Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Introdução ao entendimento sobre Idade Média
A própria Idade Média é uma construção histórica. História Medieval não é um acidente, o termo medieval começa a ser utilizado na própria idade média referindo-se as épocas anteriores as suas. Em torno do séc. XII – XIII, com o crescimento das cidades, os autores passam a tratar sobre o que é idade média ao período anterior o que eles tinham vivido como: “superamos as trevas e alcançamos a luz”. A própria ideia de que idade média seria idade das trevas não é uma formulação completamente Iluminista, tal termo começa a ser formulado na própria idade média. A divisão de tempo é uma construção e não é “real”, que tem um objetivo didático e reforça a nossa própria dominação.
Na Idade Média nem sempre houve castelos, eles são um fenômeno dos séculos XIII/XI, com o crescimento das cidades.
Outra ideia é a de que, na Idade Média, quem fosse contra o cristianismo morria na fogueira. Isso é falso. A Idade Média só teve fogueira no seu período tardio, quando a Igreja se fortaleceu (sim, ao longo da Idade Média ela não foi a única e cruel dominadora). A Igreja, ao longo da Idade Média, estava em formação e passou a ser Católica Apostólica Romana no século XIII, além de só conseguir poderio para escolher seus membros em torno do século XII. A Inquisição em si é um fenômeno gigantesco dos séculos XV e principalmente XVII e XVIII, na modernidade. De fato, a Igreja que se apoiara em Roma com o fim do governo Ocidental vive um duro golpe ao longo da Primeira Idade Média.
De onde surge a noção de trevas para Idade Média? Foi cunhado pela historiografia inglesa entre o século V e o XII, uma vez que a partir daí tivemos a formação das universidades e o crescimento das cidades. A lógica iluminista inglesa pensava, em especial, na produção intelectual europeia ocidental ao longo desse período.
As visões sobre a idade média mudaram com o tempo. Durante muito tempo a Idade Média foi vista com visões diferentes. Lembramos a organização do Iluminismo, onde os pensadores do séc. XVII – XVIII, começam a se levantar trabalhando com a ideia de uma intensa transformação da sociedade deles, existia um grupo que muito claramente precisavam se opor, para que aquilo tivesse lógica e fundamento. Todo movimento intelectual do séc. XVII – XVIII se volta contra aos intelectuais tradicionais da Igreja, que vinham da idade média, onde toda intelectualidade e produção do saber habitava. As universidades são fenômenos do séc. XI – XII, a ideia da organização do saber eclesiásticos e uma ideia de formação de aluno para alcançar um grau superior de conhecimento. A construção das Universidades é a base da linha de pensamento que se desenvolve no sex XIII XIV e XV. Base de conhecimento esse, que será muito influenciado no séc. XV com a busca do conhecimento e também da tradução de documentos que ficaram desaparecidos do mundo Europeu. Durante a idade média, o grupo que mais se aproximava com a busca do saber, de fato foi o mundo muçulmano, que erareferência. Com isso influenciou muito as universidades europeias.
A erudição na idade Média foi caracterizada de maneira a afirmar que o grande intelectual não é o que inova, mas principalmente pelo domínio dos conhecimentos já produzidos. Mais erudito é aquele que mais conhece, daí teria se afirmado uma ideia de estagnação intelectual, incapacidade de novas produções, posição que precisa ser cuidadosamente relativizada quando estudamos o período com um novo apuro.
A pressão iluminista, valorizadora da razão, buscava negar os conhecimentos medievais, descaracterizá-los como algo retrógrado e que deveria ser combatido. Foi a era da razão que cunhou a ideia de que o homem devia buscar o que ficou na Antiguidade, e esquecer aquele período de trevas e estagnação que teria sido vivido.
O interessante é que no século XIX a razão entra em crise. Os processos de cidades empobrecidas trazem na literatura o fenômeno do romantismo. Os cavaleiros andantes ganham novas roupagens, seriam os homens de honra e de verdade que se perderam com o mundo moderno. Um autor inglês chega a afirmar: se a idade Média foi o período de trevas, sem dúvida foi o que teve a mais bela e mais romântica noite da humanidade.” Fadas e princesas ganham formas.
Idade Média não é das damas e dos cavalheiros, e também não é a Idade das trevas. Como historiadores, não devemos sequer compreender um corte temporal de mil anos como algo linear que pode ser definido em poucas palavras. O nosso desafio como historiadores é justamente conhecer a Idade Média como um processo longo, cheio de nuances e características específicas em cada um dos seis períodos e espaços.
Edward Gibbon foi um historiador importante do século XIX, talvez um dos primeiros a quebrar linhas positivistas até ali presentes e indiscutíveis na forma de fazer história. No entanto, suas concepções bebiam diretamente na noção de buscar os motivos da queda do Império Romano, elegendo culpados que teriam causado este “dolorido” fim. Ele defende, em seus textos, que o poder da igreja contribuiu para queda do Império Romano. Na sua hipótese, a presença do cristianismo fragilizou o posicionamento do imperador e fez esfriar a verve bélica romana, propiciando uma quebra na estrutura cultural que garantia ao imperador romano sua própria noção e identidade. Como resultado teríamos um caos político que, não podendo ser contido, facilitaria a entrada de grupos militarmente mais fracos no império.
No início do séc. XX a idade média sofre uma nova transformação, se torna um parâmetro legitimador, passam a tentar buscar nos antigos reis e nas tradições medievais, alguém que demarque sua origem como nação, como por exemplo, Carlos Magno, como herói Francês, Oto I como mito, fundador da Germânia. Discursos de legitimidade tem um processo de reconhecer alguma causa / tradição / civilização, a idade média é um padrão legitimador das populações europeias.
Hilário quando fala da estrutura econômica é justamente quando ele vai chamar a atenção o que precisamos perceber vários traçados da estrutura econômica de como funcionou a estrutura da idade média. Não podemos ver a idade média como era idealizada no romantismo.
Hilário Franco Junior diz que as visões da idade média mudaram ao longo do tempo. O séc. XX avançou muito no que se refere a percepção da idade média. Deve ser dividido em fases. (Momentos e organizações).
“A Idade Média para os medievais
Mas, enfim, que conceito tinham da “Idade Média” os próprios medievos? Questão difícil de ser respondida, apesar dos progressos metodológicos das últimas décadas. A resposta, mesmo provisória e incompleta, precisaria ser matizada no tempo e no espaço, e ainda considerar pelo menos duas grandes vertentes, a do clero, elaborada a partir de interpretações teológicas, e a dos leigos, presa a concepções antigas, pré-cristãs. Simplificadamente, essa bipolarização quanto à História partia de duas visões distintas quanto ao tempo. 
A postura pagã, fortemente enraizada na psicologia coletiva*, aceitava a existência de um tempo cíclico, daquilo que se chamou de “mito* do eterno retorno”. Ou seja, as primeiras sociedades só registravam o tempo biologicamente, sem transformá-lo em História, portanto sem consciência de sua irreversibilidade. Isso porque, para elas, viver no real era viver segundo modelos extra-humanos, arquetípicos. Assim, tanto o tempo sagrado (dos rituais) quanto o profano (do cotidiano) só existiam por reproduzir atos ocorridos na origem dos tempos. Daí a importância da festa de Ano-Novo, que era uma retomada do tempo no seu começo, isto é, uma repetição da cosmogonia, com ritos de expulsão de demônios e de doenças.
Tal concepção sofreu sua primeira rejeição com o judaísmo, que vê em Javé não uma divindade criadora de gestos arquetípicos, mas uma personalidade que intervém na História.
O cristianismo retornou e desenvolveu essa idéia, enfatizando o caráter linear da História, com seu ponto de partida (Gênese), de inflexão (Natividade) e de chegada (Juízo Final).Portanto, linear mas não ao infinito, pois há um tempo escatológico* — que só Deus conhece — limitando o desenrolar da História, isto é, da passagem humana pela Terra.
Contudo, se o cristianismo reinterpretou a História, não pôde deixar de sentir seu peso, inclusive da mentalidade* cíclica, daí a liturgia cristã basear-se na repetição periódica e real de eventos essenciais como Natividade, Paixão e Ressurreição de Jesus: ao participar da reprodução do evento divino, o fiel volta ao tempo em que ele ocorreu. Ou seja, a cristianização das camadas populares não aboliu a teoria cíclica, pelo contrário, influenciou o cristianismo erudito e reforçou certas categorias do pensamento mítico.
Em virtude disso, pelo menos até o século XII os medievos não sentiam necessidade de maior precisão no cômputo do tempo, o que expressava e acentuava a falta de um conceito claro sobre sua própria época. De maneira geral, prevalecia o sentimento de viverem em “tempos modernos”, devido à consciência que tinham do passado, dos “tempos antigos”, pré-cristãos. Estava também presente a idéia de que se caminhava para o Fim dos Tempos, não muito distante. Espera difusa, que raramente se concentrou em momentos precisos. Sabemos hoje que os pretendidos “terrores do ano 1000” foram uma criação historiográfica, pois não houve nenhum sentimento especial e generalizado de que o mundo fosse acabar naquele momento.
Mas c inegável que a psicologia coletiva* medieval esteve constantemente (ainda que com flutuações de intensidade) preocupada com a proximidade do Apocalipse. Catástrofes naturais ou políticas eram freqüentemente interpretadas como indícios da chegada do Anticristo. Havia uma difundida visão pessimista do presente, porém carregada de esperança no iminente triunfo do Reino de Deus. Nesse sentido, a visão de mundo medieval trazia implícita em si a concepção de um tempus medium, precedendo a Nova Era. Tempo não monolítico, dividido em várias fases.
A quantidade e a caracterização delas não eram, contudo, consensuais. A periodização mais comum, ao menos entre o clero, concebia seis fases históricas, de acordo com os dias da Criação.
Como no sétimo dia Deus descansou, na sétima fase os homens descansarão no seio de Deus. Assim pensavam muitos, de Santo Agostinho (354-430) e Isidoro de Sevilha (560-636) até Fernão Lopes (1380-1460). Também teve sucesso uma concepção trinitária da História, surgida no século IX com João Escoto Erígena (ca. 830-ca. 880) e que teve seu maior representante no monge cisterciense Joaquim de Fiore (1132-1202). Para este, a Era do Pai ter-se-ia caracterizado pelo temor servil à lei divina, a Era do Filho pela sabedoria, fé e obediência humilde, a do Espírito Santo (que começaria em 1260) pela plenitude do conhecimento, do amor universal e da liberdade espiritual. Qualquer que fosse a divisão temporal adotada, reconhecia-se que o suceder das fases acabaria com a Parusia, quando a História enquanto tal deixaria de existir.”
“Feitas essas ressalvas metodológicas obrigatórias, o que devemos entender por Idade Média, pelo menos no atual momento historiográfico? Trata-se de um período da história europeia de cerca de um milênio, ainda que suas balizas cronológicas continuem sendo discutíveis. Seguindo uma perspectiva muito particularista (às vezes política, às vezes religiosa, às vezes econômica), já se falou, dentre outras datas, em 330 (reconhecimento da liberdade de culto aos cristãos), em 392 (oficialização do cristianismo), em 476 (deposição do último imperador romano) e em 698 (conquista muçulmana de Cartago) como o ponto de partida da Idade Média. Para seu término, já se pensou em 1453 (queda de Constantinopla e fim da Guerra dos Cem Anos), 1492 (descoberta da América) e 3517 (início da Reforma Protestante).
