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BERTOLT BRECHT Aquele que diz sim e aquele que diz não óperas escolares

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Ópe ras escolares
que diz SIm e
que diz não
Aquele
Aquele
T raduç ào: Luis Antônio ~1artinez Corrêa e
lY1arshall N etherland
Colaboração: Paulo César Souza
Escrito em 1929/30
Estréia: 23 .6 .1930 em Berlim
Der Jasager und Der Ncínsager
Schulopern
Baseada na adaptação inglesa de Arthur \V'ale)' do "N ô' Ja-
ponês "Taniko".
Colaboradores: E. Hauptmann. K. W'eilJ
PERSONAGENS
o PROFESSOR
a 1V1ENINO
A MAE
()S TRÊS ESTUDA NTE5
O GRANDE CORO
---------------- ---_._ - _ .
}\QUELE~ QUE ~D IZ snv1
t
o GR AN DE CORO - O m ais irn po r t an te de t udo é aprender a
estar de acordo.
Muitos dizem sim, mas sem estar de ac ordo.
Muitos não são consultados, e muitos
Estão de acordo com o erro. Por isso:
O mais irn portari te de tudo é aprender a est ar de acordo.
o professor está na blono 1; a m àe e o menino, n o lJlano 2.
O PRO F E SSO R - Eu sou o professor. E u ten ho uma escola na
ci d ade e tenho u m alu no c u jo pa i m orreu. E le só te m a
mãe, que cuida dele. Agora , eu vou até a casa deles para
. me despedir, po rq ue estou de partida para u rna viagem
às m ont.arihas. É que surgiu uma epi de nlia entre nós, e
na cidade, além das rno ntanh.as, m oram alg uns grandes
médicos.
Bate 'UI porta. Posso entrar?
O 1I.1EN IN O jJassdndo do plano 2 para o jJlal10 1 - Quem é?
Oh, o professor está aqui! O professor ve io nos visitar!
() PROFESSOR - Por que faz tanto tempo que você não vai
à escola na cidade?
O ~1ENINO .- Eu não podia ir porque miriha 111ãe fi cou
doente.
O PROFESSOR - Eu não sabia que ela também estava doente.
Por favor, vá logo dizer a ela que eu estou aqui.
O MENINO grita em direção ao plano 2 - Mamãe , o profes-
sor está aqui.
A MÃE sentada no plano 2 - Mande en t rar.
a lv1ENINO - Entre, por favor.
O s dois entram Jlopltl11o 2.
2 17
. ~,k!..::~
O PROFESSOR - Faz muito tempo que eu não ven ho
Seu filho diz qu e a sen hora tamb ém f icou doen te.
melhor agora?
A :MAE - Infelizmente não estou nada melhor, já
agora não se conhece nenhum remédio para essa _~'" .......~ ... ~
( ) PROFESSOR - l \ gente tem que descobrir alguma "'~ " ."'" .: ~....
Por isso eu vim me despedir de vocês: aman h ã eu
partir para uma viagem através das m ontanhas em
ca de remédios e instruções. Porque na c id ade, além
montanhas, moram os grandes m édicos,
A .M "~E - Uma caravana de soco r ro n as m ontanhas! É ver-
dade, eu ouvi d izer que os gran des m éd icos moram
mas t amb ém ouv i di zer que é u m a caminhada perigosa.
O sen ho r pretende levar m eu fi lho?
O PRO~ESSOR - N urn a viagem como est a n ão se levam
crranças,
A r-.1 .ÃE - Bom, esp ero que o sen h or volte com saúde .
O P RO F ESSOR - l\gora eu tenho que ir embora. Adeus.
Sai para o plano 1.
O ME N INO seguindo o fnofe ssor, no 11ft/no I - Eu tenho q ue
dizer urna coisa.
A mãe escuta ti porta.
O PROFESSOR - O que é?
O b fE N INO - Eu quero ir com o sen hor para as mon ra nhas.
