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TRABALHO DE USUCAPIÃO FINALIZADO!

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
CAMPUS POÇOS DE CALDAS
FERNANDA PEREIRA FRANCISCO
PATRÍCIA ALVES DA SILVA
DIREITOS REAIS
Usucapião
Poços de Caldas
2020
FERNANDA PEREIRA FRANCISCO – 585958
PATRÍCIA ALVES DA SILVA – 586058
DIREITOS REAIS
Usucapião
Trabalho apresentado no curso de Graduação de 
Direito da Pontifícia Universidade Católica de 
Minas Gerais – campus Poços de Caldas.
Professor: Emerson Alves Andena
Poços de Caldas
2020
	INTRODUÇÃO
	Usucapião é um meio de aquisição da propriedade imóvel, também conhecida como prescrição aquisitiva, podendo ser conceituada como modo originário pelo qual se aufere a propriedade e outros direitos reais passiveis de exercício frequente pela posse prolongada no tempo.
	O fundamento do usucapião está baseado no princípio da utilidade social, na conveniência de se dar segurança e estabilidade à propriedade e na vantagem de se consolidarem as aquisições e de se facilitar a prova do domínio. De modo que, referente instituto repousa na paz social e estabelece a firmeza da propriedade, libertando-a de reivindicações inesperadas.
	Cunha Gonçalves em sua obra “Da propriedade e da posse” alude que embora a propriedade seja ininterrupta, não se mantém esse caráter a não ser que o proprietário manifeste sua vontade e intenção de mantê-la em seu domínio, exercendo permanente atividade sobre sua posse, de maneira que a sua inatividade perante a usurpação feita por terceiro durante o período de 10, 20 ou 30 anos, constitui tácita renúncia ao seu direito.
	Entretanto, vale ressaltar que não cabe usucapião entre cônjuges, na constância do casamento, entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar e, ainda, contra os absolutamente incapazes, conforme ditames do artigo 198 do Código Civil.
	ESPÉCIES
	Tanto os bens móveis quanto os imóveis podem ser objeto de usucapião, entretanto, ocorre com maior frequência em relação aos bens imóveis e, o direito brasileiro os distinguem em diversas espécies, sendo elas:
	extraordinária;
	ordinária;
	especial ou constitucional, dividindo-se em rural ou urbana, que pode ser individual, coletiva ou familiar;
	imobiliária administrativa
	indígena;
	e extrajudicial.
	Porém, antes de começar a detalhar as espécies, deve-se conceituar o que seria o justo título e a boa-fé. Justo título é documento formal hábil para transmitir o domínio e a posse se não contiver nenhum vício impeditivo dessa transmissão, como por exemplo, um contrato de compra e venda. O justo título, para ser justo, deve ser válido, certo, real e devidamente registrado no cartório de registro imobiliário.
	A boa-fé, por sua vez, é a crença do possuidor de que a coisa sob sua posse lhe pertence legitimamente e, normalmente, é atrelada ao princípio do justo título, pelo fato de que o justo título estabelece a presunção da boa-fé, mesmo que ambos sejam princípios distintos.
2.1. EXTRAORDINÁRIA
	Disciplinada no art. 1.238 do Código Civil, a usucapião extraordinária tem como requisitos a posse de quinze anos, que poderá ser reduzida para dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual ou realizado nele obras de serviços de caráter produtivo; e a posse com animus domini, de forma contínua, mansa e pacífica, dispensando os requisitos do justo título e da boa-fé.
	Ressalta-se que o mero pagamento de tributos não basta para que ocorra a redução do prazo.
	Em relação ao usucapião dos direitos reais sobre coisa alheia, a propriedade proveniente de usucapião compreende não apenas aquela dotada de todos os atributos componentes, mas também das parcelas que dela advém, como a servidão, a enfiteuse, o usufruto, etc.