Sendo a História um processo, naturalmente se deve renunciar à busca de um fato específico que teria inaugurado ou encerrado um determinado período. Mesmo assim os problemas permanecem, pois não há unanimidade sequer quanto ao século em que se deu a passagem da Antigüidade para a Idade Média. Tampouco há acordo no que diz respeito à transição dela para a Modernidade. Mais ainda, apesar da existência de estruturas básicas ao longo daquele milênio, não se pode pensar, é claro, num imobilismo. Passou-se então a subdividir a história medieval em fases que apresentaram certa unidade interna. Mas também aqui não chega a haver consenso entre os historiadores. A periodização que propomos a seguir não é a única aceitável, ainda que nos pareça mais adequada à maneira como montamos este livro, isto é, buscando a compreensão das estruturas (e não dos eventos) medievais. Se não, vejamos. O período que se estendeu de princípios do século IV a meados do século VIII sem dúvida apresenta uma feição própria, não mais “antiga” e ainda não claramente “medieval”. Apesar disso, talvez seja melhor chamá-la de Primeira Idade Média do que usar o velho rótulo de Antigüidade Tardia, pois nela teve início a convivência e a lenta interpenetração dos três elementos históricos que comporiam todo o período medieval. Elementos que, por isso, chamamos de Fundamentos da Idade Média: herança romana clássica, herança germânica, cristianismo. A participação do primeiro deles na formação da Idade Média deu-se sobretudo após a profunda crise do século III, quando o Império Romano tentou a sobrevivência por meio do estabelecimento de novas estruturas, que não impediram (e algumas até mesmo aceleraram) sua decadência, mas que permaneceriam vigentes por séculos (Apêndice 2). Foi o caso, por exemplo, do caráter sagrado da monarquia, da aceitação de germanos no exército imperial, da petrificação da hierarquia social, do crescente fiscalismo sobre o campo, do desenvolvimento de uma nova espiritualidade que possibilitou o sucesso cristão. Nesse mundo em transformação, a penetração germânica intensificou as tendências estruturais anteriores, mas sem alterá-las. Foi o caso da pluralidade política substituindo a unidade romana, da concepção de obrigações recíprocas entre chefe e guerreiros, do deslocamento para o norte do eixo de gravidade do Ocidente*, que perdia seu caráter mediterrânico. O cristianismo, por sua vez, foi o elemento que possibilitou a articulação entre romanos e germanos, o elemento que ao fazer a síntese daquelas duas sociedades forjou a unidade espiritual, essencial para a civilização medieval. Isso foi possível pelo próprio caráter da Igreja nos seus primeiros tempos. De um lado, ela negava aspectos importantes da civilização romana, como a divindade do imperador, a hierarquia social, o militarismo. De outro, ela era um prolongamento da romanidade, com seu caráter universalista, com o cristianismo transformado em religião do Estado, com o latim que por intermédio da evangelização foi levado a regiões antes inatingidas. Completada essa síntese, a Europa católica entrou em outra fase, a Alta Idade Média (meados do século VIII-fins do X). Foi então que se atingiu, ilusoriamente, uma nova unidade política com Carlos Magno, mas sem interromper as fortes e profundas tendências centrífugas que levariam posteriormente à fragmentação feudal. Contudo, para se alcançar essa efêmera unidade, a dinastia Carolíngia precisou ser legitimada pela Igreja, que pelo seu poder sagrado considerava-se a única e verdadeira herdeira do Império Romano. Em contrapartida, os soberanos Carolíngios entregaram um vasto bloco territorial italiano à Igreja, que desta forma se corporificou e ganhou condições de se tornar uma potência política atuante. Ademais, dando força de lei ao antigo costume do pagamento do dízimo à Igreja, os Carolíngios vincularam-na definitivamente à economia agrária da época. Graças a esse temporário encontro de interesses entre a Igreja e o Império, ocorreu uma certa recuperação econômica e o início de uma retomada demográfica. Iniciou-se então a expansão territorial cristã sobre regiões pagãs — que se estenderia pelos séculos seguintes — reformulando o mapa civilizacional da Europa*. Por fim, como resultado dissotudo, deu-se a transformação do latim nos idiomas neolatinos, surgindo em fins do século X os primeiros textos literários em língua vulgar. Mas a fase terminaria em crise, devido às contradições do Estado Carolíngio e a uma nova onda de invasões (vikings, muçulmanas, magiares). A Idade Média Central (séculos XI-XIII) que então começou foi, grosso modo, a época do feudalismo, cuja montagem representou uma resposta à crise geral do século X. De fato, utilizando material histórico que vinha desde o século IV, aquela sociedade nasceu por volta do ano 1000, tendo conhecido seu período clássico entre os séculos XI e XIII. Assim reorganizada, a sociedade cristã ocidental conheceu uma forte expansão populacional c uma conseqüente expansão territorial, da qual as Cruzadas são a face mais conhecida. Graças à maior procura de mercadorias e à maior disponibilidade de mão-de-obra, a economia ocidental foi revigorada e diversificada. A produção cultural acompanhou essa tendência nas artes, na literatura, no ensino, na filosofia, nas ciências. Aquela foi, portanto, em todos os sentidos, a fase mais rica da Idade Média, daí ter merecido em todos os capítulos deste livro uma maior atenção. Mas aquelas transformações atingiram a própria essência do feudalismo — sociedade fortemente estratificada, fechada, agrária, fragmentada politicamente, dominada culturalmente pela Igreja. De dentro dela, e em concorrência com ela, desenvolveu-se um segmento urbano, mercantil, que buscava outros valores, que expressava e ao mesmo tempo acelerava as mudanças decorrentes das próprias estruturas feudais. Aquela sociedade passava da etapa feudo-clerical para a feudo-burguesa, na qual o segundo elemento ia lenta mas firmemente sobrepujando o primeiro: emergiam as cidades, as universidades, a literatura vernácula, a filosofia racionalista, a ciência empírica, as monarquias nacionais. Os conservadores, como Dante Alighieri, lamentavam tais transformações. Inegavelmente caminhava-se para novos tempos. A Baixa Idade Média (século XIV-meados do século XVI) com suas crises e seus rearranjos, representou exatamente o parto daqueles novos tempos, a Modernidade. A crise do século XIV, orgânica, global, foi uma decorrência da vitalidade e da contínua expansão (demográfica, econômica, territorial) dos séculos XI-XIII, o que levara o sistema aos limites possíveis de seu funcionamento. Logo, a recuperação a partir de meados do século XV deu-se em novos moldes, estabeleceu novas estruturas, porém ainda assentadas sobre elementos medievais: o Renascimento (baseado no Renascimento do século XII), os Descobrimentos (continuadores das viagens dos normandos e dos italianos), o Protestantismo (sucessor vitorioso das heresias*), o Absolutismo (consumação da centralização monárquica). Em suma, o ritmo histórico da Idade Média foi se acelerando, e com ele nossos conhecimentos sobre o período. Sua infância e adolescência cobriram boa parte de sua vida (séculos IV-X), no entanto as fontes que temos sobre elas são comparativamente poucas. Sua maturidade (séculos XI-XIII) e senilidade (século XIV-XVI) deixaram, pelo contrário, uma abundante documentação. É essa divisão cronológica que nos guiará ao longo do exame de cada uma das estruturas básicas da Idade Média. Se nos capítulos a seguir dedicamos atenção desigual a cada uma daquelas fases, é porque, grosso modo, acompanhamos inversamente o ritmo histórico c diretamente a disponibilidade de fontes e trabalhos sobre elas.” (Franco, Hilário – P. 14 - 18)
Recorte momento tempo discussões:
Divisão (não é definitiva, serve apenas para facilitar a compreensão da idade média)
Começa (politico) 476 D.C. e termina em 1456 (tomada dos turcos) 
Começo (religioso) séc. III (Constantinopla) e termina séc. XVI (reforma protestante)
Começo (econômico) início do escravismo e termina no fim do mercantilismo
	O Império Romano, na verdade se transforma, quebrando a ideia de queda do Império Romano, não mais abraçando a cultura romana e “velando” pela sua morte. Toda e qualquer sociedade se transforma, independente que seja para melhor ou pior, o importante do historiador é estudar os momentos. Os Alemães entendem que não houve uma invasão germânica no império romano, mas sim uma migração, que mais tarde os próprios germânicos se tornam dominadores da Europa. Os até então “bárbaros” reconhecem o domínio romano, e querem fazer parte destes domínios e ao mesmo tempo ter autonomia destes territórios, sendo que quando esses grupos se estabelecem em um território romano, os povos “bárbaros” que vem de fora passam a ser chamados de bárbaros, pois eles já estavam estabelecidos ali. O mundo romano não cai, mas tem transformações econômicas fundamentais que abandonam a ideia de grandes propriedades e dão a base de uma nova para estabelecer.
	O limes não é uma ideia clara de fronteira, com isso, os povos que ali viviam, tinham muito mais contatos com os povos de fora, que os romanos diziam ser “bárbaros” do que a própria Roma. Assim, a cultura em torno do limes não eram romanas de fato. Isso facilitou a entrada dos povos germânicos pelo território. O território romano não era uma coisa só, com todos falando a mesma língua e tendo a mesma cultura. A capital do mundo romano é onde está o imperador, Roma era onde ficava o Senado. Se Roma era ameaçada, o imperador procurava um novo local para se estabelecer a capital, como Constantino fez, transferindo a capital para Bizâncio, que é chamada de Nova-Roma e mais tarde, Constantinopla. Os Godos foram pela primeira vez documentados pelo romanos no séc. I, a partir do séc. VI, foram relatados as presenças de Vândalos, Suevos, Francos... No oriente, com a expansão de chineses e mongóis, surge uma organização, de origem mongol, passa a sair em expansão territorial, são os Hunos, liderados por Atila.
A Igreja, em especial nos espaços dos mosteiros, não só guardava os documentos, mas principalmente os copiava. O filme O nome da Rosa, que reflete a preocupação da Igreja em controlar o que se lia, já ilustra o período da Baixa Idade Média, após o nascimento de Universidades, período no qual o controle dos escritos se faz fundamental. Na maior parte do período é o episcopado (elite eclesiástica) que tinha o interesse na educação greco-romana e, por conta disso, foi seu guardião e reprodutor. Esse fato nos dá, claro, um tipo de voz principal - o da Igreja - não temos como conhecer as outras vozes por sua manifestação, não houve registro e, por isso o necessário cuidado ao ler os documentos medievais. 
Os bispos tinham na Idade Média, desde o seu início, um poder singular. Mas, para pensar na questão não podemos deixar de pensar em um aspecto vital: Quem é o bispo? Alguém nasce na Igreja? São sim, de fato, membros das elites locais!
Romanismo, Germanismo e Cristianismo
	Vamos começar lembrando a periodização da Idade Média, pois mesmo que de maneira didática é impossível analisar o período como um todo. Esse período de desestruturação e organização dos reinos germânicos é o período tratado como primeira Idade Média.
O período que entendemos como solidificação de um novo governo, uma organização europeia mais centralizada, na ascensão da política de Carlos Magno, é chamado de alta Idade Média.
A História da Idade Média
	A primeira Idade Média é o período de transição entre desestruturação do Império Romano e a organização dos reinos germânicos.
	A Idade Média tardia é o período entre a baixa Idade Média e a modernidade. A Idade Média Plena é chamada Idade Média Central, que seria o auge do período feudal (O nome plena pode confundir os outros status).
	A Alta Idade Média é justamente o momento em que se tem a presença mais marcante, do governo Carolíngio, da organização de uma Europa, de uma economia.
