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1 2 Autores Dr. Hermes Arrais Alencar - Coordenador Dr. Anderson Lima Dr. Carlos “Cacá” Domingos Drª Carolyna Semaan Botelho Drª Eliana Cristina de Castro Silva Drª Iara Márcia Belisário Costa Dra. Ignez Corner Drª Jamile Evangelista Amaral Silva Drª Marcia Regina Santos Brito Drª Mariana Mello Moreira Pimenta Dr. Roberto Simões Gameiro Dr. Sérgio Henrique Salvador Drª Taís Rodrigues Dos Santos Drª Tamires Cristina Feijó De Freitas Dr. Bruno Sá Freire Martins 3 Sumário INTRODUÇÃO 8 Tema 599 STF – Auxílio-Acidente “vitalício” e a Aposentadoria 9 Autor: Dr. Hermes Arrais Alencar 9 Sobre o Autor 14 Assista a palestra: 15 Enunciado 216 FonaJef - EPI e os agentes cancerígenos 17 Autor: Dr. Anderson Lima 17 Introdução 17 O que é o Fonajef 18 Enunciado Nº 216 18 Função dos EPI’s e EPC’s 19 Agentes Nocivos Cancerígenos 19 A Celeuma Sobre o Tema 20 Considerações Finais 21 Sobre o autor 22 Assista a palestra: 23 A Nova Aposentadoria Especial no RGPS 24 Autor: Dr. Carlos “Cacá” Domingos 24 I- INTRODUÇÃO 24 II- A APOSENTADORIA ESPECIAL – CONCEITO. 26 III- A REGRA ANTERIOR 29 IV- AS NOVAS REGRAS 31 V- O NOVO CÁLCULO DA APOSENTADORIA ESPECIAL 35 VI- O REQUISITO ETÁRIO 37 VII. A EXTINÇÃO DA CONVERSÃO DE TEMPO 48 VIII- NECESSIDADE DE “EFETIVA” EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS 54 IX- A PERICULOSIDADE. 56 X- CONCLUSÃO 57 4 BIBLIOGRAFIA 59 Sobre o autor 61 Assista a palestra: 62 Tema 999 do STJ - Revisão da Vida Toda 63 Autora: Drª Carolyna Semaan Botelho 63 INTRODUÇÃO 64 DO JULGAMENTO DO TEMA 999 NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 67 CONCLUSÃO 73 CITAÇÕES 74 Sobre a autora 75 Tema 1031 STJ - Atividade especial – Vigilante e o uso de arma 77 Autora: Drª Eliana Cristina de Castro Silva 77 O QUE É A APOSENTADORIA ESPECIAL? 78 Qual o fato gerador da aposentadoria especial? 79 Quando se inicia o benefício? 79 O que aconteceu após a Reforma da Previdência? 80 A APOSENTADORIA ESPECIAL DO VIGILANTE 81 USO DE ARMA DE FOGO: É REQUISITO? 83 Vigilância patrimonial: 84 Segurança de eventos: 84 Segurança nos transportes coletivos: 85 Segurança ambiental e florestal: 85 Transporte de valores: 85 Escolta armada: 85 Segurança pessoal: 85 Supervisão/fiscalização operacional: 85 Telemonitoramento/telecontrole: 85 REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS 88 Sobre a autora 89 Assista a palestra: 91 5 Tema 1095 STF - Adicional De 25% para Aposentadorias Diversas da Invalidez 92 Autora: Drª Iara Márcia Belisário Costa. 92 INTRODUÇÃO. 92 APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE (APOSENTADORIA POR INVALIDEZ). 93 PROBLEMÁTICA JURIDICA DO ADICIONAL DE 25% NAS APOSENTADORIAS DIVERSAS. 94 DAS DECISÕES SOBRE O ADICIONAL DE 25%. 95 Bibliografia: 100 Sobre a Autora: 102 Assista a palestra 103 Tema 201 TNU – Contribuinte Individual e o Auxílio-Acidente 104 Autora: Drª Ignez Corner 104 Tese Firmada pela TNU 107 Sobre a autora 111 Assista a palestra 112 Considerações ao Tema 995 STJ – Reafirmação da DER 113 Autora: Drª Jamile Evangelista Amaral Silva 113 Tema 995 STJ 113 O QUE É DER? 113 MAS O QUE ACONTECE SE O SEGURADO NO MOMENTO DA SOLICITAÇÃO DO BENEFÍCIO E ANÁLISE AUTÁRQUICA, CONTINUAR RECOLHENDO O CARNÊ OU CONTINUAR TRABALHANDO? 114 MAS AFINAL, POSSO APROVEITAR AS CONTRIBUIÇOES RECOLHIDAS APÓS A SOLICITAÇÃO DO BENEFÍCIO, DURANTE A ANÁLISE DO BENEFÍCIO (E ANTES DA CONCESSÃO)? 114 COMO SOLICITAR A REAFIRMAÇÃO DA DER? 115 É POSSÍVEL REAFIRMAR A DER DURANTE O PROCESSO JUDICIAL? 116 MAS AFINAL, REAFIRMAR A DER É SEMPRE A MELHOR OPÇÃO? 117 CONCLUSÃO 117 Sobre a Autora: 118 Assista a palestra 119 Tema 862 STJ – Termo inicial do Auxílio-Acidente 120 Autora: Drª Marcia Regina Santos Brito 120 6 Sobre a autora 127 Assista a palestra 128 Tese Revisional do RESP n. 1.577.666/ SP – Inclusão do último salário de contribuição constante do PBC 129 Autora: Drª Mariana Mello Moreira Pimenta 129 Sobre a autora 133 Assista a palestra 134 Análise sobre o Julgamento do Tema 810 STF 135 Autor: Dr. Roberto Simões Gameiro 135 Sobre o autor 146 Assista a palestra 147 O Tema 1018 STJ e os Diálogos Justificados do Processo Previdenciário Administrativo e Judicial 148 Autor: Dr. Sérgio Henrique Salvador 148 Sobre o Autor 152 Assista a palestra 153 Motoristas e Cobradores de Ônibus, ainda que após 28.04.1995 continuaram obtendo direito a Aposentadoria Especial 154 Autora: Drª Taís Rodrigues dos Santos 154 Sobre a autora 157 Assista a palestra 158 Tema 1007 STJ – Aposentadoria Híbrida 159 Autora: Drª Tamires Cristina Feijó de Freitas 159 Sobre a autora 164 Assista a palestra 165 A Nulidade da Aposentadoria no Regime Próprio por Ausência de Contribuição no Regime Geral 166 Autor: Dr. Bruno Sá Freire Martins 166 1. Introdução 166 2 – Conceito de Tempo de Contribuição 167 7 3 – Contagem Recíproca 169 4 – A Filiação Previdenciária 170 5 – Averbação Automática 173 6. Regra da Lei n.º 8.213/91 175 7. A Emenda Constitucional n.º 103/19 177 8. Tempo Anterior à Emenda Constitucional n.º 20/98 179 9. O Ato Jurídico Perfeito e o Direito Adquirido 181 10. Benefício Concedido e Não Registrado 183 Sobre o Autor 186 Assista a palestra 187 CUPOM DE DESCONTO CPHA 188 Curso de Prática Previdenciária 189 Livros 190 Curso Concurso INSS 192 Pós Graduação em Direito Previdenciário 193 Como citar este e-book 198 8 INTRODUÇÃO Caro leitor, em 27 de março de 2021 ocorreu o 1º Congresso on-line do CPHA. Foram quase 9 horas de palestras, conteúdo jurídico disponibilizado gratuitamente aos 870 inscritos, um SUCESSO! Este E-Book é fruto da união de alguns dos palestrantes do evento que gentilmente redigiram excelentes textos abarcando temas atuais e importantes no Direito Previdenciário. Além da leitura agradável, o querido leitor também poderá assistir as palestras ministradas pelos escritores, basta clicar na imagem em destaque ao final de cada artigo. Aproveito a oportunidade para registrar que o CPHA nasceu ao final de 2020, mais precisamente em novembro, e tem por missão facilitar o acesso a aulas on-line de Direito Previdenciário, de excelente qualidade e com preço acessível. Atualmente o CPHA já conta com variado catálogo de aulas de Prática Previdenciária, seja para iniciantes seja para aqueles que já militam na área do Seguro Social, abarcando benefícios por incapacidade, aposentadorias programáveis, benefícios devidos a dependentes, Teses Revisionais de benefícios previdenciários, Benefício Assistencial, além de Técnicas de Cumprimento de sentença previdenciária. Sem mais delongas, agradeço a todos os COAUTORES por terem aceitado este desafio e apresentado conteúdo brilhante! Quero registrar meu agradecimento a você, leitor, por prestigiar esta obra coletiva, bem como gostaria de convidá-lo(a) para frequentar um de nossos cursos no CPHA, caso tenha interesse, ao final deste E-Book há cupom especial de desconto para você! 9 Tema 599 STF – Auxílio-Acidente “vitalício” e a Aposentadoria Autor: Dr. Hermes Arrais Alencar Desde a Medida Provisória n. 1.596-14, de 10 de novembro de 1997, convertida na Lei n. 9.528, de 10 de dezembro de 1997, o valor mensal do auxílio-acidente integra o salário de contribuição, para fins de cálculo do salário de benefício de qualquer aposentadoria, observado, no que couber, o disposto no art. 29 e no art. 86, § 5º. Com a Lei 9.528 deixa o auxílio-acidente de existir de forma autônoma e passa a integrar o Período Básico de Cálculo (PBC) de qualquer aposentadoria, devendo ser somado ao valor do salário de contribuição do respectivo mês, ofertando, ipso facto, aposentadoria de valor superior ao segurado, porque resultante, praticamente, da fusão de dois benefícios (auxílio- acidente e aposentadoria).Importante anotar que a incorporação do auxílio-acidente aos salários de contribuição considerados no cálculo da aposentadoria está diretamente ligada à existência de previsão legal, ou não, do caráter vitalício do benefício de auxílio-acidente. Na vigência da Lei n. 5.316/67, o auxílio-acidente não era vitalício, como consequência, era adicionado ao salário de contribuição para o cálculo de qualquer outro benefício não resultante do acidente (cf. art. 7º, caput e parágrafo único). 