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Resenha Critica Falcao Meninos do Tráfico

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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
CCHS PSICOLOGIA
Diversidade Humana I
Professor: Heriel Luz
Acadêmica: Raquel Lopez Rosa
BILL, MV; ATHAYDE, Celso. Falcão Meninos do Tráfico. 1 ed. São Paulo: Objetiva, 2006
 ‘’Falcão, meninos do tráfico’’, nos permite acesso aos bastidores da gravação de um documentário, que alude sobre crianças e jovens envolvidos no tráfico em comunidades brasileiras, produzido pelo rapper MV BILL e seu empresário Celso Athayde. O livro propõe um alargamento na perspectiva sob as condições brasileiras, as comunidades, as relações, a infância e o tráfico, assim como toda uma gama de questões que permeiam a sociedade. 
O titulo do livro faz referência aos meninos que ficam responsáveis por vigiar a comunidade e comunicar caso avistem a policia ou um grupo inimigo. Sem demagogia o livro abarca sobre experiências reais. A importância e influência do trafico dentro das comunidades. A dinâmica do tráfico está presente desde as brincadeiras até ao sustento das famílias.
De acordo com a pesquisa realizada por Meirelles e Gomez4, ao que concerne a hierarquia na dinâmica do tráfico assenta-se da seguinte maneira: 1-olheiros (Falcões, vigias situados em pontos estratégicos ao redor da "boca de fumo", munidos de walkie-talkies e fogos de artifícios ou armas de pequeno calibre com pouca munição, para alertar os colegas sobre a chegada da polícia ou de grupos rivais); 2- Vapores (encarregados de distribuir, vender e recolher o dinheiro das drogas); 3- Soldados (armados constantemente para defender a favela, caso houvesse invasão do grupo rival ou entrada da policia); 4- Seguranças do gerente ou do chefe do tráfico na favela, carregando geralmente as armas mais sofisticadas e pesadas; 5- Gerente (administra os pontos de venda de drogas na favela, popularmente conhecida como "boca de fumo"). O gerente exerce uma função de poder e destaque na hierarquia do tráfico, inclusive merecedora de melhor remuneração.
Essas crianças conhecidas como Falcões, permanecem acordadas durante toda a madrugada, alocadas em lugares estratégicos, onde frequentemente fazem o consumo de drogas, predominantemente maconha e cocaína, ‘’É preciso dar um teco.’’ 1, justificam que a droga ajuda que permaneçam acordados e alertas. 
Conforme Debord2, a sociedade se anuncia como uma acumulação de espetáculos, onde o espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e o instrumento de unificação. Uma relação social realizada por pessoas mediatizada por imagens, constituindo-se como o modelo predominante na produção da vida. Onde a práxis social cindiu realidade e imagem, e a alienação é a essência e o sustento da sociedade existente. Por isso, é preciso compreender que a marginalidade vai muito além do marginal. Conforme disse Athayde, a maneira que esses jovens encontram para serem notados é assumindo a conduta de bandido; "o sujeito que não era visto, impõe-se a nós. Exige que o tratemos como sujeito. Recupera a visibilidade, recompõe-se como sujeito, se afirma e reconstrói"3.
De acordo com Barreto, Ribeiro e Passos5, a sociedade Brasileira dissocia favela e sociedade, sendo a primeira caracterizada pelo ‘’favelado’’, que a sociedade deseja tornar ‘’invisível’’. E justamente por isso, para compreender a realidade do livro, é preciso despir a penitência da imagem de marginal, pois é: ‘’uma questão ampla, complexa e historicamente concentrada, assim como a renda do país. ’’ 1
Se retornarmos a Debord, ao discorrer sobre trabalho e liberdade, ele aponta que o tempo livre não este propriamente distinto do trabalho, pois o tempo livre esta a mercê de todo um mundo moldado por este trabalho. O conceito de espetáculo na sociedade representa concretamente o processo de alienação. A divisão do trabalho, a venda da força de trabalho é primordial para a manutenção do processo. Onde o capital não é apenas o centro invisível que dirige o modo de produção: a sua acumulação estende-se até à periferia, sob a forma de objetos sensíveis. Há uma contradição entre a divisão mostrada como unitária e a unidade mostrada como cindida. Portanto, não é possível tonar invisível, aquilo que transborda pelas entranhas sociais. A favela é a sociedade e a sociedade é favela, ao passo que são diferentes; quando se contrapõem, elas compõem uma a outra. Não é plausível atribuir o conceito de ‘’margens da sociedade’’ a uma substância inseparável e integral de toda a gama histórica, social e cultural na qual estamos todos inseridos.
 A pseudonecessidade imposta no consumo moderno não se opõe a nenhuma necessidade ou desejo autêntico, que não seja ele próprio modelado pela sociedade e pela sua história. A forma de pensar e de se produzir nas comunidades é fundamentada direta e indiretamente junto ao tráfico, ao direcionar a perspectiva aos meninos Falcões nas favelas brasileiras; a entrada para as dinâmicas do trafico, o porte de armas, a possível ascensão nas hierarquias do trafico, articula-se como um artificio de respeito e sucesso entres os garotos assim como também se apresenta como uma forma de trabalho. 
