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55 APOSENTADORIA ESPECIAL Mariana Amelia Flauzino Gonçalves1 Aposentadoria Especial Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei 9.032, de 1995) Redação anterior: Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei, ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a atividade profissional, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. § 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei, con- sistirá numa renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de- -benefício. (Redação dada pela Lei 9.032, de 1995) Redação anterior: § 1º A aposentadoria especial, observado o disposto na Seção III deste capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 85% (oitenta e cinco por cento) do salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício. § 2º A data de início do benefício será fixada da mesma forma que a da aposentadoria por idade, conforme o disposto no art. 49. § 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. (Redação dada pela Lei 9.032, de 1995) Redação anterior: § 3º O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e em atividade profissional sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, 1 Analista Judiciária/Área Judiciária – Justiça Federal de 1º Grau no Paraná. 56 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves após a respectiva conversão, segundo critérios de equivalência estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, para efeito de qualquer benefício. § 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. (Redação dada pela Lei 9.032, de 1995) Redação anterior: § 4º O período em que o trabalhador integrante de categoria profissional enquadrada neste artigo permanecer licenciado do emprego, para exercer cargo de administração ou de representação sindical, será contado para aposentadoria especial. § 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício. (Incluído pela Lei 9.032, de 1995) § 6º O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente. (Redação dada pela Lei 9.732, de 11/12/1998) Redação anterior: § 6º É vedado ao segurado aposentado, nos termos deste artigo, continuar no exercício de atividade ou operações que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta lei. (Incluído pela Lei 9.032, de 1995) § 7º O acréscimo de que trata o parágrafo anterior incide exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito às condições especiais referidas no caput. (Incluído pela Lei 9.732, de 11/12/1998) § 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta Lei. (Incluído pela Lei 9.732, de 11/12/1998) Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo. (Redação dada pela Lei 9.528, de 1997) Redação anterior: Art. 58. A relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física será objeto de lei específica. § 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base APOSENTADORIA ESPECIAL 57 em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista. (Redação dada pela Lei 9.732, de 11/12/1998) Redação anterior: § 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (Incluído pela Lei 9.528, de 1997) § 2º Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo estabelecimento respectivo. (Redação dada pela Lei 9.732, de 11/12/1998) Redação anterior: § 2° Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo estabelecimento respectivo. (Incluído pela Lei 9.528, de 1997) § 3º A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à penalidade prevista no art. 133 desta Lei. (Incluído pela Lei 9.528, de 1997) § 4º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento. (Incluído pela Lei 9.528, de 1997) Art. 152. (Revogado pela Lei 9.528, de 1997) Redação anterior: Art. 152. A relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física deverá ser submetida à apreciação do Congresso Nacional, no prazo de 30 (trinta) dias a partir da data da publicação desta lei, prevalecendo, até então, a lista constante da legislação atualmente em vigor para aposentadoria especial. 1 - TRAÇOS ELEMENTARES 1.1 - Conceito A aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria devida ao segurado que exercer, durante 15, 20 ou 25 anos, trabalho sujeito a condi- ções especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade física. 58 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves 1.2 - Legislação aplicável CF/88, artigo 201, §1º; Lei 8.213/91, artigos 57 e 58; Lei 10.666/03,artigo 3º. 1.3 - Requisito específico Exercício de atividade laborativa em condições especiais que prejudi- quem a saúde ou a integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos, conforme dispuser a lei. 1.4 - Carência A regra de carência da aposentadoria especial é a mesma das demais aposentadorias, exceto a de invalidez, ou seja, 180 contribuições mensais, devendo ser observada a regra de transição estabelecida no artigo 142, da Lei 8.213/91, destinada ao segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991, bem como ao trabalhador e ao empregador rural, cobertos pela Previdência Social Rural. 1.5 - Qualidade de segurado A perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão de aposentadoria especial, segundo a norma do artigo 3º, da Lei 10.666/03. 1.6 - Valor 100% do salário de benefício. 1.7 - Data de Início do Benefício (DIB) Em razão do disposto no § 2º, do artigo 57, da Lei 8.213/91, a data de início do benefício de aposentadoria especial deve observar a regra do arti- go 49, que disciplina a aposentadoria por idade. Assim, nos termos do arti- go 49, da Lei 8.213/91, em relação ao segurado empregado, a aposentadoria especial é devida a partir da data do desligamento do emprego – quando requerida até essa data ou até 90 dias depois dela – ou da data do requeri- mento – quando não houver desligamento do emprego ou quando for re- querida após o referido prazo. Em relação aos demais segurados, a DIB será a data da entrada do requerimento. APOSENTADORIA ESPECIAL 59 2 - PANORAMA DO TRATAMENTO JURISPRUDENCIAL A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 7º, inciso XXII, no artigo 200, inciso VIII, e no artigo 2252, aos trabalhadores o direito funda- mental ao meio ambiente de trabalho saudável, refletindo a preocupação da Organização Internacional do Trabalho – OIT com a proteção da saúde do trabalhador. No preâmbulo de sua Constituição, a OIT destaca a necessidade de “proteção dos trabalhadores contra moléstias graves ou profissionais e os acidentes de trabalho” e, conforme informa o relatório, publicado em 2012, sobre o Perfil do Trabalho Decente no Brasil: Em 1999 a OIT formalizou o conceito de Trabalho Decente como uma síntese da sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas. O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT (o respeito aos direitos no trabalho, a promoção do emprego, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social), e condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável.3 A efetiva existência de condições de trabalho digno, seguro e saudá- vel, no entanto, não é a realidade vivenciada por todos os trabalhadores, justificando a previsão de instrumentos compensatórios pelo desempenho de trabalho com exposição a agentes nocivos à saúde, seja na legislação tra- balhista, que institui adicionais de insalubridade e periculosidade, seja na legislação previdenciária, que assegura o direito à aposentadoria especial. A Aposentadoria Especial, portanto, é um benefício previdenciário que busca compensar o trabalhador pelo desgaste decorrente da sujeição a agentes prejudiciais à sua saúde e integridade física, e também antecipar 2 Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: […]. XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; […]. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: […]. VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. […]. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 3 GUIMARÃES, José Ribeiro Soares. Perfil do trabalho decente no Brasil: um olhar sobre as Unidades da Federação. Brasília: OIT, 2012. p. 6. 