10 A Lei n. 6.367/76 revogou a Lei n. 5.316/67 e o auxílio-acidente passou a ser vitalício (art. 6º, § 1º), nada dispondo a lei sobre sua incorporação aos salários de contribuição utilizados no cálculo do salário de benefício. Desde o advento da Lei n. 6.367/76 até a entrada em vigor da MP n. 1.596-14/97, convertida na Lei n. 9.528/97, não há que se falar em integração do auxílio-acidente ao salário de contribuição do cálculo do valor do benefício de aposentadoria, pois que, nesta época, o auxílio ostentava caráter vitalício; portanto, a sua inclusão no cálculo da renda mensal inicial de aposentadoria acarretaria bis in idem. Expressando aderência às premissas traçadas, o Advogado-Geral da União editou o Enunciado Sumular 44, datado de 14.9.2009, tornando, de maneira acertada, invulnerável ao regramento da MP n. 1.596-14, o benefício de auxílio-acidente que integrou o patrimônio jurídico do segurado em data anterior a 10 de novembro de 1997 (MP n. 1.596-14): AGU – SÚMULA n. 44: É permitida a cumulação do benefício de auxílio- acidente com benefício de aposentadoria quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, que resulte em sequelas definitivas, nos termos do art. 86 da Lei n. 8.213/91, tiver ocorrido até 10 de novembro de 1997, inclusive, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória n. 1.596-14, convertida na Lei n. 9.528/97, que passou a vedar tal acumulação. Nesta exata linha era a Instrução Normativa INSS/Pres n. 45, que no seu art. 421, inciso V, apenas não permitia a cumulação com a aposentadoria se o fato gerador do auxílio- acidente fosse posterior à inovação legislativa: IN 45 INSS/Pres. Art. 421: Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios, inclusive quando decorrentes de acidentes do trabalho: V – aposentadoria com auxílio-acidente, quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, que resulte em sequelas definitivas, nos termos do art. 86 da Lei n. 8.213, de 1991, tiver ocorrido a partir de 11 de novembro de 1997, véspera da publicação da MP n. 1.596- 14, de 1997, convertida na Lei n. 9.528, de 1997. O entendimento, tanto na via administrativa quanto na jurisprudencial, estava pacificado e harmônico, até que em 5 de dezembro de 2011 houve a edição no STJ da Emenda Regimental n. 14, modificando o inciso XIII do § 1º do art. 9º do Regimento Interno do Superior Tribunal 11 de Justiça, deslocando a competência interna para apreciação de benefícios previdenciários, inclusive os decorrentes de acidentes de trabalho, da Terceira à Primeira Seção. Ao estrear o trato do tema cumulação de benefício de auxílio-acidente com aposentadoria, a Colenda Segunda Turma do STJ (que integra a 1ª Seção) aos 13 de março de 2012 surpreendeu no julgamento do REsp 1.244.257, acolhendo a impossibilidade de cumulação de auxílio-acidente (vitalício, ou seja, concedido antes da MP n. 1.596/97) com aposentadoria após o ano de 1997. Esse julgado desencadeou rápida alteração1 da Súmula 44 da AGU, modificada pela Súmula 65, de 5 de julho de 2012, passando a vigorar a seguinte redação: AGU – SÚMULA n. 44 (com a redação atribuída pela Súmula 65/2012): Para a acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria, a lesão incapacitante e a concessão da aposentadoria devem ser anteriores às alterações inseridas no art. 86, § 2º, da Lei n. 8.213/91, pela Medida Provisória n. 1.596-14, convertida na Lei n. 9.528/97. No mês de dezembro de 2012 houve a alteração do art. 421, inciso V, da IN 45 INSS PRES, simplesmente não admitindo a cumulação de auxílio-acidente com aposentadoria, quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza ou o preenchimento dos requisitos da aposentadoria sejam posteriores às alterações inseridas no art. 86, § 2º, da Lei n. 8.213/91, pela Medida Provisória n. 1.596-14, convertida na Lei n. 9.528/97 (alterado pela Instrução Normativa n. 62/PRES/INSS, de 6 de dezembro de 2012). Não há dúvidas de que todos os auxílios-acidentes concedidos antes da MP n. 1.596/97, e que se mantiveram ativos mesmo após a concessão das aposentadorias com DIB posterior à MP n. 1.596/97, devem estar amparados pela redação original da Súmula AGU 44 e pelo texto original do inciso V do art. 421, da IN 45 INSS/PRES, a teor da Lei n. 9.784/99, que regulamenta o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, que não permite a retroação de nova interpretação da Administração Pública: 1 A redação do inciso V do art. 421 da IN 45 INSS/Pres foi ajustada ao entendimento exarado pelo STJ, em 6-12-2012, com a edição da IN 62. 12 Lei n. 9.784. Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: XIII – interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. Enaltecendo o direito, a Instrução Normativa n. 77 INSS/Pres, de 2015, corretamente estabelece no §10 do art. 528 que os benefícios de auxílio-acidente com DIB anterior ou igual a 10 de novembro de 1997 acumulados com aposentadoria com DER e DDB entre 14 de setembro de 2009 até 6 de dezembro de 2012 (data da modificação do entendimento constante do inciso V do art. 421 da IN 45), deverão ser mantidos, independentemente da decadência. STF. Tema 599 de Repercussão Geral. A convivência entre a aposentadoria e o auxílio- acidente poderá ser apreciada pelo STF do tema 599, ainda pendente de julgamento, no qual o Plenário irá apreciar o Recurso extraordinário nº 687813 em que se discute, à luz do inciso XXXVI do art. 5º e do § 5º do art. 195 da Constituição Federal, a possibilidade de acumulação da aposentadoria por invalidez com o benefício suplementar, previsto no art. 9º da Lei 6.367/76. No Recurso extraordinário houve reconhecimento de que o auxílio-suplementar foi incorporado pela normatização do atual auxílio-acidente, e desse modo, tendo sido concedido antes da MP 1.596-14, de 10-11-97, deve ser enaltecida a vitaliciedade do benefício prevista na redação primitiva do art. 86 da Lei 8.213/91, a despeito de a aposentadoria ter sido deferida em momento posterior ao ano de 1997. À margem dessa nova polêmica sobre a cumulação (dito de outro modo, da perda da vitaliciedade do auxílio-acidente, garantido pela lei em vigor na data da implementação dos requisitos, em face de lei posterior maléfica ao beneficiário do auxílio-acidente), de se observar que não deve ocorrer a simples cessação do auxílio-acidente, por ocasião da concessão da jubilação. Segundo se dessume dos arts. 31, 34, II, e 86, §§ 1º e 2º, da LB, na vigente redação 13 dada pela Lei n. 9.528/97, o auxílio-acidente cessa no ato da aposentadoria, mas seus valores são integrados (somados) aos salários de contribuição constantes do PBC, competência a competência. Advertência deve ser feita, entretanto, que no entender da Administração Pública apenas se opera a “soma” nos meses dentro do PBC nos quais existam efetivamente SC. Dito de outraforma, nas competências nas quais o segurado não tenha vertido contribuições previdenciárias (por exemplo, nos meses em que esteve desempregado), não há salário de contribuição. Por corolário lógico, no cálculo da aposentadoria, o valor a ser considerado, nos meses de lacuna contributiva, será de “zero”, de nenhum relevo o fato de ter auferido auxílio-acidente nos referidos meses. Com supedâneo no art. 29, § 5º, da Lei n. 8.213/91, durante os meses nos quais tiver o segurado auferido, simultaneamente, o benefício de auxílio-doença, a renda mensal do auxílio-acidente deverá ser somada, mês a mês, ao salário de benefício do auxílio-doença, respeitado o limite-teto, para fins de cálculo do salário de benefício da aposentadoria. Nos casos de aposentadoria por invalidez decorrente de transformação de auxílio- doença deve-se proceder a feitura de cálculo considerando no PBC (que é necessariamente anterior à concessão do B/31, benefício precedente ao B/32) a soma dos salários de contribuição (os mesmos que foram considerados para apuração do auxílio-doença) ao auxílio- acidente, para efeito de apuração da renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez. Merece relevo a situação peculiar do segurado especial, a quem a legislação contempla aposentadoria no valor fixo de um salário mínimo. De aquilatar, segundo a disciplina estatuída pelo art. 31 da LB, o direito desse segurado de ter o valor da renda mensal do auxílio- acidente, que será cessado na data do requerimento da jubilação, somado à renda da aposentadoria, sem qualquer ofensa ao art. 39, I, LB. Decreto n. 3.048/99. Art. 36. § 6º Para o segurado especial que não contribui facultativamente, o disposto no inciso II (II – o valor do auxílio-acidente, considerado como salário de contribuição para fins de concessão de qualquer aposentadoria) será aplicado somando-se ao valor da aposentadoria a renda mensal do auxílio-acidente vigente na data de início da referida aposentadoria, não sendo, neste caso, aplicada a limitação contida no inciso I do § 2º do art. 39 e do art. 183. 14 Sobre o Autor Prof. HERMES ARRAIS ALENCAR FORMAÇÃO ACADÊMICA: Mestre em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; MAGISTÉRIO: Professor de Direito Previdenciário da Rede LFG Professor e Coordenador da Pós Graduação do CPJur Professor e Coordenador do CPHA Cursos Prática Previdenciária e Concursos Públicos CARGO ATUAL: PROCURADOR FEDERAL, desde 08 de fevereiro de 2000. OUTRAS APROVAÇÕES EM CONCURSO PÚBLICO: Nomeado para o cargo de Delegado de Polícia Federal, (Portaria nº 991, de 18.10.2002, DOU - Seção 2, Edição nº 204, de 21.10.2002), por questões particulares optou por não tomar posse, permanecendo no cargo de Procurador Federal. AUTOR DAS OBRAS JURÍDICAS: · Cálculo de Benefícios Previdenciários – Teses Revisionais. Da teoria à prática. 11ª. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2021. • Reforma da Previdência – RGPS. ed. São Paulo: Saraiva, 2020 • Novo critério de cálculo das aposentadorias no RGPS após a Reforma da Previdência de 2019. Atualizado com o Decreto 10.410, DOU 1º.7.2020. Versão e-Book Kindle, 3ª edição ano 2021. • Direito previdenciário para concursos públicos. 6ed. São Paulo: Saraiva, 2019 • Desaposentação e o instituto da transformação de benefícios. 2ed. São Paulo: Conceito Jurídico, 2012. • Benefícios previdenciários. 