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Universidade Estácio de Sá
PSICOLOGIA
Psicopatologia
Flavia Dias Tavares - matrícula: 202001085904
Campus Maracanã – RJ
2022
Flavia Dias Tavares
Estamira
Trabalho Av1 – transcrição da legenda do Vídeo ESTAMIRA - como diagnosticar.
https://youtu.be/jGFq8R-h5kY
Filme original: Data de lançamento: 2004 (Brasil)
Diretor: Marcos Prado
Elenco: Estamira
Produção: Marcos Prado, José Padilha
Professora: Cristiane Guimarães
Campus Maracanã – RJ
2022
Transcrição da legenda do Filme Estamira 
Flavia Dias Tavares
Universidade Estácio De Sá 
Campus João Uchoa - RJ – Brasil 
RESUMO
Estamira. Documentário – Diretor Marcos Prado 
O premiado documentário Estamira, dirigido por Marcos Prado, conta a história da personagem de mesmo nome que, por mais de 20 anos, sobreviveu em um lixão do Rio de Janeiro. O fotógrafo carioca Marcos Prado se dedicava havia seis anos a documentar, em fotos, o cotidiano do lixão do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Nesse período, ele conheceu a personagem que se tornaria a protagonista de seu longa de estreia como diretor. O documentário correu o mundo, obtendo 25 prêmios em festivais nacionais, como a Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio, e internacionais, como os festivais de Marselha, Karlovy Vary (República Tcheca), Havana, Viena, Londres e Miami. 
Estamira nasceu em 7 de abril de 1941 e faleceu em 28/07/2011no Hospital Miguel Couto, aos 70 anos. 
Esse trabalho é a transcrição da legenda do filme postado no You Tube. Algumas falas se perdem devido aos burburinhos e ruídos. 
LEGENDAS - 
(Música)
IIIIIIIIIIIIIIIlllll 
Estamira pega o ônibus até um ponto em Gramacho, próximo do lixão. Ao chegar troca de roupa.
- A minha missão além de eu ser a Estamira é revelar é “a verdade somente a verdade”, seja a mentira, seja a capturar a mentira e tacar na cara ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem. Os inocente, não tem mais inocente, não tem. Tem esperta ao contrário. Esperto ao contrário que tem, mas inocente não.
(tomando banho) 
- Oi boa tarde, aqui ó olha aqui moleque. Vocês é comum e eu não sou comum. Poxa vida. Eu... joga água em mim, é só um formato que é comum. Vou explicar para vocês tudinho agora, pro mundo inteiro. É cegar o cérebro, o gravador sanguíneo, o de vocês... e o meu eles não conseguiram, porque eu sou formato gente-Carne-Sangue-formato, homem-par, eles não conseguiram. É a bronca deles é essa. Do trocadilho. O trocadilho .... hipócrita, safado, canalha, indigno, incompetente... sabe o que que ele fez? Mentir pros homens, seduzir os homens, cegar os homens, seduzir os homens, incentivar e os homens, depois jogar no abismo. Eita, por favor ... Foi isso que ele fez. 
- É por isso que eu tô na carne. O palhaço lá, é para que? Deixa eu mascarar ele com a quadrilha dele todinha e derrubo. Eu derrubo...
- Quer me desafiar? É ruim, heim.
- Ele é tão poderoso ao contrário, que eu até, depois de a carne velhinha desse jeito feia desse jeito, boba desse jeito ele ainda quer mais ...ai ai... É mole? Cê bobo rapaz
......
- Ah lá os morros, as Serras, as montanhas, a paisagem e Estamira, ... e Estamira. Esta Serra, Estamira tá indo tudo quanto é canto, tudo quanto é lado. Até meu sentimento mesmo ver. Todo mundo vê estamira.
- E felizmente, nesse período que eu comecei a revelar e cobrar a verdade e sabe o que que acontece, felizmente tá quase todo mundo alerta. Erra só quem quer
(musica) (9:00)
- É isso aqui é um depósito um dos restos. Às vezes é só resto e às vezes vem também descuido - o resto e descuido.
- Quem me revelou o homem como o único condicional me ensinou ele conservar as coisas e conservar as coisas é proteger, lavar, limpar e usar mais e o quanto podes.
- Se você tem sua camisa se você está vestindo, você está suado, você não vai tirar sua camisa e joga fora. Você não pode fazer isso.
- Quem revelou o homem como o único condicional, não ensinou trair , não ensinou humilhar e não ensinou tirar...ensinou ajudar
(musica)
- Miséria não, mas as regras sim. Economizar as coisas bom é maravilhoso, porque quem economiza tem.
- Então as pessoas tem que prestar atenção no que eles usam e no que eles têm, porque ficar sem é muito ruim.
- O trocadilho fez uma tal maneira que quanto menos as pessoas têm, mais eles menosprezam, mas eles jogam fora quanto menos eles têm.
- Eu Estamira, sou a visão de cada um.
- Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira. E eu me sinto orgulho e tristeza por isso. Porque eles, os “aços negativo ofensivo” suja os espaços e quer-me, quer-me e suja tudo.
- A criação toda é abstrata. “Os espaços” inteiro é abstrato. A água é abstrata, o fogo é abstrato. Tudo é abstrato. Estamira também é abstrata. 
(Trator empurra o lixo e leva um cavalo morto 14:08)
- E visivelmente, naturalmente... e se eu me desencarnar e eu tenho impressão que eu serei muito feliz e talvez e eu poderia ajudar alguém.
- Porque o meu prazer sempre foi esse, ajudar alguém ajudar um bichinho.
- Já tem 20 anos que eu trabalho aqui eu adoro isso aqui. A coisa que eu mais adoro é de trabalhar.
(VENTANIA )
(Estamira fica em pé fazendo gestos ao vento)
(Raios e trovões)
- Tem o eterno, tem o infinito, tem um além, tem um além do volume. O além dos além. Vocês ainda não viram. Cientista nenhum ainda viu o além dos além.
- E sabe de uma coisa? O homem depois que ele fica visível, depois que ele nasce, ele depois que ele desencarna, a carne se for para o chão dissolve, derrete, fica só os ossos, os ralos cabelos e aí ele fica formato a mesma coisa, mas só acontece que fica transparente, perto da gente. Meu pai tá perto de mim minha mãe, os amigos.
(corpo de um defunto coberto)
-Oh, Tô vendo! 
(Urubus) 
- A gente fica formato, transparente. Vai... vai como se fosse um pássaro voando! – Óh, lá em casa eu vejo é muito, vai muito lá em casa.
(Casinhas de pau a pique em Campo Grande, Rio de Janeiro)
Estamira orando: “- xxxx o homem o xxxx deixei olha sério e é “ (Glossolalia) 
- Bem mas não agora vamos. (Nasci no 7 do 4 de 1941), a carne, o sangue do formato, o formato o homem, par, mãe e avó. E aí então sabe o que que aconteceu, eles levaram meu pai em 43, aí nunca mais meu pai voltou. Entendeu? O meu pai chamava eu de tanto nome, sim, ele chamava eu de tanto nome engraçado, “merdinha”, “neném” “fiinha do pai”, não tem nada não. 
- Aí então depois sabe o que que eles falaram? Depois eles falaram que o meu pai morreu. Aí então minha mãe ficou para cima e para baixo para cima para baixo comigo. A ligação né? Coitada da minha mãe, mais perturbada do que eu.
- Bem, eu sou perturbada, mas lúcida e eu sei distinguir a perturbação, entendeu como é que é? E é coitada da minha mãe não conseguia mas também pudera, eu sou a Estamira, né? Se eu não der conta de distinguir a perturbação eu não sou a Estamira e eu não era e nem seria.
- E ainda teve (tosse, tosse,tosse) “deve só um real radar”, verificar (se perde)
- Ao controle remoto. Tem o controle remoto superior - natural e tem o controle remoto - artificial. E o controle remoto é uma força quase igual assim (aponta a lâmpada), mais ou menos igual à luz, a força elétrica, a eletricidade, sabe? 
