Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2020 Introdução ao Estudo do dIrEIto Prof. Ismael de Córdova 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Ismael de Córdova Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C796i Córdova, Ismael de Introdução ao estudo do direito. / Ismael de Córdova. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 184 p.; il. ISBN 978-65-5663-034-2 1. Direito - Estudo e ensino. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 340.07 III aprEsEntação O direito enquanto ciência social vem sofrendo transformações diante das modificações sociais. Com isso, esta disciplina de Introdução ao Estudo do Direito contribui para a compreensão desses avanços, modificações e atribuições deste direito em crescimento. Neste sentido, ao final da disciplina, será possível compreender tanto os aspectos básicos e históricos do direito, como as fontes e fundamentos, por exemplo, os aspectos inclusos em tal ciência, os procedimentos de integração, os princípios e valores e a atuação na sociedade como um todo. Para facilitar a compreensão de tais conteúdos, esta disciplina é dividida em três unidades, sendo que cada unidade traz consigo temas de grande relevância para a área do direito, dentro dos tópicos citados anteriormente, que norteiam e orientam acerca da base do direito até a atuação profissional. Além desta divisão, dentro das unidades os temas estão divididos em quatro tópicos para que você consiga estudar cada um de forma minuciosa. Ao estudar este material, você terá acesso a um acervo de informações breves acerca do direito, mas que são de grande relevância. Aprenderemos acerca do direito como fenômeno social, os fundamentos e fontes do direito, a aplicabilidade do direito enquanto ciência social, os valores, as modificações e atualizações das teorias que fundamentaram e que ainda fundamental esta ciência, dentre outras questões. Desejamos a você bons estudos e que este conteúdo colabore significativamente para o seu crescimento pessoal e profissional. Bons estudos! Prof. Ismael de Córdova IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO ...........................................................1 TÓPICO 1 – DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL ......................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL ..........................................................................................3 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................15 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................16 TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS DO DIREITO ...................................................................................17 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................17 2 FUNDAMENTOS DO DIREITO .......................................................................................................17 2.1 JUSNATURALISMO ........................................................................................................................19 2.2 JUSPOSITIVISMO ............................................................................................................................22 2.3 JUSNATURALISMO E JUSPOSITIVISMO...................................................................................25 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................28 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................29 TÓPICO 3 – FONTES DO DIREITO....................................................................................................31 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31 2 FONTES DO DIREITO ........................................................................................................................31 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................43 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................44 TÓPICO 4 – PROCEDIMENTOS DE INTEGRAÇÃO .....................................................................45 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45 2 PROCEDIMENTOS DE INTEGRAÇÃO .........................................................................................45 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................61 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................65 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................66 UNIDADE 2 – A NORMA JURÍDICA ................................................................................................69 TÓPICO 1 – ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA .......................................................................71 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................712 A ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA .......................................................................................71 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................81 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82 TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA ..................83 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................83 2 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA .......................................83 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................90 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................91 sumárIo VIII TÓPICO 3 – PLANOS DE VALIDADE DA NORMA JURÍDICA .................................................93 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................93 2 PLANOS DE VALIDADE DA NORMA JURÍDICA ......................................................................93 2.1 PLANO DA EXISTÊNCIA ..............................................................................................................95 2.2 PLANO DA VALIDADE .................................................................................................................96 2.3 EFICÁCIA .........................................................................................................................................98 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................103 TÓPICO 4 – SISTEMA E ORDENAMENTO JURÍDICO ..............................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 SISTEMA E ORDENAMENTO JURÍDICO ..................................................................................105 2.1 SISTEMA E ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .......................................................111 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................116 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................120 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................121 UNIDADE 3 – O DIREITO NO TEMPO E NO ESPAÇO – TEORIA DA RELAÇÃO JURÍDICA ....................................................................................................................123 TÓPICO 1 – HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA E APLICAÇÃO DO DIREITO NA SOLUÇÃO DO CASO CONCRETO NA ESFERA CONSTITUCIONAL ......................................................................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA E APLICAÇÃO DO DIREITO NA SOLUÇÃO DO CASO CONCRETO NA ESFERA CONSTITUCIONAL .....125 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................140 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................141 TÓPICO 2 – POSIÇÕES JURÍDICAS DOS SUJEITOS DE DIREITO NAS RELAÇÕES JURÍDICAS ......................................................................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 POSIÇÕES JURÍDICAS DOS SUJEITOS DE DIREITO NAS RELAÇÕES JURÍDICAS .......143 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................155 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................156 TÓPICO 3 – DIREITO SUBJETIVO ...................................................................................................157 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 DIREITO SUBJETIVO .......................................................................................................................157 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................167 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................168 TÓPICO 4 – ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO ................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO ......................................................................................169 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................181 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os conceitos básicos do direito; • reconhecer os aspectos teóricos e sociais do direito; • dominar os aspectos de origem e que fundamentam o direito; • adquirir os conhecimentos gerais que fundamentam o direito; • avaliar, de forma completa, o direito e a sua função desde a sua base epistemológica. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS DO DIREITO TÓPICO 3 – FONTES DO DIREITO TÓPICO 4 – PROCEDIMENTOS DE INTEGRAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL 1 INTRODUÇÃO Você já deve ter estudado ou lido alguns materiais acerca do direito. No entanto, caso você não tenha feito isso ainda, tenha calma! A partir do estudo deste tópico você poderá ser capaz reconhecer o conceito de direito, avaliá-lo e compreendê-lo enquanto fenômeno social e, ainda, conhecer alguns aspectos históricos. Aqui, apresentaremos todas estas temáticas de grande relevância para a compreensão completa do conteúdo. O direito enquanto ciência construída desde a existência humana e em constante evolução, não se reduz apenas em pequenos conceitos: mas conteúdos profundos e abrangentes que dizem respeito ao homem que vive em sociedade, aos seus direitos e deveres, a sua conduta e assuas penalidades quando esta não é de boa índole. Contudo, essa sociedade que vem se modificando ao mesmo passo da evolução humana traz consigo certas necessidades que a própria ciência jurídica está propícia a abarcar, oferecendo eficiência e eficácia diante dos procedimentos jurídicos, ao possuir base epistemológica bastante fortalecida. Bons estudos a você! 2 DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL A sociedade vem sofrendo modificações de grande relevância na atualidade. Crenças, culturas, tradições e verdades que são construídas, desconstruídas e reconstruídas. Desta maneira, o direito apresenta-se como um mensurador destas questões sociais que surgem nos sujeitos em relação. Diante disso, Ferraz Junior (2015, p. 1) nos apresenta: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 4 O direito é um dos fenômenos mais notáveis na vida humana. Compreendê-lo é compreender uma parte de nós mesmos. É saber em parte por que obedecemos, por que mandamos, por que nos indignamos, por que aspiramos a mudar em nome de ideais, por que em nome de ideais conservamos as coisas como estão. Ser livre é estar no direito e, no entanto, o direito também nos oprime e tira-nos a liberdade. Por isso, compreender o direito não é um empreendimento que se reduz facilmente a conceituações lógicas e racionalmente sistematizadas. É notável, portanto, que o direito não pode ser reduzido a apenas uma conceituação breve, ao salientar a dimensão que esse significado possui. O direito em si envolve muitas questões de âmbito social, respaldadas na vivência de cada sujeito que move e vive em sociedade. Desta maneira, traz consigo questões de estabilidade de justiça social, colocando em primeiro lugar os direitos previstos legalmente. Diante das diferentes realidades sociais, faz-se necessário haver intermédio a fim de equilibrar e organizar a sociedade: principalmente por questões de organização e justiça. O autor ainda comenta acerca do direito de forma breve: De uma parte, consiste em grande número de símbolos e ideais reciprocamente incompatíveis, o que o homem comum percebe quando se vê envolvido num processo judicial: por mais que ele esteja seguro de seus direitos, a presença do outro, contestando-o, cria-lhe certa angústia que desorganiza sua tranquilidade. De outra parte, não deixa de ser um dos mais importantes fatores de estabilidade social, posto que admite um cenário comum em que as mais diversas aspirações podem encontrar uma aprovação e uma ordem (FERRAZ JUNIOR, 2015, p. 11). Contudo, o direito possui a função de assegurar os direitos dos cidadãos, considerando a justiça em primeiro lugar a fim de avaliar os pontos e contrapontos com o intuito de acatar a decisão mais justa perante a lei. Entretanto, deve-se considerar as modificações e avanços que o direito teve em seu desenvolvimento. Cabe aqui salientar que o Direito se torna um fenômeno do cotidiano, principalmente quando consideramos que todas as relações na sociedade da concepção até a morte, temos o direito como regente do princípio até o fim, pois, como afirma Campos (2011, p. 3), “o Direito resguarda, defende, ampara, protege e serve o indivíduo em todos os momentos”, ou seja, muito antes de nascermos, o Direito já nos antecedeu com intuito de alguma forma garantir as nossas relações em sociedade. O autor ainda nos apresenta as distinções que ocorrem no uso da palavra direito: TÓPICO 1 | DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL 5 QUADRO 1 – USO DA PALAVRA DIREITO NORMA Representa as regras que determinada sociedade segue, são mutáveis conforme a cultura de cada local, por exemplo o Direito brasileiro acolhe o instituto do Divórcio. Desta forma o Direito é formulado por códigos e leis denominado DIREITO POSITIVO. FACULDADE Neste caso é sinônimo de opção e não de uma obrigação, por exemplo: temos o direito de reclamar da administração pública, porém podemos fazer ou não, ou seja, é facultativo, só reclama se quiser. JUSTO Utilizado para conduzir a certo tipo de comportamento do ser humano podendo este ser justo ou injusto, por exemplo: a moça se comportou direito CIÊNCIA Utilizado como uma área de conhecimento a ser estudada, por exemplo: Estudo direito na faculdade. FONTE: Adaptado de CAMPOS, 2011, p. 5 Durante muito tempo a teoria do direito se constituiu de um modo, mas atualmente ela vem modificando-se: “A teoria jurídica passa a ser um construído sistemático da razão e, em nome da própria razão, um instrumento de crítica da realidade” (FERRAZ JUNIOR, 2015, p. 44). Ademais, é importante neste momento a compreensão do conceito de direito e suas considerações. Nader (2014, p. 93) corrobora que o direito “é classificado como termo análogo ou analógico, pelo fato de possuir vários significados que, apesar de se diferenciarem, guardam entre si alguns nexos”. Por exemplo, podemos falar do direito enquanto oposto de esquerdo, sendo a mesma palavra que se utiliza para o direito judicial, que tem um significado bastante distinto. No entanto, neste momento, trata-se do direito como norma de organização social – o direito referente à legislação. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 6 FIGURA 1 – SÍMBOLO DO DIREITO FONTE: <https://laura-e-torres-abogada.webnode.com/_files/200000001- a6e92a7e2c/200/54121127-diosa-griega-Themis-Ley-de-Justicia-igualdad-Un-juicio-justo- Corona-de-laurel--Foto-de-archivo.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2020. FIGURA 2 – BALANÇA DO DIREITO FONTE: <https://www.figueiralaser.com.br/site/fotoTexturaMaterial?id_recorte_ personalizado=974&id_materia_prima=1612&tamanho=250x250>. Acesso em: 28 fev. 2020. O direito sempre teve um grande símbolo, bastante simples, que se materializava, desde há muito, em uma balança com dois pratos colocados no mesmo nível, com o fiel no meio – quando este existia – em posição perfeitamente vertical. Para a língua vulgar dos gregos, o justo (o direito) significa o que era visto como igual (igualdade) (FERRAZ JUNIOR, 2015, p. 11). Já os romanos, tinham uma outra maneira de representar o direito – em alusão à deusa Lustitia. A imagem era similar, porém a deusa concentrava-se equilibrando os dois pratos por meio de uma balança com os olhos vendados, e proclamava: direito (FERRAZ JUNIOR, 2015). TÓPICO 1 | DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL 7 Apesar das diferenças entre os dois povos: gregos e romanos, os símbolos possuem semelhanças significativas, sendo o significado da imagem bastante parecido. Para os gregos, o direito significa igualdade, para os romanos, o significado é correto. Contudo, tais saberes fazem parte da construção do que é direito e a maneira na qual ele se constitui atualmente e ainda, nas transformações que sofrerá. Para Cruz (1971, p. 58), a palavra direito em português (e as correspondentes nas línguas românicas), guardou, tanto o sentido do jus como aquilo que é consagrado pela Justiça (em termos de virtude moral), quanto o de derectum como um exame da retidão da balança, por meio do ato da Justiça (em termos do aparelho judicial). Desta forma, o direito ganha forma e medida ao ser aquilo que mede o correto, o justo, o igual. Contudo, essa construção foi e continua sendo de povos de grande influência, como já citados anteriormente: gregos e romanos, que apesar de algumas divergências, fazem parte da história do direito e da sua relevância social. Nader (2014, p. 95) ressalta: “Examinando o vocábulo do ponto de vista objetivo, assim o consideramos: Direito é um conjunto de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da segurança, segundo os critérios de justiça”. Giacomelli et al. (2018, p. 61) acresce outras atribuições ao conceito de direito: “o Direito é o conjunto de regras que regula as relações humanas, visando à convivência pacífica entre os indivíduos. Por consequência, deve estar sempre em consonância com a vontade de um povo, absorvendo os costumes e as tradições locais, embora seja imposto de forma coercitiva”. Campos (2011) apresentaa origem em latim da palavra direito “directum” que é derivada do verbo “dirigere” que etimologicamente representa (dirigir, enviar, guiar, regular, ordenar), não desviando, seguindo direção única, que está conforme, tem razoabilidade, e se fundamenta pelos princípios da justiça e equidade. Ainda, define o autor o conceito de norma: Norma é uma espécie de princípio de preceito de regra. A norma é um mandamento, nela se insere