4. ed. São Paulo: Leud, 2009. • Lei de benefícios previdenciários anotada. São Paulo: Leud, 2008. Redes Sociais: Facebook: @Prof.HermesArrais Instagram: @HermesArraisAlencar https://www.instagram.com/hermesarraisalencar/ 15 Assista a palestra: https://www.youtube.com/watch?v=af_dVD8InRo 16 17 Enunciado 216 FonaJef - EPI e os agentes cancerígenos Autor: Dr. Anderson Lima ✓ Introdução ✓ O que é o Fonajef ✓ Enunciado Nº 216 ✓ Função dos EPI’s e EPC’s ✓ Agentes Nocivos Cancerígenos ✓ A Celeuma Sobre o Tema ✓ Considerações Finais ✓ SOBRE O AUTOR Introdução Olá prezados colegas, tudo bem? Espero que sim. Meu nome é Anderson Lima, sou Servidor Público Federal Advogado e Contabilista. Nesse ebook, vamos aprender um pouco sobre o Enunciado Nº 216 do Fonajef. Antes de falarmos do teor do enunciado, o primeiro passo é explicarmos do que se trata o Fonajef 18 O que é o Fonajef O FONAJEF, é o Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais, funciona como uma espécie de grupo de trabalho, formado, claro, por Juízes Federais que atuam nos juizados Especiais Federais. São montados fóruns de discussão onde são tratados temas e situações que permeiam o dia a dia dos Juízes federais. O Fonajef é promovido pela AJUFE, Associação dos Juízes Federais do Brasil, e tem como objetivo tratar e aprimorar temas sobre o juizado especial federal. As conclusões destas reuniões são submetidas a uma plenária final e encaminhadas ao CNJ, conselho nacional de justiça, ao CJF, Conselho da Justiça Federal e aos TRF’s, Tribunais Regionais Federais, por meio dos famigerados Enunciados. Então, um enunciado é a conclusão dos trabalhos destes grupos de discussão reduzida a termo, e podem servir como elementos doutrinários e pragmáticos de atuação nos Juizados Especiais Federais. O intuito do Fonajef é uniformizar o procedimento dos Juizados Especiais Federais por todo país Cabe ressaltar, que um enunciado não tem força de lei, ele funciona como uma espécie de entendimento doutrinário. Entretanto, por se tratar de uma conclusão de debate entre juízes que atuam naquela instância, seu peso acaba sendo maior do que o de uma doutrina. Enunciado Nº 216 Bom, em um destes encontros, foi expedido o Enunciado 216 que é “A utilização de EPI não elide o direito à especialidade do labor nos casos de exposição a agentes reconhecidamente cancerígenos, ainda que considerados eficazes no PPP” 19 Então, A utilização de EPI não elide, ou seja, não afasta, não faz desaparecer por completo, o direito à condição insalubre do trabalho nos casos de exposição a agentes reconhecidamente cancerígenos, ainda que conste no PPP que esse EPI foi eficaz, ou seja, que cumpriu o seu papel. Função dos EPI’s e EPC’s Bom, o EPI, Equipamento de Proteção Individual, é o dispositivo de proteção utilizado pelo trabalhador que tem a função de diminuir ou acabar com os riscos a segurança ou a saúde das pessoas em seu ambiente de trabalho. Ele é utilizado somente quando não é possível diminuir ou eliminar os riscos de um ambiente através dos EPC’s, que são os Equipamentos de Proteção Coletiva. Agentes Nocivos Cancerígenos Pois bem, visto qual a função do EPI, vamos tratar sobre o período insalubre em si. A previsão do enquadramento como especial de período exposto a agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos está no § 4º do Artigo 68 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 3048/99. Nele, está previsto que: § 4º Os agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos, listados pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, serão avaliados em conformidade com o disposto nos § 2º e § 3º deste artigo e no caput do art. 64 e, caso sejam adotadas as medidas de controle previstas na legislação trabalhista que eliminem a nocividade, será descaracterizada a efetiva exposição. Essa redação foi trazida pelo Decreto 10.410/2020, e prevê a possibilidade de descaracterização da condição especial de período em que houve exposição a agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos. 20 Agora vamos dar uma olhada no que dizia a redação anterior do parágrafo 4º do artigo 68 do Regulamento da Previdência Social: “A presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de exposição a ser apuradana forma dos §§ 2o e 3o, de agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, será suficiente para a comprovação de efetiva exposição do trabalhador” Então, até a entrada em vigor do Decreto 10.410, a simples comprovação de exposição ao agente nocivo reconhecidamente cancerígeno, já era suficiente para considerar o período especial. A Celeuma Sobre o Tema Entretanto, mesmo na vigência da redação anterior do § 4º do artigo 68, já havia uma celeuma em torno desse assunto. Existe uma parcela de operadores do direito previdenciário que sustentam que o reconhecimento da especialidade pela exposição a agentes nocivos, reconhecidamente cancerígenos para humanos, pelos critérios constantes no regulamento da previdência social, só pode ser realizado a partir da vigência da Portaria Interministerial número 9 do Ministério da previdência Social, Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério da Saúde de 07/10/2014, que publicou a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para humanos. Que seu reconhecimento antes da publicação da portaria interministerial número 9 afrontaria Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça de que “a lei que rege o tempo de serviço é aquela vigente no momento da prestação do labor”. Desta forma, períodos de exposição a agentes cancerígenos anteriores a publicação da portaria interministerial nº 9 não poderiam ser considerados como especiais se não houvesse quantificação do agente nocivo e verificação da eficácia do EPI utilizado. Por outro lado, há os que sustentam que a especialidade de período em que há exposição a agentes reconhecidamente cancerígenos a humanos, nos critérios da redação anterior do § 4º do artigo 68 do Decreto 3048/99 é devida, independentemente do período da exposição e de utilização ou não de EPI. 21 Sustentam que a mera presença no ambiente de trabalho já basta para comprovação da exposição efetiva do trabalhador, sendo suficiente a avaliação qualitativa e irrelevante, para fins de contagem especial, a utilização de EPI eficaz, independentemente do período em que exercida a atividade. Considerações Finais O Enunciado Fonajef 216, acaba com essa celeuma, ao menos na seara dos Juizados Especiais Federais. Vamos ver novamente o que diz o enunciado: “A utilização de EPI não elide o direito à especialidade do labor nos casos de exposição a agentes reconhecidamente cancerígenos, ainda que considerados eficazes no PPP” Veja que o enunciado não faz alusão ao critério tempus regit actum, ou seja, não faz menção a necessidade de que o enquadramento como período especial de períodos expostos a agentes reconhecidamente cancerígenos a humanos se de somente a exposições ocorridas após a publicação da portaria interministerial nº 9. Logo, independentemente de quando se deu o labor, se houve exposição aos agentes noviços cancerígenos, deverá ser considerado como especial. Outro ponto do enunciado que vai de encontro ao que diz a nova redação do §4º do artigo 68 do Regulamento da Previdência Social, trazida pelo Decreto 10.410/2020, é que mesmo nos casos em que a utilização do Equipamento de Proteção Individual se mostrou eficaz cabe o enquadramento do período exposto como período especial. Lembram que a nova redação do § 4º previa possibilidade de descaracterização da condição de especial? Vamos rever a nova redação: § 4º Os agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos, listados pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, serão avaliados em conformidade com o disposto nos § 2º e § 3º deste artigo e no caput do art. 64 e, caso sejam adotadas as medidas de 22 controle previstas na legislação trabalhista que eliminem a nocividade, será descaracterizada a efetiva exposição. Então, conforme entendimento do Fonajef, reduzido a termo no enunciado 216, independentemente do período em que ocorreu o labor, e mesmo que tenha havido a utilização de EPI e esses tenha sido eficazes, se ocorreu exposição a agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos, o período deverá ser considerado como especial. Sobre o autor Dr. Anderson Lima é Servidor Público Federal, atuando no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) desde Fevereiro de 2007. Nesse período, desempenhou diversas funções de liderança dentro do instituto, tais como: Coordenador de Grupo de Trabalho de Análise de Benefícios; Supervisor Operacional de Benefícios; Chefe do Serviço de Benefícios da Agência de Demandas Judiciais; Gerente de Agência de Demandas Judiciais; Gerente de Agência da Previdência Social. Desde fevereiro de 2007 atuando diretamente na Análise, Coordenação e Supervisão de Benefícios, seja na fase de Reconhecimento Inicial de Direito, na fase de Revisão ou na Fase de Recursos. Antes de Ingressar no INSS, era Servidor da Secretaria de Estado da Educação do Estado de São Paulo, com ingresso através de concurso de provas e títulos em março de 2004 e desligamento em fevereiro de 2007, mês em que foi nomeado ao INSS. “Você me encontra nas redes sociais como Papo de Previdência” Instagram : @papodeprevidência Email: contato@papodeprevidencia.com mailto:contato@papodeprevidencia.com https://www.youtube.com/channel/UCDHxqb7SeEQBA7FgIg07CVQ https://www.instagram.com/papodeprevidencia/ 23 Assista a palestra: https://www.youtube.com/watch?v=Tb8qDMpD398 24 A Nova Aposentadoria Especial no RGPS Autor: Dr. Carlos “Cacá” Domingos I- INTRODUÇÃO Neste mês de novembro a Reforma da Previdência, trazida pela Emenda Constitucional 103/2019, completa um ano de vigência. De uma maneira geral, referido diploma dificultou substancialmente as regras de acesso a muitos benefícios previdenciários, além de promover consideráveis alterações na forma de cálculo das prestações. No tocante à aposentadoria especial, as modificações ocorridas pela Nova Previdência desconfiguraram demasiadamente o benefício, que agora conta com um requisito etário. Foram criadas, ainda, três regras: permanente, transitória e de transição, que serão melhor abordadas ao longo do presente trabalho. É inegável que a gigantesca maioria das alterações são de caráter restritivo, caracterizando nítido retrocesso social. 