Carolíngio, descendente da dinastia Merovíngia, é o governo organizado especialmente em torno da figura de Carlos Magno. É o nome da dinastia da família, a qual se tem como marco o juramento de fidelidade que é considerado o embrião do período da Idade Média Central. O feudalismonão é só uma relação econômica de terra mas, principalmente, um compromisso de fidelidade e organização de fidelidade entre iguais para estabelecimento e a organização das terras. Vassalos e suseranos são iguais.
A Idade Média Central é o período do surgimento das cidades. A Baixa Idade Média é o período das liberdades das universidades. A organização da economia imperial romana é basicamente mediterrânea.
Na Alta Idade Média, há uma migração das principais relações econômicas do Mediterrâneo para o norte da Europa. Não é a toa que se tem o crescimento das Ilhas Britânicas, o avanço dos Vikings, porque o território do norte da Europa começa a ser valorizado. Rotas comerciais passam pelo norte da Europa e, nesse sentido, há uma mudança de ciclo econômico.
O historiador deve olhar a Idade Média não como a idade das trevas, não como idade romântica dos cavaleiros errantes. O historiador deve, entre tantas coisas, principalmente reconhecer a capacidade da transformação, reorganização e de mutação.
Ele deve ter o cuidado de não perder nunca o seu objetivo primeiro, que é o homem no tempo. Se é o homem no tempo, não é o homem em mil anos.
É saber que esse homem vai ter momentos específicos, que o local vai ter momentos específicos, que as relações tem momentos específicos. Então temos relações de poder diferenciadas, organizações sociais diferentes. Não se pode perder essa noção dos objetos de pesquisa.
Le Goff afirma que, para entender a Idade Média, é necessário entender a confluência de três grandes tradições:
Romanismo, Germanismo e Cristianismo. Ainda que entendamos que seja um modelo didático, é um dos mais interessantes para compreender a formação da Idade Média, dos reinos germânicos.
Entre o século IV e VI
	Quando levantamos o entendimento da tradição germânica, precisamos lembrar da formação cultural do Império Romano. Lembrar que Cícero era lido, relido e falado no século I AC. Ele defendia que ser romano era dominar as leis romanas, era viver como súdito da força, do conjunto e da lei romana.
	Outros autores vão trazer a ideia de que a romanidade deve ser trazida nas transformações. Por exemplo, ir para a nova cidade e construir tudo no modelo de Roma, assim sente-se em casa.
	No século V, o Império romano do ocidente era a principal referencia política, vindo se formando desde as disputas com o mundo Greco-Romano desde o séc. II-III a.C. / I-II d.C. já como Império. Quando pensamos na figura deste Império entre o s séc. II-IV, ele era considerado ideologicamente a principal força politicamente no espaço que de alguma forma já estava mais que consolidado. 
O Império romano dialogava com suas fronteiras, conquistava novos territórios e levava sua língua. Cultura não está deslocada e não pode ser pensada fora das relações de poder. Cultura dialoga muito com a própria forma de dominação. Quando vimos que o Império Romano, seja onde fosse, construía um aqueduto, construía um portão, um templo, isso não quer dizer que era bondade dos romanos, mas isso fazia parte da dominação do mundo romano. O Império Romano, para facilitar a relação com os grupos que eles próprios chamavam de bárbaros, grupos que estavam fora do Império, quando iam para uma batalha ou saquear grupos “bárbaros”, sequestravam uma série de jovens, meninos entre 12 e 15 anos, esses meninos eram treinados pelo Império Romano. Esses meninos eram importantes por se tornarem interlocutores que foram educados e treinados no Império Romano. A lógica era criar um vínculo de relação para estabelecer uma nova organização, uma nova estrutura, uma nova forma de dominação. Roma se torna politicamente poderosa, porque ela consegue articular de tal maneira que usa a cultura, economia e política como um tripé de relações. Eles faziam com que a cultura dos povos que eles chamavam de Bárbaros, olhassem como se a cultura romana fosse superior, criando uma relação estreita com o Império.
	O Imperador Valente estava fraco politicamente, precisava de grandes vitórias militares, pois isso daria legitimidade ao seu governo. Com isso, Valente acaba morrendo na batalha de Adrianópolis. Teodósio o substituiu e encontrou um império fraco militarmente e arrasado moralmente.
“A batalha de Adrianópolis a que se refere Amiano Marcelino, foi um embate entre as tropas do exército imperial romano do oriente sob o comando do próprio imperador, Valente, contra os visigodos, uma tribo goda, que havia se instalado no território do império e estavam causando prejuízos com as suas incursões e saques na região da Trácia, uma das províncias orientais do império, a nordeste da atual Grécia. O resultado do embate foi trágico para os romanos que perderam a batalha e mais grave, um grande contingente de soldados e oficiais treinados, que seriam de difícil substituição em curto prazo. E entre os mortos estava o próprio imperador, o que causou graves conseqüências no moral e na capacidade de combatividade dos sobreviventes.
Então recaiu sobre o imperador que governava a parte ocidental, Graciano, a dura tarefa de escolher um substituto para o cargo vago de imperador do oriente. A escolha deveria levar em consideração um candidato que tivesse as qualidades necessárias para enfrentar os problemas deixados com a morte de Valente, entre os quais estavam os que são mencionados no texto de Remondon citado acima. 
A escolha recaiu sobre um militar de uma família cristã oriunda da Hispânia, Teodósio, que era filho de outro militar renomado, de mesmo nome, que caiu em desgraça e foi mandado executar, em 376, por ordem do próprio imperador Graciano, que agora nomeia o filho deste general condenado, para cargo de imperador do oriente e, conseqüentemente, seu colega de governo no império. O novo imperador, Teodósio, que passou para a historiografia como Teodósio I, o grande, tinha sido dux, isto é, comandante militar, na Mésia I (atual Sérvia) e chefe da cavalaria.
Em janeiro de 379, é proclamado Augusto (título do imperador) para a parte oriental e entra em Constantinopla, sua capital, em 380. Teodósio adotou como política frente aos visigodos, uma estratégia de apaziguamento e aliança. O imperador tinha duas tarefas imensas e urgentes pela frente; reerguer o exército e manter os visigodos, que derrotaram o exército do imperador Valente, sob controle. Teodósio sabia que a expulsão ou aniquilação dos visigodos tornara-se impossível, pois as perdas sofridas nas fileiras do exército oriental foram muito pesadas e os visigodos eram guerreiros de grande valor. Como solução imediata, Teodósio, então adotou a política de oferecer aos visigodos o estatuto de federados, aliados, através de um pacto onde os godos receberiam suprimentos e a permissão para instalarem-se na província da Mésia, em troca o imperador teria a colaboração dos godos, principalmente no que diz respeito ao fornecimento de homens para o exército imperial. 
Esta atitude criou um precedente que, com o passar de alguns anos, constituiu-se num perigo latente, mas a necessidade de força militar eficaz, e os bárbaros eram tidos como excelentes guerreiros, fez com que Teodósio lançasse mão do que tinha a sua disposição. Pois a recuperação do poderio do exército que foi desbaratado em Adrianópolis não era uma tarefa fácil e nem poderia ser realizada de um dia para outro. Reestruturar, treinar e manter um novo e poderoso exército é tarefa de gerações. Para Teodósio a única solução foi manter a paz através de concessões aos bárbaros, particularmente os visigodos, e poder utilizar os seus efetivos contra outras ameaças, tanto internas, como os usurpadores que se instalaram no ocidente, e externas, como outros povos bárbaros que tentavam penetrar no território do império. Os visigodos deveriam fornecer soldados e ajuda militar ao imperador sempre que necessário. Deste momento em diante, a presença de bárbaros como soldados a serviço ou no próprio exército romano, torna-se uma constante. Tanto que não é mais possível manter as legiões sem a sua presença.
Esta política de assimilação dos bárbarosfoi levada adiante mesmo após a morte de Teodósio, principalmente por Estilicão. Mas não foi sem oposição que esta estratégia foi recebida, muitos setores da sociedade romana viram nisso uma fraqueza e um perigo muito grande para a integridade dos romanos. Isto deve-se ao fato de que os cidadãos romanos teriam que conviver com guerreiros armados e que não estavam totalmente submetidos às leis romanas. Parte do acordo era que os godos preservariam suas armas e autonomia quanto aos seus costumes e tradições. Isto assustou o cidadão comum que no império andava desarmado.
A prática de incorporar os efetivos bárbaros ao exército tornou-se muito comum daí para frente, como já frisado, tanto que alguns bárbaros chegaram aos mais altos cargos na organização militar romana. Este é o caso do próprio Estilicão, de origem vândala, que alcançou o cargo de magister utriusquemilitaee sua ascensão foi tanta que chegou a casar com a sobrinha do imperador Teodósio.
Estas guerras contra os godos que atacaram o imperador Valente, fizeram com que fosse encaminhado o acordo que Teodósio I firmou com os visigodos.
Teodósio consegue manter os tradicionais inimigos de Roma, os persas, que também estavam sofrendo com as migrações dos povos que vinham do oriente, afastados das fronteiras romanas através da diplomacia que resultou num tratado de paz que teve uma longa duração.
	Outro ponto que marca, e este profundamente, o governo do imperador Teodósio I, é a consolidação do cristianismo promovida por ele. A característica da política de Teodósio é uma continuação da obra iniciada pelo imperador Constantino I. Constantino começa a privilegiar a religião cristã no início do século IV. Ele a transformou de uma seita perseguida em uma seita protegida pelo governo imperial. Teodósio termina a obra tornando o cristianismo a religião oficial do império romano. Este fato foi oficializado com o edito de Tessalônica no ano de
380 d.C.
	Até este momento os antecessores de Teodósio tinham aderido a uma determinada religião ou seita e a favoreceram de uma maneira ou outra.
Mas continuaram mantendo uma tolerância para com as demais formas de expressão religiosa existentes no território imperial, deixando-as existir, como era da tradição romana. Mas Teodósio destruiu o pouco que restava desta tolerância, estabelecendo uma religião de Estado obrigatória para todos, “todos nossos povos... devem aderir à fé professada pelo apóstolo Pedro(...). E esta obrigatoriedade não foi para qualquer uma das formas em que o cristianismo se apresentava na época, mas uma fórmula específica é anunciada em seu edito, ou seja, aquela professada pelos bispos reunidos no primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, e reafirmado no seguinte, em Constantinopla.
	Decidindo que esta fórmula era a única correta, Teodósio destina ao clero e às autoridades as bases legais que lhes dão o poder de excluir através de proibições e sanções legais a todas as demais crenças, podendo ser tanto o paganismo como outras formas da doutrina cristã.
(GELATI, Fernando – O mundo Romano na virada do século IV para o V – p. 21 à 28)
A Igreja
	Sobre a Igreja um lembrete vital tem que ser dado: Ninguém nasce da Igreja, o bispo era um nobre dentro daquela sociedade, é um dos maiores naquela sociedade. Então, se a Igreja domina, se tem força, precisa pensar que ela sozinha não existe. Antes de tudo, a Igreja tem um conjunto em torno dela, ela é um corpo imerso dentro da sociedade e vai produzir as relações de poder imersas nessa sociedade.
	O bispo, muitas vezes vai ser um cavaleiro, um prefeito de uma cidade, vai andar de armadura, porque ele nasceu nobre. Por exemplo, São Francisco de Assis, no século XIII, para se tornar santo despiu-se de todas as roupas da casa do pai. Isto é uma forma de negar a própria herança que lhe permitia uma ascensão de poder social.