um comando imperativo. Todavia, não será somente um mandamento com o comando imperativo, será também permissões e atribuições e poder ou competência. Aquilo que se estabelece como base ou medida para a realização ou avaliação de alguma coisa: norma de serviço, normas jurídicas; normas diplomáticas (CAMPOS, 2011, p. 12). A norma, portanto, é o sujeito de ligação entre o indivíduo e a sociedade, ou seja, o direito possui ligação com os sujeitos que vivem em sociedade, ao levar UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 8 em consideração seus costumes, tradições e crenças. Já Oliveira (1997, p. 380) se pronuncia de maneira em que se acredita que “[...] o direito pode ir além disso, sendo utilizado também como instrumento de mudança social, de modo a tentar inverter o quadro de dominação”. Segundo Nader (2014), o próprio Kant afirmou no Século XVII que os juristas ainda estão em busca de uma definição para o direito diante das divergências. Contudo, Oliveira (1997, p. 380) ainda acrescenta: “Nota-se que, em nosso meio, o direito não se manifesta apenas por meio das leis – esta é a sua principal fonte –; há outras fontes de caráter secundário, porém de grande relevância, que são a doutrina e, acima de tudo, a jurisprudência”. Contudo, percebe-se ainda, que o direito possui o compromisso de promover a modificação social – de ser um agente transformador, ainda que pela legislação. Faz parte do arsenal de questões que contribuem para a mudança de uma sociedade, sendo que, os próprios povos que construíram o direito, como os gregos e romanos, a forma em que o tempo passava, foram modificando-se socialmente. Dias (2014, p. 4) retrata: A sociedade é universalidade e totalidade. É universalidade porquê é encontrada em todos os recantos do planeta, constitui-se num fenômeno social universal; é totalidade porque constitui um sistema social complexo, onde as diversas partes que o integram estão profundamente relacionadas umas às outras. Portanto, a sociedade é passível de transformações e possui um funcionamento dinâmico e mutável. O direito entra na sociedade como um organizador: das crenças, culturas e povos que estão inseridos nela, além de fazer parte de um reconhecimento grupal. O mesmo autor ainda coloca que o direito surge como uma “autodefesa coletiva do grupo primitivo e o projeta na história, assim também surge o conceito de autoridade, de poder ou de mando” (DIAS, 2014, p. 9). Os próprios povos, de forma primitiva, buscavam maneiras de organizar- se, elegendo no grupo um líder – seja por força física, inteligência ou rapidez. Desde os primórdios esses sujeitos organizavam-se a sua maneira, o que mais tarde originou a autoridade, a liderança e acabou significando a evolução das relações em grupo e da organização social. Nader (2014, p. 93, grifo do autor) nos coloca: Os sociólogos do Direito, por sua vez, enfatizam o elemento social, enquanto os historicistas fazem referência ao caráter evolutivo do Direito. Formas especiais de experiência conduzem a definições muitas vezes curiosas, como a formulada por Pitágoras que, sob a ótica da matemática, afirmou: “O Direito é o igual múltiplo de si mesmo”. TÓPICO 1 | DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL 9 Historicamente, o direito em sua origem aparece enquanto fenômeno auxiliador na organização da sociedade, podendo ser exemplificado pelos pactos conforme a citação a seguir. Segundo Giacomelli et al., 2018, o direito é descendente direto das revoluções iluministas do séc. XVII, e a partir deste marco, pôde-se entender o direito como um conjunto de regras derivadas do povo e para o povo, ou seja, as regras surgiam do povo para que este povo as seguisse – eliminando assim, a ideia de que as regras seriam colocadas por uma autoridade ou uma religião. Assim, o direito, em sua origem, foi empírico, não racional, aprendido da experiência original, não extraído da razão. Não há dúvida de que em algum momento, os homens se aproximaram uns aos outros e selaram pactos (por exemplo, de não agressão), logo, enfim, organizada a sociedade, estabelecidos os costumes, a autoridade aparece como redatora da lei, fonte privilegiada do direito. A cultura das cidades desenvolveu o direito consuetudinário e em seguida o escrito (DIAS, 2014, p. 15). Nasce em meio a sociedade o direito, e ele deriva-se de costumes, da religião, de hábitos e crenças dos indivíduos. “Em toda sociedade vigora certa ordem social que torna possível a convivência de qualquer grupo humano” (DIAS, 2014, p. 20). A ordem social é de extrema relevância, principalmente para estabelecer a organização e o estabelecimento de normas e condutas viáveis. Nader (2014, p. 93) corrobora relatando que “O direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das fases do progresso da sociedade”. Entretendo, pessoas necessitam de normas para agirem em sua liberdade, respeitando o espaço alheio de forma justa. Os primeiros grupos humanos eram formados por poucos indivíduos, e a ordem era imposta pelo mais forte fisicamente, pois dependia dele a sobrevivência do próprio grupo (segurança e alimento); um comportamento análogo à maioria dos mamíferos que vivem em bandos. Assim, a sociedade humana partiu de agrupamentos para bandos, famílias, grupos de famílias, clãs, tribos, conjunto de tribos, nações e, atualmente, agrupamento de nações. Ao longo da jornada humana, a força foi substituída pela razão, e surgiu a necessidade de ordenarmos a sociedade de forma outra que não a da violência e imposição do mais forte. Surgiu, portanto, o Direito como elemento capaz de conter vontades individuais para que prevalecesse a vontade coletiva (GIACOMELLI et al., 2018, p. 62). Conforme a população foi aumentando e os indivíduos imigraram para as civilizações mais populosas, as normas e regras tornaram-se indispensáveis para a sobrevivência grupal e a evolução da construção de novos grupos sociais. O que antes era uma sobrevivência via corporal – meios físicos e corporais –, agora ganha nova forma: via razão, por meio de direitos e deveres estabelecidos. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 10 Nenhuma sociedade poderia subsistir se ela se omitisse diante do choque de forças sociais e do conflito de interesses que se verificam constantemente no seu interior. Não haveria vida coletiva se fosse permitido que cada indivíduo procedesse de acordo com seus impulsos e desejos pessoais, sem respeitar os interesses dos demais (BETIOLI, 2015, p. 51). Ao discorrer acerca da sociedade, faz-se necessário compreender quais são suas principais características, visto que esta foi o berço do direito enquanto prática. Avalie a tabela a seguir: QUADRO 2 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE a) Constitui um grupo humano coerente, de ação geral e unitária. b) Este grupo se propõe à cooperação e à realização de fins ou interesses principais, como sua própria manutenção, sua preservação e sua continuidade biológica. c) A interação social é contínua, permanente e diversificada para estimular as relações sociais complexas de seres humanos diversos em sexo, idade, condição econômica etc. d) O assentamento territorial é necessário para assegurar a subsistência e a ação social permanente. e) O grupo social é atuante, estimulante da ação cultural coletiva em suas variadas relações e processos e sobre a base de que dentro de uma sociedade podem existir múltiplas culturas (subculturas).f) O grupo social imprime seu próprio caráter às criações sociais, de tal modo que até mesmo a obra individual, de um criador excepcional ou gênio, aparece como consequência da experiência coletiva ou social. O grupo social adquire consciência de sua identidade e história. FONTE: Adaptado de Dias, 2014, p. 5 Diante das demandas que emergem neste contexto, o direito articula a organização e a justiça, com o objetivo de manter a igualdade social enquanto direitos e deveres de um cidadão, precisando, muitas vezes, julgar alguns membros da sociedade. Desta forma, “O direito contém, ao mesmo tempo, as filosofias da obediência e da revolta, servindo para expressar e produzir a aceitação do status quo, da situação existente, mas aparecendo também como sustentação moral da indignação e da rebelião” (FERRAZ JUNIOR, 2015, p. 11). TÓPICO 1 | DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL 11 No entanto, nesse sentido, qual a relevância de compreender as principais características da sociedade ao se tratar do estudo do direito? Betioli (2015, p. 53) apresenta um motivo crucial: “Não há direito sem sociedade (Ubi jus, bi societas). O direito não tem existência em si próprio; ele existe na sociedade e em função da sociedade. Por isso é inconcebível fora do ambiente social”. Gusmão (2008, p. 1) também afirma que o tipo agrupamento social será norteado pelas suas normas de conduta social, viabilizando para dirimir os possíveis conflitos caminhando rumo a paz social. Desta maneira, sociedade e direito são codependentes: ou seja, um necessita do outro para a sua própria sobrevivência e para o bem-estar de todos aqueles que o cercam. Dias (2014, p. 16) complementa a fala de Betioli, ao afirmar que “Quando o homem teve plena consciência do valor de uma norma consuetudinária