2.2. ORDINÁRIA
	Disposta no artigo 1.242 do Código Civil, a usucapião ordinária provem da posse de dez anos e da posse exercida com animus domini, de maneira contínua, mansa, pacífica e através de justo título e boa-fé.
	Do mesmo modo que a usucapião extraordinária, o prazo da ordinária também poderá ser reduzida para cinco anos, que nesse caso, ocorrerá se o imóvel tiver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante no cartório, cancelada posteriormente, se o possuidor houver estabelecido a sua moradia, ou realizado investimento de interesse social e econômico.
2.3. ESPECIAL
	Também conhecida como usucapião constitucional, tal modalidade foi introduzida pela Constituição Federal de 1934 e trazida pela atual em seus artigos 191 e 183, estando prevista também nos artigos 9º, 10, 1.239 e 1.240 do Código Civil.
2.3.1. USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL
	O artigo 181 da CF/88 trata acerca da usucapião especial rural, a qual dispõe que a dimensão da área suscetível de tal aquisição seria 50 (cinquenta) hectares, sendo que para que a apropriação ocorra, o usucapiente não pode ser proprietário de qualquer outro imóvel, seja ela rural ou urbana. O parágrafo único do artigo em comento proíbe expressamente a aquisição de imóveis públicos por usucapião.
	O objetivo dessa modalidade de usucapião é a fixação do homem no campo, de modo a usar a propriedade para produção e para moradia de sua família. Desse modo, a pessoa jurídica seria incapaz de usucapir nesse sentido, uma vez que ela não possui família e nem morada.
	Nesse sentido, não é necessário o justo título e a boa-fé, visto que o benefício é instituído em favor da família, entretanto, o possuidor não pode acrescentar à sua posse a de seus antecessores, uma vez que deveriam estar presentes as mesmas qualidades das posses adicionadas, o que seria difícil de acontecer devido a requisitos personalíssimos incompatíveis com o referido acréscimo.
2.3.2. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA
	A usucapião especial urbana, por sua vez, é trazida pela CF/88 no artigo 183 que dispõe que aquele que possuir como moradia e de sua família, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados pelo período ininterrupto e sem oposição pelo período de 5 anos, adquire o seu domínio, não sendo este, proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
	Porém, tal instituto não se aplica caso não haja construção no terreno, já que o requisito é que se use como moradia própria e de sua família, por outro lado, não se tem como requisito o justo título e boa-fé.
	Para usucapir em tal modalidade, assim como na usucapião especial rural, o usucapiente deve ser pessoa física, mas deverá ser brasileiro nato ou naturalizado e o estrangeiro se residente no país.
	Apesar de a legislação trazer expressamente que a área urbana deverá ter até duzentos e cinquenta metros quadrados, nada obsta que se adquira imóvel urbano inserido em área maior, delimitada a posse ao limite anteriormente citado.
	A usucapião urbana pode ser individual, coletiva ou familiar. No caso da individual é regulamentada pela Constituição Federal, em seu artigo 183, onde coloca como requisitos a posse sem oposição do proprietário, prazo igual ou superior a 5 (cinco) anos, não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural e utilizar o imóvel para a sua moradia ou de sua família.
	A usucapião urbana coletiva possui os mesmos requisitos da individual, diferenciando caso a área seja superior a duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para a moradia, não sendo possível identificar os terrenos ocupados por cada um dos detentores da posse, haverá a possibilidade do imóvel ser usucapido coletivamente, com divisão igual a cada ocupante.
	E, por fim, a familiar foi criada no Brasil pela Lei n° 12.424/2011, ao incluir o artigo 1.240-A no Código Civil, prevendo que aquele que exercer por dois anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano próprio de até duzentos e cinquenta metros quadrados, cuja propriedade dividia com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, terá adquirido o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
2.4. USUCAPIÃO IMOBILIÁRIA ADMINISTRATIVA
	A usucapião imobiliária administrativaé requerida e processada no Cartório de Registro de Imóveis, podendo o poder público legitimar a posse de ocupantes de imóveis públicos ou particulares. Entretanto, a Lei 13.465/17 alterou tal instituto, disponde que com o poder público é destinado a conferir título para o reconhecimento da posse a partir da identificação dos ocupantes, do tempo e da natureza da posse. 