O PROFESSOR - C on10 eu ja di sse à s u a m âe,
É uma viagem difícil e
Perigosa. 'Você não
Vai conseguir nos acompanhar. .Além di sso:
Como você pode querer abandonar
Sua fi ãe, que está doen te?
Fique. É absolutamente
Irnpossi vel você vir conosco.
o MENINO - É porq ue m in ha rn âe está doente q ue
Eu quero i r com você ) para
Buscar para ela rem édios e instruções
Com os g ran des médicos, na cidade al ém d as mon tanhas.
O PROFESSOR - Eu tenho que falar co rn su a m âe novamente .
Ele uolta ao plano 2. O menino escuta à porta.
() PROF E SSOR - Estou aqui de nov o. Seu fil ho d iz que que r
vir con osco. Eu expliquei que ele não poderia dei xar a
senhora so zin h a e doente e que, além disso, é urna via-
gern difícil e perigosa. É absolu t amen t e im possív el você
vi r conosco, eu lh e d isse. M as ele respon deu q ue te rn que
ir à cidade, alé rn das mon tanhas, buscar rem édios e ins-
truções pa ra a sua doenç a.
A ~fÃE - Eu ouv i su as pa la v r as. E não duvido do que o
meni no d iz - que ele gostaria d e fazer a cami nh ada
perigosa C0111 o sen ho r . Meu filho , venha cá .
o menino entra 110 plaru» 2.
Desde o dia ern qUI?
Se u pai nos deixou,
E u não t enho ning u ém
A não ser você ao meu lado.
Você nunca saiu
De m inha vista nem do meu pensamento
Por mais tempo que eu precisasse
Para fazer su a comida,
Arrumar su as roupas e
Ganhar dinheiro.
O MENINO - É como a senhora diz. 1\135 apesar disso nada
vai poder me desviar do que eu pretendo.
O .M E N I N O, A l\L~E E o PROFESSOR - E u vou (ele va i ) f aze r
a perigosa caminhada
E buscar rem édios e instruções
Para a sua (a minha) doença,
N a cidade al ém das m on tanhas.
219
________________________Z:ll:',ftf,.;.'311
O G RA N DE CORO - Eles vi ram que nenhum argumen r-,
Podia dernovê-Io.
Então o professor e a su a m âe di ssera m
Numa só voz:
O PROFESSOR E A ~L~E - Muitos est ão de acordo com o
nlas ele
Não está de acordo C001 a doenç a, e sim
Em acabar com a doença.
O GRA N DE CO RO - A mãe ainda d isse :
A MÃE - Eu já não tenho mais forças.
Se assim tem qu e ser.
V á com o p rof essor ,
Mas vol te logo.
2
() GRANDE CORO - As pessoas come çaram a viagem
Pa ra as m ontan has.
Entre elas es t avarn o professor
E o menino.
1:1a5 o menino n ão podia su portar t anto esforço:
Ele forçou demais seu co raç ão,
Que pedia retorno imediato.
N a alvorada, ao pé das montanhas,
Ele quase não conseguia mais
Arrastar seus pés cansad os.
Entram 110 plano 1: o professor, os três estudantes e, por úl-
ti mo, o menino trazendo urn cantil.
o PROFESSOR - A subida foi rápida. Lá está a primeira ca-
bana. Lá nós v am os parar um pouco.
()S TRÊS ESTUDANTES - Nós obedecemos.
Eles sobe111 Num est rado /10 plano 2. O menino detém o pro-
fessor.
220
() ~\1EN I N O - Eu tenho que dizer UH1a COisa.
O P RO I:ESSOR - O que é?
O MENIN O - Eu não me sin to bem .
O P ROFE SSO R - Pare! Q u enl faz urna v iagem C0010 esta n ão
po de di zer essas coisas. T aIvez você esteja cansado por
não estar ncosturnado a subi r mon tunhas. P are e des-
canse um pouco.
Ele sobe no est rado.
Os TRÊS ES T U DA !'i T E S -- Parece que o men ino está cansad o
por ca usa da subida. Vamos pergun tar ao professor.
a GRANDE CORO - Sim. Perguntem!
