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TRABALHO Direito das Coisas I

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ
Thais Varela
FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE
Direito Civil – Coisas I
Professor: XXXXX
O direito de Propriedade, sempre visualizado como um direito absoluto, nos dias atuais pode ser relativizado em certas hipóteses. O direito a propriedade deve ser exercido em compasso com o contexto social que o circunda, de forma que não o prejudique, mas o resguarde. 
Dessa forma a função social passou a ser um fundamento do direito de propriedade. 
O instituto da posse não pode ser confundido com o da propriedade, pois cada instituto é autônomo e independente, não cabe ainda definir qual é o mais importante, ambos têm seu lugar e importância tanto na doutrina, na legislação e também na jurisprudência.
A Constituição Federal de 1988 no art. 5, inciso XXIII, bem como, em outros dispositivos, resguarda a função social da propriedade, no entanto, a função social da posse não está disciplinada diretamente em nenhum diploma legal. Infere-se a sua existência como decorrente da função social da propriedade.
Contudo, vislumbra-se que a função social da posse está implicitamente disposta no texto da Carta Magna, como, por exemplo, no artigo 183, no qual encontramos a previsão da usucapião especial urbana, instituto através do qual “aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.
Há ainda a previsão da usucapião especial rural, contida no art. 191, através da qual “aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade”.
As modalidades de usucapião especiais demostram como Constituição Federal conferiu proteção à função social da posse. 
Nosso Código Civil de 2002, não trouxe uma previsão expressa acerca da observância da função social da posse, ao contrário do que fez com o direito de propriedade. Ainda assim, alguns doutrinadores entendem que tal obrigação estaria referida de forma implícita.
Com base em Flavio Tartuce (2011, p. 762) entendemos que a função social da posse realmente está implícita no nosso Código Civil, interpretação esta aferida com base nos seguintes dispositivos: arts. 1.238, parágrafo único; 1.242, parágrafo único; e 1.228, § 4º e 5º.
Os dispositivos citados fazem alusão à chamada posse trabalho, ou seja, a posse exercida visando ora o cultivo das terras, ora a moradia, e não apenas uma posse desprovida de substrato social, sem uma funcionalidade.
Mesmo não tendo previsão expressa em lei e nem na doutrina clássica, os julgadores já a mencionam em suas decisões, pois a função social da posse deve ser interpretada por analogia a função social da propriedade. 
Decisões do STJ 
Diante do ainda novo assunto que é a Função Social da Posse, tem-se decisões em relação ao assunto, que é questionado. 
Uma decisão do STJ, publicada em 04 de Abril de 2014, como Relator o Ministro Luiz Felipe Salomão, tratava de recurso de reintegração de posse, bem como, de uma discussão a respeito da definição do conceito de “melhor posse”, no caso, foi considerado o atendimento da função social da posse a luz das normas gerais e conceitos indeterminados, em alinhamento com a Constituição Federal. O ministro entendeu que o processo deveria retornar ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal para que assim, fosse analisada a “melhor posse”, na perspectiva de sua função social, diante da limitação de atuação do STJ no tocante às questões fático-probatórias.
O juízo de primeiro grau resolveu a questão com fundamento no melhor título, o que quer dizer que a “melhor posse” é a mais antiga. Assim, julgou improcedente o pedido. 
O TJDF manteve a sentença. “Comprovado que a posse mais antiga sobre o imóvel em litígio é da ré, não há como conceder a reintegração do imóvel ao autor”, disse o tribunal.
Ainda no mesmo ano, o STJ publicou em 17 de Novembro de 2014, como Relatora a Ministra Laurita Vaz, um recurso extraordinário com pedido de Reintegração de Posse, bem como, intervenção Federal, haja vista, invasão de propriedade rural pelo movimento dos trabalhadores sem terra, foi julgada improcedente, mediante argumentos relativos a conflitos sociais que poderiam ocorrer, caso houvesse uma intervenção. O STJ entendeu que, apesar de os proprietários do imóvel rural ocupado terem obtido decisão para retirar as famílias que ocupam a área, existem justificativas de maior envergadura que desautorizam a utilização da força e a intervenção federal. Na visão do STJ, é ilegítima a atuação do Poder Judiciário em favor de uma pessoa quando os efeitos danosos se abatem sobre dezenas de outras, como no caso supracitado. De forma implícita, o STJ utiliza a função social da posse na decisão, quando se negou a reintegração de posse, em razão não só do equilíbrio social, como também da dignidade humana, visto que havia cerca de cinquenta e seis famílias no local, que faziam bom uso do mesmo.

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