25 Também é imperioso ressaltar que a Reforma da Previdência foi imposta à população brasileira sem os necessários debates e estudos que alterações desse quilate exigem. Não se pode negar que as regras até então vigentes vindicavam algumas mudanças e adequações, em decorrência de diversos fatores, dentre eles a maior longevidade da população mundial, e a considerável diminuição da taxa de natalidade, outra ocorrência também presente em nível global, variáveis demográficas que afetam qualquer sistema previdenciário. A Proposta de Emenda Constitucional 06/2019, de autoria do Poder Executivo, que culminou na EC 103/2019, veio calcada em números e estatísticas de origens duvidosas e pouca confiabilidade, utilizadas para criar um cenário apocalíptico no que tange às contas dos sistemas previdenciários pátrios, desenhando um déficit insuperável e propalando a iminente “quebra” da Previdência. Esse cenário de terror, amparado na inverídica inevitável falência do sistema, principalmente no que tange ao Regime Geral de Previdência Social, possibilitou ao Congresso Nacional impor perniciosa celeridade ao processo legislativo, transpondo etapas imprescindíveis de debates, estudos e contestações dos motivos e números apresentados para justificar a adoção de tão abruptas alterações. Verdade é que o texto final que restou aprovado realmente é menos prejudicial aos segurados, que aquele proposto originalmente pelo atual governo. A mais gritante anomalia, qual seja, a adoção do sistema de captação, foi louvavelmente rechaçadapelo Congresso Nacional, mas por vezes retorna à pauta do Poder Executivo. 26 As complexas alterações trazidas pela Nova Previdência ainda motivam acaloradas discussões no âmbito doutrinário, contrapondo as correntes favoráveis e contrárias à Reforma. No campo jurisprudencial, quase nada foi produzido posteriormente à promulgação da EC 103/2019. A própria autarquia previdenciária demorou mais de quatro meses para regulamentar as modificações no âmbito administrativo, bem como em seu sistema informatizado, o que só ocorreu com a publicação da Portaria INSS/Presidência 450, de 03 de abril de 2020. Posteriormente, no início do último mês de julho, o Decreto 10.410/2020 alterou substancialmente o Regulamento da Previdência Social, para acomodar não só as alterações da EC 103/2019, mas também de outros diplomas anteriores que ainda não haviam sido inseridos no Decreto 3.048/1999. A técnica utilizada pelo Poder Executivo trouxe consigo severas críticas, vez que muitos entendem inapropriada a regulamentação de Emenda Constitucional através de decretos, pois a Reforma da Previdência até a presente data não foi incluída na Lei 8.213/1991. Cabe agora, aos operadores do direito, estudar profundamente as modificações ocorridas, analisando detidamente os novos requisitos e os comparando às regras antigas e às de transição, de modo a proporcionar aos segurados e beneficiários da Previdência Social Brasileira a obtenção da melhor cobertura possível, sempre à luz dos fundamentos e objetivos da nossa República, esculpidos nos artigos 1º e 3º da Carta Cidadã, e dos princípios inerentes à Seguridade Social, descritos no artigo 194, também da Lei Maior. II- A APOSENTADORIA ESPECIAL – CONCEITO. Essa prestação é considerada por muitos doutrinadores como a de mais complexo entendimento dentre aquelas descritas no “Cardápio de Benefícios e Serviços”, contido no 27 artigo 18, da Lei 8.213/91, em razão das diversas alterações que sofreu, nas searas legal e jurisprudencial, ao longo de sua existência. Coaduna desse posicionamento o Professor Fábio Zambitte2 ao afirmar que: “A aposentadoria especial, ao contrário do que possa parecer, é um dos mais complexos benefícios previdenciários, não sendo exagero considerá-lo o que produz maior dificuldade de compreensão e aplicação de seus preceitos”. O benefício em foco surgiu em 26 de agosto de 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS (Lei 3.807/60), que em seu artigo 31 trazia a previsão de aposentação antecipada para os segurados que exercessem atividades penosa, insalubres ou perigosas. Duas eram as formas de enquadramento como especial: 1) por categoria profissional, extinta pela Lei 9.032, de 28/04/1995, modalidade na qual bastava o segurado demonstrar o exercício de atividade reputada como tal (especial), pelos decretos que historicamente regulamentaram esse benefício (53.831/1964 e 83.080/1979), e, 2) por exposição a agentes agressivos à saúde ou à integridade física, devendo o trabalhador comprovar que no exercício de seu mister estava sujeito a algum elemento deletério ensejador de especialidade. No tocante à conceituação, a corrente mais numerosa é aquela que considera a inativação especial como um gênero da espécie aposentadoria por tempo de serviço, com um dos requisitos reduzido (justamente o tempo), em virtude das condições penosas, insalubres ou perigosas a que estiver submetido o trabalhador. Cabe somente anotar que um reduzido 2 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 20ª edição. Niterói/RJ. Editora Impetus. 2015. p. 622 28 número de doutrinadores a definem como uma “aposentadoria por invalidez antecipada”3, e outros como uma “aposentação diferenciada” ou “suis generis”4. A definição acima, seguida pela maior parte dos estudiosos e que podemos rotular de “clássica”, era largamente adotada até o advento da Constituição Federal de 1988, que alçou a aposentadoria especial ao patamar de garantia constitucional, ao discipliná-la originalmente no artigo 202, II, verbis: “Art. 202 – É assegurada aposentadoria, nos termos da lei, calculando-se... II- após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e após 30 trinta, à mulher, ou em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas em lei” (destaque acrescido). Portanto, após a promulgação da Carta da República, a conceituação do benefício em análise sofreu sutil alteração, não sendo errado defini-lo, a partir de então, como derivação da aposentadoria por tempo de serviço, com o requisito tempo minorado em decorrência do exercício de trabalho sob condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física do segurado. Outra tênue modificação foi imposta pela EC 20/1998, que alterou a nomenclatura da aposentadoria por tempo de serviço para tempo de contribuição. Ademais, referida norma passa a tratar a inativação especial como uma ressalva, exceção, conforme disposto na redação do artigo 201, § 1º, da CF. 3 LEITE, Celso Barroso apud FREUDENTHAL, Sérgio Pardal. Aposentadoria Especial. 1ª edição. São Paulo. LTr. 2000. p. 16. 4 LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria e Prática. 3ª edição. Editora Juruá. Curitiba. 2016. p. 30. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Ibid. p. 623. 29 Ademais, com a EC 20/1998, a lei que iria regulamentar a aposentação em tela, reclamada pela redação original do artigo 202, II, da CF, passa ser lei complementar, muito provavelmente como uma resposta do Poder Legislativo às interferências levadas a efeito pelo Executivo ao longo do tempo, através de medidas provisórias e decretos. E a EC 103/2019 impôs outra alteração conceitual na prestação em foco, podendo agora ser definida como uma modalidade de aposentadoria programada, com redução dos requisitos tempo e idade, para os trabalhos exercidos com exposição a agentes nocivos químicos, físicos ou biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes. Cumpre somente apontar que no campo legal a aposentação especial está prevista nos artigos 57 e 58, da Lei 8.213/91, e, como já discorrido, ainda sem as adequações necessárias para abarcar as modificações impostas pela EC 103/2019. Contudo, em que pesem as diferentes correntes doutrinárias mencionadas, e as modificações conceituais ocorridas ao longo do tempo, temos que a aposentadoria especial possui inegável cunho preventivo e protetivo, possibilitando ao segurado exposto a condições agressivas de trabalho “retirar-se aos seus aposentos” mais cedo que os demais, que não sofrem essa sujeição, justamente com o fito de preservar o que restou de sua saúde, presumidamente danificada (presunção absoluta) em decorrência de muitos anos sujeito a agentes agressivos. E, como será demonstrado a seguir, algumas das mudanças impostas pela Reforma da Previdência agridem sobremaneira a essência da inativação especial, contrariando o mencionado caráter protetivo/preventivo. III- A REGRA ANTERIOR 30 Conforme disposto no artigo 57, cabeça, da Lei 8.213/1991, a aposentadoria especial até a promulgação da EC 103/2019 era devida após 15, 20 ou 25 anos de exercício de atividade especial. A prestação era devida após 15 anos aos mineiros de subsolo que se ativavam na frente de produção; aos 20 anos aos trabalhadores de minas subterrâneas que atuam afastados da frente produtiva e àqueles expostos ao amianto; e aos 25 anos para todo o restante dos trabalhadores sujeitos a condições inóspitas de labor. O requisito etário presente no nascedouro do benefício, restou afastado do ordenamento jurídico brasileiro ainda no ano de 1968, com a publicação da Lei 5.440-A. Tal exigência, agora ressuscitada pela EC 103/2019, será analisada em tópico específico. Por fim,o cálculo da prestação correspondia ao salário-de-benefício na íntegra, vez que nesta espécie de benefício não havia incidência do fator previdenciário5. Assim, um segurado que iniciava sua vida laboral com exposição a agentes insalutíferos aos 18 anos de idade, se permanecesse sujeito a condições danosas por 25 anos, obteria sua aposentação especial aos 43 anos de idade. A EC 103/2019 alterou drasticamente as condições para concessão dessa aposentação, como veremos a seguir. 