Agora é o seguinte no homem, na carne e no sangue tem uns nervos. Os nervos da carne sanguínea vem a ser os fios elétricos. Agora os deuses que são os cientistas, técnicos e eles controla. Ele, ele vê aonde ele conseguiu. Os cientistas determinados, trocadilhos, ele consegue porque o controle remoto não queima, torce, o cientista tem um medidor controla igual ferro (ferro de passar roupa). O ferro ali, aquele que tem os números, tem para lã, tem para ... e é, tão simples né?!
(NATAL 2000) 
- Passei menos mal depois daquele dia, mas depois voltou a atacar. É aqui óh (aponta uma parte da barriga) torcidinha, e o controle remoto na minha força. Olha é ... a câmera artificial (digo) natural não me faz mal, é a artificial que faz mal para mim, cara. E é na costela em tudo quanto é lugar... aii. Até na cabeça. 
- O controle remoto tudo em um só. Esse controle remototem o artificial e tem o natural superior, né?
- Agora tem o registrador de pensamento. Cê já viu? Ora, você não viu rapaz? Cê tá brincando comigo. Puxa vida. É mesma coisa do... eu já te falei. É a mesma coisa do “eletroencefalograma”. Mesma coisa.
(trovão)
-Escutou? Toda hora. Trovão. E é mesmo. E vem relâmpago e lá em casa ele sai de debaixo da cama. E aí faz “pemm” bammm. E aí o Relâmpago faz barulho. Ô trem danado de bão kkkkkk. Tempestade!
- O Natal para mim, tudo o que nasce é Natal e ainda mais essa confusão misturada com o sofrimento de Jesus. Eu não tenho nada contra o homem que nasceu, entendeu? E para eles o que era bom era o Deus, depois eu revelei quem é Deus, porque eu posso, felizmente, sem “avaliação” sem “repreendimento” não, com muito orgulho, com muita honra, Estamira eu. Ó, eu posso revelar, revelei porque posso, porque sei consciente, lúcido e ciente, quem é deus, o que que é deus e o que que significa Deus e a outros mais.
(Passa um trator) 🎵
- Óh, cê quer saber? e eu não tenho raiva de homem nenhum. Eu tenho é dó. Eu tem raiva sabe do que? Do trocadilho, do esperto ao contrário, do mentiroso, do traidor, desses que eu tenho raiva, ódio, nojo.
(Passam caminhões) 
- O Jesus correu, escondeu “inteira de aço quando eu nasci”. O Jesus que eu conheço como Jesus, filho de Maria, filho de rareal, filho de rua, e eu já tive dó de Jesus, agora não tem mais dó, não tem mais dó de Jesus mais não. Eu já tive dó de fraco, não tenho mais dó de fraco também não.
(ventania)
- Se eu sou parentela com Jesus, me chamam de Jesus, me chamaram de sangue de barata, me chamam sangue de cazuzo, me chama de Maria, que é a mãe de Jesus, que Deus é esse? Que Jesus é esse? Que que isso? Cês acham que eu sou feiticeira? Eu sou feiticeira. Mas não sou Feiticeira pra farrear e nem perversa não, mas eu sou ruim, perversa eu não sou. Mas ruim eu sou. ... não vou deixar de ser ruim. Sem perversidade. Na cobrança, na cobrança, mas eu conto até três, eu conto até 10, eu tenho controle superior.
(Grito)
(Barulho de trator, cachorro passando. Capas de chuva, Estamira e colega. Chuva forte) 🎵
- O além dos além é um transbordo. Você sabe o que que é um transbordo? Veja, toda coisa que enche, transborda. Então o poder superior real, a natureza superior, contorna tudo para lá para aquele lugar, assim como as reservas, tem as reservas nas beiradas, entendeu como é que é? Nas beiradas ninguém pode, homem pode ir lá. E aqueles Astros, horroroso, irrecuperável, vai tudo para lá não sai lá mais nunca, para esse lugar que eu tô falando, além dos aléns, lá prosperada muito longe, muito bem, muito longe, muito longe. Sanguíneo nenhum pode ir lá. 
- Cê não vai entender de uma só vez, que eu sei. Por isso que ainda estou aqui visível - formato o homem par. Homem par. Não tô formato o homem ímpar. “Formato homem ímpar” é vocês, formato par é os mãe, as mães é formato par e os ímpar é o pai. 
(Céu tempestuoso) 28:49
grunhido
- Eu transbordei de raiva, eu transbordei e ficar invisível com tanta hipocrisia, com tanta mentira, com tanta a perversidade, com tanto trocadilho. Euu, Estamira.
- As doutrinas errada, trocada, ridicularizou um homem é ridicularizou a minha... É isso mesmo. Ah entendeu. 
- Fez o homem expor ao ridículo para eles. Fez o homem pior do que o “quadrupulos”. Então que deixaste os homens com o amor fosse antes de ser revelado o único condicional.
Homem com cachorros - Bora...um atrás do outro, bora, um atrás do outro... (cachorros)
Estamira apresenta o homem:
- Esse é o Pinguelias, esse é o Teobaldo. É muito conhecido aqui rapaz, na “rafa” aqui com todo mundo aqui. Pode perguntar que é o Pinguelias que todo mundo sabe e o nome verdadeiro é Teobaldo dos Santos.
- Oi tá dando mole najoão Pinguela. Nunca fui preso, não devo nada a ninguém e eu não tenho irmão nenhum, irmão que eu tenho só Deus, só. 0:30:59:04
- Mano, minha parada é aqui. Aqui meu pombo, aqui. Tá dentro daqui. (caixa com um pombo ?) 
Homem fala - Ó, a comida não falta aqui. Quem falar que falta comida aqui na “rafa” está mentindo, está mentindo, que é preguiçoso. Tá, mas se eles comem comem melhor do que eu, o melhor do que eu sei dizer para vocês, não vai acreditar, como melhor do que você, pô. Eu desço lá embaixo, apanho água gelada e tem um isopor ali que eu boto água gelada para eles (os cachorros) tomar, pô. O Nicolau, sehpolis, bolinha, catraca, nenguim (nomes dos cachorros). E onde eu moro, mas onde eu moro, mas é aqui na rampa. Mas tem muito lugar pode morar, né. Eu não vou porque eu não quero. Boto o tapete com meu jeitinho, né. Não tem aborrecimento nenhum aqui, eu conheço todo mundo, todo mundo tem intimidade comigo, tenho com eles né!
(Chama os cachorros) – Bora, um atrás do outro, um atrás do outro, pra cá. Bora, bora, Bora...
Estamira - Ah e isso daqui, dois dias isso aqui já tá cheio igual, eu não gosto de falar isso não né, mas vamos falar isso (canta uma letra inventada com a música “Águas de março”) é cisco né é caldim disso, é fruto, é carne, é plástico sim, é plástico outro e não sei o que lá mais... E aí vai azedando, é laranja, é isso tudo e aí faz isso, porque sabe... e aí imprensa azeda fica tudo danado e faz a pressão também e aí vem o sol esquenta, mais o Fogo de baixo, aí forma o gás, o gás carbônico, entendeu? Do qual o gás carbônico serve para... até para cozinha pra fazer qualquer coisa. Mass ele é forte, ele é brabo. Quem e não consegue a... tem gente que não se habitua com ele, não dá conta. É tóxico. (explicando a formação dos gases formados pela deterioração do lixo)
- Felizmente, graças aqui, eu tenho aquela casinha lá, aquele barraco. Eu acho sagrado meu barraco abençoado e eu tenho raiva de quem fala que aqui é ruim. Saio daqui e eu tenho para onde descansar é isso aqui é a minha felicidade.