e mais tarde escrita, começou a lutar pelo direito”. Considera- se então, que foram os costumes que criaram o direito, sendo uma elaboração exclusiva da sociedade humana: é uma criação do homem. O direito não surge senão na sociedade, porque somente os homens, por suas faculdades mentais mais desenvolvidas, foram capazes de experimentar que reprimindo determinados atos e eliminando os seus autores, se verifica no grupo social uma diminuição da repetição desses mesmos atos, e porque somente na sociedade humana, por um lado e junto ao direito, se desenvolvem outros fenômenos de ordem econômica, familiar, política, religiosa, que nas agrupações animais não se encontra nunca (DIAS, 2014, p. 15). O direito passa a ser promissor do desenvolvimento de fenômenos relevantes para um bom funcionamento da sociedade, como coloca Dias (2014) na citação anterior, fornece subsídios e ferramentas para que os sujeitos vivam de forma harmoniosa em conjunto, sem infringir a liberdade alheia e as normas estabelecidas. Sobre a história da criação do direito, pode-se compreender, portanto, que: • O direito é uma criação humana. • Surgiu através dos costumes de povos. • Não há direito sem sociedade, nem sociedade sem direito. • O direito foi criado para organizar a sociedade. • Os grupos sociais necessitam de normas para um bom funcionamento. Em suma, o direito surge ao longo de um processo histórico, dialético e cultural, como uma prática social que utiliza um procedimento de solução de conflitos de interesses. É produto de uma realidade complexa e dinâmica que é a vida em sociedade, com seus problemas e controvérsias. É a expressão de um modo de vida de um povo e de sua cultura (BETIOLI, 2015, p. 55). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 12 Diante das necessidades, o direito foi resultou enquanto instrumento social. Como já foi citado anteriormente, com a função de organizar a sociedade, ele também se atribuía na solução de conflitos e estabelecimento de regras de convivência nos grupos. “Atualmente, o direito pode ser compreendido como um instrumento social destinado a motivar e enquadrar as ações humanas e contribuir para que se alcance um tipo determinado de ordem social em uma sociedade secularmente organizada” (DIAS, 2014, p. 20). Desta forma, a sociedade possui maior segurança diante do comportamento humano (que é variável de acordo com a história de vida de cada sujeito) que não pode ser controlado pelo direito, mas, sim, mensurado. Com regras, normas e legislações, o homem precisa enquadrar-se neste modelo a fim de viver em liberdade, e permitir a liberdade alheia. “O direito, assim, de um lado, protege- nos do poder arbitrário, exercido à margem de toda regulamentação, salva-nos da maioria caótica e do tirano ditatorial, dá a todos oportunidades iguais e, ao mesmo tempo, ampara os desfavorecidos” (FERRAZ JUNIOR, 2015, p. 11). Cabe aqui frisar que essa relação complexa entre as normas e o convívio social, visa, nada mais, nada menos, que manter a ordem social para não chegar ao caos e a barbárie de outros tempos. Por isso as normas são fundamentais ao bom convívio social. ATENCAO Como já descrito anteriormente, independente da vontade ou do querer, o ser humano já nasce em uma sociedade que exerce o controle social por meio de suas normas/regras de conduta, que caso sejam violadas decorrem de sanções na mesma proporção, desde as mais brandas até as mais severas. As sanções, na maioria das vezes, são aplicadas pelo Estado e somente dele dependem, considerando que apenas este possui o aparato estatal para fazer valer os sistemas normativos estruturados. Assim, afirma Gusmão (2018, p. 3), “O Direito, portanto, é uma das normas sociais, das quais se distingue por ser acompanhado de sanções organizadas, institucionalizadas, aplicadas por órgãos especializados, isto é, pelo poder público [...]”. Observa-se que ora haverá por parte do direito um constrangimento social, se levarmos em consideração que quando ocorre uma transgressão por parte de algum membro de determinada sociedade, via de regra este infrator será punido conforme descrito na legislação prevista. Nesta linha de pensamento, pode-se observar que o Direito é formado a partir da realidade, ou seja, é o reflexo de fatos sociais e como consequência irá moldando, ou seja, realizando o controle social de determinado grupo. TÓPICO 1 | DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL 13 Segundo Gusmão (2008), o Direito e as relações sociais possuem uma simbiose de aproximação e afastamento, podendo com o tempo alternar-se, por exemplo, quando cita-se o instituto do casamento, de um contrato social estes são institutos de aproximação do direito, ao contrário de quando existe um litígio, como o divórcio ou qualquer outro conflito, será uma relação de afastamento que por si só trarão várias outras consequências na área do direito, como pensão, guarda, divisão de bens, quando se trata por exemplo de uma separação. Esse exemplo prático apresenta a relação intrínseca entre o direito e a realidade social. A palavra direito vem do latim directum, que significa aquilo que é reto, que tem a qualidade do que é conforme a regra. Contemporaneamente, contudo, são atribuídas diversas concepções à expressão, como: • Sistema Jurídico. • Norma Jurídica. • Lei. • Regra. • Faculdade. • Fenômeno Social. FONTE: Adaptado de GIACOMELLI et al., 2018, p. 61 INTERESSA NTE Ao longo das unidades deste material, trabalharemos nas diversas concepções a expressão do direito, sendo que neste momento estamos no que diz respeito ao Fenômeno Social. Dias (2014) nos apresenta que o homem necessita viver em sociedade – não nasceu para viver isolado, sendo que esta sociedade constitui as unidades sociais e as complexas redes de relações existentes em toda a humanidade – as relações formam, constroem e delineiam a sociedade como um todo. Já a sociedade formata o direito com suas necessidades. Compreende-se, portanto, que o direito visa à organização destes sujeitos com relação social, com o objetivo de manter a igualdade e justiça entre os povos. Betioli (2015) nos coloca que o objetivo não é a mudança do homem interior, mas sim enfatizar as regrasnas relações sociais. Assim, o direito não visa ao aperfeiçoamento interior do homem; essa meta pertence à moral. Não pretende preparar o ser humano para uma vida supraterrena, ligada a Deus, finalidade buscada pela religião. Nem se preocupa em incentivar a cortesia, o cavalheirismo ou as normas de etiqueta, campo específico das regras de trato social, que procuram aprimorar o nível das relações sociais (BETIOLI, 2015, p. 51). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 14 Enquanto fenômeno social, em seu quadro evolutivo, o direito fornece voz e autonomia para o homem, que agora possui organização na sociedade e organiza suas atitudes através de seus pensamentos, não agindo apenas por reações instintivas, mas, principalmente, agindo racionalmente – pensar e posteriormente agir. “É importante perceber o Direito como contentor social, que molda atitudes e freia comportamentos, inibindo reações instintivas e impondo reações racionais, para que prevaleça a ordem da lei em detrimento da vontade do mais forte” (GIACOMELLI et al., 2018, p. 61). Conforme o homem foi evoluindo, a sociedade como um todo segue se aprimorando e, como consequência, o direito também vai se moldando. Conforme Betioli (2015), não há direito sem sociedade, nem tampouco sociedade sem o direito. Todos os autores citados, corroboram sobre o direito enquanto ciência social e discursam o quão ele se faz relevante na esfera social – sem direito, sem organização social. Não podemos esquecer ainda que todas as ações e comportamentos de determinada sociedade, ocasiona reflexos na legislação daquele território, influenciando diretamente na vida das pessoas, que provocaram esses reflexos mesmo de maneira involuntária, com situações ligadas à economia, religião, guerras etc. IMPORTANT E A Grande Depressão (1929) é um fato histórico de um determinado comportamento social que altera drasticamente a ordem jurídica de vários países, inclusive aqui no Brasil. Com a crise econômica, várias legislações revogadas e outras surgem devido à grande recessão da época. O Estado precisava agir de forma direta na economia, os reflexos no Brasil tiveram várias proporções, a Revolução de 1930, o país emerge de uma economia com base na agricultura (café, açúcar, algodão etc.) e segue rumo à industrialização e, como consequência, à legislação trabalhista. FONTE: Gusmão (2008, p. 9). INTERESSA NTE Diante desse breve exemplo prático, podemos analisar que o fator econômico foi responsável por uma mudança drástica no direito, porém não é o único fator, ainda poderão surgir fatores ligado às questões religiosas, geográficas, políticas, climáticas que também poderão trazer mudanças diretas ao ordenamento jurídico. Eis o direito enquanto fenômeno social, nasce e atua nas instâncias e realidades da sociedade. 