5 BRASIL. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991. Art. 29. O salário-de-benefício consiste: II- para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo. 31 IV- AS NOVAS REGRAS 4.a) A regra permanente A regra permanente, que também pode ser chamada de regra geral, deve ser aplicada àqueles que ingressaram no RGPS após a publicação da EC 103/2019, ou seja, depois de 13/11/2019, e está contida no artigo 201, § 1º, II, da Carta da República, a saber: "Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: § 1º. É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados: II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.” Portanto, a regra permanente depende da edição de lei complementar, que disporá acerca da redução dos requisitos tempo e idade, para obtenção da aposentação especial pelos segurados expostos a agentes nocentes. Enquanto o Congresso Nacional não editar a aludida norma, devem ser aplicadas as regras transitória e de transição, conforme o caso, e que serão melhor enfocadas a seguir. 4.b) A regra transitória. 32 Esculpida no artigo 19, § 1º, I, da EC 103/2019, a regra transitória, que deve ser aplicada ao segurado inserido no RGPS após o início da vigência da Nova Previdência, e enquanto não for publicada a lei complementar exigida pelo artigo 202, § 1º, II, da CF em sua novel redação, assim estabelece: “Art. 19, § 1º. Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será́ concedida aposentadoria: I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, nos termos do disposto nos artes. 57 e 58 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos: a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de contribuição; b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte) anos de contribuição; ou c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição;” Destarte, ao segurado que desenvolve seu mister na frente de produção em minas subterrâneas, serão exigidos 15 anos de exercício desta atividade, além da idade mínima de 55 anos. Já os trabalhadores sujeitos ao amianto e aos mineiros de subsolo afastados da frente de produção, somente poderão se aposentar quando contarem com 58 anos de idade, além de 20 anos de desempenho das suscitadas funções. E a gigantesca maioria dos labutadores sujeitos a condições nocentes, será aposentada após 25 anos de labor especial, desde que conte com 60 anos de idade. 33 Temos fundado receio que a regra transitória se transforme em definitiva, sendo que tal temor está amparado em precedentes da própria aposentadoria especial. É que o artigo 40 da Carta Magna, desde sua redação original até a promulgação da EC 103/2019, impunha que as condições para aposentação especial do servidor público seriam estabelecidas por lei complementar, o que nunca ocorreu. Ainda no campo constitucional, no RGPS a competência para estabelecer quais situações ensejariam especialidades passíveis de inativação antecipada também estava reservada ao Poder Legislativo, inicialmente através de lei ordinária e, após a EC 20/1998, mediante lei complementar. E assim como nos regimes próprios, referida norma jamais foi editada pelo Congresso Nacional, configurando uma mora legislativa que durou mais de 31 anos. Alguns advogam a tese, com a qual, com o devido respeito, não concordamos, que não caberia ao Legislativo disciplinar acerca das condições especiais de trabalho viabilizadoras de aposentadoria especial, sustentando que a matéria deve estar afeita ao Poder Executivo devido à sua complexidade, decorrente da multiplicidade de situações especiais gravosas à saúde ou à integridade física, bem como ao caráter mutante destas, que estão em constante evolução em razão das alterações nos processos produtivos e, também, em decorrência dos avanços nas áreas de engenharia de segurança e medicina do trabalho. Defendem que o processo legislativo nas Casas competentes é demasiadamente moroso para tal finalidade. Mas infelizmente não cabe nas apertadas linhas do presente trabalho maiores digressões sobre o assunto. O que interessa a este estudo é que há grave risco da norma transitória se tornar definitiva, ante a conhecida e demonstrada inércia do Congresso Nacional no que tange à legislação sobre aposentadoria especial e/ou condições agressivas de trabalho. 34 4.c) A regra de transição Os segurados que já estavam inseridos no RGPS antes da promulgação da EC 103/2019, mas que ainda não haviam implementado os requisitos para aposentadoria especial exigidos pelo sistema anterior, deverão cumprir as exigências descritas no artigo 21, da citada EC, litteris: “Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de: I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição; II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição. § 1º. A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refere o caput.” Assim, restou fixado um sistema de pontos, decorrente da somatória tempo de contribuição e idade, similar à conhecida Fórmula 85/95, aplicada nas recém-extintas aposentadorias por tempo de contribuição, com o fito de afastar a incidência do famigeradofator previdenciário. 35 Para evitar repetições enfadonhas, discorreremos somente acerca da esmagadora maioria dos segurados expostos a agentes nocivos, que poderão se aposentar após 25 anos de exercício de atividade especial, e se a aludida soma for igual ou superior a 86 pontos. Curial ressaltar que para atingir a mencionada pontuação, poderá o segurado computar períodos de tempo de contribuição comuns que, quando somados aos pelo menos 25 anos de especial e à idade, deverão alcançar no mínimo 86 pontos. Importante asseverar também que para a somatória em foco o tempo de contribuição e a idade serão contados em dias, e não somente em anos fechados. Outra observação que vale apontar, mas que certamente não ocorrerá com muita frequência, é que se para o segurado já inserto no RGPS antes da publicação da EC 103/2019, poderá ser aplicada a regra transitória, caso lhe seja mais favorável. É que fere a lógica e a razoabilidade que uma regra de transição, criada para amenizar a passagem para um novo regime jurídico, seja mais gravosa que aquela existente para os que ingressaram no sistema após a mudança. Isso já ocorreu com a EC 20/1998, além de ser o fundamento central da conhecida “revisão da vida toda”. V- O NOVO CÁLCULO DA APOSENTADORIA ESPECIAL Como ressaltado no início deste trabalho, a Reforma da Previdência não só dificultou sobremaneira o acesso a alguns benefícios previdenciários, notadamente os programados, como impôs severas alterações na forma de cálculo das prestações, inclusive com a modificação na apuração do salário-de-benefício, que agora corresponde à média aritmética simples das contribuições vertidas pelo segurado, apuradas desde julho/1994, ou 36 desde o início delas, se posteriores àquela data, sem desprezar/eliminar automaticamente nenhuma. Ou seja, a dispensa de 20% das menores contribuições encontradas dentro do Período Básico de Cálculo (PBC), constante da legislação anterior por imposição da Lei 9.876/99, deixa de existir, sendo que o salário-de-benefício agora leva em consideração todos as contribuições posteriores a julho/1994, sem eliminar nenhuma de maneira automática (vide art. 26, § 6º, da EC 103/2019). Enquanto lei complementar não estabelecer a forma de cálculo de algumas prestações, devem ser aplicadas as metodologias contidas no artigo 26, da EC 103/2019. Assim, para aqueles que se inserem nas regras transitória (art. 19) e de transição (art. 21), a aposentadoria especial será calculada em 60% da média aritmética simples de todas as contribuições existentes desde julho/1994, ou desde o início dos recolhimentos, quando posteriores a tal marco, sendo acrescido de 2% para cada ano que exceder os 20 anos de contribuições. As exceções ocorrem em relação ao mineiro de subsolo que se ativa na frente de produção e às mulheres, quando o acréscimo de dois pontos porcentuais aos 60% da média aritmética, se dará para cada ano que exceder os 15 nos de contribuições, consoante previsão do artigo 26, § 5º, da EC 103/2019. Destarte, para que possa alcançar 100% do salário-de-benefício, ressalvadas as