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Biblioteca 549770 PENAL 2 PLANO DE AULA

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DIREITO PENAL II- Concurso de Pessoas
Espécies de crimes quanto ao concurso de pessoas:
a) monossubjetivos ou de concurso eventual: são aqueles que podem ser praticados por um ou mais agentes. Constituem a maioria dos crimes previstos na legislação penal. Ex.: furto, roubo, homicídio.
b) plurissubjetivos ou de concurso necessário: são os que só podem ser praticados por uma pluralidade de agentes em concurso. Ex: quadrilha, bando, rixa.
Espécies de crimes de plurissubjetivos:
(i) de condutas paralelas: as condutas auxiliam-se mutuamente, visando a produção de um resultado comum. Todos os agentes unem-se em prol de um objetivo idêntico, no sentido de concentrar esforços para a realização do crime. Ex. quadrilha ou bando (art. 288, CP).
(ii) de condutas convergentes: as condutas tendem a encontrar-se, e desse encontro surge o resultado. Não se voltam, portanto, para a frente, para o futuro, em busca da consecução do resultado delituoso, mas ao contrário, uma se dirige à outra, e desse encontro resulta o delito. Ex. bigamia (art. 235, CP).
(iii) de condutas contrapostas: as condutas são praticadas umas contra as outras. Os agentes são, ao mesmo tempo, autores e vítimas. Ex. crime de rixa (art. 137, CP).
Espécies de concursos de pessoas:
a)Concurso necessário: refere-se aos crimes plurissubjetivos, os quais exigem o concurso de pelo menos duas pessoas. A co-autoria é obrigatória, podendo ou não haver a participação de terceiros.
b)Concurso eventual: refere-se aos crimes monossubjetivos, que podem ser praticados por um ou mais agentes. Quando cometidos por duas ou mais pessoas haverá co-autoria ou participação, dependendo da forma como os agentes concorrerem para a prática do delito.
Autoria – Teorias
a) Teoria Unitária: todos são considerados autores, não existindo do partícipe. Autor é todo e qualquer causador do resultado típico, sem distinção. Baseada na teoria da conditio sinequa non (teoria da equivalência dos antecedentes)– qualquer contribuição, maior ou menor, para o resultado é considerada sua causa.
b)Teoria Extensiva: toma por base a teoria da equivalência dos antecedentes e não faz qualquer diferenciação entre autor e partícipe: todos são autores. Admite a existência de causas de diminuição de pena, com vistas a estabelecer diferentes graus de autor. Surge a figura do cúmplice, ou seja, o autor menos importante – aquele que contribuiu de modo menos significativo para o evento.
c) Teoria Restritiva: faz diferença entre autor e partícipe. A autoria não decorre da mera causação do resultado, pois não é qualquer contribuição para o desfecho típico que se pode enquadrar nesse conceito. Três vertentes:
c1) Teoria ou critério objetivo-formal: somente é considerado autor aquele que pratica o verbo, isto é, o núcleo do tipo legal. É quem mata, subtrai.
Autor é quem realiza a conduta principal; partícipe será aquele que, sem realizar a conduta principal, concorre para o resultado. Ex. mandante e a quem executa o crime.
Teoria adotada pelo Capez.
c2)Teoria ou critério objetivo-material: autor não é aquele que realiza o verbo do tipo, mas a contribuição objetiva mais importante. Trata-se de critério gerador de insegurança – fica na dependência exclusiva daquilo que o intérprete irá considerar relevante.
* não é adotada
c3) Teoria do domínio do fato: autor é aquele que detém o controle final do fato, dominando toda a realização delituosa, com plenos poderes para decidir sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. Não importa se o agente pratica ou não o verbo núcleo do tipo legal, o que a lei exige é o controle de todos os atos, desde o início da execução até a produção do resultado.
Assim, o mandante, embora não realize o verbo núcleo do tipo, deve ser considerado autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua consumação, determinando a prática delitiva.
Teoria defendida por Wessels para quem: autor é quem dirige a ação, tendo o completo domínio sobre a produção do resultado, enquanto partícipe é um simples concorrente acessório.
No Brasil: Damásio, Alberto Silva Franco, Luiz Flávio Gomes.
Formas de concurso de pessoas:
(i) Co-autoria: todos os agentes, em colaboração recíproca e visando ao mesmo fim, realizam a conduta principal.
Ocorre co-autoria quando dois ou mais agentes, conjuntamente, realizam o verbo núcleo do tipo.
Poderá haver uma divisão dos atos executivos.
Ex.: no delito de roubo, um dos co-autores emprega violência contra a vítima e o outro retira dela um objeto.