60 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves sua saída do ambiente de trabalho que lhe é prejudicial, mediante redução do tempo necessário para obter aposentadoria e pela possibilidade de so- mar o tempo de serviço exercido alternadamente em atividades comuns e especiais, após a respectiva conversão, para efeito de aposentadoria de qualquer espécie. O benefício de aposentadoria especial, atualmente previsto nos arti- gos 57 e 58, da Lei 8.213/91, foi introduzido no ordenamento jurídico nacio- nal pela Lei 3.807/60, que dispõe sobre a Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, e sofreu inúmeras e sucessivas alterações ao longo dos anos, o que torna amplo e bastante complexo o tema da Aposentadoria Especial. Trata-se, ao lado das aposentadorias por idade e por tempo de con- tribuição, de benefício previdenciário programável que demanda longo período de tempo para o implemento de seus requisitos de concessão4 e, portanto, sensivelmente sujeito às inúmeras alterações legislativas. Assim, é possível afirmar que, em matéria de Aposentadoria Especial, a maioria das questões levadas ao Poder Judiciário envolve a análise de al- terações legislativas, especialmente a definição e interpretação das normas que irão informar o acertamento judicial da relação jurídica apresentada. É por essa razão que a compreensão do tema exige não apenas o co- nhecimento das normas em vigência, mas também do histórico legislativo, a seguir relatado em síntese. A instituição da aposentadoria especial ocorreu com a Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS (Lei 3.807, de 26/08/1960)5, sendo seus requisi- tos: (a) idade mínima de 50 anos; (b) carência de 15 anos de contribuição; (c) comprovação do exercício de atividade profissional em serviços consi- derados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo, durante 15, 20 ou 25 anos. Inicialmente, a Lei 3.807/60 foi regulamentada pelo Decreto 48.959-A, de 19/09/1960, que listou os serviços considerados penosos, insalubres ou perigosos, no Quadro II, a que se refere o artigo 656. E, posteriormente, pelo Decreto 53.831, de 25/03/1964, que estabeleceu um Quadro Anexo com a 4 SAVARIS, José Antonio. Benefícios Programáveis do Regime Geral da Previdência Social – Aposentadoria por Tempo de Contribuição e Aposentadoria por Idade. In: ROCHA, Daniel Machado; SAVARIS, José Antonio (Coord.). Curso de especialização em direito previdenciário. Curitiba: Juruá, 2006. v. 2, p. 103-193. 5 Art. 31. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no mínimo 50 (cinqüenta) anos de idade e 15 (quinze) anos de contribuições tenha trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços, que, para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo. APOSENTADORIA ESPECIAL 61 relação dos agentes físicos, químicos e biológicos e os serviços e atividades profissionais classificados como insalubres, perigosos ou penosos, que en- sejam a aposentadoria especial. Em 14/03/1967, o Decreto 60.501 aprovou a Nova Redação ao Regula- mento Geral da Previdência Social (Decreto 48.599-A de 19 de setembro de 1960), com redação bastante semelhante a do decreto anterior7. Já a Lei 5.440-A, de 23/05/1968, alterou a redação do artigo 31, da Lei 3.807/60, excluindo o limite mínimo de idade para concessão de aposen- tadoria especial8. Após a revogação do Decreto 53.831/64 pelo Decreto 62.755, de 22/05/19689, foi publicado o Decreto 63.230, de10/09/1968, relacionando, nos Quadros I e II, os agentes nocivos físicos, químicos e biológicos e os serviços e atividades profissionais que motivam a aposentadoria especial, deixando de incluir os Engenheiros de Construção Civil e Eletricista, categorias profissionais que constavam do decreto anterior. Esse decreto foi a primeira legislação a prever a possibilidade de conversão de “tempo especial em espe- cial”, para o segurado que tenha exercido atividade laborativa sucessiva- mente em duas ou mais atividades penosas, insalubres ou perigosas sem completar em qualquer delas o prazo mínimo correspondente10. A Lei 5.527, de 08/11/1968, restabeleceu, para as categorias profis sionais que menciona, o direito à aposentadoria especial de que trata o arti- go 31, da Lei 3.807/60, nas condições anteriores11. 6 Art. 65. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no mínimo 50 (cinqüenta) anos de idade e 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, tenha trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços penosos, insalubres ou perigosos, assim considerados os constantes do Quadro que acompanha êste Regulamento (Quadro II). 7 Art. 57. A aposentadoria especial será devida ao segurado que, após 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, e contando no mínimo 50 (cinqüenta) anos de idade, tenha conforme a atividade pelo menos 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de trabalho em serviços considerados, por ato do Poder Executivo, penosos, insalubres ou perigosos. 8 Art. 1º. No artigo 31 da Lei 3.807, de 26 de agôsto de 1960 (Lei Orgânica da Previdência Social) suprima-se a expressão “50 (cinqüenta) anos de idade e”. 9 Art. 1º. Fica revogado o Decreto 53.831, de 25 de março de 1964. 10 Art. 3º. […]. § 1º Quando o segurado houver trabalhado sucessivamente em duas ou mais atividades penosas, insalubres ou perigosas sem ter completado em qualquer delas o prazo mínimo que lhe corresponda, os respectivos tempos de trabalho serão somados, após quando fôr o caso, à respectiva conversão, segundo critério de equivalência a ser estabelecido pelos órgãos técnicos competentes do Ministério do Trabalho e Previdência Social. 62 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves Após, a Lei 5.890, de 08/06/1973, alterou a Legislação de Previdência So- cial, reduzindo a carência da aposentadoria especial para 5 anos de con- tribuição12 e determinando a suspensão da aposentadoria por tempo de serviço do segurado que retornar à atividade13, o que foi revogado poste- riormente pela Lei 6.210/7514. Nada dispôs, no entanto, sobre a exigência de idade mínima para obtenção de aposentadoria especial, o que gerou dúvi- da sobre a persistência desse requisito no ordenamento jurídico, posterior- mente superada pela jurisprudência15. Em 06/09/1973, o Decreto 72.771 aprova o Regulamento da Lei 3.807, de 26 de agosto de 1960, com as alterações introduzidas pela Lei 5.890, de 8 de junho de 1973, revogando os Decretos 60.501/67 e 63.230/68. Em 1975, foi aprovada a Lei 6.243, a qual regulamenta a situação do aposentado pela Previdência Social que volta ao trabalho e do segurado que se vincula a seu regime após completar 60 anos de idade, bem como deter- mina ao Poder Executivo a expedição, por decreto, de consolidação da Lei Orgânica da Previdência Social, com a respectiva legislação complementar, em texto único revisto, atualizado e remunerado, sem alteração da matéria legal substantiva (art. 6º). 11 Art. 1º. As categorias profissionais que até 22 de maio de 1968 faziam jus à aposentadoria de que trata do artigo 31 da Lei número 3.807, de 26 de agosto de 1960, em sua primitiva redação e na forma do Decreto 53.831, de 24 de março de 1964, mas que foram excluídas do benefício por força da nova regulamentação aprovada pelo decreto 63.230, de 10 de setembro de 1968, conservarão direito a esse benefício nas condições de tempo de serviço e de idade vigentes naquela data. 12 Art. 9º. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no mínimo 5 (cinco) anos de contribuição, tenha trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que, para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por decreto do Poder Executivo. 13 Art. 12. O segurado aposentado, por tempo de serviço, que retornar à atividade será normalmente filiado e terá suspensa sua aposentadoria, passando a perceber um abono, por todo o novo período de atividade, calculado na base de 50% (cinqüenta por cento) da aposentadoria em cujo gozo se encontrar. 14 Art. 7º. Revogam-se os incisos VI, VII e VIII do artigo 69 da Lei 3.807, de 26 de agosto de 1960 (Lei Orgânica da Previdência Social), na sua atual redação; o inciso VI, de seu artigo 79, os artigos 12, 26, 27 e 28, da Lei 5.890, de 8 de junho de 1973, e as demais disposições em contrário. 15 RESP – PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA ESPECIAL – ATIVIDADE PERIGOSA – A LEI 5.440-A/1968 NÃO MAIS EXIGE IDADE MÍNIMA DE 50 ANOS PARA A CONCESSÃO DE APOSENTADORIA ESPECIAL. (STJ, REsp. 159.818/MG, Rel. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Sexta Turma, j. em 02/06/1998, DJ 29/06/1998, p. 353). APOSENTADORIA ESPECIAL 63 Em razão dessa lei, foi publicado o Decreto 77.077/76, que expediu a Consolidação das Leis da Previdência Social – CLPS, sem alterações em matéria de Aposentadoria Especial dignas de nota. Em 24/01/1979, o Decreto 83.080 aprovou o Regulamento dos Benefí- cios da Previdência Social, dispondo nos artigos 60 a 64 sobre aposentadoria especial e relacionando nos Anexos I e II os agentes nocivos físicos, quí- micos e biológicos e as atividades profissionais que ensejam a nominada aposentadoria. A Lei 6.887, de 10/12/1980, alterou a Legislação da Previdência Social Urbana, sendo a primeira legislação a permitir que o tempo de serviço exer- cido alternadamente em atividades comuns e em atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas seja somado, após a respectiva conversão segundo critérios de equivalência a serem fixados pelo Ministério da Previ- dência Social, para efeito de aposentadoria de qualquer espécie16. Em razão dessa inovação legislativa, o Decreto 83.080/79 foi alterado pelo Decreto 87.374/82, incluindo tabela de conversão no § 2º, do artigo 60. Posteriormente, o Decreto 89.312, de 23/01/1984, expediu Nova Edição da Consolidação das Leis da Previdência Social, sem alterações de maior impor- tância em relação à aposentadoria especial. A Constituição Federal de 1988 expressamente assegurou, origina- riamente no artigo 202, inciso II e, após a Emenda Constitucional 20/98, no artigo 201, § 1º, a possibilidade de adoção de critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria a segurado sujeito a condições especiais de trabalho. Em cumprimento ao disposto no artigo 59, do ADCT, da Constituição Federal de 198817, foram editadas as Leis 8.212/91 e 8.213/91, instituindo, res- pectivamente, o Plano de Custeio e os Planos de Benefícios da Previdência Social. Em sua redação original, a Lei 8.213/91 assegurou a aposentadoria especial ao segurado que, uma vez cumprida a carência, tiver trabalhado 16 Art. 2º. A Lei 5.890, de 8 de junho de 1973, com as modificações introduzidas posteriormente, passa a vigorar com as seguintes alterações: […]. “Art. 9º […] § 4º O tempo de serviço exercido alternadamente em atividades comuns e em atividades que, na vigência desta Lei, sejam ou venham a ser consideradas penosas, insalubres ou perigosas, será somado, após a respectiva conversão segundo critérios de equivalência a serem fixados pelo Ministério da Previdência Social, para efeito de aposentadoria de qualquer espécie.” 17 Art. 59. Os projetos de lei relativos à organização da seguridade social e aosplanos de custeio e de benefício serão apresentados no prazo máximo de seis meses da promulgação da Constituição ao Congresso Nacional, que terá seis meses para apreciá- los. Parágrafo único. Aprovados pelo Congresso Nacional, os planos serão implantados progressivamente nos dezoito meses seguintes. 64 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves durante 15, 20 ou 25 anos, conforme atividade profissional, sujeito a condi- ções especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas em lei. Foi mantida a possibilidade de somar, após conversão, tempo de ser- viço exercido alternadamente em atividade comum e em atividade especial. Foi ressalvado ainda que, enquanto não publicada lei específica defi- nindo a relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à inte- gridade física, deve prevalecer a lista constante da legislação em vigor para aposentadoria especial. A Lei 8.213/91 foi regulamentada pelos Decretos 357/91, 611/92, 2.172/97 e 3.048/99. No artigo 29518, do Decreto 357/91, foi estabelecido que, para efeito de concessão das aposentadorias especiais, devem ser considerados os Anexos I e II do Decreto 83.080/79 e o Quadro Anexo ao Decreto 53.831/64, até que fosse promulgada a lei que disporia sobre as atividades prejudiciais à saúde e à integridade física do segurado. Posteriormente, o Decreto 611/9219 trou- xe a mesma norma. A Lei 9.032, de 28/04/1995, alterou a redação do artigo 57, da Lei 8.213/91, excluindo a possibilidade de enquadramento como especial de tempo de serviço por categoria profissional20 e de conversão de tempo comum em especial21. Também foi alterado o coeficiente do benefício de aposentadoria especial, passando a ser 100% do salário de benefício e, pela primeira vez, constou em lei ordinária a necessidade de comprovação pelo 18 Art. 295. Para efeito de concessão das aposentadorias especiais serão considerados os Anexos I e II do Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 83.080, de 24 de janeiro de 1979, e o Anexo do Decreto 53.831, de 25 de março de 1964, até que seja promulgada a lei que disporá sobre as atividades prejudiciais à saúde e à integridade física. 19 Art. 292. Para efeito de concessão das aposentadorias especiais serão considerados os Anexos I e II do Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 83.080, de 24 de janeiro de 1979, e o Anexo do Decreto 53.831, de 25 de março de 1964, até que seja promulgada a lei que disporá sobre as atividades prejudiciais à saúde e à integridade física. 20 Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a lei. 21 Art. 57. […]. § 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício. APOSENTADORIA ESPECIAL 65 segurado do tempo de trabalho de modo permanente, não ocasional nem in- termitente, em condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física. A Lei 9.032/95 ainda vedou ao segurado titular de aposentadoria es- pecial de continuar no exercício de atividades que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da legislação previdenciária. Referida norma, no entan- to, é desprovida de sanção em caso de seu descumprimento. A Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996, reeditada diversas ve- zes com a mesma redação até a edição da Medida Provisória 1.596-14, de 10/11/1997, que foi convertida na Lei 9.528, de 10/12/1997, alterou o artigo 58 da Lei 8.213/91, remetendo ao Poder Executivo a definição da lista de agen- tes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudi- ciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial. Foi ainda acrescentado o § 1º ao artigo 58, exigindo laudo técnico de condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, para comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos. O Decreto 2.172, de 05/03/1997, aprovou novo Regulamento dos Bene- fícios da Previdência Social, revogando expressamente os Decretos 357/91 e 611/92 e os Anexos I e II do Regulamento de Benefícios da Previdência So- cial, aprovado pelo Decreto 83.080/79. De outro lado, a relação de agentes nocivos considerados para fins de aposentadoria especial passa a constar do Anexo IV do referido decreto, deixando de mencionar como agentes pre- judiciais a umidade, o frio, a eletricidade e a radiação não ionizante. A Lei 8.213/91 sofreu novas alterações pela Medida Provisória 1.663-10, que foi reeditada várias vezes e parcialmente convertida na Lei 9.711/98 (MP 1.663-15). A MP 1.663-10 revogava o § 5º, do artigo 57, da Lei 8.213/9122, que pre- vê a possibilidade de conversão de tempo de serviço especial em comum. Já na 13ª reedição, a referida medida provisória fixou regra de transição possibilitando a conversão de tempo de serviço especial em comum até 28 de maio de 199823. 22 Art. 28. Revogam-se a alínea “c” do § 8º do art. 28 e o art. 79 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, o § 5º do art. 57 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, o art. 29 da Lei 8.880, de 27 de maio de 1994, e a Medida Provisória 1.586-9, de 21 de maio de 1998. 23 Art. 28. O Poder Executivo estabelecerá critérios para conversão do tempo de trabalho exercido até 28 de maio de 1998, sob condições especiais que sejam prejudiciais à saúde ou à integridade física, nos termos dos arts. 57 e 58 da Lei 8.213, de 1991, na redação dada pelas Leis 9.032, de 28 de abril de 1995, e 9.528, de 10 de dezembro de 1997, e de seu regulamento, em tempo de trabalho exercido em atividade comum, desde que 66 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves A Medida Provisória 1.663-13/98 foi regulamentada pelo Decreto 2.782/98, admitindo a conversão de tempo de serviço especial em comum até 28 de maio de 1998, “desde que o segurado tenha completado, até aquela data, pelo menos vinte por cento do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria especial” (art. 1º). Depois disso, a Medida Provisória 1.663-15/98 foi parcialmente con- vertida na Lei 9.711/98, sendo suprimida a revogação do § 5º, do artigo 57, da Lei 8.213/9124. A Lei 8.213/91 foi alterada ainda pela Medida Provisória 1.729/98, convertida na Lei 9.732/98, passando a estabelecer financiamento específico para a aposentadoria especial, bem como a possibilidade de cancelamento da aposentadoria, caso o segurado aposentado continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da relação referida no artigo 58, da Lei de Benefícios. A partir dessa norma, o laudo técnico exigível para comprovação da especialidade de tempo de serviço deve observar a legislação trabalhista. A partir da Emenda Constitucional 20, de 15/12/1998, a definição de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física foi remetida à lei complementar, permanecendo em vigor o disposto nos artigos 57 e 58, da Lei 8.213/91, enquanto não publicada a lei complementar a que se refere o artigo 201, § 1º, da Constituição Federal25. O atual Regulamento da Previdência Social é o Decreto 3.048/99. O seu Anexo IV relaciona os agentes nocivos químicos, físicos e biológicos, o segurado tenha implementado percentual do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria especial, conforme estabelecido em regulamento. […]. Art.31. Revogam-se a alínea “c” do § 8º do art. 28 e os arts. 75 e 79 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, o § 5º do art. 57 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, e o art. 29 da Lei 8.880, de 27 de maio de 1994. 