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CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL IV 
TEMA DA AULA: Crimes praticados por particular contra a administração pública. Parte I
PALAVRAS-CHAVE: Administração pública. Crimes. Particular. 
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Objetivos
 Identificar, nos casos concretos apresentados, os crimes praticados por particular contra a Administração Pública por meio de seus elementos objetivos, subjetivos e normativos. 
 Analisar a incidência, nos casos concretos apresentados, de conflito aparente de normas ou concurso de crimes entre os delitos praticados por particular contra a Administração Pública e os delitos contra a pessoa e contra o patrimônio.
 
 Diferenciar, nos casos concretos apresentados, os delitos de desacato, desobediência e resistência. 
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Sumário
Introdução
Desenvolvimento
1. Dos Crimes praticados por particular contra a Administração Pública: disposições gerais.
2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 2.1 Análise da figura típica.
 2.2 Confronto com o delito de estelionato.
3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 3.1 Análise da figura típica.
 3.2 Confronto com os delitos de desacato, desobediência e lesão corporal.
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Sumário
 4. Desobediência (Art .330, do CP).
 4.1 Análise da figura típica.
 4.2 Confronto entre o sigilo médico e o delito de desobediência.
 4.3 Desobediência e o princípio que veda a autoincriminação compulsória.
 5. Desacato (Art .331, do CP). 
 5.1 Análise da figura típica.
 5.2 Confronto com os delitos de desobediência e contra a honra. 
Conclusão
Exercícios.
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Introdução
Importância do assunto.
Dica: adicione suas próprias anotações do orador aqui.
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1. Dos Crimes praticados por particular contra a Administração Pública: disposições gerais.
Art 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. (CP)
Conceito de funcionário público: “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo (vínculo estatutário), emprego (vínculo contratual sob a regência da CLT) ou função pública. Alcança, assim, todas as espécies de agentes públicos, pois o que importa para o CP é o exercício, pela pessoa, de uma função de natureza e interesse público. Não importa se o servidor é ocupante de cargo ou se foi apenas investido no exercício de uma função. Do mesmo modo, é irrelevante se seu vínculo com a Administração é remunerado ou não, definitivo ou transitório (por exemplo: jurado – CPP, art. 439). 
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1. Dos Crimes praticados por particular contra a Administração Pública: disposições gerais.
Conceito de funcionário público: 
São denominados funcionários públicos todos os que desempenham, de algum modo, função na administração direta ou indireta do Estado. A administração indireta faz com que sejam compreendidos todos os agentes que desempenhem funções em autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações e agências reguladoras. 
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Usurpação de função pública 
 Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: Pena — detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem: Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Considerações introdutórias 
 O Código Penal Imperial (1830) reprimiu a conduta de usurpar função pública, disciplinando, porém, separadamente a usurpação de função pública civil e a militar. Coube, contudo, ao Código Penal de 1890 reunir em um mesmo dispositivo a usurpação dessas funções públicas (art. 224). O Código Penal de 1940 tratou da usurpação de função pública sem se preocupar em destacar sua abrangência, prevalecendo na doutrina o entendimento de que a prescrição penal abrangia tanto a seara civil quanto a militar. (Código Penal Militar, DL nr 1001/69) 
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Bem jurídico tutelado
Bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente sua moralidade e probidade administrativa. Protege-se, na verdade, a probidade de função pública, sua respeitabilidade, bem como a integridade de seus funcionários. A atuação funcional do agente público pressupõe, por isso mesmo, a legitimidade de sua investidura no cargo e na função, sendo, portanto, incompatível com a conduta de quem exerce funções que não são suas. 