	Do mesmo modo, a alteração estabeleceu que a legitimação de posse poderá ser transferida através de causa mortis ou inter vivos, a legitimação não se aplicará aos imóveis urbanos situados em área pertencente ao poder público.
2.5. USUCAPIÃO INDÍGENA
Tal instituto é regulado pelo artigo 32 da Lei 6.001/73, oqual prevê que o índio que ocupe por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, irá adquiri-lo como propriedade plena.
		Deve ressaltar que será beneficiado tando o índio já integrado na civilização quanto aquele ainda não integrado. E, a área a ser usucapida é somente rural e particular, uma vez que a CF/88 proíbe usucapião de bens públicos.
		Entretanto, o art. 33 da lei citada anteriormente dispõe que essa situação não irá se aplicar às terras de domínio da União que esteja ocupada por grupos tribais, às áreas de reserva e nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal. Porém, a ocupação aludida pelo artigo em questão deve ser exercida por dez anos, com animus domini, na condição de proprietário verdadeiro.
2.6. USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL
		A usucapião extrajudicial foi introduzida no Código Civil pela Lei 6.015/73, passando a ser admitido usucapir diretamente no Cartório de Registro de Imóveis da comarca em que esteja situado o imóvel usucapiendo.
		O pedido para tal modalidade deverá ser elaborado através de advogado, contendo ata notarial lavrada pelo tabelião que ateste o período de posse do requerente conforme o caso; planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado; certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; e, justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, continuidade, natureza e o tempo.
		Uma vez que a documentação esteja regularizada e não houver impugnação, o tabelião registrará a aquisição do imóvel. Já em caso de impugnação, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente, devendo, assim, o requerente emendar a petição inicial, adequando-a ao procedimento comum.
3.BENS PÚBLICOS
	A usucapião de bens públicos é tema amplamente abordado pela legislação brasileira, estando disposta no art. 2º do Decreto nº 22.785/33, no art. 200 do Decreto-Lei nº 9.760, na Constituição Federal de 1988 em seus artigos 183 e 191, no Código Civil de 2020 no art. 102, bem como na jurisprudência, conforme dispõe a Súmula 340 do Supremo Tribunal Federal.
	Ocorre que todos os dispositivos trazem redação semelhante, dispondo que os bens dominicais, como os demais bens públicos, seja qual for sua natureza, não são sujeitos a prescrição, ou seja, não poderão ser objetos de usucapião.
	Do mesmo modo, o STF tem decidido que a vedação constitucional e infraconstitucional em relação a usucapião, alcança somente os bens públicos, suprimido, pois, os imóveis pertencentes às sociedades de economia mista.
	POSSE VIOLENTA E CONTAGEM DE PRAZO
	A posse violenta é o ato pelo qual se toma a posse de um objeto de alguém abruptamente, podendo, ainda, se manifestar na expulsão do legítimo possuidor. A violência pode ser física ou moral, contra a pessoa, ou, ainda, contra a coisa. A posse só pode ser violenta no início da sua aquisição, pois uma posse que se iniciou sem vícios, não se torna injusta pela sua violência. 
	Sabe-se que um dos requisitos para a usucapião é a posse mansa e pacífica, ou seja, exercida sem oposição, entretanto, se o possuidor tomar providências jurídicas que visem quebrar a continuidade da posse, fica descaracterizada a posse ad usucapionem, uma vez que, diante de tal atitude, mostrou-se animus domini em relação a propriedade.