24 Art. 28. O Poder Executivo estabelecerá critérios para a conversão do tempo de trabalho exercido até 28 de maio de 1998, sob condições especiais que sejam prejudiciais à saúde ou à integridade física, nos termos dos arts. 57 e 58 da Lei 8.213, de 1991, na redação dada pelas Leis nos 9.032, de 28 de abril de 1995, e 9.528, de 10 de dezembro de 1997, e de seu regulamento, em tempo de trabalho exercido em atividade comum, desde que o segurado tenha implementado percentual do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria especial, conforme estabelecido em regulamento. […]. Art. 32. Revogam-se a alínea “c” do § 8º do art. 28 e os arts. 75 e 79 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, o art. 127 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, e o art. 29 da Lei 8.880, de 27 de maio de 1994. 25 Art. 15. Até que a lei complementar a que se refere o art. 201, § 1º, da Constituição Federal, seja publicada, permanece em vigor o disposto nos arts. 57 e 58 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, na redação vigente à data da publicação desta Emenda. APOSENTADORIA ESPECIAL 67 e associação de agentes, considerados para efeito de enquadramento como tempo especial. O Decreto 3.048/99 foi alterado inúmeras vezes, destacando-se a mo- dificação promovida pelo Decreto 4.032, de 26/11/2001, que regulamenta o perfil profissiográfico previdenciário, e pelo Decreto 4.827, de 03/09/2003, que, ao modificar a redação do artigo 70, permite a conversão de tempo de serviço especial em comum, sem limitação temporal. Em 08/05/2003, a Lei 10.666/03 prevê a possibilidade de concessão de aposentadoria especial mesmo que o segurado tenha perdido a qualidade de segurado, bem como dispõe sobre a concessão de aposentadoria especial ao cooperado de cooperativa de trabalho ou de produção que trabalha sujei- to a condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade física. A legislação previdenciária em matéria de Aposentadoria Especial, por- tanto, passou por muitas alterações, motivando o surgimento de inúmeras lides judiciais e provocando reflexões da doutrina e da jurisprudência. Ao lado das diversas e sucessivas modificações legislativas, a falta de estabilidade da jurisprudência, decorrente da ausência no direito nacional de cultura de respeito a precedentes26, tem dificultado sobremaneira a com- preensão do tema, tornando-o ainda mais complexo. Essa instabilidade jurisprudencial é notadamente vivenciada em sede de Juizados Especiais Federais, conforme relatam os Juízes Federais José Antonio Savaris e Flavia da Silva Xavier: A decisão dos incidentes de uniformização não se limita a produzir efeito suportado apenas no processo em que foi proferida. Há efeitos que ultrapassam o processo em que é decidido o incidente – efeito externo – e que se irradia em outros feitos e instâncias dos Juizados Especiais. Como já mencionado, os incidentes de uniformização não se prestam apenas a fixar uma premissa de direito para um único processo, mas visam a pacificação e a estabilização da jurisprudência, servindo de fundamento para as decisões futuras a serem proferidas em casos análogos e, até mesmo, para a modificação de decisões já proferidas, contras as quais tenham sido interpostos incidentes de uniformização (Lei 10.259/01, art. 14, §§ 6º e 9º; CJF, Resolução 22/08). 26 WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Estabilidade e adaptabilidade como objetivos do direito: civil law e common law. Revista de Processo, ano 34, n. 172, p. 121-174, jun./2009; MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil law e de common law e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil. Revista de Processo, ano 34, n. 172, p. 175-232, jun./2009. 68 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves […]. No entanto, para que este efeito externo realmente seja sentido e implique maior segurança jurídica, concretização do princípio da igualdade e celeridade processual, é necessário que as instâncias uniformizadoras realmente exerçam seu mister de estabilizar a jurisprudência. Na prática, o que se tem testemunhado em inúmeras situações é uma oscilação de jurisprudência dos colegiados uniformizadores que, ao invés de proporcionar maior segurança jurídica, assegurar a aplicação do princípio da igualdade e a agilização dos feitos dos Juizados Especiais Federais, levam a um estado de insegurança que apenas fomenta o manejo desnecessário e reiterado dos incidentes de uniformização, criando uma terceira instância neste microssistema processual que, evidentemente, não é de se admitir. Essa oscilação jurisprudencial dos colegiados uniformizadores está intimamente ligada à falta de cultura de vinculação aos precedentes no Direito Brasileiro e precisa ser paulatinamente vencida para que os incidentes de uniformização cumpram seu papel inovador de servir de instrumento de estabilização da jurisprudência.27 É válido lembrar, a título de exemplo de descompromisso com prece- dentes, a alteração, em 2011, da redação da Súmula 3228, da Turma Nacional de Uniformização, que trazia entendimento consolidado a respeito do nível de ruído que enseja o enquadramento de tempo de serviço como especial desde 200529. Da nova redação da indicada súmula, a Turma Nacional de Unifor- mização passou a adotar entendimento contrário ao firmado pelo Superior Tribunal de Justiça30, que é o órgão do Poder Judiciário responsável pela de- 27 XAVIER, Flavia da Silva; SAVARIS, José Antonio. Manual dos recursos nos juizados especiais federais. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 231-233. 28 Súmula 32: “O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto n. 53.831/64 e, a contar de 5 de março de 1997, superior a 85 decibéis, por força da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003, quando a Administração Pública reconheceu e declarou a nocividade à saúde de tal índice de ruído”. (DOU 14/12/2011, p. 179, alterada). 29 Texto anterior da Súmula 32: “O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto 53.831/64 (1.1.6); superior a 90 decibéis, a partir de 5 de março de 1997, na vigência do Decreto 2.172/97; superior a 85 decibéis, a partir da edição do Decreto 4.882, de 18 de novembro de 2003”. 30 PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO INTERPOSTO PELA FAZENDA PÚBLICA CONTRA ACÓRDÃO QUE APRECIA REEXAME NECESSÁRIO. PRECLUSÃO LÓGICA. NÃO OCORRÊNCIA. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. ESPECIAL EM COMUM. EXPOSIÇÃO AO AGENTE FÍSICO APOSENTADORIA ESPECIAL 69 finição da interpretação federal. Em 2014, no entanto, o Superior Tribunal de Justiça fez prevalecer seu entendimento, ao julgar o incidente de uniformiza- ção Pet 9.05931 e o Recurso Especial 139826032, representativo de controvérsia. RUÍDO. APLICAÇÃO RETROATIVA DO DECRETO 4.882/2003. IMPOSSIBILIDADE. 1. […]. 2. É considerada especial a atividade exercida com exposição a ruídos superiores a 80 decibéis até a edição do Decreto 2.171/1997. Após essa data, o nível de ruído tido como prejudicial é o superior a 90 decibéis. A partir da entrada em vigor do Decreto 4.882, em 18.11.2003, o limite de tolerância ao agente físico ruído foi reduzido para 85 decibéis. 3. Segundo reiterada jurisprudência desta Corte, não é possível a aplicação retroativa do Decreto 4.882/2003, que reduziu a 85 dB o grau de ruído, para fins de contagem especial de tempo de serviço exercido antes da entrada em vigor desse normativo, porquanto deveincidir à hipótese a legislação vigente à época em que efetivamente prestado o trabalho. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no REsp. 1326237/SC, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, j. em 07/05/2013, DJe 13/05/2013). PROCESSUAL CIVIL – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA – DIREITO PREVIDENCIÁRIO – CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM – RUÍDO – DECRETO 4.882/2003 - RETROAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. 1. […]. 2. No período compreendido entre 06/03/1997 a 18/11/2003, data da entrada em vigor do Decreto 4.882/03, considerando o princípio tempus regit actum, o limite de ruído aplicável para fins de conversão de tempo de serviço especial em comum é de 90 dB. A partir do dia 19/11/2003, incide o limite de 85 dB. Precedentes da 2ª Turma: AgRg no REsp. 1352046/RS, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/12/2012, DJe 08/02/2013 e AgRg nos EDcl no REsp. 1341122/PR, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 06/12/2012, DJe 12/12/2012. 3. Recurso especial provido. (STJ, REsp. 1365898/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 09/04/2013, DJe 17/04/2013). 31 PREVIDENCIÁRIO. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. ÍNDICE MÍNIMO DE RUÍDO A SER CONSIDERADO PARA FINS DE CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. APLICAÇÃO RETROATIVA DO ÍNDICE SUPERIOR A 85 DECIBÉIS PREVISTO NO DECRETO N. 4.882/2003. IMPOSSIBILIDADE. TEMPUS REGIT ACTUM. INCIDÊNCIA DO ÍNDICE SUPERIOR A 90 DECIBÉIS NA VIGÊNCIA DO DECRETO N. 2.172/97. ENTENDIMENTO DA TNU EM DESCOMPASSO COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. 