“além da lesão ao direito exclusivo do Estado de escolher e nomear seus funcionários ou as pessoas que, em seu nome e interesse, agem, para consecução de suas finalidades”. (Magalhães Noronha) 
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Sujeitos do crime 
 Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, até mesmo o funcionário público incompetente ou investido em outra função, ou, em outros termos, o funcionário que pratica atividade atribuída a outro agente público, absolutamente estranha àquela a que está investido. A bem da verdade, tratando-se do capítulo que disciplina os crimes praticados por particulares contra a administração em geral, sujeito ativo deve ser o particular (extraneus). Contudo, convém destacar, que a ele se equipara quem, mesmo sendo funcionário, não está investido na função que usurpa. No entanto, nesse caso, é importante que as funções sejam absolutamente distintas, ou seja, deve ser uma função de todo estranha à de que está investido.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Sujeitos do crime 
Sujeito passivo é o Estado, que pode ser representado pela União, Estados-membros, Municípios e Distrito Federal. Não é aplicável a extensão prevista no § 1º do art. 327, já que referida equiparação limita-se às hipóteses em que o funcionário público equiparado é sujeito ativo do crime considerado funcional.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Tipo objetivo: adequação típica 
A ação nuclear do tipo é representada pelo verbo usurpar (assumir ou exercer indevidamente). Usurpar é o mesmo que obter mediante fraude, tomar violentamente, gozar indevidamente. O agente, de forma ilegítima, executa ato relativo à função pública (vide o art. 327 do CP), de natureza gratuita ou remunerada, na qual não está legalmente investido. Usurpar, portanto, é assumir e exercitar, indevidamente, funções ou atribuições que não competem ao agente. Com a usurpação de função há indevida e ilegítima intromissão no aparato legal da Administração Pública de um extraneus que se arroga prerrogativas de funcionário, que não as tem, e pratica atos de ofício, como se funcionário competente fosse.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Tipo objetivo: adequação típica 
A ação nuclear do tipo é representada pelo verbo usurpar (assumir ou exercer indevidamente). Usurpar é o mesmo que obter mediante fraude, tomar violentamente, gozar indevidamente. O agente, de forma ilegítima, executa ato relativo à função pública (vide o art. 327 do CP), de natureza gratuita ou remunerada, na qual não está legalmente investido. Usurpar, portanto, é assumir e exercitar, indevidamente, funções ou atribuições que não competem ao agente. Com a usurpação de função há indevida e ilegítima intromissão no aparato legal da Administração Pública de um extraneus que se arroga prerrogativas de funcionário, que não as tem, e pratica atos de ofício, como se funcionário competente fosse.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Prática de ato de ofício da função usurpada
Para a configuração do crime de usurpação de função pública não basta que o agente apenas se invista de função indevidamente, atribuindo a si mesmo a condição de funcionário público, mas deve também, e necessariamente, praticar ato de ofício privativo da função usurpada. 
“Não basta fazer-se passar pelo ocupante do cargo, intitular-se como tal, desde que não o exerça. A lei exige que se usurpe exercício da
função e não se contenta com a simples ou mera atribuição da qualidade de funcionário ou do título relativo ao cargo”. (Magalhães Noronha)
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 Usurpação e abuso de poder 
A usurpação de função pública não se confunde com o abuso de poder: com efeito, uma coisa é exceder-se no exercício da função pública, e outra, completamente distinta, é investir-se na que não possui, embora em ambas seu exercício seja ilegal e abusivo. Hungria destacava, no entanto, que a simples jactância não é penalmente ilícita, salvo se contribuir para um fingimento, pois em tal caso será reconhecível uma contravenção (art. 45). No entanto, se falsamente alguém se intitula funcionário público com o escopo de induzir alguém em erro e, com isso, auferir vantagem, tem-se caracterizado o delito do art. 171 (estelionato mediante fraude).
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 Tipo subjetivo: adequação típica 
Elemento subjetivo do crime de usurpação de função é o dolo, constituído pela vontade consciente de usurpar função pública ilegitimamente. Inexistindo vontade livre e consciente de obter mediante fraude ou assumir indevidamente função de agente do Estado, não se caracteriza a usurpação de função pública. É indispensável que o sujeito ativo tenha consciência da ilegitimidade do exercício da função usurpada. A ausência dessa consciência acarreta erro de tipo, excluindo o dolo, e, por extensão, a própria atipicidade. Caracterizado o erro de tipo é irrelevante a constatação de sua evitabilidade ou inevitabilidade, pois seu efeito é o mesmo, ante a ausência de previsão da modalidade culposa, salvo se se tratar de um simulacro de erro. 