Considerando o contexto capitalista a qual se instalam as relações, o proletário expressa sua própria existência, em atos. É a sua consciência histórica operando sobre a realidade do seu mundo. Dentro de uma sociedade predominantemente de ideologia burguesa, a revolução do proletariado permanece como ideia, mas ainda não como revolução, e a partir disso tem-se uma concepção de moralidade e lei, estabelecidos por essa perspectiva dominante. O tráfico, as atividades dos Falcões, o porte de armas, o consumo de drogas são consideradas ilegais. Entretanto, quem estabelece essas leis? A quem e como elas são direcionadas? Quais são os suportes fornecidos para a subsistência e produção subjetiva desses sujeitos? “Matar meu marido em nome da lei é fácil, difícil agora é criar uma lei para sustentar o meu filho.’’1. 
O sociólogo Luiz Eduardo Soares, em seu depoimento no documentário Ônibus 174, relata que: A grande luta desses meninos é contra a invisibilidade. Nós não somos ninguém e nada se alguém não nos olha, não reconhece o nosso valor, não preza a nossa existência, não devolve a nós nossa imagem munida de algum brilho, de alguma vitalidade, de algum reconhecimento. Esses meninos estão famintos de existência social, famintos de reconhecimento. 
A invisibilidade social também contribui para a permanência destes jovens no mundo do crime. Na busca de uma identidade social, os jovens manifestam o fascínio por status e por arma de fogo, o que lhes garante o reconhecimento e poder na favela onde vivem5.
Recobrando a Meirelles e Gomez4, a maioria dos jovens abandonam as escolas muito cedo para se envolverem com o tráfico, onde permanecem em média de seis a sete anos. Quanto à retirada, a necessidade de procurar outros espaços constitui uma tentativa de buscar novas relações sociais, outros significados para suas vidas, longe do confinamento imposto pelas leis do tráfico6. 
Por causa da baixa escolaridade, esses jovens enfrentam grandes dificuldades para encontrar emprego. Além disso, a incorporação de linguagem e hábitos próprios da criminalidade, ao longo desses anos, representa mais um agravante tanto para o seu processo de socialização quanto para a sua inserção no mundo do trabalho7. E mesmo cientes que a deliberação dessa participação no tráfico, resulta em ‘’cadeia, morte ou cadeira de rodas’’1 a entrada desses jovens é comum e recorrente. 
Se reincidirmos a Debord, a sociedade é produto de sua própria história, mesmo que ciente só de seu momento histórico presente, pois a história em sua profundidade tende a perder-se na superfície. E ao pensar sobre a história é preciso diretamente pensar sobre o poder, grupos e ideologias que atribuem sentido e significado ao tempo, que recaiu a uma concepção de falsa eternidade. E á esse tempo perene, o trabalho que transforma a sociedade continuamente, mesmo que sobre aparente domínio da classe dominante, é a base que movimenta a sociedade. Enquanto consumidores dessasideologias, atividades como os momentos de lazer e férias, recaem sobre essa concepção de real, mas que também é parte de toda essa produção. O real recai a um espetáculo. O trabalhador que consome produtos é também um produto consumido pela falsa realidade do espetáculo. Em Falcão, meninos do tráfico, os autores propõem tratar da ‘’vida daquele que nunca deixou de sonhar. Que acabou vivo, justamente por estar preso1. ’’ 
Mais do que um livro de veracidade é um livro que abarca a voracidade de uma sociedade ‘’onde uns tem a cor do poder e o os outros a cor da miséria ’’2. E o tempo enquanto alienação necessária manifesta-se como meio para que o sujeito se realize ao se perder, tornando-se o outro para poder torna-se a veracidade de si mesmo. 
Frente a todo processo de urbanização, a cidade apresenta-se como o campo de batalha da liberdade histórica, subordinada a economia da consciência histórica. Onde a cultura representa o poder de generalização de toda produção humana, por onde se procura a unidade perdida. E o espetáculo emerge de um homem moderno demasiadamente espectador. À vista disso, não se pode considerar um homem pela maneira como ele vê a si mesmo, assim como não se pode atribuir como indubitável o que a sociedade estima de si própria. 
O livro, ao permitir a participação do leitor nos bastidores, permite percorrer o que habita por trás da imagem, da superficialidade do espetáculo. E com o reconhecimento do papel de espectador frente ao espetáculo, torna plausível reconhecer que a entrada das crianças no tráfico se estabelece muito antes da infância, e advém de um longo processo ideológico, e através do reconhecimento dessa base histórica comum e universal é que se torna possível dialogar sobre como vencer suas próprias condições. Os falcões, não são somente meninos do tráfico, são nossos meninos.
REFERÊNCIAS
 
BILL, MV; ATHAYDE, Celso. Falcão Meninos do Tráfico. 1 ed. São Paulo: Objetiva, 2006.
DEBORD, G., A Sociedade do Espetáculo, Tradução de Estela dos Santos Abreu, Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997
BILL, MV; ATHAYDE, Celso. Cabeça de porco. Rio de Janeiro: Objetiva; 2005. p. 215.
MEIRELLES, Zilah Vieira e  MINAYO GOMEZ, Carlos. Rompendo com a criminalidade: saída de jovens do tráfico de drogas em favelas na cidade do Rio de Janeiro. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2009, vol.14, n.5
BARRETO L, RIBEIRO M, PASSOS N. Vida bandida: figurantes na sociedade, protagonistas na mídia. In: Anais do XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação; 2007; São Paulo.
ZAMORA MH. Confinamento, sociabilidade e violência nas favelas cariocas [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro; 1999.
MEIRELLES ZV. Vida e trabalho de adolescentes no narcotráfico numa favela do Rio de Janeiro[dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; 1998.

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