CONCLUSÕES
 Do conceito analógico de “direito” extraímos as seguintes conclusões:
 a) Direito: conceito análogo – A palavra “direito” não designa apenas uma, mas várias realidades distintas e afins, não sendo possível formular uma única definição de “direito”, mas sim, diferentes definições correspondentes às diversas realidades – direito como ciência, como justo, como norma, como faculdade e como fato social. Desta forma, concluímos que o vocábulo “direito” não é unívoco (se aplica a uma única realidade – Ex: livro, homem), nem equívoco (se aplica a duas ou mais realidades radicalmente diversas – Ex: lente=professor e lente=vidro refratário), mas sim análogo, pois se aplica às diversas realidades afins situadas no mundo jurídico, que apresentam entre si, certa semelhança. Porém, se extrapolarmos o campo jurídico e aplicarmos o termo “direito” indistintamente, o mesmo se torna equívoco, em face das outras acepções secundárias acima descritas.
 b) Diferentes posições não são contraditórias – representam pontos de vista sobre aspectos ou sentidos diferentes de um mesmo objeto e revelam, muitas vezes, a orientação doutrinária ou filosófica de cada autor e de sua época.
 c) Sentido fundamental do Direito atualmente – o atual pensamento jurídico reconhece que o sentido fundamental do Direito, em qualquer de seus aspectos, consiste sempre em estar a serviço da justiça, como observa Gurvitch: “as normas jurídicas podem ser mais ou menos perfeitas, mas não serão “direito” se não estiverem orientadas no sentido da realização da justiça”.
 
2. CONCEITO FILOSÓFICO DE DIREITO 
 
 Podemos conceituar o Direito como uma ordenação coercível, heterônoma, bilateral-atributiva, da condutahumana, na medida do bem comum”.
 Ordenação – Todas as regras sociais ordenam a conduta, tanto as morais como as jurídicas e as convencionais ou de trato social, procurando colocar as coisas e os sujeitos nos seus devidos lugares, estabelecendo o equilíbrio e realizando uma convivência ordenada.
 Coercível – Força organizada pelo Estado no sentido de compelir o cidadão ao cumprimento da norma (coercibilidade). Essa força só é chamada a agir quando é necessário, ou seja, quando o cidadão é inadimplente e neste caso a força coage e dá validade a uma norma jurídica, autorizando ou permitindo ao lesado,exigir do lesador que cumpra a sua parte.
 Heterônoma – Capacidade de transferir ao Estado (povo) o poder de aplicar a força para compelir o cidadão ao cumprimento da norma. O Estado passa a ser detentor do poder de subjugar a vontade do destinatário da norma, no interesse social.
 Excepcionalmente podemos fazer justiça com as próprias mãos, que são as excludentes ao monopólio do uso da força pelo Estado, manifestadas pelos exemplos clássicos de legítima defesa (CP, art. 25), estado de necessidade (CP, art. 24) e o desforço imediato (CC, art. 1.210, § 1º). 
 Bilateral-atributiva – Ninguém busca justiça de si para consigo mesmo. Há duas partes, com exigibilidade recíproca.
 A bilaterlidade e a atributividade significam exigibilidade recíproca no comportamento entre as partes, de direitos e obrigações. Ex: no contrato de compra e venda, quem compra deve pagar e quem vende, deve entregar a coisa vendida.
 Conduta humana – Maneiras de agir de conformidade com a norma.
 Bem comum – Ordenação daquilo que cada homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, ou seja, uma composição harmônica do bem de cada um com o bem de todos.
 O bem comum é o resultado da harmonização da liberdade, paz, justiça, segurança, solidariedade e utilidade social feita pelo juiz ao aplicar a lei ao caso concreto. É a ordem jurídica, pois, como ensina Goffredo Telles Jr., é o único bem que todos participantes da sociedade política desejam necessariamente, uma vez que sem ordem jurídica não há sociedade. Enfim, é o fim da própria vida social, por ser a ratio formalis quae do Direito, que se obtém com a harmonização dos bens particulares com os da comunidade.
 Maria Helena Diniz define o Direito como uma ordenação heterônoma das relações sociais baseada numa integração normativa de fatos e valores, adaptando o conceito de Miguel Reale, onde o Direito é concebido como fato, valor e norma, na sua famosa Teoria Tridimensional do Direito. Por esta teoria o Direito engloba fenômenos sócio-axiológicos e normativos, como se depreende deste exemplo dado por Miguel Reale: ao se interpretar a norma que prevê o pagamento de letra de câmbio na data de seu vencimento, sob pena de protesto do título e de sua cobrança, goza o credor, desde logo, do privilégio de promover a execução do crédito. De modo que se existe um débito cambiário, há de ser pago, e se não for quitada a dívida, deverá haver uma sanção. Como se vê a norma de direito cambial representa uma disposição legal que se baseia num fato de ordem econômica e que visa a assegurar um valor – o valor do crédito – a vantagem de um pronto pagamento com base no que é formalmente declarado na letra de câmbio. Neste exemplo, tem-se um fato econômico que se liga a um valor de garantia para se expressar por meio de uma norma legal que atende às relações que devem existir entre aqueles dois elementos. 
O grande poeta italiano Dante Alighieri, também apresenta o ordenamento jurídico como fundamento inarredável da sociedade, quando afirma: “O Direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que conservada, conserva a sociedade; corrompida, corrompe-a”.
3. CONCEITO DE DIREITO NATURAL
 O Direito Natural é constituído pelos princípios que servem de fundamento ao Direito Positivo, tais como “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é devido”, “a vida social deve ser conservada”, “os contratos devem ser observados”.
 A idéia do Direito Natural vem da mais alta antiguidade, mas foram os filósofos gregos que a formularam com maior clareza, purificando-a dos elementos religiosos que a envolviam e a deformavam.
 Os filósofos gregos (Sócrates, Platão e Aristóteles), através da observação acurada da natureza humana, concluíram que os homens são os mesmos em todos os tempos e lugares e obedecem às mesmas tendências e impulsos, possuindo os mesmos apetites e emoções. Há, assim, um fundo de humanidade comum a todos os seres humanos, que os levam a comportarem-se de maneira idêntica, a adotarem as mesmas formas de conduta em face da vida social, originando daí, leis eternas e universais.
 Apesar da infinita diversidade de leis, costumes e instituições no tempo e no espaço depreende-se um elemento constante, alguns princípios fundamentais que permanecem idênticos para todos os povos. Assim, acima do Direito criado pelo homem (nomos) há um Direito Natural inerente à natureza humana (physis), que os gregos chamavam de “justo por natureza”, em contraposição ao “justo legal” do Direito Positivo elaborado pelos homens.
 Desta forma, antigamente, entendia-se por Direito Natural, o conjunto de princípios atribuídos a Deus, à Razão ou à “natureza das coisas”, criados para reger a sociedade humana.