(paisagem rural) 34:33
(Apresenta a filha)
- Ah entendeu ela é igualzinho pai dela, na cara
Carolina (filha): - Meu pai era grosso e temperamental, mas era bom. Era bom. (Estamira fala atrás, olha o pé o pé no prego) Era bom e gostava muito dela mas eles brigavam muito, apesar de parecer gostava muito dela (mais água). Tinha outros casos, outras mulheres. Era uma vida, né, uma vida de verdade. Aqui a gente tem que se esforçar, nessa vida, tem que se esforçar para ela continuar vivendo, que eu não acredito que ela esqueceu tudo. Acho que ela vive nesse Mundo para esquecer o que nós já vivemos. Errou muito ele. Mas como ele não está aqui pra se defender, a gente não pode estar malhando, falando nada né. 
Estamira: - E onde José estiver, ele está.
Carolina (filha): - Mas mesmo assim né, sangue é sangue, pai é pai, ele morreu e eu gostando dele.
Estamira: - Bem quando eu fui no Goiás, sabe o que que aconteceu? Foi os 2 PM para bater em mim. Ué, porque queria que eu aceitasse Jesus no peito e na raça é... e Deus no peito e na raça. Então era isso? 
Carolina (filha): - Ela é contra Jesus e contra Deus 
Estamira: - E você? e eu não sou contra, presta atenção...
Carolina (filha): - Mãe, você tem seu ponto de vista...
Estamira: - Ponto de vista, porra nenhuma. Deixa de ser otária. A gente ainda tá com isso ainda? Larga essa porra aí. 
(Discussão)
Estamira: - Jesus, eu não sou contra ele, pelo contrário, eu tenho dó dele. Eu conheço ele, vinte anos antes de nascer. Desgraça de tanta burrice...Vamos falar de vocês lá no hospital?
Carolina (filha): - Mãe, eu só tô falando do meu ponto de vista, ué.
Estamira: - Que ponto de vista? Ponto de vista, errado
Carolina (filha): - A senhora gosta do rosa e eu gosto do amarelo e aí? Não sou obrigada a gostar do azul, rosa...
(discussão)
Estamira: - Quem foi que falou que eu não gosto dele? Só não é isso que vocês pensam, não é isso...
Carolina (filha): - Mas a senhora não sabe o que eu penso.
Hernani: Olha, esse livro aqui é de Testemunha de Jeová...
Estamira: - Olha ele já leu um bocadinho e ele já
Hernani: tá mas eu leio muito livro. Eu leio de todas as igrejas, de todas as religiões. Eu faço um estudo, gente. Eu aprendo assim, de acordo com a Fé que Deus me deu ...
(Balburdia,risos)
Estamira: - papel ... até levar no banheiro
Hernani: - Tá mas e quando a pessoa usa o nome de Deus para fazer piada, para enganar os outros...
Estamira: - e pra debochar...
(Estamira sai)
Carolina (filha): - Ela não é louca, não é completamente cem por cento, entendeu? (-) Cadê ela? tá lá fora? ... Hernani: - tá na cozinha. 
Carolina (filha): - Deus me livre, mas se ela morrerá mais feliz se for no meio da rua do que numa clínica ... Ela prefere viver dois anos livre, do que viver cinco anos bem e trancada num lugar. Você sabe disso.
Hernani: - Você não tá me entendendo. Isso aí eu não vou dizer que ela vai ficar a vida, o resto da vida, ou o muito que ela tiver. Ela vai ficar pelo menos até ela, entendeu? Eu acho mais que o problema dela é sistema nervoso. 
Carolina (filha): - Mas só que pra ela ficar lá, teria que ser dopada, amarrada. Pra mim ele ( o irmão) é mais forte que eu nesse caso, se precisar de amarrar e dopar é com ele mesmo (falando para o cineasta). Eu acho judiação e não tenho coragem de deixar, entendeu?
(Família, Estamira, Hernani com o neto da Estamira na bicicleta. Filha indo pela estrada)
Estamira: (...) Ah tá dando controle remoto aqui (arrota) Aí tá vendo? Ele entra. ( sai arrotando)... 🎵
Carolina (filha): - Vivia com meu pai né, numa casa boa ,meu pai era mestre de obra, ganhava razoavelmente bem. Tinha uma Kombe, tinha na época uma Belina. Ela andava com pecinhas de ouro. Eu também tinha bastante, meu pai dava. Até então tudo bem. Vivia bem com ele, mas o meu pai judiou muito dela, muito muito muito dela mesmo, com traição levava mulher até dentro de casa dizendo que era colega, aí ela não aceitou, ela começou a brigar e xingar aí ele puxou a faca para ela, ela puxou para ele. Aquela brigalhada toda, aí ela botou ele para fora de casa. Aí de lá começou a luta, né. 
(Lixão, moscas, ruído de moscas)
Estamira: A culpa é do hipócrita e mentiroso, esperto ao contrário e entendeu? Que joga pedra e esconde a mão. Do qual antes de ontem... e eu dei uma briga com o meu próprio pai... astral. O senhor ouviu, o senhor ouviu o Toró? O senhor sabe o que é um toró? Eu estava brigando, eu estava brigando com meu pai. Ação 
(cachorrinhos) 
Estamira lanchando com os colegas de trabalho.
Estamira: - (imitando o colega) “Se eu não fosse casado e a senhora não fosse casada, eu casava com a senhora”.
mãe: - Se eu não fosse casado eu casava com ela.
Estamira: - Opa...
Outro homem (Teobaldo ?) – É a mesma coisa. Eu já estou separado e não quero saber mais de mulher não. Prefiro ficar sozinho e Deus. (Estamira: - e a punheta? ) Isso! E tocar a punheta que é melhor.
(Estamira gargalha)
(Trabalhadores trocam de roupa)
Estamira coloca uma máscara e canta: “- Colombina, onde vai você? - Eu vou dançar o Ei, ei, ei na na na nan na...lá, lá, lálá, lá 
Me respeita cabra safado, me respeita .. Já era. (tira a máscara) ... todo ano 
Homem- minha namorada é ela. Eu vou casar com essa pinguela, vou mesmo, com a Estamira. Quando ela quiser. Passar o cerol (?) Que a idade que ela tem, eu tenho quase a idade dela. Que um bom casamento, né? E não tá bom pô? Ah tá bom direito, né?
(Estamira canta em “italiano”) Chora e relembra o antigo marido: 
- Eu te amo mas você é indigno e incompetente e aonde que eu nunca mais. Eu lamento, eu te amava. Eu te querer. “A água saindo de regar, não”. Incompetente, otário, pior do que um porco sujo. A divirta-se, vá tá bom, deixa-me. E eu prefiro ou das estrelas. Anda-se. Não tem mais jeito não. Nunca mais encostarás em mim. (canta em “inglês”) 
(cachorrinhos brincam) Música de fundo. 🎵
45:00 Carolina (filha): - A minha mãe, quando ela trabalhava no Jardim Gramacho, logo quando ela começou, ela passava duas semanas, às vezes uma semana, dormindo ao relento, sei lá como, as vezes em barraca e às vezes ao relento mesmo, lá em cima, lá na rampa lá e depois vem para casa, tomava banho, se limpava toda bonitinha, ficava tudo perfeito depois voltava de novo e assim ia. Passei cinco anos assim. Eu e meu irmão um dia chamou a mãe e falou pra ela assim: “mãe, sai dessa vida, lá do lixão, lá é difícil, a pessoa tem que dormir no relento e coisa e tal, aí conversamos é perigoso pode achar um negócio que fura você, te contamina”. Ela quis sair. 