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 Tipo subjetivo: adequação típica 
Por isso, não comete o crime quem, de boa-fé, pensa ser legítima a ação que pratica, que se encontra legalmente investido na função ou que é válida a delegação que recebeu, quando, na realidade, nada é verdadeiro Não se exige qualquer fim especial, caracterizador de elemento subjetivo especial do injusto. O motivo do agente, portanto, é irrelevante. Tampouco há previsão de modalidade.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
Consumação e tentativa 
Consuma-se o crime de usurpação de função pública com o efetivo exercício de pelo menos um ato de ofício, típico de função pública em que o agente não está investido. Consuma-se o crime no momento e no lugar em que o ato de ofício é praticado pelo agente. A maior ou menor duração do exercício, a maior ou menor quantidade de atos praticados devem ser considerados somente na dosagem da pena, não se podendo falar, porém, em continuidade delitiva. Se em decorrência da usurpação o agente auferir vantagem, de qualquer natureza, para si ou para outrem, consumar-se-á a figura qualificada. A tentativa é, teoricamente, admissível, e verifica-se, quando, iniciada a prática de atos inequívocos de execução, é interrompida durante sua realização, por circunstâncias alheias à vontade do agente.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 Forma qualificada: auferimento de vantagem 
 O parágrafo único do artigo em exame dispõe: “se do fato o agente aufere vantagem: Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa”. 
Constata-se que a eventual obtenção de vantagem pelo agente eleva consideravelmente, qualitativa e quantitativamente, a sanção cominada. Caracteriza-se a figura qualificada quando, em virtude da usurpação, o agente aufere vantagem, patrimonial ou moral, para si ou para outrem. Trata-se, não se ignora, de crime formal, que não exige o resultado material para consumar-se; excepcionalmente, porém, a obtenção de vantagem não representa o simples exaurimento do crime, mas, ao contrário, ante previsão expressa, qualifica a figura delituosa, sendo digna de maior reprovação social.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 Contravenções penais 
Se o agente, sem realizar qualquer ato de ofício, tão somente se apresenta como funcionário público ou usa uniforme ou distintivo de função pública, responde pelas contravenções dos arts. 45 ou 46 da Lei das Contravenções Penais, e não pelo delito do art. 328 do CP. O delito descrito no caput admite não apenas a transação penal, mas também a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada — não superior a dois anos. Vide os arts. 45, 46 e 47 do Decreto-lei n. 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais). 
Pena e ação penal 
As penas cominadas, cumulativamente, são de detenção, de três meses a dois anos, e multa. Para a figura qualificada é cominada pena de reclusão de dois a cinco anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada.
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2. Usurpação de função pública. (Art. 328, do CP) .
 Jurisprudência
“Habeas corpus com o objetivo de revogar prisão preventiva decretada em inquérito. Há fortes indícios da materialidade do art. 328 do CP, pois não requer a demonstração de que particular tenha sofrido prejuízo. O sujeito passivo da conduta descrita no art. 328 do CP é o Estado, titular da moralidade e prestígio necessários ao regular o funcionamento de suas atividades administrativas” (TRF – 3ª Região, HC 2002.03.00.018776-3, Rel. André Nabarrete, j. 1º -10-2002).
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: 
 Pena — detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos. 
 § 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena — reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
Considerações introdutórias 
Na legislação brasileira, a criminalização do crime de resistência vem desde o Código Criminal do Império (1830), sendo repetida pelo primeiro Código Penal republicano (1890), com pequenas alterações do texto anterior. O Código de 1890, no entanto, situava, equivocadamente, o crime de resistência entre os “crimes contra a segurança interna da república”, como se fosse um crime de Estado ou contra a ordem política constituída, ou seja, transformava um crime comum em crime político, impropriamente. O atual Código Penal de 1940, com redação mais enxuta e melhor técnica, situou adequadamente o crime de resistência entre os crimes contra a Administração Pública, lato sensu.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
Bem jurídico tutelado 
Bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente sua moralidade e probidade administrativa. O tipo penal protege a autoridade e o prestígio da função pública. Tutela-se, na verdade, a normalidade do funcionamento da Administração Pública, sua respeitabilidade, bem como a integridade de seus funcionários; a essência mesmo da tutela penal não é em relação ao funcionário, e sim ao próprio ato funcional que se quer prestigiar, partindo-se da presunção, logicamente, da legalidade do ato. Não tendo base legal o ato resistido, não se pode falar em crime, pois a ausência dessa elementar torna a sua resistência uma conduta atípica.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Sujeitos do crime 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que, mediante violência ou ameaça, obstaculize a prática de ato legal, independentemente de qualidade ou condição especial. Pode, inclusive, ser pessoa diversa daquela contra a qual o funcionário executava o ato. 