 Heráclito de Éfeso, autor da tese de que tudo muda, contrariando Parmênides que afirmava que nada muda, conciliados séculos mais tarde por Lavoisier que estabeleceu a verdade científica de que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, afirmava que a verdadeira sabedoria está na obediência à lei divina comum a todos. Filiando-se ao pensamento de Heráclito, Sófocles, em sua Antígona faz sua heroína insurgir-se contra um decreto de Creonte, que proibia o sepultamento de seu irmão, acolhendo a tese das leis eternas, não escritas, acima do tempo e do espaço. “Morto em uma batalha, acusado de traição à pátria, Polinice não pode ser sepultado por ordem de seu tio, o rei Creonte. Desobedecendo aquela ordem, Antígone é surpreendida quando sepultava seu irmão. Interpelada pelo tirano disse-lhe: as ordens que ditava não eram superiores às leis não escritas e imutáveis dos deuses” (Tragédia grega de Sófocles).
 Ainda dentro do pensamento grego, o Direito Natural inspira e sobreordena o Direito Positivo, do qual é modelo perfeito, ainda que imperfeitamente copiado, no dizer de Platão, cuja única realidade é a idéia. Assim, Platão legou ao Direito Positivo, os princípios do Direito Natural, através dos romanos, que assimilaram seu idealismo.
 Entre os romanos, o Direito Natural passou a compreender manifestações comuns à vida gregária, como entreviu Ulpiano, vindo posteriormente a denominar-se jus gentium, direito que compendiava as regras aplicadas por Roma aos estrangeiros, que se identificava com o jus naturale, conforme a expressão do jurista Gaio (século II), que definia o jus gentium como naturalis ratio inter omnes homines constituit.
 Influenciados pelos gregos, os estóicos consolidam no mundo romano a crença de que o Direito encontra seu fundamento na natureza, repousando sobre idéias morais inatas, pois acreditavam que o primeiro dever do homem é seguir a natureza, que significa viver segundo a razão, uma vez que não há distinção entre lei natural e lei racional.
 Ilustrando essa posição dos estóicos, Cícero em sua obra De Officiis assim se expressa: “Há de fato uma verdadeira lei denominada reta razão, que é conforme à natureza, aplica-se a todos os homens, é imutável e eterna. Ela não prescreve uma norma em Roma, outra em Atenas, nem uma regra hoje e outra diferente amanhã. Essa lei eterna e imutável abrange todos os tempos e todos os povos”. Percebe-se que os estóicos não faziam diferença entre as leis naturais e as que regem a conduta humana, o que torna compreensível a concepção do jurisconsulto Ulpiano,concebendo o jus naturale como sendo aquele que a natureza ensinou a todos os animais (quod natura omnia animália docuit ).
 Santo Agostinho entende que há dois direitos naturais, um primário, antes do pecado original, quando o homem vivia em estado de pureza e graça e outro secundário, depois do pecado original, quando o homem passa a viver num mundo dominado pelo sensualismo e pelo egoísmo.
 Na Idade Média (476-1453), com Santo Tomás de Aquino, o Direito Natural adquire maior prestígio e desenvolvimento. O Doutor Angélico afirma que há, acima de todas as leis, uma lei eterna, de essência divina, que ordena o universo e dela decorre a lei natural, pela qual participa o homem da razão eterna. A definição tomista de lei humana, enunciada no De Legibus, da Suma Teológica é ainda hoje cultuada – “ordenação da razão para o bem comum, promulgada pela autoridade competente”, que comentaremos posteriormente.
 Com o alvorecer do mundo moderno e o desmembramento da civilização teocêntrica, o Direito Natural laicizou-se, derivando-se apenas da razão e não de Deus, cujos princípios, descobertos pela razão, existiriam mesmo que Deus não existisse. Tal laicismo inicia-se com Francisco de Vitória, que encontra a sua fonte na natureza das coisas, que não pode ser alterada nem por Deus e tem continuidade com Grocio, fundador do Direito Natural.
 Miguel Reale afirma que há duas maneiras fundamentais de conceber o Direito Natural: a transcendente e a transcendental. De acordo com a concepção transcendente, própria dos tomistas e neotomistas há, acima do Direito Positivo e independente dele, um conjunto de imperativos éticos, expressão não apenas da razão humana, mas também da razão divina. A exigência de ordem racional que Deus estabelece para o universo, que não é um caos, mas um cosmos se estende para a vida social, devendo a lei positiva criada pelo homem subordinar-se à lei natural, que independe do legislador terreno e se impõe a ele como um conjunto de imperativos éticos indeclináveis.
 A concepção transcendental do Direito Natural distingue-se da anterior por só admiti-lo em função da experiência histórica. Os adeptos desta concepção, em geral, baseiam-se em Kant, que achava que todas as formas de experiência são condicionadas por certas formas e conceitos (categorias) que tornam a mesma experiência possível. Filiam-se a essa posição, os jusfilósofos como Stammler e Del Vecchio.
 Miguel Reale, apesar de filiar-se à teoria transcendental do Direito Natural, não coloca o problema em meros termos lógico-formais, mas em termos axiológicos, pois acredita que há determinados valores, que uma vez trazidos à consciência histórica, se revelam ser “constantes éticas” inamovíveis, que,embora ainda não percebidas pelo intelecto, já condicionavam e davam sentido à práxis humana. Miguel Reale destaca, dentre todos esses valores, o valor primordial da pessoa humana, “cujo significado transcende o processo histórico, através do qual a espécie toma consciência de sua dignidade ética” (pessoa como valor fonte). 
 Ainda segundo Reale, “são essas constantes ou invariantes axiológicas que formam o cerne do Direito Natural, delas se originando os princípios gerais de direito, comuns a todos os ordenamentos jurídicos”.
 Stammler é autor da conhecida teoria de um Direito Natural de conteúdo variável – o conteúdo varia no decorrer da história, sem prejuízo de uma forma constante, representada pela coordenação harmônica das liberdades iguais, segundo uma lei universal de liberdade. Em sua obra “A Doutrina do Direito Justo”(1902), expôs a idéia única de justiça aplicada às várias ordenações sociais dos diversos povos e tempos sucessivos, produzindo múltiplos direitos justos. Sua obra científica ficou marcada pela fórmula que o consagrou no campo do Direito Natural: “O direito justo é um Direito Natural de conteúdo variável”.
 Del Vecchio, na mesma linha de pensamento, admite a existência de um critério absoluto, ideal, do Direito, independente de sua sanção positiva, como exigência da consciência humana. Assim, seria absurdo considerar o Direito dependente apenas da vontade de qualquer um, absurdo de que Cícero se deu conta ao perguntar se o homicídio ou o furto passariam a ser justos desde o momento em que fossem declarados como tais por qualquer legislador, tirano, etc.
 Finalmente, como representantes máximos do chamado neotomismo tradicionalista, para os quais o Direito Natural não é apenas um direito ideal, como afirmam os positivistas, mas um direito real e válido, citaremos na França, Le Fur e Georges Renard; na Bélgica, Jean Dabin e Jacques Leclerc; na Alemanha, Helmut Coing e Rommen; na Itália o já citado Del Vecchio; na Espanha, Galán Y Gutierrez e no Brasil, Benjamim de Oliveira Filho, Rui Cirne Lima, Edgard de Godói Mata Machado e os nomes atuais de Paulino Jacques e Franco Montoro.