* não cabe co-autoria em crime omissivo próprio – se duas pessoas deixam de prestar socorro a uma pessoa ferida, podendo cada uma delas fazê-lo sem risco pessoal, ambas cometerão o crime de omissão de socorro.
(ii) Participação: partícipe é quem concorre para que o autor ou co-autores realizem a conduta principal, o seja, aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado.
Ex. o agente que exerce a vigilância sobre o local para que os comparsas realizem o roubo.
Diferenças entre autor e partícipes:
a) autor: é aquele que realiza a conduta principal descrita no tipo incriminador.
b) Partícipe: aquele que, sem realizar a conduta descrita no tipo, concorre para sua realização
Exceções pluralísticas ou desvio subjetivo de conduta: a teoria pluralística foi adotada, como exceção, no § 2º do art. 29, do CP.
Ex.: motorista conduztrês ladrões a uma residência para o cometimento de um furto. Enquanto aguarda no carro, os outros praticam estupro e matam. O partícipe (motorista) responde por furto, os demais latrocínio e estupro.
* Outras exceções no Código: art. 126 (provocador do aborto) e a gestante pelo artigo 124.
Natureza jurídica da participação: de acordo com a teoria da acessoriedade, a participação é uma conduta acessória à do autor, tida por principal.
Não existe descrição típica para quem auxilia, instiga ou induz outrem a realizar a conduta principal, mas tão-somente para quem pratica diretamente o próprio verbo do tipo.
O art. 29, do CP funciona como uma ponte entre o tipo legal e o partícipe.
É chamada de norma de extensão ou ampliação da figura típica – opera-se uma adequação típica mediata ou indireta – norma de extensão pessoal e espacial. Pessoal: porque estende o tipo, permitindo que alcance outras pessoas além do autor; e espacial, porque o tipo é ampliado no espaço.
Espécies de acessoriedade:
a) mínima: basta ao partícipe concorrer para um fato típico que não seja ilícito. Assim: quem concorre para a prática de um crime de homicídio amparado pela legítima defesa responde pelo crime – só importa saber se o fato principal é típico.
b) limitada:o partícipe só responde pelo crime se o fato principal é típico e ilícito.
c) extremada: o partícipe somente é responsabilizado se o fato principal é típico, ilícito e culpável – não responderá por crime algum se tiver concorrido para a atuação de um inimputável.
D) hiperacessoriedade: o fato deve ser típico, ilícito e culpável, incidindo ainda sobre o partícipe todas as agravantes e atenuantes relativas ao autor principal – responde por tudo e mais um pouco.
* Teoria adotada (Capez): teoria da acessoriedade extremada (ou máxima). A culpabilidade necessita da culpabilidade do sujeito ativo, para ser aplicada.
Autoria Mediata:
Autor mediato é aquele que se serve de pessoa sem condições de discernimento para realizar por ele conduta típica. Ela é usada como mero instrumento de atuação, como se fosse uma arma.
Ex. ‘a’ obriga ‘b’, mediante grave ameaça, a ingerir substância abortiva. “A” é o autor mediato do aborto; e “b” terá culpabilidade excluída pela inexigilidade de conduta diversa.
A autoria mediata pode resultar de:
ausência de capacidade penal da pessoa da qual o autor mediato se serve. Ex. induzir inimputável à prática do crime.
coação moral irresistível. Se a coação for física, haverá autoria imediata, desaparecendo a conduta do coato.
provocação de erro de tipo escusável. Ex.: o autor mediato induz o agente a matar um inocente, fazendo-o crer que estavaem legítima defesa.
obediência hierárquica: o autor da ordem sabia que esta é ilegal, mas se aproveita do desconhecimento de seu subordinado.
* em todos esses casos, não foi a conduta do autor mediato que produziu o resultado, mas a de pessoa por ele usada como instrumento de seu ataque.
Requisitos para o concurso de pessoas:
a) pluralidade de condutas: exige-se no mínimo, duas condutas, quais sejam, duas principais, realizadas pelos autores (co-autoria), ou uma principal e outra acessória.
b) relevância causal de todas elas: a conduta deve contribuir para a eclosão do resultado.
c) liame subjetivo ou concurso de vontades: unidade de desígnios – vontade de todos de contribuir para a produção do resultado, sendo o crime produto de uma cooperação desejada e recíproca.
Não é necessário que as vontades se encontrem para a produção do resultado, não se exige prévio acordo, bastando apenas que uma vontade adira à outra. Ex.: babá abandona a criança em uma área de intensa criminalidade, objetivando seja ela morta. Será partícipe do homicídio, sem que o assassino saiba que foi ajudado.
d) identidade de infração para todos: em regra, todos, co-autores e partícipes, devem responder pelo mesmo crime, ressalvadas as exceções pluralísticas.