- E aí ela foi trabalhar no “Mar e terra” e quando ela saia, dias de sextas-feiras, sábados, eu acho assim, e se reunia com os colegas que trabalhava na firma, ia para beber uma cervejinha e coisa e tal e depois na hora de ir embora cada um para o seu canto, né. E ela vinha sozinha aí foi estuprada uma vez no Centro de Campo Grande. Foi estuprada, uma segunda vez, aqui nessa mesma rua que eu moro, na época não tinha nem luz aqui, aí falou, né, que o cara fez sexo anal com ela e ela gritando para com isso pelo amor de Deus, “que Deus esquece Deus”, o estuprador falava para ela e fez sexo todas as formas, que ele quis com ela e depois mandar ela “se adianta, minha tia, se adianta” mandou embora. Aí chorava, contava esse caso muito revoltada, né. Nesse tempo ela não tinha alucinação nenhuma, não tinha a perturbação nenhuma. Muito religiosa e acreditava que Deus ia ... que aquilo que ela tava passando, tipo era uma provação. Começou a alucinação assim, ela começou a chegar em casa falou assim: - “Dona Maria (que é minha sogra) você sabe quando eu chegar lá no meu quarto hoje para trabalhar, tinha feito um trabalho de macumba para mim. Agora você vê se eu quiser essas coisas, palhaçada danada, pessoal em de trabalhar, né, para adquirir as coisas.” Aí pisou na macumba, jogou a tal da macumba fora, fez não sei o que lá mais. “Eu vou acreditar nessas coisas nada, que Deus me protege, Deus é tudo, Deus que me guia e me guarda”.
- Tá bom. Aí um mês depois começou, “A tem gente que, eu tenho a impressão de que tem gente do FBI atrás de mim, eu tenho impressão que tem pessoas que tá no ... quando eu pego o ônibus e tem pessoas que tá me filmando dentro do ônibus eu não sei para que, um tipo com câmera escondida.” Um dia se sentou lá no quintal da minha sogra, aí olhou para os pés de coqueiro, olhou, olhou, olhou, olhou, aí virou para minha sogra e falou assim: “Olha, isso é que é o poder. Isso que é tudo que é real. Isso que é Real”. 
- Naquele dia acho que ela desistiu mesmo de Deus e agora é só: “Eu e Eu e o poder real” e acabou.
Estamira: - O trocadilho safado, canalha, assaltante de poder, manjado desmascarado (cospe). Me trata como eu trato que eu te trato. Me trata com o teu trato que eu te devolvo o teu trato. E faço questão de te devolver em triplo. Onde já se viu uma coisa dessa? A pessoa não pode ir andar nem na rua que mora, nem trabalhar dentro de casa e nem no trabalho nenhum, no lugar nenhum. A não senhor, meu filho, Que Deus é esse? Que Jesus é esse? Que só fala em guerra e não sei o que. Não é ele que é o próprio trocadilho? Só pra otário, vai ser esperto ao contrário, bobagem descarado. Quem já ter medo de dizer a verdade? Largou de morrer? Largou? que oras por deus, dia e noite não esse dia na boca ainda mais um negócio, largou de morrer? 
- Quem fez o que ele mandou, o que o da quadrilha dele manda, largou de morrer? Largou de passar fome? Largou de miséria? Anda.
- Não adianta! Ninguém nada vai mudar meu ser. E eu sou Estamira aqui. Estamira no inferno, no Inferno, no Céu, no caralho e tudo quanto é lugar, não adianta. Quanto mais essa desgraça, esses piolho de terra suja, maldiçoadas, excomungadas, que renegou os homens como único condicional, mais ruim eu fico, pior eu sou. Perversa eu não, mas ruim eu sou. 
- E não adianta. 
- E antes deu nasceu eu já sabia de tudo. Antes de estar com carne e sangue, é claro se eu for à beira do mundo. Eu sou a Estamira. Eu sou a beira, eu tô lá eu tô cá, eu tô em tudo o que é lugar. E todos dependem de mim. Todos dependem de Estamira. Todos. E quando desencarnar vou fazer muito pior.
(Paisagem do bairro)
Herminio: - E Seu Leopoldo, meu pai falecido, né. Eu posso contar (...) meu pai de criação, ele não deu dinheiro nenhum para ajudar minha mãe não. Então aí eu fiquei ligandoa semana toda pra esses Hospital, né, data da cabeça das pessoas pra ver se tinha vaga para poder internar ela. Eu tinha combinado com ele assim. Aí fui lá no hospital lá de Caxias, eu fui primeiro com oitaliano velho né, com o carro dele, aí conseguiu uma ambulância. Aí fomos para lá, vamos falar com o lixão, aí chegou lá, aí o bombeiro tava com medo de encostar a mão nela, porque ela queria morder e tudo, começou a gritar o nome da entidade de macumba, né daquele jeito que chega a espumar, parecendo um bicho mesmo, gritando. Aí eles pegaram com uma corda e amarraram ela com a mão para trás, assim e enrolado. Aí fomos pro hospital de Caixas. Chegou lá a menina lá falou, que “não aqui não dá para internar porque aqui não tem esse tratamento”. Tinha que levar para o Engenho de Dentro. Aí fomos chegar lá Engenho de Dentro, No Engenho de Dentro quem entrar ali não sai, né. E só com a assinatura do responsável. No caso eu era o responsável, aí comecei a preencher a ficha aí não quis aceitar. Mesmo com o bombeiro lá falando, entendeu, conversando. Aí a gente tivemos que voltar e levar ela lá para Caixas de novo. Aí mandaram eu esperar ela acordar. Quando ela foi acordando que eu fui, “mãe vamos embora” aí ela já vem me mordendo. E aí o que que eu posso fazer deixar ela lá.
Estamira: - Aquele desgraçado da família Itália, juntamente com aquele meu filho, me pegaram aqui dentro como se eu fosse uma fera, um monstro, algemado. E aquele meu filho, ficou contaminado pela terra suja, pelo baixo-nível, pelo insignificante, parecendo um palhaço lá, lá dentro do hospital. A coisa mais ridícula.
- Eu não vivo por dinheiro, eu faço o dinheiro. Eu que faço. É você que faz. Eu não vivo pra isso, por isso. Eu que faço. Não tá vendo fazer? Entendeu agora?
- O “dor do reumático” atacou. Desde de manhã. A noite inteira fecha o ano, os Astros negativos, ofensivo ele está pelejando para ver se atingir uma coisa que se chamam de coração meu, ou então a cabeça. Eles estão fudidos. Tão poderoso ao contrário, o hipócrita, o safado, traidor, mentiroso, manjado, desmascarado, que se mete com a minha carne visível. com a minha camisa sanguínea, carniça, Estamira, está fudido, tá fudido comigo, até para lá dos quintos dos infernos.
(lixão de Gramacho – urubus e garças)
Estamira: - Aí dica aí! É descarregaram uma coisa muito importante aqui, que é o de comer, enlatados e conservas. E amanhã por causa disso vou preparar uma bela duma macarronada, né, Entendeu? Macarrão lá já tem. Deixa eu ver o que que é isso. Agora no momento eu não sei nem o nome desse aqui, mas é conserva é preparado lá fora e boa, é. Aqui ó! Isso aqui também meio põe no... é isso aqui eu como purinho, palmito. Veio uma carga muito boa. Olha tá vendo. Eu ponho no molho do macarrão também tá vendo. E as vezes fica até melhor que o do restaurante. Pra quem sabe preparar, né?
(Estamira carrega suas posses catadas)
Estamira: - Tem o lúcido que dá aquele que eu escrevi lá. O lúcido é isso aqui (aponta os olhos). Tem o ciente que é o saber e do qual Jesus não sabe ler nem escrever, mas ele aprendeu toda coisa de tanto ele ver, ou lucidar. Se dá a tua Lucidez e não te deixa ver aí, Lucidez e a Lucidez. E aí Lucidez, tá bom. E o sentimento né, e consciente, lúcido e consciente. E tem o sentimento tá bom. Porque o que fica pegando, acolhendo. gravando é o sentimento. Agora por exemplo: sentimentalmente, visivelmente e invisivelmente, formato, transparente, conforme eu já lá te disse. E eu estou no lugar bem longe. No espaço bem longe. Estamira tá longe. Estamira está em todo lugar. Estamira podia ser irmã, ou filha ou esposar, dias passo. mas não é.