O Comércio em Roma
	O bárbaro, dentro da leitura romana, não queria dizer destruidor, até porque a estrutura das guerras que também estavam presentes no mundo romano faz referência a um conjunto cultural, onde se está fora das relações socioculturais presentes no mundo romano. Quando está fora dessas relações, não se reconhece o padrão chamado pelos romanos de Civitas, que depois dá origem à nossa ideia de civilização, se é um bárbaro.
	Desde forma, entendemos que a leitura pejorativa já estava presente entre os romanos e a adoção do termo bárbaro, que deve ser vista com cuidado, para não ser confundido com selvagens.
	Não há isolamento, esses grupos chamados bárbaros orbitam e fazem parte da estrutura do mundo romano. Desde o século I já referência a essas trocas nas fronteiras romanas.
	Ao longo do período tardio, temos a presença desses grupos dentro do império, eram aliados muitas vezes guerreiros de Roma. Eles tinham a função de militares romanos. Chama atenção o pai de Rômulo Augusto, Oreste, ele era um comandante romano, era um Magisters e, ao mesmo tempo, era também de origem Franca. Teoricamente, dentro dessa leitura, é considerado bárbaro.
	O que se chama de bárbaro ou não vai depender muito do momento e dos interesses que estão sendo discutidos.
	É necessário entender que o quadro de transformação, de transição do mundo romano, já vem em crise muito antes dessa ruptura pontual. A organização social já vem demonstrando elementos de transição saindo do que vai ser entendido como antiguidade e apresentando características que serão lidas como medievais, ao longo de um período.
	O modo de produção romano era escravista, baseado em um grande comércio. A organização desse grande comércio já bem em claro declínio, dede o movimento em que se estabelece a figura da paz romana, vindo a reduzir o número de batalhas e o número de escravos.
	Temos em vez dessa organização que está presente desde o século II, as fronteiras romanas, apesar da ideia de fortificação, mais perenes, quando Roma precisa organizar grandes batalhas. Não vai um grande e organizado exército romano, mas sim, um grupo com quem Roma fez um acordo, pagando ou concedendo permissões. Dessa forma, há o estabelecimento, por exemplo, dos Visigodos e dos Ostrogodos.
	Esses dois povos que vêm das regiões mais ocidentais e vão ocupar posições da Nécia, atual região da Sérvia e regiões ao norte do Mar Negro. Essas duas ocupações são importantes dentro do mundo romano e não são ocupações de características militares, são grupos rurais e que não entram no grande comércio e nem na grande produção escravista, vão tender a ter produção de caráter menor.
	O Império Romano, uma vez cessada a sua expansão, uma vez tendo áreas fora do seu controle e, mais do que isso, uma vez que os governos romanos dependiam diretamente do recurso dessas vitórias, que tinham uma “máquina estatal cara”, com uma organização multifacetada, não podiam fazer com pouco dinheiro um apolítica de “Panis Cercensis”. Começa-se a ter mais fome e aquela cidade, que já vinha demonstrando crises, se torna um local de extrema pobreza em muitos espaços, com isso, o comércio fica mais frágil, sem incentivo.
	Alguns produtores ainda conseguem se manter, mas outros não têm a capacidade de se organizar para manter o seu latifúndio. Começa-se a ter a ideia de uma cessão de terras, isso não acontece do dia para a noite.
	O sistema de cessão de terras é o sistema do Colonato. O colonato está claramente presente, na organização social romana, desde o século III (alguns defendem o século II). Ele seria a cessão de parte das terras em troca de trabalho, nas suas próprias terras, em determinados momentos específicos. A vantagem disso em relação ao sistema escravista é que não há a necessidade de se mantar o colono.
	Se há um sistema produzindo bem, o escravismo é um ótimo negócio, com muito lucro. Quando ocorre uma redução na produção, o romano diminui o número de escravos, não por bondade, o que ocorre é uma política de descentralização, de ruralização, para que possa ter muitas vezes, uma reacomodação do sistema, que se mostrava enfraquecido por conta dasua própria estrutura.
	Sobre a relação do Império com os romanos temos que observar que a relação entre os dois é bastante longa.
Germanismo
	Os germânicos combatiam individualmente, era um combate direto e corpo a corpo. A honra do cavaleiro justamente vem disso, da ação e da possibilidade de combater. O Germanismo traz uma valorização das relações pessoais. Roma era institucionalizado, enquanto os germânicos realizavam um acordo como iguais, um acordo de honra, onde se fazia um juramento de fidelidade, esse juramento deveria ser estabelecido, era uma honra militarizada.
Cristianismo
	O discurso da Igreja na Idade Média era que o fim do mundo estava próximo, por isso precisava-se buscar a salvação. A Igreja se afirma como a continuidade do Império Romano, ela valoriza a escrita e designará responsáveis por guardar estas escritas, que eram feitas pelos Monges.	A maior parte dos documentos produzidos na Idade Média eram feitos pela Igreja, com isso, tais intelectuais da Igreja, sempre enalteciam a instituição.
Os Reinos Germânicos
A desestruturação do Império Romano e os Reinos Germânicos
Império Romano possuía uma estrutura, com o passar do tempo, ocorre uma mudança nos elementos dessa estrutura, se tornando menor, que ainda que se interligue, não tem mais a centralidade que se encontrava no Império Romano.
Com o avanço dos Hunos, várias tribos Germânicas migram para territórios romanos, fazendo com que ocorram várias mudanças políticas e econômicas. Muitas dessas tribos Germânicas são absorvidas pelo Império Romano e inclusive se tornando confederados para lutarem contra os Hunos, liderados por Átila, que avança pelo leste Europeu, vindo do Oriente.
Os Suevos
	No artigo (SILVA, Leila Rodrigues da. Monarquia e Igreja na Galiza na segunda metade do século VI: o modelo de monarca nas obras de Martinho de Braga dedicadas ao rei suevo. 1. ed. Niterói: EdUFF, 2008), a autora procura defender a consolidação de uma “monarquia centralizada” no decorrer da presença sueva na Galiza. Para tanto, pauta-se na análise das fontes que demarcam a fixação dessas populações germanas no território do Império Romano e suas sucessões monásticas. A saber, são lembrados os escritos de Tácito, Hidácio, Isidoro de Sevilha e Jordanes. A seguir, destacaremos os pontos que, para nós, são os mais relevantes de sua argumentação.
	No sentido de buscar as origens da monarquia sueva, ou melhor, as características das relações de poder no seio das populações germanas, Pablo Martínez ressalta o escasso número de fontes que tratam de seus costumes e organização antes da travessia do rio Reno, bem como a presença de contradições encontradas entre os autores. Deixa claro, no entanto, que para tratar do quinto século destacará, principalmente, a Crônica de Idácio.
Preocupa-se com o que chama de “problemas terminológicos”, uma vez que relembra a possibilidade de encontrar significações pouco claras ou diversas para os termos utilizados nas fontes romanas sobre quem são de fato os suevos. A seu ver, certos velhos conceitos podem ter sido usados com o intuito de definir novas experiências, alterando seu sentido.
Primeiramente, considera o caráter tribal das populações germanas, para definir suas lideranças baseadas nos atributos bélicos, considerando ser o “estado de guerra” o elemento de coesão dessas sociedades. Para o autor, essa forma de “governo” mudou no decorrer da inserção germana em território imperial, pois o contato com a cultura romana e as transformações nas estruturas socioeconômicas geraram a demanda por alterações nas organizações políticas.
Tais transformações dizem respeito, em especial, à sedentarização dessas populações, antes nômades ou seminômades. Dessa forma, aquelas formas de poder que se formavam em torno de uma nobreza guerreira tornam-se pautadas em um poder localizado, associado à noção de propriedade. Por esta via, percebe a formação de um tipo de “monarquia centralizada” que reúne em volta de si um séquito. O auge desse processo teria sido, portanto, a “dinastia” constituída pela sucessão Hermerico - Réquila - Requiário.
Com o fim da dinastia de Hermerico, notam-se duas dificuldades: manter a monarquia centralizada e conciliar as diferenças das tribais sob uma só liderança. Nesse sentido, o autor chama a atenção para o surgimento de “elementos primitivos” que se desenvolvem no período de interrupção da monarquia. A presença visigoda na estruturação do reino pós--Requiário também é destacada por Martinez, assim como os reis “débeis” que sucedem o ano de 456. 
Precisamos notar que não é fácil conhecer essa história, dependemos muito dos relatos sobre a sua chegada. A utilização dos relatos de Hidácio, Jordanes e Isidoro são essências para o trabalho prosopográfico proposto pelo autor. Ao analisar a formação, o desenvolvimento e o fim do reino suevo o autor lança mão dessas fontes históricas para questionar e comparar os elementos presentes nessa sociedade com outros grupos germânicos.
Sua chegada à Península Ibérica após a pressão dos Hunos: na Península, Hidácio pinta sua chegada com um prenúncio de final de mundo, o Apocalipse sendo deflagrado. Seria tão violento e ignóbil, segundo outras fontes como Paulo Orósio, nem tanto, mas sim depois de um peso de saques, são introduzidos as organizações hispano-romanas, iniciando um processo de organização monárquica.
A dualidade monárquica
Com a ascensão de Maldras, que não descendia de uma estirpe régia, o autor destaca a transição do modelo de liderança, que agora vinha de famílias nobiliárquicas por meio de algum tipo de eleição. Entretanto, essa decisão não foi unânime e Frantano reclama o reino também. Para o autor, não devemos nos ater a esse fato, pois esse quadro não se configurava com as diarquias tradicionais já estudadas e reclamar o título de rei poderia ser apenas por possuir interesses divergentes.
O surgimento das facções no reino suevo
Subgrupos dentro do reino obedecem aos vários líderes: Frantano, Maldras, Remismundo e Frumário. Martínez ressalta que naquele momento a qualidade de liderança não tem caráter de monarquia. Entre 460 e 465 há o desaparecimento da monarquia. Seu reaparecimento será apenas com Remismundo em meados de 465 e estará atrelada à atuação visigoda. (conversão ao arianismo, religião cristã considerada uma heresia, que veremos mais com os visigodos)
467: A morte de Teodorico II provocará, segundo o autor, uma mudança radical na relação dos suevos com os visigodos. Mesmo com a ascensão de Eurico, Remismundo aproveitará o momento para libertar--se do “domínio” godo e exercer sua soberania. 
Momento de expansão do reino: saqueiam a Lusitania, Coimbra e Lisboa.
Período obscuro: Após a expansão, os suevos entram em conflito com os visigodos liderados por Eurico. A dificuldade de entender esse período mais uma vez é posta em discussão por Martinez, já que ficamos quase um século sem qualquer informação sobre esse povo. Com a conversão ao catolicismo, voltamos a ter fontes fidedignas onde os suevos figuram e fica confirmada a sustentação da monarquia, mesmo submetida aos visigodos, pós-Remismundo. (Carrarico, Ariamiro, Teodomiro).
A conversão trouxe aos suevos o aparato ideológico que faltava para a conexão com a população galo-romana, porém, sua relação com os visigodos arianos ficou estremecida novamente. O fim do reino suevo chega com a ascensão de Leovigildo e suas campanhas contra o território suevo e o rei Miro, morto na Béltica em 583. Os reis que o sucederam não conseguiram dar continuidade ao reino suevo que foi combatido pelos visigodos.
Uma pequena lista de reis para facilitar a compreensão: Hermerico (409-441), Réquila (438-448), Requiário (448-456), Maldras (456-460), Frantano (457-458), Frumário (460-464), Remismundo(458-?), Carrarico (550?-558), Ariamiro (558-561), Teodomiro (561-570), Miro(570-583), Eborico (583), Audeca (583-585), Malarico (585).