1. Incidente de uniformização de jurisprudência interposto pelo INSS contra acórdão da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais que fez incidir ao caso o novo texto do enunciado n. 32/TNU: (...). 2. A contagem do tempo de trabalho de forma mais favorável àquele que esteve submetido a condições prejudiciais à saúde deve obedecer a lei vigente na época em que o trabalhador esteve exposto ao agente nocivo, no caso ruído. Assim, na vigência do Decreto n. 2.172, de 5 de março de 1997, o nível de ruído a caracterizar o direito à contagem do tempo de trabalho como especial deve ser superior a 90 decibéis, só sendo admitida a redução para 85 decibéis após a entrada em vigor do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003. Precedentes: AgRg nos EREsp 1157707/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe 29/05/2013; AgRg no REsp 1326237/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 13/05/2013; REsp 1365898/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 17/04/2013; AgRg no REsp 1263023/SC, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 24/05/2012; e AgRg no REsp 70 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves A ausência de estabilidade jurisprudencial, ao lado das alterações le- gislativas, desafia a compreensão da Aposentadoria Especial. Sem pretender esgotar o tema, o presente trabalho tratará de algu- mas questões sobre o benefício de Aposentadoria Especial, destacando a su- cessão legislativa que motivou o surgimento de discussão e a orientação jurisprudencial. 3 - TÓPICOS EM APOSENTADORIA ESPECIAL Legislação aplicável para caracterização de tempo de serviço como especial Em razão das sucessivas legislações que modificaram o tratamento jurídico do benefício de aposentadoria especial, surge a discussão sobre qual norma deve informar o enquadramento de tempo de serviço como especial. Se a legislação vigente ao tempo da prestação do serviço ou os critérios definidos na legislação contemporânea à concessão do benefício. Jurisprudência do STF: 1146243/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 12/03/2012. 3. Incidente de uniformização provido. (STJ, Pet 9.059/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, j. em 28/08/2013, DJe 09/09/2013). 32 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. TEMPO ESPECIAL. RUÍDO. LIMITE DE 90DB NO PERÍODO DE 6.3.1997 A 18.11.2003. DECRETO 4.882/2003. LIMITE DE 85 DB. RETROAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE À ÉPOCA DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. Controvérsia submetida ao rito do art. 543- C do CPC 1. Está pacificado no STJ o entendimento de que a lei que rege o tempo de serviço é aquela vigente no momento da prestação do labor. Nessa mesma linha: REsp 1.151.363/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, DJe 5.4.2011; REsp 1.310.034/ PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 19.12.2012, ambos julgados sob o regime do art. 543C do CPC. 2. O limite de tolerância para configuração da especialidade do tempo de serviço para o agente ruído deve ser de 90 dB no período de 6.3.1997 a 18.11.2003, conforme Anexo IV do Decreto 2.172/1997 e Anexo IV do Decreto 3.048/1999, sendo impossível aplicação retroativa do Decreto 4.882/2003, que reduziu o patamar para 85 dB, sob pena de ofensa ao art. 6º da LINDB (ex-LICC). Precedentes do STJ. Caso concreto 3. Na hipótese dos autos, a redução do tempo de serviço decorrente da supressão do acréscimo da especialidade do período controvertido não prejudica a concessão da aposentadoria integral. 4. Recurso Especial parcialmente provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 8/2008. (STJ, REsp 1398260/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, j. 14/05/2014, DJe 05/12/2014). APOSENTADORIA ESPECIAL 71 Os benefícios previdenciários devem regular-se pela lei vigente ao tempo em que preenchidos os requisitos necessários à sua concessão. Incidência, nesse domínio, da regra ‘tempus regit actum’, que indica o estatuto de regência ordinariamente aplicável em matéria de instituição e/ou de majoração de benefícios de caráter previdenciário. Precedentes. (STF, RE 567.360 ED, Relator(a): Min. Celso de Mello, Segunda Turma, julgado em 09/06/2009, Processo Eletrônico DJe-148. Divulg 06/08/2009. Public 07-08-2009) Pela lei vigente à época de sua prestação, qualificase o tempo de serviço do funcionário público, sem a aplicação retroativa de norma ulterior que nesse sentido não haja disposto. Precedentes do Supremo Tribunal: RE 82.881 (RTJ 79/268) e RE 85.218 (RTJ 79/338). (STF, RE 174.150, Relator(a): Min. Octavio Gallotti, Primeira Turma, j. em 04/04/2000, DJ 18/08/2000, p. 92 Ement v. 2000-04, p. 872). Jurisprudência do STJ: Para fins de reconhecimento de tempo de serviço prestado sob condições especiais, a legislação aplicável, em observância ao princípio do tempus regit actum, deve ser aquela vigente no momento em que o labor foi exercido, não havendo como se atribuir, sem que haja expressa previsão legal, retroatividade à norma regulamentadora. (STJ, AgRg no REsp. 1.263.023/SC, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, j. em 17/05/2012, DJe 24/05/2012) O tempo de serviço é regido pela norma vigente ao tempo da sua prestação, consequencializando-se que, em respeito ao direito adquirido, prestado o serviço em condições adversas, por força das quais atribuía a lei vigente forma de contagem diversa da comum e mais vantajosa, esta é que há de disciplinar a contagem desse tempo de serviço. (STJ, REsp. 640.947/ RS, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, j. em 25/06/2004, DJ 25/10/2004, p. 417) Jurisprudência da TNU: Em atendimento ao princípio do tempus regit actum, deve ser aplicada a legislação vigente no momento da prestação do serviço em condições especiais. (IUJEF 200870950021399, Turma Nacional de Uniformização, Relator Juiz Federal Vladimir Santos Vitovsky, DOU 01/06/2012, Decisão: 15/05/2012). Jurisprudência dos TRFs: No que tange ao cômputo de período de atividade especial, para fins de conversão em tempo em comum, é assente na jurisprudência que deve ser adotada a legislação vigente na épocaem que ocorreu a prestação de 72 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves tais serviços (REsp. 101028, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJ de 07/04/2008). (TRF2, APELREEX 496490, 1ª Turma Especializada, Relator Desembargador Federal Abel Gomes, Data Decisão: 25/04/2012, e-DJF2R – Data: 11/05/2012, p. 104) Relativamente ao enquadramento de atividade como especial, a jurisprudência é firme no sentido de que as relações jurídicas decorrentes do exercício das atividades especiais devem ser sempre interpretadas de acordo com a legislação vigente à época do exercício da atividade, de forma que a sua prova depende da regra incidente em cada período (tempus regit actum). (STJ, AGRESP 662658/MG, 5ª Turma, rel. min. Felix Fischer, DJU: 04/04/05; REsp. 551917/RS, 6ª Turma, rel. min. Maria Thereza de Assis Moura, DJU 15/09/2008). (TRF4, APELREEX 0007480-70.2011.404.9999, Quinta Turma, Relatora Marina Vasques Duarte de Barros Falcão, DE 09/02/2012). Análise Crítica: O reconhecimento de tempo de serviço como especial deve observar a legislação vigente no momento do exercício da atividade laborativa, inci- dindo o princípio tempus regit actum. Assim, desempenhado o trabalho em condições especiais nos termos da legislação vigente no momento da sua prestação, o direito à contagem desse tempo de serviço de forma diferen- ciada incorpora-se ao patrimônio jurídico do trabalhador. Não é admissível, portanto, a aplicação retroativa de normas que estabeleçam critérios mais rigorosos para o enquadramento de tempo de serviço como especial, sob pena de ofensa ao direito adquirido. Critérios legais para enquadramento de tempo de serviço como especial Para a caracterização de tempo de serviço como especial, deve-se obser var a legislação vigente no momento em que o trabalho foi desempe- nhado, conforme analisado no tópico anterior. Assim, e diante do histórico legislativo em matéria de aposentadoria especial, importa identificar quais os critérios legais para a caracterização de tempo de serviço como especial. Jurisprudência do STJ: A partir da Lei 9.032/95, o reconhecimento do direito à conversão do tempo de serviço especial se dá mediante a demonstração da exposição aos agentes prejudiciais à saúde por meio de formulários estabelecidos pela autarquia até o advento do Decreto 2.172/97, que passou a exigir laudo técnico das condições ambientais do trabalho. (STJ, Pet 9.194/PR, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, j. em 28/05/2014, DJe 03/06/2014) APOSENTADORIA ESPECIAL 73 É possível a conversão, em comum, do tempo de serviço exercido sob condições especiais, nos termos