exceções acima descritas, o segurado exposto a condições deletérias de trabalho deverá contar com 40 anos de contribuições, sendo pelo menos 20 ou 25 anos especiais, conforme o caso. 37 Já as seguradas e os que atuam na frente produtiva das minas subterrâneas, terão direito a 100% do salário-de-benefício depois de 35 anos de contribuições, devendo ser respeitado o tempo mínimo de especial, de acordo com a aposentação que almejam (aos 15 para mineiros e mineiras, e aos 20 ou 25 anos, no caso das mulheres). VI- O REQUISITO ETÁRIO Como já discorrido alhures, em seu nascedouro com a Lei 3.807/1960, contava a aposentadoria com o requisito etário (50 anos), que restou afastado pelo Lei 5.440-A, de 1968. E depois de 51 anos, a exigência de idade mínima foi ressuscitada pela EC 103/19, que impôs ao segurado a necessidade de contar com pelo menos 55, 58 ou 60 anos de idade, conforme o tempo mínimo exigido para a jubilação antecipada (15, 20 ou 25 anos de atividade especial). A adoção de requisito etário indubitavelmente é incompatível com o benefício em estudo, e suscita diversas e fundadas críticas à sua exigência. Entendemos que exigir uma idade mínima para poder acessar a aposentação especial caracteriza evidente retrocesso social, contraria o caráter preventivo do benefício, irá gerar uma legião de incapazes em nosso país, traz grave incongruência jurídica, além de agredir o sobreprincípio da dignidade humana. Importante repisar também que a proposta de Reforma da Previdência aviada pelo atual governo, veio amparada em números e estatísticas frágeis e inadequados, severamente criticados por diversos segmentos da sociedade e estudiosos, aí inseridas 38 notáveis entidades de estudos e pesquisas sobre a Seguridade Social, dentre elas a Fundação ANFIP, o IBDP e o IEPREV. Ademais, a exigência etária para a concessão do benefício antecipado foi imposta à população brasileira sem a realização dos estudos necessários que demonstrem, incólume de dúvidas, que o organismo humano irá suportar mais anos de submissão a agentes nocentes, sem prejudicar ainda mais a saúde do trabalhador do que os prejuízos salutares decorrentes do tempo de exposição exigido pela legislação anterior. Passaremos a analisar as críticas acima expendidas. 6.a) O retrocesso social. No conturbado ano de 1968 o Congresso Nacional se reuniu, debateu, estudou, analisou e concluiu que o requisito etário era incompatível com a aposentadoria especial. Como perspicazmente anotado pela Profa. Adriane Bramante6, o Projeto de Lei 973/1968, que resultou na Lei 5.440-A/68, recebeu, no tocante à jubilação especial, duas emendas do então Deputado Floriceno Paixão, prestigiado advogado previdenciário, uma no sentido de abolir o requisito etário desta espécie de aposentadoria, e outra para reduzi-lo a 40 anos de idade. Eis a Justificação da Emenda nº 01, que restou acolhida por nossos legisladores da época, apresentada em Plenário na sessão da Câmara dos Deputados de 31/01/1968: “Justificação da Emenda n. 01 6 LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Prática de Direito Previdenciário – Homenagem dos Amigos a Armando Casimiro Costa Filho. São Paulo. Editora LTr. 2019. p. 19. 39 A recente Lei 4. 130, de 28 de fevereiro de 1962, que suprimiu o fator idade para a concessão, pelo INPS, da aposentadoria por tempo de serviço. Esqueceram-se os legisladores, entretanto, de estender a supressão ao mesmo requisito em relação à aposentadoria especial de que trata o artigo 31 da Lei Orgânica da Previdência Social, pois a aposentadoria especial é considerada uma aposentadoria por tempo de serviço com prazos reduzidos em razão das condições penosas, de insalubridade ou de periculosidade, sob as quais os trabalhadores exercem suas atividades. Daí deve-se com maior razão, suprimir o fator idade como um dos requisitos para a concessão da aposentadoria chamada especial. Sala das sessões, 31/01/1968. Deputado Floriceno Paixão”. Portanto, extirpada do ordenamento jurídico pátrio há mais de 51 anos, a exigência de idade mínima para acessar a aposentadoria especial, restou agora ressuscitada pela PEC 06/2019, que culminou na EC 103/2019, positivando no texto constitucional o aludido requisito. O retrocesso social salta aos olhos pois a incompatibilidade entre a imposição etária e o benefício em questão ainda reina absoluta, vez que tal exigência fere mortalmente a essência preventiva da prestação, cuja finalidade precípua é possibilitar que o trabalhador exposto a condições laborais danosas, possa jubilar-se mais cedo que os demais, que não se sujeitam a essa exposição, justamente para preservar o que sobrou da sua saúde, incisivamenteprejudicada devido a muitos anos de sujeição a elementos deletérios. Obrigar o segurado a permanecer outros anos mais sujeito a agentes agressivos, minando ainda mais seu já combalido estado salutar, sem sombra de dúvidas é medida inadequada e descabida, que não se sustenta quando confrontada com os fundamentos e objetivos de nossa República, esculpidos nos artigos 1º e 3º da Lei Maior, além de configurar evidente e inaceitável retrocesso social. 40 Verdade é que o novel texto constitucional não obriga que o trabalhador permaneça alguns anos mais na atividade daninha, que os 15, 20 ou 25 exigidos para a aposentação que almeja. Impõe o requisito etário, sem majorar o tempo de exposição necessário à jubilação. Mas indubitavelmente o que ocorrerá na prática é que o segurado, após atingir o tempo mínimo exigido para a inativação especial, terá que aguardar o implemento do requisito etário (55, 58 ou 60 anos). E muito provavelmente o fará no exercício do labor inóspito ensejador de especialidade, continuando a prejudicar sua já danificada saúde. Ou alguém acha que, após atingir o mínimo de tempo especial requerido pela legislação, o segurado irá requerer a rescisão do seu contrato de trabalho junto ao seu empregador, para aguardar o implemento da idade na inatividade, ou em outra função que não o submeta a elementos agressivos? Óbvio que não! Continuará desenvolvendo ofício insalutífero até completar os 55, 58 ou 60 anos de idade! A cláusula de vedação ao retrocesso social, expressamente prevista no Protocolo de San Salvador, aprovado pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo n.º 56, de 19 de abril de 1995, pode ser resumidamente definida como a proibição à retirada, diminuição ou restrição por parte do Estado, sem a devida compensação, dos direitos fundamentais sociais já reconhecidos, implementados e positivados no ordenamento jurídico de um país. Acerca do reconhecimento das prestações sociais, aí inseridas as previdenciárias, como direitos fundamentais, e, por conseguinte, protegidas de atentados reducionistas pela cláusula de vedação ao retrocesso, curial invocar o sábio constitucionalista português J.J. Gomes Canotilho7: 7 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª edição. Coimbra/Portugal. Editora Almedina. p 477. 41 “Os direitos derivados a prestações, naquilo que em constituem a densificação de direitos fundamentais, passam a desempenhar uma função de ‘guarda de flanco’ (J.P. Muller) desses direitos, garantindo o grau de concretização já obtido. Conseqüentemente, eles radicam-se subjectivamente não podendo os poderes públicos eliminar, sem compensação ou alternativa, o núcleo essencial já realizado desses direitos”. Para finalizar este tópico, cabe transcrever a ensinança da Profa. Thaís Riedel8, acerca da proibição do retrocesso no campo das reformas previdenciárias, a saber: “Embora as reformas dos regimes previdenciários sejam um fenômeno mundial, o Brasil tem realidades próprias, típicas dos países periféricos, que ainda não alcançaram um pleno Estado de bem-estar social, diferentemente dos países centrais. (...) Portanto, entende-se que enquanto ainda houver a probabilidade da ocorrência de um dano, cujo risco social já seja protegido pela ordem jurídica, através de direitos sociais, não pode o legislador, mesmo sob o poder reformador da Constituição, retirar do ordenamento ou restringir sua proteção, sem alguma medida compensatória, enquanto risco ainda existir, sob pena de violar o princípio da vedação do retrocesso. Afinal, o núcleo essencial dos direitos fundamentais sociais encontra-se diretamente vinculado ao princípio da dignidade da pessoa humana que assegura a cada indivíduo um conjunto de prestações materiais indispensáveis para uma vida com dignidade”. 6.b) Ausência de estudos nos campos da fisiologia humana e da medicina do trabalho. 8 ZUBA, Thais Maria Riedel de Resende. O Direito Previdenciário e o Princípio da Vedação do Retrocesso. São Paulo. Editora LTr. 2013. p. 132/3. 