15 Neste tópico, você aprendeu que: • O direito possui a função de assegurar os direitos dos cidadãos, considerando a justiça em primeiro lugar a fim de avaliar os pontos e contrapontos com o intuito de acatar a decisão mais justa perante a lei. • O direito é uma construção dos povos, e não existe sociedade sem direito, nem direito sem sociedade. • Conforme a evolução do homem, o direito se fez necessário diante das demandas sociais. • O direito é agente de voz e autonomia para o homem, que deixa de ser instintivo e passa a ser racional – pensar e depois agir. • O direito visa à organização social. • A construção do direito possui algumas influências, sendo algumas delas a grega e romana. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 O direito em si, possui uma grande trajetória. Hoje ele possui fundamentos, fontes, princípios e valores que o fortalece e embasa para uma atuação eficaz. No entanto, historicamente, ele aparece enquanto organizador social. Desta forma, Giacomelli et al. (2018) coloca que o direito é: a) ( ) Descendente direto da legislação do Século XV, e a partir deste marco, pôde-se entender o direito como um conjunto de regras derivadas do povo e para o povo. b) ( ) Descendente direto das revoluções iluministas do Século XVII, e a partir deste marco, pôde-se entender o direito como um conjunto de regras derivadas do povo e para o povo, ou seja, as regras surgiam do povo para que este povo as seguisse. c) ( ) Descendente direto da sociedade do séc. XXI, e a partir deste marco pôde-se entender o direito como um conjunto de regras derivadas do povo e para o povo, ou seja, as regras surgiam do povo para que este povo as seguisse. d) ( ) Descendente indireto da sociedade do séc. XXI, e a partir deste marco pôde-se entender o direito como um conjunto de leis do povo e para o povo, ou seja, da constituição. 2 O método positivista, enquanto fundamento do direito, diz respeito à parte legal. Nele estão presentes os estudos que levam em conta exclusivamente o fenômeno do Direito, ou seja: baseado nas questões legais. Segundo Venosa (2019), o método positivista é composto primordialmente de três fases, as quais são, necessariamente: a) ( ) Observação – Formulação de Hipótese – Experimentação. b) ( ) Julgamento – Formulação de Normas – Observação. c) ( ) Observação – Julgamento – Formulação de Hipótese. d) ( ) Formulação de leis – Formulação de Hipótese – Julgamento. AUTOATIVIDADE 17 TÓPICO 2 FUNDAMENTOS DO DIREITO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico trabalharemos brevemente acerca dos fundamentos do direito. Ao estudá-lo, você será capaz de reconhecer os fundamentos, diferenciá- los, avaliar suas características e aprofundar seus estudos posteriormente no qual você sentir-se mais confortável. Ambos fazem parte da construção histórica do direito e possuem sua devida importância. Nesse sentido, os fundamentos dizem respeito à base e ao norte do direito, no sentindo de fornecer subsídio a ciência como um todo. Podemos compreender como principais fundamentos o Direito Natural e o Direito Positivo, nos quais estão detalhadamente explicados no decorrer deste tópico. Apesar de distintos, esses fundamentos contribuíram e ainda contribuem significativamente para o direito como um todo: construção, essência e aplicabilidade social. Desta forma, compreende-se a relevância de conhecermos os fundamentos jurídicos, a fim de dominarmos os aspectos gerais da ciência jurídica. 2 FUNDAMENTOS DO DIREITO O direito, como uma ferramenta social, possui alguns fundamentos que norteiam a sua eficácia. Parte de sua construção história, estes fundamentos fornecem embasamento no crescimento posterior desta ciência humana, sendo os principais: o direito natural (também chamada de jusnaturalismo e/ou naturalista) e o direito positivo (também chamada de juspositivismo e/ou positivismo). Ao se pensar no termo “natural” vem à mente a ideia de perfeição, de estabilidade e até mesmo imutabilidade, já que as mudanças nas regras da natureza quando ocorrem são de maneira lenta, sob essa premissa, Dimoulis (2013, p. 87) afirma que: “O direito natural apresenta-se como conjunto de normas de dever que são estáveis, necessárias, adequadas e regulamentam o comportamento de todos os seres da natureza”. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 18 O autor afirma ainda que seria este o melhor “direito” para assegurar condições de ordem social e também a própria harmonia nas relações sociais. Portanto, a discussão entre os autores que defendem o jus naturalismo é a definição da origem dessa fonte do direito e a grande maioria, discorre sobre a própria natureza como fundamento primordial, distinguindo-se do arcabouço de leis artificiais “positivismo” elaboradas pelos atores políticos. Enquanto o jus naturalismo catequiza os princípios justo e necessário, o jus positivismo se contrapõe a causando uma tensão muito grande na área do direito no Século XIX, como muito bem expõe Nader (2014, p. 378) contribui com uma breve retrospectiva sobre o surgimento dos fundamentos positivista e naturalista: Durante o Século XIX, o positivismo de inspiração comtiana alcançou amplarepercussão no âmbito do Direito, colocando-se em posição antagônica ao jus naturalismo. A partir daí, estabeleceu-se a maior e definitiva cisão na área da Filosofia do Direito, porque, enquanto o jusnaturalismo preconizava uma outra ordem jurídica além da estabelecida pelo Estado, o positivismo reconhecia como Direito apenas o positivo. O positivismo surgiu em uma fase difícil e crítica na história do Direito Natural, quando o jusnaturalismo se encontrava comprometido pelos excessos da Escola do Direito Natural. São distintas concepções acerca do direito, onde o positivismo coloca o direito enquanto positivo – baseado nas legislações, já o naturalista visualiza o direito como algo além do estado. A segregação do “natural” e do “Cultural”, definido por Gusmão (2008), NATURAL – independe do ser humano (montanhas, rios, sol,) CULTURAL – concretizado pelo ser humano (carros, casas, equipamentos etc). Além do jusnaturalismo em sentido estrito, ainda está agregado a um jusnaturalismo teológico, que sustenta que o direito decorre da vontade divina. Essas duas vertentes de pensamento podem reduzir-se a duas correntes, como já apontamos. Aquela que pode ser denominada idealista, rotulação convencional que congrega as doutrinas jusnaturalistas, as quais entendem que existe um direito superior e antecedente a toda lei positiva humana; e a corrente positivista, a qual abrange as inúmeras correntes cujos seguidores, de uma forma ou de outra, afirmam que o Direito emerge dos homens, é um produto da história, do Estado ou do meio social, não existindo outras leis que não as vigentes em determinado local e em determinada época (VENOSA, 2019, p. 51). Muitos autores colocam a corrente jusnaturalista como retrógrada e antiquada, enquanto outros ressaltam que o positivismo desvaloriza o naturalismo, de modo a desclassificá-lo. Esses posicionamentos antagônicos demonstram quanto é complexa essa dualidade imposta. O fato é que a ciência do direito é bastante debatida, pois ao tratar-se de uma ciência humana, as escolhas fogem da neutralidade e perpassam questões de crenças. TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DO DIREITO 19 O homem nunca permanece neutro com relação aos fenômenos a sua volta. Com frequência, aquece e reaquece perguntas sobre sua origem e destino, sobre vida e morte. Assim também ocorre com relação às regras jurídicas, com o permanente questionamento sobre a noção da obrigatoriedade das normas e o fundamento do Direito. Essa postura é, na verdade, permanente; tão antiga quanto a Humanidade, atravessando todo o curso da História (VENOSA, 2019, p. 51). Ao considerarmos que a sociedade não mantém a mesma conduta por muito tempo e muda de lugar para lugar o direito natural perpassa a questões do estado, algo fixado em crenças, valores, e até mesmo, em questões espirituais. Já o positivismo acredita que o homem criou o direito, e este deve ser baseado nas leis do estado, para Kelsen (2003), ainda dentro do Direito natural existem ramificações entre a natureza ideal e a natureza como deve ser para atender às demandas que surgem ao longo dos tempos. Desta forma, o comportamento do ser humano em sociedade deve ser natural assim como as normas, o que significa um comportamento “normal”, a fim de melhor compreensão, tais fundamentos foram divididos para fins didáticos. 2.1 JUSNATURALISMO Um dos fundamentos do direito, o Jusnaturalismo é uma teoria um pouco mais antiga com registros históricos datados nas cidades-Estados gregas, já naquela época, houveram as tensões entre jusnaturalistas, Sófocles foi um poeta dramático grego positivista que questionava as leis dos reis que eram impostas ao povo como “vontade de Deus”, dessa forma, coloca-se superior ao jus positivista por considerar a existência de um direito natural que chega antes da existência do positivismo. “Chama-se jusnaturalismo a corrente de pensamento que reúne todas as ideias que surgiram, no correr da história, em torno do Direito Natural, sob diferentes orientações” (NADER, 2014, p. 373). O adjetivo natural, agregado à palavra direito, indica que a ordem de princípios não é criada pelo homem e que expressa algo espontâneo, revelado pela própria natureza. A ideia do Direito Natural tem sido apresentada em dois níveis: como ontologia e como deontologia. Os jusnaturalistas que defendem o Direito Natural ontológico admitem o Direito Natural como ser do Direito, como o legítimo Direito. Os jusfilósofos partidários do Direito Natural deontológico representam esse Direito apenas como um conjunto de valores imutáveis e universais, mais identificado com a Ética. Como salienta Elías Díaz, a primeira fórmula engloba a segunda (NADER, 2014, p. 374). Muito antigo, o jusnaturalismo está nas literaturas ocidentais desde a civilização europeia. Nesse sentido, a teoria apresenta-se como maleável a todos os homens, atendendo às demandas sociais por um direito mais justo, perfeito e protetor (GUSMÃO, 2018). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 20 Apresentamos aqui, como exemplo, O Código de Hamurabi, de origem da Babilônia (pedra Natural) com as seguintes dimensões 2,25m de altura com 1,50m de circunferência, neste monumento monolítico eram expostos situações exemplares e suas respectivas punições de maneira proporcional, assim o velho brocardo “olho por olho dente por dente” de origem da lei de Talião que é uma lei de retaliação, assim uma pessoa que viola direitos de outra deverá ser penalizada no mesmo grau, dessa forma, visando evitar novas situações e assim controlar o comportamento social. “Lei de talião está presente em muitos códigos de leis antigas, pode ser encontrada nos livros do Antigo Testamento do Êxodo, Levítico e Deuteronômio” (WIKIPÉDIA, 2019). O referido Código tem como principais regras defender os contratos em caso de não cumprimento destes, evitar que se dê falso testemunho, evitar os crimes de roubo, receptação e estupro e fazer a defesa também da família entre outras situações (WIKIPÉDIA, 2019). QUADRO 3 – CÓDIGO DE HAMURÁBI Código de Hamurabi Pena de morte para roubo de templo ou propriedade estatal, ou por aceitação de bens roubados (Seção 6). Morte por ajudar um escravo a fugir ou abrigar um escravo foragido (Seção 15, 16). Se uma casa mal-construída causa a morte de um filho do dono da casa, então o filho do construtor será condenado à morte (Seção 230). Mero exílio por incesto: "Se um senhor (homem de certa importância) teve relações com sua filha, ele deverá abandonar a cidade" (Seção 154). Distinção de classes em julgamento: Severas penas para pessoas que prejudicam outras de classe superior. Penas médias por prejuízo a membros de classe inferior (Seção 196–205). FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi#cite_note-multipla-1>. Acesso em: 28 fev. 2020. Retornando para a discussão sobre a natureza das leis, o autor Nader (2014, p. 374) corrobora ao considerar que: A natureza, ou seja, as propriedades que compõem o ser, define o fim a que este tende a realizar. Para que as potências ativas do homem se transformem em ato e com isto ele desenvolva, com inteligência, o seu papel na ordem geral das coisas, é indispensável que a sociedade se organize com mecanismos de proteção à natureza humana. Em concordância com isso, Venosa (2019, p. 53) ressalta que “O direito natural busca assegurar o bem comum com a aplicação da justiça”. Contudo, o direto natural considera as questões sociais e de condições humanas, sendo o TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DO DIREITO 21 direito algo inato do ser humano, algo que não necessita ser pautado apenas no estado e nas legislações. “O pensamento predominante na atualidade é o de que o Direito Natural se fundamenta na natureza humana” (NADER, 2014, p. 373). A filosofia grega também relativizava as leis humanas. Para os sofistas, o direito natural tinha como base a natureza humana, em que deveriam se enfatizar a liberdade e a igualdade dos homens. Os sofistas invocam odireito natural para destacar o caráter arbitrário e artificial do Estado. Posteriormente, Sócrates, Platão e Aristóteles distinguiram o justo segundo a natureza e segundo a lei. O justo por natureza está no pensamento de cada um dos homens. O direito natural orienta o sentido do direito positivo (VENOSA, 2019, p. 53). Portanto, Venosa (2019) coloca que é o direito natural que orienta o direito positivo e serve de inspiração para a criação do mesmo. “O Direito Natural ou jus naturalismo é uma teoria que procura fundamentar o Direito no bom senso, na equidade e no pragmatismo” (GIACOMELLI et al., 2018, p. 44). Alguns autores ainda colocam que o direito natural é a semente do direito positivo, e outros corroboram que o direito positivo é a evolução do direito natural, pois tornou-se retrógrado diante das demandas atuais na sociedade. Tradicionalmente os autores indicam três caracteres para o Direito Natural: QUADRO 4 – CARACTERES DO DIREITO NATURAL Ser eterno, imutável e universal O jurista chileno Eduardo Novoa Monreal apresenta um elenco bem mais amplo de caracteres, onde enumera: 1) universalidade (comum a todos os povos); 2) perpetuidade (válido para todas as épocas); 3) imutabilidade (da mesma forma que a natureza humana, o Direito Natural não se modifica); 4) indispensabilidade (é um direito irrenunciável); 5) indelebilidade (no sentido que não podem os direitos naturais ser esquecidos pelo coração e consciência dos homens); 6) unidade (porque é igual para todos os homens); 7) obrigatoriedade (deve ser obedecido por todos os homens); 8) necessidade (nenhuma sociedade pode viver sem o Direito Natural); 9) validez (seus princípios são válidos e podem ser impostos aos homens em qualquer situação em que se encontrem). FONTE: Adaptado de NADER, 2014, p. 376 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 22 O jusnaturalismo, portanto, é uma teoria fundamental do direito que coloca os homens em igualdade, podendo ser aplicada a qualquer realidade social. No entanto, possui características específicas de ser universal, imutável e eterno, por ser aplicável nas mais variadas demandas, segundo os autores citados. Voltando à origem do direito natural, as duas amplas posições, teológica ou escolástica e racionalista, contudo, discrepam. A posição mais antiga é também menos ampla, pois admite apenas certos princípios absolutos e fundamentais para reger todo o Direito, enquanto a posição racionalista se baseia no uso ilimitado da razão, a qual pode ilustrar qualquer meandro do Direito, qualquer detalhe de convivência. Como apontamos, com o protestantismo inicia-se a decadência do direito natural (VENOSA, 2019, p. 56). Portanto, o Direito Natural é superior ao Estado, está ligado a princípios e nasce da própria natureza humana. Temos como exemplos de Direitos Naturais: o direito à vida, o direito à liberdade, o direito à reprodução e o direito à justiça (NADER, 2014). Reconhecendo que há diversas maneiras de se conceber o direito natural, podemos dizer que sua ideia básica está́ no reconhecimento de que, na sociedade há um conjunto de valores e de pretensões humanas legítimas que não decorrem de uma norma jurídica emanada do Estado, ou seja, que independem do direito positivo. Esse direito natural tem, portanto, validade em si, legitimado por uma ideia superior, e estabelece limites à própria norma estatal. Seus adeptos não compreendem, portanto, os princípios gerais de direito tão somente em função das normas positivas, historicamente reveladas no Brasil e nas demais nações. Entendem que eles se legitimam como princípios de direito natural (BETIOLI, 2015, p. 489). Desta maneira, o naturalismo vai sendo deixado de lado e o positivismo vai ganhando força por estar mais ligado nas questões racionais, de legislação e governo. Alguns juristas ainda utilizam o jusnaturalismo, mas grande parte deles adotam o juspositivismo enquanto fundamento de direito. No entanto, é necessário lembrar que ambos fazem parte da história da constituição do direto. 2.2 JUSPOSITIVISMO Enquanto o jusnaturalismo coloca as questões naturais como primordiais, “O positivismo jurídico defende a tese de que os princípios gerais de direito são os consagrados pelo próprio ordenamento jurídico” (BETIOLI, 2015, p. 490). Desta forma, neste fundamento, o que orienta a atuação de direito são as legislações criadas baseadas na razão – o homem enquanto criador do direito. Apesar de abrangente, a expressão Direitos do Homem é empregada como referência ao conjunto de normas e princípios enunciados sob a forma de declarações, por organismos internacionais, dentro TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DO DIREITO 23 do propósito de despertar a consciência dos povos e governantes quanto à necessidade de esses se organizarem internamente a partir da preservação dos valores fundamentais de garantia e proteção ao homem (NADER, 2014, p. 380). Em concordância com Nader, Venosa (2019, p. 64) coloca que “O direito positivo objetiva atingir os fins de justiça”. Faz-se necessário aqui um esclarecimento acerca das nomenclaturas. Os autores utilizam de forma distinta, mas fazem referência a mesma teoria: Juspositivismo, positivismo jurídico, direitos do homem e direito positivo dizem respeito ao Direito Positivo. O positivismo nega a existência de regras fora do direito positivo, isto é, fora do direito imposto pelos homens. Os estudiosos positivistas só creem naquilo que pode ser objeto de observação e experiência. Pautado nas normas