Os Vândalos
	A organização Ocidental tem dois momentos dos Vândalos no território do Império Romano:O primeiro momento refere-se ao percurso que este povo germano realizou desde a Europa Central até a Península Ibérica. O segundo momento enfoca a travessia de Gibraltar e a fundação do reino Vândalo no Norte da África.
	Alguns conceitos permeiam a narrativa, tais como etnogênese e soberania doméstica.  No sentido expresso pela primeira proposição, a designação de “vândalo” abarcaria um vasto conjunto de formação heterogênea, pois, sobre a égide de tal termo estariam duas facções vândalas (Hasdingos e Silingos), Alanos e diversos grupos aos quais se juntaram em suas andanças; neste caso, conclui-se que não havia unidade étnica e sim militar entre os vândalos. Já no segundo conceito, Pampliega afirma a importância dos laços contratuais estabelecidos entre o rei e seus guerreiros como elemento que garante o controle das tropas. Destaca o papel preponderante exercido pela aristocracia no interior da camada nobiliárquica, pois, os destinos de migração ou fixação em determinado território são estipulados pelos líderes da soberania doméstica e seguidas pelas camadas populares por obediência àqueles.  
	Analisando o montante de valorização, arriscamos afirmar uma predisposição ou condescendência crítica do autor em relação ao rei vândalo Gunderico, pois, na trajetória descrita deste nobre, credita-se-lhe fatos classificados simbolicamente de forma positiva para uma ação real, sendo assim, destacamos: a competência exclusiva de aglutinar ramos nobiliárquicos beligerantes, o reconhecimento de um acampamento provisório dos vândalos na Gallaecia como o marco de primeiro “Estado” vândalo constituído e a soberania doméstica exercida por Gunderico entre os Hasdingos. Por outro lado, pesa sobre Genserico -  a todo momento lembrado pelo autor como meio irmão de Gunderico e, portanto, de nascimento inobre - a fama de usurpador, invasor e assassino.
	O texto é bastante convidativo àqueles que desejam se aprofundar nas problemáticas históricas que surgiram da configuração dos reinos germânicos dentro das estruturas do antigo Império Romano ocidental. 
Os vândalos são destacados como um dos grupos que resistem a aceitar a Igreja Católica e mantêm arianos como forma de se opor as populações locais cristãs muito fortes no Norte da África, lugar em que se estabelecem a partir do século VI.
Os Vândalos permanecem com seu domínio na região até a expansão dos bizantinos liderados por Justiniano.
Os Visigodos
	Depois das breves apresentações nos centraremos com maior força no olhar da organização visigótica.
Os godos têm longa relação com o Império Romano, ora como algozes como na vitória sobre Valente e no saque de Roma, ora como defensores frente aos "invasores" da Península Ibérica e os Hunos.  Esses elementos são necessários para compreendermos a ideia de grupos muito romanizados, normalmente atribuídos aos visigodos.  
	Podemos afirmar que a própria organização política e a noção de gensgothorum bebem de maneira indelével na leitura dos romanos sobre os visigodos.  Os sinais dessa romanização era ainda mais marcante quando observamos o fato de serem seguidores do cristianismo, no caso a vertente ariana.
	Esses traços de romanização eram associados a uma estrutura de intensa valorização das relações pessoais e a aproximação de clãs familiares em torno de uma liderança, que entre suas principais funções estava a liderança militar.
	Neste contexto, os visigodos no final do século V estavam assentados em uma extensa região entre os Alpes e os Pirineus, margeando o Mediterrâneo.  O centro do seu poder era a cidade de Tolosa e as relações de poder com as novas lideranças se intensificavam, seja com Ostrogodos e Teodorico na península Itálica, seja com as lideranças Francas, representados em especial pelos Merovíngios. Liderança Militar é o livro do Garcia Moreno sobre germanismo.
	Uma das características mais marcantes desse momento é justamente a busca pela continuidade dos avanços militares e a vitória frente a forças consideradas tensas.  Uma dessas disputas mais emblemáticas sem dúvida é a batalha de Vouillé entre Francos e Visigodos.
Derrotados e sem uma liderança política com a morte do rei godo notamos um afluxo de senhores ou magnatas visigodos indo em busca de novos territórios.  Muitos permaneceram em Narbona, mas grande parte foi em busca de terras em um região já conhecida pelo grupo: a Península Ibérica.
	Apoiados por Teodorico, avô do sucessor legítimo do trono e ainda uma criança naquele momento, Amalarico, o monarca ostrogodo, garante o apoio para o assentamento sociopolítico dos visigodos na Hispânia. Neste momento, princípios do século VI, estava diante de uma das mais tradicionais aristocracias do mundo romano um grupo tido como invasor e com um contingente muito pequeno de homens frente a população local.
Devemos sinalizar que esta ocupação visigótica na península não pode ser entendida de maneira regular, são senhores que ocupam regiões diferentes, buscando ora abafar resistências, ora dar garantias ao funcionamento socioeconômico local.
Os primeiro trinta anos são marcados pela tutela de Teodorico na região, governando em nome de seu neto Amalarico, o que ajuda a marcar um certo distanciamento do poder central.  Com os monarcas seguintes temos a presença de um dos elementos mais marcantes da política do gensgothorum na Península Ibérica: as disputas pelo direito à liderança político-militar.
Neste sentido devemos entender a atuação de alguns personagens singulares: o episcopado e os líderes militares da região.  Alguns elementos aglutinadores entre os visigodos se fazem presente como o Breviário de Alarico, a religião ariana e a liderança militar.  Para os hispano-romanos observamos a manutenção de práticas e estruturas próximas à organização da Hispânia, sendo afastados dos cargos de ordem política.
As disputas ocorridas em Agila e Atanagildo são emblemáticas: enquanto o primeiro tem o apoio de uma das regiões mais ricas da península, no entorno de Sevilha, Atanagildo parte de Narbona para, buscando uma série de apoios, assumir o governo.  Para tanto, casa-se com nobre franca, e busca aproximação com o governo do Império Romano do Oriente.
Quando Atanagildo consegue assumir a liderança política, mantêm-se no poder por conta de muitas disputas: suevos, francos e a maior derrota militar no domínio do sul peninsular para as forças de Justiniano. Neste momento a ocupação definitiva na Península Ibérica, durava mais de cinquenta anos. Nos documentos encontramos a estruturação da organização social e os conflitos dela decorrentes.
As crônicas de Juan de Biclaro e mais tarde a história dos godos escrita por Isidoro de Sevilha oferecem elementos para a compreensão da disputa pelo poder monárquico entre os visigodos.
Em meio a essas disputas, Toledo, e consequentemente o direito a coroa, são tomados por um magnata da região de Narbona, uma das poucas visigóticas para além dos Pirineus. Região notoriamente rica, e que segundo Garcia Moreno, o interesse em manter seu poderio local em detrimento a um poder central, Liuva opta por dividir o trono com seu irmão Leovigildo.
A linha estabelecida pela família de Leovigildo apresenta uma preocupação diferente ao assumir o trono visigodo.  Suas medidas e empreendimentos militares buscam oferecer a legitimidade à monarquia visigótica. Garcia Moreno defende inclusive que só pode se compreender a organização de um reino visigodo de Toledo a partir de sua chegada ao poder.
As disputas territoriais foram um importante trunfo buscado pelo monarca em batalhas contra francos, bizantinos e poderes autônomos presentes na Península ibérica.  
Sua legitimidade, no entanto, dependia diretamente da interlocução com os diversos poderes locais.  Para tal, Leovigildo lança mão de dois importantes expedientes: reorganizar juridicamente o reino, mudando e adaptando leis, permitindo casamentos mistos e garantindo o direito de terras de grupos hispano-romanos; o segundo a buscar o diálogo com o que simbolicamente representavaa continuidade do Império Romano, e ao mesmo tempo, eram importantes senhores de terras locais, o episcopado católico.
O desafio da proposta de fortalecimento do reino, da construção de sua sociopolítica, porém, não ia ser fácil.  Por características regionais notamos que as aristocracias da região da bética, em especial de Sevilha, não estavam claramente alinhadas à política do monarca.
Na vitae patrumaemeritense as disputas entre Masona e os bispos arianos e o próprio rei indicam uma resistência.
Na busca da garantia da estabilidade política e uma das questões mais difíceis era a sucessão monárquica, Leovigildo divide o trono entre seus dois filhos: Recaredo em Terraconensis e parte norte da Península; Hermenegildo, seu filho mais velho, assumiu o comando da Bética.  Alianças foram buscadas: Leovigildo casa-se com Gosvinta, esposa do monarca anterior, e uma princesa Franca da Austrásia, Ingunda.  Mas, apesar dos esforços de Leovigildo, os poderes locais se levantam contra o monarca.
Um grande concílio é convocado para que as diferenças entre arianismo e cristianismo niceno2 fossem remediadas, infelizmente as atas foram perdidas, mas segundo João de Bíclaro, a proposta de conversão ao arianismo com a garantia dos direitos como episcopados mantida foi refutada.
A tensão de transforma-se em disputa quando liderados por Hermenegildo os nobres da Bética e um levante é organizado dividindo o reino visigodo. Parte da historiografia mais tradicional, representada por José Orlandis, leu esse movimento como o embate da vertente ariana versus os católicos de Leandro de Sevilha, bispo e o recém-convertido Hermenegildo; as linhas mais reflexivas notam a estrutura dos poderes locais e a valorização do poder monárquico como foco desse embate.
Após conseguir abafar a revolta, Leovigildo não consegue retomar seu protejo político de aproximar as elites locais e as visigodas, nem tão pouco alcançar a legitimidade decorrente desse acordo.
Lovigildo consegue algumas vitórias militares importantes mesmo depois de vencer seu filho, no entanto, não tentou nenhum projeto de unificação religiosa.
Muito se discutiu sobre as posições de Leovigildo após a sua morte.  Na História Gothorum, escrita por Isidoro de Sevilha, o monarca é apresentado como um bom rei, traído pela heresia ariana.  Gregório de Tours afirma que, no seu leito  de morte, o rei teria se arrependido de seus erros e se convertido ao cristianismo niceno.
Uma coisa é certa, a partir da ascensão de Leovigildo ao trono visigodo, no início da segunda metade do século VI, o projeto político visigodo muda de diretriz, buscando não mais a separação entre hispanos e godos, mas sim a união dos diversos grupos aristocráticos.
Seu filho e sucessor Recaredo dá prosseguimento ao projeto político do pai, pela via católica. O III Concílio é um marco no reino visigodo de transformação dessas reuniões em conselhos políticos, com a participação inclusive dos reis e nobres.
Quando ocorre a mudança de rumo na direção política, a Igreja Católica assume um papel de representação religiosa frente a todo reino.  Nesse contexto ocorre a diversificação dos quadros eclesiásticos com a entrada dos visigodos na instituição. Assim, ao mesmo tempo em que a Igreja Católica alcança alguma legitimidade e autonomia, ela se depara com a necessidade de manter a coesão dos seus membros e se fazer presente na sociedade.
A união entre clero e nobreza confere aos membros do episcopado a possibilidade da participação política de forma direta nas questões do reino: o clero passa a interferir na eleição do monarca e desfruta de uma conjuntura na qual os cânones conciliares possuem peso de lei, a ser respeitada por toda a sociedade.
Cabe salientar que tais privilégios, dentre outros, só foram construídos e reafirmados na medida em que o episcopado relacionou o seu fortalecimento à necessidade de homogeneidade do grupo, ou seja, o beneficiamento decorrente da elevação dos cânones à categoria de lei civil foi possível graças à busca interna de coesão por parte da elite eclesiástica, que por sua vez alimentou uma conjuntura política propícia ao investimento no fortalecimento episcopal.