	O Código Civil não prevê prazo para que a posse seja interrompida, porém, o TJSP já decidiu que interposto interdito possessório no prazo de ano e dia pelo esbulho, vencido, conta-se em seu favor o tempo em que esteve privado da posse.
	Os prazos da usucapião são de quinze anos para a extraordinária, podendo se reduzir a dez em caso que o possuidor houver estabelecido no imóvel moradia habitual ou que nele realize servidão de caráter produtivo. Já na ordinária, o prazo é de dez anos, podendo ser reduzido a cinco se o imóvel houver sido adquirido com base em transição constante do registro próprio, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido sua moradia ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
	A posse deve ter sido exercida por lapso temporal de modo contínuo, não interrompido e sem impugnação e, há decisões no sentido de que a posse exercida entre a propositura da ação e o julgamento da mesma, pode ser computada no prazo exigido para a aquisição.
	No que concerne ao decurso de prazo, contam-se os anos por dia, e o prazo começa a fluir no dia seguinte ao da posse, ou seja, não contando o primeiro dia, tendo em vista que este é necessariamente incompleto, mas conta-se o dia último.
	MATÉRIA DE DEFESA
	A súmula 237 do STF dispõe que a usucapião pode ser arguida em defesa, ou seja, pode se usada nas ações petitórias e possessórias ajuizadas contra o possuidor que já completou o lapso temporal exigido.
	No tocante às ações possessórias, há grande divergência quanto a possibilidade de se alegar usucapião em defesa. Segundo entendimento do jurista José Carlos de Moreira Salles, caberá tal alegação nas ações dessa natureza. Já o professor Alexandre Câmara, vai contra essa corrente, afirmando que o direito brasileiro separou os juízos possessório e petitório.
	A arguição da usucapião como matéria de defesa não pode se dar de ofício, devendo ser requisitada pela parte interessada, no prazo para contestação, desde que preenchidos todos os requisitos necessários.
	Se a defesa for acolhida, com a decretação de improcedência da demanda do autor, a sentença não poderá ser levada a registro junto à matrícula do imóvel no Registro Geral de Imóveis, isso porque não se pode considerar formada a coisa julgada sobre algo que não foi julgado, tendo em vista que a questão suscitada pelo excipiente apenas será conhecida na fundamentação da decisão, não alcançada por este instituto.
	Deste modo, a sentença apenas terá eficácia material perante aqueles que foram partes no processo, não prejudicando, assim, o direito daqueles que deveriam fazer parte do processo, se este fosse de usucapião.
	AÇÃO DE USUCAPIÃO
	A ação de usucapião encontra-se estabelecida no artigo 1.241 do Código Civil, prevendo que o possuidor poderá requerer em juízo que seja declarada adquirida a propriedade, mediante usucapião.
	O possuidor com posse ad usucapionem, poderá ingressar com ação declaratória no foro da situação do imóvel, que deverá ser precisamente clara e individualizada na petição inicial. Do mesmo modo, além de expor o fundamento do pedido, o autor deve juntar a planta da área usucapienda, podendo esta ser substituída por croqui, se houver nos autos elementos suficientes para a identificação do imóvel.
	A legitimidade passiva expõe que aquele em cujo nome estiver registrado o imóvel e os confinantes devem ser, obrigatoriamente, citados para a ação. Caso se encontrem em lugar incerto, serão citados por edital. O mesmo ocorre com eventuais terceiros interessados, uma vez que o artigo 259 do Código de Processo Civil determina a publicação de editais nesse tipo de ação, justamente para que terceiros que possam ter interesse na ação, tomem conhecimento da mesma.
	Já a legitimidade ativa prevê que o espólio do possuidor, bem como o condômino, podem ingressar com ação de usucapião, sendo na última hipótese necessário que a posse seja exercida com exclusividade sobre o bem almejado. Ressalta, ainda, a possibilidade de propositurada ação pelo titular do domínio da posse, especialmente, se há dúvidas quanto à regularidade de seu título de propriedade.