- Me espera aí que eu tô descendo...
- Ô lá, aonde é que eu estou. Eu estou aqui, estou lá
Estamira: -Vocês não aprendem na escola, vocês copiam. E aí vocês aprendem é com as ocorrências. Eu tenho um neto com dois anos que já sabe ler. Tenho de dois anos e ainda não foi na escola, copiar hipocrisias e mentiras charlatãs. 
- É o restante ... é o “BTG, pt1 4059” planejou... fala mais até, fala. É? 19,3 pois 19/3 pois. É (fala coisas incompreensíveis) * Glossolalia
(Segura perto do ouvido algo que parece um telefone) 
(Estamira caminha por uma rua. Se dirige ao Centro de Assistência Psicossocial José Miller)
(Interior da casa)
Estamira - A doutora passou remédio para raiva (risos). E eu fiquei muito decepcionada, muito triste, muito, muito profundamente com raiva dela falar com uma coisa daquelas. E ela ainda disse ainda sabe o que, que Deus que livrasse ela, que isso é magia, telepatia, amide e o caralho. Burro, burro. Pra quê pô, ela me ofendeu demais, depois disso. E aqui ó, olha o retorno, 40 dias, presta atenção nisso. 
- E olha e ainda mais eu conheço método, método, método, método, método, mesmo, direito, entendeu. Ela é A Copiadora e eu sou amigo dela eu gosto dela eu quero bem a ela quero bem a todos, mas ela é copiadora. E eles estão, sabe fazendo o que? Dopando quem quer que seja, com um só remédio. Não pode. O remédio. Quer saber mais do que Estamira? Presta atenção, o remédio é o seguinte, se fez bem para, dá um tempo e se fez mal, vai lá, reclama, como eu fui três vezes, na quarta vez que eu fui atendida. Ah entendeu? Mas eu não quero não, Deus, não. Eles estão confiando... o tal de diazepan então... entendeu? Se eu beber diazepan, se eu sou louca visivelmente, naturalmente, eu fico mais louco. Entendeu agora? O tal do Diazepan... Não, eles vai lá só conversa, uma conversinha qualquer e só conversa e tum. Que que há rapaz.
- Ah isso não fale não senhor! Como é que eu vou ficar todo dia, todo mês, cada marca (agendamento), eu vou lá apanhar o mesmo remédio!? Não pode. Eu proibido. Arghhh, além não pode! Entendeu agora? Eu não estou brincando, eu estou falando sério. Aqui ó, cê vê comigo aqui o remédio. E aí eu devolvi a ela, porque ela os seviciados deles, porque não sou eu, a gente pode precisar, isso está aqui, porque na Faculdade “de certo” ... quando eu fui operado aqui ó, tá enxergando? Aqui ó, entendeu? Eles me deram remédio. Eu fui lá, na Faculdade de Botafogo, faculdade do exército, em Botafogo e devolvi na farmácia, falei com o médico e devolvi, porque eu não estava precisando desse remédio, porra. Quem sabe sou eu, quem sabe é o cliente. Fica seviciando, dopando, vadiando, pra terra suja, malditas, excomungada, desgraçada, mas ainda quer que “amarra jato”, desmascarado, desgraçado, porra.
- Aí, ó! Tudo quanto é remédio que ela passou pra mim. Eu bebi. A quantia do remédio. Toda coisa tem limite. Esses remédios são da quadrilha da armação do dopante, pra cegar os homens, pra querer Deus. Deus contrário. Entendeu? Esses remédios são dopantes, pra querer deus falsário. Entendeu? 
- Ela falou (a médica) que Deus que livra-se ela? O trocadilho é ela. 
(Fotos do passado)
Angela Maria - Há mais ou menos 12 anos passados já era motorista e era voluntária no hospital e conheci uma pessoa. Uma senhora muito bacana e um dia ela chegou lá em casa com essa menina, ela é pequenininha assim, pela mão e falou assim: “Angela tem um presente para você”. Aí eu falei, não vai me dizer filhinho, que essa coisinha é essa. “É esse bichinho do mato aqui. Tô trazendo para você cuidar”. Aí eu falei assim: “De onde ela saiu?” Ela então contou a tua história da menina, que a menina vivia na rua com a mãe, a mãe catava lixo e que o irmão dela mais velho não queria aquela vida para menina, era muito preocupado com isso, aí ela falou; “Vou marcar uma reunião com os irmãos, pros irmãos te conhecerem, que há um impasse, a irmã quer botar a menina no colégio interno, o irmão acha que ela deve ir na casa de família pra ter um lar”, mas o irmão era mais velho decidiu que ele que deveria decidir e tudo bem, fiquei com a menina, até então eu só ouvia falar de Estamira, que ela é de rua, que ela mendiga, que ela catava lixo, que vivia disso. E aí o ano depois comecei a levar a menina de novo pra mãe ver. O encontro foi dramático demais, demais. A menina tremia igual “vara verde” quando viu a mãe. Eu falei pra mãe, (eu tive que mentirpara mãe me respeitar um pouco, não querer tomar menina, né, a gente tinha aquele medo ainda) Então eu falei pra a mãe, que era uma assistente social de um colégio interno do governo e que o juiz que me deu posse da menina, de tirar a menina da rua, inventei uma historinha, com consentimento do Hernani naturalmente, para a mãe acreditar e não querer levar a menina na marra de volta. Ela queria muito uma família, um lar. Então essa daqui, ficou com muita garra a nós, muito mesmo.
Estamira - Oi Maria Rita, entra aqui! 1:08:28:06
Maria Rita – Boa tarde!
Estamira - Boa tarde, cara do pai! Tem medo! Por causa de que que demorou esse tanto?
Maria Rita – Foi o carro que enguiçou! 
Estamira - A senhora tá bem? 
Maria Rita – Tô!
ENTREVISTA:
Maria Rita (filha de Estamira) - Olha, para mim, que eu vivi lá no Jardim Gramacho, é um local de trabalho e lá eu tenho imagem um pouco, um pouco macabra daquele lugar onde eu vivi, porque eu vivi muita coisa. A maioria da parte que eu vi lá foi ruim.
- Eu era uma que catava entre os lixos. Aí, eu acho que eu tinha uns seis anos, que eu fui morar com essa minha madrasta eu tinha 7 para 8, já tava fazendo 8. E era horrível. Eu tinha que pedir, pedir muito. Trabalhar muito, para conseguir um sanduíche, que eu lembro. É muito, é muito triste sabe, porque eu sai de perto da minha mãe, meu irmão me tirou. E eu já com a cabeça, eu cresci pensando em ajudar ela, mas ela é um pouco difícil de querer se ajudar, viu. Sinceramente se eu pudesse eu não tinha saído de perto da minha mãe, não tinha mesmo. Mas se aquele Gramacho continuar, pode contar que ela vai morrer lá, pode certeza.
Estamira: - Vamo preparar o macarrão?
Maria Rita: - Vamo preparar o macarrão. Kkkk Eu vou ser sincera, eu queria cozinhar igual minha mãe, tá?! Eu queria cozinhar igual a minha mãeporque minha mãe cozinha bem.
Estamira: - Não chega a tanto!
(Herminio e filhinho conversam)
Maria Rita: - Minha mãe ela tá, acho que com medo do mundo, porque ela falou uma vez para mim, que acha que Deus não existe, que quando fala em Deus ela fica nervosa. Ela chegou acho que determinado tempo da vida dela, que se apagou dentro dela a fé. O que falta da minha mãe é fé! 