()S TRÊS ESTUDANTES ao professor - Nós ouvimos que o
men in o está cansado por causa da su bida. O que há COIU
ele? Você está p reocupad o com ele?
O PROFESSOR -- Ele não est á se sen rindo be m > é isso. Ele
está só cansado por ca usa da subida.
Os TRÊS ESTUDANTES - Então você não está preocupado
com ele?
Longa pausa.
Os TRÊS ESTU DANTE.5 entre eles - Vocês ouv ir a rn?
O p rofessor di sse
Que o m en in o est á som en te cansad o p or ca usa. da su bida .
M as ele não est á fi c and o COIn uma aparência rnui to es-
t ran ha ?
Logo depois da caba na ve m a. passag em estrei ta.
Só se pode passar por ela
Agarrando-se à rocha com as duas mãos.
Tomara que ele não est eja doente,
Porque, se ele não puder continuar, nós va mos ter que
D eixar o menino aqui.
Eles grit am em direção ao plano 1, co m as nnaos fi ni concha:
221
Você está doente? - Ele não responde. - Va mos per-
g un tar ao professor.
Ao professor: Quando há pouco perguntamos pelo me-
nino, você disse que ele estava simplesmente cansado por
causa da subida, mas agora ele está COD1 uma ~lp a rê nc ia
muito estranha. Olhe, ele até está sentado.
C) P ROFESSOR - Estou vendo que ele ficou doente. Tentem
carregá-lo na passagem estreita.
Os TRÊS ESTUDANTES - Vamos tentar.
Os três estudantes tentem atravessar a f' ~passagcnl est reita"
carregan do o '11Zf JÚno. A " {mssage tn est reita" de ve ser COn s-
t ruída pelos atores com- estrados, co rdas, cadeiras etc., de tal
[orma q ue os três estudan tes possam passar sós, mas não car-
regando a rneniuo .
Os TRÊS ESTUD AN TES - Não podemos passar com ele e t arn-
b érn não podemos f icar comele. Aconteça o que acon -
tecer, nós temos que continuar porque uma cidade in-
teira está esperando o remédio que nós viemos buscar. É
ter rí vel ter que dizer ist o, mas, se ele não pode vir co -
nosco, nós vamos te r que dei xa r () m en in o aq ui, n as
montanhas.
O PROF ESSOR .- É verdade , talvez tenham que fazer isto. Eu
não posso me opor a vocês. Mas eu acho justo que se
pergunte àquele que ficou doente se se deve voltar por
su a causa. Meu coração tem pena dessa pessoa. Eu vou
até ele e, com o maior cuidado, vou prepará-lo para o
se u destino.
Os TRÊS ESTUDANTES - Faça isso, por favor ,
Eles se colocam [rente a frente.
()S TRÊS ESTUDANTES E o GRANDE CORO - Nós vamos lhe
perguntar (eles lhe perguntaram) se ele quer
Que se volte (que voltem) por sua causa.
Por émvrnesmo se ele quiser,
Nós não vamos (eles não iam) voltar,
E sim deixá-lo aqui e continuar.
222
o PROFESSOR, que foi (l té o menin o no ~la n() .. I ..- .- ~re~ta
ate nç ão ! Como você ficOl: doe~ te ,e n~o, p~~le con: l>nu:lf~
vamos ter que deixar voce aqui. Mas e Justo que se p~ r
'1 ficou doente se se deve voltar por suagunte aque e que 1 . .. . ' . ~ _ d _. ,
. _. E o costume exige que aq uele que ficou oen t ecausa. .. ,
responda: vocês não devem vo lt a r.
a ME NINO - Eu compreendo.
O PROFESSOR - Você exige que se volte por sua causa?
O M ENINO - Vocês não devem voltar!
) .-. Então você está de acordo ern ser dei x ado( PROFl~.SSOR-
aqui ? _ ., .
O \:IE N INO - Eu quero pensar. Pausa para rc/ lcx(lu, Sun , eu
estou de aco rdo .
O PROFES SO R grita em dir eção ao blano 2 - Ele respondeu
confor rn e a necessidade!