	Por fim, quanto ao valor da causa, deve-se adotar o critério estabelecido para a ação reivindicatória no artigo 292, IV, do Código Civil, que corresponde ao valor da avaliação da área ou do bem objeto do pedido, tendo em vista que não há regra específica sobre a fixação do valor da causa nas ações de usucapião.
	Vale ressaltar, ainda, que a sentença que julgar procedente a ação, será registrada, mediante mandado, no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais. Do mesmo modo que, o Ministério Público deverá intervir, obrigatoriamente em todos os atos do processo, sob pena de nulidade, por se tratar de matéria de interesse social relevante.
	USUCAPIÃO FAMILIAR E POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL PRÁTICO 
A usucapião familiar é uma espécie de aquisição de propriedade que foi criada no Brasil pela Lei n° 12.424/2011, ao incluir o artigo 1.240-A pelo Código Civil, estabelecendo que aquele que exercer por dois anos ininterruptos e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano próprio de até duzentos e cinquenta metros quadrados, cuja propriedade era dividida com o ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando para moradia ou de sua família, terá a possibilidade de adquirir o domínio legal e integral, desde que não possua outro bem móvel seja ele urbano ou rural.
O maior interesse dessa modalidade de usucapião é a valorização da moradia. O direito a moradia tem previsão legal na Constituição Federal, deste modo a relevância da criação legislativa, tendo como propósito de garantir o direito a disponibilidade do bem de moradia. 
Deste modo, o mais importante do instituto, tão fortemente analisado pelos doutrinadores do direito de famílias, é que se efetiva uma política pública de direito à moradia, por meio de um instituto tradicional da usucapião, modo originário de aquisição da propriedade por inércia de seu titular, buscando também efetivar o princípio da dignidade da pessoa humana nas relações familiares e da função social da propriedade.
Por estar diretamente, entranhada á proteção familiar, e a dignidade da pessoa humana, bem como o direito de moradia falado anteriormente, e necessária uma reinterpretação dos direitos das coisas junto ao direito de família, pois é um instituto recente, que abrange inúmeras questões divergentes.
Assim, a aquisição de propriedade derivada desta modalidade de usucapião, como consequência o abandono familiar, está questão diz mais a respeito do direito de família, a competência para o processamento do pedido, deveria ser atribuído as varas de família.
 	No entanto, o exposto anteriormente não acontece, assim veremos em casos práticos, que em muitos dos indeferimentos ou negatórias do pedido postulado em juízo, ocorre por estar sendo julgado em uma vara civil, pois a usucapião familiar tem um caráter primordialmente existencial.
Portanto, conforme analise ao instituto passa-se observar o posicionamento jurisprudencial prático de alguns tribunais, quanto às alegações de usucapião familiar. Primeiro julgado a ser analisado, encontra-se no Tribunal do Distrito Federal e dos Territórios, autos n°000431614201580700017, com publicação dia 18 de março de 2020.
7.1. DOS FATOS
Narra a autora, nos autos da ação de usucapião familiar, que no ano de 1998 se casou com o réu sob o regime da comunhão parcial de bens, informa que ao longo do casamento adquiriram um imóvel de cento e quarenta e quatro metros quadrados.
Descreve que no ano de 2002 o réu foi denunciado pela pratica de crime sexual contra sua própria filha, deste modo, foi condenado com incurso no artigo 217-A, 226 do Código Civil, artigo 71 do Código Penal. 
Conforme, apresentado o réu está fora do lar há mais de nove anos e preso desde o ano de 2012, deste modo a autora pretende que seja reconhecida a usucapião familiar, nos moldes do artigo 1240-A do Código Civil.
7.2. AS PARTES POSTULAM
A parte autora postula ação de usucapião familiar, pelo abando do lar do ex-cônjuge, conforme moldes da Lei 12.424/201, pois o réu se encontra fora do âmbito familiar a mais de dois anos.