Recaredo fora associado ao trono durante o governo de seu pai. Ao assumir o poder busca reconstruir e fortalecer um série de relações de poder, reabilita bispos condenados por seu pai, abre concessões importantes para os diversos centros visigóticos.
Uma aliança então fica delineada, no entanto, o reino visigodo, por todo o trajeto há pouco apresentado, não tem uma unidade na qual as decisões de sua monarquia passem a ser incontestáveis.  Muito pelo contrário, o que sempre ficou claro foi que a institucionalização monárquica e seu reconhecimento fosse algo a ser buscado.
Assim o século VII será marcado por essa disputa: de um lado os discursos episcopais falando em uma poderosa unidade, e a análise do conjunto documental revela um quadro de disputas constantes de poder por parte das elites, sejam políticas, nobiliárquicas ou episcopais.
A História escrita por Isidoro é sem dúvida um dos mais importantes documentos para compreensão dessa tensão. 
Este sevilhano, irmão de Leandro, o mesmo que participara das revoltas organizadas por Hermenegildo e presidiu o III Concílio de Toledo, foi uma personalidade das mais influentes do reino visigodo no século VII.  Sua história revela as difíceis sucessões após o reinado de Recaredo.
Seu filho Liuva II, ainda jovem, sofreu um golpe militar do nobre Witerico, provavelmente de uma região da Lusitânia, golpe que é retratado por constantes disputas militares.
Apesar de reforçar a fragmentação das estruturas políticas, esse golpe revela também a importância que o domínio toledano cada vez mais passa a representar.  A aliança estabelecida entre episcopal e nobres para legitimar a sede de Toledo, pela ação isidoriana e os golpes que se sucedem na primeira metade do século VII é inegável.
Viterico será enfrentado e vencido por Gundemaro, representante da aristocracia cartaginense, e concentra suas ações nessa região.  Enfrentando o domínio bizantino sobre as igrejas da região e fortalecendo a posição da diocese de Toledo.  Segundo a hipótese de Leovigildo, Gundemaro representa o retorno ao poder do grupo eclesiástico de Leovigildo, uma aristocracia que favorecia especialmente o episcopado sul peninsular como forma de afirmação. Seu substituto é eleito sem maiores conflitos sinalizados. 
O poder definitivamente continuava em aberto, mas teve seu período de maior estabilidade na primeira metade do século VII por conta de uma reforçada aliança com centros episcopais importantes e por vitórias militares emblemáticas como a obtida frente aos bizantinos ocupando o sul peninsular.
Continuador da política recarediana, organiza concílios em Barcelona e Sevilha, que ainda locais, mostra a ligação de Sisebuto às regiões e ao seu episcopado.
O monarca ganha fama por ser educado, escreve uma hagiografia e alguns pequenos tratados e busca fundamentar uma linha de conduta para o governante visigodo.
A chegada ao poder de Sisenando não lhe garante a legitimidade buscada, visto o acontecido recentemente com o antecessor.  Em uma manobra política que aproxima o monarca do principal interlocutor da Igreja do sul peninsular, uma das áreas com maior dificuldade de diálogo opta por um grande foro de discussão.  Buscando a legitimidade da aliança estabelecida em Recaredo, é convocado um grande concílio, o IV de Toledo.  Isidoro é reconhecido como o primeiro dentre todos os bispos do reino, alcançando poderio para organização de frentes importantes e difusão de suas obras por todo o espaço peninsular.
Nesse conjunto, identificamos ao longo da primeira metade do século VII um momento de fortalecimento das funções episcopais.  Desde a conversão (589) com a aliança entre a Igreja Católica e a nobreza visigoda, a primeira tem uma intensa relação com as disputas sociopolíticas.  Nesse contexto, a educação aparece como um tema central no discursoeclesiástico.
O sucesso de Sisenando foi Chintila, que buscou a manutenção das obras de seu antecessor, convocando concílios, sendo os concílios de Toledo V e VI as maiores fontes de informações do seu governo. Teria tentado medidas que garantissem a posição de domínio de seu grupo nobiliáquico ao poder. 
As maiores transformações se dão a partir justamente de mais uma usurpação do trono, deste vez um antigo chefe militar, senhor de terras e partindo de Caesaraugusta chega ao poder: Chindasvinto.  Entre 642 e 672 o domínio de Toledo ficou abaixo do seu jugo familiar, pai e filho.
As medidas de Chindasvinto devem ser vistas com muito cuidado, uma vez que foram relatadas por grupos opositores, e que consideraram o monarca um tirano. É certo é que o monarca fortaleceu os laços de característica militares no sistema de governo visigodo. Confiscou terras, inclusive as da igreja toledana e as dividiu entre seus homens, não teria poupado opositores. Devemos notar um certo caráter mítico que é atribuído ao monarca: seria octagenário quando liderou "pessoalmente" a vitória que lhe deu o trono. Eugenio o trata com "ímpio e cruel."
Recesvinto, sem dúvida um continuador do governo de seu pai, estabelece depois da intensidade do seu antecessor, uma série de práticas de coalizão.  Reforma o código jurídico, chamando pela historiografia de Lex Visigothorum, e reúne uma grande série de reuniões conciliares, em que é estabelecida a participação de abares, clérigos e nobres, transformando seu caráter.  
Temos então, ao fim do governo de Recesvinto, um processo que José Orlandis chama de desorganização do reino, Garcia Moreno trata como a protofeudalização do Estado e IslaFrez, no entanto, é que faz uma proposta mais interessante: ao mesmo tempo que temos uma centralização episcopal e a constituição de um centro de governo, que estabelece as relações externas do governo visigodo, também estabelecem os poderes locais, que se tornam cada vez mais organizados.
O sucessor de Recesvinto é Wamba, o primeiro monarca que temos a certeza de ter sido ungido no reino visigodo.  Esse ato é sinalizado por Garcia Moreno como o momento de sacralização do monarca, a vitória do clero toledano em se afirmar como o principal centro de poder de toda a península, construindo um modelo de monarca, que inclusive apareceria em sua história Wambaeregis seu rebellionisducispuli, escrita por Julián de Toledo.  Ao final o monarca seria de tal forma simbólico, que pode ser constituído como o digno mestre para todo o reino.
Nesse contexto, é fundamental traçarmos os elementos desta relação, verificar como esta se apresenta e transforma ao longo da segunda metade do século VII. O desdobramento dessa argumentação aparece no momento em que a historiografia política recente assinala que na segunda metade do século VII é observada uma concentração de poder em torno da capital do reino, Toledo.  
Erros e fracassos do poder real: de Witerico a Tulga (603-642)
	Witerico: tentativa de políticas interna e externa enérgicas, ações bélicas contra os bizantinos. Tinha um duplo objetivo: conservar o favorável status quo alcançado por Recaredo e a sua política contra Bizâncio. Tentativa de alianças e reforço da política antibizantina. Witericoé assassinado por sua antiga facção.
Gundemaro: Em consequência ao golpe de estado sobe ao trono Gundemaro, ele manteve a mesma política exterior de Witerico, com exceção de algumas trocas pontuais, a maior parte dos altos cargos se manteve. O Império Bizantino encontrava-se mergulhado em uma crise. As oportunidades para novas ofensivas visigodas contra a eles eram excelentes. Com respeito à Gália merovíngia, Gundemaro continuou com a política de amizade com Teudeberto e Clotario II, assim como a hostilidade com Brunequilda e Teodorico II.
Sisebuto sucede Gundemaro em 612. O rei manteve uma estreita relação de amizade e colaboração, ao menos na primeira metade do seu reinado, com cada vez mais influência. O monarca era concebido por Sisebuto como uma espécie de rei-pastor ao estilo do Novo Testamento, e essa concepção do papel do monarca o levaria a caminhar novamente pelo imperialização. Contra os bizantinos, Sisebuto planificou uma ampla operação ofensiva que o levou a conquistar boa parte da província de Spania.
As outras operações militares desenvolvidas por Sisebuto seriam contra as populações setentrionais da Península Ibérica. Em relação a Gália merovíngia, há indícios de que tenha seguido a mesma política já fixada por Gundemaro.
A política interna antijudaica tinha o objetivo de impressionar os católicos, mostrando que os visigodos eram os mais zelosos guardiões do cristianismo. As leis de Sisebuto reforçaram as antigas proibições tardorromanas contra a conversão ao judaísmo de cristãos e contra os matrimônios mistos, restabelecendo assim a tradicional pena de morte contra o proselitismo judeu. A nova lei também proibia a prática de patronato sobre libertos cristãos por partes dos seus antigos amos judeus. Em 616 tenta uma conversão em massa da população judia em solo toledano, com isso muitas famílias migraram para a Gália merovíngia ou fizeram uma falsa conversão.
A obra reformadora de Chindasvinto e Recesvinto (642-672)
	Questão da documentação - ambos os reinados indicariam esforços supremos para fortalecer a instituição monárquica e a ideia estatal centralizada e de natureza pública herdadas do Baixo Império.
	Chindasvinto conhecia muito bem as insurreições nobiliárquicas, fez parte de várias, e se tornara monarca pela última delas. Para fugir dessas questões, atuou em quatro instâncias: exerceu maior controle sobre os intentos latentes de rebeldia de certos elementos nobiliárquicos; criou uma “nobreza de serviço”, assim como um grupo nobiliárquico especialmente unido à sua pessoa mediante a concessão de privilégios e benefícios; incrementou a base econômica, fundiária, sua e de sua família; por último, aumentou uma vez mais as instâncias teocráticas da instituição régia. Associa ao trono seu filho Recesvinto em 649 e os dois se mantêm nele sem maiores problemas até a morte de Chindasvinto em 653.
	Recesvinto: É obrigado a juntar forças militares para suprimir uma revolta. Sofre grandes pressões nobiliárquicas para que moderasse as represálias e acusasse os culpados de alta traição. Duas criticas principais a Recesvinto feitas pelos bispos e dignatários: o monstruoso enriquecimento de seu patrimônio pessoal e familiar e a sua eleição não ter sido feita pela nobreza. Duas decisões a respeito são tomadas pelos bispos e nobres: primeira, todos os bens adquiridos por Chindasvinto desde o dia que subiu ao trono permaneceriam em poder de Recesvinto, porém, não no conceito de patrimônio pessoal. A segunda: aquelas propriedades de Chindasvinto adquiridas antes do trono seriam de plena propriedade de seus descendentes.
A Protofeudalização do Estado: de Wamba à Agila II (672-714)
	Wamba: No mesmo dia da morte de Recesvinto, Wamba é eleito pelos altos dignatários palatinos, já com certa idade. O novo rei alongaria sua plena coroação até a chegada a Toledo, possivelmente para conseguir assim o maior consenso entre as forças vivas do reino. Seria investido de todos os atributos da realeza, destacando a cerimônia de unção de mãos do metropolitano toledano.
Ervígio: Sobe ao trono em 680 e constitui, na opinião do autor, a mais clara prova de fracasso da política centralista e em certeza medida antinobiliárquica de Wamba. O novo rei começa seu reinado com uma pesada hipoteca política: dever seu trono a um grupo nobiliário e à atuação de algum bispo. Em um primeiro momento tenta fortalecer sua situação tentando aprofundar os elementos religiosos da realeza, buscando ao mesmo tempo estreitar as colaborações com a hierarquia eclesiástica.