42 Conforme exposto acima, a adoção do requisito etário muito provavelmente implicará na permanência do trabalhador no ambiente laboral nocivo, por muitos anos mais que o efetivamente exigido para a jubilação especial, vez que inegavelmente após atingir os 15, 20 ou 25 anos de atividade daninha, aguardará o implemento da idade necessária desenvolvendo a mesma função inóspita. E não foram realizados estudos nos campos da medicina do trabalho e da fisiologia humana que comprovem, sem sombra de dúvidas, que o organismo humano suportará tanto tempo mais de exposição a elementos nocentes, sem prejudicar ainda mais a saúde do segurado, que na vigência da regra anterior, não precisaria cumprir o requisito etário, vez que inexistente tal exigência antes. Assim, como de certa forma a nova legislação obrigará o laborista exposto a condições agressivas à continuidade do ofício inóspito por considerável período, até atingir a idade mínima exigida, deveriam nossos governantes e legisladores ter apresentado à sociedade estudos sérios e competentes, que comprovassem que a extensão do tempo de sujeição não trará maiores danos à saúde do trabalhador, o que infeliz e efetivamente não ocorreu. Simplesmente “enfiaram goela abaixo” da população brasileira a mencionada alteração, criando um requisito etário totalmente incompatível com a aposentação especial. De certa forma, obrigarão o trabalhador a continuar danificando sua saúde, só porque “mudou a constituição”, ferindo a lógica e a razoabilidade, cabendo ressaltar que o organismo humano e os ambientes laborais agressivos não mudaram com a Nova Previdência, continuam os mesmos!!! E as medidas adotadas no âmbito previdenciário, como o FAP/NTEP e a contribuição específica para o financiamento da aposentadoria especial (FAE), com o fito, dentre outros, de compelir os empregadores a investir na melhoria das condições de trabalho não alcançaram os efeitos desejados. 43 Para aclarar, cabe transcrever trecho da obra “Aposentadoria Especial Antes e Depois da Reforma da Previdência”9, da Editora LuJur, na qual este subscritor assim discorreu: “Infelizmente boa parte das empresas, ao invés de investir em melhores condições de trabalho, optam por contratar respeitáveis bancas de advocacia tributária e/ou previdenciária, com o fito de descaracterizar, nas esferas administrativa e/ou judicial, o Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP), evitando, assim, a elevação da alíquota do RAT. E no que tange à contribuição para o financiamento da aposentadoria especial, a conduta de alguns empregadores é ainda pior, pois permanecem sem realizar investimentos para melhoria do ambiente laboral, e simplesmente mentem ou omitem informações no PPP (documento exigido pelo INSS para comprovação da especialidade) entregue ao segurado, tudo com o repudiável intuito de não pagar a mencionada contribuição específica, instituída pela Lei 9.732/98.. Como sabiamente diz o Mestre Sérgio Pardal Freudenthal, um dos maiores doutrinadores pátrios sobre aposentadoria especial, ‘na luta do rochedo com o mar, sempre sobra para o marisco’, no caso, o trabalhador exposto a agentes nocivos pois, do enfrentamento entre empresas e autarquia e/ou Receita Federal, sempre sobrará para o segurado algum maléfico respingo”. Esta constatação, que os instrumentos criados para obrigar as empresas a melhorar seus ambientes laborais não alcançaram a finalidade almejada, é amplamente corroborada pelos números da OIT sobre acidentes do trabalho, que demonstram que o Brasil ainda ocupa o vergonhoso quarto lugar no ranking mundial de mortes por infortúnios laborais, atrás apenas de China, Estados Unidos e Rússia. 9 DOMINGOS, Carlos “Cacá”. Aposentadoria Especial Antes e Depois da Reformada Previdência. 1ª edição. São Paulo. Editora LuJur. 2020. P. 378. 44 Ainda no campo das estatísticas, estudo da Associação Nacional dos Médicos do Trabalho (ANMT), afirmam que em nosso país a cada 48 segundos ocorre um acidente do trabalho, e a cada 3 horas e 38 minutos um trabalhador perde a vida em um desses incidentes10. Outro número significativo é encontrado no Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho 201711, de autoria do INSS, onde se constata que de 2015 a 2017 foram computadas 1.757.410 destas ocorrências, obviamente que sem considerar as subnotificações. 6.c) Legião de incapazes. A postergação do acesso à aposentadoria especial, gerada pela adoção do requisito etário, que ocasionará maior tempo de permanência do segurado na labuta agressiva, certamente resultará na elevação do número de concessão de benefícios por incapacidade. É que estando de certa forma obrigado a permanecer mais tempo sujeito a condições deletérias que o exigido pela legislação anterior, vez que precisará o segurado aguardar o implemento da idade exigida, sua saúde restará ainda mais lesada, culminando na necessidade de postular uma prestação devida em razão da incapacidade laboral. Novamente deixaram nossos governantes de apresentar estudo técnico e científico, desta feita nas esferas atuarial e financeira, que demonstrem que o adiamento da jubilação especial custará menos aos cofres da previdência, que eventual incremento nas concessões dos benefícios por incapacidade. 10 Disponível em: <https://www.anamt.org.br/portal/2018/04/19/brasil-e-quarto-lugar-no-ranking-mundial-de-acidentes- de-trabalho/>. Acesso em 10/11/2020. 11 MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho 2017. INSS. Disponível em <http://sa.previdencia.gov.br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf>. Acesso em 10/11/2020. 45 E ainda que tal assertiva fosse crível, ou seja, que será menos dispendioso no aspecto financeiro retardar o acesso à aposentação especial, o que certamente não é, ainda assim o prejuízo social advindo de uma legião de incapazes é imensurável, e traz diversos malefícios para toda a sociedade. Ademais, deve também ser considerada a inafastável oneração do Sistema Público de Saúde que esse exército de incapacitados certamente trará. 6.d) Combate ao argumento econômico. Tanto a tentativa de Reforma da Previdência intentada pelo governo anterior, bem como a que foi levada a efeito pelo atual, traziam como justificativa números e estatísticas de poucas credibilidade e técnica, alcançados com o precípuo objetivo de desenhar um cenário caótico para o sistema previdenciário pátrio, anunciando uma iminente falência e insolvência da Previdência Social Brasileira. Referidos números são contestados por diversos estudiosos e entidades, sendo que de acordo com a publicação Análise da Seguridade Social, da Fundação ANFIP, entre 2011 e 2017 houve um superávit do RGPS superior a 212 bilhões de reais12. Na mesma linha o Relatório Final da CPI da Previdência13, que funcionou durante seis meses no Senado Federal, ouviu mais de 140 pessoas, realizou 31 audiência públicas e concluiu oficialmente que, além de não haver déficit no RGPS, os dados, estatísticas e informações veiculados pelo Poder Executivo, à época pelo governo anterior, apresentam graves inconsistências e “desenham um futuro aterrorizante e totalmente inverossímil, com 12 ANFIP. Fundação ANFIP de Estudos Tributários e da Seguridade Social. Análise da Seguridade Social (2011 a 2017). Disponível em <http://fundacaoanfip.org.br/site/category/publicacoes-2/livros/>. Acesso em 22/04/2020. 13 SENADO FEDERAL. Relatório Final da CPI da Previdência. Disponível em <http://legis.senado.leg.br/sdleg- getter/documento/download/464c1458-f524-4d51-8bbd-eb8bb29d10cc>. Acesso em 11/10/2020. 46 o intuito de acabar com a previdência pública e criar um campo para atuação das empresas privadas”, conduta repetida com muito mais ênfase pelo atual governo. E ainda que houvesse consenso no tocante às metodologias empregadas para verificação das contas da Previdência Social, e que a existência de déficit fosse de concordância de todos, seria a aposentadoria especial a vilã do RGPS? Números extraídos do Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS14, elaborado pelo próprio INSS, demonstram que de 2015 a 2017 foram concedidas 2.731.032 aposentadorias urbanas no país, considerando todas as espécies de jubilação desta clientela (idade, invalidez, tempo de contribuição e especial), sendo que desse total apenas 62.827 foram aposentadorias especiais (B46). Ou seja, a inativação especial representa apenas 2,3% das aposentadorias urbanas deferidas no referido lapso. Ainda consoante o mesmo estudo e dentro do mesmo interregno (2015 a 2017), as aposentações especiais correspondem somente a 5,17% das aposentadorias por tempo de contribuição. Sobre valores, o AEPS informa que para pagar as aposentadorias urbanas concedidas entre 2015 a 2017, o RGPS despendeu R$ 4.639.677.000,00, ao passo que o valor gasto com as implantações de aposentações especiais no mesmo intervalo foi de R$ 215.957.000,00, o que representa apenas 4,6% da importância utilizada para pagar todas as outras aposentações da cliente urbana. Por fim, ainda consoante o AEPS, a quantia gasta de 2015 a 2017 para pagar todas as inativações urbanas em manutenção, concedidas em qualquer data, foi de R$ 990.450.076.000,00, sendo que deste total somente R$ 34.986.690.000,00 equivalem às 14 MINISTÉRIO DA FAZENDA. Secretária da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social 2017. Disponível em <http://sa.previdencia.gov.br/site/2019/04/AEPS-2017-abril.pdf>. Acesso em 10/11/2020. 47 aposentadorias especiais, ou seja, menos de 3,6% do valor total das jubilações urbanas do RGPS. Portanto, como já dito, é pouco provável que a economia advinda com o retardamento das aposentadorias especiais que, repita-se, representam cerca 3,6% das despesas com aposentadorias em manutenção pelo RGPS, será maior que o valor a ser despendido com os benefícios por incapacidade que surgirão devido à submissão muito mais duradoura dos segurados aos elementos nocentes configuradores de especialidade. Isso sem considerar os terríveis malefícios sociais que uma grande legião de trabalhadores incapacitados trará para toda a coletividade! 