 Em função de uma adequada racionalização do conceito de Direito Natural, destacaremos os neotomistas franceses Le Fur e Renard, para um breve estudo.
 Le Fur entende o Direito Natural como uma diretiva de justiça, de valor universal, porém, de realização variável. Segundo Le Fur, ao lado dos seus sentidos físicos, o homem possui cinco sentidos espirituais, a saber: sentido da verdade, do belo, do bem, do útil e do justo. É o sentido do justo que coordena as descobertas dos demais e constrói a noção do bem comum, que se conforma com uma ordem natural preexistente definida por seu conteúdo, que se reduz a três normas primordiais:
 - respeitar os contratos livremente feitos;
 - reparar todo o prejuízo injustamente causado;
 - respeitar a autoridade pública.
 Fundamentando-se em tais princípios, podemos elaborar um direito justo, no espaço e no tempo.
 Renard identifica o Direito Natural com a moral social que é o limite do Direito Positivo. Assegurando a unidade da ordem jurídica e moral, porém, Renard defende a perenidade das regras primárias de Direito Natural, mas a variabilidade das regras secundárias, criando na terminologia da matéria o que ele convencionou chamar de Direito Natural de conteúdo progressivo.
 Afirma Renard a existência de dois fatores no Direito Natural: um metafísico, que é constante, e outro histórico, que é móvel. Assim, o Direito Natural é uno e diverso como a natureza humana e a própria sociedade. Enfim, Renard prega “um Direito Natural em perpétuo “devenir”, um Direito Natural com conteúdo progressivo; progressivo por assimilação dos dados históricos variáveis a uma substância racional imutável”.
 Ainda segundo Renard, o Direito Natural está por toda parte, nas leis, nos costumes, na jurisprudência, nos contratos e sua inexistência significaria a supressão do Direito, pois, na verdade, ele é o único direito verdadeiro, sendo o Direito Positivo uma participação dele.
 O Direito Natural justifica o Direito Positivo perante a razão e o Direito Positivo realiza o Direito Natural na sociedade.
 Goffredo Telles Jr.aborda o Direito Natural de uma forma totalmente diferente, afirmando que Direito Natural é o Direito que não é artificial, entendendo por Direito Artificial o Direito falsificado, ilegítimo, misturado com o Direito legítimo. Goffredo define o Direito Natural nos seguintes termos: “conjunto dos mandamentos autorizantes, emanados do poder constituinte e do poder legislativo, e harmonizados com a ordenação ética da coletividade”. Nesta linha de raciocínio, são Direitos Naturais todas as ordenações jurídicas autênticas ou legitimadas, isto é, todas as ordenações jurídicas harmonizadas com a ética vigente na sociedade. Desta forma, afirma Goffredo, o Direito Natural pode também ser definido nos seguintes termos: “Direito Positivo destinado a ser meio para a consecução dos bens soberanos do homem”
 Conclui Goffredo, criticando outras posições doutrinárias, que os princípios gerais de Direito, tidos como Direito Natural, por não serem autorizantes, não são normas jurídicas, e nãopertencem ao Direito Natural, apesar de exprimirem altíssimos princípios da moralidade. Atualmente, segundo Goffredo, há uma clara distinção entre norma jurídica e norma não jurídica.
 Segundo Kelsen, as normas do Direito Positivo, têm a estrutura de uma proposição hipotética condicional: Se o inquilino não pagar o aluguel, ele estará sujeito a uma ação de despejo; se o eleitor não votar, estará sujeito a uma multa. As normas de Direito Natural são, como vimos, proposições diferentes.
 Conclusão: podemos afirmar que no estado atual da doutrina, à parte a concepção tradicional da Igreja, fundada na filosofia tomista, a idéia dominante é a do Direito Natural de conteúdo variável no decorrer da História, sem prejuízo de uma forma constante, representada pela coordenação harmônica das liberdades iguais, segundo uma lei universal de liberdade, de função diretiva, segundo uma lei universal de liberdade (liberdades iguais). Serve de modelo e inspiração para o Direito Positivo, que deve sempre esforçar-se em realizá-lo, em adaptar as relações sociais aos seus preceitos normativos; e é, por outro lado, um critério de valoração do Direito Positivo, cujo progresso e perfeição são estimados na medida em que se aproxima do Direito Natural. Em suma, escrevem os juristas contemporâneos, seja qual for a idéia que dele se tenha, como “direito” ou como “moral”, como “justiça” ou “ideologia”, não se pode negar haver um princípio moral que se sobrepõe ao legislador, orientando-o, julgando-o, criticando-o, condenando-o, fundamentando suas leis. Dê-se-lhe outro nome, mas não se lhe pode negar a validade, vigência e valor, pois, acima das leis e do poder, está a dignidade humana.
4. IMPORTÂNCIA DA INTRODUÇÃO AO DIREITO
 A importância desta disciplina essencialmente preparatória ao ensino de vários ramos jurídicos, foi magistralmente justificada pelo eclético Victor Cousin, quando propôs sua criação como curso preliminar de admissão ao Curso de Direito, em 1814, na França, argumentando da seguinte forma: “quando os jovens estudantes se apresentam em nossas escolas, a Jurisprudência é para eles um país novo do qual ignoram completamente o mapa e a língua. Dedicam-se de início ao estudo do Direito Civil e ao do Direito Romano, sem bem conhecer o lugar dessa parte do Direito no conjunto das ciências jurídicas, e chega o momento em que, ou se desgostam da aridez desse estudo especial, ou contraem o hábito dos detalhes e a antipatia pelas vistas gerais. Um tal método de ensino é bem pouco favorável a estudos amplos e profundos. Desde muito tempo os bons espíritos reclamam um curso preliminar que tenha por objetivo orientar de algum modo os jovens estudantes no labirinto da Jurisprudência; que dê uma vista geral de todas as partes da ciência jurídica, assinale o objeto distinto e especial de cada uma delas e, ao mesmo tempo, sua recíproca dependência e o laço íntimo que as une; um curso que estabeleça o método geral a seguir no estudo do Direito, com as modificações particulares que cada ramo reclama; um curso, enfim, que faça conhecer as obras importantes que marcaram o progresso da ciência. Um tal curso reabilitaria a ciência do Direito para a juventude, pelo caráter de unidade que lhe imprimiria e exerceria uma influência feliz sobre o trabalho dos alunos e seu desenvolvimento intelectual e moral”.
 Trata-se de uma disciplina eminentemente formativa, criando no operador técnico do Direito, uma mentalidade científica que o torna capaz de elaborar cientificamente uma teoria jurídica.