Egica: Caracteriza-se pelos intentos desesperados do monarca de fortalecer sua posição pessoal e de sua família, aceitando por completo a estrutura protofeudal do Estado. A princípio, toda a base política em que se apoiou Egicaconsistiria na mesma coalizão nobiliária herdada de seu sogro. Convoca um concílio geral, realizada em Toledo em 688, que acabaria produzindo um choque entre Egica e a alta nobreza no poder.
Witica: Com o falecimento de Egica, em 702, seu filho Witica o sucede no trono. Muitos nobres castigados por Egica foram repostos em seus lugares de governos por Witica e tiveram suas posses. Existe escassez de fonte sobre esse reinado. Ele morre em princípios de 710.
Rodrigo: um setor majoritário da nobreza elege como rei Rodrigo, apesar de feito de forma legal, alguns grupos ligados à Egica e Witica teriam preferido que algum familiar os sucedesse. O monarca morreu em combate contra as tropas muçulmanas.
Em 711 temos o fim da organização visigótica, vencida pelos Bérberes do Norte da África, é a chegada do Islã aos territórios da Europa.
*Ortodoxia(entendem como verdade absoluta)
**Arianismo - bispo Ario - defendia a ideia de que deus só existia um e Jesus não era Deus, pois como pode Deus matar Jesus se eram um só.
Francos: Merovíngios e Carolíngios
	A região das Gálias configura um dos últimos espaços conquistados pelos romanos. Seus limites são os Pirineus, na Península Ibérica: os Alpes, no norte da Itália; e o rio Elba, a leste. Esta foi a região que deu notoriedade ao conquistador Júlio César.
	No século V, ocorre uma grande migração de Hunos, que foram contidos por uma associação de Francos e Visigodos no território das Gálias. Uma vez tendo a vitória sobre os Hunos, ocorrem uma série de acordos entre romanos e esses grupos que os apoiaram, que seriam, entre os chamados de bárbaros, os mais importantes significativos.
	Ocorre uma batalha importante na altura da cidade de Vouillé. Nessa batalha, os visigodos se retiram e ocupam a Península Ibérica, e o domínio Franco se estende do norte das Gálias até o litoral do mar do norte. É nesse domínio que eles vão dialogar diretamente com os novos povos que estão chegando: chamando atenção os Alamanos, os Saxões, os Turíngios e mais tarde, Normandos e Lombardos.
	O espaço das Gálias foi dominado definitivamente no século VI pelos Francos (hoje, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Suíça etc). Com o domínio carolíngio, há uma expansão desse território. São territórios dominados para além de Danúbia e que vão colocar o império carolíngio na fronteira do próprio império bizantino, cerca de três séculos depois.
	Os Francos não são um grupo único, são uma confederação de grupos que vai tender a se aproximar, seja pela organização política, normalmente em torno de conselhos de Anciões, seja pela estrutura, muitas vezes de negociação, uma vez que negociam em grupo com o próprio Império Romano. Durante o século IV, já com uma estrutura de batalha, esses grupos unem colisões diferentes e, em torno de uma figura que é escolhida, se direcionam para a batalha.
	Esses grupos são aqueles que entendemos como Francos e em torno deles é que temos o espaço, o domínio Franco vivendo uma certa romanização, ou seja, a influência romana sobre a estrutura Franca. Quando os Francos combatem e vencem Átila, eles estavam sendo utilizados como exército romano. Era o próprio poder romano representado nas figuras de generais francos. Os Francos tem uma negociação, uma proximidade com os poderes romanos, estabelecidos nas Gálias, não na cidade de Roma.
	Meroviu é uma figura mítica, junção de dois Deuses da mitologia nórdica, filho de um Deus com uma bela dama é o primeiro homem a consegui unificar e aproximar as lideranças dos francos, dando o nome a primeira dinastia, os Merovíngios. Esta história é contada pelo Bispo Gegório de Tours.
	Childerico, teoricamente, é o primeiro monarca da dinastia Merovíngia (conforme Gregório de Tours, que escreve a história dos Francos e que é a principal fonte que temos sobre a organização desse povo). É um bispo que, apesar de ter origem hispana, está inserido no reino Franco e vê o estabelecimento do domínio de uma tradição franca.
	Se deixar em aberto, os Francos são bárbaros dominando a região onde se construiu um cuidadoso arcabouço para demonstrar que eles alcançaram a verdadeira fé, e então, passam a pertencer a civitas, aquilo que mais tarde entenderemos como ser civilizado. Se dá legitimidade ao poder, aquele reino existe e, tal qual o imprtador romano, foi escolhido por Deus (como Gregório de Tours escreve). Nessa época, não podemos usar o termo “povo”, mas “aristocracia”, tanto a de origem galo-romana, como o aristocracia Franca, que dá uma liga para eles se organizarem. Quando o poder está legitimado, tudo fica mais fácil.
	A mensagem chega pelos bispos à população mais simples. A religião é a do Gens, do grupo dos Francos (não povos). Gens Francorum é a hierarquia presente na organização franca, na qual havia um líder de uma região, e quem está em torno desse líder e da área que esse líder domina, o seguia, assim como o restante do grupo.
	A partir do momento em que se tem a conversão, tem-se a clareza da mistura do grupo com a população local.
	O importante é a monarquia ser reconhecida. Temos claramente, uma organização Franca, mas não temos a clareza de um reino Franco, como Gegório de Tours escreve em seu material. Ele vai caracterizar Childerico comoum magisters-milito do próprio Império Romano, que vai ser sucedido por seu filho, Clóvis, à rente do poder. E Clóvis vai ter o cuidado e vai ser marcado por estabelecer uma união política e militar dessa estruturação Franca. Teremos uma série de outras diferenças caindo frente ao governo de Clóvis. A vitória de Clóvis sobre os Visigodos acaba sendo emblemática do poder militar do próprio Clóvis.
	A partir de Clóvis, surge a preocupação em estabelecer uma série de leis de práticas de origem romana, para regular a vida social, tem-se uma aproximação muito clara com a Igreja. Ele não era seguidor de nenhuma linha cristã, ao inverso dos Visigodos. Ele tem um momento simbólico que era, às vésperas da batalha contra os Visigodos, fazer uma conversão pública.
	A conversão pública era ir até a cidade mais povoada, reunir principais chefes militares e todos serem batizados publicamente. Isso não é um ato de fé, é um ato político que dá a real possibilidade de fortalecimento da estrutura social local, um ato político que dá a real possibilidade de fortalecimento da estrutura social, um ato político que nos permite entender que essa aproximação, essa busca em torno de Clóvis, faz com que a Igreja queira legitimar a figura do rei Franco. De bárbaro passa a se buscar uma origem, o primeiro grande rei medieval, que Clóvis defende ter origem divina. Dá-se um sentido à história, transforma-se Clóvis em um rei legítimo, os Francos organizam um novo império Romano, menor, mas bem estruturado.
	Clóvis, ao morrer, divide o reino entre seus quatro filhos. Não é possível imaginar uma sucessão política em que há divisões entre os sucessores, quebra-se a unidade. A busca de Clóvis sempre foi unir os Francos. Certamente, Tours apresenta fatos muito mais romanos do que Francos, principalmente na sua estrutura. Tem uma série de práticas influenciadas pelo mundo romano, mas mantém também uma série de práticas e costumes localizados.
	A primeira noção importante, antes da própria noção de partilha, é a relação de fidelidade “A relação é pessoal, uma vez jurado comigo, eu tenho responsabilidade com você e você tem responsabilidade comito”. Não é uma relação de gripo, não é o reino, é uma série de conflitos, uma teia relações.
	Os herdeiros se tornam senhores de uma determinada proporção, de um determinado palácio (moradia dos senhores, grandes centros, antigas áreas de dominus, senhores de terra. Espaço onde se tem, muitas vezes, o estacionamento de uma aristocracia, militar, de cobrança de impostos, uma área de pagamento) de um domínio. Falamos de um juramento de característica militar, uma partilha por regiões de domínio pela riqueza, não pelo tamanho territorial.
	Quando se domina a Austrásia, mais ao norte, tem-se um território maior, por ser considerada umaregião mais pobre do que o da Burgúndia, que é mais próxima ao Mediterrâneo, o território é bem menor. Não há a ideia de demarcação de fronteira, a não ser quando a fronteira é uma área rica.
O monarca, no limite, é o senhor da terra. Quando se organiza uma frente de batalha, muitas vezes a garantia com outro é de uma outra terra que será dominada e que vai ser dele. Quando o outro guerreia em nome dele, sabe que há um juramento que deve ser cumprido e, se o outro não voltar, seus herdeiros receberão.
Essa noção é contraditória com o modelo de reino que a Igreja planta. O que se tem depois da chamada dinastia Merovingia, logo após Clóvis, são pelo menos três grandes reinos: Nêustria, Autrásiae Burgúndia. Três grandes reinos que muitas vezes entram em conflito, se aproximam e que, apesar de se reconhecerem como francos, na prática, estão em plena disputa.
Com a chegada dos Francos, é preciso criar um diálogo entre o domínio militar e a população local, se não é impossível entender a criação de um governo. Os Francos, quando chegam, começam a se inserir dentro do modelo romano existente.
As principais casas aristocratas francas vão ser grandes proprietários de terras, senhores de muitos homens com uma capacidade militar. Há vários desses centros, dentro do que é reino Franco, Clóvis consegue trazer para si as múltiplas vertentes e, a partir das próprias vitórias militares, garantir que novos grupos o apoiassem pela cessão de novas terras. Mas ainda que esses grupos francos o apoiassem, era o bispo que ia fazer a população local se aproximar. O bispo era alguém de alta hierarquia dentro daquela região, ele não vai ser ouvido por ser bispo, necessariamente, ele via ser ouvido por ser um senhor de terras. Ele representa a autoridade regional, ele representa o diálogo com os grupos locais.
Quando falamos em legitimação, a partir do momento que temos essa aristocracia local, Franca, está sendo construída uma nova aliança, um novo modelo. Esse modelo seria Franco-Galo ou Franco-Romano. O papel da Igreja nesse novo reino é ser o interlocutor para falar com o restante da população. O poder político vai ter que garantir a legitimidade da Igreja, para que o bispo seja reconhecido como autoridade e legitime o Rei, começando a conversar com a aristocracia.
A Igreja representa não só a Igreja, representa a elite local, e era reponsável pelo diálogo com essas novas elites militares, para que se possa construir uma nova política, um novo reino fora do mundo romano.
Esse regnum* vai ser uma mistura romana e franca. A relação principal está na fidelidade, na relação pessoal. Para resolver isso, a Igreja dá legitimidade ao juramento de fidelidade, que é feito na presença do bispo.
*Definição: Regnum é diferente da noção de reino, nação, ou estado. Tem relação com construção de um grupo que se reconhece como pertencente e seguindo a mesma liderança, sem ter o claro estabelecimento de fronteiras.
A Igreja se apoia no poder local e esse poder, para aumentar sua legitimidade com a população local, se aproxima da Igreja. Esta, por sua vez, por conta da tradição romana, representa uma elite intelectual local muito forte, muito importante. É uma troca de legitimidade.
Todo processo é vivo, as tradições são misturadas, mais do que isso, a partir do momento em que a Igreja se torna um foco importante de poder ela não é só um poder local, ela começa a receber uma série de bispos francos naquele primeiro momento. Depois ela vem se tornando um conjunto homogêneo, nunca como uma homogeneidade total, mas bem próxima do que tinha anteriormente no império romano.
Quando estudamos a formação do Islã, em especial o momento da sua expansão político-militar durante a dinastia dos Omíadas, notamos que as principais áreas ocidentais de conquista estão no entorno do Mediterrâneo.