Outro ponto a ser postulado em juízo pela autora, em concordância com a Lei na conjuntura do casamento, somente se adquiriu um imóvel, com metragem inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados, assim se encontra dentro dos parâmetros exigidos para a propositura ação.
Já o réu postula em juízo, ação de contestação de extinção de condômino, pois mesmo após a separação, com os bens partilhados, cuja alienação deveria ocorrer no prazo de seis meses, contados da regulamentação da propriedade do bem, informa também que a escritura do imóvel foi lavrada no ano de 2015, desde então se tenta uma conversa, para a retirada da autora do imóvel. Deste modo, o réu também pede a indenização por uso exclusivo do imóvel, mediante pagamento de aluguel mensal desde 2015 de sua efetiva alienação. 
7.3. O JUIZ ESTABELECEU 
No primeiro momento, em decisão de 1° instância, a Vara Civil do Racho Fundo julgou improcedente o pedido de ação de usucapião familiar, alega o magistrado que não se cumpriu todos os requisitos exigidos pela lei, pois a norma apresenta expressamente que o abandono deve ocorrer de modo voluntário, imotivado e definitivo conforme fato apresentado anteriormente o réu não abandou o lar voluntariamente, uma vez que estava cumprindo pena, deste modo se faz evidente a improcedência do pedido postulado pela autora. 
Quanto ao pedido postulado pelo requerido, o magistrado condena a requerente ao pagamento das custas processuais e advocatícias, noutro giro declara procedente o pedido de extinção de condômino cumulado com arbitragem de alugueres, pois foi determinado no ano de 2015 a partilha do bem que não foi cumprida pela mesma. 
7.4. REFORMA POR PARTE DO TRIBUNAL
A autora recorreu da decisão, no entanto ao ser analisado o recurso, os desembargadores esclareceram que os requisitos de usucapião familiar, dentre outras condições necessita do abandono voluntário do lar. 
Deste modo, os magistrados observaram que, no caso dos autos, o afastamento do réu decorreu do seu cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime inicial fechado é que a reclusão impedia que o ex-cônjuge de praticar qualquer ato de oposição á posse da autora, de forma que o tempo para a prescrição aquisitiva só poderia ser contada após progressão de regime semiaberto, em 05/02/2016. 
Sendo assim, ausentes os requisitos para a usucapião familiar por abandono do lar, a turma negou o provimento mantendo por decisão unânime sentença de 1° instância do recurso posto pela parte autora.
	JULGADO SECUNDÁRIO É POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL
Conforme, apresentando analise anterior o primeiro caso já foi exposto, assim se relata o segundo julgado, com base nos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. Deste modo, o caso se apresenta no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, número do processo: 1.0261.17.011972-9/00, com publicação na data de 06 de setembro de 2019.
8.1. DAS CONJUNTURAS
Ação de dissolução de união estável, com recurso de usucapião familiar, narra-se o exposto. Na constância da união estável, o patrimônio que o casal obteve, foi uma edificação e um lote vago, sendo assim determinou o magistrado à meação para cada ex-companheiros, no entanto a requerida teria direito real de habitação do imóvel pelo prazo de dois anos, contudo após este prazo transcorrido, a requerida não desocupou o imóvel, sendo notificada, quando está requereu mais algum tempo para a desocupação do imóvel, prazo este pedido por ela de mais dois anos, o que foi concedido.
Passado este prazo de dois anos, houve novamente a notificação, não ocorrendo êxito, negando também a visitação do imóvel para venda, é não pagando qualquer quantia a título de aluguel para o ex-companheiro. Deste modo, a mesma foi condenada ao pagamento de alugueres, bem como a extinção do condômino com venda do bem em hasta pública.