Sujeito passivo é o Estado (União, Estado, Distrito Federal e Municípios) e, ao lado dele, o funcionário competente ou quem lhe esteja prestando auxílio para a execução do ato legal.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 A conduta típica consiste em opor-se à execução de ato legal (a legalidade exigida é tanto a formal quanto a substancial), mediante violência (emprego de força
física) ou ameaça (prenunciando a prática de um mal grave à vítima) a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio. O crime de resistência, portanto, é composto dos seguintes elementos constitutivos: a) oposição ativa, mediante violência ou ameaça; b) a qualidade ou condição de funcionário competente do sujeito passivo ou seu assistente; c) legalidade do ato a ser executado; d) elemento subjetivo informador da conduta.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 Oposição ativa, mediante violência ou ameaça 
Opor-se à execução de ato legal exige uma conduta ativa, positiva e efetiva, sendo insuficiente uma atitude passiva, contemplativa ou omissiva, pois configuraria, no máximo, a desobediência, que poderia tipificar o crime descrito no art. 330. A locução — mediante violência ou ameaça — destaca não apenas o meio e a forma que a oposição deve revestir-se, como deixa claro que não admite a simples passividade, como, por exemplo, jogar-se ao solo, agarrar-se em algum obstáculo ou simplesmente pôr-se em fuga para evitar a prisão.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 Violência física ou ameaça 
A violência exigida pelo tipo penal tanto pode ser a física — vis corporalis — como a moral — vis compulsiva —, que deve ser praticada em oposição e concomitante ao exercício do ato funcional que se quer resistir. A violência física consiste no emprego de força contra o funcionário ou seu assistente. Para caracterizá-la é suficiente que ocorra lesão corporal leve ou simples vias de fato. O termo “violência”, especificamente, empregado no texto legal significa força física, material, a vis corporalis. E abrange todas as formas de violência, desde as mais graves, como o homicídio e as lesões corporais, até as mais leves, como lesões leves ou as próprias “vias de fato”.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 A qualidade ou condição de funcionário competente do sujeito passivo.
Não basta que o sujeito passivo seja funcionário público (ou assistente deste), sendo indispensável que ele tenha competência para executar o ato que se quer impedir. Com efeito, pressupostos do crime de resistência são a qualidade ou condição do sujeito passivo — que deve, necessariamente, ser funcionário público competente — e a legalidade do ato funcional. Em termos bem esquemáticos, é necessário que o funcionário pratique ato legal e que este integre o âmbito de suas atribuições funcionais. É irrelevante que o executor do ato seja titular primário ou secundário da autoridade pública: o fundamental é que tenha competência in concreto para realizá-lo.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 A legalidade do ato a ser executado 
Requisito igualmente indispensável para a configuração do crime de resistência é a legalidade do ato, sob os aspectos formal e substancial: a legalidade substancial refere-se à ordem a ser executada; a formal, relaciona-se à forma ou ao meio de sua execução/
Exige-se, assim, a competência do funcionário para a prática do ato, bem como a sua legalidade intrínseca, além do emprego dos meios legais na sua execução
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 Elemento subjetivo informador da conduta
O elemento subjetivo geral é o dolo, constituído pela vontade livre e consciente de resistir a ato legal de autoridade competente. É necessário que o sujeito ativo tenha consciência da legalidade do ato e da competência de quem o executa — seja o funcionário ou seu auxiliar (o auxiliar só pode agir na presença e na companhia do funcionário). 