dos Decretos n. 53.831/64 e 83.080/79, até a edição da Lei 9.032/95, independentemente da produção de laudo pericial comprovando a efetiva exposição a agentes nocivos. (STJ, AR 2.943/ RS, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, j. em 08/05/2013, DJe 17/05/2013) A partir da vigência da Lei 9.032/95 (29/04/1995), a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos passou a realizar-se por intermédio dos formulários SB-40 e DSS-8030. Somente com a edição da Medida Provisória 1.523/96 (14/10/1996) houve a necessidade de laudo técnico no intuito de comprovar referida exposição. (STJ, AgRg no REsp. 1.267.838/SC, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, j. em 16/10/2012, DJe 23/10/2012) Possível o reconhecimento de atividades especiais, após a Lei n. 9.032/1995, sendo certo, outrossim, que a exigência de laudo pericial para comprovação do labor especial somente se deu a partir da edição da Lei 9.528/1997. (STJ, EDcl no REsp. 1.109.813/PR, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, j. em 12/06/2012, DJe 27/06/2012) A necessidade de comprovação do exercício de atividade insalubre, através de laudo pericial elaborado por médico ou engenheiro de segurança do trabalho, foi exigência criada apenas a partir do advento da Lei 9.528, de 10/12/1997, que alterou o § 1º do art. 58 da Lei 8.213/91. (STJ, AgRg no REsp. 1176916/RS, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, j. em 11/05/2010, DJe 31/05/2010) Até a edição da Lei 9.032/95 (28/04/1995), existia a presunção absoluta de exposição aos agentes nocivos relacionados no anexo dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 tãosó pela atividade profissional, quando então passou a ser exigida a sua comprovação por meio dos formulários de informações sobre atividades com exposição a agentes nocivos ou outros meios de provas até a data da publicação do Decreto 2.172/97. (STJ, EDcl no REsp. 415.298/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, julgado em 10/03/2009, DJe 06/04/2009) Até 05/03/1997, data da publicação do Decreto 2.172, que regulamentou a Lei 9.032/95 e a MP 1.523/96 (convertida na Lei 9.528/97), a comprovação do tempo de serviço laborado em condições especiais, em virtude da exposição de agentes nocivos à saúde e à integridade física dos segurados, dava-se pelo simples enquadramento da atividade exercida no rol dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 e, posteriormente, do Decreto 611/92. A partir da referida data, passou a ser necessária a demonstração, mediante laudo técnico, da efetiva exposição do trabalhador a tais agentes nocivos, […]. (STJ, REsp. 354.737/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, j. em 18/11/2008, DJe 09/12/2008) A necessidade de comprovação da atividade insalubre através de laudo pericial foi exigida após o advento da Lei 9.528, de 10/12/1997, que convalidando os 74 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves atos praticados com base na Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996, alterou o § 1º, do art. 58, da Lei 8.213/91, passando a exigir a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos, mediante formulário, na forma estabelecida pelo INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico das condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (STJ, AgRg no REsp. 1.066.847/PR, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta Turma, j. em 30/10/2008, DJe 17/11/2008). Até 05/03/1997, data da publicação do Decreto 2.172, que regulamentou a Lei 9.032/95 e a MP 1.523/96 (convertida na Lei 9.528/97), a comprovação do tempo de serviço laborado em condições especiais, em virtude da exposição de agentes nocivos à saúde e à integridade física dos segurados, dava-se pelo simples enquadramento da atividade exercida no rol dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 e, posteriormente, do Decreto 611/92. A partir da referida data, passou a ser necessária a demonstração, mediante laudo técnico, da efetiva exposição do trabalhador a tais agentes nocivos, […]. (STJ, REsp. 551.917/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, j. em 21/08/2008, DJe 15/09/2008) A necessidade de comprovação da atividade insalubre através de laudo pericial foi exigida após o advento da Lei 9.528, de 10.12.1997, que convalidando os atos praticados com base na Medida Provisória 1.523, de 11.10.1996, alterou o § 1º do art. 58 da Lei 8.213/91, passando a exigir a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos, mediante formulário, na forma estabelecida pelo INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico das condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (STJ, REsp. 419.211/ RS, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, Quinta Turma, julgado em 25/02/2003, DJ 07/04/2003, p. 317) Jurisprudência da TNU: Trata-se de entendimento igualmente consolidado nesta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência que a exigibilidade de laudo técnico para comprovação de insalubridade apontada nos formulários DSS-8030 somente se impõe a partir da promulgação da Lei 9.528, de 10/12/1997, que convalidou os atos praticados com base na MP 1.523,de 11/10/1996, alterando o § 1º do art. 58 da Lei 8.213/91. A exigência é inaplicável à espécie, que se refere a período anterior’. (PEDILEF 200571950189548, Relator(a) Juíza Federal Simone dos Santos Lemos Fernandes, Decisão 05/06/2011, DOU 24/05/2011, Seção 1)”. (IUJEF 00029501520084047158, Turma Nacional de Uniformização, Relator Juiz Federal Antonio Fernando Schenkel, DOU 09/03/2012, Decisão: 29/02/2012) Para período posterior à edição da Lei 9.032/95, exige-se a comprovação da atividade especial por meio de formulários e, após o Decreto 2.172 de APOSENTADORIA ESPECIAL 75 05.03.1997, de laudos técnicos. (IUJEF 200832007028699, Turma Nacional de Uniformização, Relator Juiz Federal José Antonio Savaris, DJ 23/03/2010, Decisão: 08/02/2010). Jurisprudência dos TRFs: II – Até a edição da Lei 9.032/95, a comprovação do tempo de serviço prestado em atividade especial, poderia se dar de duas maneiras: a) pelo mero enquadramento em categoria profissional elencada como perigosa, insalubre ou penosa em rol expedido pelo Poder Executivo (Decretos 53.831/64 e 83.080/79); ou b) através da comprovação de efetiva exposição a agentes nocivos constantes do rol dos aludidos decretos, mediante quaisquer meios de prova. III – Para o período entre a publicação da Lei 9.032/95 (29/04/1995) e a expedição do Decreto 2.172/97 (05/03/1997), há necessidade de que a atividade tenha sido exercida com efetiva exposição a agentes nocivos, sendo a comprovação feita por meio dos formulários SB-40, DISES- BE 5235, DSS-8030 e DIRBEN 8030. Posteriormente ao Decreto 2.172/97, faz- se mister a apresentação de Laudo Técnico”. (TRF2, APELREEX 532823, 1ª Turma Especializada, Relator Desembargador Federal Paulo Espirito Santo, e-DJF2R, 14/02/2012, p. 105-106, Decisão: 31/01/2012) Para o trabalho exercido até o advento da Lei 9.032/95, bastava o enquadramento da atividade especial de acordo com a categoria profissional a que pertencia o trabalhador, segundo os agentes nocivos constantes nos róis dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, cuja relação é considerada como meramente exemplificativa. Com a promulgação da Lei 9.032/95 passouse a exigir a efetiva exposição aos agentes nocivos, para fins de reconhecimento da agressividade da função, através de formulário específico, nos termos da lei. Somente após a edição da MP 1.523, de 11.10.1996, tornou-se legitimamente exigível a apresentação de laudo técnico a corroborar as informações constantes nos formulários SB 40 ou DSS 8030. (TRF3, APELREEX 1062669, 8ª Turma, Relatora Desembargadora Federal Therezinha Cazerta, e-DJF3 Judicial 1, 17/07/2012, Data do Julgamento: 02/07/2012) III – Para a comprovação de exposição a agentes insalubres de período anterior a vigência da Lei 9.032/95, basta que a atividade seja enquadrada nas relações dos Decretos 53.831/64 ou 83.080/79, sendo desnecessária a elaboração de laudo pericial. IV - A necessidade de comprovação por laudo pericial do tempo de serviço em atividade especial só surgiu com o advento da Lei 9.528/97, que, convalidando a MP 1.523/96, alterou o art. 58, § 1º, da Lei 8.213/91. (TRF3, AI 434797, 8ª Turma, Relatora: Des. Federal Marianina Galante, e-DJF3 Judicial 1: 17/07/2012, Data do Julgamento: 02/07/2012). Esta 10º Turma firmou posicionamento no sentido da inexigência de laudo técnico das condições ambientais de trabalho para a comprovação de atividade especial até o advento da Lei 9.528/97, ou seja, até 10/12/1997. Precedentes do STJ. (REsp. 422.616/RS e 421.045/SC). (TRF3, AC 1670941, 76 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves 10ª Turma, Relator: Juiz Convocado Silvio Gemaque, e-DJF3 Judicial 1: 27/06/2012, Data do Julgamento: 19/06/2012) Até 28/04/1995 