Hernani: - Depois que, né , o que ela entende como esse real poder, é o Poder Supremo, no caso né, que Deus é a posição, né, que é Supremo, entendeu ...(Estamira no fundo: Deus porra nenhuma...Não sabe nem o que que é Deus)
Aí no livro ... ele fala né, ali pro final ele fala, façamos o homem à nossa imagem e semelhança e no Apocalipse, no final da Bíblia do novo testamento. Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Jeremias 17,9. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho, mas o senhor fez cair sobre eles a iniquidade de todos nós, a ciência que senhor Jesus 
Estamira: - Entendeu? Meu ouvido não é privada. Otário
Hernani: (falando junto) – Os piedosos, reservados os justos (...) Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da Morte, provérbios 14:12 Porque qualquer que guarda toda a lei deslizar em um só ponto com ela (...) hein
(Estamira sai da casa e vai fumar contrariada com o filho)
Estamira: - (...) dentro da minha casa, dentro da minha casa, porra. Eu não caguei essa casa não. Não foi cagado não. Fui trabalhar suado, dia e noite, no sol e na lama, vai pro inferno, vai pro caralho, vai tomar no cu, vai pro caralho, vai para o inferno, vai pro céu, vai pro caralho. Ele fazendo cu das suas desgraças, Vai pro céu, vai pro inferno, vai pro caralho ...
Hernani pega a bicicleta para ir embora: - o resultado de coisa, né...
Estamira: - Vai tomar no cu, baixo nele imundo...
Hernani: - Bom, Shalon, Adonai. (sai com a bicicleta)
Estamira: vai tomar no rabo e vai tomar no seu cu. Entra dentro do cu da desgraça, das suas desgraças.
- Esses “pastor” todinhos é vigarista. Bando de vagabundo. Todos eles, pior do que os padres, pior e absoluta, consciente, lúcido e ciente, absoluto...
Estamira: - Sou louca, sou doida, sou maluca, sou advogada, sou essas quatro coisas, mas, porém, consciente, lúcido e ciente sentimentalmente. Só comecei a revelar em 86. Revelar de verdade mesmo porque era muito abuso. Por isso que eu tô revelando que o Cometa tá dentro da minha cabeça. Sabe o que é que significa a palavra Cometa? Comandante.
- O comandante natural. O comandante. E então conforme eu ...( glossolalias) 
- A constelação em todo meio... eles ficou com raiva do Cometa, ele está com raiva do Cometa.Há determinados astros perversos, astros negativos, está com raiva do Cometa, porque o cometa achava que eu não deveria procurar uma carcaça como a minha, aí volta lá, procurar uma carcaça, como sabe a Maria israelense, mãe de Jesus, que concebeu Jesus. Jesus, filho de Davi carvalhense, “ ...( glossolalias)
- Ah, eiii, mandei a controlar, mantenha controla (respira) 
- E o cometa é grande, é por isso que eu passo mal, a carcaça, a carne. É porque ela é muito grande. Ele não é do tamanho que vocês veem. Daqui ele não é lá no alto espaço, não. Lá no alto espaço é o reflexo. Ele é aqui embaixo, ele não é lá em cima não, é aqui embaixo. É lá o que cês vê é o reflexo. A lua é lá no morro, oh. Não é lá assim não, é o reflexo. É o contorno. Aiiiii ... Mantém o controle aí “cristiano”, mantém o controle aí “cristiano”, aiii, aiiii...
(Estruturas de madeira, barracos, pegando fogo)
(Estamira caminha entre destroços. Olha o incêndio)
(Lixão de Gramacho)
Estamira: E isso aqui é um disfarce de escravos disfarçados de libertos. Olha a Isabel ela soltou eles, né... e não deu emprego pros escravos. Passam fome, come qualquer coisa, igual os animais, não tem educação é aí então... é muito triste
(Natal / 2001)
Estamira: - Foi combinado alimentar-vos o corpo com o suor do próprio rosto. Não foi com sacrifício. Sacrifico é uma coisa, agora trabalhar é outra coisa. Absoluto, absoluto. Eu, a Estamira, que vos digo ao mundo inteiro, a todos, trabalhar, não sacrificar. 1:19:01:03
João: - Olha só, eu não vou te “ judiar” não, tá... (?)
Estamira: - Não, não. Só teve um dia que me estranhou, né?
João: - Quem? Eu estranhei a senhora? (rs) Então távo bebado
Estamira: - Eu vou falar um negócio aqui...
João: - Vai falando... rs. O que vai passar mal aqui
Estamira: Peraí, calma. Calma, já chega, peraí. Peraí um pouquinho. Deixa eu falar uma coisa séria aqui.
João: Fala, tem grilo, não...
Estamira: - Não. Eu tava verificando uma coisa ...
João: - pode falar...
Estamira: - Oh, João, por favor, calma...
João: - pode falar, pode falar, Estamira...
Estamira: - Uma coisa séria que eu vou falar. 
João: - Tá, então...
Estamira: - Não é por mim, ....
João: Ué, não tá falando nada...
Estamira: - Eu tô falando aqui João, por favor...
João: - Eu vou sair fora, Marcos eu tô saindo, Marcos...
Estamira: - Se “arretira”, por favor? 
João: - Tô saindo fora, Marcos (sai) 
Estamira: - Pois eu, eu não estou orientando ninguém, nem quero orientar ninguém, eu estou alertando, porque eu tenho a impressão ...
João continua falando de perto: - ... eu considero todo mundo, respeito todo mundo, entendeu ... Respeitador, sabe? ( João vai se deitar perto de um fogaréu e se cobre).
Estamira: - Todo dia ele vai se deitar lá e quando eu não o deixo deitar lá, com medo dele se queimar, ele acha ruim. E eu fico com dó demais, ele é muito bom o João, entendeu? Eu tenho muito dó dele, ele é muito bom. Ele sabe ler e escrever muito. E mesmo assim acontece essas coisas. É o trocadilho que fez isso com as pessoas. O homem não pode ser incivilizado todos homens tem que ser iguais, tem que ser comunista. Comunismo, comunismo é igualidade e não é obrigado todos trabalhar no serviço só, não é obrigado a todos comer uma coisa só, mas a igualidade é a ordenança que deu quem revelou o homem o único condicionado. E o homem é o único condicional, seja que cor for. E eu sou a Estamira, eu não importo. Eu podia ser da cor que fosse. Eu formato homem par, mas eu sou a Estamira, mas eu não admito, eu não gosto que ninguém ofende corese nem formosura. O que importa, bonito é o que fez e o que faz. Feio é o que fez e o que faz. Isso é que é feio. A incivilização que é feio. Comunismo superior, o único comunismo.
(Noite, focos de fogo. Cenas do lixão)
João: - Eu quero mais é paz na minha vida. Paz. Sofrimento nunca mais. Um feliz Natal. Um feliz Natal, mais nada. 
(Estamira deita e dorme )
(Casa da Estamira)
Estamira: - Eu Estamira, visível e invisível. E eu tenho muitos sobrenomes e esses sobrenomes vem de todo lugar. Lamentavelmente, o pai da minha mãe é famílias de Ribeiro, tudo polícia, tudo General, tudo não sei o que, né e ele é estuprador. Ele estuprou a minha mãe o e fez coisa comigo também (o avô).
- A minha depressão é imensa, a minha depressão não tem cura. 
- É. E quando eu tinha nove anos e eu pedi a ele para comprar uma sandália para mim, para mim ir na festa que eu queria a sandália, ele falou que só comprava se eu deitasse com ele. É, e eu não gosto pai da minha mãe, porque ele me pegou com 12 anos e me trouxe para Goiás Velho e lá era, era um bordel. Era um bordel, sabe eu me prostituí lá. Era da filha dele. Aí o pai do Hernani (Miguel Antonio) ele me conheceu lá onde meu avô me deixou, lá no bordel, aí eu já tinha 17 anos. Ele gostou demais de mim. Me deu no meu pé, arrumou uma casa e pôs eu dentro da casa. Mas, o pai do Hernani, ele era muito cheio de mulher e eu peguei não aguentei. Larguei tudo dentro da casa, só foi eu e o menino. Foi eu e o menino de vir embora para Brasília.