sociais e legislações, o direito positivo faz o uso da razão enquanto base filosófica, ressaltando que os instintos e crenças pessoais não devem inferir ao outro, e a organização social deve ser estruturada com base nas leis (que possuem a função de estabelecer regras e limites na sociedade). “Esse positivismo que se pretende avalorativo – portanto, neutro – identifica todo o direito com o direito positivo legal. É a partir dele que a escola da exegese encontra a condição propícia para fundamentar uma ciência neutra do direito” (MADEU; MACIEL, 2015, p. 73). O Direito Positivo, quando surgiu, foi considerado uma doutrina primária, esteve presente na Grécia, mas o pai do Direito Positivo foi Augusto Comte, porque a ele se deve a sua sistematização e o aprofundamento da doutrina. Os seus traços já se delineavam em Bacon, Descartes, Galileu, Hume Locke e mais proximamente nas lições fundamentais de Kant (GIACOMELLI et al., 2018, p. 46). Considerando que o direito é apenas aquilo posto pelo estado, no positivismo, as questões naturais são deixadas de lado, como o próprio Venosa (2019) contribui relatando que no juspositivismo exclui-se qualquer norma da natureza, sendo exclusivamente correto o direito positivo. Ambos os posicionamentos – natural e positivo – são necessários para os governantes, porém aquele que deve prevalecer é o positivismo. No positivismo estão presentes os estudos que levam em conta exclusivamente o fenômeno do Direito, isento de noções metafísicas. Nessa senda, podem ser vistos os escritos de Hans Kelsen, Alf Ross, Herbert Hart, Norberto Bobbio, pensadores do século XX, entre tantos outros, nomes com quem certamente o iniciante e o estudioso travarão contato mais ou menos profundo (VENOSA, 2019, p. 51). Colocando o ser humano como criador das leis, “o ponto de partida do positivismo é, de fato, afirmar que direito é apenas aquele existente nas leis criadas pelo ser humano e postas pelo Estado” (VENOSA, 2019, p. 64). Desta forma, a base do positivismo também é a criação racional do homem enquanto legislação e organizações sociais. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 24 O método positivista é composto primordialmente de três fases: Observação. Formulação de hipótese. Experimentação. Essa experimentação não provoca fenômenos sociais, mas deve ser vista mais como uma confirmação do ocorrido nos citados fenômenos. FONTE: Adaptado de VENOSA, 2019, p. 64 NOTA Entretanto, este método é baseado em fatose legislações concretas, com pontos e contrapontos a serem avaliados. “O positivismo jurídico é uma concepção do Direito que nasce quando o Direito Positivo e Direito Natural não são mais considerados Direito no mesmo sentido, mas o Direito Positivo passa a ser considerado Direito em sentido próprio” (GIACOMELLI et al., 2018, p. 45). Os métodos citados compõem o positivismo no direito, sendo estes utilizados a fim de comprovar a eficácia deste fundamento enquanto ciência humana, deixando de basear-se apenas em fenômenos sociais, passando a creditar os fatos comprovados, como os próprios Madeu e Maciel (2015, p. 30) colocam: O direito posto (direito positivo), portanto, é constituído por um conjunto ordenado de prescrições abrigadas na estrutura das normas jurídicas, em um certo espaço territorial e um determinado espaço de tempo: é um objeto da cultura porque foi criado pelo homem para organizar os comportamentos intersubjetivos em sociedade e, com isso, buscar a realização dos valores sociais. Desta forma, fica elucidado o embasamento legislativo do juspositivismo de modo a ser neutro, científico e investigador nas demandas sociais, não apenas baseando nos fenômenos sociais, mas investigando-os com base jurídica. Este seria o horizonte ideal, para as discussões que permeavam sobre a “Lei Divina versus Lei dos Homens”, muito embora o jus positivismo tenha como prerrogativa atender às demandas sociais por meio de seus valores atentando-se para a neutralidade e o caráter cientifico, ainda não é em sua integralidade, pois não acompanha muitas vezes as mudanças na sociedade devido a sua característica político-burocrata que torna lenta as alterações legais necessárias. TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DO DIREITO 25 2.3 JUSNATURALISMO E JUSPOSITIVISMO São duas vertentes distintas que fundamentam e fazem parte da construção do direito enquanto ciência humana. Enquanto o Jusnaturalismo baseia-se na criação e na natureza, o juspositivismo tem como base o estado e as leis, sendo neutro em suas escolhas. O Jusnaturalismo é mais antigo, e muitos adeptos deixaram-no para seguir o juspositivismo diante das demandas sociais e das modificações da sociedade. O jusnaturalismo e o juspositivismo são posicionamentos de extrema importância e cuja aceitação ou não define os rumos da aplicação prática pelos operadores do direito, e como consequência disso surgem os resultados do que costumamos denominar como justiça. O motivo fundamental que canaliza o pensamento ao Direito Natural é a permanente aspiração de justiça que acompanha o homem. Este, em todos os tempos e lugares, não se satisfaz apenas com a ordem jurídica institucionalizada. O Direito Positivo, visto como expressão da vontade do Estado, é um instrumento que tanto pode servir à causa do gênero humano como pode consagrar os valores negativos que impedem o pleno desenvolvimento da pessoa (NADER, 2014, p. 373). Como já colocado anteriormente, ambos fazem parte da história do direito. As duas vertentes possuem prós e contras, mas possuem também sua eficácia quando bem aplicadas na sociedade. Conforme Madeu e Maciel (2015), os fundamentos do direito são: • Jusnaturalismo: eterno, mutável, universal, acredita além do Estado, considera questões naturais do homem, considera questões subjetivas. • Juspositivismo: baseado no Estado, imutável, atualizado para as demandas atuais, considera as leis, homem como criador do direito, possui posição neutra. No entanto, cada vez menos se usa a teoria jusnaturalista. Para Nader (2014), é através do reconhecimento da inflexibilidade do juspositivismo quanto as suas bases que se compreende que, em relação ao jusnaturalismo, o primeiro possui conteúdo progressivo que atenda às novas exigências da sociedade na atualidade, geradas pelo desenvolvimento científico e ético. Tanto o jusnaturalismo como o juspositivismo possuem suas particularidades e, por isso, tornam-se diferentes um do outro, diante disso, “é importante perceber que no pensamento medieval o direito natural e o direito positivo se harmonizavam, contudo, o direito natural era o fundamento do direito positivo, o que legitimava este” (MADEU; MACIEL, 2015, p. 71). Com o passar do tempo, a sociedade foi sendo modificada, e isto refletiu no uso do naturalismo, sendo menos utilizado. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 26 Os Direitos do Homem estabelecem parâmetros básicos, estruturais, e formam um núcleo de condições essenciais ao relacionamento dos homens entre si e com o Estado. O Direito Natural e os Direitos do Homem, apesar de participarem de igual faixa ontológica e cultivarem idênticos valores, são conceitos que não se confundem. Enquanto o Direito Natural pesquisa a natureza humana e dela extrai os princípios modelares do Direito Positivo, os Direitos do Homem se desprendem do Direito Natural, com o qual se vinculam umbilicalmente para apresentarem, de uma forma menos abstrata, aqueles princípios já transformados em normas básicas (NADER, 2014, p. 380). De modo mais estruturado, estes fundamentos são de extrema relevância, principalmente quando se fala da constituição do direito e sua eficácia social. Jusnaturalismo e Juspositivismo com seus pontos e contrapontos fazem e fizeram parte do direito enquanto ciência humana, sendo que, na atualidade, aquela que cabe nas demandas sociais, segundo os autores citados é o juspositivismo. Os autores irão ter seus posicionamentos frente a cada uma destas correntes, Hans Kelsen por exemplo desenvolveu a “Teoria Pura do Direito”, que busca uma análise da estrutura do direito positivo e todas as suas fontes ao longo da sua existência: A Teoria Pura do Direito limita-se a uma análise estrutural do Direito Positivo, baseada em um estudo comparativo das ordens sociais que efetivamente existem e existiram historicamente sob o nome de direito. Portanto, o problema da origem do Direito – o Direito em geral ou uma ordem jurídica particular – isto é, das causas de existência do Direito em geral ou de uma ordem jurídica em particular, com seu conteúdo específico, ultrapassa o escopo desta teoria. São problemas da sociologia e da história e, como tais, exigem métodos totalmente diferentes dos de uma análise estrutural de ordens jurídicas dadas (KELSEN, 2001, p. 291). Podemos perceber que Kelsen, não emite juízo de valor, e também busca demais ciências para explicar o fenômeno do direito, tais como a sociologia, história entre outras que podem corroborar com as causas do surgimento do Direito como uma ordem jurídica social que será pautada em valores contidos naquela sociedade em determinada época, essa conduta social para ser justa é necessária a sua norma escrita, para que esse comportamento seja aceito socialmente e conserve o sentimento de justiça para todos, caso contrário entraria em cena a injustiça, assim temos a simbiose: FIGURA 3 – FUNDAMENTOS DO DIREITO FONTE: O autor TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DO DIREITO 27 O conceito de norma justa é precedido pela conduta social, observa Kelsen (2003). Pode ser compreendida como um comportamento humano socialmente aceitável ou reprovável, moral ou imoral, justa ou injusta. Contudo, através destes elementos, classifica-se o tipo de conduta social e a definição da necessidade de regras que definirão quais condutas serão aprovadas ou reprovadas, e, ainda, as possíveis punições aplicadas ao indivíduo de determinada sociedade. Destarte, na Norma Escrita, o positivismo pretende realizar a manutenção do conceito de moral no comportamento humano. Com a mudança das sociedades, essa classificação foi naturalmente se transformando, assim como os valores sociais. No entanto, mesmo com as mudanças, o conceito de Justiça está conectado à Conduta humana em sociedade. 