. ... E OS TRI":'S E$TU'D "N''1'~7S nomome nro em queO GR A N D E CORO ::.,', ." " L:_ .. .. ... '
• -;< os trê s estudante s descem ao 11lano 1 - Ele disse 51n L
Con ti n u em!
Os três estudantes param .
O PROF ESSOR - A go ra continuem, não parern ,
Porque vocês decid iram co nt inuar.
Os três estudantes ndo se moue m,
() MENINO - Eu quero dizer urna coisa: eu peço que não
. le porque eum e deixem aqui , e sim me joguem no vate ,
tenho medo de morrer sozinho.
Os TRÊS ESTUDANTES - Nós não podemos f azer ISSO.
O !vlENINO - Parem! Eu exijo.
\
T ~ d idi co nt inu i r e de ixá-lo aq 1..11-() PROFESSOR - loces . ec! Iranl "-" ...
É fácil decidir o seu destino,
Mas difícil executá-lo.
Estão prontos para jogá-lo no va le?
Os TRÊS ESTUDANTES - Sim.
- . p » i t rado ' /0 plalio ?()s três estu.dan t es Írrum (> m enino ara o (.,\ ( - I . -,
) ").,
.:. ... J
E;:coste a ~abeça em nossos braços.
N ao faça força.
Nós levamos você com cuidado.
Os três estudantes colocam () menino na parte p t .
esi ra -/0 I P' f . .. .os erto r do
, . { c, ae e a sua ren te, esco udem cn., do público.
O fvl E N I N O Íln'isÍl/el- Eu sabia muit bern r .
,\ '. . . • 1 o ern que nesta vi agem
i "1..rrrscava perder minha vida.
Foi pensando em minha mãe
Que m e fez a partir.
Tomem meu cantil,
Ponham o remédio nele
E levem para minha mãe,
Quando vocês voltarem.
O GR.ANDE CORO - E t - .
. J f1 ao os amigos pegaram o cant il~ deploraram os tristes caminhos do m undo
~ ~uas duras leis amargas,
E Jogaram o menino.
Pé com pé, um ao lado do outro
Na beira do abismo '
De olhos fechados, ei es joga ra m o m en ino
~~nhum m ais culpado que o ou t ro. '
E jogaram pedaços de terra
E umas pedrinhas
Logo em seguida.
224
I
t
j
I
AQUELE QUE 1)IZ NÃ()
1
O GRANDE CORO - O mais importante de tudo é aprender a
estar de acordo.
Muitos dizem sim, mas sem estar de acordo.
Muitos não são consultados, c muitos
Estão de acordo corn o erro. Por isso:
O mais importante de tudo é aprender a estar de acordo.
O professor está no plano 1; a-màe e o menino, no plano 2.
O PROFESSOR - Eu sou o professor. Eu tenho uma escola n a
cidade e tenho um aluno cujo pai morreu. Ele só tem
a mãe, que cuida dele. Agora, eu vou até a casa deles
para me despedir, porque estou de partida para uma via-
gem às montanhas. Bate naborta. Posso entrar?
C) MENINO passando do plano 2 para o plano 1 - Quem é?
Oh, o professor está aqui! O professor veio nos v isit ar!
() PROFESSOR - Por que faz tanto tempo que você não v ai
à escola na cidade?
O M E NI NO - Eu não podia ir porque m inha mãe f icou do-
ente.
O PROFESSOR - Eu n ão sabia. Por f avor, v á logo d izer J ela
que eu estou aqui.
O M E N I N O grita em direção aoplano 2 - Mamãe, o professor
está aqui.
A MÃE sentada IIUI'na cadeira de madeira no jJ[aJlo 2 - Ma n -
de entrar.
O MENINO - Entre, por favor .
Os dois entram no plano 2.
O PROFESSOR - Faz muito tempo que eu não venho aqui.
Seu filho diz que a senhora tem estado doente. Está me-
Ihor agora?
A MÃE - Não se preocupe com a minha doença, não há de
ser nada.