Participação e crime culposo - Duas posições:
(i) Não há que se falar em participação, que é acessória. Todas as ocorrências serão crimes autônomos, pq é um tipo aberto, em que não existe descrição da conduta principal.
(ii) Mesmo sendo tipo aberto, é possível a participação, pq é possível definir qual é a conduta principal
Formas de participação:
a) moral: instigação ou induzimento. Instigar é reforçar uma idéia que já existe; induzimento, é fazer brotar a idéia no agente.
b) material: auxílio. Aquele que presta ajuda efetiva na preparação ou execução do delito.
* cumplicidade: não existe atualmente no Código essa figura, há apenas co-autoria e participação nas suas diversas modalidades.
Conceitos Finais:
a) autoria colateral: mais de um agente realiza a conduta, sem que exista liame subjetivo entre eles. Ex.: “a” e “b” disparam simultaneamente contra a vítima, sem que um conheça a conduta do outro. Cada um responderá pelo crime que cometeu, um homicídio e o outro, tentativa.
b) autoria incerta: quando na autoria colateral, não se sabe quem foi o causador do resultado. Nesse caso, ambos responderiam pelo homicídio tentado (in dubio pro reo).
c) autoria desconhecida ou ignorada: não se consegue apurar quem foi o realizador da conduta = arquivamento do inquérito.
d) participação de participação: quando ocorre uma conduta acessória de outra acessória. É o auxílio do auxílio, o induzimento do instigador.
e) participação sucessiva: quando o mesmo partícipe concorre para a conduta principal de mais de uma forma. Primeiro auxilia, induz; depois, instiga.
f) conivência ou participação negativa (crimensilenti): quando o sujeito, sem ter o dever jurídico de agir, omite-se durante a execução do crime, quando tinha condições de impedi-lo.
g) participação por omissão: quando o sujeito, tendo o dever de agir para evitar o resultado (art. 13, § 2º, CP), omite-se intencionalmente, desejando que ocorra a consumação. Responderá na qualidade de partícipe.
h) participação em crime omissivo: consiste em uma atitude ativa do agente, que auxilia, induz ou instiga outrem a omitir a conduta devida. Ex.: agente instiga outrem a não pagar a prestação alimentícia devida – responderá pela participação no crime de abandono material.
i) co-autoria parcial ou funcional: utilizada a denominação pela teoria do domínio do fato. Para Capez não foi adotada essa classificação.
j) multidão delinquente: casos de linchamentos ou crimes praticados mediante influência de multidões. Agentes respondem pelo crime em concurso, com atenuante genérica do art. 65, III, ‘e’, do CP.
k) participação impunível: ocorre quando o fato principal não chega a ingressar em sua fase executória = não há punição (art. 31, CP).
Comunicabilidade e Incomunicabilidade de Elementares e Circunstâncias
Circunstâncias: são dados acessórios, não fundamentais para a existência da figura típica, que ficam a ela agregados, não integram sua essência.
Espécies de circunstâncias:
(a) subjetivas ou de caráter pessoal: dizem respeito ao agente e não ao fato: antecedentes, personalidade, conduta social, motivos do crime, reincidência...
(b) objetivas: relacionam-se ao fato e não ao agente: tempo do crime, lugar do crime, modo de execução, etc.
Elementares: configuram todos os dados fundamentais para a existência da figura típica, sem os quais esta desaparece.
Espécies de elementares: idem às circunstâncias (objetivas e subjetivas).
A regra do art. 30, do CP:
a) as circunstâncias subjetivas (pessoal) jamais se comunicam, sendo irrelevante se o co-autor ou partícipe delas tinha conhecimento. Ex.: reincidência.
b) as circunstâncias objetivas comunicam-se, desde que o co-autor ou partícipe delas tenha conhecimento. Ex.: crime cometido contra o cônjuge, o terceiro concorre para o crime com essa agravante se tinha conhecimento dessa circunstância.
c) as elementares (ambas) se comunicam, desde que o co-autor ou partícipe delas tenha conhecimento. Ex.: condição de funcionário público, para o delito ao art. 312, CP (peculato).
Concurso de pessoas no infanticídio – art. 123, CP – três situações possíveis:
1. mãe mata o próprio filho contando com o auxílio de terceiro: ela é autora de infanticídio, elementares comunicam-se, e o partícipe também responde pelo mesmo crime.
2. terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe: terceiro responde por homicídio, pois foi autor da conduta principal; a mãe responde por homicídio também, já que foi partícipe.
3. mãe e terceiro executam em co-autoria a conduta principal, matando a vítima: mãe será autora de infanticídio, e o terceiro, responderá pelo mesmo crime, nos termos expressos no art. 29, CP (teoria unitária).

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