5. FINALIDADES DA INTRODUÇÃO AO DIREITO
5.1. FINALIDADE FUNDAMENTAL
Em função de seu caráter enciclopédico, propedêutico e epistemológico ,a Introdução ao Direito tem por escopo fundamental, fornecer uma noção global ou panorâmica da ciência que trata do fenômeno jurídico,propiciando uma compreensão de conceitos jurídicos comuns a todos os componentes curriculares do Curso de Direito, familiarizando o aluno e o jurista na terminologia técnico- jurídica.
5.2. FINALIDADES SEGUNDO MIGUEL REALE
Comungando do mesmo pensamento de Victor Cousin, Miguel Reale apresenta as seguintes finalidades da Introdução ao Direito:
Primeira finalidade: oferecer uma visão unitária e panorâmica dos diversos campos em que se desdobra a conduta humana segundo regras do Direito, como já havia afirmado anteriormente.
 Podemos agrupar o conjunto de disciplinas jurídicas que formam o campo do Direito, em duas grandes classes: Direito Público e Direito Privado. Mais tarde estudaremos os fundamentos dessa divisão clássica originária do Direito Romano, como se depreende da leitura do Digesto, onde o Direito Público era aquele emanado dos órgãos estatais e tinha por objeto a estrutura, a atividade, a organização e o funcionamento do Estado Romano e o Direito Privado, o que disciplinava interesses particulares. Digesto vem do latim digestus,digere, que significa por em ordem, classificar, sendo o nome que sempre se deu às compilações ou livros, que continham matéria de Direito, distribuída e posta por ordem. É o nome que se dá a uma das partes do Corpus Juris Civilis, consolidado sob a coordenação do Imperador Romano do Oriente, Flávio Pedro Sabácio Justiniano (483-565), onde encontramos fragmentos de notáveis jurisconsultos, também denominada de Pandectas, que, derivado de pan (do grego pan, tudo e déchomai, encerrar, conter), daí o sentido de “que encerra tudo”, compilação universal ou que compreende tudo (compreensão total).
Entende-se por Corpus Juris Civilis, a reunião de várias leis promulgadas no Governo do Imperador Romano, já citado, complementadas com a adaptação de princípios anteriores, sistematizados num só corpo de Direito.
A corrente do pensamento que adota essa divisão é chamada dualista, e se atribui a Ulpiano, remontando aos tempos do Direito Romano. Hans Kelsen defende a corrente monista, afirmando que o Direito é uno e estatal. Atualmente está surgindo uma terceira corrente, ainda não aceita pacificamente pelos doutrinadores, denominada por alguns de trialista (público, privado e misto).
Os adeptos da corrente dualista entendem que o Direito Público regula relações em que o Estado é parte, regendo a organização e atividade do Estado considerado em si mesmo, em relação com outro Estado e em suas relações com particulares, que através de seu poder soberano, tutela o interesse coletivo. Subdivide-se em Direito Público Interno, compreendendo os seguintes ramos: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Processual, Direito Penal e Direito Público Externo, abrangendo o Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado.
O Direito Privado disciplina as relações entre os particulares nas quais predomina, de modo imediato, o interesse de ordem privada, pois o homem não se relaciona apenas com o Estado, mas também e principalmente com seus semelhantes. Subdivide-se em Direito Privado Comum, que apresenta como ramo fundamental, o Direito Civil, e Direito Privado Especial, tendo como ramos, o Direito Comercial, o Direito do Trabalho e recentemente o Direito Empresarial..
 Os defensores da corrente trialista entendem que há uma nova gama de direitos que não são plenamente privados e nem públicos, tutelando ao mesmo tempo os dois interesses. Um bom exemplo é o Direito do Trabalho, composto de normas cogentes, indisponíveis, impostergáveis ou de ordem pública, que ordenam ou proíbem de um modo absoluto, sem admitirem alternativas (piso salarial mínimo, repouso semanal obrigatório, registro obrigatório, férias etc.), e normas disponíveis que regem as relações particulares entre empregados e empregadores estabelecidas por via contratual, típicas do Direito Privado. Desta forma, só o contrato se formaliza sob as luzes do Direito Privado, tudo o mais se regendo por normas indisponíveis.
Pelo exposto, o Direito do Trabalho nem é inteiramente estatal, porque suas normas não são elaboradas somente pelo Estado, mas também por entidadesrepresentativas das classes de empregados e empregadores, nem inteiramente privado, pela indisponibilidade das partes poderem acordar livremente. Semelhante discussão acontece com relação ao Direito de Família, com normas cogentes e indisponíveis.
 Tais discussões, segundo alguns doutrinadores estariam ligadas aos seguintes critérios utilizados para situar um ramo do Direito no campo do Direito Público ou Direito Privado:
a) critério da utilidade ou do interesse – utilidade ou interesse preponderantemente do Estado, a norma jurídica será de Direito Público; utilidade ou interesse preponderantemente dos particulares, a norma jurídica será de Direito Privado. Esse critério não satisfaz a todos.
b) critério da forma da relação jurídica: de coordenação ou de subordinação.
 Relação jurídica de coordenação é o vínculo entre as partes que se tratam de igual para igual, como por exemplo, entre o comprador e o vendedor.
 Relação jurídica de subordinação é aquela em que uma das partes é o Governo da sociedade política (Estado) exercendo a sua função de mando, de imperium, provocando um desequilíbrio da balança em seu favor, como por exemplo, entre o Estado e os contribuintes dos impostos.
 Em face destes critérios Direito Público é aquele que protege utilidades ou interesses predominantemente públicos e regula relações jurídicas de subordinação. Direito Privado é aquele que protege utilidades ou interesses preponderantemente privados e regula relações jurídicas de coordenação
 Como os critérios não são absolutos, nem perfeitos, admitindo exceções, não satisfazem, pois há situações em que o interesse privado, mesmo sendo da essência do ato, cede lugar para o interesse social, como nas questões relacionadas ao Direito de Família e nos demais ramos tidos como mistos.
 Igualmente, não se pode falar em subordinação ou imperium, em relações jurídicas que envolvam dois entes públicos da mesma hierarquia administrativa, o que seria relação jurídica de coordenação, bem como também, há outras relações de subordinação fora do Direito Público.
 O momento histórico em que atravessa uma sociedade política é que geralmente determina a tendência ou para a publicização ou privatização do Direito.
 Concluindo, entendemos que se a norma tiver por objetivo organizar as atividades do Estado de natureza administrativa, negocial, política e jurisdicional, ela será de Direito Público, independentemente de ser de subordinação ou coordenação; porém, se objetivar disciplinar as relações envolvendo particulares, será de Direito Privado e se apresentar natureza híbrida, será de Direito Misto. 
As normas originárias dos diversos ramos do saber jurídico asseguram condições de equilíbrio à convivência humana, havendo, em cada comportamento humano, a presença, embora indireta, do fenômeno jurídico.