é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos, aceitandose qualquer meio de prova (exceto para ruído e calor); a partir de 29/04/1995 não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, devendo existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de prova até 05/03/1997 e, a partir de então, por meio de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. (TRF4, EINF 5000027-10.2010.404.7012, Terceira Seção, Relatora p/ Acórdão Eliana Paggiarin Marinho, DE 19/01/2012) Análise Crítica: Desde a instituição do benefício de aposentadoria especial, pela Lei 3.807/60, até a alteração do artigo 57, da Lei 8.213/91, pela Lei 9.032, de 28/04/1995, admitia-se o enquadramento de tempo de serviço como espe- cial pela categoria profissional, conforme decretos regulamentares (Decre- tos 53.831/64 e 83.080/79), ou pela comprovação da exposição do trabalha- dor a agentes nocivos a sua saúde ou a sua integridade física, por qualquer meio de prova, exceto para os agentes prejudiciais que demandam prova técnica em razão da necessidade de medição, como o ruído. A relação de categorias profissionais prevista nos decretos regula- mentares não é exaustiva, sendo admitida a comprovação de que a ativi- dade laborativa, mesmo que não inscrita nos regulamentos, seja perigosa, insalubre ou penosa, por perícia judicial, conforme orientação da Súmula 198, do extinto Tribunal Federal de Recursos – TFR (“Atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, se perícia judicial constata que a ati- vidade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita em regulamento”). Quanto à necessidade de prova técnica para demonstrar a especia- lidade de atividade não inscrita nos regulamentos, destaco a decisão pro- ferida pela Turma Regional de Uniformização da 4ª Região no pedido de uniformização 2004709500 86844, por sua propriedade quanto ao tema. Ementa: PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE DE MECÂNICO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. ENQUADRAMENTO POR ATIVIDADE. […]. A desnecessidade de laudo pericial circunscreve-se às atividades relacionadas aos agentes nocivos previstos nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 ou, então, profissão reconhecida como especial. Nos demais casos, em que se pretende o enquadramento da atividade por equiparação, há que se comprovar pretensa similaridade, ou seja, não basta à qualificação da atividade exercida mera referência aos supostos agentes nocivos. Atividades profissionais APOSENTADORIA ESPECIAL 77 que não estejam relacionadas nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 – como a de mecânico – reclamam comprovação técnica que evidencie a exposição a níveis superiores aos admitidos, carecendo, em regra, de demonstração quantitativa e qualitativa, segundo a NR 15 e seus anexos. (IUJEF 2004.70.95.008684-4, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relator p/ Acórdão Danilo Pereira Junior, DE 25/03/2008) O entendimento predominante na jurisprudência, no entanto, admite que, para a atividade equiparada, seja apresentada a mesma prova exigida para a demonstração da categoria profissional prevista na legislação pre- videnciária, em relação à qual há presunção legal de especialidade. Nesse sentido é a atual orientação da Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, conforme excerto que se extrai do inteiro teor da decisão proferida no incidente de uniformização 0015522912005 4047195: A equiparação do tratorista às categorias profissionais listadas no item 2.4.4 do Anexo ao Decreto 53.831/64 e no item 2.4.2 do Anexo ao Decreto 83.080/79 está fundada na identidade das funções. Com efeito, o trator é veículo mais pesado que os mencionados nos referidos itens, de modo a presumir que seja até mais insalubre, impondo-se a equiparação por analogia. […]. Por outro lado, quando a jurisprudência federal estabelece equiparação a alguma categoria profissional para a qual há presunção legal de especialidade, em face da semelhança ou da identidade parcial de atribuições, admite que para a atividade equiparada seja apresentada a mesma prova exigida paraa comprovação do exercício de atividade na categoria profissional listada na lei, ou seja, qualquer meio de prova, para o período em que se admite esse enquadramento, podendo ser pela apresentação do contrato de trabalho, CTPS etc. (IUJEF 0015522-91.2005.404.7195, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relatora Luísa Hickel Gamba, DE 24/03/2010) Nos termos da orientação jurisprudencial, até o início de vigência da Lei 9.032/95 “existia a presunção absoluta de exposição aos agentes nocivos relacio- nados no anexo dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 tão-só pela atividade profis- sional, […]”. (STJ, EDcl no REsp. 415.298/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, julgado em 10/03/2009, DJe 06/04/2009) Após a Lei 9.032, de 28 de abril de 1995, somente é possível o reconhe- cimento de tempo de serviço como especial pela comprovação da exposição a agentes nocivos, por qualquer meio de prova, ressalvados os agentes pre- judiciais que exigem laudo técnico por demandarem medição. Foi extinto, em abril de 1995, portanto, o enquadramento como espe- cial por categoria profissional, corrigindo distorções decorrentes da conces- 78 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves são antecipada de benefício de aposentadoria a trabalhadores que não se sujeitavam efetivamente a agentes prejudiciais, mas que tinham a seu favor a presunção legal de nocividade. A Lei 8.213/91 foi modificada ainda pela Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996, reeditada diversas vezes com a mesma redação até a edição da Medida Provisória 1.596-14, de 10/11/1997, que foi convertida na Lei 9.528, de 10/12/1997, passando a exigir laudo técnico de condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, para comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos. O artigo 58, da Lei 8.213/91, passou a ter a seguinte redação: Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo. § 1° A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. § 2° Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo estabelecimento respectivo. § 3° A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à penalidade prevista no art. 133 desta Lei. § 4º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento. Em 05/03/1997, o Decreto 2.172/97 aprovou o Regulamento dos Benefí- cios da Previdência Social, dispondo sobre aposentadoria especial no artigo 66, nos seguintes termos: Art. 66. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, consta do Anexo IV deste Regulamento. APOSENTADORIA ESPECIAL 79 […]. § 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social-INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. § 3º Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo estabelecimento respectivo. § 4º A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à penalidade prevista no art. 250. § 5º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento. Em razão dessas modificações legislativas, surgiram posições diver- gentes na doutrina e na jurisprudência quanto ao termo inicial da exigência de laudo técnico para a comprovação da especialidade de tempo de serviço. Se pela Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996; se da data do Decreto 2.172, de 05/03/1997; ou, ainda, se pela Lei 9.528, de 10/12/1997. Há também enten- dimento no sentido de que é exigível laudo técnico a partir da Lei 9.032/9533. Tratando-se de discussão sobre a interpretação de norma infracons- titucional, não há decisão sobre o assunto pelo Supremo Tribunal Federal. De qualquer forma, nos termos da orientação jurisprudencial do Su- premo Tribunal Federal, a restrição aos meios de prova não vulnera a Cons- tituição, pois “não raro o ordenamento jurídico afasta a regra de admissão de todos os meios de prova legítimos em nome de uma maior cautela no reconhecimento de um determinado direito”34. 33 Nesse sentido é o entendimento dos Juízes Federais Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior: “É fato que imposição da apresentação do laudo só foi expressamente exigida por lei, com o advento da MP 1.523, de 11 de outubro de 1996. Entretanto, tal exigência, por não ser desarrazoada para os períodos posteriores a 28 de abril de 1995, poderia ser interpretada como implicitamente decorrente do novo perfil delineado ao benefício pela Lei 9.032/95” (ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da previdência social. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 247). 