- Eu tava lá na casa da tia lá em Brasília. Apareceu o pai da Carolina lá, o italiano e levou eu na casa dele aí deu certo e depois nós foi morar junto. E ele também é cheio de mulher. Eu vivi com ele doze anos, tive a Carolina e fiz uma cesariana, nasceu o invisível e eu acho que é o que mais me ajuda é esse que nasceu invisível.
(Natal 2002) 1:26:19
Estamira: Eu heim, que deus é isso? Deus estuprador, deus traidor, trocadilho, que não respeita mãe, que não respeita pai. Eu, óh, cadê sua tia Maria Rita, cadê o Hernani, que mora bem ali na casa da sua mãe? Não adianta, não adianta (cantando) “nem tentar me esquecer, que durante muito tempo em tua vida eu vou viver”...
João: - “Se você pretende saber quem eu sou” / Estamira: “eu posso lhe contar” Os dois: - “nas curvas da estrada de Santos você vai me conhecer” “Se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo” ...
Menino: - Ô moça, porque, que você fica tanto assim desgraça de Deus, assim, que que ele fez pra senhora? 
Estamira: - O que é que você sabe de Deus? O que é que você sabe de Deus? Você tá “cego”. Eu achava que você fosse mais inteligente. Você tem apenas dez anos. Quando você ficar grande, você vai ver. Tomara que você ficar grande. Tomara que você fica grande.
Menino: - Mas sem ele você não poderia estar aqui agora, também.
Estamira: - O quê? 
Menino: - Mas sem ele você não poderia estar aqui agora.
Estamira: - É ruim. Se me respeita e eu não quero perder a paciência. Eu não quero perder a paciência, porque você é meu neto. Está com deus enfiado no teu cu? Deus tá enfiado no seu cú? Pra falar isso pra mim? Se quer saber? Eu tenho 62 anos. Você quer saber mais de deus do que eu? Eu vou na tua casa que eu tenho dó da sua mãe. Eu tenho dó da sua mãe, porque fui eu que pari ela. Não foi deus que pariu a sua mãe, não, foi eu, fui eu que pari. Aqui ó, aqui ó que eu pari, aqui que eu pari, foi aqui que eu pari sua mãe, foi aqui ó (...) Eu vou na sua casa por causa disso, senão eu não ia não. Eu tô aqui nesse negócio por causa disso. Foi eu que pari sua mãe, entendeu? Não foi deus não. Quem pariu sua mãe foi eu...
Estamira: - Se pega teu deus e vai pro caralho, vai pro inferno, vai pro céu, vai pro caralho.
(A filha Carolina se aproxima da casa.)
Almoço em família.
Estamira: - (cantando) “Eu hoje estou tão triste eu queria tanto conversar com o capeta” ....
(Conversas) 
Estamira: - “Você é doida demais, você é doida demais, você é doida demais...”
(Conversa da família) (Filho conta pra mãe que a avó abaixou as calças pra mostrar de onde pariu a Carolina)
Carolina; - Se ela começa a falar, você cala a boca e fica quieto. 
 
Estamira: - Eu sou perfeita. Eu sou perfeita. Meus filhos são comuns. Eu sou prefeita. Eu sou melhor do que eu já fui e me orgulho por isso. Se quiser fazer comigo pior do que fez com o tal de Jesus, pode fazer. A morte é maravilhosa! 
(Noite. Chuva) 
Estamira: - A morte é dona de tudo, A morte é dona de tudo. Deus, quem fez deus foram os homens.
Carolina: - Mamãe como é que faz para fazer um cafezinho rapidinho?
( Estamira cantando, grita) Silêncio. 
(No ônibus) 
Estamira: - É engraçado, eu não sei se é por incrível que pareça a palavra certa, o que eu mais sinto falta na minha vida é da minha mãe! O que eu mais lembro na minha vida, minuto por minuto, é a minha mãe!
- Um dia, minha mãe me perguntou assim: “Nené, você já viu eles?” e eu falei , que eles? ela falou: “eles é uma porção deles”...Era os aços que atentava ela. Os aços ofensível, negativo, que atentava ela. E eu sou do aço positivo, não sou do aço negativo. Eu sou do aço positivo, útil. 
Carolina: - O meu pai judiou muito dela. Ele disse para minha mãe assim: “Ou você interna a sua mãe ou a gente não vive junto”.
Estamira: - Primeiro ele chamou a ambulância para levar minha mãe. Tinha uma mulher com camisa de força Aí eu reajo, falou “não essa daí é camisa de força, não precisa. “Tá bom!” Aí ele ficou me atentando, me atentando, me atentando, até que fez eu levar a minha mãe lá no Engenho de Dentro. 
(Trem) 
Estamira: Nós fomos de trem... Coitada da minha mãe. Inocente. Tá bom. Aí deixei ela lá no hospício.
(Imagem do Hospício – Hospital Psiquiátrico Pedro II, Engenho de Dentro – RJ, anos 70). 
- Quando foi na quinta-feira eu fui lá visitar ela, ela tava com o braço todo roxo. Eu falei, “ que que foi isso mãe”? Ela falou, “ foi o desgraçado”, deu choque nela, bateu nela, ela tava com o braço tudo roxo. 
(Rita Miranda Coelho, mãe de Estamira, 1967 – foto) 
Carolina: - a minha avó falava assim, chamava ela de Estamira, “Estamira, tenha dó de mim me tira daqui, Estamira”
(Cenas do Hospital do Engenho de Dentro)
Estamira: - Aí eu fiquei com dó demais dela, mas deixei ela lá, se entendeu? Falei, “depois eu venho mãe, venho ver a senhora, buscar a senhora”.
Carolina: - A partir do momento que ela largou meu pai, a primeira coisa que ela fez foi me deixar lá na casa de não sei de quem no morro lá, então buscar minha vó no dia seguinte. E a minha avó sempre seguiu com a gente até morrer. Então para que eu nunca carregasse isso que ela carrega até hoje, eu já sabendo dessa história, eu jamais tentei fazer isso. Até hoje ela carrega isso com ela. Ela chora até hoje por isso.
(Atendimento – chamada: Estamira)
Estamira e a filha entram no consultório.
(Cena – casa ) 
Estamira: - Ai, ai...Como é que a vida é dura, né gente? A vida é dura, dura, dura, dura. A vida não tem dó, não. Ela é mal. Por mais que a gente peleja, que a gente quer bem, que a gente quer o bem mas fica destraviada.
- E aí ó tem coisa zoando aqui ou no meu ouvido. É tiiiinnnnn...
- E eu acho que é os remédios, entendeu? Porque eu bebo muito remédio, mas muito remédio e isso tudo é dopante, esses remédios e eu acho que é por isso que eu tô com a língua assim ó! (tremores nos pés)
- Desgovernada e eu tô desgovernada. Sabe o que que é uma pessoa desgovernada? É uma pessoa nervosa assim, querendo falar sem poder, agoniada e eu não sei o que que eu faço. Eu já tive pensando, parar um ano sem beber o remédio. Porque tem vez que a minha cabeça tá aparecendo sabe o quê? Um copo cheio de Sonrisal, fervendo assim ó!
(Cena com gatos brincando) 
 Estamira - (lendo) Atesto que Estamira Gomes de Souza, portadora de quadro psicótico de evolução crônica, alucinações auditivas, ideias de influências, discurso mítico. Deverá permanecer em tratamento psiquiátrico continuando, continuado. 
- Bem. É a deficiência mental e eu acho que tem é quem é imprestável, né? Ora, não tem problema mental... Bem, perturbação também é, né? Perturbação, depoisestive pensando, perturbação também é, mas não é deficiência, né? Perturbação é perturbação. Qualquer um pode ficar perturbado
Carolina: - A minha irmã Maria Rita é uma grande preocupação para minha mãe, né, porque não tá com 21 anos e ainda não conseguiu, acho que não conseguiu se achar.