O PROFESSOR - Fico contente de ouvir isto. Eu vim me des-
pedir de vocês, porque amanhã eu estou de partida para
as montanhas numa viagem de estudos, porque na ci-
dade, além das montanhas, moram os grandes mestres.
A MÃE - Uma viagem de estudos nas montanhas! É verdade
eu ouvi dizer que os grandes médicos moram lá, mas
também ouvi dizer que é uma caminhada perigosa. O
senhor pretende levar meu filho?
O PROFESSOR - Numa viagem como esta, não se levam cri-
anças.
A MÃE - Bom, espero que o senhor volte com saúde.
O PROFESSOR - Agora eu tenho que ir embora. Adeus. Sai
para o plano 1.
O MENINO seguindo o professor, 110 plano 1 - Eu tenho que
. dizer uma coisa.
Amáe escuta ti porta.
O PROFESSOR - O que é?
O MENINO - Eu quero ir com o senhor para as montanhas.
O PROFESSOR - Como eu já disse à sua mãe,
É uma viagem difícil e
Perigosa. Você não
Vai conseguir nos acompanhar. Além disso:
Como você pode querer abandonar
Sua mãe, que está doente?
Fique. É absolutamente
Impossível você vir conosco.
O ~{ENINO - É porque minha mãe está doente que
Eu quero ir com você, para
Buscar para ela remédios e instruções
Com os grandes médicos, na cidade além das montanhas.
o PROFESSOR - Mas você estaria de acordo com todos os im-
previstos que lhe poderiam surgir durante a viagern?
226
() ~tENINO - Sint o
() PRor;EssOR - Eu t enho que f aLi r (O n 1 sua mã e nOvan1cn te.
Ele polIa ao plaJ10 2 . () menino CSCU /(l à porta.
Estou aqui de novo . Seu filho d iz q~e quer vir conosc~.
Eu expliquei que de não poderia de i xar . ,~ se nbor.a. ,sl~z l ­
nha e doente e que, alén1 disso, é urna vl~ge~1 dif icil e
. . '. E" .... bsolutan1ente impossi vel vo c e VIr conosCO,pengos.1. •~ . .. cs . .. . .. . ...• , ,' d , d '
eu lhe disse. Mas ele respondeu que .t ~rn ~ue Ir a_ ( 1 .1 e,
alé tTI das montanhas , busca r ren1éd los e lnstrUçoes p a ra
a su a doença..
A'l f\E _ E u ouvi suas palavras. E não d uvido d.o q ue o m~-
. n ino diz - que ele gost a ri a de f az er a c alTIlnl'u d a per r-
gosa co m o sen h o r. Me u filho, venha c á.
( ) m eni no eut ra no jJ lano 2,
D esd e o dia em que
Seu pai nos deixou,
Eu não tenho n inguénl
A não se r você do t11eU lad o .
Você nunca. sai u
De m inha vista nem do m eu pen sanlCtltO
Por mais tempo que eu preci sasse
Para fazer sua comida.
Arrumar suas roupas e
Ganhar dinheiro.
( ) ,\.l E N I N O _ É corrio a sen ho ra d iz, Ma s 'l p esa r d isso nada
vai poder me desviar do que eu pretendo,
E (..E·'1 \ 11' )' fazer
.') . . . . ' 0 ·' l -\ E I·' O 1)I>OFE·SSOR - . U vou . e "l. :vi E N I N ,A l V " .:. ' ~ ~ ,
a perigosa canlinhada
E buscar ren1édios e instruções
Para a su a (a nlinha ) doença ,
N a cidade nlérn das n10ntanhas.
O GRANDE CORO - Ele s v iram que nenhunl :.Hg UI11en t o
Podia dem()vê-lo.
227
Então O professor e a mãe disseram
Nun1a só voz;
() PROFESSOR E A ~lÃE - Muitos estão de acordo com o erro,
111as ele
Não está de acordo COIU a doença, e sim
Em acabar com a doença.
O GRANDE CORO - A mãe ainda disse:
A ~LÃE - Eujá não tenho rnais forças .