6.e) Incongruências jurídicas. Conforme já vastamente discorrido, no que tange à aposentadoria especial as alterações trazidas pela EC 103/2019 estão eivadas de graves incongruências jurídicas, como, por exemplo, a instituição do requisito etário para acessar o benefício. E uma dessas impropriedades pode ser observada em relação aos mineiros de subsolo. É que a regra transitória imposta pelo artigo 19 da EC 103/2019, impõe a idade mínima de 55 ou 58 anos como exigência para jubilação antecipada. Contudo, o artigo 301 da CLT proíbe expressamente o labor em subsolo para maiores de cinquenta anos. Vejamos: “Art. 301. O trabalho no subsolo somente será permitido a homens, com idade compreendida entre 21 (vinte e um) e 50 (cinqüenta) anos, assegurada a transferência para a superfície nos termos previstos no artigo anterior”. 48 6.f) A dignidade da pessoa humana. Já ressaltamos neste trabalho o caráter preventivo/protetivo da aposentação especial, ao permitir que o segurado se retire mais cedo aos seus aposentos, com o fito de resguardar o que sobrou da sua saúde, presumidamente danificada devido a muitos anos de sujeição a agentes agressivos. Também demonstramos que as novas regras impostas pela Reforma da Previdência, na prática obrigarão o segurado a permanecer muito tempo mais exposto aos elementos deletérios existentes em seu ambiente laboral pois, após atingir o número de anos de exposição exigido, certamenteaguardará o implemento da idade mínima ou da quantidade de pontos exigidas na mesma labuta inóspita. Assim, ao asseverarmos o viés preventivo da inativação antecipada, podemos concluir que o benefício visa preservar o direito à saúde e, por conseguinte, tutela, ainda que indiretamente, o maior dos bens jurídicos: a vida! Dessa forma, a postergação do acesso à aposentação especial, que resultará em maior prejuízo salutar ao segurado, decorrente da extensão da exposição a agentes danosos à saúde, pode ser considerada como severa afronta à dignidade da pessoa humana, um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito. VII. A EXTINÇÃO DA CONVERSÃO DE TEMPO Surgida mais de vinte anos após a instituição da aposentação especial, a conversão de tempo, criada pela Lei 6.887, de 10 de dezembro de 1980, pode ser conceituada como uma operação matemática, mediante a aplicação de índices previamente estabelecidos, hábeis a transformar um período de trabalho/contribuição (comum ou especial), naquele cuja 49 espécie de aposentadoria se almeja (comum ou especial), visando sempre prestigiar o tempo laborado em condições agressivas à saúde do segurado. Permitia em seu nascedouro a transformação de tempo em ambos sentidos: comum em especial ou especial em comum. A Lei 9.032, de 28 de abril de 1995, proibiu a conversão de comum em especial, subsistindo, a partir de então, somente a transformação em sentido contrário, ou seja, especial em comum. Em 28/05/1998 o governo de então tentou abolir a conversão em nosso país, através da MP 1.663-10. No entanto, o Congresso Nacional, quando da convolação da aludida medida provisória na Lei 9.711, de 20 de novembro de 1998, não recepcionou a pretendida revogação do parágrafo 5º, do artigo 57, da Lei 8.213/91, justamente o dispositivo que disciplinava a conversão. Assim, a transformação de tempo, mesmo diante de acirradas polêmicas nos âmbitos doutrinário e jurisprudencial acerca da sua “sobrevivência” (lembremos da famosa liminar gaúcha, da redação original do artigo 70 do RPS e da Súmula 16 da TNU), continuou a ser aplicada, inicialmente por força de determinação judicial e, posteriormente, em razão do advento do Decreto 4.827/2003. Mas tão nobre instituto, mediante nítida confusão do legislador reformador constituinte entre tempo fictício e tempo convertido, restou brutal e covardemente assassinado pela EC 103/2019, através de seu artigo 25, § 2º, verbis: “Art. 25. Será́ assegurada a contagem de tempo de contribuição fictício no Regime Geral de Previdência Social decorrente de hipóteses descritas na legislação vigente até́ a data de entrada em vigor desta Emenda 50 Constitucional, para fins de concessão de aposentadoria, observado, a partir da sua entrada em vigor, o disposto no § 14 do art. 201 da Constituição Federal. § 2º. Será reconhecida a conversão de tempo especial em comum, na forma prevista na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, ao segurado do Regime Geral de Previdência Social que comprovar tempo de efetivo exercício de atividade sujeita a condições especiais que efetivamente prejudiquem a saúde, cumprido até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, vedada a conversão para o tempo cumprido após esta data”. E assim como ocorre com a instituição da idade mínima para aposentadoria especial, a eliminação da conversão também é alvo de fundadas e incisivas críticas, vez que nega o caráter preventivo da aposentadoria especial, caracteriza evidente retrocesso social, além de ferir o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a isonomia, como veremos a seguir. 7.a) Nega o caráter preventivo da aposentadoria especial. A conversão de período de trabalho especial em comum, que resulta em acréscimo de tempo ordinário após a transformação, prestigia o lapso laborado em condições adversas à saúde. Sem o instituto em foco, caso o segurado não atinja o tempo mínimo exigido para aposentadoria precoce (15, 20 ou 25 anos), não poderá computar de maneira majorada o período labutado em condições inóspitas, o que resultará na indevida contagem como comum do aludido período insalutífero. 51 Destarte, inexistindo a possibilidade de converter tempo de contribuição, não haverá a proteção ao período de trabalho exercido em situações agressivas, contrariando a essência da jubilação antecipada. Temos que diante de todo arcabouço normativo-constitucional, que institui como alicerces da nossa República o primado social do trabalho e a dignidade humana, e que traz a presunção jurídica absoluta de danos à saúde decorrentes do trabalho exercido em condições danosas, podemos concluir de maneira segura que a extinção da conversão nega a própria essência da aposentação especial. 7.b) O retrocesso social. Brevíssima explanação acerca da cláusula de vedação ao retrocesso já foi expendida no item 5.a. E no que toca à conversão o retrocesso social é ainda mais notório e evidente. Para corroborar esta assertiva, basta transcrever a Exposição de Motivos da Lei 6.887/1980, a saber: “Procura-se ainda, aprimorando a Previdência Social e compatibilizando-a com as metas prioritárias do governo de Vossa Excelência, estabelecer que os trabalhos exercidos em atividades insalubres, perigosas ou penosas quando não implementados os prazos previstos para aposentação especial, sejam computados a maior que os períodos de atividades comuns, sob fórmulas e percentuais a serem estabelecidos por esta Secretaria de Estado. Com tal medida, busca-se o aperfeiçoamento da proteção social ao segurado previdenciário, ao tempo em que se objetiva um critério justo para a conversão do período insalubre, penoso ou perigoso, em atividade comum, para fins de aposentadoria [...]” (destaque acrescido). 52 Portanto, criada ainda sob o regime de exceção, a conversão de tempo surge com a finalidade de aprimoramento da proteção social ao segurado da previdência, buscando, ainda, estabelecer um critério justo e isonômico para o cômputo do período laborado em condições daninhas, quando não implementado o tempo mínimo para a jubilação especial. Muito se estranha e lamenta que tão nobre instituto, de inegável caráter protetivo e humano, criado devido à preocupação do ditador de plantão em aprimorar a cobertura previdenciária e enaltecer o trabalho desenvolvido em situações adversas, seja tão brutalmente atacado por governos democráticos posteriores (um deles nem tão democrático assim...), até ser definitivamente eliminada da legislação pátria pela EC 103/2019. A conclusão é lógica e não demanda maiores digressões: à luz da própria Exposição de Motivos do diploma que criou a conversão de tempo, sua extinção caracteriza cristalino e evidente retrocesso social. 7.c) Afronta ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito. Ao laborar sob a égide de uma legislação que permite ao trabalhador exposto a agentes agressivos jubilar-se antes dos demais, que não sofrem essa sujeição, o direito de computar o período de faina nociva de uma forma diferenciada (majorada) se incorpora ao patrimônio jurídico do segurado, pouco importando se alcançou a idade e o tempo mínimos exigidos para aposentação antecipada. Ou seja, não atingir os 15, 20 ou 25 anos de labor agressivo não pode impedir que o segurado compute de maneira acrescida, o período de trabalho desenvolvido em situação adversa, pois o decréscimo salutar presumidamente já ocorreu. 53 Ademais, cada dia trabalhado sob a vigência de norma que possibilita a jubilação antecipada, se aperfeiçoou enquanto ato jurídico, devendo ser resguardado o direito de conta-lo de forma diferente, in casu acrescendo tempo quando da transformação de período especial em comum, independentemente de ter atingido os critérios exigidos para tal benefício. Portanto,
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