As relações intersubjetivas jurídicas, por envolverem sempre dois ou mais sujeitos, estão sempre revestidas de normatividade jurídica, confirmando a sábia lição contida neste antigo brocardo latino: ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade está o direito) ou vice versa, ubi jus, ibi societas. Assim, existem tantas espécies de normas e regras jurídicas quanto são os possíveis comportamentos e atitudes humanos e como toda interação humana perturba os indivíduos em relação recíproca, para que a sociedade possa conservar-se é preciso delimitar as atividades das pessoas que a compõem, mediante normas jurídicas.
Pelo exposto, devemos apreciar as diversas disciplinas jurídicas no seu conjunto unitário, pois são interdependentes, surgindo daí a multiplicidade e unidade do Direito.
Segunda finalidade: compreender a complementaridade das disciplinas jurídicas e o sentido unitário do fenômeno jurídico.
Podemos graduar os tipos de unidade da seguinte forma: unidade física ou mecânica, que é mais própria dos seres homogêneos, pela ligação de elementos da mesma ou análoga natureza, de cuja composição não resulta nenhuma ação ou função com base nos elementos constitutivos do todo, como por exemplo, a unidade molecular de uma pedra; unidade orgânica, onde as partes que compõem o todo estão organicamente em harmonia e muito embora cada parte tenha a sua função própria, todas estão voltadas para a consecução de um objetivo comum, irredutível às partes componentes, como acontece com o funcionamento do coração, por exemplo; unidade de fim ou finalística ou teleológica, como acontece com a Ciência Jurídica, onde as diferentes partes do Direito não se situam uma ao lado da outra, como coisas acabadas, estáticas ou mecânicas, mas se ordenam juridicamente com o objetivo comum de garantir a convivência social.
Por Teleologia (do grego téleios:completo e logos: estudo, teoria) se entende a doutrina das causas finais ou dos fins, ou em que tudo se explica pelos fins que aparentemente se destinam.. Teleologia Jurídica é a teoria que estuda o Direito em face de suas causas finais, como uma ordem jurídica dirigida a um fim, ou seja, à Justiça.
Observamos que a unidade física é própria dos seres brutos que se organizam ou se estruturam no plano molecular, pois a molécula é a unidade característica dos seres brutos. Já nos seres vivos a organização obedece a um plano celular, pois a célula é a unidade vital do ser vivo e se constitui também numa unidade orgânica.
Os seres brutos não atingiram o plano celular, pois ficaram no plano molecular. Se separarmos as partes de uma célula, não mais teremos matéria viva, desaparecendo a unidade orgânica, vital dos seres vivos. Os seres vivos, desde os mais simples, como, por exemplo, as amebas, já constituíam seres de matéria altamente desenvolvida, seres com estrutura molecular extraordinariamente complexa.
Se analisarmos a história do desenvolvimento da matéria no universo concluiremos, obviamente, que o aparecimento da vida e sua evolução estão intimamente relacionados com a evolução da matéria, composta de substâncias minerais. O surgimento das substâncias orgânicas, próprias dos seres que têm vida, com base nas substâncias minerais, próprias dos seres brutos e a transformação do primeiro protoplasma dando origem a vegetais e animais, são temas biológicos de grande interesse aos pesquisadores do campo biológico. Por ora, basta lembrar que todos nós somos descendentes da primeira célula do planeta e que por reprodução, apareceram as demais células que se evoluíram durante um bilhão de anos, até se unirem as outras células, formando tecidos orgânicos que se reuniram formando órgãos, sistemas e organismos.
Os primeiros organismos vivos eram organismos microscópicos (bactérias, algas e amebas), porém, como vimos, já complexíssimos, pois eram compostos de imensas cadeias de moléculas que se constituíram nos primeiros representantes do reino vegetal e animal, formando variedades incontáveis.
Os organismos animais evoluíram em duas linhas: na linha dos vertebrados, dotados de coluna dorsal, e dos invertebrados, sem essa coluna. 
Os invertebrados foram evoluindo até chegar ao inseto que é o ser vivo soberano desta linha. 
Os vertebrados evoluíram até as inúmeras espécies de animais vertebrados, hoje existentes, chegando até os animais dotados de cérebro. O cérebro representa uma enorme complexificação do sistema de comando. Com o aparecimento do cérebro, deu-se a eclosão da consciência sobre a Terra.
Há um milhão de anos, certo vertebrado mamífero, descendente dos antropóides, começou a executar movimentos até então desconhecidos. Tais movimentos eram, sem dúvida, reações de conservação e adaptação. A extrema complexificação de seu organismo deu-lhe curiosa versatilidade, pois era capaz de acumular lembranças de fatos variados e seu sistema de comando lhe habilitava a praticar atos de escolha.
O ato de escolha é complexo e está sempre na dependência das informações de que dispõe o ser que escolhe, ou seja, na dependência dos conhecimentos sobre o meio ambiente e sobre si próprio. O ato de escolha consiste,afinal, no ato de eleger o que melhor convém, em cada caso.
O ato de escolha é o ato de concluir o que deve ser feito e o ato de concluir é o ato que chamamos de ato de raciocinar, ato de decidir, de fundamental importância para o Direito. E assim surgiu, um novo reino, ou seja, o reino hominal e neste reino um novo animal que raciocinava - o homem. Esse homem passou por várias fases: 1ª fase: “homem símio” ou arcaico do tipo Pitecântropos (do grego pitekos = símio e antropos = homem); 2ª fase: “homem primitivo” do tipo Paleântropos (do grego palaios= antigo e antropos= homem); 3ª fase: homo sapiens, do tipo Neântropos (do grego neo=novo e antropos = homem) como o Homem de Neandertalen (vale do Rio Dussel, afluente do rio Reno, na Alemanha); finalmente, a 4ª fase, ou do homo sapiens sapiens, como o Homem Cromagnense, porque seu fóssil foi encontrado em Cromagnon, localidade francesa da Província de Dordon. Atualmente, estudos antropológicos e paleontológicos estão produzindo novas descobertas neste campo.
As pesquisas científicas tendem a comprovar que a matéria viva foi engendrada da matéria bruta e que a consciência foi engendrada da matéria viva. E que a consciência, saindo de seu estado primitivo e ainda instintivo, gradualmente se desenvolveu em formas sempre mais organizadas de matéria viva, até se transformar em inteligência. E que a inteligência, a princípio intuitiva, passou a inteligência racional, própria do homem pensante. A inteligência intuitiva não é específica do homem, pois existe em outros animais evoluídos; ela não raciocina, não explica, não propõe soluções, mas vê e adere ao que vê; no homem, acaba adorando o que vê. Tal inteligência, no homem arcaico e primitivo, atuava como fator de proteção, permitindo-lhe adivinhar os perigos e estabelecer prévias condições de defesa.
Até o advento do homem, a evolução era realizada no plano físico (unidade física ou molecular) e no plano celular (unidade orgânica). Com o aparecimento do homem, a evolução passou a ser um movimento da própria consciência e se identifica com a evolução do conhecimento humano, pois a história da consciência é a história do conhecimento e da cultura.
Com a evolução da consciência humana surgiu o Direito, e com ele um terceiro tipo de unidade, que não é a física ou orgânica, mas sim a unidade finalística ou teleológica.