Elemento subjetivo especial do tipo 
O elemento subjetivo especial do tipo é representado pelo especial fim de agir para impedir a execução do ato legal. A ausência dessa finalidade especial — impedir a realização do ato funcional — descaracteriza a resistência, podendo surgir, residualmente, outra infração penal, como, por exemplo, lesões corporais, constrangimento ilegal, ameaça etc.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime de resistência com a efetiva oposição à prática de ato legal, no momento e no lugar em que pratica a violência ou ameaça, independentemente de onde o ato ilegal seria realizado. É irrelevante que o agente obtenha êxito em seu fim pretendido, qual seja o de impedir a realização do ato legal. Consuma-se com a simples prática da violência ou ameaça, independentemente da realização ou não do ato funcional. A tentativa é, teoricamente, admissível, especialmente porque o ato de resistir pode, facilmente, ser objeto de fracionamento.
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Forma qualificada 
não realização do ato.
Como o crime é formal, o efetivo impedimento da prática do ato legal representaria simples exaurimento do crime, sem qualquer alteração na sua definição legal, podendo, apenas, ser considerado esse aspecto quando da operação de dosagem de pena (art. 59, consequências do crime). Contudo, em razão da natureza do bem jurídico protegido, o legislador considerou que o desvalor da ação e do resultado é agravado com a não realização do ato resistido, configurando-se, portanto, a maior reprovação pessoal. O crime, por conseguinte, é qualificado (§ 1º) quando a resistência se exaure, ou seja, quando o agente consegue efetivamente impedir a execução do ato funcional. 
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Resistência, desacato e desobediência 
As ofensas proferidas, ou a negativa em acompanhar o policial, em abrir a porta, ou outros casos de indisciplina não são suficientes para a tipificação do delito de resistência, podendo, conforme o caso, caracterizar desacato (art. 331 do CP) ou desobediência (art. 330). A resistência absorve o crime do art. 132 do CP, a desobediência (art. 330 do CP) e as contravenções inscritas nos arts. 19, 21 e 62 da Lei das Contravenções Penais. 
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3. Resistência. (Art. 329, do CP).
 Jurisprudência
“Delito de Resistência. Art. 329, caput, do Código Penal. As provas demonstram a prática do delito de resistência, estando presentes todos os requisitos do tipo penal, tendo ocorrido oposição à execução de ato legal, com emprego de força física contra funcionário competente para executá-la, também presente o elemento subjetivo do tipo, consistente no especial fim de opor-se à execução de ato legal. O depoimento de policiais são válidos e eficientes para fundamentar juízo condenatório, pois, até prova em contrário, se trata de pessoas idôneas, cujas declarações retratam a verdade. Adequada a substituição da pena privativa de liberdade por multa, por atendidos os requisitos legais” (TJRS, Recurso Crime 71001554062, Rel. Ângela Maria Silveira, j. 17-3-2008.
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
Desobediência Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena — detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.
Considerações introdutórias 
A criminalização dessa conduta consta da legislação brasileira desde nosso Código Criminal de 1830: “desobedecer ao empregado público em ato de exercício de suas funções, ou não cumprir as suas ordens legais”. O Código Penal de 1890, por sua vez, atribuiu ao mesmo crime uma abrangência maior, ao reconhecer a desobediência na simples transgressão de ordens ou provimentos legais, emanados de autoridade competente, acrescentando, ainda, que estariam compreendidos na previsão legal “aqueles que infringirem preceitos proibitivos de editais das autoridades e dos quais tiveram conhecimento” (art. 135 e parágrafo único)
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
Bem jurídico tutelado 
Bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente sua moralidade e probidade administrativa. Protege-se, na verdade, a probidade de função pública, sua respeitabilidade, bem como a integridade de seus funcionários. Objetiva-se,
especificamente, garantir o prestígio e a dignidade da “máquina pública” relativamente ao cumprimento de determinações legais, expedidas por seus agentes
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
Sujeitos do crime 
Sujeito ativo, já que se trata de crime comum, pode ser qualquer pessoa, inclusive funcionário público, desde que não se encontre no exercício de suas funções. Relacionando-se, porém, às suas próprias atribuições funcionais, a “desobediência” poderá configurar o crime de prevaricação, observadas as demais elementares típicas. 