8.2. AS PARTES PLEITEIAMEm primeiro momento no Tribunal de 1° instância se estabeleceu somente o reconhecimento e a dissolução da união estável. No entanto, conforme exposto anteriormente, ocorreu inúmeros problemas estabelecidos pela requerida. Deste modo, acarretou a hipótese de usucapião familiar estabelecida pela Lei 12.424/2011com fulcro no artigo 1.240-A do Código Civil, contudo, todavia o fato postulado em juízo ocorreu anteriormente a está Lei, assim não se aplica a fatores anteriores à sua vigência, por força de uma diretriz básica de direito intemporal que veda a eficácia retroativa da norma, como regra no artigo 6 ° da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro.
Assim, a fluência do prazo de dois anos que é estipulado pela Lei, na modalidade de usucapião familiar, não ocorreu. O requisito de abando do lar deve ser interpretado na óptica do instituto com abandono voluntário da posse do imóvel somando à ausência da tutela de família, não importando assim, a averiguação da culpa pelo fim da união estável. Voltando no manifesto anterior, o abandono do lar, neste caso correu antes da vigência da norma conjurada pela parte ré como defesa, afastando assim a eficácia da mesma.
Portanto, o que se postula é ação de dissolução de condômino ajuizada pelo ex-companheiro em face do outro, em que suscita a hipótese de prescrição aquisitiva cognominada usucapião familiar.
8.3. O JUIZ DETERMINOU 
Na premissa anterior, estabeleceram que a requerida continuasse a utilizar exclusivamente o imóvel do casal de forma gratuita por um determinado prazo, circunstâncias essas fáticas divergentes de um protesto abandono, pelo qual se torna inviável o acolhimento da tese defensiva recursal.
Assim se estabeleceu, o abandono do lar deve ser considerado como abandono de posse do imóvel, estabelecida a ausência da tutela familiar, no entanto o apelo por este abando familiar ocorreu na vigência do ano de 2007, adiante todas as contribuições para o custeio da vida do infante, no entanto alega a requerida o não pagamento de pensão alimentícia, fato este não aceito, pois as notificações feitas são irrelevantes ao teor do processo, pois quando se estabeleceu o direito do recorrente já havia ocorrido, é função social da propriedade estava sendo cumprida, portanto não se pode pedir os alugueres.
Deste modo, determinou o magistrado o provimento do apelo em seu teor total, juntamente coma reforma da sentença.
 
	COTEJO ENTRE OS JULGADOS 
	No primeiro momento para fazer está analise entre os julgados deve se estabelecer um entendimento do enunciado 595 do CFJ, que relata a respeito do abandono do lar. “O requisito abandono do lar deve ser interpretado na ótica do instituto da usucapião familiar como abandono voluntário da posse do imóvel somado à ausência de tutela familiar, não importando em averiguação da culpa do fim do casamento ou da união estável”. 
Deste modo, este tema de usucapião familiar, exige um extenso debate e é acarretado de polêmicas ao seu redor, conforme foi vislumbrando nos julgados anteriormente. 
No primeiro caso prático a usucapião familiar, não foi indeferida, pois se tratava de um caso específico, onde o ex-cônjuge agredia sua mulher, de modo que acarretou a sua reclusão, gerando assim o abandono do lar, no entanto este abandono conforme reforma do tribunal não ocorreu de modo voluntário, pois o ex-cônjuge estava em regime fechado, não podendo, portanto voltar para o seu imóvel. 
Este caso, portanto é polêmico, pois mesmo agredindo sua ex-cônjuge, não ocorreu a usucapião familiar pelo fato de não ter sido voluntária a sua saída do imóvel, gerando assim somente uma expectativa da aplicação deste instituto, que possui grandes requisitos para ser deferido. 
Por fim, o segundo julgado, em primeira instância somente se estabeleceu a dissolução de união estável, e a continuidade da ex-companheira por um determinado tempo no imóvel do casal, no entanto não houve a sua retirada do imóvel, gerando assim uma perspectiva de usucapião familiar.