A Teleologia é o estudo especulativo das causas finais e da essência, alcance, aplicação ou fim das normas legais.
Com o desabrochar da consciência humana, a inteligência, a princípio intuitiva, evolui para a inteligência racional, marca específica do homem, que o faz sujeitar os meios aos fins. Utilizando-se de sua razão, o homem ordenou as coisas de acordo com seus interesses e chegou a criar a extraordinária civilização em que vivemos.
Com grande propriedade, Goffredo da Silva Telles Júnior faz a apologia da razão quando afirma que “a razão é a grande responsável por todas as descobertas humanas, desde os primeiros instrumentos de pedra até a máquina, desde a roda até os foguetes interplanetários, desde suas incipientes noções científicas até as exatas demonstrações da ciência moderna. A razão é, sem dúvida, a responsável pela manutenção da vida humana sobre o nosso planeta, pela produção dos alimentos indispensáveis para a humanidade, pela preservação da saúde do homem. A razão é a responsável pelas engenhosas ordenações jurídicas, criadas para a defesa dos bens soberanos do homem. A razão deu às coisas criadas, uma nova ordem, uma ordem tipicamente humana, que melhor atendia aos altos interesses do ser humano. Foi a razão que reordenou o mundo e produziu uma cultura progressiva, e esta reordenação permanente das coisas foi a causa de um processo civilizatório ascendente.”
Com a razão, foi possível o conhecimento progressivo do homem pelo próprio homem e através desse conhecimento o homem compreendeu que ele próprio é feito e composto das mesmas partículas microscópicas de que são feitos e compostos todos os corpos do cosmos, concluindo que ele próprio é produto da evolução da matéria.
O conhecimento do mundo e de si mesmo, bem como de sua situação dentro do universo, deu ao homem uma consciência mais clara de sua situação cósmica, uma consciência de seu lugar na hierarquia dos seres e, portanto, uma consciência de seu verdadeiro valor, dando-lhe também a percepção de pertencer à sociedade cósmica. A sociedade cósmica é constituída de todas as galáxias e de todos os átomos, de todos os corpos e de todas as energias, de todos os homens e de todas as inteligências, formando um só todo, ordenado e harmonioso.
A verdadeira cultura, segundo GOFFREDO, é a consciência da ordem universal, consciência da sociedade cósmica, que é a consciência do Universo e do homem. Quanto maior esse conhecimento, mais consciência terá o homem na escolha de seus bens e em conseqüência, mais ordem em seu comportamento, mais tranqüilidade interior. Assim, sua existência adquire sentido teleológico, pois sabe que vive e porque vive – vive para participar da sociedade cósmica e dela participa para aperfeiçoar-se e poder aperfeiçoar as coisas que lhe são dadas.
Viver para conhecer, conhecer para aperfeiçoar-se: eis o lema do homem evoluído.
Ainda parafraseando nosso ilustre jusfilósofo Goffredo, afirmamos também que “quem faz da vida uma viagem de cultura, faz da vida uma aventura de amor, porque conhecer é amar e amar é participar. A participação em todos os setores da vida (cultural, econômico, político) é grande sinal dos tempos atuais, a fascinante razão de ser da vida”.
A consciência do valor cósmico do homem conduz, forçosamente, a um respeito crescente pela pessoa humana, que se manifesta pela adesão da humanidade a certos bens culturais soberanos, quais sejam:
* reconhecimento, por parte de todos, da humanidade existente em cada ser humano, significando direito a tratamento condigno;
* igualdade de todos perante a lei;
* liberdade de locomoção e de manifestar o pensamento;
* direito à intimidade;
* direito à ampla defesa;
* legalidade das pessoas;
* legitimidade das leis, etc.
Os profissionais do Direito sabem que a luta atual é pela dignidade da pessoa humana e que nosso tempo é marcado pela revolta universal contra todos os crimes, todas as penas bárbaras, todas as torturas e suplícios, todas as guerras injustas, toda injustiça, toda prepotência, todo aviltamento do homem. Tal revolta é a prova do progresso espiritual da humanidade, apesar da existência de flagrantes contradições internas em nossa civilização, porém, hoje temos também consciência de que todo desenvolvimento é uma luta dos contrários e de que há uma condenação universal da violência.
Após demonstrarmos a importância da racionalidade na história da humanidade, seria conveniente e oportuno esclarecermos que a consciência não se compõe apenas de inteligência ou razão ou pensamento. O homem, além de pensar, sente, quer e age, fazendo com que a consciência humana seja composta de fenômenos cognitivos (pensamento), afetivos (emoções, sentimentos e paixões), volitivos (vontade), psicomotores (ação) e instintivos (comportamento inaprendido).
Com base nessa diversidade de fenômenos psicológicos, surgiram várias classificações de tais fenômenos, apenas para fins didáticos, pois inexiste fenômeno psíquico isolado – os fenômenos psíquicos são interdependentes e simultâneos, com predominância momentânea de uns sobre os outros.
A título de exemplificação, citaremos uma classificação que divide os fenômenos psicológicos em: a) fenômenos psicológicos da atividade, compreendendo os atos reflexos incondicionados (inaprendidos) e condicionados (aprendidos), os atos instintivos, os atos habituais (hábitos) e os atos inteligentes (voluntários); b) fenômenos psicológicos da afetividade ou sensibilidade, compreendendo o prazer e desprazer, os sentimentos, emoções e paixões e as tendências; c) fenômenos psicológicos da inteligência ou da representatividade, compreendendo o processo de aquisição, viasensação e percepção, o processo de conservação pela memória, o processo de elaboração, através da associação de idéias, da imaginação, da abstração e generalização, dando origem às nossas idéias, que combinadas formam nossos juízos, que combinados, formam os nossos raciocínios, com o emprego de nossa atenção e finalmente o processo de expressão, através da linguagem. Tal classificação ignora vários aspectos do nosso psiquismo, tais como os fenômenos inconscientes e subconscientes.
A dimensão cognitiva da consciência representada pela inteligência compõe-se, por sua vez de pensamento, percepção, imaginação, atenção, motivação, memória, intuição, consciência moral e introspecção.
O pensamento compõe-se de idéia ou conceito, juízo e raciocínio. Assim, as operações do pensamento, objeto material da Lógica, são realizadas pela combinação de idéias, formando juízos, que se combinam, por sua vez, formando raciocínios, os quais são expressos verbalmente pelos termos (idéias), proposições ou premissas (juízos) e argumentos (raciocínios), fundamentando nossa argumentação jurídica, com vistas a convencer nossos julgadores ou interlocutores. Tais estudos pertencem ao campo da Lógica Formal.
Observem que a Lógica e a Psicologia apresentam pontos em comum quanto ao objeto material, pois ambos se dedicam a estudar o pensamento; porém, a Psicologia tem um objeto material mais abrangente, se preocupando não somente com o pensamento, mas com a totalidade dos fenômenos da consciência. Entretanto, quanto ao objeto formal, a Lógica se preocupa em analisar o produto das operações do pensamento (verdadeiro ou falso), ao passo que a Psicologia, quanto ao objeto formal se preocupa em descrever o pensamento (como é, como se desenvolve). Conclui-se, portanto, que a Lógica é uma ciência normativa (como deve ser o pensamento) e a Psicologia é uma ciência especulativa (o que é o pensamento).