Sujeito passivo é o Estado (União, Estado, Distrito Federal e Municípios), como o verdadeiro titular do interesse atingido pela ação delituosa; secundariamente, pode-se considerar também como sujeito passivo o funcionário autor da ordem desobedecida.
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 A conduta incriminada consiste em desobedecer ordem legal de funcionário público, que significa descumprir, desobedecer, desatender dita ordem. É necessário que se trate de ordem, e não de mero pedido ou solicitação, e que essa ordem dirija-se expressamente a quem tenha o dever jurídico de obedecê-la; deve, outrossim, a ordem revestir-se de legalidade formal e substancial. Se o agente não é responsável pela efetivação do ato que, acaso não cumprido, poderá ensejar o crime de desobediência, sua omissão ou não atendimento é absolutamente atípico, pois não tem o “dever legal” de executá-lo. O crime de desobediência somente se configura se a ordem legal for endereçada diretamente a quem tem o dever legal de cumpri-la.
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
 Tipo objetivo: adequação típica 
 A conduta incriminada consiste em desobedecer ordem legal de funcionário público, que significa descumprir, desobedecer, desatender dita ordem. É necessário que se trate de ordem, e não de mero pedido ou solicitação, e que essa ordem dirija-se expressamente a quem tenha o dever jurídico de obedecê-la; deve, outrossim, a ordem revestir-se de legalidade formal e substancial. Se o agente não é responsável pela efetivação do ato que, acaso não cumprido, poderá ensejar o crime de desobediência, sua omissão ou não atendimento é absolutamente atípico, pois não tem o “dever legal” de executá-lo. O crime de desobediência somente se configura se a ordem legal for endereçada diretamente a quem tem o dever legal de cumpri-la.
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
 Tipo subjetivo: adequação típica 
 Elemento subjetivo é o dolo, representado pela vontade consciente de desobedecer ordem legal de funcionário público competente para emiti-la. Desnecessário enfatizar que o sujeito ativo deve ter conhecimento de que se trata de funcionário público e que a ordem que está a desobedecer é legal, sob pena de incorrer em erro de tipo. Não há necessidade de qualquer elemento subjetivo especial do injusto, sendo, ademais, irrelevante a motivação do agente.
Quando o agente atua na dúvida, caracteriza-se inquestionavelmente o dolo eventual, que é suficiente para a tipificação subjetiva. Não há previsão da modalidade culposa.
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime de desobediência com a efetiva ação ou omissão do sujeito passivo, isto é, no momento e no lugar em que se concretiza o descumprimento da ordem legal. Tratando-se, contudo, da forma omissiva, consuma-se o crime após o decurso do prazo para o cumprimento da ordem, ou, mais precisamente, no exato momento de sua expiração. A tentativa somente é possível na forma comissiva. O crime omissivo próprio não admite a forma tentada, conforme demonstramos quando examinamos os crimes omissivos. 
Pena e ação penal 
As penas cominadas, cumulativamente, são de detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. É admissível a transação penal, que constitui direito público subjetivo do autor do fato, independentemente da interpretação em sentido contrário do Ministério Público. A ação penal é pública incondicionada.
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4 Desobediência (Art .330, do CP).
Jurisprudência
“O crime de desobediência (art. 330 do CPB) sempre pressupõe a presença de ordem inequívoca emitida por Funcionário Público, comunicada ao seu destinatário de forma legal, e, uma vez caracterizado o delito, não se elide pelo ulterior cumprimento da determinação judicial (art. 219 do CPP)” (STJ, HC 86.429/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 13-9-2007). 
 “O art. 129, VIII, da Constituição de 88 não autoriza o Ministério Público quebrar, diretamente, o sigilo bancário das pessoas, físicas ou jurídicas. Não comete o crime de desobediência o gerente de instituição bancária que se recusa a fornecer ao Ministério Público dados bancários tidos por sigilosos” (TRF – 1ª Região, HC 2007.01.00.001710-0/MA, Rel. Tourinho Neto, j. 26-2-2007)
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5. Desacato (Art .331, do CP). 