Todavia, este instituto não era vigente, na data em que foi pleiteado este princípio, havia ali somente uma mera posse precária da apelante com relação à metade do imóvel que eles haviam adquirido na constância da união estável, com características jurídicas bem incompatíveis com o instituto da usucapião familiar.
Destarte, se observa que o pedido em juízo foi o mesmo do instituto da usucapião familiar, no entanto os dois tiveram provimento negado, por razões distintas, gerando assim somente uma expectativa do deferimento pelo magistrado, no entanto mesmo havendo inúmeros requisitos para a aplicação deste instituto, são raras as vezes que ele e aplicado, pois conforme leitura anterior, estes julgados precisariam ser analisados por varas de família, que possuem uma visão distinta dos magistrados de varas cíveis. 
	CONCLUSÃO
	A usucapião é uma das formas mais importantes pela qual se aufere a propriedade e outros direitos reais passiveis de exercício frequente pela posse prolongada no tempo. Tamanha é sua relevância, que o instituto foi significantemente ampliado a partir da Constituição Federal de 1988, a qual concebeu as modalidades de usucapião especial urbana e rural. Por sua vez, o Código Civil de 2002 instituiu uma subespécie de usucapião extraordinária e uma subespécie de usucapião ordinária, também denominada usucapião tabular ou documental, além da usucapião especial urbana familiar. Por sua vez, o Estatuto da Cidade passou a prever a modalidade da usucapião coletiva, aplicável aos casos em que há uma aglomeração habitacional, não sendo possível identificar os terrenos individualmente ocupados por cada família no conglomerado.
	A importância conferida a tal instituto enquadra-se principalmente à função social da propriedade, pelo fato de garantir direitos como a moradia, privacidade, intimidade, garantindo, ainda, uma vida digna para aqueles que vivem em situações precárias, sem acesso a um mínimo existencial. Além do mais, a usucapião assegura a proteção às minorias e aos economicamente desfavorecidos.
	O instituto da usucapião especial urbana familiar é decorrente, da Lei 12.424/201, ao incluir o artigo 1.240-A pelo Código Civil. Portanto, ao ser analisado, observa-se um instituo muito recente no ordenamento jurídico, deste modo as jurisprudências possuem inúmeras lacunas, conforme se apresentou nos julgados analisados.
	Todavia, é um instrumento essencial nos dias atuais, haja vista o grande número de casos pleiteados nesta modalidade de usucapião, no entanto se exige muitos requisitos, como apresentado no decorrer da leitura, assim na grande maioria dos julgados, não é possível ocorrer o deferimento, pois não cumpriu todos os requisitos estabelecidos. Portanto, ainda é preciso grande apreço, estudo para aplicar essa modalidade nos casos práticos.
	REFERÊNCIAS
CORREA, Rayza Colombo; SANTOS, Luis Gustavo dos. Usucapião de bem móvel: Posicionamento jurisprudencial acerca do produto de furto/roubo. Itajaí: Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI, 4º trimestre 2013. Disponível em: https://www.univali.br/graduacao/direito-itajai/publicacoes/revista-de-iniciacao-cientifica-ricc/edicoes/Lists/Artigos/Attachments/972/Arquivo%2044.pdf. Acesso em: 13 maio 2020.
GERAIS. Tribunal de Justiça de Minas. Apelação Cível 1.0261.17.011972-9/001. Apelante: Rosângela Maria Guimarães. Apelado: Gilmar Fonseca Lopes. Relator: Desembargador Otávio de Abreu Portes. Formigas, 28 de agosto de 2019.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil 2: contratos em espécie e direito das coisas esquematizado. 8ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 928 p. v. 2.
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TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos. Apelação Cível 0004316-14.2015.8.07.0017. Acórdão nº 1234969-DF. Apelante: Janaína Pereira dos Santos. Apelado: Edson Alves da Silva. Relator: Desembargadora Leila Arlanch. Brasília, 04 de Março de 2020.

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