28 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os fundamentos do direito são: jusnaturalismo e juspositivismo. • O jusnaturalismo tem relação com a natureza e os fenômenos sociais. • O juspositivismo estáligado fortemente com a legislação, o estado e as normas sociais. • O jusnaturalismo é além do estado: crê em questões além do homem. • Ambos os fundamentos são importantes para o direito, porém o jus positivismo é o que mais atende às demandas sociais da atualidade. 29 1 São distintas as concepções acerca do direito, no qual o positivismo coloca o direito enquanto positivo – baseado nas legislações, já o naturalista visualiza o direito como algo além do estado. A segregação do “natural” e do “Cultural”, definido por Gusmão (2008, p.10) considera: a) ( ) Natural: independe do ser humano (montanhas, rios, sol,); cultural: concretizado pelo ser humano (carros, casas, equipamentos etc.). b) ( ) Natural: concretizado pelo ser humano; cultural: fenômenos sociais que independem do ser humano. c) ( ) Natural: unifica a natureza com a ação do homem; cultural: movimentos culturais. d) ( ) Todas as alternativas estão corretas. 2 Acerca do Direito Positivo, Venosa (2019, p. 64) coloca que “O direito positivo objetiva atingir ____________. Assinale a alternativa que apresenta o complemento correto da lacuna: a) ( ) Os fins de justiça. b) ( ) O jusnaturalismo. c) ( ) Os fundamentos do direito. d) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. AUTOATIVIDADE 30 31 TÓPICO 3 FONTES DO DIREITO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O direito é uma ciência social que foi surgindo ao longo do tempo através dos povos, aumento da população e a necessidade de organizar a sociedade. Diante disso, algumas fontes norteiam e orientam o fazer jurídico, a fim de que as decisões tomadas sejam padronizadas corretamente com base na justiça. Neste tópico iremos aprender sobre tais fontes e suas funções, a fim de compreender de forma abrangente a constituição do direito e sua relevância. Desta forma, não há como falarmos em base do direito sem apontarmos as suas fontes: de onde ele surgiu, de fato. Porém, é relevante que saibamos que o direito não surge de apenas uma fonte: mas de inúmeras delas, nas quais serão colocadas neste tópico. A partir do estudo destes conteúdos, você será capaz de compreender cada fonte do direito. Além disso, faz-se importante ressaltar que as fontes são provenientes dos próprios povos - ou seja, o direito surge do povo e para o povo. Sendo assim, as fontes são fatores contribuintes para a construção das normas jurídicas. Percebe a importância de estudarmos este conteúdo? Desejo a você bons estudos! 2 FONTES DO DIREITO O direito possui, desde os primórdios de sua construção, algumas fontes que foram fundamentais para o seu fortalecimento. Algumas delas são mais utilizadas, outras menos, mas todas fazem parte da construção do direito e de sua atualização na contemporaneidade. Não existe um consenso no que tange à classificação das fontes do Direito, alguns doutrinadores apenas consideram como fonte a lei e os costumes, outros somam a estes as jurisprudências e os princípios gerais do direito, e ainda existem os que consideram também a Doutrina e Equidade. Sob a ótica do Direito Positivo apenas a Lei e os Costumes podem ser classificados sem questionamentos como Fontes do Direito. Por exemplo, o costume é uma fonte do direito desde seu início. 32 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO O sentido próprio da palavra “fonte”, pois ela pode significar tanto um local como um fator ou a relação entre dois fenômenos, dos quais o primeiro serve de causa para o outro. Entendemos, porém, que fonte, em sentido próprio, é o ponto em que surge a água. É o lugar em que ela passa do subsolo à superfície, do invisível ao visível. De fato, a água tem “origem” nas camadas mais profundas da terra, chegando até nós, tem sua primeira “aparição” na superfície da terra, se manifesta numa nascente (fonte). De certa forma, a fonte é o próprio curso d’água no ponto de transição entre essas duas situações ou momentos: do subsolo à superfície (BETIOLI, 2015, p. 181). Ao tratar-se de fonte, fala-se de início, de onde vem, de onde foi concebido. Diante disso, na dimensão que o direito possui, existem tipos variados de fontes que alimentam esta ciência social. Na atualidade moderna, em uma velocidade cada vez maior, o direito vem se atualizando diante das demandas sociais, mas sempre respaldado em suas fontes. Há normas, direitos e deveres a serem seguidos para uma boa execução do direito. As populações vêm aumentando, a expectativa de vida também, e isso tudo fornece modificação à sociedade que necessita manter-se em ordem. Por outro lado, temos que analisar que o Estado é o aplicador de forma coercitiva do ordenamento jurídico por ele editado, sendo a Lei, a principal origem da grande maioria do Direito aplicado na sociedade e sobrepondo até mesmo ao costume de longa tradição. O sentido mais amplo da palavra lei, segundo Gomes (2008), abrange os decretos e regulamentos, sendo a lei o Stricto sensu com objetivo de criar uma solução para os problemas nas relações sociais oriundos do Legislativo, os decretos e regulamentos são originários do poder executivo (via de Regra), muito embora o poder executivo poderá exercer a função legislativa em alguns casos (ex. Medida Provisória), excluem aqui os atos simples de expediente/administrativos (ex. portarias, avisos etc.). Já o costume, considerado como regra de conduta habitualmente obedecido, sem a necessidade de estar positivado (escrito), mesmo assim exerceu e exerce um protagonismo no Direito por suas características nas relações das sociedades mais primitivas. O autor destaca ainda a necessidade de o costume reunir dois elementos primordiais, o objetivo e o subjetivo. “O elemento objetivo é o uso, a observância uniforme da regra pela generalidade dos interessados [...], o elemento subjetivo é representado pela convicção geral de que o uso corresponde à necessidade jurídica” (GOMES, 2008, p. 326). É importante, portanto, a compreensão das fontes para posteriormente visualizar o direito como um todo: não existiu do dia para a noite, e se faz essencial enquanto fenômeno social na atualidade, ele foi desenvolvido perante a cultura dos povos que viviam, podemos citar aqui os gregos e romanos. TÓPICO 3 | FONTES DO DIREITO 33 A teoria das fontes, em suas origens modernas, reporta-se à tomada de consciência de que o direito não é essencialmente um dado, mas uma construção elaborada no interior da cultura humana. Ela desenvolve-se desde o momento em que a ciência jurídica percebe seu objeto (o direito) como um produto cultural e não mais como um dado da natureza ou sagrado (FERRAZ JUNIOR, 2015, p. 181). Mascaro (2019, p. 123) afirma que “saber de onde vem as normas é um dos postulados mais importantes para a ideia de coerência do ordenamento jurídico e, consequentemente, para que as necessidades da reprodução capitalista estejam respaldadas”, ou seja, faz com que o direito possua um embasamento e, ao compreendê-lo, o entendimento acerca do direito fica ampliado. Para os pensadores gregos, a fonte do direito é o nomos, que se traduz geralmente por lei. É o nomos o meio de limitar o poder das autoridades, já que a liberdade política consiste em não ter que obedecer, senão à lei. Como consequência, os gregos fizeram poucas leis no sentido moderno do termo, visto que nomos significa tanto a lei como o costume. É na filosofia que está a principal contribuição dos gregos para a cultura ocidental, principalmente com Sócrates, Platão e Aristóteles (MACIEL; AGUIAR, 2017, p. 104). Já para os romanos, “a lei escrita deixa de ser a principal fonte jurídica e os costumes ganham cada vez mais projeção. Esse retorno ao passado é tão grande que o direito escrito desaparece da Europa, ficando restrito ao direito canônico” (MACIEL; AGUIAR, 2017, p. 177). Percebe-se então a influência destes dois grandes povos, de modo a fazerem parte da construção de fontes do direito. Maluf e Maluf (2017) apontam que as fontes do direito são os meios pelos quais se formam ou se estabelecem
Compartilhar