34 Excerto que se extrai do inteiro teor da decisão proferida pela Ministra Ellen Gracie, na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2555, que tem a seguinte ementa: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 54 DO ADCT. PENSÃO MENSAL 80 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves A restrição da prova pela exigência de laudo técnico para demonstrar a sujeição a agentes nocivos, portanto, é admitida no ordenamento jurídico, não afrontando a Constituição Federal, conforme jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal. Não parece adequada a exigência de laudo técnico para comprova- ção da exposição do trabalhador a agentes nocivos e, em consequência, do enquadramento de tempo de serviço como especial, pelo Decreto 2.172, de 05/03/1997, pois, conforme anteriormente transcrito, os §§ 2º, 3º, 4º e 5º, do artigo 66, reproduzem os §§ 1º, 2º, 3º e 4º, do artigo 58, da Lei 8.213/91, com a redação definida pela Medida Provisória 1.523/96. Ou seja, não houve pro- priamente uma regulamentação do artigo 58, da Lei 8.213/91, pelo Decreto 2.172/97, não sendo possível afirmar que somente a partir de 05/03/1997 é que se tem elementos normativos suficientes para exigir laudo técnico. O início de vigência da Lei 9.032/95 também não parece ser o melhor marco do início da exigência de laudo técnico. Conforme já referido, a partir da Lei 9.032, de 28 de abril de 1995, nãoé possível o enquadramento como especial por categoria profissional, sendo exigível a comprovação da efetiva exposição do segurado a agentes nocivos. VITALÍCIA AOS SERINGUEIROS RECRUTADOS OU QUE COLABORARAM NOS ESFORÇOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. ART. 21 DA LEI Nº 9.711, DE 20.11.98, QUE MODIFICOU A REDAÇÃO DO ART. 3º DA LEI Nº 7.986, DE 20.11.89. EXIGÊNCIA, PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO, DE INÍCIO DE PROVA MATERIAL E VEDAÇÃO AO USO DA PROVA EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL. A vedação à utilização da prova exclusivamente testemunhal e a exigência do início de prova material para o reconhecimento judicial da situação descrita no art. 54 do ADCT e no art. 1º da Lei nº 7.986/89 não vulneram os incisos XXXV, XXXVI e LVI do art. 5º da CF. O maior relevo conferido pelo legislador ordinário ao princípio da segurança jurídica visa a um maior rigor na verificação da situação exigida para o recebimento do benefício. Precedentes da Segunda Turma do STF: REs nº 226.588, 238.446, 226.772, 236.759 e 238.444, todos de relatoria do eminente Ministro Marco Aurélio. Descabida a alegação de ofensa a direito adquirido. O art. 21 da Lei 9 .711/98 alterou o regime jurídico probatório no processo de concessão do benefício citado, sendo pacífico o entendimento fixado por esta Corte de que não há direito adquirido a regime jurídico. Ação direta cujo pedido se julga improcedente”. (STF, ADI 2555, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2003, DJ 02-05-2003 PP-00025 EMENT VOL-02108-02 PP-00241). Nesse mesmo sentido: “APOSENTADORIA - TEMPO DE SERVIÇO - PROVA EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL - INADMISSIBILIDADE COMO REGRA. A teor do disposto no § 3º do artigo 55 da Lei nº 8.213/91, o tempo de serviço há de ser revelado mediante início de prova documental, não sendo admitida, exceto ante motivo de força maior ou caso fortuito, a exclusivamente testemunhal. Decisão em tal sentido não vulnera os preceitos dos artigos 5º, incisos LV e LVI, 6º e 7º, inciso XXIV, da Constituição Federal”. (STF, RE 226588, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 15/08/2000, DJ 29-09-2000 PP-00098 EMENT VOL-02006-03 PP-00553). APOSENTADORIA ESPECIAL 81 Apesar da Lei 9.032/95 ter alterado o perfil do benefício de aposenta- doria especial, a exigência de comprovação da exposição a agentes nocivos por laudo técnico somente constou da legislação a partir da Medida Provi- sória 1.523/96. Também não é razoável a exigência de laudo técnico para reconheci- mento da especialidade de tempo de serviço somente a partir da Lei 9.528, de 10/12/1997, sob o fundamento de que referida norma convalidou os atos praticados com base na Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996. Nos termos do artigo 62, da Constituição Federal35, a medida provi- sória é espécie normativa com força de lei e eficácia imediata, conforme já decido pelo Supremo Tribunal Federal36. Assim, não rejeitada, a alteração promovida pela Medida Provisória 1.523 produz efeitos desde o início de sua vigência, e não apenas a partir da lei de conversão. Nessas condições, considerando o histórico legislativo e a Constitui- ção Federal, é possível concluir que pela Medida Provisória 1.523/96 é exi- gível laudo técnico para caracterização de tempo de serviço como especial. 35 Redação anterior à Emenda Constitucional 32/01: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional, que, estando em recesso, será convocado extraordinariamente para se reunir no prazo de cinco dias. Parágrafo único. As medidas provisórias perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de trinta dias, a partir de sua publicação, devendo o Congresso Nacional disciplinar as relações jurídicas delas decorrentes. 36 “– As medidas provisórias configuram, no direito constitucional positivo brasileiro, uma categoria especial de atos normativos primários emanados do Poder Executivo, que se revestem de força, eficácia e valor de lei. – […] – A plena submissão das medidas provisórias ao Congresso Nacional constitui exigência que decorre do princípio da separação de poderes. O conteúdo jurídico que elas veiculam somente adquirirá estabilidade normativa, a partir do momento em que – observada a disciplina ritual do procedimento de conversão em lei – houver pronunciamento favorável e aquiescente do único órgão constitucionalmente investido do poder ordinário de legislar, que é o Congresso Nacional. – Essa manifestação do Poder Legislativo é necessária, é insubstituível e é insuprimível. Por isso mesmo, as medidas provisórias, com a sua publicação no Diário Oficial, subtraemse ao poder de disposição do Presidente da República e ganham, em conseqüência, autonomia jurídica absoluta, desvinculando- se, no plano formal, da autoridade que as instituiu. – A edição de medida provisória gera dois efeitos imediatos. O primeiro efeito é de ordem normativa, eis que a medida provisória – que possui vigência e eficácia imediatas – inova, em caráter inaugural, a ordem jurídica. O segundo efeito é de natureza ritual, eis que a publicação da medida provisória atua como verdadeira ‘provocatio ad agendum’, estimulando o Congresso Nacional a instaurar o adequado procedimento de conversão em lei. […].” (STF, ADI 293 MC, Relator(a): Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. em 06/06/1990, DJ 16/04/1993, p. 6.429, Ement. v. 1699-01, p. 9) 82 Mariana Amelia Flauzino Gonçalves Nesse mesmo sentido é o entendimento da Juíza Federal Maria Helena Car- reira Alvim Ribeiro37. De qualquer forma, não é esse o entendimento que prepondera na jurisprudência, conforme ementas anteriormente transcritas. Exigibilidade de permanência da exposição a agentes nocivos antes de 1995 Desde a instituição da Aposentadoria Especial, pela Lei 3.807/60, até a modificação do artigo 57, da Lei 8.213/91, pela Lei 9.032/95, nenhuma lei exigia expressamente a comprovação do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. O requisito da permanência constava apenas dos de- cretos regulamentares. A Lei 9.032, de 28/04/1995, foi a primeira a impor expressamente a necessidade de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho de modo permanente, não ocasional nem intermitente, em condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Diante desse contexto nor- mativo, é questionável desde quando se exige o requisito da permanência para fins de aposentadoria especial. Jurisprudência do STJ: O entendimento firmado pelo Tribunal de origem, no sentido de que a comprovação do exercício permanente (não ocasional, nem intermitente) somente passou a ser exigida a partir da Lei 9.032/95, que deu nova redação ao § 3º do art. 57 da Lei 8.213/91, não merece censura, pois em harmonia com a jurisprudência desta Corte, o que atrai a incidência, ao ponto, da Súmula 83 do STJ. (STJ, AgRg no AREsp. 295.495/AL, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 09/04/2013, DJe 15/04/2013) A exigência de comprovação do tempo de trabalho permanente, não ocasional e nem intermitente, em condições especiais, estabelecida no § 3º do art. 57, da Lei 8.213/91, na redação dada pela Lei 9.032/95, só pode aplicar-se ao tempo de serviço prestado durante a sua vigência e não retroativamente, porque se trata de condição restritiva ao reconhecimento do direito. Se a legislação anterior não exigia a comprovação da exposição permanente aos agentes nocivos, a lei posterior que passou a exigir tal condição tem inegável caráter restritivo ao exercício do direito, não podendo ser aplicada a situações pretéritas. (STJ, REsp. 200200179214, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 02/09/2002, p. 230) 37 RIBEIRO, Maria Helena Carreira Alvim. Aposentadoria
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