Os territórios de tradição romana como Norte da África, sul da Itália e parte da Península Ibérica são agora domínios Islâmicos. Segundo Pirene, durante este período o mundo teria presenciado um processo de interiorização da política europeia e um abandono do Mediterrâneo. Neste sentido, por exemplo, o eixo de poder no mundo Franco teria abandonado a cidade de Arlés e Tolouse, passando a se concentrar em Paris.
Não precisamos acreditar plenamente na proposição de que Pirene defende que este aspecto se dá pela impossibilidade de comercialização no Mediterrâneo, pois com um estudo um pouco mais aprofundado notamos que o comércio europeu medieval mediterrânico não foi extinto, continuou a ser feito tendo entre os agentes mulçumanos, judeus e cristãos.
Lembrando do contexto do século VIII
	Reino Visigodo – foi dominado e vencido pelo Islã, tornando-se a partir de 711 parte do domínio Omíada. Ao norte, região montanhosa, é organizado um reino cristão independente, conhecido como reino das Astúrias.
	Reino Ostrogodo – vencido por Justiniano ao sul e no século VII vê a chegada de um novo grupo que se estabelece ao norte, chamado de Lombardos. Este, não romanizados e provenientes do norte da Europa, ocupam e estabelecem micro-reinos autônomos no norte da Península Itálica.
	Reino Franco – Nos discursos aparece como um reino, mas a forma de organizar o poder na disnastia merovíngia garante uma contínua fragmentação, ainda que na sua divisão entre reinos, todos trazem no seu discurso de afirmação o pertencimento a dinastia os Merovíngios.
	Ilhas Britânicas – Temos a divisão do sul em reinos diversos, alguns de Anglos, outros de Saxões e mais ao norte reinos tidos como romanos. Tem uma relação, em especial entre os sexões, direta com a domínio merovíngio no norte da Europa.
A reorganização Franca
	Para entender os próximos eventos que marcaram os séculos VIII e IX, precisamos novamente visitar a Península Ibérica. A organização árabe-islâmica na península em cerca de 723, organiza um emirado (reino), que dentro das dinâmicas regionais começa a ter novas pretensões dentro do espaço europeu. Neste sentido, o emir de Córdoba começa a reunir tropas no Magreb (atual Marrocos), com o objetivo de se lançar as terras além dos Pirineus (limite entre Península e o restante do continente).
	Lembremos que estamos na Idade Média, e não naquela idealizada. Não temos exércitos profissionais de monarcas, quando falamos em convocações nos referimos ao um pequeno corpo de especialistas e uma grande massa de camponeses que se apresentam para a guerra. Tal qual, não podemos falar em uma organização franca, não temos essa centralidade, de fato os Merovíngios têm grandes áreas de domínio, mas dependem dos chamados mordomos, os senhores ou administradores do castelo (não usa a imagem do castelo medieval, mas sim uma espécie de casa grande).
	Afirmar que ao Merovíngios não tinham uma organização central não é afirmar no entanto que não estavam envoltos no mesmo medo, e naquele momento o exército islâmico era um temor em especial para a região da Aquitânia, fronteiriça aos Pirineus.	Para entender o momento podemos centrar nosso olhar para um importante grupo desta região. Uma família de mordomos, que é diretamente relacionada ao espaço de Nêustria, e que mais tarde serão chamados de Carolíngios.
	Esse grupo primeiro terá uma série de desventuras, quando Pepino I e depois Carlos Martel serão acusados de traição, de não cumprirem seu papel como senhores do castelo. Condenados ao desterro, sua redenção surgirá quando são requisitados na região da Aquitânia para liderar os novos ataques do mundo islâmico organizados pelos supracitados Califa de Córdoba. Neste combate, Carlos Martel assume a liderança dos mordomos da região e estabelecerá uma encarniçada resistência ao poderio árabe-islâmico.
	O filho de Carlos Martel, Pepino III, ou o Breve, ao assumir o poder consegue criar um forte movimento de contestação ao monarcas de Austrásia e Neustria.
	Ele afirma aos merovíngios como os verdadeiros traidores, porque não apoiaram a batalha que era considerada a mais difícil, contra o inimigo mais temido. Neste momento abre-se a possibilidadedo questionamento do juramento de fidelidade. Pepino articula formas de seu poder ser reconhecido, chegando a ser considerado legítimo pelo bispo de Roma, uma das mais importantes aclamações naquele momento, como defensor da Cristandade.
Observação Importante: O juramento de fidelidade é uma das estruturas fundamentais na organização política dos reinos germânicos. Sua tradição estabelece a relação entre homens, as tropas, o direito sobre as terras. Ele é a base para entender como um grupo ascende e despenca do poder. Ele é um dos fundamentos que nos permitirão entender o feudalismo no espaço europeu.
	Pepino, no sentido de buscar legitimação, vai ser coroado em Roma rei Franco e defensor da Cristandade, já indicando seu filho Carlomano, ou como é mais conhecido no Ocidente, Carlos Magno, como sucessor.
Carlos Magno
	Carlos Magno foi uma figura heroicizada. Não podemos perder isto de vista. Um sujeito que será lido de uma maneira idealizada e parcial. Não é este Carlos Magno que procuramos. Nosso trabalho não quer e não vai construir uma história positivista, então precisamos entender as relações de poder envoltas e as práticas relacionadas à organização e expansão da dinastia Carolíngia.
	Carlos Magno é lido como responsável por trazer o último suspiro do Império Romano. Acontece que o Império Romano não morre, politicamente a sua desestruturação de longa data e ausência geopolítica desde o século V. Mas como sempre lembramos, a História é marcada por continuidades e ruptudas e a ideia de Império Romano permanecerá por muitos séculos mais.
	Segundo a tese de HanryPirene, só existe Carlos Magno por conta do domínio mediterrânico, pois possibilitou o crescimento de regiões que economicamente eram pouco representativas, mudando o eixo comercial das práticas marítimas, para os centros de escoamento pluviais. Este crescimento da aristocracia no noroeste francês associado aos constructos simbólicos após a vitória sobre os árabes teriam possibilitado uma poderosa expansão dos Carolíngios.
	Carlos Magno chega ao poder em busca do direito às terras estabelecidas por seu pai. No entanto, chega com o discurso de que a Aquitânia teria um território mais amplo do que o representado, utilizando negações ao juramento de fidelidade aos merovíngios. São então iniciados constantes conflitos dentro do mundo franco. Constituindo em torno de si um grupo especialista, busca estabelecer novos sistemas de proteção e organização social. Se aproxima da igreja local, como seu protetor legítimo junto aos nobres. Seu princípio de distribuição de parte de terras conquistadas a seus aliados cria um movimento de guerra intenso.
	O comércio se torna cada vez mais especializado, mantém a redução dos sues volumes. No entanto, em torno das antigas estradas romanas cresce um comércio de produtos especiais, lucrativo e que passa a ser prova de status. Mas um forte problema teria que ser enfrentado, a falta de ouro (o dinheiro tinha o seu valor em si, uma moeda valia o seu peso em ouro). Carlos Magno, para resolver esta questão, cria o padrão da moeda de prata nas casas de fundição e uma métrica entre as moedas de outro e prata, uma vez que a primeira era ainda trocada em grandes transações. A prata passa a ser a referência, facilitando as transações menores ligadas às cabeças de gado, vinho e outros produtos que circulavam entre os rios, primeiro o Reno e mais tarde o Danúbio.
	Apesar da prata, a moeda continua sendo esculpida, ora com síbolos cristãos, ora com a imagem de Carlos Magno em modelo próximo ao romano. Essa representação na moeda é uma forma de reconhecimento, de afirmação do poder. Afinal, as casas de fundição dos metais e o cotidiano de parte dos grupos sociais estariam se relacionando diretamente com a figura do novo Rei.	Falamos em criação, afirmação de uma corte quando chegamos aos carolíngios. Não que não houvesse cargos importantes, figuras que pertenciam a uma aristocracia dos grupos tratados como bárbaros. Mas a boa parte dos cargos em um primeiro momento ou repetem as práticas romanas, ou têm nomenclaturas que vão e vem. Com os Carolíngios, nos aproximamos das figuras que entendemos como corte, não mais como alguém do segmento social geral, mas uma figura que terá um vocativo, e indumentárias especiais como os antigos romanos, mas ao mesmo tempo será definido pelas características militares do seu domínio. Passaram a ter uma educação diferenciada, utilizada e ostenta produtos diferenciados, não à toa cresce o comércio de pedras africanas, de seda chinesa e peles do norte da Europa.
	Os Militus ou Milites senhores de guerra, grupos de especialistas em batalha passam a ser conhecidos, ainda que lentamente, como cavaleiros, os grandes senhores de terra, responsáveis por produção e por grandes contingentes que garantem o funcionamento do reino. Funcionários de corte, senhores de terras menores, responsáveis por funções principalmente administrativas são os barões, duque é o senhor das fronteiras, das terras que precisam ser constantemente vigiadas; assim como Marquês é o sujeito que deverá vigiar as fronteiras com o Islã, chamados assim por ocuparem um conjunto de terras chamado de maneira idealizada como Marca Hispânica.
	Esse sistema valoriza o juramento de fidelidade como elemento de coesão, mas ganha traços próprios com ideia dos Mici e Dominici. Quando a máquina de guerra estruturada no governo de Carlos Magno pretende uma nova conquista, como por exemplo, revidar o ataque dos Lombardos em territórios ao sul, e de quebra se reassociar à Igreja reafirmando o seu papel de protetor da cristandade no fim do século VII, chama-se alguém de outra região, também jurado com Carlos Magno, prometendo vantagens e terras maiores em caso de vitória no novo território. Ao mesmo tempo, envia-se um clérigo com a função de estabelecer um bispado, sendo assim, a região passa a ter duas referências políticas, sendo que nenhum dos dois tem legitimidade imediata na nova terra, pois seu apoio passa por Carlos Magno. Conquistado, o sistema de governo passará pela relação dos novos territórios e o domínio Carolíngio. Os grupos que se rendem e juram fidelidade a Carlos Magno passam a ser potenciais Missi-Dominici de outra região conquistada.
Da confederação carolíngia ao Império Carolíngio
	Mas como esta política monárquica salta para alcançar o status de Império? Para entender este momento precisamos tratar da relação entre Carlos Magno e o Papado Romano. Com a expansão do islã para o sul da Península Itálica desde o século VIII, o fim deste mesmo século reserva uma outra ameaça à Igreja romana: Lombardos. Os Lombardos passam a assediar, constantemente, as terras da Igreja.
	Estre grupo proveniente da atual Dinamarca vai dominar completamente a região dos Alpes na segunda metade do século VIII, vencendo o que restava de estruturas Ostrogodas.
	Uma vez estabelecidos, a expansão de Carlos Magno chega aos limites dos territórios Lombardos, sem no entanto, serem deflagrados grandes conflitos. Neste momento, uma série de cartas vão chegando ao domínio carolíngio, nomeando Carlos Magno como protetor da Cristandade e exigindo ações.
	Em meados de 708, os conflitos entre Carolíngios e Lombardos são deflagrados garantindo a conquista de parte do território da península itálica. Neste momento a Igreja saca uma poderosa falsificação: A doação de Constantino. 	Este documento, muito presente na iconografia medieval, dizia entre outras coisas que Constantino havia deixado um testamento que garantia a Igreja como seu principal beneficiário, herdando as terras do entorno de Roma, e aquele que teria o direito a Coroar Carlos Magno. E Leão III já tinha seu escolhido: Carlos Magno.
�PAGE \* MERGEFORMAT�2�

Mais conteúdos dessa disciplina