 
Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena — detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. 
Considerações introdutórias 
O Código Criminal de 1830 considerava agravadas a calúnia e a injúria quando fossem cometidas “contra qualquer depositário ou agente da autoridade pública, em razão de seu ofício” (arts. 231 e 237). O Código Penal de 1890, por sua vez, recepcionou essa infração penal atribuindo-lhe o nomen juris de desacato, punindo a conduta de “desacatar qualquer autoridade, ou funcionário público, em exercício de suas funções, ofendendo-o diretamente por palavras ou atos, ou faltando à consideração devida e à obediência hierárquica” (art. 134). Finalmente, o atual Código Penal de 1940 ampliou o alcance da tipificação penal para abranger as ofensas proferidas contra funcionário público no exercício da função como também em razão dela
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5. Desacato (Art .331, do CP). 
 
Bem jurídico tutelado 
Bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente sua moralidade e probidade administrativa. Protege-se, na verdade, a probidade de função pública, sua respeitabilidade, bem como a integridade de seus funcionários. Objetiva-se, especificamente, garantir o prestígio e a dignidade da “máquina pública” relativamente ao cumprimento de determinações legais, expedidas por seus agentes. É considerado crime pluriofensivo, atingindo tanto a honra do funcionário como o prestígio da Administração Pública. 
“O bem jurídico considerado é a dignidade, o prestígio, o respeito devido à função pública. É o Estado diretamente interessado em que aquele seja protegido e tutelado, por ser indispensável à atividade e à dinâmica da administração pública” (MAGALHÃES NORONHA)
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5. Desacato (Art .331, do CP). 
 
Sujeitos do crime 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que desacata o funcionário, no exercício da função ou em razão dela; admitido inclusive outro funcionário público, que exerça ou não a mesma função do ofendido, tenha ou não a mesma hierarquia, desde que não se encontre no exercício de suas funções. É irrelevante que o funcionário público identifique-se ou não como tal; o decisivo é que, in concreto, não esteja agindo como funcionário, isto é, que não se encontre no exercício de suas funções nem em razão dela. 
Sujeitos passivos são o Estado (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios), e, de modo secundário, o funcionário público desacatado.
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5. Desacato (Art .331, do CP). 
 
Tipo objetivo: adequação típica 
A ação tipificada consiste em desacatar, ou seja, desrespeitar, ofender, menosprezar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. 
“é qualquer palavra ou ato que redunde em vexame, humilhação, desprestígio ou irreverência ao funcionário. É a grosseira falta de acatamento, podendo consistir em palavras injuriosas, difamatórias ou caluniosas, vias de fato, agressão física, ameaças, gestos obscenos, gritos agudos etc.” (HUNGRIA). 
O crime de desacato significa menosprezo ao funcionário público e, por extensão, à própria função pública por ele exercida. Reclama, por isso,
elemento subjetivo, voltado para a desconsideração, para a humilhação. Não se confunde apenas com o vocábulo grosseiro.
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5. Desacato (Art .331, do CP). 
 
 Desacato e resistência 
O desacato não se confunde com o crime de resistência, uma vez que nesta a violência ou ameaça (que, segundo o texto legal, não precisam ser graves) endereçadas a funcionário público objetivam a não realização de ato legal, enquanto naquele a violência ou ameaça (eventuais, que não são elementares deste crime), dirigidas a funcionário público, têm a finalidade de desprestigiá-lo.
 Ofensa praticada na presença do ofendido
condição essencial do crime de desacato a presença do ofendido. Mesmo no caso de ofensa oral, o funcionário deve ser atingido diretamente. Não é necessário, porém, que a ofensa seja irrogada facie ad faciem, bastando que, próximo ao ofendido, seja por este percebida. É indispensável que o funcionário encontre-se no local onde a ofensa é proferida, pois, repetindo, faz-se necessário que esta seja cometida na sua presença
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Conclusão
Exercícios.
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