Se assim tem que ser,
\'á com o professor,Mas volte logo,
2
() GRANDE CORO - As pessoas começaram a viagem
Para as montanhas.
Entre elas estavam o professor,
E o menino.
Mas o menino não podia suportar tanto esforço:
Ele forçou demais seu coração,
Que pedia retorno imedia to.
Na alvorada, ao pé das montanhas,
Ele quase não conseguia mais
Arrastar seus pés cansados.
Entrar!': no plano 1: o professor, os três estudantes e, por
ltlU1110, o-menino trazendo um cantil.
O PROFESSOR - A subida foi rápida. Lá está a primeira ca-
bana. Lá nós vamos parar um pouco.
()S TRÊS ESTUDANTES - Nós obedecemos,
Eles sobe!t1 num estrado do plano 2. O menino detém o
professor.
a NIENINO - Eu tenho que dizer uma coisa.
() PROFESSOR- o que é?
228
o MENINO - Eu não me sinto bem.
O PROFESSOR - Pare! Quem faz uma viagem corno esta não
pode dizer essas coisas. Talvez você esteja cansado por
não estar acostumado a subir montanhas. Pare e descan-
se UOl pouco. Ele sobe no estrado.
Os TRÊS ESTUDANTES- Parece que o menino ficou doente
por causa da subida. \'amos perguntar ao professor.
a GRANDE CORO - Sim. Perguntem!
Os TRÊS ESTUDANTES ao professor - Nós ouvimos que o me-
nino ficou doente por causa da subida. a que há com
ele? \'ocê está preocupado com ele?
O PROFESSOR _.- Ele não está se sentindo bem, é isso.
está só cansado por causa da subida.
Os TRÊS ESTUDANTES - Então você não está preocupado
com ele?
Longa pausa.
Os TRÊS ESTUDANTES entre eles -- Vocês ouviram?
O professor disse <
Que o menino está somente cansado por causa da su bida.
Mas ele não está ficando com uma aparência estranha?
Logo depois da cabana vem a passagem estreita.
Só se pode passar por ela
Agarrando-se à rocha e001 as duas mãos.
Nós não podemos carregar ninguém.
Devemos então seguir o grande costume e
Jogar o menino no vale?
Eles gritam em direção ao plano 1, com as mâos em
concha:
A subida da montanha lhe fez mal?
O lV1ENINO - Não.
Vejam, eu estou em pé.
Eu não estaria sentado
Se estivesse doente?
229
..-.......---- ---------------- ........~t.,·~.>i~
Pausa. O rne ni no u nta-se.
()S TRÊS ESTUDA N TES - V3n10S f ala r com o pro fessor. Mes-
tre, quando h á pouco perguntamos pel o m enino, você
di sse que ele estava sirnp lcsrne n te cansad o por causa da
subida. Mas agora ele está C0t11 urna aparência muito
estranha. O lhe, ele até est á se n t ado. É terr i vel ter que
dizer isto, mas há muito tClTIpO reina um grande coseu-
me entre nós: aquele que não pode continuar será jogado
n o vale.
( ) P ROFESSOR - C orno, vocês querem jog a r este mem no no
v ale ?
O s T RÊS ESTU DA NTE S - Sim. É a nossa in ten ção.
O PROFESSOR .- É um g rande costume. E u não posso me
opor a ele . Mas o grande cost u m e tamb ém exige q ue se
pergu n te àquele que fic ou doente se se deve voltar po r
sua causa . Meu coração tem muita pen a dessa pessoa.
Eu vou até ele e, com o maio r cuidado , vou lhe fala r do
grande costu me.
( )S T RÊS E STUDAN TES - Faça isso, por favo r.
El es se colocam fren t e a f ren te.
Os T RÊS ES TUDA NTES E O GRA N DE CORO - N ós vamos lh e
perguntar (eles lhe perguntaram ) se d e quer
Que se volte (que voltem) por SUa c au sa.
Porém, mesmo se ele quiser,
Nós não vamos (eles não iam ) voltar,
E sim jogá-lo no vale.