Como o pensamento é fundamental para as especulações filosóficas, a Lógica serve de introdução à Filosofia, tendo, portanto, uma função propedêutica: Lógica quer dizer razão, raciocínio, ciência e método e é justamente disso que ela se ocupa.
Para melhor compreensão do assunto, citaremos algumas definições de Lógica:
Aristóteles (seu fundador): “ciência da demonstração”;
Bacon: “arte das artes”;
Port-Royal: “arte de pensar”;
Kant: “ciência das leis do pensamento”.
Adotamos a seguinte definição de Lógica: “ciência da ordem em que devemos dispor as operações de nossa inteligência para alcançarmos a verdade”. Esta definição é completa porque demonstra o objeto material e formal da Lógica. Objeto material: as nossas operações mentais. Objeto formal: a ordem em que devemos dispô-las (operações mentais) para alcançarmos a verdade. 
A Lógica trata da razão, considerada nos seus atos e conceitos. Ela não tem por objeto uma realidade material, como as outras ciências. Vimos que o seu objeto material são as nossas operações mentais e os métodos empregados pelas diversas ciências. Ela nos ensina como se deve estudar as coisas e como raciocinar corretamente, sendo, pois, normativa. Seu objeto não é definir “o que é”, mas “como deve ser”, preocupando-se em estabelecer normas do pensamento correto. Bacon já dizia que da mesma maneira que a mão é o instrumento dos instrumentos, a Lógica é a “arte das artes”. Realmente, a Lógica é uma arte porque ao mesmo tempo em que define os princípios universais do pensamento, estabelece as regras práticas para o conhecimento da verdade. É arte porque dá as regras para a produção das operações do espírito e é ciência porque dá razão a essas regras.
A Lógica trata da inteligência sob o ponto de vista do seu uso na elaboração do conhecimento. Abrange duas partes, como vimos: material-conteúdo (operações do pensamento) e formal: disposição das idéias (produto).
Através de sua normatividade, a Lógica é utilizada na construção do conhecimento. A Lógica nos fornece os princípios que devem reger o nosso raciocínio, daí a importância para a Filosofia que também se ocupa do raciocínio na atividade especulativa dos filósofos. Em relação ao raciocínio é que devemos dividir a Lógica. Num raciocínio ou em qualquer construção, consideramos duas coisas: matéria e forma. Assim, por exemplo, numa casa é preciso distinguir os materiais e a disposição que o arquiteto lhes dá. Se a disposição é ruim, a casa cairá, porque está mal construída; se os materiais de construção são ruins, mesmo que a disposição seja boa, a casa não ficará de pé, porque foi construída com material de péssima qualidade. O mesmo acontece com o raciocínio. No raciocínio também é preciso distinguir a matéria do raciocínio (os materiais ideais com os quais se raciocina) e a forma do raciocínio (a disposição, segundo a qual, esses materiais são reunidos na mente, de maneira a sustentar a construção mental). Dessa forma, a matéria do raciocínio pode ser verdadeira ou falsa e sua forma pode ser correta ou incorreta. Por exemplo, neste silogismo categórico, constituído por duas premissas (maior e menor) e uma conclusão, abaixo transcrito, o raciocínio está correto quanto à forma, mas a matéria é falsa:
Nenhum homem faz o mal (premissa maior).
Ora, esse criminoso é homem (premissa menor).
Logo, esse criminoso não faz mal (conclusão).
A Lógica se ocupa, entretanto, tanto da matéria como da forma e em conseqüência, se divide em: a) Lógica Material ou Maior – quando estabelece as condições materiais das ciências, definindo seus métodos, também chamada Metodologia, porque fornece a cada ciência o seu método, estabelecendo regras que asseguram o acordo do pensamento com os objetos estudados; b) Lógica Formal ou Menor – quando estabelece a forma correta das operações intelectuais que são compostas de idéia ou conceito, juízo e raciocínio, recebendo as seguintes expressões verbais: termo (idéia), proposição (juízo) e argumentação (raciocínio).
Para que o leitor possa acompanhar a seqüência lógica e unitária de nossa explanação a respeito das finalidades da Introdução ao Direito, iniciada páginas atrás, ao abordarmos a sua segunda finalidade, segundo Miguel Reale (compreender a complementaridade das disciplinas jurídicas e o sentido unitário do fenômeno jurídico), empreendemos uma longa viagem pelos caminhos da história da evolução da matéria, partindo da matéria bruta, passando pela matéria viva (orgânica), até ao aparecimento do primeiro ser de nossa espécie (homem). Para melhor compreendê-lo, estudamos a evolução da consciência humana, analisando os fenômenos psicológicos que formam a sua vida mental, enfatizando a evolução de sua racionalidade, representada pelos fenômenos psíquicos da representatividade ou inteligência (cognição), que possibilitaram o aparecimento do Direito e com ele a unidade teleológica.
Terceira finalidade: Complementando e retomando o estudo das finalidades de nossa disciplina, citaremos a linguagem do Direito como sua terceira finalidade, na esteira do pensamento de Miguel Reale. Graças à linguagem, construímos nosso saber jurídico (ciência jurídica) e o comunicamos aos interessados por esse tipo de conhecimento científico. Vimos também, quando estudamos os fenômenos do psiquismo humano, que a linguagem é o processo de expressão do pensamento e a condição básica para a elaboração e a divulgação do conhecimento humano, quer vulgar, científico ou filosófico, concorrendo para a socialização e humanização do homem.
A linguagem é um sistema de sinais por intermédio dos quais se exteriorizam nossos estados afetivos e, sobretudo, nossos processos intelectuais.
Por sinal entendemos o fenômeno que, captado por nossos sentidos, representa outro fenômeno, que por algum motivo, no momento não está sendo percebido, ou em virtude de sua natureza, não pode ser diretamente percebido. A fumaça que paira no ar é sinal de fogo, que por uma circunstância qualquer não estamos vendo neste instante; as expressões fisionômicas (alegria, tristeza, terror, espanto) são sinais de sentimentos; uma palavra ou uma frasesão sinais de uma idéia ou de um juízo.
Os sinais podem ser naturais quando provocados por certos estados afetivos, como é o caso do riso, das lágrimas, da palidez ou rubor do rosto e convencionais, quando dependem de uma convenção prévia e de invenção mais ou menos arbitrária para servirem de sinais, como é o caso das palavras faladas ou escritas. 
Conforme os sentidos que recebem os sinais, a linguagem pode ser visual, auditiva, tátil (escrita dos cegos). Já a linguagem visual abrange a linguagem mímica (gestos), a linguagem por meio de movimentos de objetos materiais (linguagem semafórica) e a linguagem muito importante, que é a linguagem escrita. A linguagem auditiva, formada por diferentes sistemas de sons ou ruídos, ocorre com a linguagem oral ou falada, que é a mais importante para o desenvolvimento humano.