Maria Rita: - Eu não condeno nenhum dos três não, mas eu falo mesmo. Eu de vez em quando eu tenho uma mágoa deles. Minha mãe criou os dois passando fome eu achava que ela tinha que ter me criado também e ela tinha condições ficar comigo sim, entendeu? Só que as pessoas não via isso. Eu via, eu acho que eu sobreviveria com a minha mãe. A Ângela falou assim para mim “você quer ir lá ver sua mãe” eu falei assim “quero”. E aí eu cheguei, olhei para ela assim, ela tava deitada, aí ela ficou me olhando, sabe. Eu lembrava da minha mãe, eu lembrava da minha mãe, Lembrava que eu tinha uma mãe, mas eu fiquei um tempão sem ver minha mãe. Aí, quando eu vi minha mãe, eu lembro como se fosse hoje, ela tava sentada assim na varanda, no chão da varanda, aí quando eu quando eu cheguei, ela tava lá e falou: “olha lá sua mãe”. Aí, meu irmão: “vai lá ver sua mãe”.
- Aí, quando eu olhei minha mãe eu fiquei com muito medo dela. Aí, me deu um medo deles me tirar da Ângela e eu vou ter que voltar para ela. E aí eu fiquei com medo, eu fiquei assim, “caramba eu tenho uma mãe assim”. Até hoje é confuso. Eu não sei o que que é bom, não sei se foi bom viver com a Ângela, não sei se foi bom ter deixado a minha mãe...
- É da minha mãe, a minha mãe Estamira, ela merece muita coisa, ela vai conseguir ainda. (Mãe e filha abraçadas) 
Carolina: - Depois que ela foi aquela foi para o lixão lá de Caxias, eu acho que ela não... Ela melhorou muito, assim, em relação aos distúrbios. Às vezes ela fala certas coisas, que parece até se verdade, tem que ....se fica, te deixa balançado, mas o meu irmão não acha isso, meu irmão acha que ela é totalmente possuída por uma força maligna ...
Hernani, passeando de bicicleta com os dois filhos na garupa: - Hoje minha mãe está do jeito que ela tá, né. Depois tudo que ela passou na vida. Eu não tô julgando ela, não tô, não tenho raiva dela, o que eu tô fazendo, que eu tô, não tô, assim, procurando mais ir na casa dela, nem conversar com ela, porque toda vez que eu vou falar com ela, ela blasfema contra Deus. Ela misturou um montão de, acho que, Deus e religião. Clinicamente falando, ela completamente, né, é louca, né? Tem até um laudo médico. Mas aí espiritualmente, parece – tem pessoa que acredita e quem não acredita – tem uma influência demoníaca, era demônio, né. (?) que faz ela ficar daquele jeito. Então aquilo tá me cansando, me chateando muito. Então eu falei com Deus na minha fé, na minha oração, falei assim, eu só quero voltar a ... se ter com minha mãe, na casa dela, lá em casa. Acontecer, me dá a certeza de que ela tá perdoada, liberto e curada pelo senhor, porque o senhor pode tudo, né?
(Hernani na Igreja Adventista do Sétimo Dia)
(Lixão de Gramacho. Homens dormindo. Cavalo e cachorros)
Estamira - E os homens tá pior do que os quadrupedes. São uma decepção de todos os fatos. A decepção de quem venerar o homem como o único condicional. É mole? Me dá a certeza, me dá vergonha, me dá nojo... Quê que eu faço? Olha, eu já tive vontade de desencarnar. Eu falei, mas se eu desencanar, eu não cumpro a minha missão. A minha missão é revelar. Seja lá quem for, doa a quem doer. A minha cabeça trabalha muito. Mas, o trocadilho fez com que, eu me separasse até dos meus parentes e eles não tão vendo também não. Eles estão igual Pilates fez com Jesus. 
- Já me bateram com pau para mim aceitar deus, mas esse deus desse jeito, esse deus deles, esse deus sujo, esse deus estuprador, esse deus assaltante em qualquer lugar, de tudo que é lugar esse deus arrombador de casa? Com esse Deus eu não aceito. Nem picadinha a carne, nem a minha carne picadinha, de faca, de um facão de qualquer coisa e eu não aceito. Não adianta!
- Eu sou a verdade, eu sou da verdade. Os homens é o superior na terra, o bicho superior. Homem também é bicho, mas é superior. Trocadilho fez isso. Agora vou revelar, quem quiser matar pode matar, não mataram Jesus? Jesus não é bom demais agora, depois que ele morreu? Mas eu não, comigo .... A solução é fogo. A única solução é o fogo. Queimar tudo os espaços com seres e por outros seres nos espaços. 
Estamira: - A terra disse, ela falava, ela agora não que ela tá morta. Ela disse que então ela não seria testemunha de nada. E olha o que aconteceu com ela? E eu fiquei de mal com ela uma porção de tempo. E falei para ela que até que ela provasse o contrário, ela me provou o contrário. A terra. E ela me provou o contrário, porque ela é indefesa. A terra é indefesa. A minha carne, o sangue, é indefesa como a terra.
- Mas eu, a minha Áurea não é indefesa, não.
- Fiquei mal do espaço todinho e eu tô no meio. Pode queimar e eu tô no meio, invisível. Se queimar meu sentimento minha carne e o meu sangue, se for para o bem, se for para verdade, para o bem, pela lucidez de todos os seres, pode ir até agora, neste segundo. Eu agradeço ainda.
(Ondas do mar. Estamira anda na areia da praia)
- E eu Estamira, eu não concordo com a vida. Eu não vou mudar meu ser. Eu fui visada assim, eu nasci assim e eu não admito as ocorrências que existe, que tem existido com seres sanguíneos, carnívoros, terrestres. Não gosto de erros, não gosto de suspeitos, não gosto de judiação, de perversidade. Não gosto de humilhação, não gosto de imoralidade.
- O fogo ele está comigo agora, ele tá me queimando. Ele está me testando. O sentimento, todos os astros, tem gente ... Este Astro aqui, Estamira, não vai mudar o ser, não vou ceder o meu ser a nada. Eu sou a Estamira e tá acabado é a Estamira mesmo. (praia e banho de mar, cai na onda)
Estamira: - Eu nunca tive sorte. A única sorte que eu tive, foi de conhecer o senhor Jardim Gramacho, o Lixão, o senhor cisco monturo. E eu amo, eu adoro, como eu quero bem meus filhos, então eu quero bem aos meus amigos. Eu nunca tive, aquela coisa que eu sou, sorte boa. 
(Estamira brinca na praia e conversa com os amigos. Som do mar ao fundo. )
(Cena final. Estamira frente as fortes ondas do mar! )
Estamira: Tudo o que é imaginado, tem, existe. É. Sabia que tudo o que é imaginado existe e É e tem? É isso mesmo! 
(FIM)
Transcrito por Flavia Dias Tavares. Faculdade de Psicologia – Estácio de Sá. 
NOTA: 
ESTAMIRA morreu por falta de atendimento médico imediato para tratar uma infecção no braço. R.I.P.
 (Fonte: https://tvbrasil.ebc.com.br/cinenacional/episodio/estamira)
Musicas do Filme:
· Música, Janela de Apartamento, Artista Décio Rocha. Álbum - Talvez Não Seja Assim
· Música, Valse, Artista Antonio Carlos Jobim. Álbum - Urubu
· Música, Pra Quê Sapiens, Artista Baixo Calão. Álbum - Atmo Mediokra
· Música, Intro, Artista Froid. Álbum - Teoria do Ciclo da Água
· Música, Rio – Niterói, Artista Décio Rocha. Álbum - Talvez Não Seja Assim
* Glossolalia – PSICOPATOLOGIA - distúrbio de linguagem observado em certos doentes mentais que creem inventar uma linguagem nova.
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