O PROFESSOR, que f oi até o menino no plano 1 - Presta aten-
çã o! Há muito tempo existe a lei que aquele que fica
doente numa viagem como esta tem que ser jogado no
vale. A morte é imediata. Mas o costume também exige
que se pergunte àquele que ficou doente se se deve voltar
por sua causa. E o costume exige que aquele que ficou
doente responda: Vocês não devem voltar. Se eu estivesse
em seu lugar. com que prazer eu morreria!
230
o ~'iiENrNO - Eu compreendo.
() PRO F ESSO R - Você exige q ue se vo lte po r sua causa? O u
está de acordo em ser jogado n o vaie corno exi ge o gran-
de costume?
o MENINO, dep ois ti!', um tempo de reflcxtio _.- N ão. Eu n âo
estou de acor do.
O PROFESSOR grita em di rcçtÍo ao J}lau(J 2 - Desçalll até aq ui .
E le não re spondeu d e acordo corn o cost urne.
()S TRÊS ESTUDANTES desce ndo em direção ao plano 1 -. Ele
d isse não. i 10 menino: P o r que você não res ponde de
acordo com O costu rn e ? .A..quclc que disse a , rarnb érn
tem q ue d ize r b , aquele t empo q uan do lhe pe rg:rn t a-
varn se você estaria de acordo com tudo que esta Yiagenl
poderia t razer" você respondeu que sim.
O lvfEN INO - 1\ resposta que eu de i foi fa lsa, [nas a sua per-
gunta) ma is f alsa ainda. Aquele q ue diz <1 , n ão ten-:. q ue
dizer b. Ele t arn bern pode re conhecer que a era f also.
Eu q ueria b uscar remé dio pa ra . mir:ha lTI_ãe,. mas, agora
eu t arn b érn f iquei doen te, c , assim, .Isto na o .e m~ls p~s­
sivel. E d iante desta riov a situação, qu ero voltar imedia-
tamerite. E eu p eço a voc ês que t am b ém v oltem e m e
lev em p ara casa. Seu s estudos podem m ui to bern esperar:
E se há algu m a coisa a aprender lá , o que eu espero, 50
poderia ser que, ern nossa situação, nós te~os q~evoltar.
E quanto ao antigo gr an de costume, n ao ve jo n ele o
menor sen t id o. Preciso é de um novo grande costume..
que devemos introduzir irnedi aramente : ,0 co~t ume de
refletir novamente diante de cada nov a siruaç ao.
Os TRÊS ESTUDANTES ao professor - O q ue f :1zer? O que o
menino disse não é nada heróico, nus faz sen t ido.
O PROFESSOR - Eu de ixo corn voc ês :1 dec isã o do que f azer.
Mas tenho que lhes dizer uma co isa: se você s volta rern ,
vão ser cobertos de zornbaria e vergonha .
Os TRÊS ESTUDANTES - Não é vergonha ele falar ;1 f a vor
de si próprio?
O PROFESSOR - Não. Eu não vejo nisso nenhuma vergonha
Os TRÊS ESTUDANTES - Então nós queremos voltar. Não
ser a zombaria e não vai ser o desprezo que vão nos
oU u .-.:';••••..·.;0> :E:i:i<; j![{~ ,pedir de fazer o que é de bom senso, c não vai ser um
antigo costume que vai nos impedir de aceitar uma idéia
justa.
Encoste a cabeça em nossos braços.
Não faça força.
Nós levamos você com cuidado.
O GRANDE CORO - Assim os amigos levaram o amigo
E eles criaram um novo costume,
E uma nova lei,
E levaram o menino de volta.
Lado a lado, caminharam juntos
Ao encontro do desprezo)
Ao encontro da zombaria, de olhos abertos,
Nenhum mais covarde que o outro.
2_')) ...
A decisão
Peç a did át ica
Die Massnahrne
Lehrstück
Escrito em 1929/30
Estréia: 13.12.1930 em Berlim
'Tradução: Ingrid Dormien Koudela

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