Na linguagem oral os vocábulos ou palavras (sinais auditivos) constituem o conjunto de sons articulados ou pronunciados pelo aparelho vocal ou fonador do homem.
O aparelho vocal compõe-se dos pulmões, que atuam como foles, da traquéia, que funciona como um tubo sonoro, das cordas vocais (órgãos vibrantes) situados na glote, e de diversos obstáculos à saída do ar, constituídos pela faringe, pelas fossas nasais, pela língua, pelos dentes e pelos lábios.
Desde nosso nascimento, temos capacidade de vocalizar, isto é, de emitir sons vocais, porém, para falar palavras e compreender seu significado, nós precisamos aprender.
Alguns autores explicam a aprendizagem da linguagem pelo condicionamento de respostas - o adulto fala o nome de um objeto ao mesmo tempo que o apresenta à criança Em outras ocasiões em que a criança vê aquele objeto, ouve a palavra que o designa. Ver o objeto e ouvir o som ao mesmo tempo, em diversas ocasiões, faz com que a criança, só ao ouvir a palavra, pense no objeto, mesmo na sua ausência. 
Segundo vários pesquisadores, a linguagem tem duas funções básicas:
1. Comunicação do pensamento e de nossos estados afetivos - servimo-nos das palavras para transmitir nossas idéias, juízos, raciocínios e sentimentos a outras pessoas.
2. Construção do pensamento - empregamos as palavras na elaboração de nossas idéias, na formulação de nossos juízos e na construção de nossos raciocínios. Quando pensamos, falamos com nós mesmos ou com os outros, através de uma linguagem interna, por meio de “palavras silenciosas”.
O pensamento é grandemente auxiliado pela linguagem, porém alguns autores afirmam que o pensamento surge antes das palavras e pode mesmo, ser independente delas, como é o caso da criança que já pensa antes de aprender a falar, bem como do surdo-mudo de nascença que evidentemente pensa e não fala.
O desenvolvimento da linguagem na criança é progressivo e lento até apossar-se dos símbolos com facilidade para expressar seu pensamento e comunicar-se com o pensamento alheio. Tal desenvolvimento lingüístico é influenciado pelas pessoas de sua convivência permanente (pais, irmãos, colegas de brinquedo, empregados e professores). O modo como as pessoas com quem convive recebem seus esforços despendidos para comunicar seus pensamentos, pode ajudar ou prejudicar seu desenvolvimento verbal.
Finalmente reputamos de fundamental importância habituar a criança desde cedo a procurar interpretar os termos que emprega na elaboração de seu pensamento. Só assim sua inteligência poderá ser cultivada, afastando-a do psitacismo (linguagem de papagaio) quando, lamentavelmente, emprega vocábulos desconhecendo seus significados.
Sabemos que cada ciência tem o seu universo conceitual próprio, isto é, exprime-se numa linguagem específica e a ciência jurídica se orgulha de sua terminologia técnico-científica milenar, pois quanto mais antigo se apresenta determinado campo de conhecimento científico, mais segura e eficiente é a comunicação científica.
Sem linguagem não há como pensar a realidade. O homem cria signos para representar-se e representar a realidade. O mundo simbólico é o mundo construído pelo homem.
Os psicólogos, neurolinguístas, filósofos, afirmam que o desenvolvimento linguístico, dependente do número de palavras aprendidas e da competência para relacioná-las, afeta profundamente a inteligência e o aprender a aprender, pois pensamos com palavras e quem não as sabe usar corretamente não é capaz de argumentar de forma convincente e persuasiva.
Quarta finalidade: A quarta missão ou finalidade da Introdução ao Direito, consiste em situar o Direito no mundo da cultura, estudando sua natureza e suas relações com os demais campos do conhecimento. O mundo construído pelo homem é o mundo da cultura. Cultura é a totalidade das produções humanas portadoras de significados. Neste empreendimento, o fenômeno jurídico, parcela do universo do saber humano, será analisado sob o prisma científico, técnico, artístico e filosófico, realçando suas relações com as demais ciências sociais (Sociologia, Antropologia, Economia, Psicologia, etc.), suas influências recebidas da técnica e das ciências físico-matemáticas e seus laços com os fenômenos artísticos, religiosos e filosóficos.
 Segundo Miguel Reale “cultura é o conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, o homem constrói sobre a base da natureza, quer para modificá-la, quer para modificar-se a si mesmo”.
 Cultura implica idéia de valor e de fim, pois a vida humana é sempre uma procura de valores e viver é uma realização de fins.
Quinta finalidade: Finalmente, como condição básica para a construção do conhecimento jurídico seguro e certo temos a necessidade de utilizarmos de um método que nos conduza a um resultado exato ou rigorosamente verificado, pois assim, como as demais ciências, a ciência jurídica se compõe também de um sistema de conhecimentos verificados. Desta forma, a aquisição de noções básicas do método jurídico para melhor conhecimento, compreensão e elaboração da ciência jurídica, constitui a quinta finalidade da Introdução ao Direito, que ao lado das demais já explicitadas, fornecem aos alunos que se iniciam no estudo do Direito, indicadores seguros para o início da viagem qüinqüenal pelo complexo mundo jurídico, de forma organizada e compreensiva. 
	 Segundo Miguel Reale, “todo conhecimento científico ou filosófico pressupõe uma ordenação intencional da inteligência e da vontade capaz de permitir ao investigador alcançar um resultado, dotado pelo menos de relativa certeza” (problema metodológico).
 Verificamos a verdade (ou relativa certeza) de forma analítica ou sintética.
 Verificação analítica – verdade (intuição intelectual) – Ex: “o todo é maior que a parte” (não há necessidade de prova); ou verdade reconduzida por inferência a uma verdade evidente, ou a um pressuposto admitido como certo ou válido.
 Verificação sintética – as hipóteses são subordinadas ao controle da experiência, graças a processos “experimentais” (experimentação) – a experiência é intencionalmente programada e dirigida, como acontece no campo da Física, Química, Biologia.O Direito, sendo uma ciência humana ou social, a aplicação de processos experimentais é reduzidíssima, o que não significa que seja destituído de certeza.
 A certeza do Direito é obtida mediante o rigor do raciocínio, a objetividade da observação dos fatos sociais e a concordância de seus enunciados, estabelecendo princípios e leis de tendência, e não leis de causalidade como nas ciências exatas.
 A ciência do Direito, investigando positivamente a realidade social que chamamos de “experiência jurídica”, obedece às regras da Lógica que estuda as relações de inferência entre as proposições e a validade dessas relações e segue métodos adequados às suas finalidades (verificações analíticas, com base na Lógica).
 O Direito utiliza-se dos seguintes métodos: indução, dedução e analogia.
 Indução – parte de fatos particulares, até atingir uma conclusão de ordem geral que explica o que há de constante e comum nos fatos particulares observados

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